Codificada por: Polaris 👩🏻🚀
Última Atualização: Fanfic Finalizada.As lembranças invadiam a mente da garota com força, como se quisessem machucá-la. Seu rosto estava vermelho e inchado, além das lágrimas que escorriam sem parar por suas bochechas. Seu peito doía a cada fungada, com seus pulmões e diafragma implorando para que ela respirasse de forma compassada.
Apesar de tentar, não conseguia frear as lágrimas e sentimentos confusos naquele momento. Ela estava perfeitamente bem no dia anterior, precisava adoecer justamente hoje? Estava arrasada.
Olhou o próprio reflexo no espelho, enxergando o estado deplorável de sua face, além das manchas vermelhas e bolhas em sua pele na área do pescoço. Deu graças a Deus por não estar tão marcada na região do rosto.
Enxergou de relance, pendurado na porta do armário, seu vestido de formatura, que estava acontecendo há alguns poucos quilômetros dali. Automaticamente, seus olhos marejaram e ela sentiu uma vontade imensa de gritar.
Ódio. Era isso o que definia seu estado de espírito naquele instante. nunca achou que pudesse ficar tão transtornada em toda sua vida, mas quando uma doença tão ridícula como aquela estraga a noite que ela mais aguardou em sete anos, não tem como não se estressar. O universo devia odiá-la demais.
Ouviu três batidas e limpou o rosto com rapidez. Sua mãe surgiu por detrás da porta, colocando apenas a cabeça dentro do quarto. Com um sorriso gentil, e olhos doloridos por ver a filha tão triste, perguntou:
— Quer comer alguma coisa? Um copo de água?
— Não, obrigada — sorriu, mesmo que aquilo fosse uma das coisas mais complicadas no momento.
A senhora não disse mais nada, apenas concordou levemente e fechou a porta novamente, deixando dentro de seu mundinho pessoal. Sozinha. Apenas ela e seus pensamentos perversos.
Virou o rosto na direção do armário, mais especificamente para onde o cabide com o vestido azul escuro estava pendurado. Pensou algumas vezes antes de levantar-se e caminhar até a vestimenta, tocando o tecido com a ponta dos dedos com leveza.
Sentiu a maciez da seda, o auto-relevo de cada pedrinha da região do busto e a aspereza do tule brilhoso da saia.
Secou os resquícios de choro do rosto e pegou vestido, tirando-o do cabide e largando o objeto em cima da cama. Observou os detalhes da roupa de perto, encantada com cada pedrinha brilhante como se estivesse vendo-as pela primeira vez.
Cuidadosamente, deixou-o sobre o colchão e tirou o blusão e seu shorts curto de pijama que vestia. Assim que pôs o vestido no corpo, sentiu um sentimento de realização estranho, mas sentiu-se aliviada por alguns segundos. Ela realmente queria poder usar aquele vestido.
Olhou-se no espelho. Apesar das manchas vermelhas estarem visíveis nos braços e colo desnudo, o rosto inchado e o cabelo todo despenteado, sentia-se linda. Aquele vestido a deixava ainda mais deslumbrante.
Quis chorar ao lembrar-se que deveria estar usando-o na sua festa de formatura aquela noite se não fosse pela maldita catapora. Como ela pôde adoecer logo essa semana? Parecia ser uma ironia grande demais.
Ficou admirando o próprio reflexo por algum tempo, alienando-se da realidade e sem nem mesmo perceber o vulto em sua janela.
Tuc tuc. deu um leve pulo ao escutar as batidas no vidro, virando-se rapidamente para a janela, dando de cara com ninguém mais, ninguém menos, que Sim.
Seu cenho franziu-se no mesmo segundo, mas caminhou até a janela, abrindo-a e permitindo que o rapaz entrasse no quarto. Não era a primeira vez que ele entrava por sua janela, uma vez que eram melhores amigos desde a infância.
— O que você ‘tá fazendo aqui, ? Eu ‘tô doente.
— Já peguei catapora — deu de ombros, limpando a possível sujeita no joelho da calça social que vestia. — E eu vim aqui justamente para te ver.
— Você deveria estar na formatura.
— Assim como você — ele levantou o olhar para a garota, finalmente se dando conta do quão bonita ela havia ficado naquele vestido azul escuro. — Uau, você está linda.
sentiu as bochechas ruborizarem, fazendo-a desviar o olhar e cobrir o rosto com uma das mãos. Lembrou-se que estava toda descabelada, sentindo um leve desespero por perceber que , diferente de si, estava com o cabelo muito bem penteado e arrumado.
— Eu ‘tô um caco.
revirou os olhos, já imaginando sobre o que a garota reclamava. Ele caminhou até a cama da garota e empurrou o cabide até cair no chão, sentando-se na ponta do colchão.
— Se quer saber, a Britt foi a oradora de última hora e o discurso dela ficou péssimo, diga-se de passagem. Você deveria ter gravado um vídeo e passado lá na festa — ele comentou para puxar assunto, jogando o corpo para trás e apoiando-o em seus braços estendidos. permanecia em pé, olhando o amigo.
— Eu estava triste demais para gravar um vídeo falando sobre como foi nossa trajetória até aqui e como será agora que cada um vai seguir seu caminho até a universidade.
— Você poderia estar do avesso que teria falado melhor que a Britt.
— Obrigada então, eu acho… Apesar de que eu tenho quase certeza de que você só está dizendo isso para tentar me animar um pouco.
soltou uma risada antes de respondê-la:
— Sim e não.
Ficaram quietos por um tempo. decidiu caminhar e se sentar em sua cadeira preta que ficava próxima da mesa de estudos no canto do quarto. Permanecia com o vestido de festa no corpo. incomodou-se com o silêncio, logo ajeitando a postura e pigarreando.
— Como você está?
— Física ou emocionalmente? — olhou para o garoto, que deu de ombros. — A catapora já melhorou bastante, me sinto bem. Não estou mais com febre e as bolhas estão murchando já.
— E sua cabecinha, como ela está? — ele tornou a perguntar quando viu que ela havia contado apenas sobre sua condição física atual.
— Péssima — sorriu sem graça. — Eu não paro de chorar desde que recebi a notícia de que não poderia ir para a formatura. Meus pais não sabiam mais o que fazer comigo, então minha mãe só aparece aqui para me fazer beber água, comer e tomar os remédios.
— Parece que você está sofrendo maus tratos.
riu levemente, desacreditada de como fazia piadas em toda e qualquer situação. Agradeceu mentalmente por ele estar ali, mesmo ela não sabendo por que ele não ficou para a festa.
— Por que veio até aqui? — questionou sem cerimônias, pegando de surpresa.
— Queria te ver.
— Fofo, mas por que agora?
— Você é minha melhor amiga, e eu só ia para essa festa de formatura por sua causa. Como você não está lá, não faz sentido eu estar também.
franziu o cenho mais uma vez.
— Britt deve estar te odiando muito por tê-la abandonado lá.
— Ela foi com o Icarus — deu de ombros como se não se importasse, fazendo com que ajeitasse a postura na cadeira com a surpresa.
— Ela o que??
— Eu te avisei que ela só tinha aceitado ir comigo porque achou que seria uma boa forma para te atingir.
— Que guria perturbada.
A garota abaixou a cabeça, fingindo estar muito concentrada em algo na sua própria saia. O fato de ter convidado Britt para o baile havia, sim, incomodado-a.
Mas não era como se ela fosse assumir aquilo para ele.
— O que quer fazer? — o rapaz perguntou enquanto jogava o corpo para trás, deitando-se na cama.
— Bem... — se pronunciou enquanto levantava-se da cadeira e caminhava calmamente até a cama, sentando-se ao lado do rapaz. acompanhou sua pequena perambulação com os olhos. — Meus planos para hoje eram apenas de chorar pelo resto da noite e me lamentar muito.
Com uma risada baixa e sem graça, a menina deitou-se ao lado do amigo, virando o rosto em sua direção, assim como ele. Ficaram se encarando por algum tempo, sem saber direito o que falar – o que era incomum entre eles.
reparou bem no rosto de . Uma forma levemente redonda, mas com o maxilar em um V delicado. A pele marcada por algumas cicatrizes de acne e as pequenas manchas avermelhadas da catapora. As sobrancelhas com leves falhas, a pálpebra dupla e os olhos com poucos cílios. Encarou bem suas írises escuras, perdendo-se na profundidade delas durante alguns segundos. Desceu seu olhar pelo nariz arredondado, que ela tinha o péssimo gosto de achá-lo “gordo demais”.
Até que seus olhos pararam nos lábios vermelhos da garota.
Eles pareciam mais inchados do que se lembrava, talvez por ela tê-los mordido com força por conta da frustração da festa. Ou talvez ele apenas não tivesse gravado aquele detalhe tão bem.
— Tem alguma sugestão? — ele ouviu de fundo enquanto prestava atenção nos lábios da garota se mexendo como se ela balbuciasse algo. — ?
— Oi... Oi? — piscou algumas vezes antes de encará-la nos olhos. O que tinha sido aquilo? — Perguntei se você tem alguma sugestão para o que podemos fazer hoje.
— Ah — respondeu simplista, buscando a alfabetização básica que ele havia aprendido. Sentiu-se perdido. — Tanto faz, pode ser um filme, sei lá.
— Oooook! Mas eu escolho. — ela sorriu sem olhá-lo, já correndo para buscar seu computador em cima da cômoda.
deu um sorriso ladino, encantado em como conseguia mudar de humor tão rápido – ou então ela fingia bem demais.
Piscou forte quando percebeu o que fazia.
Ele realmente não estava esperando por aquilo.
se assustou quando escutou um barulho alto por perto, e acordou de supetão. Não soube ao certo quando caiu no sono, e não tinha ideia se havia dormido por muito tempo ou não, mas o notebook estava jogado em cima da cama com a tela desligada, e não estava no quarto.
Preocupado de sair pela casa andando e o pai da garota estranhar a presença dele ali, optou por esperar por ela no quarto. poderia ter ido à cozinha pegar algo para comer ou algo assim.
Se ajeitou na cama, visto que havia perdido o sono naquele susto. Ficou batendo os dedos no colo ritmicamente, esperando pela amiga.
A luz do quarto estava desligada, sendo iluSarangdo apenas pela luz das estrelas e dos pisca-pisca que havia pendurado em uma das paredes. mordeu o interior da bochecha quando lembrou-se do dia em que os penduraram ali; ambos haviam acabado de voltar da escola e deveriam estar, supostamente, estudando.
Só se lembrava de ter levado uma bronca da mãe de por terem ido mal na prova do dia seguinte, mas nada que não puderam recuperar depois.
Olhou o relógio, perguntando-se quanto tempo havia passado.
Cinco minutos… Agora dez já tinham se passado e nada da garota aparece. Estranhou.
Levantou-se de uma vez, decidido em descer e procurar por ela no andar inferior da casa, mas antes que tivesse a chance de encostar na maçaneta, escutou um fungar.
Um fungar baixo e longínquo, como se estivesse meio longe.
Sua cabeça se ergueu imediatamente, como um detetive escutando um barulho suspeito. Olhou para trás, percebendo que a janela estava entre-aberta. E se…
Não pensou mais, caminhou apressado até lá e se curvou para atravessá-la, tomando cuidando na hora que pisou no telhado.
Pouco acima da janela, chorava encolhida, olhando para o céu.
suspirou, com o coração dolorido. Ela só ia para o telhado quando queria ficar sozinha para chorar um pouco.
Ele sabia daquela peculiaridade dela, e duvidou se deveria ir lá sentar-se ao seu lado ou se esperava no quarto mesmo.
Seu coração falou mais alto.
— Hey — disse se aproximando, percebendo que limpara as lágrimas com agilidade. Ela sorriu fraco, nem ao menos tentando disfarçar algo.
— Hey…
— O que aconteceu? — se sentou enquanto olhava para ela.
— Não é nada, .
— Qual é, , somos amigos há anos. Acho que você já pode se sentir confortável comigo o suficiente para me chamar para desabafar.
A garota deu um riso baixo, olhando pra o garoto em seguida. Seu rosto, molhado, brilhava com a luz da Lua.
— Era para hoje ser o dia perfeito, entende? — fungou levemente, erguendo os ombros. — A médica disse que eu só peguei catapora porque eu estava com a imunidade baixa. Provavelmente por conta da minha má alimentação e falta de dormir, não sei…
— Você estava sem comer de novo? — o rapaz interrompeu, indignado com a própria conclusão.
— Sim e não. — ela sorriu sem graça, encolhendo-se ainda mais. — Eu ficava sem comer porque queria emagrecer até a formatura, mas, às vezes, eu tinha compulsão alimentar e comia um monte de besteira.
— E ‘tava dormindo tarde por conta das provas, não é?
— Sim…
soltou um suspiro inevitável, desacreditado de que não havia percebido que a amiga estava daquela forma. Eles já haviam conversado mais de uma vez sobre esse problema dela com alimentação, o que já tinha rendido diversas brigas, mas ele acreditou que ela tivesse parado com isso.
— E agora eu estraguei a minha noite — choramingou baixo, escondendo o rosto nas mãos.
não estava apenas triste, mas desapontado consigo mesma. Ela tinha se esforçado tanto para, no final, ser tudo em vão.
— Apesar de eu já achar o seu corpo lindo e você não acreditar em mim, você não precisa ser perfeita — começou a falar depois de alguns segundos em silêncio. levantou o olhar para ele. — Não digo em questão de corpo, por que o seu já é lindo, mas em um geral. Você não precisa sempre tirar apenas notas boas, está tudo bem vacilar às vezes. E outra coisa, você não precisa ser magra para ser perfeita, . Você é linda assim.
A garota fez uma careta, não gostando exatamente do que ouvira.
— ‘Tá me chamando de gorda?
— Não, meu Deus — ele riu. — Eu só quero dizer que, independentemente se você fosse gorda ou magra… Você já é linda.
piscou algumas vezes antes de processar o que havia ouvido. a achava… Linda? E ele havia dito aquilo mais de uma vez aquela noite, sendo que ela estava sem maquiagem e totalmente descabelada.
— Eu sei que não sou o “cara ideal” e que já te chateei algumas vezes, mas eu juro que ‘tô tentando ser a melhor pessoa possível para ti, — continuou olhando-a nos olhos. — Eu estarei com você sempre que você precisar.
A menina não pôde evitar o sorriso de orelha a orelha que abriu, abrindo o braços e abraçando o amigo com força. Seu coração batia forte no peito, como se enchesse-se de esperança e amor.
era, realmente, um menino de ouro.
— Obrigada.
não disse nada em resposta, apenas sorriu e pegou na mão da garota. Pensou se devesse contar sobre seus sentimentos naquele momento, mas não achou que era a hora.
Não ainda.
— Eu só preciso que você fique comigo sempre — ele disse com o mesmo sorriso no rosto.
— Eu estarei lá.
— Pois eu também estarei lá. Por você.