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Codificada por: Cleópatra

Última Atualização: 08/11/2024

Maryon tinha esquecido a cebola para fazer a sopa. De novo.
É claro que se irritava com a amiga, mas acabou andando dois quilômetros só para chegar ao mercado principal, que já estava quase fechando. As velas e lampiões já se acendiam, enquanto os últimos vestígios da claridade se escondiam atrás da escuridão da noite e das largas copas das árvores.
Teve que implorar ao vendedor que desempacotasse duas cebolas que já estavam guardadas para que ela pudesse levar. Agradeceu imensamente e ofereceu duas moedas a mais que o suficiente, o que fez com que a irritação do homem sumisse e ela se tornasse a cliente mais querida do mundo.
Os corvos da floresta a acompanharam na volta, piando e indicando seu caminho. As pessoas geralmente não gostavam do pássaro, o associavam a coisas sombrias e assustadoras, como cemitérios. Mas nem ao mesmo pensava em cemitérios como sombrios e assustadores.
Retornou à pequena casa que dividia com a melhor amiga, o silêncio da noite a embalando. Estava tudo silencioso até demais, percebeu ao ver que até os corvos haviam parado de grasnar. Aquele silêncio a deixou incomodada, e mexeu na fita azul que usava ao redor do pescoço, como um tique nervoso, antes de abrir a porta.
E congelou no batente assim que o fez.
O homem mais lindo que já havia visto em toda a sua vida estava diante dela. A pele de oliva brilhante parecia tocada pelo sol, mesmo sendo noite, os cabelos ondulados escuros e macios, pareciam perfeitos ao toque, e todos os traços eram tão perfeitos que pareciam surreais.
Especialmente os olhos verde esmeralda dele. Quando olhou naqueles olhos, o mundo parou de girar.
Eles pareciam sugá-la, e ela parecia implorar que eles continuassem a olhando para sempre, que o homem tão lindo se aproximasse, a beijasse, a devorasse.
Ele era tão lindo com aquele maxilar marcado e lábios cheios, manchados de sangue.
Seu coração errou uma batida e, com muita dificuldade, ela conseguiu desviar o olhar do que parecia um encantamento. Por que o belo estranho estaria coberto de sangue?
Olhou para baixo e percebeu em seu colo a origem do fluido. A garganta aberta de Maryon já não transbordava, pois o homem havia sugado cada última gota de vida do corpo de sua melhor amiga. Seus cabelos platinados estavam manchados com gotas carmins que não combinavam em nada com os olhos castanhos sem vida da amiga e nem com a pele mais pálida que o normal.
deu um passo para trás, tropeçando no batente e caindo, assim como todo o seu mundo caía. Desabava sem parar. Maryon estava balançando a colher de pau ameaçadoramente há uma hora atrás. Tinham reclamado das contas naquela mesma manhã. O riso da amiga ainda ecoava em seu ouvido. Aquela cena só poderia ser um pesadelo.
Mas não era. O cheiro de sangue invadia suas narinas como se implorasse que ela não o ignorasse, que notasse como era real. Como se fosse possível fingir o contrário.
O olhar da garota continuou fixo na cena, a visão tingida pelo vermelho do sangue e da raiva que sentia. queria matar aquele homem. Queria chorar por Maryon. Queria trazê-la de volta à vida. E queria muito mesmo matá-lo.
Mas, no fim, tudo o que conseguiu fazer foi gritar.



alcançara a floresta, mesmo que suas pernas estivessem fracas e pudessem desabar a qualquer instante.
Ela sempre adorou correr quando criança, mas geralmente porque depois a avó lhe dava um doce. Aquele não era o caso.
Adorava as faixas que amarrava em laço ao redor do pescoço, mas agora se sentia sufocada. A visão estava se apagando nas laterais, e o som dos corvos parecia algo distante, de outra vida, que seus ouvidos abafados não captavam bem.
Dizer que corria era muito otimismo. Quando avistou o cemitério, já estava se arrastando, a mão direita a impulsionando enquanto a esquerda apertava sua barriga e segurava a faca no lugar.
Chegou a conclusão que era melhor mantê-la ali do que retirá-la, por mais que doesse como se já estivesse nas chamas do inferno.
Lutava firmemente para manter os olhos abertos. Só mais um pouco…
Se já não estivesse chorando, teria começado no momento em que avistou a porta pesada de descrição inconfundível. Um suspiro sôfrego saiu de sua boca.
Não tinha forças para chamar ninguém, mas, por sorte (quem diria), estava cheirando como a melhor refeição sangrenta do mundo. O vampiro que abriu a porta a olhou com os olhos arregalados e as presas já crescendo na boca.
— Chame… Caos — ela disse, usando cada último respirar que tinha. — Aquele maldito… me deve.
E antes que pudesse xingar o homem de várias outras formas, ela não conseguiu mais lutar e sucumbiu para a escuridão.





Continua...


Nota da autora: Olá! Minha intenção era não começar nenhuma outra fic em andamento, mas aqui estamos nós, não? Kkkkkkk
Eu sou apaixonada pela trilogia de Era Uma Vez Um Coração Partido e o segundo livro em específico me despertou uma loucura pelo Caos que eu precisei saciar...
Então, boas vindas à minha história e espero que goste do que está por vir <3

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