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Codificada por Aurora Boreal 💫
Finalizada em: Março/2025

“Sem desculpas, Lee ! Estamos programando esse Natal aqui em casa há séculos, temos lugar para mais pessoas sempre. Não me faça ir aí te buscar, que eu vou, hein?”
suspirou pesadamente do outro lado da linha enquanto se levantava e levou mais uma bronca da melhor amiga. Ele coçou a nuca, conhecia feito a palma de sua mão, ela certamente o buscaria se ele desse alguma desculpa ou simplesmente lhe desse o bolo. Então iria, afinal de contas era só uma noite com um jantar na casa da família dela. Ele conhecia os pais de , afinal de contas ele e ela eram melhores amigos desde a faculdade. Então, o que tem demais não é?
“Vou botar um casaco, comprar um vinho e alguns chocolates para os seus pais e já estou indo. Não vai precisar me buscar nem fazer nenhum escândalo, ok?”
“A também estará aqui, além dos meus pais e alguns tios e tias, primos e primas. Você acredita que ela voltou definitivamente sem nos contar e resolveu fazer essa surpresa logo no Natal? Meus pais estão radiantes!”
franziu o cenho de forma involuntária enquanto pegava as chaves da casa e do carro sobre a cômoda de madeira branca que havia em seu quarto.
“Nossa, finalmente vou conhecer a sua irmã depois de anos só ouvindo falar dela. Uau, quem diria!”
Ele nunca tinha realmente parado para pensar sobre a irmã dela, . Afinal, ela sempre morou fora, naqueles anos de faculdade e depois na pós-graduação. tinha se mudado para estudar em outro país, e sabia disso, claro, mas o fato de ela ter se estabelecido por lá depois de formada foi uma surpresa para ele. Nunca havia dado muita atenção ao assunto, porque, para ele, era apenas uma pessoa mencionada nas conversas esparsas de .
Além disso, nunca sequer tinha visto uma foto dela. Nenhuma, nem mesmo uma imagem casual entre amigos. sempre falava dela com carinho, mas, por algum motivo, o nome da irmã parecia envolver um mistério que não havia sentido necessidade de desvendar. Ele se perguntava se a própria sabia o que ele imaginava sobre ela — se seria tão distante quanto parecia em suas histórias.
"Eu realmente não tenho ideia de como ela é", pensou , fechando a porta atrás de si.
Ele entrou no carro, ligou o motor e deu partida, refletindo sobre a situação. parecia empolgada demais com a volta da irmã, quase como se ela fosse um símbolo de algo muito importante. E por mais que fosse um bom amigo e tivesse ficado curioso sobre a tal , sua mente estava ocupada com outras coisas, como aquele maldito trabalho que ele ainda tinha que terminar no dia seguinte.
“Já estou a caminho, ok? Tô dentro do carro.”
“Te espero aqui em no máximo quinze minutos, sem atrasos .”
E eles desligaram.
Dirigindo em direção à casa de , a visão de sua rua natal passou lentamente pela janela. O Natal parecia tão distante de seu mundo, onde as luzes e as festividades não faziam sentido. Mas ele se forçou a pensar no jantar, no vinho, e em como seria boa a companhia de e seus pais. O que mais ele poderia esperar?
"Vai ser só uma noite", ele repetiu para si mesmo. "Nada de mais."

🎄🎄🎄

Por sorte encontrou uma loja de conveniências aberta e conseguiu comprar um vinho e três caixas de chocolates importados. Agora que estaria presente ele não podia simplesmente aparecer sem nada para a garota.
Durante o caminho para casa de recebeu mais uma ligação da melhor amiga e sorriu de lado, achando graça da impaciência da garota. Deixou que a ligação desligasse sozinha e então ao parar no sinaleiro, enviou uma mensagem para ela:
“Eu já estou chegando ! Parei para comprar os presentes, se esqueceu?”
Balançou a cabeça ainda com o sorriso no rosto e então observou a vista à sua frente. Enquanto aguardava o sinal abrir, desviou o olhar para o céu. As luzes da cidade brilhavam intensamente, refletindo nas janelas dos prédios, e ele se pegou pensando em algo completamente aleatório. Será que tinha deixado ração suficiente para os gatos? Ele havia enchido os potes antes de sair, mas e se eles resolvessem comer mais do que o normal? Talvez devesse ter deixado a comida em dois lugares diferentes. Suspirou, concluindo que estava exagerando. Eles ficariam bem.
O celular vibrou em seu colo e, ao olhar a notificação, soltou uma risada discreta.

: 😏😂😂😂

Era típico dela. Nenhuma resposta elaborada, apenas emojis debochados. balançou a cabeça, divertindo-se com a impaciência da amiga, e então voltou sua atenção para a estrada.
O resto do trajeto seguiu tranquilo. As ruas estavam mais vazias do que o habitual, provavelmente porque muitas famílias já estavam reunidas para a ceia. Ele dirigia sem pressa, aproveitando a atmosfera tranquila da noite. O rádio tocava uma música natalina qualquer, que ele não fez questão de prestar atenção, e o som suave do motor parecia embalar seus pensamentos.
Ao se aproximar do bairro de , sentiu um leve aperto no peito — não era exatamente desconforto, mas uma sensação estranha de estar entrando num ambiente tão diferente do seu. Natal sempre foi uma data comum para ele, sem grandes celebrações ou tradições. Apenas mais um dia no calendário. Mas, para a família de , era completamente diferente.
Quando finalmente estacionou o carro em frente à casa dos Kim, observou as luzes piscando na varanda e a guirlanda vermelha e dourada pendurada na porta. O cheiro da comida escapava pela fresta da janela aberta da sala, e ele soube que estava prestes a entrar em um verdadeiro cenário natalino.
Respirou fundo antes de sair do carro, pegando as sacolas com os chocolates e o vinho. Enquanto caminhava até a entrada, ouviu risadas vindas do interior da casa.
Quando tocou a campainha, a porta foi aberta quase de imediato por , que exibia um sorriso satisfeito.
— Até que enfim, Lee ! Pensei que tivesse desistido no caminho.
Ele revirou os olhos, entregando-lhe as sacolas.
— Não me subestime. Eu sou um homem de palavra.
soltou uma risada e deu espaço para ele entrar. Assim que passou pela porta, percebeu que ainda não estava ali.
— E então? Cadê a famosa ? — perguntou, tentando soar casual.
fechou a porta atrás dele e deu de ombros.
— Ainda não chegou. Ela disse que ia passar na casa de uma amiga antes de vir. Mas não se preocupe, você vai conhecê-la logo, logo.
apenas assentiu, sem demonstrar muito interesse. Afinal, para ele, era só mais um nome, mais uma pessoa na grande reunião de Natal dos Kim.
O que ele ainda não sabia era que, naquela noite, tudo mudaria.

🎄🎄🎄

Assim que entrou na casa, foi imediatamente cercado pelos familiares de . Tios, tias, primos e primas, todos pareciam animados com a festa e o receberam calorosamente.
— Então esse é o famoso ? — uma das tias de comentou, apertando sua mão com firmeza. — Sempre ouvimos falar de você!
Ele sorriu educadamente, acostumado com aquele tipo de recepção.
— Só espero que tenham ouvido coisas boas — brincou, arrancando algumas risadas.
— Bem-vindo, ! — outro tio cumprimentou, dando um leve tapinha em seu ombro. — sempre fala de você como se fosse parte da família.
Ele sorriu de canto, trocando mais alguns apertos de mão e pequenos cumprimentos antes que o puxasse pelo braço.
— Certo, certo, depois vocês ficam interrogando ele — disse, revirando os olhos. — Agora vem, meus pais estão na cozinha terminando o jantar.
apenas a seguiu, ainda sorrindo pelo calor da recepção. A cozinha estava cheia de aromas deliciosos, e os pais de estavam ocupados com os últimos preparativos. A mãe dela mexia em uma panela, enquanto o pai organizava alguns pratos sobre a mesa.
— Olha só quem resolveu aparecer! — a mãe de disse ao vê-lo, abrindo um sorriso caloroso.
— Boa noite, senhora Kim, senhor Kim — cumprimentou, inclinando levemente a cabeça em respeito.
— Boa noite, ! — o pai de respondeu com um sorriso. — Chegou bem na hora, estamos terminando tudo.
— Eu trouxe um vinho para o senhor e alguns chocolates para a senhora e para a — ele disse, estendendo os presentes.
A mãe de soltou uma risadinha, pegando as caixas de chocolate com um brilho no olhar.
— Oh, querido, que gentileza! Você sabe como conquistar uma casa cheia, hein?
— E um bom vinho, hein? — o pai de comentou, analisando o rótulo. — Ótima escolha, . Vamos abrir mais tarde.
, ao lado, pegou a própria caixa de chocolates e a sacudiu levemente, sorrindo satisfeita.
— Eu sabia que você traria algo bom.
Ele revirou os olhos de leve, mas estava confortável ali. Apesar de tudo, a casa dos Kim sempre o fazia sentir-se bem-vindo.
— Bom, agora que já fiz minha parte, só preciso de um copo de qualquer coisa para brindar — brincou, fazendo os três rirem.
E então, antes que pudessem continuar a conversa, a campainha tocou.

🎄🎄🎄

ergueu a cabeça ao ouvir o som da campainha e arregalou os olhos antes de soltar um gritinho animado.
— Deve ser a !
Ela largou os chocolates sobre a mesa e praticamente saiu correndo da cozinha. apenas observou, ainda com um sorriso no rosto, enquanto o senhor e a senhora Kim trocavam olhares cúmplices. Era evidente o quanto estavam animados com o retorno da filha mais nova.
Curioso, ele caminhou até a entrada da sala, onde parte da família já se reunia para receber . Do ponto onde estava, não conseguia vê-la de imediato, apenas ouvia a voz de , empolgada como sempre:
— Sua doida! Como é que você simplesmente aparece assim, sem avisar? Sabe quantas vezes eu quase contei pros nossos pais sobre essa surpresa?
— Mas você não contou — uma voz feminina respondeu, em um tom divertido. — Então sua missão foi bem-sucedida.
A voz era suave e um pouco rouca, carregada de uma leveza natural. franziu o cenho, curioso.
Quando finalmente conseguiu enxergá-la, percebeu que era completamente diferente do que havia imaginado. Não que tivesse criado uma imagem concreta dela — afinal, ele nunca sequer tinha visto uma foto da garota —, mas, por algum motivo, esperava algo mais parecido com .
No entanto, tinha uma aura completamente distinta. Enquanto era expressiva, vibrante e falante, parecia mais serena, embora não menos radiante. Seus cabelos escuros caíam em ondas suaves pelos ombros, e ela vestia um longo casaco de lã em um tom de vinho, contrastando com sua pele clara. Seus olhos tinham um brilho curioso ao observar a casa, como se estivesse redescobrindo aquele ambiente após tanto tempo longe.
Os pais dela a abraçaram com força, e retribuiu com carinho, fechando os olhos por um breve momento, como se quisesse gravar aquela sensação.
cruzou os braços, observando a cena com um pequeno sorriso. Havia algo reconfortante naquela reunião familiar.
E então, como se sentisse seu olhar, ergueu os olhos e o encarou.
Por um instante, foi como se o tempo desacelerasse.
Ela piscou algumas vezes, como se tentasse reconhecê-lo, até que , percebendo a troca de olhares, se intrometeu:
— Ah! Quase me esqueci! , esse é o , meu melhor amigo.
Os lábios de se curvaram em um sorriso leve, e ela inclinou a cabeça de lado.
— O famoso — murmurou, ainda o analisando.
arqueou uma sobrancelha, surpreso pela forma como ela disse aquilo. Ele se aproximou o suficiente para ficar perto da garota, e então sorriu:
— Eu sou famoso? — questionou, divertido.
deu de ombros, seu sorriso crescendo um pouco mais.
fala muito sobre você.
— Só coisas boas, espero.
— Digamos que… curiosas.
Ele soltou uma risada baixa, já prevendo que certamente havia contado todas as suas histórias embaraçosas.
— Bom, bem-vinda de volta — disse, oferecendo um aperto de mão.
olhou para a mão estendida por um segundo antes de, ao invés de apertá-la, dar um leve toque com os dedos, de maneira brincalhona.
— Obrigada — respondeu, com um brilho misterioso nos olhos.
E foi nesse momento que percebeu que aquela noite talvez fosse mais interessante do que imaginava.

🎄🎄🎄

A noite avançava e, depois do alvoroço inicial com a chegada de , o jantar seguiu animado, recheado de conversas, risadas e o sabor reconfortante das tradições natalinas da família Kim.
Após a refeição, os mais velhos permaneceram na sala, entretidos em suas próprias histórias e recordações, enquanto os mais jovens decidiram se acomodar na varanda espaçosa da casa. O clima ali era agradável, com as luzes natalinas piscando suavemente e o aroma fresco do inverno misturado ao leve perfume das árvores no jardim.
se sentou em uma das cadeiras de madeira, observando o grupo ao seu redor. e alguns primos tagarelavam sobre as últimas novidades da cidade, mas a atenção de todos logo voltou para .
— Certo, certo — começou um dos primos, inclinando-se para frente com um sorriso travesso. — Agora que já nos alegramos com sua volta, pode contar a verdade, . O que te fez largar a vida perfeita e voltar para Ulsan?
, que segurava uma xícara de chá quente entre as mãos, ergueu uma sobrancelha, divertida.
— Eu não diria que minha vida era perfeita — disse, soprando levemente a bebida antes de dar um gole.
— Ah, mas era, vai — insistiu , cruzando os braços. — Você tinha um emprego estável, morava em um lugar incrível e… bom… ia se casar.
O silêncio que se seguiu fez com que desviasse o olhar para , curioso. Ele já tinha ouvido mencionar por alto que a irmã era noiva, mas não sabia que o relacionamento tinha chegado ao fim.
apoiou a xícara na mesa ao lado, entrelaçando os dedos no próprio colo antes de dar de ombros.
— Algumas coisas simplesmente não funcionam, sabem? Eu e o Minho… tínhamos planos diferentes para o futuro. E, sinceramente, acho que já não éramos os mesmos de antes.
— Ele te traiu? — uma prima perguntou sem rodeios, fazendo alguns dos presentes engasgarem.
riu, balançando a cabeça.
— Não, nada disso. Foi algo mais… natural, eu diria. A gente só percebeu que não fazia mais sentido continuar juntos.
— Hmm… — estreitou os olhos, desconfiada. — Eu ainda acho que tem mais coisa nessa história.
— E você já conseguiu um emprego aqui ou voltou sem nada certo? — outro primo perguntou, mudando o rumo da conversa.
relaxou um pouco mais na cadeira.
— Na verdade, já tenho algumas entrevistas marcadas. Mas, por enquanto, quero aproveitar um pouco esse recomeço. Faz tanto tempo que não passo um Natal aqui que parece até surreal.
— Bom, independente do motivo, estamos felizes que voltou — disse , pegando a mão da irmã e apertando de leve.
, que observava tudo em silêncio, notou o brilho sutil no olhar de . Havia algo nela que parecia diferente, um misto de alívio e nostalgia, como alguém que havia carregado um peso por muito tempo e finalmente podia respirar.
Ele apenas sorriu de canto, encostando-se melhor na cadeira.
— Ok, já que estamos todos aqui e o clima está bom, vamos brincar de algo! — anunciou, batendo palmas animadamente.
— Tipo o quê? — um dos primos perguntou, já interessado.
— Pode ser "Eu Nunca" — sugeriu uma prima, rindo.
— Ah, não! Sempre acaba em exposição demais — outro primo protestou, mas rindo.
— Então que tal "Verdade ou Desafio"? — alguém propôs.
O grupo foi concordando e logo estavam animados, pegando garrafas de cerveja ou refrigerante para usarem no jogo. e , no entanto, apenas trocaram um olhar cúmplice.
— Não está muito a fim de jogar? — ele perguntou, percebendo que parecia hesitante.
Ela sorriu de leve, dando de ombros.
— Acho divertido assistir. Sempre tem alguém que fala demais e se arrepende depois.
riu, cruzando os braços enquanto se encostava melhor na cadeira.
— Concordo. Prefiro ficar só observando o caos acontecer.
E assim fizeram. Enquanto o grupo iniciava as rodadas de perguntas embaraçosas e desafios cada vez mais ousados, e permaneciam à parte, acompanhando tudo com olhares divertidos.
— Então… — começou, voltando-se um pouco mais para ele. — sempre fala muito de você, mas acho que nunca nos conhecemos de verdade.
— Culpa sua, né? — ele brincou, arqueando uma sobrancelha. — Você praticamente fugiu do país antes que eu tivesse a chance de te conhecer.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Acho que sim. Mas você também nunca perguntou sobre mim?
— Para ser honesto, fala tanto que já parecia que eu te conhecia — ele confessou, rindo de leve. — Mas agora vejo que ela deixou algumas coisas de fora.
— Tipo?
inclinou a cabeça, observando-a melhor.
— Você parece diferente do que eu imaginava.
— Diferente como?
Ele hesitou por um momento antes de responder.
— Não sei. Mais… acessível. Eu achava que você fosse mais reservada, talvez até um pouco séria demais.
soltou um riso nasalado.
— Talvez eu seja um pouco séria quando preciso. Mas não hoje. Hoje estou tentando apenas… aproveitar.
assentiu devagar, sentindo que havia mais naquela resposta do que ela deixava transparecer.
— Bem, então acho que escolheu o melhor momento para isso. A sua família tem uma energia que faz qualquer um esquecer os problemas por um tempo.
sorriu e, por um momento, os dois apenas ficaram ali, assistindo o jogo continuar, as risadas altas e os desafios cada vez mais ousados ecoando pela varanda.
O Natal, que havia imaginado ser apenas mais uma noite comum, estava começando a se tornar algo inesperadamente interessante.

🎄🎄🎄

havia acabado de dar um gole na sua bebida quando ouviu dizer, com um tom casual demais para o impacto da frase:
— E você e a minha irmã, hein? Nada de quebrar o coração dela.
Ele se engasgou no mesmo instante, tossindo algumas vezes enquanto tentava recuperar o fôlego. apenas o observou com um sorrisinho divertido nos lábios, erguendo uma sobrancelha como se estivesse esperando que ele confirmasse alguma coisa.
— N-não entendi… — conseguiu dizer assim que parou de tossir.
cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça de lado.
— Melhor amigo? — ela repetiu, com um ar de quem claramente não acreditava. — Vocês dois se conhecem há mais de seis anos. Acha mesmo que eu não sei que você é o namorado secreto dela?
piscou algumas vezes, sentindo a confusão tomar conta de seus pensamentos. Namorado secreto? De onde ela tinha tirado essa ideia?
Foi então que ele se deu conta: Provavelmente nunca havia contado para a irmã que gostava de garotos e garotas, e que o tal “namorado misterioso” na verdade era namorada…
Ele se perguntou por que a melhor amiga ainda não havia falado pelo menos para a própria família sobre isso. Será que tinha medo da reação deles? Ou apenas não achava necessário?
De qualquer forma, ele precisava esclarecer aquilo antes que criasse qualquer outra teoria absurda.
, olha… — Ele soltou um riso meio nervoso, passando a mão pelos cabelos. — Eu e a realmente somos só amigos. Ela é como uma irmã para mim.
— Ah, claro, claro — ironizou, estreitando os olhos.
— Estou falando sério — insistiu. — Não tem nada disso de namoro secreto. Nunca teve.
Ela o observou por um instante, parecendo avaliá-lo, antes de soltar um suspiro.
— Ok, vou acreditar em você. Mas então me explica por que minha irmã nunca namorou ninguém esse tempo todo?
abriu a boca para responder, mas fechou logo em seguida. Não era algo que cabia a ele dizer.
— Isso… você tem que perguntar para ela.
o encarou por mais alguns segundos, mas, no fim, apenas deu de ombros.
— Certo, eu pergunto.
apenas sorriu, tentando mudar de assunto, enquanto pensava que, depois daquela conversa, talvez precisasse ter uma com também.

🎄🎄🎄

ainda estava se recuperando da conversa anterior quando se acomodou melhor na cadeira e mudou de assunto, olhando para as luzes natalinas que enfeitavam a varanda.
— E então, , você gosta do Natal?
Ele hesitou por um momento, dando um gole na bebida antes de responder:
— Gosto… quer dizer, é só mais uma data para mim. Acho bonito e tudo mais, mas nunca fui muito ligado nessas coisas.
arregalou os olhos, fingindo indignação.
— Como assim "só mais uma data"? O Natal é a época mais mágica do ano!
riu da reação dela.
— É? E por quê?
Ela se virou para encará-lo, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo.
— Porque é um tempo de esperança — ela começou, com um brilho nos olhos. — De reencontros, de amor, de nostalgia boa. Você nunca sentiu isso? Aquela sensação de que tudo pode se ajeitar, de que as coisas ruins podem ficar para trás e um novo começo está logo ali, batendo na porta?
Ele ficou em silêncio por um instante, observando a forma como ela falava com tanto entusiasmo. O tom apaixonado, os gestos leves, os olhos brilhando… Era encantador.
— Acho que nunca vi o Natal dessa forma — confessou.
sorriu, como se aquilo fosse um desafio.
— Então você está fazendo isso errado.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Como assim?
— Você está olhando para o Natal de um jeito muito prático — explicou. — Luzes, presentes, comida… Mas o que faz essa época ser especial são as pessoas, as lembranças, os sentimentos. O cheiro do chocolate quente, os abraços apertados depois de um ano difícil, as risadas compartilhadas na ceia.
observou a cena ao redor. Os primos de ainda brincavam, jogando conversa fora e se divertindo. Os tios e os pais dela estavam na sala, rindo de algo. A casa estava cheia de vida, calor e alegria.
— Nunca passei um Natal assim, eu acho — murmurou, meio sem pensar.
o encarou com curiosidade.
— E como eram os seus Natais?
Ele deu de ombros.
— Pequenos. Só eu e meus pais. Comida simples, sem grandes comemorações. Não que tenha sido ruim, só… diferente.
Ela sorriu de leve.
— Então é a sua primeira vez em um Natal barulhento e caótico?
riu.
— Parece que sim.
— Espero que goste — disse, apoiando o queixo na mão. — Se depender de mim, você nunca mais vai ver o Natal como “só mais uma data”.
E, naquele momento, teve a estranha sensação de que ela estava certa.

🎄🎄🎄

A troca de presentes começou em meio a risadas e conversas animadas. A sala estava iluminada pelas luzes da árvore de Natal e o cheiro do jantar ainda pairava no ar. Os mais velhos se acomodaram no sofá enquanto os mais jovens se sentaram no tapete ou em almofadas espalhadas pelo chão. Cada um pegava um presente e o entregava ao seu respectivo destinatário, muitas vezes acompanhando a entrega com um abraço apertado ou uma piada interna.
observava a cena com um pequeno sorriso. Era raro estar em um ambiente tão acolhedor como aquele, e, por mais que tentasse evitar, sentia-se envolvido pela energia do momento.
Até que ele se lembrou que não havia entregado a o chocolate que havia comprado para ela. Foi até a cozinha discretamente e procurou pela sacola, encontrando-a sobre o mesmo lugar que havia deixado antes.
De volta a sala, virou-se para , que estava sentada ao lado de , e estendeu a caixa para ela.
— Toma! — fez uma breve pausa, oferecendo um sorriso de canto — Achei injusto você ficar sem nada da minha parte, já que comprei para a e os pais de vocês.
piscou algumas vezes, surpresa, antes de pegar a caixa das mãos dele.
— Você não precisava,
— Mas eu quis — ele respondeu simplesmente.
Ela sorriu, passando os dedos sobre o laço dourado da embalagem.
— Então obrigada. Eu amo chocolate.
— Sorte a minha — ele brincou, relaxando um pouco mais na presença dela.
, que assistia a cena com um sorriso travesso, pigarreou alto, chamando a atenção dos dois.
— Olha só, nem precisou de muito esforço para ganhar presente, hein, ?
revirou os olhos, rindo.
— Claro, eu sou encantadora.
riu também, mas não pôde evitar pensar que, de fato, ela tinha algo que o fazia querer continuar prestando atenção nela.

🎄🎄🎄

A cozinha estava cheia de movimento e risadas enquanto os três se ajeitavam ao redor da bancada. estava na frente do fogão, mexendo uma panela de creme de chocolate, enquanto se encarregava de arrumar as frutas e os outros ingredientes sobre a mesa. , por sua vez, estava encarregado de pegar as tigelas e ajudar a organizar as coisas, mas, para ser sincero, estava mais observando do que realmente ajudando.
— Acho que nunca vi ninguém tão empolgada para fazer sobremesa — comentou, sorrindo enquanto passava a colher pela borda de uma tigela.
, com um sorriso no rosto, olhou para ele enquanto mexia o creme com mais energia.
— Não é só sobremesa, . Isso aqui é quase um ritual — ela disse, com um brilho travesso nos olhos. — Tem algo de mágico em preparar o último prato da noite. É a maneira perfeita de fechar o Natal.
, que estava cortando algumas frutas, olhou para a irmã com uma expressão curiosa.
— Você sempre foi assim com o Natal, ? Ou é só algo novo por causa do tempo fora?
pausou por um momento, sua expressão suavizando um pouco, como se refletisse sobre a pergunta.
— Na verdade, sempre fui assim. Lá fora, longe de casa, percebi como esses pequenos momentos, essas tradições simples, têm um poder que eu não sabia. — Ela deu um sorriso suave e continuou mexendo a mistura. — Quando a gente está longe, os Natais sem a família ganham outro significado. Sabe? Então, quando decidi voltar, sabia que precisava passar o Natal com vocês. Não queria perder mais um.
ficou em silêncio por um momento, tocado pela sinceridade dela. Ele havia apenas pensado que ela estava voltando porque queria ver a família novamente, mas nunca imaginou que ela tinha essa conexão profunda com o Natal.
— Isso é... muito bonito — ele comentou, sentindo o peso das palavras dela.
virou a cabeça, parecendo um pouco surpresa com o tom mais sério da conversa.
— Eu não sou muito de falar sobre essas coisas, mas... a vida muda a gente, né?
— Com certeza — concordou, sentindo a leveza da conversa ao mesmo tempo em que apreciava o momento.
, que havia parado de cortar as frutas, olhou para os dois, observando a química silenciosa entre eles.
— Bom, já que estamos todos tão sentimentais, que tal fazermos o último esforço e terminar logo essa sobremesa? Porque, sinceramente, estou com fome!
riu, e , que também estava começando a sentir o cheiro doce da sobremesa, assentiu com um sorriso.
— Concordo com você, . Acho que todo esse papo sobre o Natal me deu mais apetite ainda!
Enquanto os três continuavam a preparar a sobremesa, a atmosfera na cozinha parecia ter mudado para algo mais íntimo e descontraído, com os risos e pequenas piadas preenchendo o ar. Para , aquele momento estava se tornando mais significativo do que ele jamais imaginara. E, de certa forma, ele sentia que, aos poucos, estava começando a entender o que quis dizer sobre o Natal, sobre a magia de estar perto de quem se gosta, compartilhando até mesmo as coisas mais simples.
O celular de , que estava dentro de sua calça, começou a vibrar suavemente, interrompendo o clima descontraído que se formara entre os três. Ela pegou o aparelho e olhou a tela, onde o nome "Jae" apareceu como chamada. Seu olhar se encontrou com o de por um breve momento, como se uma troca silenciosa de significados passasse entre eles. Ela sorriu de canto, quase como se tivesse se lembrado de algo, e levantou a mão.
— Ah, é a Jae, desculpem — ela disse, com um tom suave, tentando disfarçar o nervosismo. — Vou atender, já volto, ok?
a observou enquanto ela se afastava rapidamente para o corredor, sentindo um peso na atmosfera. Ele sabia quem era Jae, claro, mas ninguém mais sabia sobre o relacionamento entre as duas. estava sempre tentando manter isso em segredo, especialmente diante de , e agora ele ficava com a sensação de que esse segredo estava começando a pesar mais do que nunca.
Ao vê-la se afastando, se viu sozinho com na cozinha. O silêncio que se seguiu foi desconfortável, como se ambos sentissem a ausência do elo em comum, mas, ao mesmo tempo, o ambiente estava carregado de uma tensão diferente.
se voltou para a bancada, assumindo o posto que antes era da melhor amiga, mas seus olhos voltaram a sem querer. Ela estava mexendo no creme de chocolate, com uma expressão focada, mas ele notou a forma como seus cabelos caíam suavemente sobre os ombros, o contorno delicado de seu rosto enquanto ela se concentrava na tarefa.
Aquele momento, tão simples e cheio de pequenos detalhes, parecia carregar uma tensão inesperada.
, sem perceber, olhou de relance para , encontrando os olhos dele. Por um instante, nenhum dos dois disse nada. O silêncio entre eles parecia pesado, carregado de uma energia palpável, como se o que quer que fosse dito ou feito a seguir pudesse mudar o rumo da noite.
foi a primeira a quebrar o silêncio, seus lábios se curvando levemente para um sorriso, como se tivesse notado a tensão no ar, mas não soubesse exatamente o que fazer com isso.
— Você está bem, ? — ela perguntou, a voz suave e curiosa, como se estivesse tentando descobrir algo mais sobre ele.
Ele respirou fundo, sentindo um arrepio leve, quase involuntário. A proximidade de , o som de sua voz, a maneira como ela parecia tão ao seu alcance, fez seu coração acelerar de maneira inesperada.
— Eu... — hesitou, a resposta presa na garganta, sentindo-se um pouco perdido. — Só... um pouco distraído, acho.
riu suavemente, seu sorriso ficando mais largo e genuíno.
— Parece que você está se perguntando algo, . Eu estou certa?
Ele olhou para ela, sentindo o calor de sua presença, o brilho em seus olhos que refletia o charme que ela não tentava esconder. Por um momento, a ideia de continuar a conversa parecia sem sentido. A única coisa que ele queria fazer era se aproximar mais dela.
Sem pensar, ele deu um passo à frente, fechando um pouco a distância entre eles. o encarou, surpreendida pela aproximação repentina, mas algo no olhar dela indicava que ela também sentia a mesma tensão crescente.
— Eu… — ele murmurou, mais para si mesmo, tentando organizar os pensamentos, mas tudo o que conseguia ver era , tão perto, tão real.
O silêncio entre eles se estendeu por mais um segundo, até que , com uma expressão quase desafiadora, baixou os olhos para os lábios dele. O movimento foi quase imperceptível, mas foi o suficiente para fazer sentir uma chama crescente de desejo.
Ele sabia o que estava prestes a acontecer. Sabia que aquele momento poderia levá-los a algo mais. E, pela primeira vez naquela noite, ele não queria afastar essa sensação. Ele queria saber o que ela sentia também, se a atração repentina era correspondida.
A mão dele, sem querer, tocou a dela de forma suave sobre a bancada, o contato elétrico, quase imperceptível, mas carregado de uma sensação quente que fez ambos pararem. O tempo parecia ter desacelerado, o ambiente ao redor desaparecendo enquanto os dois se fixavam um no outro, os corações batendo mais rápido.
Foi então que a porta da cozinha se abriu levemente, interrompendo o momento, e a senhora Kim apareceu, com um sorriso largo no rosto.
Com o som da porta se abrindo, e se afastaram rapidamente, ambos com os corações ainda acelerados. O susto foi evidente em seus rostos, mas logo tentaram disfarçar, como se nada tivesse acontecido, embora a tensão no ar permanecesse inegável. A senhora Kim entrou na cozinha com um sorriso largo e caloroso, como se não tivesse percebido nada.
— O que estão fazendo aí? — ela perguntou de forma brincalhona, levantando uma sobrancelha e olhando para os dois. — Não me digam que estão aprontando na cozinha antes da sobremesa!
, com uma leve corada nas bochechas, sorriu de volta, tentando manter a calma, mas claramente sentindo a pressão do momento.
— Ah, mãe, está quase pronta! Só falta dar o toque final no creme e a sobremesa estará perfeita, pelo menos eu espero! — Ela respondeu, tentando disfarçar qualquer desconforto e evitando olhar diretamente para .
A senhora Kim riu, satisfeita, e deu um passo para mais perto, olhando o que estava preparando.
— Muito bem, estou ansiosa para ver o que você aprontou dessa vez! — ela disse com um tom de brincadeira, e então se virou para , com um olhar curioso, mas ainda sorrindo. — Você precisa de ajuda com essas frutas, querido?
, que ainda estava um pouco surpreso com a interrupção, sorriu de volta e acenou com a cabeça.
— Não precisa senhora Kim, vou terminar de cortá-las bem rápido.
A senhora Kim soltou uma risada gostosa e, sem perder tempo, se aproximou de para dar-lhe um tapinha no ombro.
— Vamos ver se a vai superar a minha receita, não é? Vou esperar para ver.
, agora visivelmente mais relaxada, continuou mexendo no creme, tentando recuperar o ritmo e afastar a sensação de estar em um jogo de tensões e olhares não ditos. Ela se concentrou na tarefa, mas seu olhar ainda passeava ocasionalmente sobre , que agora parecia mais calmo, mas ainda com uma expressão enigmática.

🎄🎄🎄

A sobremesa finalmente estava pronta. colocou o creme de chocolate na taça e, com um sorriso de satisfação, olhou para o trabalho que havia feito, um toque final delicado e suave. A senhora Kim havia voltado para a sala, deixando-os sozinhos novamente na cozinha, em um momento mais íntimo e tranquilo.
Ela pegou uma colher e, com a mesma suavidade com que preparara a sobremesa, levou um pouco do creme até seus próprios lábios, provando o sabor com uma expressão de aprovação.
— Humm... — murmurou, fechando os olhos por um segundo. — Acho que ficou perfeito.
a observou, ainda em silêncio, com os olhos fixos nela. A forma como ela parecia tão envolvida no momento, como os lábios dela se curvavam para um sorriso tão genuíno, fez seu coração bater mais forte.
Ela então, sem hesitar, pegou a colher novamente, mergulhou um pouco do creme e, com um olhar que parecia misturar confiança e algo mais, estendeu a colher até . Ele, surpreso, olhou para a colher por um momento, depois voltou a encarar .
— Você quer que eu prove também? — ele perguntou com um sorriso meio desafiador, sem saber se deveria recusar ou não. Mas algo na expressão dela o fez aceitar, com um leve movimento de cabeça
Ele tomou a colher da mão dela e deu uma pequena mordida. O sabor doce e cremoso fez com que ele fechasse os olhos por um segundo, uma expressão de prazer no rosto.
— Uau... está realmente delicioso — ele disse, com um sorriso sincero. Quando abriu os olhos, a olhou de volta, e os dois ficaram por um momento observando um ao outro, o silêncio preenchido apenas pela troca de olhares intensos.
sentiu um arrepio, uma onda de algo crescente. Ela sabia o que estava acontecendo entre eles, o clima carregado que se formava, mas não conseguia entender direito por que estava sentindo isso, por que a atração era tão forte, tão palpável.
... — ela começou a dizer, mas hesitou. Seus olhos estavam fixos nos dele, e o que ela estava prestes a dizer parecia não importar mais. O que importava era o que estava acontecendo naquele momento.
— Eu... — começou a dizer, mas também parou, sentindo a mesma tensão no ar. Ele sentiu a necessidade de falar algo, mas as palavras pareciam inadequadas diante do que estava prestes a acontecer entre eles.
Os dois estavam tão próximos agora, a troca silenciosa de sentimentos e desejo entre eles era quase insuportável. O mundo à sua volta parecia desaparecer, e tudo o que restava era o olhar dela, tão intenso, tão cativante. Sem mais palavras, deu um passo à frente, aproximando ainda mais seus rostos.
não se afastou, sentindo uma sensação de antecipação tomando conta dela. Era como se o destino tivesse finalmente dado um empurrão para aquele momento acontecer. , por outro lado, estava quase perdido naquilo tudo, a tensão entre os dois carregando uma energia quase palpável. Ele olhou para ela, como se fosse a primeira vez que realmente a visse, e uma pergunta que há muito martelava em sua mente finalmente escapou de seus lábios.
— Eu não entendo... — ele começou, a voz baixa, mas direta, como se estivesse se desafiando a falar a verdade. — Por que estou tão atraído por você? A gente se conheceu hoje, e... ainda assim, parece que te conheço há muito tempo. Como isso é possível?
ficou em silêncio por um momento, olhando para ele, surpresa com a sinceridade da pergunta. Ela não sabia o que responder imediatamente, pois também sentia a mesma confusão. O que era essa atração tão forte, tão inesperada? O que estava acontecendo entre eles?
— Eu também... — ela murmurou, quase sem saber o que dizer. — Sinto a mesma coisa. Não sei explicar, mas parece que desde o momento que te vi, algo em mim... ficou diferente. Não sei o que é, mas é estranho, né?
A tensão entre eles parecia aumentar a cada palavra trocada. Ambos estavam conscientes daquilo, da conexão que se formava tão rapidamente entre eles, mas nenhum dos dois sabia o que fazer com isso.
suspirou, um sorriso um pouco confuso, mas genuíno, surgindo em seus lábios.
— Não faz sentido, né? A gente acabou de se conhecer e já... — ele fez uma pausa, sem saber exatamente como colocar seus sentimentos em palavras. — E ainda assim, é como se eu estivesse te conhecendo há muito tempo.
riu suavemente, o som de sua risada tão espontâneo e leve, como se a confusão entre eles fosse, de alguma forma, algo divertido.
— Acho que é só... uma daquelas coisas que a gente não entende, mas sente, né? — ela respondeu, um sorriso tímido, mas cheio de curiosidade, formando-se em seu rosto.
Ambos estavam tão próximos, com o coração batendo mais rápido do que eles imaginavam ser possível. Os olhos de se fixaram novamente nos dela, e ele deu um passo mais próximo, a respiração entrecortada.
— Então... — ele disse, quase num sussurro. — O que a gente faz com isso?
olhou para ele por um momento, sentindo um calor inesperado subir pelo peito. A resposta parecia óbvia, mas ela queria ouvir dele. Queria saber se ele também sentia que aquele momento era único, se ele estava disposto a seguir o que os dois estavam construindo, sem pressa.
Antes que pudesse falar, tomou a decisão. Ele inclinou-se para frente, e dessa vez não houve mais hesitação. Seus lábios se encontraram com os dela, e o beijo, foi carregado de uma intensidade que nem eles esperavam. O toque inicial foi suave, como se ambos estivessem tentando medir o terreno, mas logo se transformou em algo mais urgente, como se os dois soubessem que aquele momento não poderia ser adiado.
A sensação do toque dos lábios foi eletricamente quente, como se uma corrente passasse entre eles, conectando-os de uma forma que nenhuma palavra poderia expressar. sentiu o gosto suave de , um gosto doce e refrescante, que o fez querer se aprofundar ainda mais naquele beijo. Ele envolveu a nuca dela com uma das mãos, puxando-a para mais perto, e a outra mão tocou suavemente a lateral do rosto de , acariciando-a de leve, como se não quisesse interromper esse momento tão frágil, mas também tão perfeito.
, por sua vez, respondeu com uma entrega inesperada, colocando uma das mãos no peito dele e a outra no rosto dele, como se também estivesse tentando absorver a intensidade do beijo. Seus corpos se aproximaram ainda mais, e sentiu o calor de irradiar contra ele, o que fez seu coração acelerar ainda mais. O beijo se aprofundou, ambos se entregando completamente à sensação, sem pressa, mas sem se conter.
Era como se o tempo tivesse desacelerado ao redor deles, e o mundo inteiro tivesse desaparecido. A cozinha, o Natal, até mesmo os pensamentos sobre o que aconteceria depois pareceram irrelevantes. O único importante era o momento em que estavam compartilhando agora.
Quando o beijo finalmente se quebrou, ambos ficaram ali, respirando pesadamente, os olhos ainda fechados, como se tentassem processar o que acabara de acontecer. lentamente afastou-se, seus dedos passando pela bochecha de com um gesto suave, ainda sem palavras, apenas a conexão silenciosa entre eles sendo a resposta para tudo.
O que eles estavam sentindo era claro. Algo tinha mudado, e o beijo tinha sido a confirmação de tudo o que estava latente entre eles.

🎄🎄🎄

Depois que o beijo terminou, ainda com o coração acelerado e a mente um pouco atordoada, e trocaram um olhar rápido, mas significativo. Ambos estavam tentando processar a intensidade do que havia acabado de acontecer, mas ao mesmo tempo, havia algo inegável no ar entre eles. Não disseram uma palavra, mas o silêncio parecia carregar mais significado do que qualquer conversa poderia.
foi a primeira a se mover, quebrando o momento tenso e se afastando lentamente. Ela respirou fundo, tentando recuperar a compostura, antes de dar um pequeno sorriso a . Então, sem mais hesitação, ela se virou para a bancada e começou a organizar a sobremesa que ela havia preparado com tanto cuidado.
— Vamos para a sala de jantar? — perguntou, tentando soar natural, como se nada de diferente tivesse acontecido. Mas percebeu a leveza em seu sorriso e o brilho ainda presente em seus olhos.
Ele assentiu, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação, e seguiu-a até a sala de jantar, onde a família de já estava reunida para a sobremesa. Quando entraram, a atmosfera era acolhedora e cheia de risos. Os pratos estavam arrumados na mesa, a sobremesa estava linda e pronta para ser servida. Era uma delicada mousse de chocolate com frutas vermelhas, estava perfeita, e os aromas doce e cremoso preenchiam o ambiente.
se posicionou para servir a sobremesa, ainda evitando o olhar direto de , mas ele podia sentir que ela ainda estava ciente de cada movimento dele. Ele, por sua vez, se viu constantemente e furtivamente observando-a, sentindo uma leve tensão no ar sempre que seus olhares se cruzavam.
e os outros começaram a se servir, mas, como se a sobremesa fosse o cenário perfeito, e se encontraram mais uma vez em um pequeno canto da sala de jantar, separados dos outros.
Ele a olhou por um segundo e, sem saber exatamente como, sua mão encontrou a dela novamente. O contato foi breve, mas ainda assim suficiente para fazer ambos se perderem no olhar um do outro por um momento.
— Eu… não sei o que está acontecendo — confessou, sua voz baixa, mas sincera. Ele estava tentando entender, tentando colocar em palavras o turbilhão de emoções que sentia. — Mas isso... foi inesperadamente bom.
sorriu suavemente, dessa vez sem tentar esconder a intensidade de seu olhar. Ela olhou para a sobremesa que estava servindo, sentindo o coração bater mais rápido. Algo havia mudado, e ela também sabia disso.
— Eu também não esperava — ela respondeu com um sorriso tímido, mas com um brilho nos olhos que contradizia qualquer tentativa de disfarce. — Mas parece que a vida gosta de nos surpreender.
Eles se entreolharam mais uma vez, e mais uma vez, o mundo ao redor parecia desaparecer enquanto se conectavam silenciosamente. O resto da noite continuava, com os risos e a diversão da família de ao fundo, mas para e , o único som que importava era o silêncio carregado de significado entre eles.

🎄🎄🎄

A sala estava repleta de risos e despedidas calorosas. Os tios, tias, primos e primas de e se levantaram de suas cadeiras, recolhendo seus casacos e despedindo-se uns dos outros com abraços e palavras de carinho. As luzes suaves do ambiente refletiam nos rostos felizes, enquanto os primeiros passos das despedidas davam o tom do fim de mais uma noite.
Quando, finalmente, os últimos parentes saíram, o silêncio tomou conta da casa, restando apenas , , seus pais e . O ambiente estava agora mais íntimo, com a música suave ao fundo e os risos que ainda ecoavam de forma distante. olhou para os outros e, percebendo que já era tarde, se levantou.
— Acho que já vou, pessoal — disse, ajeitando o casaco e se dirigindo em direção à porta.
Mas antes que ele pudesse alcançar a maçaneta, , que estava sentada no sofá ao lado de sua irmã, olhou para ele com um sorriso travesso. Ela não estava pronta para que ele fosse embora, especialmente agora, depois de tudo o que havia acontecido.
— Vai embora tão cedo? — perguntou, dando um olhar significativo a . — Você pode dormir aqui, . Tem o sofá-cama aqui na sala, é só se acomodar aqui.
parou por um momento, surpreso com o convite. Olhou para as duas, e então para os pais de , que estavam conversando entre si, antes de se voltar novamente para .
— Eu não quero atrapalhar — ele começou, meio sem saber como recusar sem parecer indelicado.
Mas, para sua surpresa, , que estava observando o momento, se levantou e se aproximou dele com um sorriso suave. Seus olhos brilhavam de uma forma que ele não conseguia ignorar. Ela pegou suas duas mãos, com um gesto suave, como se a proximidade deles fosse natural, algo esperado. O toque dela fez seu coração disparar e sua mente entrar em um turbilhão de sentimentos. Ele olhou para ela, atônito, sem palavras.
— Você não está atrapalhando — disse, sua voz tranquila, mas com uma energia vibrante. — E além disso, amanhã temos uma tradição da família. Você não vai querer perder. Comer doces típicos coreanos ao pôr do sol, fazer bonecos de neve... Vai ser divertido.
O jeito como ela disse aquilo, com seus olhos brilhando e a proximidade entre os dois, fez hesitar. A sensação era como se ele fosse irresistivelmente atraído por ela, como se ficar e ceder a ela fosse o certo. Ele não sabia explicar por quê, mas a ideia de passar mais tempo ali, perto dela, parecia ser a única opção que fazia sentido agora.
Ele respirou fundo, deixando a tentação tomar conta de si, e, com um sorriso de resignação, finalmente cedeu:
— Está bem, eu vou ficar. Não vou perder um momento de tradição para vocês.
, ao ouvir isso, sorriu com um brilho no olhar, como se estivesse agradecida pela decisão dele. Suas mãos ainda estavam nas dele, mas dessa vez, ela não se afastou. Eles trocaram um olhar, carregado de algo mais, algo que ainda não tinham falado em voz alta, mas que estava ali, entre eles.
— Ótimo. Vai ser divertido — ela disse, sua voz baixa, mas cheia de significado.
, observando a troca silenciosa entre os dois, deu uma risadinha e voltou a se ajeitar no sofá, satisfeita com o rumo que a noite estava tomando. Seus pais, ocupados em suas próprias conversas, não perceberam a tensão que se formava na atmosfera.
, por sua vez, se acomodou no sofá-cama que preparou para ele. , depois de alguns segundos de hesitação, seguiu para a cozinha com , ambos deixando sozinho por um momento, mas ele ainda sentia o calor do toque dela em suas mãos, como se aquele pequeno gesto tivesse ficado gravado nele.
A sala agora estava tranquila, mas a energia no ar ainda estava carregada. O que aconteceria a seguir? Ele não sabia ao certo, mas algo dentro dele dizia que aquela noite tinha muito mais para oferecer do que ele jamais poderia imaginar.
Enquanto e se dirigiam à cozinha, o ambiente já estava mais tranquilo, com os pais de indo para seus respectivos quartos. As duas estavam sozinhas, e o som suave da água corrente nas louças preenchia o ambiente, criando uma atmosfera calma. , concentrada na tarefa de enxaguar os pratos, parecia perdida em seus próprios pensamentos. , no entanto, estava observando-a com um sorriso discreto, como se tivesse algo em mente.
— Eu vi o que aconteceu entre você e lá na sala — disse, sem olhar diretamente para a irmã, mas sua voz tinha um tom brincalhão. — Você não consegue esconder esse "climinha" entre vocês, sabe? Você sempre foi péssima nisso!
se virou rapidamente, quase como se tivesse sido pega em flagrante. Ela não sabia o que dizer, então apenas deu uma risadinha nervosa, tentando disfarçar o embaraço.
— O quê? Não sei do que você está falando — respondeu, mas sua expressão desconcertada entregava que ela sabia exatamente do que estava falando.
não conseguiu segurar o sorriso divertido, e continuou a lavar os pratos, jogando um olhar para a irmã.
— Não minta, . Eu vi o jeito que ele olhava para você. E, bom, eu sei que você também estava observando ele — ela fez uma pausa, mordendo o lábio inferior. — Acho que está rolando algo aí, hein?
suspirou, se sentindo um pouco constrangida, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela também ficava curioso. Ela olhou para a irmã, ainda hesitante.
— Eu... não sei o que está acontecendo — confessou, mexendo com distração a água na pia. — Eu não entendo, . Eu mal conheço ele, e, de repente, tudo parece tão intenso... Mas é estranho, porque sinto algo quando ele está por perto. Acho que estou me confundindo. Talvez seja por ter terminado um noivado, estou vulnerável.
a observou por um momento, pensativa, antes de se aproximar e colocar a esponja de lado, focando inteiramente em .
— Não se preocupe com isso. Às vezes, as coisas acontecem rápido, e não tem como controlar. — Ela respirou fundo antes de fazer uma pergunta que estava na ponta da língua. — Mas me conta, , foi amor à primeira vista, não foi?
A pergunta era direta, e se pegou surpresa. A resposta estava em seus olhos, mas ela ainda estava tentando entender os próprios sentimentos. Ela não sabia se queria admitir para si mesma.
— Eu... Não sei, . Acho que estou começando a gostar dele, mas é difícil de explicar, sabe? Nunca senti isso por alguém que eu acabei de conhecer. Nem sei se acredito nisso de amor à primeira vista…Mas talvez eu devesse, não é?
sorriu suavemente, compreendendo a insegurança da irmã. Ela então resolveu compartilhar algo mais, algo que ela nunca havia falado com antes.
, tem uma coisa que preciso te contar — disse, sua voz mais séria agora. Ela hesitou por um segundo, mas finalmente decidiu abrir seu coração. — Eu estou namorando a Jae.
a olhou surpresa, sem entender inicialmente. Ela parou o que estava fazendo, encarando a irmã com um olhar curioso.
— A Jae? Mas... Eu não sabia que vocês estavam juntas, nunca desconfiei, até achava que seu namorado misterioso fosse o falou, os olhos se arregalando levemente. Ela não sabia que a irmã tinha um relacionamento, especialmente com outra garota, e isso a pegou de surpresa.
sorriu de maneira suave, um pouco tímida, e então explicou:
— Aconteceu durante o último período da faculdade, mas não contei para ninguém. Eu estava com medo de como as pessoas reagiriam... E tem mais uma coisa. Eu... sou bissexual, . Não sei se você percebeu, mas eu gosto tanto de meninos quanto de meninas, e nunca soube como te contar isso antes.
ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de . Ela olhou para a irmã, vendo a vulnerabilidade nela e compreendendo algo novo, uma faceta da vida de que ela nunca tinha imaginado. Depois de um segundo, ela sorriu suavemente e deu um pequeno abraço em .
— Eu não sabia disso, mas... eu fico feliz que você tenha me contado. Sempre vou te apoiar, . E quanto a Jae, bom, ela parece ser ótima. Eu vi o jeito que você se ilumina quando fala dela. Estou feliz por você.
sorriu de volta, sentindo um peso sair de seus ombros. A conversa com , que inicialmente parecia difícil, foi de uma leveza inesperada, e ela se sentiu mais próxima de sua irmã.
— Obrigada, . E eu também te apoio, seja o que for que você sinta por ou qualquer outra pessoa. Não precisa ter pressa para descobrir, ok? Vai no seu tempo.
As duas ficaram ali por um momento, compartilhando um olhar de compreensão mútua, como se um novo nível de conexão tivesse sido estabelecido entre elas. As palavras haviam sido ditas, e agora elas se sentiam mais livres para serem elas mesmas.
Enquanto as duas estavam no meio da conversa, o som suave de passos ecoou no corredor e a porta da cozinha se abriu levemente. apareceu na entrada, com um sorriso amigável, mas com um olhar curioso, como se sentisse que algo estava acontecendo entre as irmãs.
— Ei, vocês precisam de ajuda com as louças? — perguntou, a voz casual, mas o brilho em seus olhos traía a intenção de ser útil. Ele parecia genuinamente preocupado em não ser um incômodo, mas ao mesmo tempo, estava tentando se entrosar com as duas.
rapidamente sorriu, tentando disfarçar qualquer nervosismo que pudesse ter surgido por conta da conversa íntima que acabaram de ter.
— Não, já estamos quase terminando aqui, . Mas obrigada por se oferecer — ela respondeu, tentando manter o tom leve, mas notando que parecia um pouco mais tensa.
, que estava ao lado da pia, virou-se para com um sorriso discreto, mas ainda com a expressão um tanto desconfortável, como se estivesse tentando reorganizar seus pensamentos.
— É, já estamos quase lá — ela disse, um pouco mais nervosa do que gostaria de admitir, enquanto enxugava um prato com mais força do que o necessário.
percebeu a tensão no ar, mas tentou aliviar a situação com um sorriso mais largo, tentando parecer descontraído.
— Certo, se vocês estão bem... mas se precisarem de ajuda, é só me chamar, ok? — Ele se inclinou um pouco para dentro da cozinha, mas não se aproximou demais, respeitando o espaço delas.
Havia algo no jeito de , uma leveza e simpatia que pareciam tirar qualquer formalidade do ambiente. No entanto, não pôde deixar de perceber o modo como ele olhava para ela, como se ainda houvesse algo não resolvido entre os dois.
, tentando quebrar o gelo, olhou para e, com um sorriso travesso, comentou:
— Não se preocupe, . A gente vai dar conta. Mas já aproveita que está aqui e fica com a gente, vai... Não custa nada. — Ela piscou de maneira descontraída, tentando aliviar o clima.
olhou rapidamente para a irmã, depois para , ainda com o semblante um pouco mais sério. Talvez fosse o momento perfeito para mudar de assunto ou, talvez, fosse hora de se afastar um pouco da cozinha e deixar a tensão se dissipar.
, por sua vez, pareceu aceitar a sugestão de , ainda sorrindo, mas com um leve toque de incerteza. Ele ficou por mais um momento à porta, esperando por um sinal delas, antes de finalmente recuar com um simples “Ok, então,” e se afastar um pouco, sentindo que havia interrompido algo e querendo dar espaço.
O momento de intimidade entre as duas irmãs havia sido interrompido, mas a situação ainda parecia longe de ter se resolvido completamente. O que quer que estivesse no ar entre e , ainda estava ali, pairando como uma sensação palpável.

🎄🎄🎄

se sentou ao lado de no sofá, sentindo uma leveza no ambiente. A casa estava mais silenciosa agora, com os pais já em seu quarto e ainda na cozinha, e as luzes suaves da sala davam um tom acolhedor à noite. Ela olhou para o amigo com um sorriso discreto, sabendo que ele queria conversar sobre algo importante.
— Então... — começou, ajeitando-se no sofá enquanto olhava para , que parecia distraído, mexendo nas mãos. — Eu percebi o clima entre você e a desde o começo. O que aconteceu entre vocês?
suspirou profundamente, ainda um pouco perdido em seus próprios pensamentos. Ele olhou para , como se a conversa fosse algo que ele precisava, mas que também lhe causava um certo desconforto. Após um momento de hesitação, ele finalmente falou:
— Eu... não sei, . Eu simplesmente... não consigo entender. A , ela é tão diferente, mas ao mesmo tempo tão familiar. Nós nos beijamos... foi algo que eu não estava esperando. Eu realmente não sei o que fazer agora. Tá tudo indo rápido demais, e isso me assusta.
sorriu gentilmente, ouvindo com atenção enquanto ele falava. Ela sabia que o amigo estava confuso, e também entendia o que ele estava sentindo.
, eu entendo. Mas você já pensou sobre o que sente por ela? E não estou falando sobre o beijo ou algo físico, estou falando sobre o que está acontecendo aqui — disse, colocando a mão suavemente sobre o peito dele, perto do coração, para dar ênfase nas palavras. — O que você sente quando está perto dela? O que a pode significar para você a longo prazo, caso vocês descubram que são muito diferentes, ou se descobrirem que precisam ir devagar, ou que têm expectativas diferentes?
respirou fundo, suas mãos nervosamente entrelaçadas, enquanto tentava processar as palavras de . Ele olhou para a amiga, refletindo. A verdade é que, embora ele tivesse se sentido atraído por instantaneamente, ainda não sabia o suficiente sobre ela para entender o que poderia surgir dali. O mais intrigante era a intensidade do que estava sentindo, algo que parecia um pouco fora de controle, considerando que mal haviam se conhecido. Ele se sentia completamente perdido dentro de sua própria mente.
— Eu... não sei o que sinto ainda, — ele respondeu, a voz um pouco mais baixa. — Quando a conheci, foi como se algo estivesse lá, de imediato, como se... algo me puxasse. E isso me assustou, porque eu nunca senti isso antes, principalmente com alguém que acabei de conhecer. Mas, ao mesmo tempo, não consigo parar de pensar nela. A tem algo... algo que é tão fácil de se conectar. Eu realmente não sei o que fazer com isso.
observava atentamente, seu olhar gentil, mas pensativo, como se estivesse tentando decifrar as emoções dele. Ela sabia que não era de se abrir facilmente, e ouvir tudo aquilo foi um sinal claro de que ele estava mais envolvido do que imaginava.
— Você já pensou que a atração que você está sentindo pode ser mais do que apenas um momento intenso, uma coisa de primeira impressão? Talvez vocês estejam lidando com algo mais profundo, mas também precisam se dar espaço para descobrir quem realmente são um para o outro — disse, com calma. — E quanto à ... ela terminou um noivado há pouco tempo, você viu ela comentando.
piscou, surpreso. Ele não sabia sobre o noivado de . Ele se sentiu culpado por não saber mais sobre ela, dado o quanto a conexão parecia real entre os dois. Isso fez a situação ainda mais delicada, como se ele estivesse pegando um atalho sem perceber as consequências.
— Sim, soube disso — ele murmurou, sentindo o peso da revelação. — Isso muda tudo, não muda? Talvez ela também esteja só tentando entender o que está acontecendo entre a gente. Ela pode estar tão confusa quanto eu.
sorriu, percebendo que finalmente estava vendo as coisas sob uma perspectiva mais ampla. Ela sabia que ele estava começando a entender a complexidade da situação.
— Sim, pode ser. Mas, , eu só quero que você saiba que é importante ser paciente. Se essa conexão for real, ela não vai desaparecer com o tempo. Ao contrário, ela vai crescer de forma mais sólida, e vocês vão descobrir o que isso significa. Mas tem que ser de uma forma que respeite o ritmo de ambos, sem pressa. Às vezes, a atração é só o começo de algo mais profundo e significativo.
Ele assentiu lentamente, as palavras de ressoando em sua mente. Ele sabia que estava lidando com algo que era novo, algo que ele nunca tinha vivido antes. A atração estava ali, e a vontade de estar perto de era inegável, mas ao mesmo tempo, ele não queria apressar as coisas.
— Você tem razão. Eu só não quero estragar as coisas antes que tenha chance de entender o que é realmente. Eu não quero que ela pense que estou apenas... agindo por impulso, ou pior, que estou tentando forçar algo que não está pronto para acontecer.
deu um sorriso de aprovação, e deu um tapinha no ombro dele, como quem passa uma energia tranquilizadora.
— Isso é um bom começo. Agora, apenas se permita sentir, sem pressa. E quando você conversar com ela, seja honesto. Fale o que está sentindo. Isso pode ajudar a esclarecer muitas coisas para vocês dois.
olhou para a amiga, sentindo-se mais leve agora, mais confiante de que havia um caminho claro a seguir, mesmo que ainda não soubesse exatamente onde isso o levaria.
— Obrigado, . Eu realmente precisava de alguém para me ajudar a ver as coisas com mais clareza.
Ela sorriu de volta, apoiando-se no sofá, relaxada.
— Sempre, amigo. Você sabe que pode contar comigo. E quanto à , quem sabe o que o futuro guarda, né? Mas o importante é ser verdadeiro consigo mesmo. Você vai descobrir o que é certo para você dois.
A conversa fluiu para algo mais leve e descontraído, mas, para , as palavras de ecoaram na sua mente. Ele agora sabia o que precisava fazer: ser paciente, ser honesto e ver onde a conexão com os levaria, sem pressa de forçar algo que ainda estava apenas começando a se formar.

🎄🎄🎄

abriu os olhos, e a única coisa que enxergou no escuro foram as luzes piscando na grande árvore de Natal na sala. A boca dele estava seca então umedeceu os lábios com a língua antes de se sentar no sofá e procurar pelo próprio celular.
Com a lanterna ligada, ele caminhou pelo corredor até a cozinha, precisava de um copo d’água.
acendeu a luz da cozinha, piscando algumas vezes enquanto seus olhos se ajustavam à claridade repentina. O silêncio da casa era reconfortante, interrompido apenas pelo leve zumbido da geladeira e o som do relógio na parede. Ele abriu um dos armários e pegou um copo, enchendo-o com água direto do filtro.
Enquanto tomava o primeiro gole, seu pensamento voltou para algumas horas atrás. O beijo. O gosto de ainda parecia presente, um eco persistente em sua memória. Ele sentiu o calor no peito ao lembrar da forma como os lábios dela se moldaram aos seus, suaves, mas ao mesmo tempo cheios de intensidade. Aquele beijo não deveria ter acontecido tão cedo, mas aconteceu — e agora ele não conseguia tirar a sensação da cabeça.
suspirou e passou uma mão pelos cabelos, frustrado consigo mesmo. Como era possível se sentir tão atraído por alguém que ele mal conhecia? Como aquela conexão poderia ter surgido tão rápido e de forma tão intensa?
— Não consegue dormir?
A voz suave fez com que ele se virasse rapidamente. estava ali, parada na entrada da cozinha, os cabelos um pouco bagunçados, vestindo um moletom largo que a deixava ainda mais adorável. Ela piscou devagar, como se ainda estivesse acordando direito, e se aproximou dele.
— Acordei com sede — ele respondeu, levantando um pouco o copo para enfatizar. — E você?
— Acho que também. — Ela sorriu de leve antes de pegar outro copo e encher com água.
O silêncio caiu entre os dois por um instante, mas não era desconfortável. Pelo contrário, parecia que ambos estavam absorvendo a presença um do outro. encostou-se no balcão enquanto tomava a água, seus olhos passeando pelo rosto de , como se estivesse tentando decifrá-lo.
— Você está bem? — ela perguntou, baixinho.
Desistiu de beber a água e colocou o copo de volta no lugar de antes, encarando .
Ele hesitou. Poderia dizer que sim, mas a verdade era que não conseguia parar de pensar no beijo. E pelo jeito que ela o observava, talvez estivesse na mesma situação.
— Na verdade… — colocou o copo vazio na pia e deu um passo na direção dela. — Eu não consigo parar de pensar no que aconteceu mais cedo.
ficou em silêncio por um momento, o olhar dela se intensificando ao encontrar o dele.
— Eu também. — Sua confissão saiu quase como um sussurro.
Os olhos de desceram até os lábios dela, e ele sentiu aquela mesma força invisível puxando-o para mais perto. Ele não deveria. Eles ainda estavam tentando entender o que era aquilo entre eles. Mas tudo pareceu perder importância no instante em que se inclinou levemente em sua direção, como se desse permissão silenciosa para ele fazer o que já era inevitável.
deslizou uma das mãos para a cintura dela, puxando-a para mais perto, ele deixou o copo sobre a mesa e com a mão livre ele subiu a mesma até o rosto dela, os dedos roçando de leve na pele quente. prendeu a respiração, e então, sem mais hesitação, os lábios dele capturaram os dela.
Dessa vez, o beijo veio sem dúvidas, sem receios, apenas com a certeza de que era exatamente o que ambos queriam. suspirou contra a boca dele, suas mãos deslizando até os ombros de , puxando-o para ainda mais perto. O coração dele martelava forte no peito enquanto se entregava à sensação — ao calor, ao gosto dela, à forma como os lábios se encaixavam perfeitamente.
Era como se aquele beijo não fosse apenas desejo, mas uma confirmação de que algo maior estava acontecendo entre eles. Algo que não poderia ser ignorado.
afastou-se apenas o suficiente para olhar nos olhos de , ainda mantendo o rosto dela entre as mãos. O silêncio entre eles não era incômodo, mas carregado de perguntas não ditas. Ele respirou fundo, tentando colocar em palavras o turbilhão dentro de si.
— Isso não faz sentido, né? — Sua voz saiu baixa, quase como um desabafo. — A gente se conheceu hoje, mas… continua parecendo cada vez mais, que eu já te conhecia antes.
umedeceu os lábios, os dedos ainda descansando sobre os ombros dele.
— Eu sinto o mesmo. — Ela suspirou, mordendo levemente o lábio inferior antes de continuar. — Eu deveria estar confusa, preocupada com o que tudo isso significa, mas… de alguma forma, estar perto de você parece certo.
soltou um riso leve, sem humor.
— É assustador, não é?
assentiu.
— Um pouco.
Ele deslizou os polegares sobre a pele macia do rosto dela, estudando cada detalhe, como se tentasse gravar aquela expressão.
— Eu não quero te machucar, . Nem confundir você.
Ela piscou algumas vezes, como se tentasse entender o que ele queria dizer.
— Por que você acha que me machucaria?
soltou um suspiro longo.
— Porque eu não sei o que estou sentindo. Mas sei que é forte. Forte o suficiente para não querer ignorar. — Ele hesitou por um segundo, e então confessou: — E você acabou de voltar, está recomeçando sua vida aqui. Eu não quero atrapalhar nada.
ficou em silêncio por um instante, processando as palavras dele. Depois, lentamente, deslizou os dedos pela linha da mandíbula de antes de repousá-los sobre o peito dele, sentindo o coração acelerado sob a palma da mão.
— Você não está atrapalhando nada — disse, a voz suave. — Mas eu também preciso ser sincera… Não sei o que isso significa para mim ainda.
assentiu devagar.
— Então… o que a gente faz com isso?
inclinou a cabeça, um pequeno sorriso brincando nos lábios.
— Eu acho que a gente sente. E vê para onde isso nos leva.
não pôde evitar o sorriso ao ouvir aquilo.
— Sem pressa?
— Sem pressa — confirmou, os olhos brilhando.
Ele deslizou os dedos pelos cabelos dela, sentindo-se um pouco mais aliviado por terem colocado aquilo para fora.
— Eu gosto disso.
— Eu também — ela sussurrou.
E então, como se aquele momento precisasse de um selo, inclinou-se novamente, capturando os lábios dela em um beijo mais calmo, mais terno, mas ainda cheio daquela mesma intensidade que os assustava e os atraía ao mesmo tempo.

🎄🎄🎄

Na manhã seguinte, a casa estava repleta do cheiro adocicado dos ingredientes sendo preparados na cozinha. , , e os pais delas estavam reunidos ao redor da bancada, misturando massas, modelando os doces e trocando risadas.
, não é assim que se faz! — reclamou, pegando das mãos dele um pedaço de massa que ele havia moldado de forma estranha. — Isso deveria ser um pastel doce, não uma obra abstrata!
— Eu chamo de criatividade — ele rebateu, rindo.
observava os dois com carinho. O jeito como e interagiam mostrava o quanto eram próximos, e aquilo aquecia seu coração.
— Você sempre implicava assim com seus amigos quando éramos crianças? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha para a irmã.
— Sempre! — a mãe delas entrou na conversa, sorrindo enquanto mexia uma panela no fogão. — sempre gostou de ser a chef da cozinha.
— E você sempre gostou de fazer tudo do seu jeito, né, ? — retrucou, piscando para a irmã.
sorriu, sentindo um calor familiar no peito. O ambiente, as brincadeiras, o aroma dos doces… Tudo aquilo fazia seu coração transbordar. E, sempre que olhava para , encontrava os olhos dele sobre si, com um brilho suave, como se ele também estivesse absorvendo aquele momento de forma especial.
Após algumas horas, os doces ficaram prontos. Todos ajudaram a organizar as bandejas, pegando cobertores e canecas de chá quente para o momento que viria a seguir.
Lá fora, o céu já começava a mudar de cor, tingindo-se em tons de dourado e laranja. O grupo se acomodou ao redor da mesa de madeira do jardim, os doces espalhados sobre a toalha quadriculada. O ar gelado fazia com que as bebidas quentes fossem ainda mais reconfortantes.
respirou fundo, sentindo a brisa fria contra o rosto enquanto olhava para o horizonte.
— Eu senti tanta falta disso… — ela confessou, observando o pôr do sol.
, sentado ao lado dela, desviou o olhar para observá-la.
— Disso?
Ela sorriu suavemente antes de explicar:
— Da tradição, da simplicidade desses momentos. O Natal sempre teve essa magia para mim. Sempre foi um tempo de conexão, de presença… e, depois de tantos anos longe, poder viver isso novamente, da forma como sempre foi… É especial.
observou como os olhos dela brilhavam ao dizer aquilo. Ele entendia. Havia algo reconfortante naquela tradição, algo que fazia o tempo desacelerar.
— Eu acho que estou começando a entender o que você quis dizer ontem sobre a magia do Natal — ele disse, um pequeno sorriso nos lábios.
virou-se para ele, surpresa e encantada ao mesmo tempo.
— Sério?
Ele assentiu.
— Tem algo aqui… nessa atmosfera, nessa troca entre as pessoas, que realmente parece diferente. Eu não sei explicar, mas estou sentindo.
Ela segurou o olhar dele por um instante, um sorriso se formando lentamente em seus lábios.
— Então, talvez, o Natal esteja começando a te conquistar.
soltou um riso baixo, balançando a cabeça.
— Talvez seja você que esteja me conquistando.
Os dois se encararam por um momento, como se o resto do mundo tivesse sumido ao redor. O frio da manhã não parecia importar. Tudo o que existia era aquele instante entre eles, embalado pela magia do Natal.

🎄🎄🎄

Conforme o tempo passava, a conversa entre todos foi se tornando mais tranquila e espaçada. Os pais de e foram os primeiros a se levantar, levando as bandejas vazias de volta para casa. demorou um pouco mais, mas acabou se despedindo dos dois com um olhar sugestivo para a irmã antes de desaparecer pela porta.
Agora, apenas e permaneciam no quintal, cercados pelo silêncio confortável da noite que começava a cair. O céu já exibia um tom azul profundo, e os primeiros flocos de neve dançavam suavemente no ar.
— Então… bonecos de neve? — quebrou o silêncio, observando o chão já coberto por uma fina camada branca.
sorriu e bateu as mãos, animada.
— Bonecos de neve!
Eles se levantaram e começaram a reunir neve suficiente para moldar a base. Enquanto trabalhavam, aproveitou para perguntar mais sobre ela.
— Eu sei que você morou fora por um tempo, mas o que exatamente você fazia?
— Trabalhei como designer gráfica em uma empresa na França — ela explicou, alisando a superfície da bola de neve que estava formando. — Mas, antes disso, eu estudava arquitetura. Sempre gostei de desenhar, criar coisas… mas, de algum jeito, acabei me apaixonando por design e mudei de área.
arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Isso é incrível.
— E você? me disse que você trabalha com música, mas não entrou em muitos detalhes.
Ele sorriu de canto.
— Eu sou produtor musical. Trabalho compondo, produzindo e, às vezes, até cantando… mas gosto mais dos bastidores. Criar melodias, experimentar sons… sempre foi algo que me fascinou.
o encarou com admiração.
— Então você é um artista.
Ele riu.
— Eu diria que sou um cara tentando fazer música de um jeito que faça sentido para mim.
— Isso é muito legal. Aposto que é um trabalho que exige bastante paixão.
— É — ele confirmou, olhando para ela. — Mas acho que todas as coisas boas exigem, né?
Houve um momento de silêncio entre os dois enquanto terminavam de moldar a estrutura do boneco de neve. se aproximou para colocar pequenos pedaços de madeira como braços, e observou a forma como ela parecia completamente imersa naquilo.
— Você realmente ama essa época do ano, né? — ele perguntou, com um sorriso no rosto.
assentiu.
— Eu amo. E acho que você está começando a amar também.
Ele soltou um riso baixo.
— Não vou negar… tem algo especial nisso tudo.
Ela virou-se para ele, um brilho divertido nos olhos.
— Talvez seja só a magia do Natal.
— Ou talvez seja só você.
As palavras escaparam antes que pudesse pensar, e, quando olhou para ele, o coração dele bateu mais rápido. Era a mesma intensidade de antes, a mesma conexão inexplicável que pareciam compartilhar desde o primeiro momento.
Dessa vez, foi quem se aproximou primeiro.

Ele não esperou.
Em um impulso, segurou delicadamente o rosto dela entre as mãos e a puxou para mais perto, seus lábios se encontrando com os dela em um beijo que carregava toda a doçura daquele momento. A neve continuava a cair ao redor deles, mas tudo parecia quente, intenso e cheio de uma emoção que ambos ainda estavam tentando entender.
Quando se afastaram, sorriu contra os lábios dele.
— Acho que agora você entende o que eu quis dizer sobre o espírito do Natal.
riu, encostando a testa na dela.
— Acho que sim. E, para ser sincero… ele é muito mais do que eu imaginava.
Enquanto a neve caía suavemente ao redor deles, percebeu que aquele Natal realmente seria diferente de qualquer outro que já havia vivido. Talvez o verdadeiro espírito natalino não estivesse nos enfeites ou nas músicas, mas sim nos momentos, nas conexões que surgiam inesperadamente e mudavam tudo.
E talvez, apenas talvez, fosse o melhor presente que ele poderia ter recebido.




Fim.


Nota da autora: Mais um plot de Natal resgatado por mim e postado fora de época, e porque não? Espero que gostem da história :*

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