Codificada por Lua ☾
Finalizada em: 15/01/2025
Flashback on
I think I'm paranoid
And complicated
I think I'm paranoid
Manipulate it
Os fones do walkman ligeiramente altos podiam ser ouvidos por qualquer um que passasse a um raio de cinco metros da estudante, o ruído característico trazendo a melodia harmônica de I think I’m paranoid - Garbage aos ouvidos da jovem concentrada. Ah, como amava aquela sensação que a música trazia aos seus instintos. Era como se fosse teletransportada a um show de suas bandas preferidas de rock, mais propriamente sobre a pele de uma vocalista gostosa! Hmmpf…e como ela podia sentir toda a aura nostálgica e rebelde que só aquele contexto de gênero musical poderia lhe passar. Ouvir melodias conhecidas enquanto fazia seu trajeto até o colégio era como entrar em um mundo particular de sensações e acontecimentos, onde nem mesmo a superlotação e o calor de São Paulo poderiam tirá-la daquela imersão. Mentalmente agradecia ao pequeno aparelho walkman que havia ganho no natal passado, por carregar toda sua dopamina e felicidade dentro de pouco mais de 20 músicas que havia gravado insistentemente ali.
Naquele dia em específico, vivia seu trajeto de volta para a casa em um típico dia de colégio, enfrentando as longas linhas de estações e paradas que o metrô realizava pela cidade. A mochila pesava a lateral de seu ombro causando-lhe uma dor que a lembrava diariamente de tentar carregar menos livros, e naquele dia em especial, parecia lhe custar uma suma dor na lombar direita. Por alguns meros segundos quando levantou o olhar do aparelho celular, sentiu-se brevemente frustrada por ter que ir ao colégio durante seu dia de aniversário. Que grande absurdo, horas! Um estudante deveria ter o direito de descansar seu corpo e mente durante seu dia de glória, não? Negou com a cabeça sozinha, planejando mentalmente chegar em casa e colocar os pés para cima, livrando-se de qualquer esforço ao acaso.
As mãos ágeis e rápidas rabiscavam com habilidade e maestria algum tipo de texto em seu bloco de notas do próprio caderno deixando claro que algo de suma importância estaria sendo descrito daquele amontoado de linhas. Conforme as músicas passavam e sua residência aproximava-se pelas estações do metrô, apressava-se em escrever o quanto antes para que chegasse a tempo de colocar no visor tudo que tinha proposto em sua mente inquieta. Na pequena tela do aparelho poucas polegadas, os dedos da garota se espremiam para não errarem as letras ao tocar os botões, e neste momento a estudante questionou o porquê das grandes corporações não produzirem aparelhos maiores em um custo acessível. Telefones celulares ainda eram distantes para a grande parte da população normal, então esperar que um grande presente divino surgisse em boas parcelas no cartão seria sua grande aposta.
A voz robótica do metrô soou e anunciou que sua estação havia chegado, fazendo com que a garota agarrasse sua mochila fortemente e se espremesse entre a multidão de pessoas passando pela porta. Gemeu ofegante ao finalmente notar que havia saído da maré populacional e caminhou em passos apressados até saída do metrô, iniciando seu trajeto corriqueiro até em casa. O fim de tarde trazia uma briza constante sobre seu pequeno corpo cortando o vento, ação que causou um breve arrepio sobre a espinha da garota. Aumentou a rapidez dos passos e abraçou os próprios ombros, sentindo que o frio havia aumentado progressivamente em poucos instantes. Que diabos era aquilo, uma nevasca? Os pequenos olhos se estreitaram por debaixo dos óculos e seguiram aflitos até que finalmente pusesse os pés em casa, dessa vez recebida pelas temperaturas mais agradáveis.
— SURPRESA!
Antes que pudesse virar os pés e seguir para seu quarto, a voz de sua mãe ecoou em alto e bom tom, anunciando-a com um pequeno espécime de bolo sobre as mãos. As velinhas com um pequeno “14” tilintavam sobre a espessa camada de chantilly, e a expressão da matriarca transmitia puro aconchego. Embora tivesse tido um dia comum e tão cansativo quanto os outros, ver sua mãe lhe esperando com uma pequena lembrança fez seu coração bater quentinho dentro do peito. Correu em passos largos e abraçou a mãe por trás dos ombros, cuidando para que o bolo não virasse uma grande arte no chão de lajotas.
— Meus parabéns, , minha pequenina — a mulher abriu um sorriso acalentador, colocando o bolo sobre a mesa e voltando a observar a própria filha — sei que o bolinho não é grandes coisas, mas…-
— Mãe! — a adolescente protestou, roubando uma dedada de chantilly do bolo recém exposto na superfície — eu nem esperava ter bolo hoje…— murmurou brevemente afetada pelo cansaço da rotina
— Oh, você está se tornando uma moça — indicou a mãe, passando a mão sobre alguns cachos que caiam sobre a testa da estudante — acho que deveria ter te comprado um conjunto de sutiãs e…-
— Mulher, se você continuar protestando eu vou comer todo esse bolo sozinha — ordenou em risos, vagando até a cozinha em busca de uma espátula para devorarem o conteúdo gorduroso. Assim, em poucas horas, restavam somente duas fatias do enorme bolo e descansava sobre o sofá da sala em um silêncio confortável.
A matriarca arrumava-se para um turno noturno de trabalho naquela noite, e desculpou-se com por precisar sair em meio ao restante do aniversário. Acostumada com os imprevistos trabalhistas da mãe, seguiu para o próprio quarto em busca de tomar um banho e terminar a noite de 14 anos com algum entretenimento na internet. Banhou-se em longos minutos (hábito que se permitia nos momentos sem a presença da mãe) e colocou seu pijama guerreiro, abrindo a porta do banheiro e sendo recebida por uma rajada assustadora de ventos. Fechou os olhos em agonia e escutou as portas batendo contra o próprio batente, assim como as cortinas esvoaçando sobre a janela aberta, tornando a andar pelo corredor em busca de fechar todas as aberturas da casa. O que era aquilo, um vendaval? Outubro não costumava abrigar um período chuvoso, mas pelo barulho estrondoso das árvores, ela só poderia estar aguardando o próximo furacão Katrina. Depois de fechar as janelas e portas da maioria da casa, seguiu para o próprio quarto onde um resquício de vento ainda insistia em gritar por sua janela, jogando seus trabalhos escolares e objetos sobre o chão.
— Mas que droga! — resmungou irritada, avançando sobre o vidro e fechando-o com raiva, cessando as rajadas frias sobre o cômodo. Ao abaixar para resgatar o amontoado de papéis e tralhas sobre o chão, encontrou um envelope atípico sobre a bagunça depositada, fazendo-a franzir o cenho em estranheza. Juntou os trabalhos e objetos em uma pilha, deixando o envelope curioso para verificar assim que se sentasse sobre a poltrona perto da escrivaninha.
Mas que diabos era aquilo? cupons de desconto? O envelope foi aberto com rapidez e curiosidade, revelando uma longa carta em letras pequenas e rebuscadas. Os pequenos olhos estreitaram-se na tentativa de ler, fazendo a garota buscar os óculos sobre a superfície da cama desarrumada.
Prezado(a) Srta. ,
Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.
Atenciosamente,
Minerva McGonagall.
Por quase dois minutos inteiros, a mente da garota de 15 anos parou por completo. Escola. De Magia. E Bruxaria. Ela estava em alguma espécie de delírio ou crise esquizofrênica? Quer dizer, seus poucos anos de vida foram suficientes para que a adolescente conhecesse algumas histórias que envolvessem magia e feitiços, como O Senhor dos anéis, mas não que ela realmente acreditasse na veracidade daquela fantasia épica muitíssimo bem escrita. Mas uma escola de magia e bruxaria? ela só poderia estar tendo algum tipo de alucinação. Respirou fundo e colocou o envelope aberto sobre as pernas, encarando a janela por onde cogitou a carta ter entrado, sentindo uma grande taquicardia pegá-la nessa situação. Sempre considerou-se uma jovem cética, racional, e até metódica demais para acreditar em qualquer coisa que envolvesse superstições e mística; estar sobre aquele tipo de situação era o tipo de coisa que a faria rir por horas como uma grande piada bem feita.
Mas ali estava, um maldito papel sem razão ou muitas explicações.
Coruja, aulas em setembro, Minerva. Quem eram essas coisas? já tinha a própria escola e os próprios animais, como isso poderia estar certo? Devia de ser um grande engano, ela era a pessoa errada e com certeza isso poderia bem ser uma pegadinha dessas que assistia na televisão domingo à noite. Entretanto, suas divagações de dúvida foram postas para correr assim que um estrondo tremeu sua janela, fazendo-a pular na cadeira onde sentava. Tão rápido quanto veio, o estrondo parou e deu lugar ao silêncio assustador que fez encolher os ombros em receio, levantando e inclinando a cabeça em direção à janela para que espiasse o que poderia ter causado o rombo em sua janela.
Dois segundos. Este foi o tempo necessário para uma penugem marrom voar sobre seu vidro novamente.
O susto foi tão grande que seus pés escorregaram sobre o tapete e seu corpo foi parar perto da cama, salvando-a de uma queda até o chão. À sua frente, o animal lhe encarava com um olhar curioso e astuto, quase como se estudasse seu comportamento recém visto. Depois de alguns segundos de coragem e processamento da realidade, levantou em passos receosos e aproximou-se da janela, observando a ave em uma calmaria atípica de qualquer coruja que já havia visto na vida: eram reservadas, ariscas, e assustadas. Não se aproximavam voluntariamente, e muito menos mantinham um comportamento afável. Mas por algum motivo, a castanha em sua frente demonstrava um comportamento quase que humano. Observava seus movimentos, virava a cabeça e lhe acompanhava com os olhos como um ser humano qualquer.
— V-você..— sua voz saiu como um fio, sentindo-se patética por estar tentando se comunicar com uma ave. Piu. A coruja emitiu um piado baixinho, quase como se a respondesse verdadeiramente. encheu os pulmões de ar e respirou profundamente, ansiosa como uma bomba relógio. Desviou os olhos até o papel envelhecido da carta e engoliu em seco, lembrando-se das palavras. Aguardamos a sua CORUJA. E ali estava, coincidentemente, uma coruja sobre sua janela. Sem sinais ou qualquer ideia do que deveria fazer, engoliu em seco o nó sobre sua garganta e lançou um último olhar a coruja, deitando-se sobre a cama e apertando o edredom em volta do corpo em uma tentativa de afastar toda a ansiedade e dúvidas que pairavam sobre sua cabeça.
E naquela noite, de alguma forma sentiu-se inquieta. Pulsação, suor, formigamento. Pregou os olhos com parte do sol nascendo, tendo a certeza de que algo estava errado.
A manhã seguinte foi marcada por uma ofegante, levantando atordoada entre os cachos suados que caíam em sua testa. Correu para a escrivaninha onde anteriormente havia presenciado o episódio mais lunático de sua vida, recebendo a atípica carta e coruja logo em seguida. Para sua surpresa, o papel já não estava solitário sobre a mesa, havia um segundo envelope muito parecido com o primeiro, o que fez a pequena adolescente pular da cama em um solavanco e abrir o novo conteúdo.
— Mas o quê..? — questionou sozinha, ainda um pouco sonolenta pela manhã intensa que a abraçava. Passou os olhos novamente sobre as letras familiares e logo percebeu que o papel era idêntico ao anterior. Novamente, a carta repetida em íntegra. Havia recebido uma segunda carta de “convocação” para a tal escola em menos de 24 horas, e ao que pode botar os olhos sobre a janela, ao menos a coruja não havia colidido uma segunda vez com seu vidro. É, aquilo estava muito longe de ser uma atividade rotineira em seu recém completos 15 anos, e tinha quase certeza de que aquelas cartas não cessariam de entrar por sua janela.
Mais tarde aquele dia após a matriarca retornar à casa, contou-lhe tudo que podia sobre o acontecimento da noite passada, inclusive mostrando as cartas repetidas sobre as mãos suadas e agitadas. A mãe recebeu a informação com humor e dúvida, embora mostrasse deveras curiosidade sobre a origem daquelas cartas, passando à filha um tom de tranquilidade que jamais apostou receber em uma situação como esta. Ainda que fosse difícil levar em consideração aquela suposição de realidade, a adolescente cogitou receber palavras de repreensão e ódio, mas para sua surpresa, a mãe pareceu astuta como uma criança em uma nova descoberta pessoal.
— Se isso fosse mesmo verdade, posso apostar que sua tia morreria de inveja! — comentou em um tom de humor, dando breve tapinhas sobre as costas da adolescente — seria um currículo e tanto, hm?
soltou um risinho abafado e concordou com a cabeça, assustada e perplexa demais para ter qualquer outro tipo de raciocínio mais lógico. Ao menos a própria matriarca parecia levar o acontecimento na esportiva, e isso tornava a situação 10x mais leve do que o peso que sentia nos ombros. Depois que soltarem mais alguns comentários genéricos sobre a temperatura e o clima, a garota optou por passar o restante do sábado afundada em televisão e guloseimas liberadas para o final de semana. A noite chegou e sua rotina pré descanso deu lugar a um sono incontrolável, colocando-se a deitar dentro do edredom por volta das 23h, onde fincou os olhos em um exemplar de O senhor dos anéis: o retorno do rei, inconscientemente inspirada pelos últimos acontecimentos atípicos.
E como uma coincidência mal esperada e clichê, o estrondo no vidro fez-se presente de novo, revelando o animal conhecido de penugem marrom. A coruja estava ali, novamente. Desta vez, um papel pendia sobre o bico.
Instantaneamente a garganta de tornou-se seca em ansiedade, voltando a pular da própria cama e encarar o animal do outro lado do vidro brevemente embaçado pela neblina da noite. Engolindo em seco toda a coragem e receio que carregava dentro do próprio peito, abriu o parapeito da janela e aproximou uma das mãos do papel alfinetado pelo bico áspero da coruja. Sobre o olhar curioso e atento do animal, tocou o papel áspero e puxou com cuidado, surpreendentemente sendo solta pelo restante do bico que pressionava o papel. Era como que o animal a entregasse aquilo, e se não estivesse tão curiosa, teria gritado em desespero. Abriu com agilidade e passou os olhos sobre o papel, estreitando a atenção sobre as pequenas letras familiares.
Novamente, ali estava. O mesmo texto, as mesmas letras, papel, e selo em cera rubí e envelhecida. Dessa vez, entregue pela própria criatura pitoresca que havia decidido lhe importunar pela 2ª vez. Após passar bons minutos em uma crise de dúvidas e questionamentos, algo sobre sua mente pareceu clarear ao reler o texto exposto sobre seus olhos, uma frase em específico.
ERA ISSO! Bateu o próprio punho sobre a mesa e puxou todo o ar disponível para os próprios pulmões, sentindo que havia acabado de descobrir a energia elétrica. Largou o papel sobre a mesa e correu até as gavetas procurar uma folha disponível e uma caneta que pegasse suficientemente bem, clicando sobre a própria e iniciando a escrita no papel em sua frente. Em pouco menos de cinco minutos, havia escrito mais de dez linhas à escola que lhe mandava as cartas, passando parte da língua sobre uma das laterais do papel e depositando-a em baixo dos pés da coruja ainda atenciosa. A ave piou uma única vez e eriçou as próprias penas, abaixando o pequeno bico e alfinetando o papel em agilidade. Antes que pudesse se surpreender com a obediência do animal, a coruja castanha abriu as asas em um baque estrondoso e sumiu na direção contrária do horizonte noturno.
encarou o trajeto realizado pelas asas compridas do animal sumindo aos poucos no céu estrelado, sentindo um sentimento de fé intenso. De algum modo, irrevogavelmente desejou que aquela coruja chegasse ao seu destino. Principalmente, se este envolvesse magia e bruxaria.
Nem em seus delírios mais ébrios e fantasiosos imaginou-se estar sob aquele contexto algum dia. Depois do episódio fatídico com a coruja lhe trazendo a segunda carta e seu inesperado envio de resposta à suposta escola, as coisas começaram a tomar um rumo minimamente bizarro: primeiramente, recebeu uma espécie de pergaminho em resposta, revelando que as cartas em questão haviam sido enviadas ao seu endereço desde o ano de 1991, em uma tentativa falha de contatá-la desde o início para a escola. Por alguma razão a qual não souberam lhe dizer, os documentos nunca haviam chego até sí antes do ano de 1995, quando completou 15 anos. .
Explicaram-lhe todos os detalhes que havia questionado na carta: magia e feitiçaria realmente eram aspectos reais? Ela era descendente de algum clã bruxo da era medieval? Por que sua família não havia estudado nesse dito…Hogwarts? E não era perigoso?! Com todas as letras e linhas, as respostas da jovem estavam sobre um pergaminho extenso e rebuscado, informando-lhe todas as instruções e respostas para uma pequena filha de trouxas sem experiência prévia no mundo bruxo. Ainda que tivesse todas as respostas e provas a sua disposição, demorou bons dias a digerir e compreender tudo que lhe estava exposto, lidando com o peso de agora em diante ter uma vida dupla, sendo uma destas como uma bruxa. Evidentemente, todas as noites colocava a cabeça nos travesseiros e mergulhava em uma maré de dúvidas e inseguranças, até o dia em que verdadeiramente pudesse tornar aquela realidade palpável.
E este dia havia chego, e desta vez tocava-o abaixo de seus pés, sobre as escadarias em pedra de Hogwarts.
A longa fila de alunos pendia acima de si sobre o que parecia ser o fim da escadaria, dando a ideia de que o castelo logo estaria sob seus olhos propriamente ditos, em carne e osso, se assim fosse possível. Havia recebido uma breve e curta instrução de que deveria participar da seleção de casas juntamente com os alunos do primeiros, estes que, possuíam 4 anos a menos que a própria. Seu atraso para a vida bruxa parecia ter lhe custado não só uma grande confusão mental, mas também uma bagunça em seu primeiro ano, que para a escola em si contava como o quinto ano. Dessa forma, teria de começar seu primeiro ano em Hogwarts, estando na verdade, no quinto ano regular. Só de se lembrar do fato sentia que suas pernas ficavam mole e poderiam ceder escada abaixo, afinal, que porra ela sabia sobre magia? Era bem capaz de pôr fogo sobre alguma coisa sem querer e ser expulsa logo em seguida, com uma carta lhe dizendo que haviam convidado-a por engano.
— Por aqui, senhores — uma voz rouca e senil quebrou seus pensamentos em mil pedacinhos, tirando-a daquela bolha de ansiedade — sou a professora McGonagall, e a partir de agora guiarei vocês até a seleção de casas. Sejam muito bem-vindos.
O sorrisinho contido da senhora bruxa fez com que a adolescente se sentisse menos apavorada, quase sentindo que não seria tão desastrosa quanto pensara. Antes que pudesse seguir o fluxo da fila, pôde perceber que o castelo estava finalmente exposto sobre seus olhos: pedras envelhecidas, telhados pontudos e uma gama de estátuas e ornamentos espalhados por toda sua extensão. Era de matar, era quase inacreditável. Lembrou-se dos trechos descritos por Tolkien em O Senhor Dos Anéis e pensou que parecia ter pulado de cabeça em um desses livros de fantasia, se não fosse pelo assustador fato de estar vivendo isso. O encantamento pelos detalhes arquitetônicos estava interessante, mas um baque em suas costas seu final de que deveria seguir a fila, ou ficaria para trás.
Não completamente habituada com a imensidão do castelo, focava-se em seguir os comandos e fazer o que a maioria dos primeiranistas pareciam executar, quase como uma peça num jogo de tabuleiro. O fato de todos a encararem com curiosidade tornava tudo muito mais difícil e angustiante, ela era uma caloura atrasada e perdida em meio às pequeninas crianças, caindo como um alvo certeiro de olhares e cochichos. Hm, não devo nada a nenhum destes, certo? pensou retoricamente numa tentativa de apaziguar os ânimos de seu coração pulsante. Os alunos começaram a ser chamados para a seleção de casas, fazendo-a observar com curiosidade o chapéu que falava como um velhote sábio. Era bizarro, mas fascinante. Entre uma análise e outra, entendeu que a escola possuía quatro casas para adequar os alunos, cada qual com sua adequação e personalidade: sábios, corajosos, amigáveis, e ambiciosos. Mesmo que tivesse 4 anos a mais que os pirralhos que a cercavam, sentiu que não fazia ideia de onde cair, ou qual casa o chapéu a colocaria. E se não houvesse nenhuma casa para si?
— , !
O chapéu anunciou em um sotaque arrastado, e souberam logo que a garota não era do Reino Unido ou arredores. Mais uma vez, a atenção parecia ter redobrado sobre si. Andou em apressados até o banquinho e sentou-se acomodada, vagando os olhos sobre as mesas que a assistiam em uma tentativa de não focar em pontos específicos do salão. Era melhor encarar todos como uma barata tonta, do que ser pega encarando pessoas únicas e causar algum constrangimento.
— Vejo que temos algo de incomum aqui, absolutamente…alguém de terras distantes — pronunciou em análise — talvez um pouco além de seu tempo, mas uma alma verdadeiramente disposta a mergulhar em suas propostas…— tornou a engolir em seco, sentindo o coração subir até a garganta — quero dizer, você tem determinação…atravessou continentes para abraçar um mundo que não conhece. Mas devo dizer que….— ponderou em silêncio por alguns segundos — és intensa demais para minha primeira opção. SONSERINA!
Antes que pudesse piscar os olhos em reação, uma das mesas a sua frente bradou em palmas e alguns urros, simbolizando que ali deveria estar sua casa. Engoliu em seco a própria saliva, e, ainda que ansiosa, abriu um pequeno sorriso contido e levou-se em direção à mesa em verde escuro. Uma enorme bandeira de serpente balançava lentamente acima das cabeças dos alunos, refletindo sobre as luzes dos castiçais em um brilho prateado que transparecia como o brilho lunar. Quando aproximou-se suficiente para enxergar os rostos de seus futuros colegas, uma silhueta esguia colocou-se a sua frente e a encarou sem grande ânimo.
— Bem vinda à Sonserina, estrangeira. Sou a monitora da casa — a garota parecia ter acabado de sair de uma anemia intensa, pois tinha fortes olheiras e um desdém profundo sobre a voz enjoada. O tom de prepotência e rispidez em sua voz evidenciaram que ela não era lá muito boa em receber seus alunos, muito menos se estes pareciam ter vindo de outro local — não sei se fala nossa língua, mas…-
— Pega leve, Parkinson — um moreno em voz grave interrompeu-a em um risinho, indicando com a cabeça para que a novata se juntasse a um dos lugares vagos nos bancos — nossa monitora não é exatamente hospitaleira, não é pessoal. Blaise, Zabini.
A mão extensa em sua direção fez com que franzisse o cenho quase em automático, eram informações demasiadas para pouco tempo. O moreno ainda exibia um sorriso simpático sobre o rosto comprido, parecendo uma boa opção para começar qualquer tipo de amizade. Blaise Zabini, este era o seu nome.
— Obrigado pela recepção, Blaise — a garota assentiu minimamente com a cabeça enquanto apertava de modo firme a mão do rapaz, recebendo um sorriso satisfeito por aquele primeiro contato.
— Tentando traçar mais uma para sua coleção, Zabini?
A ressonância de uma voz afiada fez-se presente naquele pequeno grupo de diálogos, trazendo a virar a cabeça rispidamente na direção do que parecia ser o autor daquela frase audaciosa. Muito mais perto do que se quer poderia imaginar, o dono da voz indicava-se atrás de si observando-a com curiosidade e precisão. Quando é que alguém havia se aproximado em tamanha rapidez? Após assimilar a presença do rapaz, sua expressão tornou-se visivelmente incomodada com aquele tipo de fala atravessada. Os poucos segundos que se analisaram mutuamente fizeram com que a morena recolhesse o restante de saliva na garganta e engolisse em seco, sem coragem necessária para abrir a boca e sob qualquer palavra.
— Ciúmes, Malfoy? — Zabini debochou com humor, negando com a cabeça — fica frio aí, estou fazendo o papel das boas vindas que Pansy deveria ter feito — ironizou em canto de olho sobre a monitora emburrada
— De você? — o platinado devolveu sobre o mesmo tom ácido — só se eu me odiasse profundamente. E você…— voltou o olhar sobre a novata esperando algum cumprimento por parte da mesma, tornando a analisá-la da forma cirúrgica anterior
— Não acho que seja do seu interesse — respondeu em modo ríspido e curto, desta vez devolvendo um olhar firme ao rapaz em sua proximidade. Blaise emitiu um longo uivo em deboche e o platinado pareceu trancar ainda mais sua carranca, não parecia ser apto a receber respostas ou cortes afiados como aquele em questão.
— Estou gostando dessa garota! — um outro rapaz respondeu em tom satírico na direção de ambos, batendo sobre a madeira da mesa
— Vá se foder, Pucey — o loiro respondeu em um tom desprovido de paciência, observando de canto enquanto a novata arrumava um lugar vago nos bancos, ignorando-o por completo. Puxou o ar dos pulmões para que pudesse elaborar uma resposta certeira, mas a falta de atenção lhe fez fechar os lábios e engolir em seco.
sentia o sangue ferver dentro de suas veias enquanto o platinado ainda a analisava como um completo idiota, sem se quer ter coragem de responder sua resposta. Qual era a dele? questionou-se sem olhá-lo, vagando os olhos sobre o abastado banquete que começara a ser servido em sua frente. Por sorte, o restante do banquete foi regado a perguntas curiosas de Blaise Zabini sobre sua vida, a moradia em outro país e todos os pormenores envolvendo alguma piadinha para descontrair. A maioria dos sonserinos pareciam se dar bem entre si, conversando assuntos coloquiais e rindo como típicos adolescentes em amizade, fato que tornou o peso sobre os ombros de mais leve. Talvez, só talvez, ela estivesse se sentindo em casa.
O jantar foi encerrado e com ele a monitora apática levou-os até a sala comunal nas masmorras, guiando junto dos demais alunos e primeiranistas empolgados com a nova casa. O local era escuro, ligeiramente mais frio que os outros cômodos do castelo, e tinha uma enorme vista para o lago negro. Poltronas em couro e uma lareira decorada em tons verde e prata deixavam o ambiente com um toque de luxo e realeza, quase como se estivesse visitando um grande aposento monárquico. Depois de ouvir boa parte das explicações da monitora sobre divisões de quartos e outras regras básicas, os alunos tornaram a se dissipar e procurar os próprios dormitórios, assim como pretendia fazer. Entretanto, antes que pudesse seguir para qualquer lugar, uma mão gélida em seu antebraço puxou-a em supetão do local onde estava.
— Se eu te perguntei, é porque é do meu interesse.
Malfoy, o platinado presunçoso. Era ele quem havia requisitado-a, segurando parte de seu antebraço em firmeza. Dessa vez, um sorrisinho cínico e com humor vagavam sua expressão, analisando a adolescente de perto. Assim que percebeu a situação em que estava, a morena puxou o próprio braço em um solavanco e franziu o cenho em um misto de confusão e irritabilidade
— Interesse? Do que você está falando? — respondeu sem entendimento, cruzando os braços logo acima do próprio colo
— Hmpf — um riso anasalado escapou, quase como se achasse hilário a confusão mental da novata — estou dizendo que se eu perguntei seu nome — enfatizou - é do meu interesse saber quem você é, .
Automaticamente, a expressão de tornou-se uma linha reta de análise e digestão mental. O bocudo platinado parecia querer saber quem ela era, insistentemente.
— Pretende me expulsar ou algo do gênero? - retrucou ainda pouco convencida daquela repentina ação
— Você é dura de roer - franziu o nariz em um fragmento de desafio. Gesticulou de modo mais calmo e abstrato, enquanto fechava os olhos e tentava pensar em algo que explicasse aquilo. Touché, sua expressão aliviou-se ao relembrar a informação - sou seu monitor.
— Monitor? - repetiu em pouca fé, rindo em negação - você mente mal.
Antes que se permitisse rir da situação e dar as costas para aquela piada em forma de contexto, o rapaz ergueu o pequeno bottom em forma de serpente com um enorme descritivo de monitor. Droga
— P-Por que não estava recebendo os calouros, então? - questionou em um leve suor nas mãos, intimidada por estar diante de uma hierarquia maior. Não queria estar em maus lençóis logo no primeiro dia, então diminuir o tom seria uma alternativa viável
— Isso não vem ao caso - sorriu cúmplice, desviando-se do que parecia um questionamento válido - enfim, antes que eu termine minha ronda…
Deu somente um passo à frente, muito bem calculado em distância, e estreitou os olhos sobre a expressão confusa de . Em sua cabeça, foi impossível conter um sorriso ladino sobre o maxilar travado.
— Draco, Malfoy.
Anunciou em um tom confiante, deixando um pequeno olhar analítico antes de virar-se nos calcanhares e sair em passos despojados até o caminho do dormitório masculino. Assim, sumiu como um vulto na escuridão, dando lugar a uma adolescente petrificada em confusão e curiosidade.
Que porra tinha sido aquilo? Mal havia posto os pés sobre o castelo e parecia estar vivendo as situações mais atípicas possíveis. O tal monitor havia surgido como um tiro no escuro, destilando pouca educação, e agora parecia preocupado com meras formalidades de apresentação? Ou ele havia voltado para somente dar a resposta a altura do jantar? Todas as possibilidades pareciam contraditórias, mas por hora limitou-se a seguir ao próprio cafofo, e acabar com quaisquer pensamento sem sentido.
Pouco mais de um ano havia se passado desde a chegada da estrangeira em terras altas da Escócia, virando sua vida de cabeça para baixo, bem como um grande terremoto desavisado. Havia iniciado suas aulas de nivelamento coordenadas pelo Prof. Flitwick, mantendo-as por um ano inteiro até que tivesse a maioria das informações básicas sobre a ponta da língua. A desvantagem e o receio haviam lhe servido como combustível para empenhar-se nos exames e estudar o que podia por fora, tentando manter-se ao mesmo nível da maioria dos colegas de seu 6º ano, parecendo estar se saindo bem até então. No que tangia seus estudos e desempenho bruxo, estava até surpresa com o quão bem as coisas fluíram ao longo dos 13 meses no castelo, sentindo que finalmente as coisas pareciam estar sob seu controle de algum modo.
No âmbito social, agradeceu mentalmente à Blaise Zabini e Adrian Pucey por enchê-la de perguntas durante as primeiras duas semanas de aula em Hogwarts, sentindo-se como um interrogatório com pernas. É claro que, as piadas e tiradas sempre os acompanhavam, mas o fato não impediu que formassem uma amizade nas entrelinhas. A monitora Pansy já não era mais uma pedra no sapato, e havia até mesmo se aproximado de uma descendente de italianos que estava em seu 5º ano e falava em um tom ligeiramente mais alto que os europeus. Giullia Senatore fazia das masmorras um lugar estrondoso e caloroso, relembrando-a de parte do seu país de origem; além de dividir o próprio dormitório com a baixinha.
— ! — bradou em excitação ao observar a morena ainda sentada sobre a ponta da própria cama — preciso ir ao corujal, dolcezza. Vamos, vamos!
— São oito horas ainda, Senatore — ponderou em um bocejo preguiçoso sobre a cama, abotoando a camisa em lentidão — alguém vai te mandar uma uma azaração via carta de dia das bruxas? — riu fraquinho
— Não, não — Giullia negou, terminando de vestir o cachecol conforme o clima mais frio que tornava-se palpável à pele — mama vai enviar alguns itens que pedi para hoje, algumas…coisas — ponderou, não deixando-se tagarelar além dali
— O que você pretende aprontar, garotinha? — arqueou as sobrancelhas em um tom desconfiado, pondo-se de pé para que pudessem deixar o dormitório em direção a fora.
— Nada que vá nos prejudicar, durma em paz — brincou, enganchando os braços ao da morena e seguindo pelas escadarias extensas.
O assunto logo vagou o tópico e a dupla seguiu perseverante até o ponto em que Giullia pudesse subir ao corujal, e até sua aula de adivinhação. Despediram-se em um breve aceno e descruzaram os caminhos, de modo que guiou-se sozinha até a sala da Prof.ª Trelawney. O trajeto ao lado da italiana havia atrasado parte de sua jornada, tornando grande parte dos assentos já ocupados por alunos, sentados majoritariamente em dupla diante da sala. A sonserina sentou-se em um dos bancos sem grandes preocupações em arranjar uma dupla, somente acomodando-se no maior silêncio que poderia fazer para não ser notada ou notificada pela cabeleira de Trelawney.
— Queridos — comprimentou afavelmente em um tom alto — na aula de hoje, em especial, iremos tratar sobre a arte da Tasseomancia, uma ciência nobre e…-
A voz de Trelawney foi completamente abafada pelo repentino ruído de madeira rangendo, fazendo desviar a atenção quase que sem perceber. Pelos fundos da sala e em um comportamento pouco discreto, Draco Malfoy adentrava a sala tentando passar despercebido. O rapaz encontrou a morena lhe observando em um olhar sarcástico, fazendo-o perceber que sua talvez estivesse muito mais visível do que negava para si.
— Ótimo, ótimo. Façam duplas! — a professora soltou em um tom que voltou a ser alto como um megafone, levando a jovem a pular involuntariamente na cadeira. Draco achou hilário, mas sentiu que não estava em lugar de rir, e estava certo — Malfoy, pode-se juntar a senhorita , estão sem parceiros!
O sonserino parou os movimentos escondidos e cedeu os ombros em derrota, entendendo que havia sido notado oficialmente. Voltou-se à morena em um sorriso sádico, sentando-se em peso na cadeira ao lado.
— Sentiu saudades, minha cara?
Ah, Draco Malfoy. Estes treze meses definitivamente não seriam os mesmos sem a presença excêntrica e indecifrável do sonserino em questão, principalmente quando este parecia estar sempre em alguma entrelinha. Desde o fatídico dia em que toparam-se na sala comunal após a seleção de casas, haviam ali desenvolvido uma espécie de convivência. Não que fossem melhores amigos, mas compartilharam disciplinas inúmeras vezes ao longo do quinto ano, sempre em uma dança de farpas, humor, e muito sarcasmo. Não havia ódio ou qualquer desprezo mais intenso, mas era evidente o quanto os dois faziam questão de alimentar aquele tipo de provocação e convivência polarizada. Frequentavam os mesmos locais, tinham amigos em comum, e até mesmo trocavam assuntos triviais sem arrancarem os próprios pescoços.
Na última taça das casas, Malfoy havia perdido feio para o time da Grifinória ao perder o pomo de ouro no gramado, e fez questão de lembrá-lo pelo restante do ano. Durante a detenção que a jovem havia pego por atrasar-se para a aula de Snape, Draco distraiu-o com uma conversa sobre Veritaserum, dando tempo e espaço para que a garota fosse liberada mais cedo. Duas semanas depois, o sonserino transformou a caneta inteira de em uma centopéia - ainda que afirmasse ter sido sem querer. E nessa dinâmica de arranca-rabos, seguiam habituando uma convivência fervorosa sempre que tinham a oportunidade, tornando as ações tão confusas e imprevisíveis que nem mesmo os mais próximos poderiam prever. Giullia nunca sabia quando a amiga estaria disposta a desossar Malfoy, da mesma forma que Blaise cogitava o colega salvá-la de uma detenção.
O ponto curioso que chamava atenção não só dos sonserinos, mas de grande parte dos fofoqueiros daquele castelo, é que a estrangeira não parecia descender de uma linhagem tradicional de bruxos. Embora poucos soubessem sobre sua vida fora do castelo, as especulações e comentários eram inevitáveis ao notar que Draco Malfoy agora tinha alguém novo ao seu redor, e que este alguém não provinha de suas típicas exigências nobres. A senhorita é uma magnata? Seus pais são trouxas famosos? Estes e outros comentários rondavam os corredores de Hogwarts em uma tentativa de entender como aqueles dois pareciam estar sempre tão opostos, mas tão próximos em circunstâncias. Nem mesmo Pansy Parkinson havia engolido aquele tipo de situação, e por puro escândalo, estava sempre à espreita de um comentário ácido sobre a estrangeira. Por sorte e ironia, Malfoy parecia cuspir em fogo todas as suposições e comentários que voltassem à aquele assunto.
— De você? — a garota respondeu em escárnio, voltando seus olhos à explicação à frente de si — só se eu estivesse sob algum feitiço — resmungou
— Oh — respondeu em um falso desânimo — não seja tão dura assim, eu poderia jurar que estava guardando este lugar para mim — lambeu os lábios, apoiando os cotovelos sobre a própria mesa em uma falsa atenção sobre a disciplina
— Vá se ferrar, Malfoy — rosnou entre dentes enquanto tentava anotar parte do passo a passo de Trelawney, não deixando de ouvir um risinho debochado sobre a voz de Draco. Ele só poderia estar inspirado pelo dia das bruxas e destilando inconveniências em qualquer criatura viva naquele castelo.
— Muito bem, agora quero que pratiquem a Tasseomancia — a professora voltou a ordenar sobre a plateia de alunos, segurando a própria xícara de chá em uma das mãos — bebam o conteúdo, e analisem as xícaras uns dos outros conforme as figuras que encontrarem nas folhas. Verifiquem o grimório e interpretem o significado! — ordenou por fim
A jovem sonserina segurou o bule de chá em firmeza e despejou parte do líquido sobre ambas as xícaras na superfície da mesa, tornando a pousar o bule entre os dois recipientes cheios. Elevou um olhar desconfiado à Draco e bebericou o conteúdo, percebendo que logo o rapaz repetia o mesmo processo, ambos em silêncio. O gosto amargo e cinzento deu a impressão que o líquido poderia estar terrivelmente passado, mas ainda assim conseguiram finalizar o até a borra no fundo. Um breve aceno de cabeça partiu por parte de , estendendo sua xícara até o rapaz, e o mesmo espelhando seus movimentos em um silêncio ainda presente. Assim que pôs os olhos sobre a borra, estreitou-os em uma tentativa de enxergar algo além de ervas queimadas sobre o fim do chá, iniciando a observar o que parecia um gato negro.
— Seu destino é ter um gato? — afirmou em confusão, arqueando uma sobrancelha sobre a borra e apontando-a para o rapaz. Seu cenho se franziu em questão de segundos e deu lugar à uma expressão séria, tomando a xícara das mãos da garota em rapidez — Ei!
— Um gato? — afundou os olhos no recipiente, parecendo queimar todos os seus neurônios existentes ao processar aquela informação. Sobre o grimório, nada em específico sobre gatos, somente sobre animais que remetiam patronos. A gravata sobre o pescoço de Draco pareceu apertar-se sobre sua garganta, obrigado-o a afrouxar o incômodo que parecia misturar-se à imagem do gato em sua frente. Aquilo só poderia ser uma grande coincidência ridícula.
— Qual é, tem trauma com os bichanos? — a garota perguntou em deboche, apoiando-se sobre a mesa e roubando agora sua própria xícara. O rapaz pareceu voltar a realidade em agitação e posicionou-se ao lado da garota em uma tentativa de observar a xícara em questão, afiando os olhos sobre os pequenos trechos de folhas que formavam um desajeitado…coração?
— Você…— afirmou sentindo as palavras voarem sobre a própria boca, passando as mãos sobre o grimório e procurando por algo que remetesse ao desregulado coração que observaram. Amor.
A simples palavra fez com que o maxilar de Malfoy enrijecesse em um movimento afiado, desviando o mais rápido possível que pode da palavra que havia lido. encarava-o sem entendimento algum de seu comportamento aéreo, cogitando se o rapaz não estaria à beira de um colapso mental qualquer. Muito pelo contrário do que esperou, o platinado voltou a encará-la em uma carranca jamais presenciada durante esse tempo, nem mesmo quando confundiu-o com Madame Hooch.
— Desembucha, Malfoy — ordenou, batendo um tapa firme sobre a mesa em madeira — que porra diz o grimório?
— Ah, — a cabeça do loiro negou-se em insatisfação e pouca fé, escapulindo um riso cínico o nome da garota — acho que você está apaixonada, garota — retrucou, apoiando ambas as mãos sobre a mesa
— Ficou ma..- a garota levantou-se até o grimório e observou a página marcada sobre o que parecia ser o coração, lendo seu então significado. Amor. Seu destino envolvia amor. O QUÊ? Aquilo estava terrivelmente errado, e isso tinha cheiro de alguma gracinha de Malfoy para que se desapontasse — você leu errado, querido.
A ironia sobre a voz da garota fez com que o sangue de Malfoy fervesse ainda mais, se é que era possível. Ela estava acusando-o de ser um idiota? Ele havia tido os melhores livros daquele castelo! E o pior, achava que poderia enganá-lo sobre aquele tipo de situação?
— Li errado? — indagou-se, franzindo o cenho em irritação — você só pode estar tirando com a minha cara. Quando pretende mandar o convite do casamento, bonitinha? — alfinetou em indignação e sarcasmo — é o Blaise?
— Você andou se drogando, Malfoy? — respondeu em um tom de voz mais alto do que pretendia, mas a impaciência começava a tomar vez — essa borra está errada, idiota!
— Não me importa — retrucou enfiando os livros abaixo do braço e lançando um último olhar rígido sobre a garota. Em poucos segundos, Malfoy havia sumido pela porta e tudo que restava daquele contexto era sobre completamente confusa. Assim como da primeira vez que se toparam, ela estava sem respostas.
A festa de dia das bruxas poderia ser um evento meramente retórico no universo de bruxos reais, mas aparentemente eles amavam retomar certas tradições trouxas. O castelo amanhecia em decorações extraordinárias sobre toda sua extensão, desde abóboras macabras, até esqueletos pendurados ao teto (e que pareciam demasiadamente reais). Durante o dia, as aulas seguiam um curso agitado para que o estimado banquete de Halloween pudesse ser apreciado pelos alunos ao fim de noite, e claro, tudo que vinha depois em consequência. Oh, o banquete havia sido divino. jamais havia experimentado tamanha culinária excêntrica e deliciosa, sobre a temática e formas que a lembravam o terror do Halloween dos trouxas. Levando em consideração que este era seu primeiro em Hogwarts (e como uma bruxa), sentir-se radiante como um diadema, fazendo um acordo consigo mesma para que aproveitasse ao máximo aquele dia de acontecimentos.
Perante o cronograma, os gêmeos Weasley eram responsáveis pela típica festa de dia das bruxas dos alunos, acontecendo logo após o encerramento o abastado jantar. O local era escolhido e enfeitiçado para que recebesse os alunos secretamente, e assim teriam a liberdade de cometer tudo que as paredes de pedra de Hogwarts não os permitia. E quando diziam festa, estes empenharam-se até os cotovelos em fazê-la acontecer. Convites secretos, produtos das gemialidades Weasley, Whisky de fogo, e tudo que não os levasse a Azkaban poderia ser liberado dentro da sala precisa durante aquele período.
— Estou parecendo que vou assombrar alguém? - Giullia perguntou em uma pequena análise sobre a própria roupa, voltando a esperar a validação de
— Está um pitel, Srta. Senatore! - a amiga respondeu em humor, ajustando vestido a seu próprio corpo
— E você está destinada a arrasar corações - respondeu em ênfase a última palavra, lembrando-se da história que havia ouvido sobre a aula de adivinhação de
— Você está equivocada, baixinha - ponderou, levantando em uma tentativa de finalmente irem para a festa - a única coisa que pretendo arrasar hoje, é o meu fígado.
— Davvero? - a mais nova indagou em um risinho, brevemente impressionada pela empolgação repentina de - então vamos, cara mia!
Em poucos segundos, fecharam o próprio dormitório e seguiram até a comunal pouco movimentada da casa. A maioria dos alunos estava a dormir, ou já fazia presença durante a festa. Os corredores silenciosos e pouco iluminados deram lugar ao fatídico ponto da sala precisa, e após a breve mentalização da dupla de bruxas, a porta do local fez-se bem diante de si. empurrou a madeira e adentrou o cômodo com a amiga em seu encalço, sendo brevemente cega pela quantidade de luzes e fumaça repentina. Nem fodendo que isso estava bem aqui, pensou internamente. Lustres, teias, abóboras, e diversas velas se espalharam pela sala enorme que acomodava a multidão de alunos, expressando um misto de pirotecnia com elementos clássicos do horror de Halloween. Era como uma grande festa de curtindo a vida adoidado, mas dirigida pelo diretor de Nosferatu. Clássica, mas terrivelmente descolada.
— Caralho.
A empolgação escapou da boca de antes que pudesse conter, retirando uma gargalhada alta de Giullia Senatore ao seu lado.
— É, Srta. … - Giullia respondeu de modo vago enquanto passava os olhos sobre o ambiente - bem vinda ao verdadeiro dia das bruxas.
O comentário incitou a morena a rir em sinceridade, devidamente feliz por estar vivendo algo tão abstrato sobre sua anterior realidade pacata. Hogwarts havia sido literalmente mágica até então, mas vivenciar sua primeira festa ali dentro foi como mergulhar em um sonho muito fictício. Infelizmente precisou ter sua divagação cortada assim que sentiu um peso sobre os ombros desequilibrá-la, revelando um Blaise Zabini chegando como um furacão descontrolado. Giullia limitou-se a abafar um riso e negar com a cabeça, dando um passo para trás antes que fosse levada pelos movimentos pouco calculados do sonserino
— , Senatore! — anunciou em empolgação, passando ambos os braços sobre os ombros das colegas — achei que tinham se perdido nas masmorras!
— E você acha que eu perderia a primeira festa dessa gatinha? — Giullia brincou em uma piscadela, tornando a puxar parte dos braços pesados de Zabini acima do próprio ombro — jamais!
— Vocês falam como se eu nunca tivesse posto o pé em festas antes, oras — resmungou também se desvencilhando do abraço pesado — já fui em muitas festas em meu país, ok? — desafiou
— Blá, blá, bla — Blaise debochou, esticando uma das mãos até uma bandeja flutuante que equilibrava alguns copos de bebida. Pegou três dos recipientes e apontou-os para as duas colegas, levantando o próprio em incentivo — você pode ter sido a rainha das festas fora daqui, mas nunca vivenciou uma festa dos Weasley!
— Esses patetas são bons...— Giullia murmurou em um gole da bebida, piscando apertado ao sentir o álcool cauterizar toda sua garganta
— E diga-se de passagem, está vivenciando um dia das bruxas no mundo bruxo — Blaise enfatizou, acabando com o líquido do copo em segundos seguintes — vamos, Adrian está nos esperando na mesa — avisou, indicando para que o seguissem pelo salão
O trio caminhou em passos apertados e desajeitados pela vastidão de alunos aglomerados pela sala, passando por diversos conhecidos já completamente bêbados ou alterados por alguma gemialidades Weasley. Depois de vencerem a pista de dança e o balcão lotado do bar, chegaram finalmente a um conglomerado de mesas e grupos de alunos. Adrian Pucey, Theodore Nott, a irmã mais nova de Blaise, e agora o trio recém chegado. Cumprimentaram-se como o de sempre e sentaram-se despojados sobre os lugares vagos, iniciando uma rodada de conversas triviais sobre a festa em geral. Um vazio estranho parecia preencher parte daquele contexto em questão, e percebeu isso assim que passou os olhos sobre o ambiente que estavam. Algo estava por desejar ali, e ela esforçou-se mentalmente para lembrar o que poderia ser, estreitando os olhos em um ponto fixo dentro da própria bebida que exibia bolhinhas em formato de pequenos corações caramelos. Coração. Lembrou-se imediatamente do dia anterior durante a aula de adivinhação, e do último personagem que havia protagonizado um conflito consigo: Draco Malfoy.
Ah, como ele havia odiado aquela ideia idiota de coração. Era ele quem estava em pendência ali, tornando um espaço vago e incomum naquele grupo de amigos. Sempre estavam juntos, seja em menores grupos ou em totalidade: Malfoy, Nott, Blaise, Giullia, Pucey e a própria . Há quem dissesse que eram panacas mal encarados, mas a fama esquisita nunca os intimidou. Eram todos um pouco desajustados em algum âmbito da personalidade, mas a real verdade é que estavam um para o outro em todas as circunstâncias, ainda que não tão expressivos quanto os grifinórios e lufanos. E notando a ausência de Malfoy, recordou-se não tê-lo visto desde o episódio na aula de adivinhação, nem mesmo na sala comunal ou nas aulas regulares: ele havia desaparecido. E antes que pudesse perguntar qualquer coisa aos rapazes, sabia que alguma piadinha insuportável surgiria dali, não estando nem um pouco afim. Por quê havia sumido desde a briga que tiveram? estaria emburrado no quarto por causa do conflito? Por uma mera borra de chá?! Negou com a cabeça discretamente tentando afastar as sugestões, sabendo que deveria estar enlouquecendo.
Draco Malfoy nunca havia se abalado por suas provocações e farpas, muito pelo contrário: ele parecia vivo, animado, e disposto em cada uma delas. Ele não poderia se abalar com uma mera bobagem, certamente, e nem razão lógica haveria.
— Preciso de algo mais forte, isso aqui está como chá de erva-doce — disse em direção à Giullia, levantando do lugar determinada a procurar o bar. A amiga arqueou uma das sobrancelhas em receio, mas concordou logo após conceber a determinação da morena — volto logo.
O caminho até o balcão do bar parecia infinito e quente com tanta gente esbarrando em si e derramando bebida pelo piso. Quando finalmente pôde alcançar a madeira em superfície reta, apoiou-se esbaforida sobre o local, levando um tempo até retornar a realidade e razão de estar ali.
— A que devo a honra de sua presença, sonserina? — um dos gêmeos surgiu em supetão de trás do balcão, equilibrando uma dezena de copos sobre uma das mãos — Fred, a seu dispor. O que pretende para hoje?
— Ah, desculpe — a garota recompôs-se em vergonha, endireitando a postura sobre o balcão — o que tem de pior aí?
— Uhh, você me parece determinada a se destruir! — o ruivo brincou, retirando um riso sincero por parte de — vou preparar algo que te faça me odiar no dia seguinte.
— É exatamente disso que estou falando — afirmou a adolescente em uma expressão corajosa, aguardando enquanto o bartender sumia entre as bebidas.
Virou-se para a pista de dança e apoiou as próprias costas no balcão, vagando o olhar em busca de algum acontecimento que a entretesse até a bebida estar pronta. Nada, e nada. Antes de desistir e voltar-se aos exemplares de bebida, uma vulto prateado fez-se chamativo em meio a tantos rostos comuns. Focou melhor o próprio olhar e ali teve certeza de que não estava maluca, era o próprio: Draco Malfoy, recostado sobre um dos pilares ao canto da festa, segurando o que parecia um dry martini, o olhar coincidentemente colidindo com o seu. A camisa branca brevemente esgarçada parecia afastá-lo do calor evidente no salão, assim como os fios platinados sobre a testa já misturados ao suor e o restante do topete alinhado. Estava atraente e parecia atravessar sua própria alma com o olhar vago sobre si, o qual manteve por tempo demais para que pudesse contar nos dedos.
Espere, atraente?
— Sua bebida, senhorita!
A voz de Fred Weasley quebrou sua atenção sobre o ponto em específico de Draco Malfoy, fazendo-a girar em surpresa. O ruivo estendeu o copo em sua direção e bateu continência em simpatia, formando um riso torto sobre o rosto de . Observando o ruivo tornar a atender o restante dos alunos sedentos, a adolescente voltou a observar o próprio copo e girar o canudo em pensamentos altos, quase que audíveis. Draco estava ali, embora tivesse sumido desde então. Mas por quê não havia se integrado ao grupo, ou ido cumprimentá-los? Era mais provável ver Prof. McGonagall nadar no lago negro, do que Malfoy sem estar rodeado dos colegas. Tentou voltar o olhar sobre a mesma direção onde o garoto estava antes, mas desta vez o espaço estava vazio e sem sinal de qualquer coisa por ali.
Assim, em um estranho sentimento de derrota, retornou à conhecida mesa com os colegas, mas não antes de virar todo o líquido em um único gole e roubar outro copo de uma mesa vazia. Como o próprio Fred havia dito, ela estava no modo auto destruição ativado.
— ! — Giullia respondeu, animada por ver a amiga novamente — achei que tivesse tomado alguma gemelaridade Weasley e caído por ai!
— O bar estava lotado, cara mia — explicou-se a amiga verdadeiramente, ainda que não quisesse comentar o fato de ter avistado Draco Malfoy. Conhecendo a italiana, era muito provável que fosse tirar satisfações com o rapaz sobre abandonar o grupo em uma festa demasiadamente importante. Assim, deixou-se beber o terceiro copo naquela noite, já sentindo os sentidos tornarem-se mais leves e espontâneos, acordando consigo mesma para que nada tirasse sua diversão durante aquele dia das bruxas em questão. Nem mesmo o conflito com o senhor borras de chá.
Bebeu, ouviu as piadas de Pucey sobre Pansy Parkinson, jogou beer pong em uma mesa improvisada com corvinos e lufanos, e depois sentou-se para conversas filosóficas com Zabini e Giullia. A pista começava a tocar músicas mais instigantes e tornar-se cada vez mais lotada, o que não poderia passar despercebido pela melhor amiga e fã número um de danças.
— Por Merlin! — anunciou a amiga, levantando-se e puxando o pulso da morena — precisamos dançar essa música, bela. Vamos, vamos!
O protesto ou negação não foi uma opção, somente deu lugar para que levantasse sem tropeçar e seguisse sendo puxada até a pista, juntando-se à Adrian e Pucey que já haviam encontrado o local. O som de Poison Heart - Ramones rodeou o local e fez com que os presentes urrassem em animação, extasiados pela guitarra perfeitamente frenética do início. lembrou-se do disco que havia escutado anos antes de entrar na escola e da faixa em questão que tocava, trazendo-a uma nostalgia que a fez cantar a plenos pulmões a letra.
Helpless child, going to walk a drum beat behind
I lock you in a dream, I never let you go
I never let you laugh or smile, not you
A multidão cantava em conjunto, dançando e pulando no ritmo agitado que só o punk rock poderia proporcionar aos ouvidos, os cabelos a cabeças batendo descoordenados em uma energia que remetia ao clássico dos anos 80. O refrão sinistro fez com que e Giullia olhassem em determinação, gritando como quem poderia externar suas almas ao além através daquela melodia.
'Cause everybody has a poison heart
I just want to walk right out of this world
'Cause everybody has a poison heart
As gargantas ardiam pela frequência e altura que gritavam, mas isso não era exatamente um problema a aquela altura. Blaise e Pucey imitavam guitarras no ar como o próprio Johnny Ramone, atuando em uma sincronia que tirava riso dos próximos à rodinha. Os exatos quatro minutos de música foram aproveitados como nunca, e os refrões finais se aproximaram mais rápido do que gostariam. Sobre a multidão de corpos dançantes e luzes psicodélicas, novamente teve algo familiar sobre sua visão. A mesma pilastra que antes havia encontrado Malfoy encarando-a no bar, novamente vazia e inabitada. Teve um lapso de reação ao avistar um vulto de fios loiros surgindo ao lado da pilastra, mas logo tornou a murchar quando percebeu que se tratava de um rapaz portando uma peruca prateada em um tom jocoso. Não era Draco, e muito menos parecia engraçado como o idiota fez parecer involuntariamente. Ironicamente, uma garota juntou-se ao falso Malfoy e agarrou-o em um abraço apertado, fazendo parte do estômago de revirar (ainda que sem sua autorização). O cenário impactou para que a voz de ficasse cada vez mais baixa, recitando os últimos versos da música como quem diz algo além da própria melodia cantada
A poison heart…
A poison heart….
A poison heart…
Sua voz chegou ao fim assim que a música de desfez, dando lugar ao próprio corpo murcho em pequenas reflexões internas, pensamentos estes que desejou que sumissem. Giullia avisou que buscaria água no bar e voltaria em breve, sumindo de vista em instantes e deixando a morena em pequenos movimentos lentos sobre a música que o DJ parecia decidir. Não queria beber mais ou provar alguma substância duvidosa dos gêmeos, então decidiu que dançar seria sua melhor alternativa. Agradeceu aos céus quando pode finalmente escutar algo que incitasse seu corpo a dançar mais animadamente, ecoando a conhecida voz de Christina Aguilera sobre o ambiente, desta vez em Genie In A Bottle. Assim, foi impossível se controlar dali em diante, seu sangue latino pulsava quente dentro do corpo.
Rebolou os quadris, passou as mãos sobre a própria pele e repetiu parte dos movimentos que havia visto no videoclipe, completamente levada pela batida sensual que a música expressava. A essa altura alguns casais pareciam juntar-se em uma dança quente sobre a pista e o restante era integrado por alunas dançando sozinhas. cantou a letra somente para si, sentindo-se levada pelas palavras como se estivesse no próprio filme como protagonista, ignorando qualquer tipo de vergonha ou pensamento intrusivo que a tirasse daquele estado de êxtase.
For a century of lonely nights
Waiting for someone to release me
You're licking your lips and blowing kisses my way
But that don't mean I'm gonna give it away
Baby, baby, baby (baby, baby, baby)
Colocou as mãos sobre o próprio cabelo e puxou acima do pescoço, sendo absurdamente corrompida, ao menos até sentir dedos frios sobre a pele de sua cintura. Abriu os olhos em um estalo e virou-se imediatamente, perdendo todo o ar que parecia ter nos pulmões ao encarar o rapaz a sua frente. Em carne e osso, ofegante sobre o calor da pista de dança, Draco Malfoy. levou o olhar abaixo de si e encarou as mãos pálidas do rapaz sobre a própria cintura, completamente sem reação. Não teve coragem para mover-se ou tirá-lo dali, somente encarou-o em confusão e choque
— Draco...— iniciou, a voz por um fio — o que é isso?
— Você — ele respondeu, parecia ter dificuldade para que as palavras saíssem de sua boca, até mesmo ofegante. Retirou as mãos de sua cintura e subiu até seus ombros descobertos, segurando-os em firmeza — você está me enlouquecendo.
— O quê? — franziu o cenho, assimilando as palavras que havia ouvido — veio até aqui para reclamar que estou te enlouquecendo? — indagou em um misto de confusão e raiva
— Vim até aqui para para te mostrar e revidar tudo que você vem me fazendo passar, — expressou firmemente, cada palavra pronunciada como um discurso, mas a adolescente parecia impaciente demais para continuar aquela ladainha
— Me mostrar? — riu em humor, revirando profundamente os olhos — você só pode estar de brincadeira. Sumiu desde a aula de adivinhação e voltou transtornado!? que porra você andou fazendo por aí, Malfoy? — encarou-o
— Eu andei pensando em você.
— Olha, isso só pode ser uma grande...- iniciou seu genérico ritual de pouca fé, cortando-se assim que se permitiu processar aquelas palavras — o quê? — indagou, os olhos tão fixos que pareciam ter parado de piscar.
Ela havia ouvido bem ou estava com muita cera no ouvido? Draco Malfoy havia acabado de dizer que estava pensando nela? isso só poderia ser uma grande piada. Draco Malfoy não pensava em ninguém além de si mesmo, e muito menos na maneira com que ele parecia estar expressando.
— Porra — xingou, comprimindo os lábios e desviando o olhar como se procurasse palavras para falar — você vem atormentado os meus pensamentos desde que pôs os pés sobre esse castelo! E agora, nessa infeliz aula de adivinhação, descubro que está caidinha por algum filho da puta daqui?
não soube processar, mas uma risada nervosa escapou involuntariamente de sua boca. O que ele estava dizendo?
— Ouça, ouça bem — subiu as mãos sobre o rosto da garota, segurando-o em uma delicadeza que jamais pensou que poderia surgir de Draco Malfoy, especialmente consigo — você vem estado nos meus pensamentos, desde quando tentei descobrir quem era utilizando a desculpa fajuta de monitor. Aquele distintivo era emprestado de Nott, e não meu.
Instintivamente, as coisas começaram a ter um início de sentido na cabeça de . Draco Malfoy havia armado uma mentira para que soubesse quem era, por puro interesse? e agora estava ali, diante de si, afirmando que tudo que pensava era sobre ela.
— Você…você— respirou fundo, tremendo os lábios sobre tamanho nervosismo — inventou uma mentira para descobrir quem eu era?
— Inventei céus e o inferno para estar perto de você, garota — um lapso de meio sorriso pareceu surgir sobre seu rosto, ainda que tenso e nervoso — e você estava aí, me exibindo borras de chá apaixonada por sabe lá quem — bufou
— Espere aí — a jovem esticou o indicador, estreitando os olhos em busca de entendimento — foi por isso que surtou e sumiu durante a aula? por ciúmes?
— Ciúmes, paixão, raiva…traduza como quiser — riu ladino, passando os lábios sobre a boca seca em ansiedade — você desperta o pior e o melhor de mim, e eu não pude conceber isso até o momento em que aquela droga de coração e gato negro estavam revelados sobre a maldita borra de chá.
— Malfoy, você…— os pontos se ligam quase que involuntariamente sobre a cabeça de , lembrando-se da série de acontecimentos que construíram a narrativa de Draco. O modo como sempre parecia surgir para tirá-la de confusão, ou como deixava sempre deixava um suéter a mais da casa sonserina sobre a arquibancada, pois sabia que a garota iria esquecê-lo e reclamar do frio. Vagou os pensamentos sobre as diversas vezes em que algum colega da casa insistia em lembrá-la ser filha de uma trouxa, em um modo pejorativo; e como Draco fazia questão de destruir todas as gerações do responsável por meio de xingamentos e desprezo. Em uma destas, lembrou-se de Malfoy entrando em vias de fato com um rapaz, mas nunca imaginou que o real motivo estivesse ligado a algo bom. As inúmeras provocações sem contexto, os motivos inusitados que pareciam contribuir para que sempre se encontrassem fora das aulas, e o ardente fato de Malfoy nunca expressar isso a qualquer um antes.
Nem mesmo seus pais ou amigos tinham aquele fragmento preocupado e proativo que parecia nascer do platinado sempre que estava presente no cenário.
— E por último, veja...— o rapaz ensinou os ombros em um suspiro pesado, descendo lentamente as mãos até a beira da cintura antes tocada — você me aparece aqui nesse tubinho tentador e eu preciso me conter e assistir os idiotas te desejarem como lobos famintos — os dedos de sua mão apertaram brevemente o tecido do vestido, incitando quanto incomodado estava — acho que vou enlouquecer por completo, .
A última frase saiu em um fio de rosnado, tirando a garota de qualquer chão que pudesse estar fincando os pés. Ali, observando as orbes azuis e cinzentas do conhecido Malfoy, sentiu-se entregue a todos os pensamentos intrusivos que havia cultivado durante estes treze meses. Toda a negação, raiva, e provocação agora pareciam dar lugar aos seus sentimentos aceitos e bem acordados dentro de sua consciência inquieta. Em seus pensamentos mais ébrios e profundos, ele a intrigava em um misto de desejo e personalidade. Quem era Draco Malfoy, afinal? Ela viveu momentos para descobrir, e se permitir ultrapassar essa linha. Será que ele a olhara de uma forma diferente, ainda que fosse uma mera mestiça? Todas essas dúvidas pareciam ter desaparecido, e agora davam lugar a um sentimento que queimava sobre seu peito.
— Sendo assim, acho que posso te ajudar a enlouquecer.
Respondeu, sentindo os lábios ficando ligeiramente secos e sedentos de ansiedade. Draco inclinou um sorriso ladino sobre os lábios, e apertou-a na cintura para um beijo intenso, desesperado, e cheio de ardores. A jovem sentiu que poderia transcender ao sentir o gosto doce e mentolado que os lábios de Malfoy tinha, tirando-a completamente de órbita conforme intensificaram aquele contato jamais esperado por si.
— Sabe o que significava o gato negro sobre meu ‘futuro’? — Malfoy murmurou aos beijos, afastando-se somente para falar, recebendo um murmúrio curioso da jovem em seus lábios — você.
— Eu? — olhou-o em confusão, ainda absurdamente próxima dos lábios e da respiração de Draco
— Seu patrono, tolinha — ele riu fraco em humor, passando o polegar em um movimento linear sobre o maxilar da garota — se lembra quando conjurou o patrono com Blaise ao encontrarem um suposto dementador no caminho da floresta proibida? — indagou, a jovem concordando abaixo de si — eu estava ali, sendo o dementador e importunando o trajeto de vocês. Vi tudo, embora vocês nunca pudessem descobrir que roubei uma poção da sala de Snape.
A boca da sonserina abriu-se em um completo choque, ligando os pontos mentalmente sobre a mente. Exatamente como o próprio falava, ela lembrava-se de conjurar o patrono em um falso dementador que achou ter visto junto a Blaise, na floresta proibida. O gato negro, destinado sobre a borra de chá de Draco Malfoy.
— Entrei em pânico ao ver o gato sobre a borra, estava escancarado que era você ali — confessou Draco, engolindo em seco — mas aparentemente você não lembrava-se, e o fato de estar interessado em algum outro fodido me pareceu mais alarmante.
— Ei, sou uma jovem solteira — protestou em humor, sentindo o aperto sobre a cintura intensificar-se por parte de Draco,
— Eu acho que não por muito tempo — retrucou, roubando-lhe mais um beijo antes que pudesse dizer qualquer coisa.
Dali em diante, a paciência não era mais aceitável sobre os sentidos de , e muito menos de Malfoy. Eles haviam esperado tempo demais, circunstâncias demais. A jovem puxou-o pelo pulso em direção à porta de saída para que pudessem finalmente se livrar de olhares e atenção, embarcando em passos rápidos e ágeis pelo corredor abaixo, mirando as subterrâneas masmorras que chamavam de lar. O caminho foi regado a beijos roubados, apertos, e a tropeçar em monumentos e estátuas que por ali estivessem, nem mesmo tolerando as próprias pinturas que acabam por acordar em reclamação. Chegaram à sala comunal passando como um furacão inquieto, direcionando-se ao dormitório singular que Draco Malfoy privilegiadamente possuía naquele local, trancando a porta em uma impaciência absoluta e palpável.
As roupas foram destrinchadas em segundos conforme sincronizadas à beijos molhados e apertos em partes estratégicas do corpo de ambos, tornando o ambiente do quarto muito mais quente do que parecia ser. A última peça de lingerie voou sobre o chão e fez com que o platinado engolisse em completo seco sobre a garganta, observando o que tinha em sua frente: a garota de seus pensamentos, completamente nua e entregue para si. Droga, era até mesmo difícil de processar mentalmente tal tipo de situação. Avançou na direção da jovem em uma sede intensa de beijos e carícias, tornando a tocá-la em um ponto sensível e tremendamente úmido, ato que levou-o a sentir o próprio membro pressionar-se dentro do tecido da boxer.
— Porra, você é tão bonita que me faz doer aqui — sussurrou enquanto fervia os dedos sobre o ponto crítico da garota, incentivado por seus suspiros pesados — mas ao mesmo tempo…preciso te foder.
— Você fala demais, Malfoy - a jovem respondeu em um sorriso decidido, empurrando-o contra a cama e subindo acima de seu corpo. Não sabia exatamente de onde havia surgido tamanha coragem, mas a imagem do peitoral esculpido de Draco abaixo de si lhe dava combustível para cometer crimes muito piores que aquele.
E assim, antes que o loiro pudesse resmungar qualquer resposta pronta, a jovem abaixou o empecilho de tecido entre ambos e deslizou sobre toda sua extensão lentamente.
— Ah, porra! - grunhiu em gemido, sentindo seu corpo preencher toda extensão acima da jovem. Era quente, lento, e delicioso ao mesmo tempo.
O ritmo da jovem sobre seu colo manteve a princípio lento, porém fora de controle em uma escala de poucos segundos. Rápido, frenético, sincronizado e cheguei dos gemidos mais suculentos e instigantes que se fosse possível. Pareciam um só corpo, tamanha sincronia que os corpos colidiram durante os movimentos de rebolada que a garota exibia sobre o loiro.
— Você é exatamente doce como eu imaginava, minha cara - o loiro sussurrou em uma súplica enquanto levava os lábios ao colo exposto da garota, derrubando em um movimento certeiro para que pudesse tomar as rédeas - mas acho que quero te provar de outro ângulo.
A resposta da jovem foi interrompida pela pressão acima de seu corpo, agora completamente submerso pelo peitoral e tronco de Malfoy. E ali, realizou-se para dentro de si sem avisos, lhe arrancando um gemido que temeu ser ouvido da própria festa. Dali em diante, não havia nenhum semblante de volta. Ele fodeu-a com maestria, agilidade, e sedento como um coiote faminto sobre as partes expostas de seu corpo. Tudo que sentia possibilitada de fazer era choramingar em delírio e apertar suas costas extensas, em um ato de o reprimir por tamanho prazer proporcionado, se é que fazia sentido isso ser um castigo. Assim, sentia o inferno sobre a terra e a terra parecia transformar-se num paraíso cada vez mais próximo.
— Oh, Droga, Malfoy! - grunhiu em um rosnado sobre as unhas fincadas no ombro do rapaz - preciso de você, por favor…- arfou
E como uma ordem bem fundada, o rapaz tornou-se a rir em escárnio e aumentar os movimentos bruscamente, empenhado em proporcionar uma experiência transcendente para a própria.
— Seu desejo é uma ordem - assoprou sobre seu ouvido, afundando a cabeça logo em seguida sobre o pescoço da morena. Os cachos caiam sobre parte da pele suada do branquelo e misturavam-se ao suor, dando uma atmosfera muito mais doentia e instigante do que o normal - vamos, seja minha - suplicou
A voz suplicante de Draco fez com que o corpo da sonserina se tornasse mil vezes mais sensível ao seu toque, iniciando ali um mergulho em êxtase e delírio. Em questão de poucos segundos, sentiu seus músculos enrijerecem junto ao corpo pesado de Draco, alcançando seu limite através dos sentidos mais quentes e intensos que já pode sentir de si mesma. Murmurou seu nome em um prolongado gemido que o retirou de órbita, fazendo-o se empenhar em logo estar sobre o mesmo delírio que a mulher encontrava-se em seu corpo.
Devidamente entregues e destruídos, os cavalheiros se entregaram a aquele momento de lapso temporal e sensitivo, entrando em um mundo à parte de qualquer coisa. Observaram-se com as respirações ofegantes e descompassadas, porém interligados entre si como jamais estiveram antes. A partir dali, sabiam que jamais seriam os mesmos.
E honestamente, esta era a única sensação que queriam perpetuar pelo restante da eternidade.
E assim, como desafio do destino e divertimento do próprio futuro, a vida parecia amar o cenário de Malfoy e a estrangeira juntos, talvez desde o início de seus contatos. Era uma obra teatral carismática, instigante, e intensa como jamais se poderia ver dentro do mundo bruxo. Quem me dera nós, que toda a vida fosse guiada como um amor avassalador e corajoso como o de Malfoy e .
FIM!
Nota da autora: Primeiramente, gostaria de dedicar essa caótica história a minha querida scrib Cleópatra (A.K.A Mari). Você sempre esteve comigo desde o início dos tempos e de minha história como autora, e eu não estaria aqui sem o seu incentivo e apoio. Obrigado por todo o trabalho com as fics, pelas ideias, trocas, e momentos de amizade que pudemos construir mesmo de tão longe! Tenho um carinho muito grande por você, e espero que sempre possamos ter uma a outra, seja escrevendo ou desabafando sobre dias corridos. Espero que goste dessa história tão inspirada em você!
As demais queridas leitoras, desejo que se sintam dentro da fic tanto quando me senti. E sobre a amiga italiana? Esse é meu alter ego falando como personagem intrometido. Espero que gostem tanto quanto gostei :)
As demais queridas leitoras, desejo que se sintam dentro da fic tanto quando me senti. E sobre a amiga italiana? Esse é meu alter ego falando como personagem intrometido. Espero que gostem tanto quanto gostei :)
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