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Codificada por vênus. 🛰️
Atualizada em: 31.10.2024

Os gritos ecoavam por toda parte. Exprimiam o pavor agonizante. Revelavam o anseio desesperado pelo prolongamento dos dias, em meio à infame resignação de que a morte havia chegado. Não adiantava correr ou tentar se esconder, ali estava ela.
O rastro de sangue brilhava e ofuscava a grama que outrora era tão viçosa, tão verde e bem aparada, o que aumentava a sensação de pânico de quem ainda tentava se salvar.
Com o passar dos segundos, a destruição se fazia presente em cada canto daquele lugar, e, quanto mais o cheiro podre de enxofre se espalhava pelo ar, maior se tornava a quantidade de corpos largados a esmo, tornando a cena mais aterrorizante.
Então, em meio aos cadáveres, surgiu uma garota a caminhar trôpega, enquanto olhava ao redor e segurava a barriga ensanguentada. Um acesso de tosse se misturou aos soluços e à sensação de sufocamento que o nó na garganta lhe trazia. O gosto de sangue se fez presente desde o início daquele tormento e não quis abandoná-la de forma alguma. O instinto de sobrevivência lhe fez tentar gritar, mas aquilo fora em vão.
Sem forças, tudo o que saiu de seus lábios foi um grunhido sofrido, enquanto a dor que sentia parecia triplicar e paralisava seus movimentos, a fazendo travar também uma luta para se arrastar pelo local, iluminado apenas pelo brilho fraco da lua.
Demorou alguns segundos para que ela sentisse a sombra que se aproximava dela sorrateira, mas quando a percebeu, se virou bruscamente e gemeu de dor. O pânico lhe deixou mole ao encarar diante de si o maior de seus pesadelos.
Você. — Sua boca se moveu e a voz saiu fraquinha. Ela sentia tanta dor que seus olhos brigavam contra a sua vontade de mantê-los abertos. Era um misto do tormento psicológico com o físico e, por fugazes instantes, a garota cogitou desistir de lutar.
— Olá, amor. Você também vai tentar correr? — O sorriso sarcástico fez a raiva borbulhar em meio ao medo, e ali estava sua humanidade, gritando para que fizesse alguma coisa, para que não fraquejasse mesmo que todos os seus músculos implorassem por isso, mesmo que o frio que percorria sua espinha deixasse evidente que seu fim estava ali, diante de seus olhos.
— Por favor... — O riso de deboche ecoou macabramente e apagou completamente a fala ainda fraca da garota.
— Está claro que não vai, mas me diga então: está preparada para a sua condenação?
O brilho diabólico naqueles olhos era o suficiente para que ela tivesse certeza de que, realmente, lutar seria em vão. Aquele era mesmo o seu fim.
Abriu seus braços em sinal de rendição, fechou os olhos e os apertou ao trazer aos seus pensamentos memórias que levassem para bem longe o quanto a morte ria de seu desespero.
Sua boca se entreabriu e a lamúria de pavor foi o último som que ecoou de sua garganta, antes que seu corpo desfalecesse e ela então mergulhasse na mais profunda escuridão.




Continua...


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Nota da autora: Acorrentados no Inferno tem um lugar especial no meu coração porque foi a primeira história de terror que eu escrevi, e eu não podia deixar de enviá-la nesse especial e para o site que eu tanto amo.
Espero que quem já lia venha ler e surte de novo e quem chegou agora goste também.
É isso, logo logo já vem o capítulo 1.
Beijos e até a próxima,
Ste a.k.a. Saturno. ♥

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