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Revisada por: Calisto

Última Atualização: 01/02/2025
— Então, é isso, vamos mesmo nos formar — perguntou, observando os últimos preparativos para a cerimônia de encerramento do lado de fora do Salão Principal. Monitores e funcionários de Hogwarts iam de um lado para o outro, ajustando tudo para a grande noite. — Nunca achei que esse dia chegaria.
— Também pensei que me expulsariam antes, mas, por alguma razão, Dumbledore nunca me fez esse favor — Fred respondeu, com um sorriso travesso.
Ela riu, empurrando de leve o ombro dele. As mãos dos dois se entrelaçaram naturalmente, e eles trocaram um olhar cheio de significado. Fred podia dizer que sair de Hogwarts era tudo o que sempre quis, mas naquele momento, até ele sentia o peso da nostalgia. Era uma sensação agridoce, tinha que admitir.
— Você não vai sentir saudades? — perguntou, inclinando a cabeça para ele.
— Nunca! — Fred respondeu, fingindo convicção.
— Nem quando lembrar daquela vez em que você e George derrubaram as estantes da biblioteca?
— Ei, aquilo foi culpa sua! — Fred protestou, tentando manter a pose. — Você passou o terceiro ano inteiro trancada lá. Eu estava só tentando te encontrar. Não é culpa minha que o George e eu nos perdemos no meio daqueles livros todos.
— Ah, claro, me desculpe por estudar. — riu.
— Desculpada — disse ele, fazendo a namorada revirar os olhos.
— Mas e quando você quase esvaziou o Lago tentando tirar a Lula Gigante com um feitiço?
— Ok, isso foi culpa minha, tive um leve erro de cálculo — ele admitiu, coçando a nuca.
— E as bolas de neve no turbante do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? Os jogos de quadribol? Hogsmeade?

— Tá bom, loirinha, entendi! — Fred levantou as mãos em rendição, rindo. — Vou sentir falta, sim. Um pouquinho. Posso admitir isso.
sorriu vitoriosa e encostou a cabeça no braço dele. Enquanto olhavam a faixa encantada sendo esticada sobre o brasão de Hogwarts, a mensagem começava a rodopiar em cores que representavam as quatro casas.
"Formandos de 1995 — Hogwarts deseja que vocês alcancem o mais alto voo. E lembrem-se: esta será para sempre uma de suas casas."
— Foram os melhores sete anos que poderíamos ter — disse baixinho, depois de ler a frase algumas vezes. Havia uma felicidade melancólica em sua voz. Ela amava aquele castelo, as pessoas e as memórias que construíram ali.
Fred, sempre atento a cada detalhe dela, virou-se, segurando delicadamente seu queixo para que ela olhasse nos seus olhos.
— Claro que foram. Foi aqui que eu encontrei você — disse ele, antes de roubar um beijo rápido. — Você foi o melhor presente que Hogwarts me deu, . Desde o primeiro dia, mesmo quando éramos só amigos.
olhou para ele com os olhos brilhando.
— Eu te amo tanto. Você sabe disso, né?
— Sei. É claro que sei — Fred respondeu com um sorriso doce no rosto.
Ela apertou a mão dele, que ainda estava entrelaçada na sua.
— Obrigada por estar ao meu lado todos esses anos — ela disse com sinceridade.
Fred deu de ombros, ainda com aquele jeito despreocupado, mas seus olhos transmitiam uma ternura profunda.
— Não poderia ser de outro jeito, . Nós vamos ficar juntos para sempre. Não tem nada que me afaste de você.
Ele a beijou novamente, dessa vez com mais intensidade. Afinal, o que podiam fazer? Detenção no último dia de aula?
Quando finalmente se afastaram, sorriu.

— A recíproca é verdadeira, Fred Weasley. Estaremos juntos pelo resto da vida. Em todas as vidas, e em todos os universos possíveis.
Fred riu. Ele sabia que andava obcecada com teorias trouxas de universos paralelos e realidades alternativas.
— Você parece muito certa disso, Srta. .
— Porque estou — ela respondeu, piscando para ele com um sorriso confiante.
— E por quê?
Ela chegou mais perto, encarando-o com aqueles olhos cinzentos que sempre o deixavam sem fôlego.
— Porque, não importa onde estejamos, eu sempre vou achar você, Freddie.
— Sempre?
assentiu, e Fred a puxou para ainda mais perto.
— Então eu vou te esperar em todos eles. Não se atrase.
Ela riu, divertida.
— Bem, pontualidade nunca foi o meu forte, você sabe…
Fred riu junto, apertando-a contra si.
— Tudo bem, se você se atrasar, eu vou te procurar.




A tensão no quarto era tão palpável que Fred achava que poderia cortá-la com uma faca. Em qualquer outra situação, ele teria medo de sequer pensar em com uma faca, mas no momento, sua própria raiva o consumia.
— Então é isso? Nós vamos terminar? — perguntou , com a respiração pesada, sem se virar da janela. Ela mantinha os olhos fixos no horizonte, evitando encará-lo.
— Eu não quero terminar com você — respondeu Fred, mas a gargalhada sarcástica de o atingiu como um tapa.
— Não, você só quer que eu desista do meu futuro por sua causa.
Essas palavras atingiram Fred como um soco no estômago.
— Eu nunca pedi isso! Não foi o que eu quis dizer! — Fred elevou a voz, tentando conter a frustração.
se virou abruptamente, os olhos brilhando com lágrimas que ela se recusava a derramar. Pela primeira vez, Fred não sentiu o impulso de correr até ela e tentar consertar as coisas.
— Ir para o Castelobruxo é importante para a minha carreira, Fred! Todos os grandes Mestres em Poções vieram de lá!
— Snape continua em Hogwarts.
— Merlin, Fred! — exclamou ela, exasperada. — Estou falando de bruxos maiores que Snape. Hector Dagworth-Granger, Nicolau Flamel... Eles mudaram o mundo! E nenhum deles teria chegado a lugar nenhum sem a Mui Extraordinária Sociedade dos Preparadores de Poções.
— No Brasil? — Fred arqueou as sobrancelhas.
— Sim! No Brasil! — gritou de volta, dando passos largos até ele, o rosto corado de frustração.
— Você é tão egoísta. Sabe disso, não é?
— Eu sou egoísta? Porque não fico saltitando de alegria ao saber que minha namorada vai embora? — Fred sentiu sua paciência esgotar.
— Isso não é sobre você, Fred! — jogou as mãos para o alto, frustrada. — Isso é sobre mim! Sobre o que eu quero para o meu futuro! Você tem noção de como isso é importante pra mim?
— Você sequer pensou em mim? — Fred cruzou os braços, avaliando de cima a baixo. — Aposto que já mandou uma coruja com sua carta de aceitação para a Sociedade antes mesmo de conversar comigo. Mandou, não mandou, ?
Ela desviou o olhar, o que fez Fred soltar uma risada amarga.
— Claro que sim. Eu sou só um detalhe, né? Eu não importo.
o olhou, as lágrimas que antes ela segurava escorrendo sem pudor algum.
— Nós estamos juntos desde os 15 anos, Fred. É claro que você importa pra mim, mas isso também. E você não pode me pedir pra ficar.
— Então o que você quer que eu faça? — Fred se aproximou, irritado. — Quer que eu vá com você pro Brasil? Ou acha que um relacionamento à distância vai dar certo depois de quase uma década juntos?
Fred percebeu o momento exato em que desistiu. Seus olhos perderam o brilho e, sem dizer mais nada, ela atravessou o quarto, jogando a mala na cama e arrancando suas roupas do guarda-roupa de Fred sem cuidado algum.
E ele ficou ali, parado, apenas assistindo.
— Você tem razão, Fred. Não daria certo. Nem aqui, nem no Brasil ou em lugar algum. E pensar que eu demorei tanto pra perceber o quanto você é insensível e egoísta. — puxou a última peça de roupa e fechou a mala com força, praticamente a jogando no chão.
Quando se dirigiu à porta, Fred finalmente a seguiu, segurando seu braço antes que ela pudesse sair. Como se só agora algo o despertasse.
, espera... — pediu, mas ela se desvencilhou.
— Sabe o que é engraçado, Fred? Quando você e George largaram tudo pra abrir essa loja, eu estava ao seu lado. Quando todos julgavam vocês por investirem até o último centavo em um sonho, eu te apoiei. Merlin, eu até investi o meu primeiro salário em vocês! Eu virei noites, saí do castelo durante o estágio pra te ajudar! Eu nunca teria feito menos que isso por você. — Ela suspirou, a voz trêmula. — E agora, a única coisa que eu te pedi foi pra fazer o mesmo. Pra me apoiar. Torcer por mim. E você falhou. Então, por favor, fique longe de mim. Porque eu definitivamente vou ficar longe de você.
Com isso, ela saiu e bateu a porta atrás de si. A última coisa que Fred ouviu de foi o som da sua aparatação.

*
— Vamos, Freddie, chega disso, cara — disse George, puxando a garrafa de Whisky de Fogo das mãos do irmão. — Ela só está indo para o Brasil. Não é o fim do mundo. Você foi um idiota, mas nada te impede de pedir desculpas.
Fred soltou uma risada amarga, tentando recuperar a garrafa, mas George já a havia guardado.
— Você ama a , não ama?
— Mais do que qualquer coisa — respondeu Fred, olhando para o copo vazio.
— Então qual é o problema?
— Ela nem cogitou... — murmurou Fred, os olhos perdidos.
— O quê?
— Ela nem sequer pensou em mim. ... não queria que eu pedisse pra ela ficar, mas também não me pediu pra ir. — Fred suspirou. — Ela só… foi embora.
George soltou um suspiro pesado.
jamais faria você escolher entre ela e a loja, seu imbecil. Você devia ter feito o mesmo por ela — disse, puxando o irmão pelo braço para levá-lo para o quarto. — Mas amanhã é outro dia. Amanhã, quando você acordar sóbrio, você vai recuperar sua garota.
— Amanhã... — Fred murmurou, sem muita convicção, enquanto George o guiava até o quarto e o jogava sem muito cuidado na cama.
George parou em pé ao lado da cama, balançando a cabeça.
— Idiota — murmurou, enquanto colocava uma lixeira ao lado da cama e saía, deixando a porta aberta.
Fred bebeu seu primeiro copo 10 minutos depois que saíra. Quando George finalmente voltou para casa, ele já havia terminado a primeira garrafa enquanto sua raiva se renovava dentro dele. As pessoas diziam que a bebida ajudava a esquecer, mas o cérebro de Fred não parecia entender isso muito bem, já que tudo que fizera fora lembrá-lo de cada palavra dita por naquela tarde ou nos últimos oito anos.
Ele deixou seus olhos percorrem o quarto que apenas era iluminado pela luz da sala. Percebeu, sentindo seus olhos pesarem e um calor repentino que fazia seu corpo suar, que havia esquecido seu cachecol favorito, aquele que George a dera no Natal alguns anos atrás, em cima da cadeira perto da janela onde ela havia se refugiado dele por boa parte da discussão, como se as palavras ditas por ambos pudessem ser esquecidas com o vento que entrava por ela.
Fred gostaria que fosse possível, sabia que retiraria algumas coisas se pudesse. Mas não podia. E também fizera sua escolha, a de ficar sem ele. Então assim seria.
*

O sol nem sequer havia nascido quando George entrou no quarto escuro do irmão gêmeo. Fred estava jogado na cama com a metade do corpo descoberto e o rosto enterrado no travesseiro. E estar ali naquele momento era a última coisa que George queria.
Ele havia acordado com uma coruja batendo em sua janela, e quando se deu conta que era a coruja de Claire, um milhão de coisas passaram por sua mente. Nenhuma boa. Era cedo demais para notícias boas
E quando desenrolou o pequeno pergaminho, seu coração parou. George Weasley se lembraria para sempre daquela sensação, pois nunca havia sentido desespero maior.
sofreu um acidente de carro. Estamos no St. Mungus. Ela não está bem. Por favor, venham logo. – Claire”




Fred sabia de algumas coisas. Sabia que George estivera ao seu lado durante as últimas vinte e quatro horas inteiras, sem desviar o olhar nem por um instante. Sabia que Bill e Fleur caminhavam cabisbaixos ao seu lado, e que, mesmo triste, Bill o observava pelo canto do olho, como se temesse que ele pudesse desmoronar a qualquer momento e ele tivesse que tomar o seu lugar. Também sabia que esse olhar não vinha apenas de Bill, mas de todos os seus irmãos. Cada um deles parecia se preparar para o pior enquanto Fred carregava o caixão de , ladeado por seu pai, seu padrinho e Louis, seu melhor amigo.
Fred nunca saberia descrever em palavras o que sentiu quando George o acordou naquela noite. As memórias eram um borrão, embaralhadas como se tivessem sido apagadas e reescritas várias vezes. Ele apenas se lembrava da urgência que sentiram. Correram o mais rápido que puderam, aparatando com tanta pressa que parecia impossível que ninguém tivesse se estrunchado no processo. Mas foi ainda mais rápida. Quando Fred e George chegaram ao hospital, era tarde demais. Eles entraram no instante em que o médico anunciou que ela não resistiu. se foi antes mesmo de ele ter a chance de se despedir.
De se desculpar.
Fred a perdeu muito mais rápido do que a encontrou. Lembrava-se do aperto desesperado dos braços da Sra. ao redor de si, dos soluços altos de Claire e da visão de Louis saindo do hospital como se, ao fugir, aquilo tudo deixasse de existir. Fred, no entanto, permaneceu estático, encarando a porta do quarto onde ela havia estado. Os números 441 brilhavam como um símbolo cruel, marcando o último lugar em que o amor de sua vida esteve. Ele chegou tarde demais. partiu acreditando que eles se odiavam, que tudo o que compartilharam a vida inteira havia acabado. Sua mente era tão cruel consigo mesmo que Fred mal conseguia aguentar.
Fred não saiu até que a última pá de areia cobriu o caixão, e quando isso aconteceu, ele já não sentia mais nada. Sua visão estava embaçada enquanto encarava a grande lápide quadrada, que dizia tão pouco sobre quem realmente fora. Pela primeira vez, ele se deu conta de como era cruel reduzir uma vida — por mais breve que tenha sido — a apenas algumas palavras esculpidas em uma pedra. Não eram suficientes. Nunca seriam. Ele mal percebeu quando sua mãe o abraçou com pena, ou quando George o levou até o estacionamento, e não ouviu Ginny pedindo que ele sentasse em um banco qualquer enquanto as lágrimas, que ele pensou que já tivessem secado, começaram a cair novamente, silenciosas e incontroláveis. Não captou uma única palavra da discussão dos irmãos mais velhos sobre como levá-lo para casa, exceto quando Percy explicou que Fred estava “mentalmente instável demais para aparatar”.
No fim, Fred não se lembrava se haviam aparatado ou usado a Rede de Flu. Só sabia que estava em casa, porque ao entrar em seu quarto, desejou estar em qualquer lugar que não lá, pois foi como ser atingido por uma onda avassaladora: não voltaria. Não era mais sobre uma briga, sobre mágoa ou sobre raiva. Eles não fariam as pazes. Ela não podia voltar. Nunca mais.
Em um movimento nervoso e incontrolável, passou os braços pela escrivaninha, varrendo tudo para o chão. O som de objetos caindo ecoou pelo quarto junto ao estilhaçar de um porta-retrato. Ele abaixou-se para pegar a foto que tiraram no dia da formatura em Hogwarts, mal percebendo quando seu dedo se cortou. E não teria percebido se George não tivesse ouvido o barulho e corrido para o quarto do irmão.
Fred caiu de joelhos, as lágrimas rompendo a última barreira. Foram mais intensas do que no hospital, no funeral ou no enterro. Ele apertou a foto contra si, os olhos fixos no sorriso congelado de . Não conseguia entender. Fred simplesmente não conseguia entender porque isso estava acontecendo com ela, com ele, com todos eles. Sua não poderia ter realmente ido embora.
— Freddie... — George murmurou, ajoelhando-se ao lado dele.
Mas Fred não o olhou de imediato. Suas pesadas lágrimas caíam na foto dos adolescentes sorridentes jogando seus chapéus de bruxo para o ar, trocando um beijo contente e rápido antes que Minerva McGonagall pudesse dizê-los que a hora da foto não era para esse tipo de coisa.
Fred olhou para o irmão, desesperado, esperando que George tivesse a resposta para isso, pois seu irmão gêmeo sempre tinha.
— George, por favor... me diga como trazê-la de volta. — Sua voz era um sussurro cheio de dor. — Não vou conseguir viver sem ela, Georgie. Não vou…
Fred nunca foi bom em demonstrar sua dor em frente aos outros — ao menos não sóbrio. Mas George nunca esteve nessa lista e eles sabiam. Foi por isso que levou o irmão ao hospital e o ajudou a se arrumar para o enterro. Foi por isso que, quando seu elogio fúnebre choroso e atrapalhado acabou, George se levantou e trouxe o irmão de volta para o banco para que a cerimônia pudesse continuar, pois sabia que Fred não estava realmente ali nem mesmo para conseguir achar seu caminho de volta. Não naquele momento.
Enquanto seus familiares olhavam para Fred esperando que uma bomba explodisse, George limitou-se a ficar perto dele, sabendo que Fred não faria nada disso na frente de ninguém, muito menos do Sr. e da Sra. que haviam acabado de perder a única filha.
Até que ficasse sozinho.
Quando Fred ficasse sozinho, George sabia que ele se daria conta do que aconteceu e nada conseguiria segurar os sentimentos dele dentro de si.
— Vai ficar tudo bem, Fred — disse ele, puxando o irmão para um abraço firme, como se pudesse segurá-lo no lugar.
— Foi minha culpa — Fred murmurou contra o peito de George. — Se ela não tivesse voltado para casa antes da hora... se nós não tivéssemos terminado…
— Não foi culpa de ninguém. — A voz de George era firme, mas calma. — Ninguém poderia prever isso.
Fred não respondeu, apenas continuou chorando nos braços do irmão como se fosse uma criança, e George não afrouxou seu abraço nem por um segundo. Ele sabia que o irmão precisava daquilo mais do que qualquer palavra de consolo que pudesse oferecer. Quando Fred finalmente se afastou, foi por vontade própria, arrastando-se até a cadeira onde o cachecol rosa-claro de estava pendurado.
Ele puxou o tecido para si com um cuidado quase reverente e, em seguida, subiu na cama, encolhendo-se contra o travesseiro. Fred enterrou o rosto no cachecol, respirando fundo como se cada inalação pudesse trazer de volta. Quando o doce aroma familiar alcançou suas narinas, ele soluçou alto.
George levantou-se com dificuldade. Ele sabia que não podia fazer muito mais naquele momento. Quando chegou à porta do quarto, encontrou Claire esperando por ele. Sua namorada também estava desolada, a dor refletida em seus olhos vermelhos. Claire era a melhor amiga de , e sua perda parecia ter arrancado algo de dentro dela que George sabia que nunca mais voltaria.
— Temos que tirá-lo daqui — disse ela em voz baixa, e George assentiu, entendendo. Ele sabia exatamente o que Claire queria dizer. A casa estava impregnada das memórias de .
Era impossível estar ali sem vê-la em cada canto, sem ouvir sua risada ecoando pela cozinha ou sem esperar encontrá-la sentada no sofá, lendo um livro ou discutindo animadamente com Fred.
— Tem muitas lembranças — disse, sua voz falhando.
George passou os dedos suavemente pelo rosto dela, enxugando as lágrimas que caíam, antes de afagar seus cabelos pretos e curtos. Ele suspirou, se limitando a abraçá-la. George não conseguia imaginar o que era para o irmão perder o amor da vida dele, nem Claire, que havia acabado de perder a sua melhor amiga desde os 11 anos de idade, mas conseguia saber o que era pra ele, que também havia perdido uma amiga querida que ele já considerava como uma irmã, mesmo que Fred e não tivessem se casado ainda. Estar no meio do luto das duas outras pessoas mais importantes para ele piorava tudo.
Enquanto assistia o irmão chorar agarrado com o cachecol de , George não conseguia saber que Fred nunca estaria realmente livre das lembranças. Pois, havia ajudado a achar o local perfeito para a loja, havia decorado o seu quarto e deixado uma parte especial no guarda-roupa unicamente para ela, que ria timidamente quando Fred a acusava de estar tentando se mudar aos poucos. Não que precisasse, pois ele a convidou para morar com ele mais vezes do que podiam contar. o ajudou a escolher os presentes que deu para sua família quando o primeiro lucro da loja foi contabilizado. foi a primeira garota que Fred levou para A Toca e a primeira que ele colocou dentro do carro voador de seu pai. Aquele apartamento era o lugar deles, como a Toca também era, assim como a Casa dos Gritos e Hogwarts.
Tudo era sobre eles.
— Talvez ficar n’A Toca faça bem.
Claire hesitou, mas acabou assentindo.
— Lá, ao menos, ele vai se sentir em casa.
George olhou para Fred mais uma vez, observando os ombros do irmão se movendo.
— Não — respondeu ele, desviando o olhar para Claire, pois ver o seu irmão gêmeo assim também era muito doloroso. — Não acho que ele vá se sentir em casa novamente.
*
Fred ouvia as conversas ao longe, como se fossem ruídos abafados de um mundo que ele não queria mais fazer parte. Sentia o cuidado sutil, mas evidente, de sua mãe e o olhar preocupado que ela achava que ele não percebia. Já seu pai, desajeitado como sempre, evitava qualquer interação que pudesse aprofundar o desconforto do luto que pairava no ar. A Toca, tão cheia de vida, parecia um espaço distante, vazio de tudo que ele costumava ser, desde que George o convencera a passar alguns dias lá, e Fred sabia que a culpa era sua.
Fazia apenas uma semana.
Há uma semana, existia. Há uma semana, ele tinha alguém que fazia o mundo parecer mais leve. E agora não tinha nada. Agora, ele sentia como se não fosse nada.
Havia voltado para casa há alguns dias, mas ainda não fazia ideia quais dos irmãos também estavam ali. Não conseguia prestar atenção ao seu redor tanto quanto não conseguia segurar uma única conversa por muito tempo.
Os dias de Fred estavam resumidos em acordar e beber o que tivesse ao seu alcance não pelo gosto, mas pela promessa de entorpecer a dor no peito. Às vezes funcionava, às vezes apenas o fazia dormir até o outro dia, o que, na verdade, era algo muito bem-vindo para ele. Tudo que Fred queria era dormir e nunca mais acordar.
Claro que não podia dizer isso em voz alta. Fred sabia que era amada, sempre soube, sabia que todos ali estavam de luto e estavam sofrendo, então ele tentava não piorar tudo.
Mas o sétimo dia… o sétimo dia foi o pior. Não sabia se o que o acordou foi um pesadelo ou uma memória dolorosa demais para seu subconsciente suportar. Nos primeiros dias, ele chorou até achar que era impossível restar mais lágrimas. Chorou sozinho, chorou com George. Chorou até seu corpo doer, sua cabeça latejar, até a respiração parecer um esforço inútil. E quando achava que não poderia piorar, os sonhos vieram. Naquela manhã, ele acordou com o som da risada de ainda ecoando em seus ouvidos. Não era um som qualquer — era a risada dela na loja, depois de vencer uma aposta contra George sobre quadribol, que terminou com o irmão tendo que pintar o cabelo de verde por quatro dias em homenagem aos irlandeses. A memória era tão nítida que Fred podia jurar sentir a textura da mão dela puxando-o pelas escadas para que visse como George ficara ridículo.
O resto do dia seguiu-se igualmente doloroso. Fred percebeu que não eram as grandes coisas que ele mais notava. Não era só a falta de dormindo ao seu lado ou os beijos que dividia com ela, não, eram as pequenas coisas que o esmagavam.
Naquele dia, foi o macarrão à bolonhesa de Molly Weasley. Ele encarou a travessa no meio da mesa enquanto seus irmãos conversavam, e seu coração pareceu encolher. adorava aquele prato. Sempre que ele a trazia à Toca para almoçar, os olhos dela brilhavam ao ver o macarrão servido. “Não há nada melhor do que a sua comida, Sra. Weasley", era dito por ela. Ela sempre dizia a mesma coisa e Molly sempre sorria feliz. Parecia algo que as duas compartilhavam entre si.
Ele não queria ser aquele que estraga o almoço, então apenas colocou a comida no próprio prato, mesmo que não sentisse fome alguma. Afinal, como poderia sentir qualquer coisa, exceto a vontade avassaladora de dividir aquele momento com a mulher da sua vida? Porque era isso que ele queria fazer com ela novamente. Não o grande amor ou as declarações de cinema.
Fred só queria dividir um prato de macarrão. Queria uma conversa qualquer sobre o Holyhead Harpies. Queria trocar um olhar cômico com ela sempre que Percy dissesse algo idiota. Queria apenas a sensação de que ela ainda estava ali. Não ter essas pequenas coisas faziam a vida parecer insuportável.
Fred se sentia muito mais fraco, patético e introspectivo naquele dia e foi por isso que, quando o sol se pôs, ele não foi para o seu quarto onde sabia que George estaria, ele foi até o quarto de Bill.
Carregando uma garrafa de hidromel debaixo do braço, ele se esgueirou em silêncio, fechando a porta atrás de si com cuidado. O quarto estava escuro e um pouco sujo. Sua mãe não havia mexido em muita coisa desde que Bill se casou e foi embora. Fred se sentou no chão, entre a cômoda e a cama, ignorando a lâmpada. Não precisava de claridade; só precisava ficar sozinho. Não tinha um copo, apenas bebeu diretamente da garrafa, sentindo o líquido queimar dentro de si, mas falhar em aliviar o nó que sentia.
Fred queria escrever para os pais de , queria perguntar a George como Claire estava. Queria visitar Louis e Cedric, garantir que eles estavam bem. Queria cuidar de Ginny, que chorava baixinho todas as noites no quarto ao lado. Ele sabia. Sabia que precisava ser melhor. A pessoa que merecia e pensava que ele era.
Mas, ao mesmo tempo, não conseguia. Ou simplesmente ele não era essa pessoa. Talvez ele fosse apenas um egoísta que não conseguia ultrapassar a própria dor pelos outros.
Ele queria tantas e tantas coisas. Queria ela de volta. Queria não ter brigado com ela naquele dia.
"E se eu tivesse sido um namorado melhor? E se eu não tivesse deixado meu orgulho estragar tudo? E se eu a tivesse puxado de volta e pedido desculpa? E se ela nunca tivesse saído do número 93 do Beco Diagonal naquele dia?"
Esses pensamentos eram como uma sombra constante, rondando-o sem piedade. Ele não conseguia mais suportar. Sentiu uma onda de irritação invadir seu corpo, fazendo com que ele batesse com o punho na lateral da antiga cômoda de Bill causando um estrondo alto no pequeno quarto.
Queria tanto, tanto… mas nada daquilo jamais aconteceria. O pensamento fez com que Fred risse, sem humor. Ele não se via conseguindo ter uma vida normal nunca. Não sem ela. Ele tomou o resto da bebida em um só gole, afastando a garrafa e se deixando cair no chão frio do quarto.
Pouco a pouco, Fred conseguia entender por que não queria se manter sóbrio o mínimo que fosse. Quando sóbrio, tudo que sua cabeça conseguia fazer era pensar “e se?”. Ele estava prestes a se render ao desespero quando algo brilhante capturou sua atenção.
A luz fraca do lado de fora refletia em algo sob a cômoda, uma luz tão fraca que só poderia ser coisa do destino Fred ter conseguido enxergá-lo. O soco havia desestabilizado a última gaveta, fazendo com que seu fundo se rompesse. Fred inclinou-se, hesitante, puxando o objeto para perto.
— O que... — murmurou, as palavras falhando enquanto sua mente tentava acompanhar o que via.
No sétimo dia, Fred encontrou o vira-tempo de Bill Weasley. Sua mente entorpecida demorou alguns segundos para entender o que era a ampulheta que tremia sob os aros dourados do colar, mas quando finalmente se deu conta, sentou-se abruptamente, sem acreditar.
Bill havia usado um durante o terceiro ano em Hogwarts para conseguir seus 12 N.O.M.s, assim como também havia usado no terceiro ano deles. Ao contrário de Bill, não cumpriu o sigilo que havia prometido a Severus Snape, e Fred sabia muito sobre o artefato que girava em sua mão. Sabia que o colar deveria ser devolvido ao professor no fim do ano letivo, e se lembrava perfeitamente dos alertas de sobre os perigos de usar o vira-tempo de forma errada, os riscos eram muitos e inimagináveis.
Mas não fazia sentido Bill Weasley ter esse objeto até hoje. Esse tipo de ferramenta deveria ser devolvida ao Ministério. Não. Na verdade, esses artefatos não deveriam mais existir. Fred se lembrava claramente do atentado sofrido pelo Ministério da Magia, onde a sala dos colares foi completamente destruída, fazendo com que todos se perdessem.
Ou, pelo menos, era isso que todos pensavam.
Fred não sabia quando decidiu usá-lo. Talvez nunca tivesse pensado sobre a opção de não o fazer, e era por isso que esse pensamento fugia de sua mente. Ali, no chão frio da casa dos pais e com o vira-tempo do irmão mais velho em mãos, Fred não conseguia deixar de pensar que isso era uma resposta aos seus pedidos mais íntimos e dolorosos. Não precisava mais conviver com os terríveis "e se?". Ele podia voltar. Consertar tudo.
Ele olhou em volta, certificando-se que a porta permanecia fechada e ele, sozinho.
Fred tentou se lembrar das histórias que lhe contara sobre paradoxos temporais. Recordava-se de que ela mencionara como usar o artefato, as limitações de tempo e os perigos envolvidos em alterar o passado ou ser visto pela sua outra versão. Mas, por mais que tentasse, as informações pareciam deslizar como areia em suas mãos. Sua mente também tropeçava ao tentar encontrar um motivo plausível para Bill, o mais correto dos Weasley depois de Percy, ter mantido algo tão valioso e proibido escondido no quarto, como se fosse lixo. Nenhuma dessas respostas apareceu, e, se tivesse que ser honesto, nenhuma delas parecia importar agora. Tudo parecia supérfluo, distante, quase irrelevante em comparação com a oportunidade que o universo estava dando a Fred.
Nada disso impediria Fred Weasley de fazer o que já havia decidido no instante em que seus olhos pousaram sobre o objeto dourado. Era como se a ampulheta o chamasse, prometendo uma chance — a única chance — de consertar o que estava quebrado. Sem hesitar, ele se levantou e passou o colar em volta do pescoço. Seus ombros estavam tensos e seu peito subia e descia com a respiração irregular.
Fred fechou os olhos e inspirou fundo, uma, duas, três vezes, tentando recuperar o mínimo de controle sobre si mesmo.
— É a nossa única chance — murmurou para si mesmo. — Você precisa fazer isso direito.
Dizem que, às vezes, sabemos quando um momento vai mudar nossas vidas para sempre. Fred nunca fora dado a superstições, mas sempre acreditara nesse conceito em específico. Ele soubera no dia em que o Chapéu Seletor o mandara para a Grifinória, no instante em que ele e George enviaram o primeiro pedido dos Kits Mata-Aula pelo correio, e, especialmente, quando roubara o primeiro beijo de , sob as arquibancadas da Grifinória, após um jogo em que eles haviam perdido para a Sonserina. Ele soube, assim que aconteceram, que aqueles momentos eram únicos, e que marcavam o início de algo maior pra ele. E naquele momento, segurando o vira-tempo que parecia brilhar de maneira quase hipnotizante, ele sentiu de novo. Nada seria igual depois disso.
Ele não entendia de artefatos mágicos, mas lembrava-se claramente de saber que aquele funcionava com horas, e a última coisa que o impedia de voltar no tempo para salvar a mulher que amava seriam 168 voltas, algo que ele estava pronto para fazer para reescrever algo que nunca deveria ter acontecido.
Fred Weasley estava pronto para encarar o seu “e se”.


Continua...


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Nota da autora: Escrevi uma grande parte dessa história ainda durante a pandemia, mas nunca finalizei (o que pretendo fazer agora hahaha). Mas sempre tive um carinho muito grande por ela. Provavelmente por envolver tantos elementos especiais pra mim. Espero muito que vocês gostem tanto quanto eu! Quem quiser acompanhar quando algum novo capítulo sair, basta me seguir no instagram (morganfanfiction). Até! <3


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