Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: Outubro/2024.— Nem fodendo que você vai dormir nesse escritório hoje. Eu não seria seu amigo se deixasse você fazer isso em plena sexta-feira!
O olhei sem ânimo algum. Gostaria muito de saber de onde esse homem tira tanta energia. Bom… ele não está preso a um relacionamento frustrado, então é claro que é feliz. Sorri com desgosto.
— Tudo bem, hoje não vou negar. Vamos a esse bar onde tanto quer me levar — falei, me dando por vencido. Há muito tempo ele vem me chamando, mas nunca tenho ânimo. Talvez o almoço tenha me deixado empolgado, mesmo que só um pouco.
— É assim que se fala! Vamos tirar esse terno e essa gravata. Nada de formalidades, sei que você tem algumas calças mais esportivas aqui… Estou te dando apenas vinte minutos para se trocar e me encontrar lá embaixo, Yamato irá conosco.
Obito saiu sorrindo. Acredito que ele já havia bebido algo, estava alegre demais. Mesmo sendo essa uma característica do meu melhor amigo, acredito que agora estava um tanto exagerado. Sorri, balançando a cabeça negativamente e fui me trocar.
Demorei um pouco mais do que vinte minutos para descer. Fiquei pensando se realmente deveria fazer isso. Após me olhar no espelho pela milésima vez e me achar um verdadeiro ridículo com essa calça jeans, que Akemi havia comprado para mim. Segundo ela, eu precisava ficar mais apresentável quando saísse com ela — minha filha é uma piadista. Finalmente desci, encontrando os dois encostados no carro. Obito estava com uma long neck na mão e Yamato com as chaves do carro.
— O homem de madeira aqui vai ser o motorista da noite — informou Obito.
— Já disse para não me chamar assim — ralhou o mais novo.
Yamato era alguns poucos anos mais novo que Obito e eu, estando na casa de seus 26 anos, enquanto eu e Obito estávamos na casa dos 30 e poucos anos, mas ele não ligava para isso, no entanto, odiava o apelido que foi lhe dado uma certa noite, quando ele tentou dançar com uma menina em um bar e parecia um boneco de madeira todo duro. Obito não perdoou e zoa ele até hoje.
Entramos no carro e rapidamente chegamos ao tal bar, que, na verdade, era uma boate de luxo no centro de New York, fuzilei o Uchiha. “Sabia que não devia ter vindo, não tenho mais idade para isso.” Como se soubesse meus pensamentos, Obito me agarrou pelos ombros e me empurrou para entrada. Uma fila enorme se fazia do lado de fora, mas passamos longe dela. Meu amigo conhecia todo mundo, principalmente os seguranças, e isso, aliado a outras coisas, sempre o deixava em uma situação confortável. Entramos e nos dirigimos direto para o segundo andar. Disse ele que era a área VIP, como se eu ligasse, minha vontade mesmo era pegar meu livro e me aconchegar no confortável sofá do escritório. Entretanto, ali estava eu; e com toda certeza não me permitiriam ir embora, não tinha outra escolha a não ser beber para ver se a noite ficava melhor.
Obito não fazia mais ideia nem do que falava e eu achei que era melhor ir embora. O relógio já marcava 03:30 da manhã e, mesmo bebendo, ainda não me sentia bem naquele local. Levantei-me para ir ao banheiro, informando a Yamato minha decisão.
— Claro, vou levar Obito para o carro. Te encontro lá — falou ele. já se levantando.
Assenti e caminhei na direção do toalete, foi quando eu vi os cabelos rosas balançando de cabeça para baixo no pole dance, mas era nítido que não trabalhava ali, pois estava vestida demais. Usava um short preto, com alguns brilhos e uma regata larga. No exato momento em que virou de cabeça para baixo, o pano escorregou levemente para fora de seu corpo, expondo o sutiã preto de brilho, que manteve oculto os seios medianos, que, devo confessar; fiquei com vontade de ver. Perdi a noção do tempo enquanto a olhava se exibir sem um pingo de vergonha e um sorriso enorme na face. Desejei sorrir daquela forma.
Notei que seu olhar era sempre direcionado a uma mesa do lado esquerdo, olhei na mesma direção para saber quem era digno de tamanha atenção e vi duas garotas, uma de longos cabelos negros, presos a um rabo de cavalo alto, e outra loira, com uma franja que cobria seus olhos. “Devem ser amigas" pensei, sentindo um alívio tomar meu peito, foi então que me dei conta que essa garota, em meio a tantas outras mulheres, havia me chamado atenção de uma forma diferente… Sorri com isso.
“Ela deve ser uma criança, não inventa, Kakashi” me repreendi, rindo e balançando a cabeça negativamente, voltando a olhá-la no exato momento em que ela me olhou e sorriu. Não consegui me conter e sorri de volta, fazendo um leve comprimento com a cabeça, o qual nem havia me dado conta de ter feito, até que ela o retribuiu.
A menina de cabelos cor de rosa veio em minha direção sem tirar o sorriso dos lábios. Fiquei nervoso, achando que ela viria falar comigo, mas a rosada passou direto, falando algumas palavras enquanto andava.
— Gostou do show? — A segui com o olhar, ela parou, olhou para trás e me pareceu que estava me convidando a segui-la… Franzi meu cenho e apontei para mim mesmo, questionando se era isso mesmo, e ela confirmou com um sorriso e um imperceptível acenar de cabeça. Ainda sem entender, fui até ela, sendo guiado até um sofá um pouco mais afastado, no qual ela se jogou, colocando a cabeça para trás, abrindo os braços e cruzando as pernas. E que pernas!
— Não vi sua foto no site… — começou ela, mas continuei sem entender, no entanto, sentei ao seu lado. Um perfume floral adentrou minhas narinas e eu quis sentir mais desse aroma maravilhoso. — Mas também seria injusto com os outros. Sendo tão lindo assim, eles nem teriam chance… — ela continuou falando. — Bem, mas já que estamos aqui, como você vai querer?
Unifiquei as sobrancelhas em questionamento. Do que exatamente aquela garota estava falando? Intrigado com o assunto, perguntei:
— Como eu vou querer o quê? — A rosada ergueu a cabeça e me encarou.
— O contrato? — Sorriu, me olhando nos olhos, e claro que notou minha cara de quem não fazia ideia do que ela estava falando.
— Você não é um Daddy, né? — perguntou, sorrindo, e balancei a cabeça, negando. Sua mão tocou minha face e ela me deu selinho. Sei que devia ter impedido isso, afinal, estando em um mau casamento ou não, eu ainda era casado, e essa de fato era a primeira vez que outra boca tocava meus lábios desde que me casei, há doze anos. Desejei mais de seus lábios macios. — É uma pena! — A rosada fez menção de levantar-se, mas a impedi.
“Mas que droga eu estou fazendo?” Pensei, sem conseguir desviar meu olhar. Um sorriso doce e acolhedor se formou nos lábios naturalmente vermelhos da mulher à minha frente e, hipnotizado, me esqueci completamente como pronunciar as palavras, ficando totalmente mudo.
— Se você quiser, pode me ligar. Não vou escolher um Daddy hoje, ninguém me agradou tanto quanto você, mas não vou esperar para sempre.
Ela me entregou um cartão rosa com o mesmo cheiro floral que vinha dela e foi embora. Permaneci estático por um tempo, sem entender muito bem o que tinha acontecido, até que meu celular vibrando no bolso de trás do jeans tirou-me dos devaneios. Nem eu sabia o que tanto se passava em minha mente.
— Devo estar ficando maluco!
— E por que você estaria ficando maluco? — Obito entrou em minha sala e eu rapidamente me desfiz do cartão, o jogando no lixo.
— Por nada! Já está na hora da reunião? — perguntei, me levantando. O Uchiha ergueu uma sobrancelha, parecendo desconfiado, e ajeitei o terno, tentando disfarçar. — Vamos logo. — Caminhei em direção à porta. Saindo da sala, quando cheguei ao elevador, Obito vinha correndo em minha direção. — O que houve? — Franzi o cenho.
— Nada! — Me olhou, ainda parecia desconfiado, então desconversei.
— Pegou as atas para apresentação? Espero que não demore muito.
— Tem alguma coisa muito importante para fazer? — perguntou ele.
— Não! Só quero que acabe logo! — A porta do elevador abriu e saí. — Esse cara tem cada uma!
— Eu esqueci um documento, subo em cinco minutos — Obito falou, um pouco mais alto, já que eu me encontrava mais distante. Concordei com um aceno de cabeça e segui meu caminho.
“Ele sempre esquece algo, ou se atrasa, esse é o Obito!"
Sorri e entrei na sala para reuniões. Tudo seguiu tranquilamente, entretanto, demorou mais do que gostaria. Já era hora do almoço, quando o último acionista deixou a sala, ficando apenas meu amigo e eu.
— Então, vamos almoçar. Queria ir àquele restaurante no Empire State, faz tempo que não vamos lá, que tal? — O Uchiha olhou o relógio. — Acho que ainda dá tempo de fazer a reserva pelo caminho.
O olhei com estranheza. Obito não é de almoçar, sempre come qualquer coisa na sala mesmo para poder sair mais cedo. E hoje quer almoçar em um restaurante?
— O que você está aprontando Obito? — perguntei, o encarando.0
— Nada, não posso querer almoçar com meu amigo que está passando por uma situação difícil na vida? — falou, dissimulado.
— Só se eu não te conhecesse há anos que iria cair nesse papinho — falei, no caminho de volta à minha sala, tendo ele ao meu lado.
Obito Uchiha
Observava Kakashi revirar um cartão cor de rosa entre os dedos. De tão absorto que estava em seus pensamentos, ele ainda não havia percebido minha presença em sua sala. Fiquei me perguntando o que teria naquele pequeno pedaço de papel que fez meu amigo, tão centrado e perceptivo, ainda não ter me notado? Decidi fingir que acabei de entrar e o vi jogar o papel no lixo, fingindo que nada tinha acontecido… “Isso tem cheiro de mulher”, pensei feliz!
Sei que é horrível eu pensar em um homem casado com outra mulher, mas depois do que descobri sobre Shizune, a esposa do meu melhor amigo, o qual fui padrinho de casamento, eu com toda certeza vou ficar feliz se ele encontrar outra pessoa que o tire desse mar de trabalho no qual ele está enfiado há mais de cinco anos. Quando percebeu que sua querida — note o sarcasmo nesta última palavra — esposa não lhe daria o divórcio sem arrumar um problema antes, ele, prezando por sua filha, minha afilhada, permaneceu em um casamento frustrado, que já não era consumado há muito tempo da forma que se deve. Então, sim, se aquilo fosse mulher — e meu faro nunca me enganava —, eu ficaria feliz em dar uma mãozinha.
Demorei um pouco mais em sua sala após ele sair e pesquei o cartão cor de rosa na lixeira vazia — meu amigo às vezes é muito lerdo, esconder algo rosa em um balde preto —, balançando a cabeça negativamente. Surpreendi-me ao ver o nome do site “Paradise Garden”, pois eu sabia ser de uma agência de Sugar babies, pois era o mesmo que Madara, meu sócio na empresa da família, encontrou sua baby, e mesmo que para ele ter uma baby não esteja sendo uma boa, pois a garota tira o Uchiha mais velho do foco, para Kakashi será diferente. Se for uma tão boa quanto Hinata, vai dar vida ao meu velho amigo! Sorri de canto e disquei o número exibido ali, em alto relevo.
Kakashi Hatake
— Precisamos conversar sobre Shizune — falou o Uchiha.
Já nos encontrávamos no restaurante, em uma mesa na área aberta, de onde podíamos ver toda a cidade.
Quando vim trabalhar fora da minha cidade, Tóquio, a pedido do meu amigo, para dirigir o negócio da família Uchiha, a qual me acolheu com carinho após a morte de meu pai quando eu era uma criança, nunca imaginei que me apaixonaria por esse local da forma como me apaixonei. New York é linda de todas as formas e ângulos que se pode imaginar e tem os mais variados tipos de pessoas aqui, as quais sempre me surpreendem de uma forma boa. Nunca me arrependi, até que meu casamento começou a desandar. Shizune culpava essa mudança, pois alegava que estava longe de sua família e Akemi não podia ter um contato com os avós da forma que deveria. No início, me sentia muito culpado por isso e até deixei tudo aqui por um tempo e voltei para Tóquio, mas acabei percebendo que em qualquer lugar que fôssemos nada mudaria o fiasco que era nossa união, então, em menos de um ano, voltei e assumi a direção da firma de advocacia na cidade.
Mesmo que ela se recusasse a me dar o divórcio, aqui as coisas eram diferentes, eu tinha muito trabalho e por isso não tinha tempo para as besteiras que ela falava e muitas das vezes dormia no escritório para evitar brigas. Era mais cômodo para mim.
— O que tem ela? — perguntei, após beber um pouco do vinho branco que acabou de ser derramado em minha taça.
— Kakashi, tenho hesitado muito para te falar. Mesmo pensando que talvez você já saiba, não deixa de ser uma situação delicada. — Bebeu um gole do vinho em sua taça.
— Para de enrolar, Obito! — falei cansado. — Não vai pedir nada?
— Ainda não, quero te falar isso primeiro. — O Uchiha olhou no relógio. Estava bem preocupado com a hora, algo que também era estranho, já que nunca foi muito pontual em nada. Logo após, suspirou e me encarou. Eu meio que já sabia o que vinha pela frente, havia desconfiado que minha esposa vinha me traindo há um tempo, todavia, como não tinha provas, prefiria me manter calado e acreditava que ele tivesse descoberto algo, pois, quando lhe contei sobre minhas desconfianças, me disse que iria investigar. Mesmo que Obito não me dissesse nada sobre isso, sabia que ele tinha trabalhos “extracurriculares” com seu primo Madara Uchiha, do qual eu não gostava nem um pouco, e, por isso, tinha contato em todos os lugares.
— Então fale!
— Sua desconfiança estava correta! Shizune vem te traindo com Ebisu. Tenho provas se quiser ver.
Ele puxou do bolso um envelope pardo, que, acredito eu, conteria as fotos comprovando a traição. Passei os dedos por cima do papel, mas não o peguei, por mais que quisesse, pois aquilo me livraria do escândalo que ela sempre ameaçava fazer. Eu poderia calar a boca dela, dizendo que mostraria as fotos aos advogados, e ela ficaria sem nada se abrisse aquela boca grande, mas, de imediato, pensei em minha filha, no quanto ela sofreria sabendo aquelas coisas sobre a mãe. Mesmo que minha pequena Akemi fosse inteligente para saber bem a mãe que tinha, eu não queria que ela sofresse com algo assim.
— Não tenho por que ver isso. — Empurrei lentamente o envelope de volta para ele.
— Você pode ganhar um divórcio sem complicação com essas provas.
— Eu sei, mas tenho que pensar em Akemi.
— É claro, eu entendo. — Obito ficou quieto, mas eu senti que ele queria falar algo mais.
— Fala logo o que você está se corroendo para falar.
— Não é nada! — falou, sem me encarar.
— Tá bom, como se eu fosse acreditar nisso.
— Quer saber… Se ela está te traindo, sendo feliz, porque eles parecem bem felizes nessas fotos, qual o problema em você ser também? Por que você tem que ficar se prendendo, se mantendo fiel a um relacionamento que já acabou há anos?
— Bom… Eu fiz um voto, sabe que gosto de cumprir com minha palavra.
— Sei que você gosta de ser um idiota, isso sim — falou ele, rindo sem muita vontade. Nem fiz questão de olhá-lo, permanecendo com meus olhos fixos no cardápio, que ele ainda nem havia tocado.
— Além do mais, não tem ninguém que me interesse.
— Isso aí é uma tremenda mentira. — Notei que sua voz saiu com um sorriso e o encarei, franzindo o cenho, pronto para perguntar o que ele estava aprontando, quando uma voz doce, que eu sabia bem de quem era mesmo tendo a escutado apenas uma vez, adentrou meus ouvidos.
— Boa tarde, rapazes! Como estão?
O perfume floral, que eu vim descobrir ser de cerejeira, adentrou minhas narinas e eu me vi exatamente como estava na boate, sem ação. Olhei para cima e seus olhos verdes como esmeraldas me fitavam. A boca bem desenhada curvou-se em um sorriso simples, que aqueceu meu coração. Novamente, eu não sabia como usar as palavras, e um silêncio ficou entre nós, até que Obito se levantou e falou:
— Estamos muito bem. Você deve ser a Cerejeira? Sente-se aqui por favor. — Ele se levantou. — Eu sou Obito, melhor amigo desse cara aqui, que está tão estático com sua beleza que não sabe o que dizer. É um prazer te conhecer.
— Pode me chamar de Sakura — falou a rosada, sentando no lugar que lhe foi oferecido.
— Sakura! É um belo nome. — Uchiha olhou o relógio e fingiu que tinha que sair, se despedindo em seguida. — Infelizmente, não vou acompanhar vocês, lembrei de um compromisso urgente na empresa. Me desculpem, preciso ir. Seja feliz, amigo, você merece! — falou ele para mim, antes de sair, sem me dar tempo de lhe dar uma boa resposta.
Olhei para Sakura sem saber o que fazer. Eu vou matar o Obito!
— Pela sua cara, acredito que você não sabia que eu viria. Sinto muito! Ele disse ao telefone que você estava em uma reunião e tinha pedido que te encontrasse aqui. Se você quiser, eu vou embora, não tem problema algum.
— Não, tudo bem… — falei com urgência, antes que ela se levantasse. Eu queria sua companhia, é claro que queria, até mais do que eu podia sequer imaginar. E que mal havia em um almoço?
— Não sou muito de ficar constrangida, mas seu olhar está conseguindo me deixar desse jeito.
Pigarrei um pouco sem jeito, nem havia me dado conta do que estava fazendo, até sua voz me despertar.
— Desculpe…
Sakura riu e pôs uma mecha de seu cabelo rosa atrás da orelha.
— Esse lugar é muito lindo! — falou, no intuito de iniciar uma conversa, mas apenas consegui rir e concordar.
“Estou muito enferrujado mesmo”, pensei e fechei o cardápio, chamando o garçom. “Ela é apenas uma garota, para de ser um idiota”.
— Por que rosa? — Finalmente abri a boca para falar algo diferente de "sim, não, ou desculpe", e apontei para os cabelos.
— Queria ser diferente. Nesse meio, é preciso ter um diferencial que chame atenção. — Deu de ombros, enquanto explicava. — Como eu já gostava da cor, achei que seria meu diferencial. — Abriu um sorriso doce e, mais uma vez, me vi envolvido demais, voltando a mim somente quando o garçom veio atender meu chamado.
— Senhor Hatake…
— Por favor, me chame apenas de Kakashi.
— Claro, Kakashi. Não me parece muito confortável.
— De fato, não estou… — Pensei em lhe contar que era casado, mas achei informação demais, e estamos apenas almoçando, não vamos sair daqui para um motel.
— Nestas situações, pense que é apenas um negócio, pois, de fato, é o que é: um negócio. Afinal, assinamos um contrato com cláusulas bem específicas, como em qualquer outra empresa — falou, de forma bem simples. Eu apenas sorri.
— O que vai querer? — perguntei, pensando em suas palavras. Não tenho problema com contratos, tenho muitos com várias empresas, esse seria só mais um. Comecei a pensar sobre o assunto.
“Mas que droga que estou fazendo. Não vou ser um Sugar Daddy. Obito que teve a brilhante a ideia de trazê-la aqui, não tenho que aceitar nada.”
Sakura fez seu pedido e o almoço seguiu sem muitos desafios. Sua beleza ainda me hipnotizava, mas estava me saindo bem. Depois de um tempo, comecei a perceber que era fácil falar sobre qualquer coisa com ela, o assunto simplesmente fluiu, e eu gostei dessa sensação, era boa. Há muito tempo não me sentia tão confortável para falar sobre qualquer coisa com alguém.
— Eu entendo sua posição, Kakashi. É um homem casado, pai, mas ter uma Baby não significa que você precisa transar com ela. Pode ser apenas uma companhia para conversar, nada mais.
— Eu sei, não quero que me entenda de forma errada, mas… — suspirei. — Não é que eu não tenha gostado da sua companhia, eu gostei e muito. — Precisava deixar isso bem claro para ela, não queria que pensasse que estava lhe taxando de algo errado, pois isso era algo que eu jamais faria.
O garçom chegou com a conta e paramos com o assunto, em seguida nos dirigimos para fora do restaurante.
— Você não precisa me explicar, eu realmente entendo sua posição. — Ela ajeitou a pequena bolsa no ombro e se preparou para chamar um táxi.
— Espero que possamos almoçar novamente, como… amigos… — falei um tanto receoso. Gostaria de poder ter uma amizade com ela, mas não vou entrar nessa. Daddy, isso não é para mim, e se Shizune descobre… melhor nem pensar. O táxi estacionou e abri a porta para ela. Sakura sorriu e entrou sem dizer mais nada.
Voltei para o escritório, entretanto, não consegui mais trabalhar, a visão de Sakura sorrindo e me explicando sobre o que é ser um Daddy não saía da minha cabeça. Seu perfume floral parecia ter impregnado em minhas narinas e não tive mais cabeça para trabalhar.
“Ter a companhia dela para almoços informais seria uma boa opção”, pensei, mas logo sacudi a cabeça na vã tentativa de dissipar tais ideias.
— Não acredito que estou cogitando aceitar a opção que a rosada me deu. Acho melhor ir para casa.
Levei as mãos ao rosto e sorri, eu realmente estava ficando maluco.
— Chegou cedo — falou Shizune, assim que entrei em nosso apartamento.
— Pensei que fosse para Tóquio — comentei, passando por ela e me dirigindo ao segundo andar para o meu quarto. Precisava tomar um banho e me afastar de minha esposa. Essa tarde havia sido muito agradável para estragar com uma discussão sem sentido.
— Não, decidi ficar. Vou dar um jantar para os mais chegados hoje à noite. — Veio me seguindo. — Liguei para o escritório para que pudéssemos ir escolher o buffet juntos, mas me disseram que tinha ido almoçar com Obito.
— Sim, fomos ao restaurante favorito dele. Fazia muito tempo que não íamos até lá, e ele estava animado — expliquei por alto o ocorrido, sem parar de fazer minhas coisas.
— Eu sei, vi você, mas não vi o Obito.
Senti que sua voz saiu um pouco mais acusadora e sorri de lado. Não fiquei preocupado, afinal, não estava fazendo nada de errado, apenas conversando com uma cliente em potencial. Sou advogado, faço muito isso. Segui para o banheiro, tendo Shizune como sombra.
— Não se atrase para o jantar, nossos amigos chegarão em breve e...
— Vá ao jantar sozinha, estou cansando e não vou ficar posando, com um sorriso que sabemos que eu não tenho quando estou ao seu lado. — Minha esposa franziu o cenho.
Shizune sabia que odiava esses jantares que ela dava para mostrar a todos o quanto estávamos bem, algo que não era nem um pouco a verdade em que realmente vivemos. No entanto, até hoje, nunca havia lhe dito não. Assim como odiava os jantares, não suportava a ideia de estar na boca do povo. Akemi seria motivo de piada na escola, e eu poderia perder clientes com um possível escândalo. Por tal motivo, nunca rejeitei comparecer, mas hoje, surpreendendo até a mim mesmo, neguei. Não estava disposto a exibir mais um sorriso falso para pessoas que nem ligavam para meu bem estar, pois aqueles que se importavam comigo de verdade não eram nem convidados para tais eventos.
— Como assim você não vai? — falou a senhora Hatake, com indignação. — Não damos um jantar há anos, e nem vou comentar o fato de que não somos vistos juntos há meses. Isso não é nada bom para sua imagem, meu querido, estou fazendo isso por você. Afinal, tem um nome a zelar.
— Por favor, não finja que se importa comigo ou com minha reputação. Esse papel de esposa dedicada e preocupada só engana os de fora. Eu te conheço muito bem.
— Shin'ainaru Otto*, é claro que me preocupo com você…
— A única coisa que está te preocupando é o fato de ter me visto almoçando com uma bela cliente…
— Então agora ela é bela? — Sorriu com desdém.
— É sim, muito. E vá se acostumando, ela é uma cliente em potencial, talvez eu pegue o caso dela.
— Não, você não vai pegar.
Shizune falou confiante demais, e a vontade de falar que eu sabia de sua traição ficou entalada em minha garganta. No entanto, ouvi a voz de Akemi do lado de fora da porta do meu quarto e me contive.
— Entre, meu amor.
— Papai, chegou cedo!
— Sim, um cliente cancelou a reunião. — Dei-lhe um abraço.
— Sabe quem eu vi hoje? — falou minha filha, animada.
— Akemi, não seja inconveniente, seu pai e eu estamos conversando — Shizune a interrompeu, com rigidez.
— Estávamos, já finalizamos — falei e, mais uma vez, suas orbes negras me fuzilaram. Não me importei com isso, voltando a atenção para minha pequena.
— Quem você viu, filha? — perguntei, dando as costas à sua mãe.
— Oji-san Ebisu… ele veio de Tóquio.
Olhei para Shizune e vi seu olhar raivoso perder a cor, minha esposa evitou o contato e saiu do quarto com a desculpa de que tinha que ver os últimos detalhes do jantar.
— Realmente, tem muito tempo que não vejo Ebisu e ele é seu Goddofāzā*.
— Eu sei, mas ele é tão próximo da mamãe que até parecem irmãos, então é mais fácil chamá-lo de Oji-san.
— Eles são bem unidos mesmo, né?
— Sim, sempre que mamãe vai a Tóquio, eles ficam pra cima e para baixo juntos. Às vezes é chato, porque ele é muito sem graça, então eu prefiro ficar em casa.
Akemi riu de toda a situação.
“Ah, a inocência das crianças, quiçá todo ser humano não perdesse sua criança interior, acredito que o mundo seria um lugar melhor.”
— Você vai no jantar da mamãe? Ele disse que vai vir.
— O quê? — perguntei, incrédulo. Como Shizune ousou fazer isso? Trazer seu amante para nossa casa!
Tentei ao máximo não transparecer o quanto isso tinha me irritado. Normalmente, era um homem calmo e controlado, mas se eu visse esse homem perambulando por minha residência como se não tivesse acontecendo nada, eu não sabia o que faria…
— Papai? — Akemi me chamou, após meu longo silêncio. — O senhor está bem?
— Estou, meu amor. — Nos levantamos da cama onde tínhamos deitado. — Que tal fugirmos? Vamos ao shopping…
— Não posso, sempre que mamãe dá esses jantares, eu vou para casa da tia Kurenai ficar com a Miraí e já marquei com ela, vamos fazer uma festa do pijama.
— Hum… uma festa do pijama! Acho que vou me disfarçar de menininha e vou a essa festa com você, parece que vai ser muito boa. Que tal? — Coloquei uma parte do lençol sobre a cabeça e fiz uma cara fofa que tenho certeza que ficou ridícula, pois Akemi fez uma careta horrível.
— Não, pai, é só para meninas...
— Então está bom… — Rimos. — Neste caso, vá se arrumar que vou te deixar lá mais cedo — falei, me dirigindo ao banheiro, enquanto a pequena saía do quarto.
*
*
*
Saímos sem que Shizune percebesse, o que não era muito difícil, já que estava ocupada recebendo o buffet e sabia que Akemi iria para casa da amiga.
— O que você vai fazer, pai? — minha filha perguntou séria, e eu a olhei com estranheza.
— Não sei, meu amor, não quero ir para esse jantar chato. Talvez eu vá ver seu tio Obito e fique por lá até amanhã — expliquei.
— Pai, eu sei que seu casamento com a mamãe não está bem, mas você nunca deixou de ir aos jantares dela. Isso é estranho.
— Filha, eu sinto muito que tenha que passar por isso, mas vamos resolver da melhor forma por você, meu amor. — Parei o carro em frente à casa de Kurenai, e ela já nos aguardava na entrada. A cumprimentei rapidamente e, antes de Akemi sair, ela pegou em meu rosto e, olhando dentro de meus olhos, disse:
— Não tem que fazer as coisas melhorarem por mim, pai, tem que ser por vocês. Eu já estou bem grandinha para entender o que está acontecendo.
Confesso que fiquei sem palavras diante disso. “Quando foi que meu bebê cresceu tanto?”
— Não se preocupe, faremos o melhor. — Depositei um beijo no topo de sua cabeça, e ela saiu do carro.
Comecei a dirigir sem rumo. Quando dei por mim, estava no escritório. O prédio estava todo apagado, apenas a luz da portaria se mantinha acesa ao fundo da entrada principal. Segui para minha sala e me sentei na minha cadeira. Seria mais uma longa noite naquele sofá, pelo menos ele era confortável.
Abri a gaveta da mesa, onde tinha meu livro, e me deparei com o cartão rosa da “Cerejeira”. Sem perceber, um sorriso se formou em meus lábios e pensei: “por que não?” Dei de ombros, peguei o celular e liguei para Sakura.
— Kakashi?
Sua voz pareceu surpresa e fiquei sem graça. “Por Kami, o que estou fazendo?”
— Oi, Sakura, sim sou eu… está ocupada? Se estiver, posso ligar depois. — Me apressei em arrumar uma desculpa.
— Na verdade, não. Acabei de tomar banho, estava me preparando para pedir uma pizza e depois dormir.
— Dormir em plena sexta feira, às 20 horas? E as saídas com as amigas, onde ficam? — falei, querendo saber a verdade. Duvidava que uma garota tão bonita não tivesse nenhum compromisso em plena sexta à noite.
— Ao contrário do que possa parecer, eu adoro ficar em minha casa, assistir um filme, ou ler um livro. São meus hobbies favoritos — falou ela, rindo em seguida.
— Hum, você é mesmo uma caixinha de surpresas.
— Sou, sim. Mas e você, aconteceu algo? Não imaginei que fosse me ligar.
— Pois é… na verdade, nem eu, mas… tive alguns problemas, e, para não fazer uma besteira, fui dar uma volta, acabei aqui no escritório, vi o seu cartão e decidi ligar.
Não entendi bem o motivo do desabafo, mas, como eu havia dito, era fácil conversar com ela. Em um simples almoço, acabei contando sobre filha e casamento, algo que tinha dito que não iria fazer. Não era surpresa que querer me abrir por completo com aquela mulher deslumbrante que praticamente tinha acabado de conhecer.
— Olha, eu conheço um lugar que vende uma pizza maravilhosa. Podemos ir até lá… sem compromisso, só como amigos — sugeriu ela.
— Claro, me passa o endereço.
Não pensei duas vezes antes de aceitar, mais uma das coisas que não costumo fazer, sempre penso em tudo, principalmente em algo como encontrar uma mulher pela qual estou visivelmente atraído, deixando minha esposa sozinha no jantar dela. Ao lembrar disso, estava quase desistindo de ir, mas saber que o amante de Shizune estaria dentro de nossa casa… Liguei o foda-se e então estava ali, de frente a uma pizzaria bem simples no Brooklyn.
“Kami, eu vim para o Brooklyn! Não acredito nisso!”
— Oi! — Sakura apareceu alguns minutos depois. Não pude deixar de notar que, mesmo com roupas simples, pois usava um short jeans rasgado, um blusão xadrez sobre o um top preto e coturnos de couro surrados, ela ainda era linda de uma forma que eu não sabia explicar.
— Oi — nos cumprimentamos e entramos no pequeno local. Era rústico e com a luz um pouco fraca. Tocava uma música ambiente e o cheiro da pizza feita a lenha tomava todo o espaço, fazendo meu estômago me lembrar que a última vez que havia comido algo foi no almoço. — Esse lugar é mesmo bem legal — falei, ao me sentar.
— É, sim. Eu adoro! — Sakura chamou o rapaz que parecia ser o garçom, e ele rapidamente veio. Ambos conversaram por uns minutos, pareciam se conhecer bem, e logo ele saiu.
— Então você mora no Brooklyn? — iniciei a conversa.
— Pois é, meu lugar na maior parte do tempo.
— Como assim, na maior parte do tempo?
— Quando não estou com ninguém, é aqui que fico, no meu apartamento. Normalmente, os Daddies preferem que eu esteja mais perto do mundo deles, sabe, a Bela Manhattan.
— Entendi… — Fiquei quieto. A ideia de ver Sakura com qualquer outro homem não me caiu bem, todavia, não podia e nem iria falar nada, ela era dona da sua vida.
*
*
*
A noite estava sendo perfeita. Ficamos na pizzaria até que fechasse e conversamos sobre muitas coisas. Sakura me contou que fazia medicina, seu sonho era ser cirurgiã, me surpreendendo mais uma vez.
— Uma cirurgiã? Isso é muito interessante — falei, após engolir mais um pedaço de pizza.
— Meu sonho desde que era uma menininha. Após a morte da minha mãe, eu jurei que salvaria vidas. — Seu sorriso ainda era belíssimo, embora tenha visto uma sombra de tristeza sobre ele.
Sakura não falou muito da família, pareceu ser um assunto delicado, e eu não insisti. Não tínhamos por que falar de coisas ruins que nos deixariam para baixo.
Então falamos dos nossos sonhos, e eu enchi o saco dela falando sobre Akemi.
— Parece ter muito orgulho da sua filha.
— E tenho mesmo, ela é meu mundo! — Sorri.
A conversa era tão boa que nem nos demos conta do horário, até que o rapaz que nos servia a pizza informou que iriam fechar e, para nossa tristeza, tivemos que ir embora.
— Kakashi, é sério, não precisa me levar para casa. Moro bem pertinho daqui.
— Nem mais uma palavra, não vou te deixar ir sozinha, são quase meia noite… — Dessa vez, eu insisti, e ela aceitou. Paramos de frente a um prédio rústico, o qual ela disse ser o seu endereço. Ficamos em silêncio por um tempo, até que Sakura se despediu.
— Bom, então adeus.
— Não, adeus é muito forte. Podemos almoçar qualquer dia, que tal? — falei, de forma espontânea. Realmente, não sabia o que acontecia comigo quando estava com aquela rosada; era outra pessoa e gostava disso.
— Não, Kakashi. Acredito que não poderemos mais sair, nem como amigos.
— E por que não? — perguntei, sem entender e sentindo meu coração apertar.
— Eu sou uma Baby. É estranho falar isso, mas esse é o meu trabalho, e amanhã vou assinar um contrato. Venho conversando com esse Daddy há um tempo e, agora que voltou de viagem, ele me procurou. É um dos que gostam de exclusividade. Posso ter meus amigos da faculdade, nada que me proíba de ser eu mesma, mas não seria legal eu ficar encontrando alguém que poderia ter sido meu Daddy.
A rosada explicou sua situação e, por mais que essa ideia me tirasse o chão, apenas assenti e ela saiu do carro.
— Foi muito bom conhecer você — falei, antes que ela se fosse.
— Também acho! — Sakura sorriu e entrou no prédio. Ainda fiquei alguns minutos ali parado, não acreditava que nunca mais poderia ouvir sua voz doce, mas assim era a vida.
Não consegui pensar em mais nada depois do que Sakura me disse, acabei indo para casa. Quando cheguei, o jantar já havia terminado e Shizune estava dormindo, pois tudo estava silencioso. Passei direto, me dirigindo ao meu quarto — sim, dormíamos em quartos separados. Tomei um banho e me joguei na cama. Havia estado com essa garota apenas um dia, mas não conseguia mais imaginar minha vida sem sua risada, me encontrava em um beco sem saída.
Tinha feito um juramento no dia de meu casamento de ser fiel, contudo, agora estava totalmente atraído por uma garota de 22 anos, que habitava minha mente com seu sorriso solto toda vez que fechava os olhos…
— Kami-sama, o que eu faço?
— O que faz sobre o quê? — Shizune apareceu na porta do quarto.
Shizune se aproximou, acariciando meu rosto. Seu toque era macio e eu era um homem que estava há muito tempo sem o toque e gosto de uma bela mulher. Minha esposa podia ser um poço de frieza e ter um leve desequilíbrio mental, porém não tinha como negar que era uma mulher belíssima e possuía um toque macio e desejoso. Seus beijos desceram por meu pescoço e suas mãos já estavam no cinto da minha calça quando as segurei.
— Vá embora, Shizune — disse calmamente, segurando seus pulsos e afastando suas mãos do meu corpo, que estava quente.
Cada fibra clamava por mais desses toques, no entanto, outras bem mais fortes do que um simples desejo carnal gritavam para que ela se afastasse e assim o fiz, me levantando em seguida.
— Kakashi, não nos tocamos há meses e agora, quando finalmente temos a casa só para nós, você me afasta. Não compareceu ao jantar, coisa que nunca fez mesmo que não gostasse... tudo me leva a pensar que você está me traindo.
Franzi meu cenho e me afastei. “Ela falou mesmo isso? Não posso acreditar”.
— Não vou ter essa conversa com você, até porque não possui autoridade nenhuma para tal. — Recostei-me na cômoda, a encarando e esperei, observando sua reação. Shizune tentava passar calmaria, mas o subir e descer do seu peito me revelava o que de fato estava acontecendo em seu interior.
— O que quer dizer? — Se fez de desentendida.
— Colocar o seu amante dentro da nossa casa, não acha que passou do limite do desrespeito? Não pensa no que isso pode causar à nossa filha? Ele é padrinho dela!
Suas orbes negras se abriram de tal maneira que quase pude ver as pupilas dilatarem.
— Diante de sua falta de decoro e respeito, que ficou claro não possuir. Eu quero o divórcio e o terei por bem ou por mal.
Sem esperar por uma resposta, me dirigi ao banheiro. Shizune ficou parada sem uma resposta, até mesmo sem reação, por mínima que fosse. Isso me fez acreditar que dessa vez eu conseguiria o que buscava há muitos anos.
Agora precisava resolver meu outro problema. Peguei o celular do bolso da calça e mandei uma mensagem. Queria mesmo era ligar para ouvir sua doce voz, mas seria melhor não correr o risco que Shizune ouvisse.
Para Haruno: não assine o contrato com esse homem, eu serei seu Daddy.
Amanhã te ligo para que possamos jantar em comemoração.
Não demorou nada para que a resposta viesse.
“Tem certeza?”
Para Haruno: sim, absoluta.
“Tudo bem então, nos vemos amanhã. Beijos”.
Coloquei o celular sobre a pia do banheiro e comecei a me despir. Meu sorriso estava maior do que jamais foi, a única vez que me lembrava de ter sido tão feliz foi quando minha filha nasceu. Agora, mais uma vez, eu era um homem praticamente realizado. Entrei na banheira para relaxar e usufruir deste momento de paz, mas Shizune passou pela porta e sua face livre de preocupações fez a minha encher delas.
— Eu não vou te dar o divórcio, Kakashi. Desista de uma vez por todas dessa ideia estapafúrdia e pense com clareza. Você tem tudo que os homens desejam: sexo, uma bela mulher… o que mais você quer? Eu posso te dar.
Olhei para aquela mulher sem acreditar em uma palavra do que ela me dizia. Como tinha coragem de me falar tais absurdos?
— Shizune, minha decisão está tomada. — Levantei-me, espalhando água para todo lado. “Nem um banho consigo tomar em paz nesse lugar”. — Quero o divórcio e, como eu disse, nada vai fazer com que eu mude de ideia. — Saí do banheiro com uma toalha em volta da cintura.
— Eu queria que as coisas fossem diferentes, não queria chegar a esses extremos, mas você não me deixa escolha. — Iniciou ela, então parei de procurar uma roupa e a encarei, sabendo sobre o que ela estava falando.
— Não pode fazer isso.
— E por que não? — Sentou-se na cama e cruzou as pernas quase nuas.
— Fez uma promessa.
— Ah, Kakashi, por favor… — Levantou-se. — Você é sempre tão antiquado. Se não temos um contrato assinado, documentos que comprovem as coisas, então não aconteceu. Simples assim. — Encarou-me com os braços cruzados.
Sentei na cama sem acreditar no que acabara de ouvir; sabia que Shizune podia ser vil, mas não imaginava que seria tão baixa.
— Akemi é minha filha e não é um pedaço de papel que vai dizer o contrário, muito menos você…
— Vamos ver então como ela vai ficar quando descobrir que a filhinha do papai não é filhinha do papai de verdade. Acredito que vai ficar arrasada. Você não?
Fiquei observando-a por um tempo e algo me veio à mente.
— É ele, não é?
— Precisa ser mais específico, querido — respondeu com ironia.
— Não se faça de tola, esse papel não lhe cai bem.
O sorriso ladino que ela deu me entregou a resposta.
— Acredito que ele não saiba a verdade.
— E o que isso importa a você? — perguntou com raiva, me deixando acreditar que eu estivesse certo. No entanto, naquele momento, apenas uma coisa me preocupava.
Minha filha.
— Não faça isso, Shizune, ela é só uma criança, não merece passar por essas coisas dessa maneira... Ela é minha filha, sabe disso, meu amor por ela é maior que tudo… e nós tínhamos um acordo…
— Quem está colocando um fim neste acordo é você com essa história de divórcio.
Suspirei com pesar, eu não podia fazer isso com minha garotinha e não importava o que nenhum exame dissesse, Akemi era minha filha, a filha do meu coração e que não a machucaria dessa forma.
— Tudo bem — falei. — Não vou prosseguir com divórcio, mas deixe Akemi fora disso, e dessa vez vou redigir um contrato para que assine, ela não vai sofrer por seus caprichos.
— Faça como desejar, meu amor. — Minha querida esposa sorriu e já partia. — Ah! Quanto à sua cliente em potencial, mantenha sob sigilo também.
— Tem certeza, princesa? Quer mesmo ir para casa? Está meio tarde — falou tia Kurenai, pela milésima vez, tentando me fazer voltar para sua casa. Estava em seu carro, parada em frente ao meu prédio, pensando se realmente deveria seguir com isso.
Normalmente, sempre fico quando minha mãe dá esses jantares chatos, mas senti que meu pai não estava bem e precisava ir para casa. Sei que eu não devia me preocupar com os adultos como se eles fossem as crianças, mas, nesse caso, não consigo deixar para lá. Papai só estava fazendo tudo isso para meu bem, ele pensa tanto em mim que esquece que sua felicidade também me faz feliz, por isso preciso estar ao lado dele, preciso falar isso para ele… Amo minha mãe, mas acho que ela não me ama da mesma forma.
— Minha querida, deixe os adultos resolverem os problemas deles. Você é muito jovem para se preocupar tanto com coisas que não pode resolver — falou obasan, ao ver minha face preocupada.
— É o meu pai, obasan, quero vê-lo feliz e sei que ele não está. Ele se preocupa demais comigo.
— Ele é seu pai, meu amor, é claro que se preocupa, mas esse é um dever dele, não inverta os papéis. Tudo bem, você é nova demais para passar por tudo isso.
Olhei-a com carinho e a abracei.
— Queria que você fosse minha mãe…
— Minha querida, estarei aqui para o que você precisar, sempre.
Saí do carro rapidamente. A noite estava fria, então corri para a entrada. Cumprimentei o Senhor Hiruzen, que sempre ficava no turno da noite na portaria, e segui para o elevador. Assim que entrei no apartamento, tudo estava escuro. Segui para meu quarto, mas antes passaria no do meu pai para saber se ele estava em casa e, sim, ele estava, e, como sempre, estava discutindo com minha mãe. Revirei os olhos e ia seguir para meu quarto, nunca me intrometia nas discussões deles. Não vale a pena. No entanto, ouvi algo que me deixou curiosa.
— Shizune, minha decisão está tomada.
Ouvi a voz de meu pai e, de fato, ele parecia decidido. Isso me deixou alegre.
— Quero o divórcio e, como eu disse, nada vai fazer com que eu mude de ideia.
Graças a Kami ele tomou uma decisão.
— Eu queria que as coisas fossem diferentes, não queria chegar a esse extremo, mas você não me deixa escolha.
Ouvi a voz de minha mãe, e ela estava muito confiante, isso não é bom… Senhora Hatake sempre tem uma carta na manga ao seu favor.
— Não pode fazer isso.
Falou papai, mas isso o quê? Agucei meus ouvidos, tomando cuidado para não fazer barulho.
— E por que não?
— Fez uma promessa.
“Do que eles estão falando?”
— Ah, Kakashi, por favor… Você é sempre tão antiquado, se não temos um contrato assinado, documentos que comprovem as coisas, então não aconteceu. Simples assim…
— Akemi é minha filha e não é um pedaço de papel que vai dizer o contrário, muito menos você…
“O quê?” Não acreditava no que estava ouvindo, meus olhos se encheram de lágrimas. “Como assim, meu pai não é meu pai?”
— Vamos ver então como ela vai ficar quando descobrir que a filhinha do papai não é filhinha do papai de verdade. Acredito que vai ficar arrasada. Você não?
Coloquei a mão sobre a boca para conter meu choro. Como assim? O que está acontecendo aqui? Quem é meu pai, então?
Eu queria sair daqui, queria correr para longe de tudo isso, mas eu não conseguia, minhas pernas simplesmente não respondiam mais, talvez fosse só um sonho e eu ainda estava na casa da obasan tendo um terrível pesadelo. Sei que ainda estavam falando algo, mas não conseguia mais prestar atenção em nada. “Quem era meu pai então?”
— Não faça isso, Shizune, ela é só uma criança, não merece passar por essas coisas dessa maneira... Ela é minha filha, sabe disso, meu amor por ela é maior que tudo… e nós tínhamos um acordo…
Ouvi a voz do meu pai… ou do Kakashi, bem, eu não sei como chamá-lo agora, mas me fez pensar. Sequei as lágrimas e finalmente me coloquei de pé.
— Quem está colocando um fim neste acordo é você, com essa história de divórcio…
— Tudo bem — falou ele. — Não vou prosseguir com divórcio, mas deixe Akemi fora disso e dessa vez vou redigir um contrato para que assine, ela não vai sofrer por seus caprichos.
Novas lágrimas molharam meu rosto. Kakashi estava disposto a deixar de ser feliz para que eu ficasse bem… Ele definitivamente é meu pai, mesmo que em nossas veias não corra o mesmo sangue. Saí dali antes que minha presença fosse notada. Eu queria mesmo era entrar naquele quarto e desmascarar minha mãe, mas eu teria que conversar com meu pai antes.