Codificada por Lua ☾
Atualizada em: 12/04/25
Nenhuma mensagem… era isso! Os dias haviam se passado, nós havíamos voltado cada um para suas casas, para suas vidas, a minha rotina entediante seguiu, a rotina dele como idol de K-pop também… eu acompanhava o grupo e ele pelas redes sociais, assim como eu sabia que ele também acompanhava as minhas.
Tudo que eu e vivemos durante a passagem de ano havia sido a coisa mais mágica que havia acontecido em toda a minha vida durante meus quase trinta anos de jornada pelo mundo.
A lembrança daquela noite ainda queimava dentro de mim. O som das ondas ao fundo, o gosto das bebidas misturado ao sabor dos beijos dele, a forma como seus toques incendiaram minha pele… Tudo parecia ter sido um delírio, um sonho impossível de reviver. Mas a verdade é que foi real. Cada olhar intenso, cada provocação sussurrada, cada momento em que nossos corpos se encaixaram com um desejo incontrolável…
Eu me perguntava se ele pensava nisso tanto quanto eu. Se, no meio de sua rotina exaustiva, em meio a shows, entrevistas e ensaios, a memória daquela noite o assombrava da mesma forma que me assombrava. Ou se para ele tudo aquilo havia sido apenas uma lembrança distante, um capítulo que ele já havia deixado para trás.
Eu deveria ter seguido em frente, mas como seguir quando tudo ainda parecia tão vivo dentro de mim?
E o silêncio dele só tornava tudo aquilo muito mais difícil.
— Também, quem mandou você se envolver com um famoso, sua idiota!
ergueu os olhos de seu computador e me encarou com a testa franzida.
— Acho que você precisa de um café, vamos lá!
Eu a vi se levantar da mesa e me lançar um olhar mortal ao ver meu semblante de total descrença encarando-a.
— Você pode pegar para mim, amiga linda! — forcei um sorriso e ergui minha caneca de Friends na direção dela.
— Vem logo !
Observei caminhar pelo corredor em direção à porta da grande sala, seus passos determinados ecoando no ambiente silencioso. Ela nem se deu ao trabalho de olhar para trás, já sabendo que eu a seguiria, mesmo que fosse arrastando os pés.
Bufei, largando o lápis sobre a mesa e com minha caneca de Friends nas mãos, me levantei.
— Isso é um abuso de autoridade disfarçado de amizade — murmurei para mim mesma enquanto saía da sala, ajeitando a blusa no processo.
A grande copa da empresa estava relativamente vazia, apenas algumas pessoas conversavam baixinho perto da máquina de café. já estava lá, mexendo impaciente no celular enquanto esperava o café encher sua caneca.
Caminhei até ela, ainda com a expressão de poucos amigos.
— Eu realmente precisava levantar? — questionei, encostando-se ao balcão enquanto esperava minha vez.
— Sim, precisava — ela respondeu sem tirar os olhos da tela. — Você estava entrando numa espiral autodestrutiva e, francamente, eu não tenho paciência pra isso hoje.
Revirei os olhos, mas não consegui segurar um pequeno sorriso. sabia exatamente quando me tirar do meu próprio buraco.
— Me desculpe, eu só pensei alto. Vou manter meus pensamentos e minha auto sabotagem só para mim novamente.
— Você não manda mensagem para ele porque não quer, porque é orgulhosa. Se você mandasse uma mensagem, um ‘oi’ que fosse, acabaria logo com essa angústia dentro do seu peito. Pelo bem ou pelo mal.
Eu sabia que ela tinha toda a razão do mundo, mas eu não podia dar o braço a torcer. não sabia como haviam sido todos os jogos entre eu e , e eu não podia ser a primeira a ir atrás. Além do mais, se ele estivesse tão perdido nas lembranças quanto eu, ele teria mandado algo, não teria?
— Você não entende , não é tão simples assim. Ele é famoso! — dei uma desculpa e dei de ombros.
— Ele é famoso, mas vocês transaram e vocês trocaram números. Ele deve estar esperando uma mensagem, é um homem ocupado, deve ser por isso que não mandou.
— Fala baixo! — sussurrou quando notou alguns olhares sobre elas — Nada haver! Ele só me esqueceu, e tudo bem.
— E tudo bem? Você estava praguejando sobre isso agora mesmo, aliás, você tem praguejado sobre isso desde que voltou da viagem.
cruzou os braços e me lançou um olhar cético, como se esperasse que eu desmentisse a mim mesma.
— Eu não estou praguejando! — retruquei, virando de costas para encher minha caneca com café, evitando encará-la.
— Ah, claro. Então a senhorita "eu não ligo" estava falando sozinha e se chamando de idiota por quê mesmo? — ela rebateu, arqueando uma sobrancelha.
Suspirei, sentindo o cheiro quente do café subir até meu rosto.
— Eu só… não sei o que fazer. — Finalmente admiti, deixando o cansaço transparecer na minha voz.
— Simples, manda uma mensagem e descobre.
Me virei para encará-la, segurando a xícara entre as mãos.
— E se ele não quiser falar comigo? Se ele me ignorar ou for frio? Se tudo o que aconteceu naquela virada de ano não significou nada para ele?
suspirou e relaxou a postura.
— E se significou? Você vai ficar se torturando para sempre sem saber?
Mordi o lábio inferior, refletindo sobre suas palavras. Parte de mim queria acreditar que só estava ocupado, que no meio da correria, ele ainda pensava em mim. Mas a outra parte, a que estava tentando me proteger, insistia que se ele quisesse, já teria me procurado.
— Eu só… não quero parecer desesperada.
— Você não está desesperada, . Está apenas sendo honesta com seus sentimentos.
Fiquei em silêncio, encarando a xícara de café como se a resposta estivesse ali. Talvez estivesse certa. Talvez eu devesse parar de tentar adivinhar e simplesmente descobrir. Mas será que eu estava pronta para isso?
’s POV:
Me joguei no sofá com o copo de café que a staff havia me dado e soltei um suspiro pesado ouvindo os elogios de assim que terminei minhas gravações da última música do novo álbum.
Eu estava exausto, aliás, nós todos estávamos. A agenda de comeback estava puxada, com ensaios, sessões de fotos, gravações e reuniões intermináveis. O tempo parecia escapar por entre meus dedos, e eu mal percebia os dias passando.
Mas, no meio de toda essa correria, minha mente insistia em vagar para um único ponto: .
Passei a mão pelo rosto, tentando afastar o pensamento. Era ridículo. Já fazia semanas, e eu ainda me pegava lembrando de cada detalhe daquela virada de ano. O gosto dos lábios dela, o som da sua risada abafada pelo travesseiro, a forma como seu corpo se encaixava no meu…
— Você tá estranho. — A voz de me tirou do transe.
Levantei o olhar e o vi me observando do outro lado da sala, os braços cruzados. e estavam discutindo sobre algum detalhe da coreografia ao lado, sem prestar atenção na nossa conversa.
— Só cansado. — Dei de ombros, levando o café aos lábios.
— Cansado? — Ele estreitou os olhos. — Não me convence. Você está calado demais ultimamente.
Bufei, desviando o olhar para a tela do celular, como se tivesse algo importante ali. Nada. Nenhuma mensagem dela. Nenhuma notificação além de trabalho.
Se ela quisesse falar comigo, teria falado, não teria?
— Se for sobre uma certa pessoa, você sabe que pode mandar mensagem, né? — comentou, como se lesse minha mente.
Trinquei o maxilar e apertei o copo entre os dedos.
— Não é tão simples assim.
Ele suspirou e se jogou ao meu lado no sofá.
— Você já tentou complicar menos?
Não respondi. Porque, no fundo, eu sabia que ele estava certo.
esperou por uma resposta que não veio. Eu apenas levei o copo de café à boca, mesmo que já estivesse praticamente frio, apenas para não precisar encará-lo.
— Você não é de agir assim, . — Ele continuou, ignorando meu silêncio. — Quando quer algo, vai atrás. O que te impede agora?
Soltei um riso curto e sem humor.
— Você mesmo disse: estou estranho.
— Tá mais pra medroso.
Virei o rosto para encará-lo, semicerrando os olhos.
— Não começa.
— Só estou sendo sincero. — deu de ombros. — Você não quer admitir que se envolveu de verdade, e agora não sabe como lidar.
Joguei a cabeça para trás, soltando um suspiro frustrado.
— Não se trata disso.
— Então do que se trata?
Eu não tinha uma resposta simples. Talvez fosse orgulho. Talvez medo de que a gente se tornasse apenas um momento perdido no tempo. Ou, pior, que para ela, já tivesse sido isso.
Antes que eu pudesse me aprofundar ainda mais nesses pensamentos, chamou a atenção de todos, avisando que precisaríamos rever algumas partes do cronograma. Aproveitei a deixa para me levantar.
— Vou pegar outro café. — Murmurei, me afastando antes que pudesse insistir no assunto.
Mas, enquanto caminhava pelo corredor em direção à copa, tudo que eu queria era desbloquear o celular e digitar um simples “Oi”.
O problema era que eu não sabia se teria coragem de enviar.
Meus olhos se arregalaram e meus lábios secaram completamente, e eu estava tão em choque que nem sequer consegui mover minha língua para umedecê-los. Pisquei uma, duas, três, incontáveis vezes.
e Selena me olhavam, atônitas e preocupadas ao mesmo tempo.
— Meninas! — a voz firme do nosso chefe soou, acompanhada de um estalar de dedos no ar, nos trazendo de volta à sala de reunião em um pulo. — Estão prestando atenção ou estão prestes a desmaiar?
Pisquei mais uma vez, finalmente conseguindo engolir em seco e umedecer os lábios. Ainda estava tentando confirmar se aquilo era real ou se meu cérebro estava me pregando uma peça cruel.
— Você disse... ATEEZ? — perguntei, com a voz um pouco mais aguda do que o normal. — Nós três vamos cuidar de uma campanha do ATEEZ?
Ele assentiu, como se estivesse falando de algo completamente trivial e não da maior reviravolta da minha vida nos últimos meses.
— Exatamente. A gravadora deles fechou parceria com uma marca da qual somos responsáveis, e escolheram a nossa equipe para liderar a campanha. Isso inclui ensaios fotográficos, material de divulgação, estratégia digital...
Enquanto ele falava, tudo ao meu redor começou a soar distante. Era como se eu estivesse presa em um túnel, ouvindo sua voz ecoar ao longe, enquanto as palavras "campanha", "ATEEZ" e "nossa equipe" martelavam na minha mente.
me cutucou de leve com o cotovelo. Selena sussurrava um "meu Deus" quase sem ar ao meu lado.
E eu ali, parada, tentando entender se aquilo era um presente cósmico ou uma armadilha muito bem elaborada do universo.
Eu ia ver .
E ele não fazia ideia.
— Vocês são fãs da banda ou algo assim? — nosso chefe perguntou, estreitando os olhos, cruzando os braços com um semblante sério. — Porque se forem, preciso de descrição, meninas. Não posso ter vocês fazendo escândalos, ou parecendo três moscas mortas, que nem agora, quando estivermos frente a frente com eles e com a equipe.
foi a primeira a reagir, endireitando a postura.
— Imagina! Somos profissionais, claro. A gente só… não esperava.
Selena soltou um riso nervoso, concordando com a cabeça.
— Surpresa. Totalmente surpresa. Mas não preocupante. Vamos entregar tudo.
E eu? Ainda estava lutando para encontrar ar nos pulmões.
— ? — o chefe me chamou diretamente.
Assenti, tentando parecer mais centrada do que me sentia por dentro.
— Sem escândalos. Sem reações exageradas. Só trabalho. — forcei um sorriso. — Pode confiar.
Ele pareceu satisfeito e continuou explicando os detalhes da campanha, mas eu mal absorvia qualquer coisa. Minha mente só repetia uma frase em looping: Você vai vê-lo de novo.
E, dessa vez, ele não vai conseguir me evitar.
— A primeira reunião com a equipe da gravadora e da marca parceira será na próxima segunda, às dez. Quero vocês três alinhadas com o material de referência até sexta, entendido? — a voz do chefe era firme, como sempre, e ele já abria o cronograma no telão da sala de reunião.
e Selena responderam com um animado "sim", enquanto eu apenas assenti, mais por reflexo do que por real atenção.
Minha cabeça estava a quilômetros dali.
Tudo o que eu conseguia imaginar eram os possíveis cenários do reencontro.
Será que ele vai fingir que nada aconteceu? Vai apenas me cumprimentar com aquele olhar indecifrável e um aceno distante? Ou vai me lançar aquele meio sorriso torto, como se dissesse "você achou mesmo que eu não ia lembrar?"
Talvez ele me olhe como se eu fosse uma estranha. Talvez já tenha esquecido tudo. Ou… talvez ele me encare como se o mundo parasse por um segundo. Como se a noite da virada também estivesse viva nele.
E se ele estiver com outra?
E se ele for frio?
E se…
— ! — a voz do chefe me arrancou brutalmente das possibilidades infinitas da minha mente.
— Oi? — pisquei rápido, sentando-me mais reta. — Sim, tô ouvindo.
— Só reforçando: você ficará encarregada de acompanhar o briefing criativo da campanha com a equipe coreana, além de alinhar tudo com o fotógrafo no dia do ensaio, e acompanhar o ensaio. Está claro?
— Claríssimo. — Menti, com um sorriso fraco, o estômago virando só de pensar na palavra “ensaio”.
. De novo. E dessa vez, cara a cara.
Só não sabia se isso me aterrorizava ou me deixava secretamente animada. Talvez os dois.
’s POV:
O sol batia forte quando saímos do prédio, e a brisa morna só fazia aumentar a sensação de nó no meu estômago. Caminhei ao lado de Selena e em silêncio por alguns instantes, enquanto as duas ainda comentavam sobre o cronograma da campanha e o quão absurdo era aquilo estar realmente acontecendo.
— Eu ainda tô em choque — Selena disse, ajustando os óculos escuros no rosto enquanto caminhávamos na direção do restaurante de sempre. — Tipo… o ATEEZ! A gente vai trabalhar com o ATEEZ!
— Eu também — completou, animada. — E os caras são gigantes. A marca confiou mesmo na gente, né?
Elas estavam animadas e eu deveria estar também, mas meu silêncio acabou chamando atenção.
— … você vai sobreviver? — Selena perguntou, já com aquele olhar de quem sabia exatamente o motivo do meu estado catatônico.
Soltei um riso curto, nervoso.
— Não sei. A real é que eu não faço ideia de como vou agir quando estiver na frente dele.
— Você acha que ele vai te reconhecer de cara? — perguntou, empolgada e curiosa.
— Eu não faço ideia — respondi, encolhendo os ombros. — Quer dizer… ele pode ter seguido em frente, fingido que foi só uma noite. Talvez nem me olhe direito.
— , ele passou a virada do ano com você. Nu. Na banheira. Eu duvido que ele tenha esquecido — Selena respondeu, com uma expressão meio indignada.
— Mas ele não mandou mensagem — rebati, com o coração apertando um pouco só de lembrar. — Nem uma só palavra depois.
— E você também não mandou — apontou, levantando uma sobrancelha. — Talvez ele esteja pensando a mesma coisa que você.
— Ou talvez ele só… tenha seguido em frente.
Selena me olhou de lado e soltou um suspiro.
— Ou talvez o universo esteja criando a maior reviravolta da sua vida, e você vai desperdiçar ficando presa em teorias tristes?
Eu ri, ainda que sem muita convicção.
— Tudo bem. Eu só… não quero criar expectativas.
— Tarde demais — disse com um sorriso torto. — A gente te conhece, . Você já criou um roteiro inteiro na cabeça.
Elas riram, e eu também, mesmo sabendo que elas estavam completamente certas.
Eu estava morrendo de medo de reencontrar … mas talvez, lá no fundo, uma parte de mim quisesse exatamente isso.
Voltamos para o escritório com o sol já mais brando no céu e o estômago satisfeito — ao menos o das meninas, porque o meu parecia dar nós em vez de digerir qualquer coisa.
Selena e voltaram às suas mesas animadas, trocando ideias sobre a campanha, como se aquele projeto fosse só mais um, como se não envolvesse... ele.
Já eu, sentei diante do computador, abri a pasta com os arquivos que o chefe havia enviado e encarei a tela como se estivesse tentando decifrar um idioma extinto.
Slides, referências visuais, cronogramas, briefing criativo, moodboards. Tudo lá. Tudo estruturado. Tudo pedindo foco.
Mas minha mente?
Mil. Por hora.
Eu lia uma frase e, segundos depois, percebia que não fazia ideia do que tinha lido. A cada vez que via a palavra “grupo” ou “fotografia”, minha cabeça era tomada por imagens dele. sorrindo. sério. nu na banheira, com espuma subindo até os ombros e aquele olhar que parecia atravessar minha alma.
Afundei na cadeira, soltando um suspiro longo, tentando me concentrar. Não era hora pra devaneios. Eu era profissional, caramba. Precisava entregar resultados.
Mas como manter a cabeça no lugar, quando o passado estava prestes a bater de frente com o presente?
E, pior… quando parte de mim queria que isso acontecesse?
’s POV:
Mais um dia de gravação. Mais uma batida no fone. Mais uma letra que eu precisava sentir antes de cantar.
A cabine do estúdio estava abafada como sempre, e o ar-condicionado parecia não dar conta. Ajustei o microfone e respirei fundo, tentando me concentrar.
— Vamos de novo, — a voz de soou pelo fone. — Um pouco mais de intenção nesse verso, ok?
Assenti com a cabeça e fechei os olhos, repetindo o trecho mentalmente. A melodia estava bonita, melancólica, e a letra falava de algo que escapa por entre os dedos… de alguém que você queria segurar por mais tempo.
Cortei o pensamento ali.
Foco.
Cantei a parte pedida, e logo ouvi o sinal de aprovação do outro lado do vidro. Ainda assim, não me sentia satisfeito.
Respirei fundo outra vez, recostando na parede da cabine, enquanto esperava pela próxima instrução. Olhei para o relógio no pulso e me perguntei que horas sairíamos dali. Que horas eu conseguiria voltar pra casa e, quem sabe, dormir mais de quatro horas seguidas.
Pensei na comida do refeitório, que provavelmente já estaria fria. No e-mail que eu tinha que responder sobre um ensaio novo. Em qual cor de cabelo os stylists queriam que eu testasse dessa vez.
Coisas triviais. Rotina. Responsabilidades.
Mas aí, do nada, a imagem dela.
.
Deitada sobre mim, sorrindo preguiçosa naquela cama de lençóis bagunçados. O som da risada dela quando eu a rodeei com os braços e a afundei na banheira. A forma como ela me olhou na praia, segundos antes de me beijar à meia-noite
Pisquei rápido, tentando afastar a memória como quem espanta um mosquito inconveniente.
Não era hora pra pensar nisso.
Mas era inevitável.
Mesmo no meio da rotina cansativa, entre um verso e outro, continuava aparecendo. Como uma música que gruda na cabeça e não vai embora por mais que você tente mudar de estação.
Gravei mais algumas faixas naquela tarde, tentando ao máximo manter a concentração. Cada vez que minha voz escapava do tom ou a emoção não vinha como deveria, e os outros produtores apenas diziam com paciência forçada: “Mais uma vez, .”
E assim foi, repetição atrás de repetição, até que o take final saiu com a entrega certa. Não porque eu realmente havia me concentrado, mas porque decidi parar de lutar contra os pensamentos e cantar como se estivesse falando com ela.
Com .
Quando o botão de gravação foi finalmente desligado, e o técnico sinalizou que estava tudo certo, tirei os fones e deixei um suspiro escapar. Minha cabeça latejava. Meu corpo pedia por descanso. Mas, mais do que isso, minha mente queria silêncio. Um tipo de paz que eu não encontrava fazia semanas.
Saí da cabine e encontrei me esperando no corredor, encostado na parede com os braços cruzados, como se estivesse me esperando ali fazia tempo.
— Você precisa dormir — ele disse, direto, me lançando aquele olhar de quem vê além do óbvio. — E parar de pensar nessa garota, irmão.
Parei diante dele, arqueando uma sobrancelha.
— Tô trabalhando.
— Tá se torturando — ele rebateu. — Eu já te vi cansado antes, mas nunca... distraído.
Não respondi de imediato. Só abaixei o olhar e passei a mão pela nuca, em silêncio.
suspirou.
— Seja lá o que rolou entre vocês, ou resolve... ou esquece. Mas ficar nesse meio-termo não tá te fazendo bem.
E, no fundo, eu sabia que ele tinha razão. Mas como se resolve algo com alguém que você não tem coragem de procurar?
Segunda-feira, dez da manhã, Seul - Coreia do Sul
’s POV:
O carro preto parou na frente do prédio espelhado da empresa de marketing. Descemos um por um, todos com rostos sérios e roupas bem alinhadas — como era de se esperar numa reunião como aquela.
liderava o grupo, conversando com o representante da gravadora enquanto segurava uma prancheta com os primeiros detalhes do contrato. e caminhavam logo atrás, trocando piadas discretas, tentando aliviar o clima.
E eu vinha por último.
O prédio era moderno, cheio de vidro, concreto polido e um ar de que tudo ali precisava ser impecável. Seguimos até o andar da reunião com a equipe responsável pela campanha. Eu ainda estava ajustando o blazer e conferindo o celular quando a porta da sala de reuniões foi aberta e todos começaram a entrar.
Eu respirei fundo antes de cruzar a porta.
E então a vi.
.
Sentada do outro lado da sala, ao lado de duas outras mulheres que eu nunca tinha visto antes. Ela estava exatamente como eu lembrava e, ao mesmo tempo, diferente. O cabelo preso de um jeito simples, uma blusa branca impecável e aquela postura tensa de quem tenta manter a compostura... mas os olhos, ah, os olhos não escondiam nada.
Eles me encontraram assim que entrei. Um segundo. Dois. Três. Longos o bastante para o ar sumir do meu peito.
O mundo girou por um instante.
O som dos cumprimentos ao redor virou ruído, como se tudo estivesse acontecendo embaixo d’água. Só conseguia vê-la.
E ela estava ali. Real. Tão perto quanto distante.
Minha mente foi invadida pelas lembranças — o gosto da pele dela, o som da sua risada abafada no travesseiro, o jeito como ela dizia meu nome no escuro. E junto de tudo isso veio o peso do silêncio que deixamos crescer entre nós.
Ela desviou o olhar primeiro. Rápido. Discreta. Como se eu fosse só mais um artista na sala.
Mas meu corpo inteiro sentia o contrário.
Parei por um segundo, hesitante, antes de me obrigar a andar até o assento reservado para mim, na ponta da mesa.
E mesmo sentado, mesmo cercado por vozes e sorrisos profissionais, eu só conseguia pensar em uma coisa: O que diabos eu faço agora?
’s POV:
Meus dedos estavam entrelaçados com tanta força que eu mal sentia a circulação nas pontas. O ar-condicionado da sala de reuniões estava no nível “polo sul”, mas ainda assim, eu suava. Por dentro. Por fora. Por todos os lados.
Selena e conversavam discretamente ao meu lado, tentando manter o clima leve, mas eu só ouvia fragmentos, como se minha mente estivesse em outro lugar — ou melhor, em uma contagem regressiva.
Porque eu sabia.
Sabia que ele entraria por aquela porta a qualquer instante.
E então aconteceu.
Quando os membros do grupo começaram a entrar um a um, meu coração já batia descompassado, mas eu mantive a pose. Mantive o foco nos papeis à minha frente, como se eles fossem as coisas mais importantes do universo.
Até que vi ele.
.
O último a entrar.
E naquele instante, o tempo parou. Literalmente.
Nossos olhos se encontraram — e foi como se todo o ar tivesse sido sugado da sala. Tudo o que eu havia tentado suprimir durante semanas veio à tona com a força de uma avalanche.
O toque dele.
A voz dele sussurrando meu nome.
O peso do corpo dele sobre o meu naquela cama de lençóis bagunçados.
A espuma da banheira.
Os fogos da virada.
O silêncio depois.
Meu corpo inteiro reagiu. Um arrepio correu por minha espinha, e o estômago virou como se eu estivesse prestes a despencar de uma montanha-russa. Mas eu não podia deixar isso transparecer.
Desviei o olhar primeiro. O instinto me venceu.
Voltei a encarar o papel à minha frente, mesmo sem conseguir ler uma única palavra. Respirei fundo, uma, duas vezes. Me obriguei a manter a compostura.
Ele estava ali. A poucos metros de mim.
E eu tinha que fingir que era só mais um cliente. Só mais um rosto no cronograma.
Mas nada na minha vida havia sido tão “não profissional” quanto . E agora, a realidade gritava mais alto do que qualquer planilha, cronograma ou discurso ensaiado.
“Respira, . Finge normalidade. Porque a partir de agora… vocês vão ter que conviver.”
’s POV:
A reunião havia começado. Pontualmente. Formalidades, apertos de mãos, apresentações e aquela energia de "vamos fazer dar certo" que sempre pairava no ar nesses primeiros encontros.
Eu estava ali — corpo presente, mente ausente.
O diretor de criação falava sobre cronogramas, entregas de conteúdo, ideias de conceito visual e distribuição de tarefas. Ele falava direto com o nosso manager, enquanto os outros membros do grupo opinavam de forma pontual. Eu fingia prestar atenção, assentia quando necessário, mas tudo era automático.
Porque ela estava ali.
.
Sentada a poucos lugares de mim, com o corpo levemente inclinado para frente, a caneta entre os dedos, o olhar atento. E mesmo sem querer, meus olhos voltavam para ela. Sempre voltavam.
O jeito como ela passava o polegar sobre a ponta da caneta quando estava concentrada. O modo como seus lábios se apertavam levemente quando não concordava com algo, mas mantinha o silêncio por educação. A forma como ela ajeitava o rabo de cavalo toda vez que alguém a mencionava ou a olhava diretamente.
Eu não ouvia tudo o que ela dizia, mas bastava escutar sua voz para me perder. Ela falava com firmeza, com clareza. Sabia o que estava fazendo, e isso só a tornava mais inacreditável.
Às vezes, nossos olhares se cruzavam rapidamente, como se nenhum dos dois tivesse controle sobre isso. Mas ela desviava. Sempre desviava.
E eu fingia que estava tudo bem. Que era só mais uma reunião. Só mais uma campanha.
Mas não era.
Cada palavra dita, cada gesto dela, me lembrava do quanto eu estava ferrado. Porque, mesmo depois de todo aquele tempo... ela ainda mexia comigo. E agora, eu ia ter que conviver com isso. De frente.
Todos os dias.
Como se nada tivesse acontecido.
Como se eu não soubesse exatamente como é o gosto da sua pele.
’s POV:
A reunião seguiu como qualquer outra — ao menos, para quem estivesse vendo de fora. O chefe apresentou a proposta, falou sobre a expectativa da campanha, detalhou o cronograma, dividiu tarefas e alinhou prazos apertados com aquela empolgação que só ele conseguia sustentar tão cedo em uma segunda-feira.
Mas para mim, nada daquilo era "qualquer coisa".
Minha mão anotava o que precisava, meus lábios respondiam o necessário, e minha postura era a de uma profissional focada. Mas por dentro? Um verdadeiro campo de batalha.
estava a poucos lugares de distância, e mesmo que ele estivesse em silêncio, mesmo que não tivesse falado mais do que um “bom dia” formal, eu sentia sua presença em cada parte de mim.
Vez ou outra, quando eu desviava o olhar para a tela ou para os slides no telão, sentia os olhos dele sobre mim. Era como um ímã invisível, puxando minha atenção. Eu não precisava confirmar — eu sabia.
Abaixei o olhar tantas vezes que perdi a conta. Tentava parecer ocupada com as anotações, mas o coração batia alto demais. Minhas mãos suavam.
Quando ele falou, finalmente, para dar uma opinião rápida sobre um dos conceitos sugeridos, minha garganta secou. A voz dele — que eu conhecia tão bem — soou tão controlada, tão profissional… mas ao mesmo tempo carregava algo que só eu percebia.
Entre um comentário e outro, eu o observava sem querer. O modo como ele mexia na manga do blazer, como passava a língua pelos lábios antes de falar. Detalhes que eu memorizei sem esforço naquela virada de ano, e que agora me deixavam sem chão.
Era como reviver tudo. Só que agora, entre tabelas, café frio e frases corporativas.
Fingir que nada aconteceu era o maior desafio da minha vida. E o pior é que, no fundo, eu sabia: ele também estava fingindo.
Tão bem quanto eu.
Ou tão mal quanto.
O relógio marcou onze e quarenta quando o chefe enfim encerrou a reunião.
— Obrigado a todos. Estamos empolgados com essa parceria. Tenho certeza de que será um sucesso.
Todos começaram a se levantar com sorrisos educados, os sons das cadeiras arrastando-se pelo piso polido se misturando a frases formais de despedida.
Meu coração estava disparado como se a reunião estivesse apenas começando. A tensão acumulada nos meus ombros parecia pesar o dobro, e eu só queria sair dali antes que minha fachada de profissionalismo escorregasse por entre os dedos.
Selena se inclinou ao meu lado, sussurrando:
— Você foi perfeita. Respira agora, tá?
Assenti em silêncio, forçando um sorriso enquanto ajeitava a caneta e os papéis que estavam à minha frente.
Pelo canto do olho, vi se levantando. Ele conversava com um dos membros que não sabia direito o nome ainda, os dois trocando algumas palavras baixas enquanto cumprimentavam nosso chefe. Tudo normal. Formal. Profissional.
Mas então, como se movido por algo involuntário, ele olhou em minha direção.
E, pela primeira vez desde que entrou naquela sala, nossos olhos se prenderam por mais de dois segundos.
Não houve sorriso.
Não houve aceno.
Mas teve alguma coisa. Um silêncio. Um peso. Um olhar que dizia tudo o que a boca não ousava pronunciar.
Engoli em seco e desviei, abaixando a cabeça como se estivesse muito preocupada em guardar os papeis dentro da pasta.
chamou meu nome, e eu aproveitei para pegar minha bolsa e me erguer com uma pressa cuidadosamente disfarçada.
Todos começaram a se despedir formalmente — apertos de mão, reverências, sorrisos protocolares. Me aproximei da saída com Selena e logo atrás. Eu queria sair logo. Respirar. Esfriar o rosto.
Mas, no fundo, eu sabia: aquela foi só a primeira de muitas vezes.
E da próxima, talvez não tenha como eu fingir tão bem.
’s POV:
— Acho que nunca trabalhamos com publicitárias tão bonitas quanto essas. Vamos precisar nos concentrar. — gargalhou junto dos outros quando nossos pratos chegaram na mesa do restaurante.
— A morena de franjinha é minha! — passou os olhos por todos nós, como se nos desse um aviso.
— Gostou de qual? — passou um dos braços pelos ombros de , entrando na brincadeira.
— A loirinha, né? Tenho uma queda por loiras e vocês sabem disso!
Risos e mais risos, enquanto eu encarava um ponto qualquer da parede, estático, sem reação.
— E você ? Eu bem vi você olhando para uma delas várias vezes e tentando disfarçar. Nosso maknae não brinca em serviço… — colocou a mão em meu ombro direito.
Continuei em silêncio por um instante, tentando manter o olhar fixo no prato ainda intocado à minha frente. Como se respirar fundo fosse o suficiente para impedir a verdade de subir até a superfície.
— Deve ser porque ela tem o mesmo nome da garota da casa de praia, né? — completou com um riso debochado. — Coincidência demais… , não era?
Meu maxilar travou. Era agora ou eu continuava fingindo pra sempre.
Levantei o olhar devagar, sem sorrir, sem rebater.
— Não é só o mesmo nome.
Eles pararam de rir. Todos. Como se a mesa tivesse congelado de repente.
— É ela. — minha voz saiu baixa, mas firme. — Ela é a garota da casa de praia.
Silêncio. Um silêncio denso o suficiente para preencher todo o restaurante.
arqueou as sobrancelhas, arregalou os olhos e se recostou na cadeira, piscando como se tivesse levado um soco no rosto.
— Você tá falando sério? — perguntou, com a testa franzida.
Assenti, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos.
— Eu soube no instante em que ela me olhou. Não tinha como ser outra pessoa.
E naquele momento, pela primeira vez desde a virada do ano, eu disse em voz alta:
— voltou. E agora… vou ter ter que lidar com isso.
— Cara… — passou a mão pelo rosto, ainda em choque. — Isso parece roteiro de dorama.
— Parece pesadelo, isso sim. — murmurei, soltando um suspiro pesado.
— Você não tinha o número dela? — perguntou , mais sério. — Por que não se falaram depois daquela viagem?
— Porque eu fui um idiota, talvez. — confessei, encostando na cadeira, encarando o teto por um momento. — Eu pensei em mandar mensagem… várias vezes. Mas o tempo foi passando, o orgulho falou mais alto.
— E você achou que ela te esqueceria? — arqueou uma sobrancelha. — Do jeito que falou sobre aquela noite…
— Não achei nada. Eu só... — respirei fundo, tentando organizar o caos que era a minha mente naquele momento. — Eu só fiquei com medo de ela não sentir o mesmo. De parecer ridículo.
Os meninos trocaram olhares, e por um instante, ninguém disse nada. Até que , sempre mais direto, falou:
— Bom, agora ela tá de volta na sua vida. E vocês vão ter que trabalhar juntos. Vai fazer o quê? Fingir que nada aconteceu?
— Já tô fazendo isso. — respondi, dando uma risada seca. — E tá sendo um inferno.
A imagem dela, sentada lá na sala de reuniões, com a postura impecável e o olhar que me atravessava mesmo quando fingia ignorar minha presença, ainda queimava na minha memória.
— Ela tava linda, né? — comentou, mais baixo. — Confessa.
Fechei os olhos por um segundo.
— Sempre foi.
A mesa ficou em silêncio outra vez, até que soltou:
— Você ainda sente algo por ela.
Abri os olhos devagar, sem negar.
— Não é como se desse pra desligar o que aconteceu.
apoiou os braços sobre a mesa e me encarou com um meio sorriso.
— Então, meu amigo, você tem duas opções: seguir fingindo que nada existiu… ou ir atrás dela e descobrir se ainda existe alguma coisa.
E naquele momento, pela primeira vez em semanas, eu soube que fugir não era mais uma opção.
Continua...
Nota da autora: Muito apaixonada pela Mia e pelo Jongho, quero desenvolver mais os meus chuchus. Essa história é a continuação de At Midnight do especial de fim ano.
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