Codificada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 28/05/2025.Sentia que a coroa em minha cabeça pesava um milhão de toneladas, não pelos cristais ou as pedras em si, mas pelo que aquilo significava. Meu pai sempre me dizia que eu era sua princesa, mas naquele momento eu parecia ser sua pior inimiga, sentia que aquilo era um castigo, uma represália por algo que eu nem sequer havia feito.
"O casamento entre vocês dois vai acalmar os outros caçadores", ele dizia cada vez que eu tentava fazer ele desistir daquela ideia absurda. Tinha ódio do sangue que corria em minhas veias. Na maior parte do tempo, eu amava quem eu era, mas depois daquele dia, eu passei a odiar pertencer a aquela linhagem. Ser parte de uma das famílias mais poderosas no mundo bruxo estava custando a minha liberdade e uma parte de quem eu era.
Parei no meio do corredor, limpando as lágrimas e alisando o vestido azul escuro. Ninguém na aldeia deveria saber que aquilo era um casamento arranjado, nem no meu mundo e nem no dele. Para todas as outras pessoas, nós nos apaixonamos depois de nos conhecermos em um bosque ao leste de Wichita. Naquele momento, eu odiava até mesmo minha cidade. Até o castelo, que era um dos meus lugares favoritos na aldeia, naquele dia parecia sombrio, triste e vazio - mesmo estando cheio. Eu começava a odiar meu lar também.
Brody, que me esperava ao lado da porta para me levar até o altar, correu até mim quando notou que eu havia parado no meio do corredor. Ele não disse nada, só entrelaçou seu braço ao meu e esperou até que eu voltasse a caminhar, respirei fundo novamente, forçando minhas pernas a andarem. Me lembrava do meu irmão implorando ao nosso pai que ele não fizesse aquilo, ou que deixasse ele se casar com uma caçadora em meu lugar, tudo que eu ouvimos foi que ser a filha mais velha, às vezes tinha um preço. Acho que eu não era mais sua princesa.
Paramos à frente da grande porta e eu limpei qualquer vestígio de tristeza do meu rosto, não precisava sorrir, mas também não deveria chorar, não precisava parecer alegre, mas também não deveria parecer triste. Não deveria ser assim. Brody bateu levemente na porta assim que me viu assentir, não demorou muito até que as enormes portas fossem abertas, revelando o salão cheio de pessoas, em sua maior parte da aldeia.
E lá estava ele, me olhando como se eu fosse a coisa mais repugnante do mundo, não fazia nem questão de disfarçar, as regras só valem para mim? A cada passo que eu dava, sentia uma vontade incontrolável de incendiar sua capa e deixar que ele queimasse junto, sentia tanta raiva que poderia colocar fogo na aldeia toda, mas não era justo matar pessoas inocentes, eu não era como eles.
Brody me soltou assim que eu estava de frente para o caçador, colocando minha mão encima da sua. Senti meus olhos faiscarem assim que eles encontraram os seus, assumindo a cor azul por alguns segundos. Logo depois escutei a voz de meu pai me repreendendo, mas parecia que ninguém mais havia escutado.
O caçador fez um sinal e eu percebi que um de seus amigos havia dado alguns passos na nossa direção, mas logo se afastou ao observar seu gesto. Provavelmente alertado pela faísca em meus olhos, imaginando que eu estilhaçaria seu amigo ali mesmo com apenas um feitiço, assim como meu pai provavelmente havia pensado.
Sem me olhar novamente, ele segurou minha mão e nos colocou de frente para o celebrante. Me ajoelhei ao seu lado, dando início a cerimônia.
Eu deveria ter deixado você morrer quando tive chance, .
