Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: Novembro/2024.O médico da família Costanzo, Dr. Almeida, deixou o quarto com um pesar evidente nos olhos. Pai e filha ficaram sozinhos, imersos em um silêncio carregado de emoção. Sem palavras, o Sr. Costanzo aproximou-se da filha e a envolveu em um abraço apertado. afundou a cabeça no ombro do pai. Aquele abraço era seu porto seguro, o único lugar onde se sentia protegida do mundo.
Oliver não precisou entrar para entender o que havia acontecido. A culpa o corroeu por dentro. Se ele não tivesse evitado a discussão de ontem, e se tivesse chegado mais cedo…, talvez tudo tivesse sido diferente. Baixou os olhos, a imagem da última vez que a viu, sorridente e cheia de vida, o assombrou. Não se achou digno de estar ali, de presenciar a dor que ele, de alguma forma, havia contribuído para causar.
A luz suave da tarde filtrava pelas cortinas, criando um halo dourado em torno da cama. O ar do quarto estava carregado de emoção, um misto de tristeza e resignação. O único som era o soluço contido de .
O sol da tarde filtrava pelas janelas do café, pintando de dourado as xícaras de porcelana. observava a rua movimentada, seus olhos estavam distantes, perdidos em lembranças. Dez anos se passaram desde aquele dia. O pai, como sempre, estava ali para ela, seu porto seguro em meio à tempestade.
— Como você está? — A voz grave e doce do mais velho adentrou os ouvidos dela, arrancando um sorriso breve. olhou para ele, os olhos brilhando. Um sorriso fraco curvou seus lábios, mas a tristeza em seu olhar era evidente.
— Estou bem, pai. Sabe que não precisava ter vindo. — Ela tentou soar despreocupada, mas sua voz saiu fraca e trêmula.
Sentados em uma pequena mesa ao ar livre, seu pai apenas apertou sua mão em resposta. Ele sabia que ela não estava bem e que nenhuma palavra poderia apagar a dor que ela carregava dentro de si. A lembrança da perda era um peso constante em seu peito.
— Por um acaso… você já a abriu? — perguntou, parecia um tanto receoso. desviou o olhar, fingindo desinteresse. Suas mãos se fecharam em punhos sob a mesa, revelando a tensão que a consumia.
— O quê? — perguntou, mas sabia exatamente sobre o que seu progenitor falava. Ele apenas a encarou. — Se está falando da carta do Oliver, joguei fora já faz tempo. — A mentira escorregou pela sua língua como algo amargo. Tamborilou os dedos nervosamente na mesa, enquanto seu coração acelerou no peito.
A carta foi a última coisa que Oliver deixou antes de ir embora, um bilhete de despedida rabiscado em uma folha de caderno. Talvez ali estivesse a resposta para todas as suas perguntas, a explicação para o porquê ele a havia deixado sem uma palavra. Era a última lembrança que ela tinha dele, um fragmento de um amor que se desfez em suas mãos.
A ideia de destruí-la a atormentava há anos, mas a verdade era que não podia se dar ao luxo de reviver aquela dor, aquela sensação de abandono que a consumia desde então. A carta repousava no fundo da gaveta, esquecida, mas não abandonada. Às vezes, nos momentos de maior solidão, a tirava e a acariciava com a ponta dos dedos. O papel, amarelado pelo tempo, emanava um leve perfume que a transportava de volta ao passado. Era como se a cada toque, uma nova ferida se abrisse em seu coração. A letra de Oliver, elegante e firme, parecia quase a acusar, a lembrar de todas as promessas quebradas e os sonhos desfeitos.
— Filha? — Sr. Costanzo a chamou, sua voz suave cortou o silêncio. estava perdida em pensamentos, revivendo memórias não tão felizes. A xícara de café esquentou em suas mãos, mas ela mal notou. Só quando sentiu o toque gentil do pai em seu braço, voltou à realidade.
— Sim! — respondeu, forçando um sorriso. Bebericou o ristretto, sentindo o líquido quente percorrer sua garganta. Pegou um pão de queijo da cesta recém-chegada e mordeu com força, tentando disfarçar a tensão que a consumia. Por um momento, a imagem de Oliver a invadiu, e ela fechou os olhos com força, tentando afastar aquela lembrança dolorosa. Ao abri-los novamente, a determinação havia substituído a tristeza.
— Lhe contei que vou para Paris? — disse, a voz um pouco mais alta do que o normal, como se precisasse convencer a si mesma daquela decisão. A ideia da viagem era como um raio de sol em meio à tempestade, algo que a impulsionava a seguir em frente.
O pai a observou com carinho, notando a luta interna da filha. Franziu o cenho, mas entendia os motivos de sua caçula. A viagem era mais do que apenas uma aventura; era uma forma de recomeçar, de deixar para trás as feridas do passado.
— Então finalmente se decidiu? — perguntou, seu olhar transmitia apoio e compreensão.
assentiu com a cabeça, um nó se formou em sua garganta. Paris, a cidade do amor e da luz, seria o palco de um novo capítulo em sua vida. Um capítulo em que ela poderia escrever sua própria história, livre das sombras do passado.