Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 18/04/2025.— E aí, Theseus, quem você acha que vai ganhar o jogo hoje, os Falcões de Falmouth, ou as Harpias de Holyhead? — um dos seus colegas de trabalho perguntou, enquanto Theseus arrumava suas coisas na maleta. — Você vai ver o jogo hoje, não é?
— Eu não estava planejando…
— Qual é, todos daqui vão! — Outro colega o cutucou, e mais alguns se juntaram à rodinha para o convencer a ir.
— Tudo bem, eu irei.
— Ótimo, vamos todos nos encontrar para irmos juntos. — Theseus escutou as instruções passadas pelos homens e se despediu. Ele nunca mais tinha permitido se divertir daquela forma, então por que não?
E ele o fez. Compareceu na hora marcada e foi ver o jogo com os outros. Ele nem torcia para um dos dois times, seu time favorito era o Vespas de Wimbourne. Era o de Leta também. Mas não, ele não podia pensar nela agora. Não quando só estava fazendo aquilo, não para esquecê-la, mas para conseguir viver sabendo que ela nunca mais iria voltar para ele. E até que havia funcionado naquela noite. E nas noites posteriores. Mais meses se passaram, e ele pôde aceitar que aquela era sua vida agora, teria que conhecer pessoas novas e, quem sabe, se interessar por alguém. Vez ou outra, ele recebia cartas de seu irmão e dos outros, mas nunca alguma notícia de Grindelwald. Talvez, enfim, tudo realmente tivesse acabado. Foi por pensar assim que Theseus se surpreendeu ao ver a inconfundível maleta marrom atravessar pela porta de seu escritório junto de seu dono, que havia dito em sua última carta que planejava ficar mais alguns meses na Mongólia.
— Newt? Que surpresa boa! — Ele se levantou imediatamente da cadeira com um sorriso largo, deixando a papelada de lado, e abraçou o irmão, que não aparentava estar tão animado assim. — Aconteceu alguma coisa para você lembrar que tem um irmão e voltar para a Inglaterra?
— Na verdade, sim… Dumbledore quer nos ver, agora.
— Você acha que…
— Ele não informou na carta, só disse o local que vamos nos encontrar. — Theseus engoliu em seco. Estava certo de que seria sobre a volta de Grindelwald.
— Então vou notificar que tenho que sair mais cedo hoje e vamos direto para lá. — Newt assentiu com a cabeça, e eles saíram da sala a passos largos.
— Não tenho muitas lembranças boas daqui. — Ele notou um sorriso tímido surgir no rosto de seu irmão. Poderia dizer até melancólico. — Por que aceitou voltar?
— Como assim? Eu sempre quis ser auror, Newt.
— Eu sei, mas… podia ter vindo comigo, se quisesse. — Estava claro que ele falava aquilo por causa de Leta, mas Theseus decidiu encarar aquilo com bom humor.
— E arriscar me encontrar com criaturas parecidas com aqueles Explosivins? Não vou me submeter a outra dança ridícula daquelas.
— Você dançou bem. Se não tivesse dançado, provavelmente estaríamos mortos.
— Bom, fico feliz que reconheça minhas habilidades. — Theseus inclinou a cabeça levemente, com um sorriso brincalhão surgindo no rosto.
Eles seguiram até o restaurante indicado por Dumbledore e, enquanto esperavam, decidiram se atualizar das últimas novidades, Theseus contando que finalmente conseguia acompanhar algumas partidas de quadribol dos Vespas.
— Mas e aí, como está sendo essa turnê de bichos estranhos? — ele perguntou, mudando de assunto.
— Eu encontrei animais muito interessantes, na verdade. Consegui trazer algumas amostras para estudar melhor, mas deixei Bunty lá para ficar cuidando de alguns, já que pretendo voltar para continuar minha pesquisa quando tudo isso acabar.
— E o Qilin, ainda está aí?
— Sim, eles acharam melhor eu ficar com ela e procurar por mais algum, para preservar a espécie…
— Newt, Theseus! — Os dois se viraram e se levantaram ao escutar a voz de Dumbledore vinda da porta do local, cumprimentando o mais velho, que se sentou de frente para eles na mesa.
— Quanto tempo, professor.
— Que bom ver vocês. Eu queria que o motivo da nossa reunião fosse outro, mas infelizmente surgiram boatos de que Grindelwald e seus seguidores vão agir logo.
— Mas sabe onde eles estão agora? — Theseus perguntou, e Dumbledore assentiu de leve.
— No Brasil, provavelmente para…
— Tentar um atentado contra a Vicência Santos — Newt completou. — Quando vamos?
— Vocês não vão poder aparatar, é muito longe, então precisam pegar um navio para lá o quanto antes. Eu vou assim que possível, preciso resolver umas coisas antes, mas vou mandar algumas instruções para vocês. Eu mandei uma carta para os outros, então, assim que vocês chegarem, provavelmente eles vão estar esperando no porto. — Os dois assentiram e, depois de um tempo, se despediram de Dumbledore.
E, como ele havia os instruído, partiram no navio, chegando ao Brasil alguns dias depois. Assim que descem da embarcação, avistaram Lally sentada num dos bancos, lendo o que parecia ser o jornal diário.
— Eulalie — Theseus falou, com um sorriso, cumprimentando a mulher com um abraço, seguido de Newt.
— Se não são os irmãos Scamander. Temos tanta coisa para conversar.
— E os outros? — Newt perguntou, olhando ao redor, após perceber que só havia ela lá.
— Eles estão em um lugar seguro, preferi vir sozinha para não levantar suspeitas. Vamos?
Então eles assentiram e a seguiram. Theseus sempre havia visto várias fotos do Brasil, mas nunca imaginava o quão bonito era aquele lugar. O ambiente ensolarado contrastava perfeitamente com o frio de Londres. Eles chegaram até uma região mais isolada e coberta por vegetação, e Lally os guiou até uma casa no meio da floresta.
— Você já conhecia aqui? — Theseus perguntou, e ela assentiu, abrindo a porta e dando de cara com os outros.
— Eu ajudei o dono daqui com um lance e ele ficou me devendo um favor.
— Vocês chegaram! — Jacob correu para abraçar os dois, seguido dos outros, e Theseus percebeu o irmão olhar ao redor discretamente.
— Ela não veio, mas disse que irá nos encontrar em breve. — Queenie apoiou a mão no ombro de Newt e deu um sorriso reconfortante. — E não, eu não posso evitar ler os seus pensamentos. — Ele riu de leve ao perceber o rosto levemente vermelho do outro.
— É realmente muito bom ver vocês. Mas, por acaso, alguém tem alguma ideia do que vamos fazer agora? — Yusuf perguntou, após cumprimentar os dois.
— Hoje, esperamos. E amanhã vamos investigar alguns lugares que Dumbledore pôs nessa lista. — Newt levantou um pergaminho de seu bolso, o mostrando para todos.
Eles decidiram se dividir em turnos para evitar alguma surpresa desagradável, e Theseus e Newt acabaram ficando com o turno da noite. Enquanto o magizoologista cuidava dos animais dentro da maleta, Jacob decidiu fazer companhia para o outro antes de ir dormir.
— E aí, Jacob, como está o casamento?
— Está melhor impossível. Ela se arrepende todos os dias de ter se juntado a Grindelwald, mas eu falo que o importante é termos ficado juntos.
— E… filhos?
— Bom, lá nos Estados Unidos não é permitido ter filhos mestiços, então estamos pensando em nos mudar para a Inglaterra.
— Vão ser muito bem vindos lá. — Newt surgiu da maleta e a fechou rapidamente, se virando para os dois homens. — Terminei, obrigado por ficar aqui, Jake.
— Sem problemas. Qualquer coisa, avisem. Não prometo que vou acordar, mas no que eu ajudaria também? — Ele saiu rindo e os deixou sozinhos.
— Newt, devia limpar esse rosto, tá cheio de…
— Cocô de Bezerros Apaixonados.
— Ah, sim.
— Vou tirar agora. — Theseus assentiu com a cabeça e se levantou para fazer uma ronda pelo lado de fora da casa. — Cuidado, eu já ouvi falar das criaturas daqui, elas não têm a fama de serem amigáveis.
— Pode deixar… Lumos. — Ele deixou a casa e a pouca luz que saía da varinha não era o suficiente para iluminar toda a escuridão da floresta. — Lumus Maxima! — Após rodear toda a área externa da cabana, Theseus voltou no sentido da porta, mas, antes que pudesse entrar, ouviu algo na escuridão e decidiu investigar, se movendo cautelosamente pela floresta, com os sentidos aguçados para qualquer sinal de perigo. O ar estava denso com a umidade tropical e a vegetação ao redor sussurrava com o vento suave. Foi quando ele a viu. Uma figura envolta em um manto escuro, se movendo furtivamente entre as árvores. Com a varinha em punho, ele se aproximou silenciosamente por trás dela.
— Não se mova. — Sua voz era baixa, mas firme, e a pessoa se virou em sua direção, levantando as mãos em sinal de rendição, o fazendo perceber a varinha em sua mão direita. — Quem é você? — ele perguntou, tentando ver seu rosto por baixo do capuz.
— Não sou sua inimiga — a voz feminina respondeu calmamente, apesar de Theseus notar uma ponta de ironia em seu tom.
— Olha só, minha paciência tá acabando e… — Antes que ele pudesse terminar a frase, um grito agudo cortou o ar, vindo de cima das árvores.
— Merda… — Ele a escutou sussurrar.
— Você pode colaborar comigo, ou podemos esperar o dono desse grito aparecer.
— Tá legal, eu vou com você, mas temos que ir agora! — Suas mãos desceram o capuz, revelando uma mulher de cabelos castanhos escuros, que estavam presos em um rabo de cavalo. Theseus havia ficado um pouco impactado com sua beleza exótica, mas outro grito chamou sua atenção novamente. — Eu não me rendi para ser morta. Se quiser ficar aqui, tudo bem. — Ela fez menção de correr, mas Theseus agarrou seu braço e pegou a varinha de sua mão.
— Eu quem dou as ordens aqui!
Os dois correram até a porta da casa e Theseus a fechou rapidamente, apontando a varinha novamente na direção da moça e esperando até que Newt aparecesse na sala.
— O que aconteceu?
— Ela estava nos espiando. É melhor acordar todos, Newt, podem ser eles.
— Eles quem?
— Escuta aqui, nós fazemos as perguntas. — Theseus interrompeu a mulher, enquanto Newt fazia o que ele havia mandado. — Tem mais quantos de vocês lá fora?
— Sou só eu, tá legal? Agora dos Curupiras já não posso falar o mesmo.
— Do quê?
— De quem você achou que eram os gritos? — ela perguntou, cruzando os braços, e revirou os olhos. — Claro que vocês estrangeiros vêm para cá e ao menos estudam para saber quais criaturas perigosas podem encontrar por aqui. Agradeça a Merlim por não ter visto os donos daqueles gritos.
— Ei, quem estuda esses bichos estranhos é ele! — Jacob exclamou, ao chegar à sala junto aos outros.
— Claro, o magizoologista! Newt Scamander, não é? — A mulher se virou para Newt, que apenas assentiu com a cabeça, confuso. — Vicência me falou de você.
— Espera aí? Você quis dizer Vicência Santos?
— Sim, eu trabalho para o Ministério. Eu sou … . — Newt apertou a mão que ela havia estendido para cumprimentá-lo. — Bom, eu não esperava encontrar vocês, mas já que isso aconteceu, acho que posso ajudar.
— Você quer dizer ajudar o Grindelwald a matar todos nós?
— Você não escutou nada do que eu disse? Eu estou do lado de vocês. — A garota tentou se explicar, mas Theseus a interrompeu.
— Desculpa, , mas você não pode esperar que a gente acredite em você quando eu te pego nos espionando na floresta no meio da noite.
— Você seria?
— Não importa, eu ainda tô com a sua varinha.
— ? Eulalie…
— Hicks… eu sou muito sua fâ, professora. — Ela sorriu e, pela primeira vez, Theseus percebeu um tom de vergonha em sua voz.
— Muito obrigada, fico lisonjeada. Então, por que em vez de assustá-la mais nós não conversamos calmamente, como adultos? — Lally pôs a mão no ombro de Theseus, e assentiu com a cabeça. — Tenho certeza de que nossa amiga Queenie pode ajudar. — A loira se aproximou da moça e a guiou até o sofá, se sentando ao seu lado, enquanto Lally e os outros ficavam de frente para elas. Tinha que admitir, estava sendo muito explosivo, mas ele não podia arriscar que sofressem um ataque inesperado. Não novamente.
— Obrigada, o seu amigo aí não me deixa explicar. — Ela lançou um olhar raivoso para Theseus, que apenas deu de ombros, e Lally começou o interrogatório.
— Vamos começar por partes… O que você veio fazer aqui, senhorita ? Não é um lugar muito comum para caminhar à noite.
— Eu vim procurar por pistas… Nós, do Ministério, soubemos que Grindelwald e seus seguidores foram vistos por aqui e, aproveitando que encontrei vocês, precisamos de toda ajuda possível.
— Você trabalha para a Vicência Santos, correto? — assentiu com a cabeça, e Theseus riu sarcasticamente.
— E você quer que a gente acredite nisso? — Assim como os outros, ele olhou para Queenie, aguardando qualquer reação.
— Ela é oclumente, não consigo acessar.
— Eu fui treinada para isso, não podia arriscar ser pega por algum seguidor de Grindelwald.
— Tá, e por que não destrava a mente, ou sei lá o quê? — Jacob perguntou confuso.
— Não é tão simples assim.
— É tão conveniente você estar com a oclumência ativada logo agora.
— Claro que é. Eu não sei se você tá sabendo, mas eles estão se espalhando por aqui. Atentados estão acontecendo por todo o país e está ficando cada vez mais difícil contê-los. Parece que Grindelwald está conseguindo trazer cada vez mais bruxos para o lado dele. Nós precisamos da ajuda de vocês e, querendo ou não, vocês também precisam da gente.
— E o que necessariamente a gente pode fazer para ajudar?
— Newt, você realmente vai acreditar nessa desculpa? Qualquer um pode falar isso. — Theseus chamou a atenção do irmão, e revirou os olhos.
— Por que o amigo de vocês é tão exagerado?
— Fica na sua…
— Theseus tem razão, não podemos acreditar nela totalmente de primeira… — Yusuf o interrompeu, e ele soltou um longo suspiro aliviado.
— Obrigado!
— Mas também não podemos desconsiderar que o nosso trabalho em conjunto seria muito importante.
— É isso que estou tentando falar.
— Na minha opinião, devíamos ficar de olho nela até termos mais informações. Não podemos arriscar nossa segurança.
— Ele tem razão. Senhorita , você parece ser uma pessoa muito amigável, mas não podemos botar tudo a perder. Espero que entenda. — Lally se virou para , que, apesar de relutar um pouco, se levantou e estendeu as mãos, e, com a varinha, ela amarrou os pulsos da mulher. — Muito bem, quem vai fazer companhia para nossa nova convidada?
— Não sei se estou na posição de exigir algo, mas se pudessem deixar esse homem longe de mim…
— Esse homem? Pensei que era mais valente, senhorita . Se não gostou da forma que eu falei, o problema é todo seu. Só estou tentando proteger meus amigos.
— Isso não te dá o direito de ser arrogante!
— Me desculpe, a bruxinha ficou ofendida?
— Seu morcego velho.
— Cabeça de trasgo. — Theseus se aproximou o suficiente para notar umas sardas discretas na garota, que não se moveu um centímetro. Ele ouviu Jacob pigarrear e sentiu seu rosto esquentar automaticamente.
— Sou só eu, ou o clima…
— Jacob! — Queenie o repreendeu, enquanto Theseus voltava para uma distância aceitável de , que, após perceber o que havia acabado de acontecer, também se afastou.
— Bom, seria um prazer ficar de olho nela. — Ele deu um sorriso cínico, e revirou os olhos, mas se sentou no sofá novamente, enquanto os outros saíam do cômodo, os deixando sozinhos.
Theseus tamborilava os dedos contra o braço da poltrona, mantendo os olhos fixos na mulher à sua frente. A maneira como falava com ele, sem o menor indício de respeito ou receio, o irritava mais do que deveria. Poucas pessoas se dirigiam a ele daquela forma, especialmente alguém que estava amarrada e sob suspeita.
— Então você é o Theseus Scamander… — A voz dela carregava um tom casual demais para a situação. Ele ergueu a sobrancelha e assentiu, como se fosse óbvio. — Ah, tá explicado, então.
— Terá que ser mais clara.
— Nada demais, sabe... — Ela deu um sorriso inocente, mas algo na forma como seus olhos brilharam fez Theseus estremecer levemente, e ele agradeceu mentalmente por Queenie não estar ali naquele momento para captar seus pensamentos. — É que dá pra ver claramente a diferença. Pelo que dizem, seu irmão é um homem gentil e mais calmo também. Mas o senhor… — Ela interrompeu a frase de propósito, deixando seu olhar deslizar por ele de cima a baixo, como se o analisasse. — Bem, o rosto bonitinho é a única coisa que salva. — Theseus sentiu a mandíbula travar. Ele não sabia o que o irritava mais, o tom insolente, ou o fato de ter gostado da maneira como ela o olhava.
— Fico feliz que tenha achado alguma qualidade minha, senhorita . Não imagina o quão importante isso é para mim. — Theseus cruzou os braços, fingindo uma expressão reflexiva. — Acho que temos algo em comum, então. — Ele devolveu a provocação, a observando revirar os olhos em resposta.
— Tá vendo que o senhor consegue ser gentil? Fiquei intrigada, vocês ingleses são sempre receptivos assim?
— Ah, como eu sou rude, você aceita um chá? — ele rebateu, a voz carregada de ironia. — Como acha que qualquer um em sã consciência receberia alguém que estava espiando entre as árvores?
— Eu entendo que nosso primeiro encontro não foi muito formidável, mas não vejo motivo para você me tratar com tanta desconfiança e grosseria. — A mulher ergueu as mãos, como se realmente estivesse ofendida.
— Não é como se a senhorita fosse um exemplo a ser seguido.
— Estou apenas devolvendo, querido. — O jeito que a palavra saiu de sua boca, junto ao sorriso desafiador, fez algo no estômago dele se contrair de um jeito estranho. Ele odiava isso. Odiava como ela falava como se soubesse exatamente que o estava provocando.
Então, sem quebrar o contato visual, ele se aproximou devagar, diminuindo ainda mais o espaço entre eles. parou de sorrir, mas não recuou.
— Sabe o que mais me faz desconfiar de você, senhorita ? — Theseus murmurou, a voz mais baixa, arrastada e o olhar se tornando mais frio. — O fato de você dizer que trabalha para a Vicência Santos e não fazer ideia do que passamos para tentar deter Grindelwald. — Ele apoiou uma das mãos na lateral do sofá onde estava sentada, inclinando a cabeça levemente em sua direção. — Porque se você soubesse ao menos um terço do que aconteceu, não questionaria a minha desconfiança. — abriu a boca para responder, mas hesitou, então ele continuou, seus olhos escuros analisando cada expressão dela. — Das duas uma… ou você realmente está mentindo e é uma espiã, ou é tão incompetente que nem consegue fazer o seu trabalho direito. — A provocação foi o suficiente para se levantar em um salto, o obrigando a dar um passo para trás.
— Já chega! Não estou pedindo que acredite em mim, senhor Scamander, mas um pouco de respeito seria bom. — Os olhos da bruxa faiscaram de raiva e seu peito subia e descia com a respiração alterada. Theseus percebeu tarde demais que também estava respirando mais fundo do que deveria.
O clima na sala estava tão tenso que o ar parecia vibrar. Mas antes que qualquer um pudesse dizer mais alguma coisa, a voz de Jacob interrompeu.
— Ei, vocês dois. — Theseus e se viraram ao mesmo tempo, encontrando o homem parado à porta, com os braços cruzados e uma expressão impaciente. — Tá dando pra escutar a ‘conversa’ de vocês lá dentro, então achei melhor ficar no lugar do Theseus.
— Obrigado — Theseus murmurou, lançando um último olhar para , antes de sair da sala, seus passos firmes ecoando pelo chão de madeira.
— Finalmente. Ele é sempre assim tão adorável? — A mulher bufou e cruzou os braços, voltando a se sentar no sofá.
— Ele pegou um pouco pesado com você, né? — Jacob suspirou, coçando a nuca.
— Um pouco? Parecia que o problema dele nem era com Grindelwald, e sim comigo.
— É, sinto muito por isso…, mas você tem que entender que ele passou por muita coisa — ele disse, sentando em uma cadeira próxima, e ergueu uma sobrancelha, ainda irritada.
— Todos passamos por muita coisa.
— Sim, mas… é que Theseus já perdeu gente demais nessa guerra. Ele se culpa por muita coisa, especialmente pelo que aconteceu com Leta.
— Leta Lestrange? — piscou, surpresa pela mudança súbita de assunto, e Jacob assentiu com um semblante triste.
— Eles foram noivos. Ela morreu tentando salvar a gente... e acho que, no fundo, Theseus nunca se perdoou por isso.
O nome Lestrange não era estranho para , mas ela nunca havia ligado a figura de Leta àquele homem rígido e controlador. Pensava que todo aquele comportamento era apenas arrogância, um traço comum em homens como Theseus. E, pela primeira vez naquela noite, ela se perguntou se havia sido injusta com ele.
se aproximou da porta entreaberta da cozinha, onde Theseus e Newt estavam sentados à mesa. Newt falava em um tom calmo e concentrado, os olhos fixos na superfície de madeira à sua frente, enquanto desenhava algo com a ponta dos dedos, e Theseus segurava uma xícara de café entre as mãos, a postura rígida como sempre, se inclinando ligeiramente sobre a mesa, enquanto escutava o irmão. não conseguia ouvir tudo o que diziam, mas captou fragmentos soltos, palavras desconectadas, menções a um plano que não lhe era familiar.
Foi apenas quando ela se mexeu levemente que ambos perceberam sua presença e o silêncio foi imediato. Newt cortou a própria frase no meio, desviando o olhar para Theseus como se perguntasse se deveriam continuar. O mais velho, por sua vez, girou o rosto em direção a , os olhos escuros encontrando os dela com algo que variava entre irritação e outra coisa.
— Desculpem se atrapalhei alguma coisa — falou, olhando de um para o outro, ainda lembrando da conversa que teve com Jacob na noite anterior. Ela até estava tentando pegar leve com Theseus, mas seus pensamentos foram interrompidos pela risada seca do homem à sua frente, levando a xícara aos lábios antes de responder.
— Ah, tá mais educada agora? O que algumas horas de sono não fazem.
— Bom, você me amarrou — ela respondeu, pendendo a cabeça para o lado e apertando os lábios em um sorriso sem humor. — Não tem muita coisa que eu possa fazer para mudar isso, então não vejo motivo para eu começar a tratar todo mundo mal. Acho que mereço pelo menos um pouco de cortesia em troca. — Theseus arqueou a sobrancelha, repousando a xícara sobre a mesa com um toque suave.
— Cortesia, senhorita , não é algo que se ganha apenas por reclamar. Mas quem sabe? Talvez, se você continuar assim tão dócil, possamos reconsiderar.
— Então é assim que funciona? Gentileza em troca de um pouco de liberdade? — perguntou, estreitando os olhos, sentindo a irritação ferver sobre sua pele.
— Não se engane… — Theseus inclinou-se ligeiramente para frente, apoiando os antebraços na mesa. — Não espero gentileza de você. Apenas clareza. — Seu olhar permaneceu preso ao dela mais tempo do que deveria, mas sustentou o contato visual, desafiadora, apesar de sentir um arrepio percorrer sua espinha. Não de medo, mas algo muito mais perigoso. E ela odiava isso.
Ambos voltaram à realidade ao ouvir Newt pigarrear, se levantando da mesa e indo até .
— Theseus, se puder nos dar um segundo. — Ele se virou para o irmão, que assentiu com um suspiro antes de se levantar e sair da cozinha.
acompanhou Theseus com o olhar até ele desaparecer pela porta, então voltou a atenção para Newt, que, diferente do olhar severo do irmão, carregava nos olhos um tipo de gentileza que a fez relaxar levemente os ombros.
— Ele pode ser um pouco... intenso — Newt comentou, oferecendo um pequeno sorriso, antes de puxar a varinha do bolso do casaco. — Mas espero que entenda o motivo.
arqueou uma sobrancelha, observando enquanto ele apontava a varinha para suas mãos. Em um instante, parte das amarras se afrouxou, aliviando a pressão em seus pulsos sem libertá-la completamente.
— Você também acha que sou uma ameaça? — ela perguntou, testando os dedos dormentes, enquanto sentia o sangue voltar a circular.
— Eu acho que não sei o suficiente sobre você para ter certeza — Newt respondeu com honestidade, indo até a mesa, onde encheu uma caneca de chá fumegante. — Mas suspeito que se fosse realmente perigosa, teria tentado fugir de outra forma e não trocando farpas com Theseus.
soltou um riso anasalado, aceitando a caneca quando ele a entregou. O calor entre seus dedos era bem-vindo depois das horas de desconforto.
— Bom, se eu soubesse que ele era tão cabeça-dura, talvez tivesse reconsiderado minhas estratégias — murmurou antes de levar o chá aos lábios, e Newt sorriu de leve, cortando um pedaço de pão e colocando o prato perto dela. — Obrigada. — Ela sorriu de volta, notando que não havia comido nada desde que fora capturada, e mordeu o pão, sentindo o calor reconfortante do alimento recém-cortado.
Newt puxou uma cadeira e se sentou ao lado dela, os movimentos um pouco contidos, como se não quisesse invadir seu espaço. percebeu que ele era bem diferente do irmão, menos imponente, menos confrontador. Havia algo nele que parecia um pouco deslocado, como se preferisse estar em qualquer outro lugar que não fosse ali. Ele limpou a garganta, desviando o olhar para suas próprias mãos antes de falar.
— Você trabalha para Vicência Santos, certo?
assentiu devagar, mastigando o pão antes de responder.
— Sim. Eu faço parte da equipe dela. Trabalho com informações, movimentações políticas e estratégias de defesa.
Newt inclinou a cabeça levemente, parecendo absorver cada palavra com atenção genuína, sem pressa em reagir. Diferente de Theseus, que confrontava tudo de imediato, ele parecia ponderar antes de julgar. notou como ele evitava contato visual prolongado, como se não estivesse totalmente confortável com interações diretas.
— Então por que estava espionando? Se realmente trabalha para Vicência, poderia simplesmente ter vindo até nós.
— Porque nem todos aqui parecem dispostos a ouvir antes de apontar a varinha. — Ela soltou um suspiro, encostando as costas na cadeira.
— Theseus viu Grindelwald manipular e trair pessoas que diziam estar do nosso lado. Não é simples confiar. — franziu os lábios, desviando o olhar para a porta por onde Theseus havia saído. Mesmo sem vê-lo, ainda sentia a intensidade do olhar dele sobre ela.
— Eu sei. — Sua voz saiu mais baixa, carregada de um peso que ela mesma não esperava. — E eu não o julgo por isso.
Newt ficou em silêncio por alguns segundos, como se escolhesse as palavras certas antes de continuar. percebeu que aquele era o jeito dele, mais quieto, mais tímido, como se preferisse falar através dos gestos em vez das palavras.
— O que estava tentando descobrir naquela floresta?
— Algo não estava certo — disse, por fim, voltando a encará-lo. — Recebemos informações sobre movimentações suspeitas perto desse território. Eu precisava confirmar se Grindelwald estava mesmo aqui, ou se era uma armadilha. Mas antes que eu pudesse descobrir qualquer coisa, fui capturada.
— E você acredita que ele realmente veio para cá?
— Acho que estamos perto de algo grande, mas não sei dizer se é uma pista real, ou mais uma peça no jogo dele.
Newt trocou um olhar pensativo com ela, então se inclinou ligeiramente para a frente, a voz baixa, mas firme.
— Se for verdade… podemos ir com você até o local. — assentiu, mas depois soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.
— Duvido muito que seu irmão vá aceitar isso tão fácil.
— Theseus pode ser… teimoso. Mas ele entende o que está em jogo. Se essa pista for real, ele não vai ignorá-la.
— E se eu estiver mentindo? — arqueou uma sobrancelha e observou o homem à sua frente sorrir de leve, o olhar gentil, mas perspicaz.
— Então, eventualmente, vamos descobrir.
Ela segurou o olhar dele por um momento antes de desviar, levando a xícara aos lábios novamente. terminou o chá em silêncio, sentindo o calor do líquido acalmar levemente seus nervos. Newt permaneceu sentado ao seu lado, a observando com aquela expressão analítica e ponderada que parecia ser sua marca registrada. Ele não a tratava com desconfiança, mas também não era ingênuo. Assim que ela pousou a xícara vazia sobre a mesa, eles se levantaram, indo até a sala, onde os outros estavam espalhados com expressões sérias. Theseus, como sempre, foi o primeiro a reagir, cruzando os braços e lançando um olhar de desagrado para .
— Ela já está à vontade demais.
sorriu de lado, arqueando uma sobrancelha.
— Se preferir, posso voltar para a cadeira dura da cozinha. Mas considerando que vou ajudar vocês, acho que um pouco de conforto é permitido.
— Nos ajudar? O que ela quer dizer com isso?
— Theseus… — Newt interveio, sua voz pacífica, mas firme. — pode nos levar até o local onde supostamente Grindelwald passou. Se ela estiver certa, podemos encontrar algo útil.
O auror franziu o cenho, claramente não gostando da ideia. Os outros trocaram olhares entre si, avaliando a proposta em silêncio.
— E desde quando confiamos nela? — Theseus retrucou, voltando a encará-la, e revirou os olhos.
— Eu já disse que não preciso da confiança de ninguém, só quero que descubram logo que não sou uma ameaça.
— Se Grindelwald está por aqui, não podemos ignorar qualquer pista. — Lally olhou para Theseus, que apertou os lábios em uma linha fina, a mandíbula travada em resistência. percebeu que ele olhava para Newt primeiro, como se tentasse encontrar uma justificativa para recusar sem parecer irracional. No fim, ele soltou um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos.
— Isso é uma péssima ideia.
— Mas é a única que temos — Newt retrucou calmamente.
Queenie, que estava sentada perto de Jacob, inclinou a cabeça, observando com curiosidade. Ela não podia ler sua mente, o que apenas tornava a situação mais intrigante.
— Talvez devêssemos dar uma chance…
— Se for uma armadilha, saberemos lidar com isso. — Yusuf, até então calado, assentiu levemente.
— Partimos em algumas horas. — Theseus lançou um último olhar desconfiado para antes de se levantar da poltrona em que estava sentado.
— Ah, então agora confia em mim? — sorriu de lado, inclinando a cabeça, e o homem bufou, desviando o olhar antes de sair do cômodo.
— Nem por um segundo.
observava enquanto os outros checavam seus pertences. Yusuf organizava alguns papéis, enquanto Lally conferia frascos de poções cuidadosamente embalados em um estojo de couro. Ela se aproximou de Theseus, que estava perto da porta, ajustando um coldre onde mantinha a varinha.
— Se vamos viajar juntos, acho que já passou da hora de me soltarem.
— E por que exatamente eu faria isso? — Ele se virou lentamente para encará-la, a expressão carregada de ceticismo.
— Porque, a menos que planeje carregar alguém amarrado pelo meio da floresta, não faz sentido continuar com isso.
— Eu posso carregar você, se for preciso. — Ele cruzou os braços, ponderando por um momento, e sorriu de lado, debochado.
— Ah, claro. E quando Grindelwald aparecer, você vai me segurar com uma mão e duelar com a outra? — arqueou uma sobrancelha, abrindo um sorriso irônico.
— Eu meio que queria ver isso. — Jacob, que amarrava o cadarço do sapato em um canto, ergueu a cabeça, e Queenie riu baixinho, enquanto Theseus soltava um suspiro irritado, claramente sem paciência. Ele olhou para Newt, esperando alguma intervenção sensata, mas o irmão apenas observava em silêncio, o rosto neutro como sempre.
— Se ela quisesse fugir, já teria tentado — Lally comentou, dando de ombros.
— Ótimo. — Theseus apertou a mandíbula, contrariado. — Mas se fizer qualquer coisa suspeita, eu não vou hesitar. — Então, sem aviso, deu um passo à frente e puxou a varinha, murmurando um feitiço que desfez as amarras. nem teve tempo de reagir antes de sentir a pressão nos pulsos desaparecer. — E eu vou continuar com sua varinha, por precaução.
— Uau, quanta confiança. Não imaginava que sabia ser gentil, Scamander. — Ela massageou os pulsos, arqueando uma sobrancelha.
— Não se acostume. — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, a voz baixa e carregada de ironia. notou a proximidade entre os dois, a forma como o olhar dele deslizava sobre ela, misturado entre irritação e outra coisa que ela não sabia decifrar. Por um segundo, ninguém disse nada.
— Então, qual é o plano? — Ela quebrou o silêncio, se virando para os outros. — Vamos direto para o local, ou o senhor Scamander vai querer fazer mais uma verificação para garantir que eu não sou uma espiã?
— Eu ainda não descartei essa possibilidade.
— Vamos diretamente para o ponto que você indicou. Se Grindelwald passou por lá, é melhor não perdermos tempo. — Lally se aproximou, já com sua varinha em mãos, e Newt assentiu, verificando sua maleta, a fechando com cuidado. Antes que ela se fechasse completamente, notou um pequeno vulto de pelos pretos se remexendo entre os objetos dentro da mala. Seus olhos se estreitaram por um instante, curiosos, mas Newt rapidamente empurrou a criaturinha para dentro, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— Todos prontos? — Eles assentiram, e lançou um olhar provocador para Theseus, abaixando o tom de voz.
— E você, Theseus Scamander? Vai conseguir lidar com isso? — Ele não respondeu, apenas lhe lançou um olhar longo, a mandíbula travada, antes de pegar seu casaco e vesti-lo. — Ótimo. — sorriu, sentindo uma pontada de satisfação.
E então, com a tensão pairando no ar, o grupo saiu da cabana, prontos para mergulhar mais fundo na busca.