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Escrita por Saphire

Revisada por Selene 🧚‍♂️ (Mia)

Última Atualização: Fanfic Finalizada

o teu corpo é luz, sedução
poema divino, cheio de esplendor.
teu sorriso quente inebria e entontece
és fascinação, amor.


fascinação – elis regina.


— ONESHOT ORIGINAL POR SAPHIRE


Eu odeio o câncer. Sem dúvidas. Me pego segurando firmemente o corrimão da escada para não cair. Minha mãe estava morrendo e eu não podia fazer nada. Os médicos vieram me comunicar sobre a situação e como o câncer veio crescendo ao longo dos meses. Essa era a segunda vez que dona Angelina tinha câncer, e, infelizmente, dessa vez, era quase impossível ser curado. Sentia tudo dentro de mim se revirar, pensar em perder a minha mãe doía meu peito. O que seria de mim sem ela? Eu realmente não sei. Não sei como agir diante dessa situação, e mesmo assim crio coragem para ficar de pé e subir as escadas.

Passei pelo enorme corredor da casa, indo em direção à porta que ficava no fundo, o quarto dela. Respirei fundo três vezes antes de tocar a maçaneta, estava com medo, me perguntando como eu lidaria com a morte diante dos meus olhos?

Girei a maçaneta, adentrando o quarto, três médicos estavam de um lado da cama e dois do outro. Minha mãe nunca quis fazer tratamento no hospital, ela odiava, porque foi ali que viu o grande amor da sua vida, meu pai, morrer. Desde então, ela nunca mais pisou em um, tanto que o primeiro e segundo tratamento foram em casa. Olhei para minha mãe, sentada na cama me olhando, mesmo perto da morte ela nunca tirava aquele lindo sorriso de seu rosto, isso meio que me trouxe um conforto por um breve momento, e logo depois uma onda de tristeza invadiu meu corpo. Eu não estava preparada.

— Venha aqui, Adele! — falou, com a voz baixa porém animada, como se ela não estivesse prestes a morrer, como se nada tivesse acontecido. Fiquei paralisada, sentindo meus olhos marejarem, eu não conseguia me mexer, meu corpo travou, e a minha única vontade era de desmoronar. — Por favor, Adele… venha até aqui, minha princesa. — O choro ocupou meu rosto, eu queria explodir, tudo em mim transbordava, e eu não sabia como lidar com isso. Corri até a cama, a abraçando fortemente, sentindo as mãos macias e delicadas dela massagearem minha coluna. — Adele… está tudo bem — disse baixinho no meu ouvido.

— Mãe! Você não pode… eu não quero perdê-la… você… fique comigo, por favor! — Caí em prantos, ainda com meus braços envolvidos nela, com medo de, assim que soltasse, ela sumisse.

Shh… Adele, meu amor, me escute. — Se afastou, me encarando, sua feição era gentil, mesmo que mostrasse o quão cansada ela estava. — Eu te amo, minha filha, não importa o que aconteça daqui pra frente. Você é a minha joia rara, o motivo de todos os meus sorrisos, você não sabe o quão eu fico feliz por ser sua mãe. Eu sempre estarei com você — passou a mão pelo meu rosto, se aproximando da minha orelha, e acrescentou baixinho: —, minha lamparina.

Um dia, quando ainda era criança, entrei no quarto da minha mãe, vendo ela fitar a lamparina que ficava ao lado da cama. Desde sempre, dona Angelina gostava de objetos antigos, e era fascinada ainda mais por uma lamparina. Então perguntei:

— Mamãe, o que é isso?

— Uma lamparina, meu amor. — Sentou-se na cama, fazendo um gesto para que eu fizesse o mesmo, e quando eu o fiz, ela me puxou para seu colo, me abraçando.

— E o que isso faz?

— Ela nos aquece, deixam nossos corpos quentinhos — me apertou contra ela —, desse jeito em que estamos, viu só? Além de nos aquecer, ilumina toooodo o lugar. — Ela falava tão baixo no meu ouvido que, em algum momento, peguei no sono. — Então, sempre que quiser se aquecer ou fugir da escuridão, acenda uma lamparina, Adel. — Deu um beijo em meu cabelo. — Ah, meu Deus, você já pegou no sono?

— Eu quero ser sua lamparina, mamãe — falei sonâmbula. — Pra aquecer você e te tirar da escuridão sempre.

— Você já é minha lamparina, meu amor.

E, desde aquele dia, minha mãe me chama assim, sempre que pode. Mesmo que não fizesse tanto sentido para outras pessoas que ouvissem, para nós fazia.

— Adel? Posso fazer um pedido? — perguntou, secando minhas lágrimas.

— Sim, por favor, mãe.

— Quero tocar aquele piano pela última vez. Preciso senti-lo antes de partir.

— Mas, mãe… você não pode fazer esforço.

— Vai negar um pedido inocente para uma quase morta?

— Não fale assim, se não irei chorar de novo.

— Estou mentindo? — Soltou um riso fraco. — Mas sério, eu preciso disso — falou, e eu olhei para os médicos, que dessa vez estavam mais, um deles assentiu para mim. — Vamos lá!

Dona Angelina sentou-se em frente ao instrumento, passando os dedos por cada pedaço dele. Começou a tocar, sons suaves e calmos, todos estavam observando. Ela tocava tão lindamente que fez com que eu chorasse novamente. A canção era “Je Te Laisserai Des Mots”. Calma e rápida ao mesmo tempo, podia ver o sorriso grande no rosto dela, e eu sabia exatamente em quem ela estava pensando. Meu pai.

Meu pai e minha mãe, ambos tocavam piano, se conheceram na faculdade no primeiro dia, e desde então nunca mais se desgrudaram, mesmo depois da morte dele. Eles sempre foram tão apaixonados um pelo outro, vê-los quando era pequena me alegrava tanto, o respeito e carinho dos dois era imenso. Minha mãe engravidou de mim ainda na faculdade, meus avós a expulsaram, e então ela teve que morar com meu pai, que desde sempre minha mãe reforçava: “Seu pai pulou de alegria quando dei a notícia da gravidez.” E sempre com aquele sorriso no rosto. O meu favorito. O piano foi dado de presente pelo meu pai um mês depois que nasci, os dois sempre fascinados pelo instrumento, não deixava ninguém tocar, apenas eu, ela e ele podiam. Era sempre a mesma música, parecia como um ritual deles, uma conexão inigualável, algo que já fazia parte do ser de cada um. Nas minhas lembranças mais profundas, aquelas que eu guardo em cada pedaço de mim, ela tocava calmamente como a brisa do mar, e meu pai apenas ficava encostado, observando-a com fascinação. Tentei captar todos os detalhes, todos os seus risos durante a canção, os seus olhos iluminados, tão grandes que pareciam poder caber todo o mundo ali dentro, a forma como ela fechava os olhos, degustando do som. Tudo.

Quando voltou para o quarto, parecia mais exausta, porém satisfeita.

— Estou morrendo mas me sinto viva como nunca — falou, rindo. — Tenho outro pedido, Adel. — Tossiu.

— Ah, não…

— Está tudo bem. — Se ajeitou na cama, me puxando para um abraço. — Adel, me prometa uma coisa… — sussurrou. — Não deixe ninguém tocar naquele piano, está bem, meu amor?

— Mãe… você.. — Um bolo se formou na minha garganta, impedindo as palavras de saírem.

— Me prometa, Adele. — Tossiu, e um dos médicos se aproximou. — Só deixe tocar aquele que você amar de corpo e alma. Seu pai ficaria furioso se um qualquer tocasse no seu bem precioso… então, por favor, me prome..

As palavras morreram em sua boca antes que pudessem sair, seus olhos se fecharam, e tudo o que eu ouvia era o monitor de sinais vitais apitar repetidamente. Ela não teve a chance de terminar sua fala, e eu nem tive chance de respondê-la.

“Eu prometo, mãe", respondi baixinho, deixando as lágrimas escaparem.


Eu encontrei a garota que tanto buscava.

Eu escutei o som do piano sendo tocado, o som invadia cada pedaço do meu corpo, fazendo com que ele se arrepiasse por completo. Victoria estava com sua postura ereta, sentada em frente ao instrumento, seus dedos passavam pelas teclas e formavam o som perfeito. “Je Te Laisserai Des Mots” era o som que penetrava pela sala da minha casa. Eu gostava tanto de Vicky, há tanto tempo, no começo era apenas uma amizade de faculdade, mas depois foi se tornando algo maior, um desejo a mais.

Vez ou outra ela olhava para mim com seu sorriso iluminado, tocando a canção. Seu cabelo cor-de-fogo se destacava entre sua pele e seus olhos cor-de-oceano, seu corpo ia para frente e para trás com movimentos lentos, seus olhos estavam fechados, e os cantos da sua boca se curvavam, degustando do som. Então era essa visão que alguém teria quando chegasse ao céu? Bom. Porque eu creio que eu já esteja nele.

Uma vez ou outra passava meu olhar pelo seu rosto e descia até seu corpo esplêndido, seus dedos eram tão ágeis que a única coisa que se passava pela minha mente era puxar Vicky e colar nossos lábios, poder sentir também a funcionalidade dos seus dedos dentro de mim.

Mas eu não faria isso, obviamente, o que eu poderia fazer? Nada. Vê-la tocar essa exata música fez com que eu ficasse parada, apenas observando essa bela obra de arte. Eu não sei o que mais me chocou naqueles minutos em que fiquei ali, o fato de que Victoria sabia tocar piano ou o fato de que era a mesma música que minha mãe tocava. A música que vivia na minha cabeça por anos. Apesar de ter feito a promessa realmente, nunca quis que tocassem mais naquele piano, nunca. Isso significava que eu teria que deixar minha mãe para trás, dizer Adeus. Mas lá estava ela, Vicky. Eu a deixei que fizesse isso. Deixei entrar na porra do meu coração, tocando o maldito piano. Mas eu a desejava. Tanto.

Vicky me encarou ao terminar de tocar, senti uma pressão conforme o tempo se prolongava, ela se mexia no banquinho desconfortavelmente, jogando seu cabelo para trás e apoiando uma das mãos em seu joelho. Ela nessa posição… me encarando, tudo em mim queimava.

— Você sabe tocar? — perguntou.

— Oi? — Pisquei, saindo do meu transe. — Ah.. não, só minha mãe e o meu pai sabiam.

— Posso te ensinar, se quiser.

— Sou um desastre, já tentei muitas vezes.

— Vai desistir assim tão rápido? — Fiquei parada, pensando na possibilidade de Vicky me ensinar a tocar. Eu não estava exagerando, sempre fui um desastre no piano, mesmo tendo diversos professores que tentaram me ensinar, uma hora surtei e não quis mais.

Suspirei fundo e me levantei, indo em direção a ela. Vicky deu uns tapinhas no banco para que eu sentasse ao seu lado, seu sorriso se iluminou quando sentei, pegou as minhas mãos e as pousou nas teclas.

— Vamos lá… você tem que manter suas mãos leves. Lembre-se que é questão de prática, ok? — Gesticulou com a cabeça, guiando os meus dedos até as teclas que formavam um som agudo e irritante.

— Eu disse, sou péssima. — Ri baixinho.

Vicky não respondeu, continuou a guiar até que o som ficasse em um tom melhor. Pra ser sincera, não estava prestando tanta atenção assim, meus olhos iam de vez ou outra para os de Vicky, que se encontravam rapidamente. Ficamos ali, ela tendo o controle e eu sendo controlada. Quando suas íris se encontraram com a minha mais uma vez, não desviamos, ela me olhava e eu a olhava. Então desviou o olhar para os meus lábios e eu fiz o mesmo, olhando os seus carnudos em um tom vermelho. Vicky parou e ficamos ali, apenas eu e ela, era como se tivéssemos entrado em um outro mundo, bem longe daqui.

Senti sua mão me soltar e subir pela minha coxa, acariciando o local. Meu corpo entrou em transe com o seu toque, ela me olhava com fervura, fazendo movimentos de vai e vem na minha coxa. Passei minha mão pelas suas costas, massageando o local, nossos rostos estavam próximos, muito próximos. A vontade insuportável de beijá-la aumentava cada vez mais conforme o tempo passava, e acabei com essa barreira entre nós colando nossos lábios em um beijo agressivo.

Nossas línguas se encontraram, movendo-se em perfeita sincronia, senti as mãos de Vicky agarrarem minha cintura e grudarem ainda mais nossos corpos. Os lábios macios e o beijo agressivo me faziam querer mais, muito mais. Ela se levantou, me puxando em direção ao pequeno sofá que ficava ao lado do piano, e sentou, me colocando em seu colo. Aprofundei o beijo, tornando-o um pouco mais lento. Ela era perfeita pra caralho, e não sabia como lidar com isso, a sua língua contra a minha me causava um turbilhão de sentimentos inexplicáveis. Quero muito mais. Ela passou a mão pelo meu corpo até chegar ao lugar onde eu mais desejava que ela tocasse, ainda que o toque não fosse direto, era tão incrível quanto. Abri um pouco mais a perna, dando permissão para o seu toque, para que ela pudesse inserir seus dedos em mim, porém, não o fez. Ela me torturava, passando sua boca pelo meu pescoço e distribuindo beijos pela área, joguei minha cabeça para trás enquanto puxava seus cabelos.

— Vicky.. — choraminguei, e pude escutar um som baixinho vindo dela, quase como um murmuro. Todo esse contato era demais pra mim, seus beijos desceram para perto do meu seio, enquanto colocava pressão contra a minha intimidade, fazendo com que eu sentisse minhas pernas tremerem. — Porra.. Vicky, por favor.. — implorei. Vicky deitou meu corpo na cama, ficando por cima de mim.

— A paciência… — disse, beijando o canto do meu rosto. — É muito importante para quem deseja aprender a tocar, Adele — ofegou, compartilhando beijos pelo meu corpo —, mas sabe a parte mais bonita disso? A espera. A espera sempre vale a pena.

— Hã? O que você quer dizer com isso? — perguntei, confusa. Vicky virou seu rosto para mim com um canto dos lábios curvado. Antes que ela pudesse responder, alguém bateu na porta.

Droga.

— Senhorita Adele? — A voz familiar me chamou, e a porta se abriu lentamente enquanto eu e Vicky nos separávamos. — Está tudo bem?

— Tá… tá tudo sim, Victoria estava me ensinando a tocar o piano. — Um riso baixinho escapou de Vicky ao meu lado, fulminei ela com os olhos e me virei novamente para Ana. — Precisa de algo, dona Ana?

— Ah, não, não. Está meio tarde, então vim ver se estava tudo bem. Quer que eu traga algo?

— Não precisa, estamos muito bem. Obrigada, dona Ana. Já vamos finalizar por aqui. — Sorri, e ela assentiu e se virou, fechando a porta.

— Realmente está tarde — disse Vicky —, mas aquele piano é tããão bom, posso tocar mais uma música?

— Ah… como você quiser, pode ir — falei.

Vicky se levantou e foi novamente até o piano, ajeitou sua postura e começou a passar os dedos pelas teclas. O som era irreconhecível pra mim, mas logo foi ficando claro quando chegou no refrão de “Shameless”. Ela era realmente fascinante, o seu talento com o instrumento era de outro mundo, era como se ela não estivesse ali, e sim no seu próprio espaço. Fiquei sentada admirando tudo, captando cada mínimo detalhe para não me esquecer.

Eu realmente a amo.

Quando ela acabou, veio até mim, deixando nossos corpos juntos.

— Tenho que ir agora, Adele — falou baixinho, acariciando meu rosto.

— Eu te levo até a porta. — Fechei os olhos, aproveitando o momento.

Levei Vicky até a porta e me despedi dela com um abraço caloroso, quando ia me virar para entrar, Vicky falou:

— Adel?

— Sim? — Nossos olhos se encontraram, só que, dessa vez, foi um sentimento diferente, de pertencimento.

Vicky falou:

— A última música… — Engoliu em seco. — Ela representa tudo o que você me faz sentir.

E saiu, me deixando em um conflito infinito…


Passei toda a noite do dia anterior pensando no que aconteceu entre eu e Vicky, o que ela quis falar com aquilo? O que aquilo significou pra ela? O que ela quis dizer com “Ela representa tudo o que você me faz sentir”.? Eu estava perdida, completamente perdida. Não consegui dormir, meus pensamentos estavam rodeados por um milhão de coisas. De um dia para o outro permiti que Victoria tocasse aquele piano. Sem pensar muito, apenas deixei. Não queria deixar o passado, não queria deixar minha mãe finalmente partir. Porém, ao mesmo tempo, eu desejava tanto aquilo, cumprir a promessa, ter Victoria pra mim.

Lembrar do nosso beijo, dos toques, de tudo, aquilo foi… muita coisa pra digerir. Não é todo dia que você beija a sua melhor amiga pela qual você é apaixonada.

Ela não me mandou uma mensagem, não respondeu as que eu enviei, todo o silêncio dela me matou.

No outro dia, Victoria apareceu.

— Oi, Vicky… — Abri a porta sem jeito, não conseguindo encará-la. Ela estava deslumbrante, usava uma camisa de botão preta junto com uma calça, seu cabelo solto ganhava destaque entre seu rosto.

— E aí? — Sorriu, mostrando os dentes. — Vamos continuar aprendendo a tocar?

— Tocar… piano? — perguntei, confusa.

— O que mais seria? — Soltou um sorriso ladino. Minha expressão vacilou por um breve momento quando ela desferiu essas palavras, ela não iria falar nada da noite passada? Como se nada tivesse acontecido?

— Ah, sim, sim! Entre. — Saí da frente da porta, dando espaço para Vicky passar, seu cheiro forte de perfume invadiu minhas narinas assim que ela passou ao meu lado.

Fechei a porta, seguindo Vicky até a sala onde ficava o piano.

— Tranca a porta — falou, virando-se para mim. Arqueei minhas sobrancelhas, confusa. — Não quero que ninguém nos atrapalhe, Adel..

— Ha.. — Fui até a porta, girando a chave, em seguida me sentei em frente ao instrumento, esperando Vicky se aproximar. Mas ela não se mexeu. — O que foi? — perguntei.

— Acho que seria melhor.. — Veio em minha direção, parando ao meu lado, levantei minha cabeça para olhar pro seu rosto, logo senti suas mãos geladas subindo pelo meu braço até o meu pescoço. Vicky se abaixou um pouco. — Eu prefiro tocar primeiro — sussurrou em meu ouvido. O toque repentino fez meu corpo se arrepiar, sua voz baixa em meu ouvido saiu como uma melodia que invadiu todo o meu corpo.

Vicky se afastou, massageando meu ombro e subindo para o meu rosto, levantando meu queixo, fazendo com que nossos olhos se encontrassem.

Ah, céus. Agora tudo estava claro, muito claro.

Coloquei minha mão entre a sua e aproveitei do contato, fechando meus olhos. Todo esse toque era difícil, ela me torturava massageando meus lábios.

— Vicky… — choraminguei, olhando para ela.

Abri um pouco a boca para tentar falar quando a barreira entre nós foi destruída com seus lábios colados aos meus. Sua mão me puxou em direção ao pequeno sofá, me deitando com delicadeza, sem que nos separássemos.

Senti o sabor da sua língua quando se encontrou com a minha. O beijo era lento, mas, da mesma forma, fervoroso. Me afastei um pouco só para olhá-la, e, porra, era como se ela tivesse ficado mais linda ainda assim, me olhando de cima com os lábios vermelhos, o olhar me penetrando, me devorando. Ela me enlouquece, e sabe bem disso. Ela sabe que tem esse poder sobre mim.

Nossos corpos se conectaram, e com o seu corpo sobre o meu pude sentir cada vez mais meu sangue esquentando. Cada toque provocador era a porra de uma tortura para mim, cada beijo delicado distribuído em todo o meu ser me fazia querer implorar por tudo aquilo, beijos que foram depositados como se eles pudessem me curar de toda a dor, me fazendo explodir por dentro. Sim, me beije por completo, como se você pudesse me curar. Me decifra. Me guie. Me explore.

Vicky se afastou um pouco, descendo sua mão pelos meus seios, parando um pouco ali, e logo em seguida pela minha cintura, até chegar ao lugar onde eu mais desejava. Arfei com seus dedos se mergulhando dentro de mim, o movimento era lento, mas cruel.

— Vi.. — gemi, abrindo mais minhas pernas, para sentir mais.

— Me diga o que você quer, Adel — sussurrou em meu ouvido, diminuindo a intensidade do toque, mas ainda ali. — Não irei continuar até que você me diga. — Um dos seus dedos pressionou contra a minha parte, me fazendo estremecer. Seu toque era cruel, e ela olhava para mim, esperando pela minha voz.

— Me fode. — Colei nossos lábios, soltando um baixo gemido. — Por favor. — Os lábios de Vicky se abriram.

Seus dedos começaram a se mover depressa dentro de mim, como se estivessem famintos, tanto quanto eu.

— Mais… mais, Vicky. — Soltei gemidos altos, jogando minha cabeça pra trás, a cada segundo seus movimentos eram mais ágeis, mais do que quando a via tocar aquele piano.

— Goze pra mim, Adele — murmurou, deixando beijos em meu pescoço. A cada movimento meu corpo soltava ondas elétricas, que faziam minha perna amolecer, faziam com que todo o ar dos meus pulmões se esgotassem. Tudo era demais pra mim e, por mais que eu tentasse não me entregar tanto, eu tremia em seus dedos, em seus toques, em seus beijos, tremia quando cheguei ao meu limite, explodindo com seus dedos inseridos em mim. — Porra, Adel… Você é gostosa pra caralho.

— Ah.. Vicky… — suspirei, cobrindo meu rosto com a mão. — isso foi..

Mesmo que eu tentasse fugir de tudo isso, eu não poderia fugir dela. Nunca. Quero ficar aqui para sempre, entre toda essa adrenalina que percorre nós duas, por toda essa chama que me incendeia quando ela faz um simples gesto para mim. Eu quero tê-la para sempre, quero me entregar todos os dias aos seus braços, quero ser vulnerável ao seu toque, quero ser explorada por ela. E, acima de tudo: Eu quero ela.

Os braços fortes de Vicky me rodeavam de maneira firme, fazendo com que eu fosse incapaz de me mover. Admirá-la era a única coisa que podia fazer naquele momento, e não negarei, sempre foi minha coisa favorita. Poder captar todos os seus detalhes sempre foi o mundo pra mim, observar o seu ser, aquele que vai além da minha compreensão. Como no dia em que ela apareceu na minha casa pela madrugada, descabelada e com dois lanches, querendo assistir um filme de terror comigo. Sem avisos. Ela, muitas vezes, fazia coisas que nunca faziam sentido para mim, mas eu gostava, porque é ela.

Aos poucos Vicky foi acordando, senti um rubor subir ao meu rosto quando percebi o olhar dela sobre mim.

— Bom dia, princesa. — Vicky se desgrudou um pouco do aperto, se virando completamente para mim. — Pode falar, eu sou uma obra de arte mesmo.

— Ai, cala a boca, idiota. — Revirei os olhos, lançando uma das almofadas em seu rosto. Obviamente ela é uma obra de arte, mas não preciso afirmar isso. — Você é tãão convencida.

— Vai realmente negar até o fim, Adel? Aposto que você pensou exatamente isso ontem a noite — sussurrou em meu ouvido.

Eu a conhecia e sabia o quanto ela poderia ser provocadora, mas não nesse nível. Nunca imaginei que um dia iria contar sobre meus sentimentos a ela, nunca, o meu medo sempre foi um empecilho para a confissão. Agora, tudo o que aconteceu se tornou uma esperança, algo maior, algo que não desejo perder. Eu teria que contar, hora ou outra.

— Vickey… — falei baixinho, me aconchegando mais nela. — O que vamos ser daqui pra frente, tipo-

— Eu desejo o que você também deseja, Adel.

— E como você sabe o que eu desejo? Você é sensitiva ou algo do tipo? — Soltei uma risada anasalada.

— Eu te conheço bem, mesmo que talvez você não pense nisso… — Vicky começou a falar mas parou, engolindo a seco e se virando pra mim, mantendo seus olhos nos meus. — Eu vejo você. Gosto da forma que você age e lida com os problemas ao seu redor, apesar de todas as coisas que passou, você nunca mudou, Adel, e isso é uma das coisas na qual admiro em você. Porque sua aura brilhante permanece a mesma desde quando eu a conheci.

— Vi… eu…

— Não, Adel, deixe eu terminar. — Passou sua mão, fazendo cafuné no meu cabelo. Por mais que eu tentasse falar algo, eu não conseguia, minha própria boca me traía. — Você não imagina o quanto eu gosto de você, e saber que tudo isso é recíproco me faz mais feliz. Você nunca precisou dizer o que sentia por mim, porque eu sabia, porque eu sempre senti o mesmo. O desejo por mim que sai de dentro de você é o mesmo que sai de mim. E isso é tudo, tudo, porque eu te vejo.

Nunca, em toda a minha vida, ouvi palavras tão intensas serem direcionadas para mim. Fiquei segundos parada, olhando em sua direção, sem saber o que dizer, de que forma deveria agir. Amar Vicky era o universo pra mim, desde sempre seus olhos pareciam estar à mercê dos meus, eu amava isso, me apegava a essa ideia da ligação entre nossas almas. Não queria perder isso. Porque meu lugar sempre fora ali, nos seus braços, onde eu poderia ficar segura, poderia ser eu mesma.

Então juntei todo o ar que restava dentro de mim para falar.

— Quando minha mãe se foi.. — comecei pausadamente, pegando sua mão e brincando com seus dedos. — Eu tive que fazer uma promessa com ela. Minha mãe e meu pai sempre foram apaixonados um no outro, era lindo de se ver. — Sorri em sua direção, seus olhos estavam atentos, pedindo para que eu continuasse. — Até que um dia meu pai se foi, e a única coisa que restou foi aquele piano, e meu Deus, meu pai amava aquele piano, você não faz ideia. — Soltei um riso bobo, lembrando das vagas memórias que tinha dele.

Apesar de serem poucas, as memórias do meu pai estavam cravadas em mim, de forma inconsolável. Mas estavam, cravadas e vivas.

— Isso fez com que minha mãe se apegasse mais ao instrumento, ao ponto de não deixar ninguém tocar, exceto eu e ela. — Continuei tentando pôr as lágrimas que queriam sair para dentro. — Até que ela se foi também, diante dos meus olhos. E ela me fez prometer Vicky, eu fiz uma promessa. E eu a cumpri.

Aquela promessa que você nunca quis me contar? — perguntou.

— Sim… — Me aconcheguei mais nela, escondendo um pouco do meu rosto em seu ombro. — Nunca deixei ninguém tocar naquele piano desde que ela partiu, exceto você. Porque ela me fez prometer que só tocaria naquele piano quem eu amasse de corpo e alma.

— Uaaau. — Vicky jogou a cabeça para trás. — Caralho. Talvez eu te ame mais do que eu imaginava.

— Sim — falei, pouco distraída —, espera, o quê?! — Me desvinculei do seu aperto, olhando em seu rosto, Vicky sorria enquanto se aproximava de mim pra lançar um beijo em minha testa.

— Sinto muito pelos seus pais, muito mesmo, Adel. — Seus braços me envolveram, me apertando mais para si. — Eu quero ser aquela que cura toda a sua ferida, ser a luz que você precisa. Você pode sempre contar comigo, Adel, eu vou estar aqui para te salvar.

— Vicky… — tentei dizer entre uma lágrima e outra. — Você já é tudo isso, você é todo o meu universo.

— Porra. Eu te amo — sua face vai de encontro com a minha, e ali, eu vi tudo —, mais do que você pode imaginar.

Ligação. Amor. Amizade. Conforto. Eu me vi ali. Nos seus olhos.

Victoria é o meu lar, no qual eu sempre posso voltar.

Contanto que ela esteja lá.

— Então prove que me ama. — Dei um riso anasalado enquanto a provocava.

— Meu bem.. — Vicky se aproximou dos meus lábios e falou:

Terei que te tocar de novo pra provar isso?


FIM.


Qual o seu personagem favorito?
Adele: 0%
Angelina: 0%
Vicky: 0%


Nota da autora: Fim da short!

Agradeço a todos que leram, e se possível, deixem o feedback lá no meu Instagram!! (@saphhstorys) Mal posso esperar para trazer mais histórias de minha autoria para vocês!!

Beijos da Saphire ;)

Nota da bethinha 🧚‍♂️: "O meu medo sempre foi um empecilho para a confissão", COMO QUE FAZ QUANDO QUER COLAR UMA FRASE NA TESTA? EU ME IDENTIFIQUEI TANTO COM ISSO AQUI QUE MEU DEUS. Caramba, essa fic é perfeita em tantos níveis! A profundidade dramática, a carga de sentimentos, a maneira como tudo se conecta... eu vi muito da mãe da Adel na Vicky, e a cena dela fechando os olhos EXATAMENTE como a mãe no final foi um plot twist fenomenal. Sinto que além de um amor e uma alma gêmea, a Adel encontrou a parte que faltava nela, a parte que ela costumava ter com a mãe e que pensou nunca poder encontrar em mais ninguém. Mas que agora encontrou. 🥺 Essa história conseguiu ser fofa e safadinha ao mesmo tempo, e eu AMEI isso sdskdjfkdjkf mas, nossa, que história linda. Me emocionei bastante com o enredo. Pode trazer mais nesse estilo pra já.

Eu boiolei em diversas partes dessa história, mas essa aqui foi MUITO fofa: "Como no dia em que ela apareceu na minha casa pela madrugada, descabelada e com dois lanches, querendo assistir um filme de terror comigo." Ai, EU QUERO TER O QUE ELAS TÊM AGORA!!!!!!!!!!!!!!!!!!! De verdade, que coisa linda. A maneira como a Saph conseguiu equilibrar as cenas românticas, daquelas que te faz suspirar e desejar com todo o seu ser viver algo puro assim, com as partes picantes do hot, foi sensacional. Ficou muito bem equilibrado e sem parecer forçado nem nada, pelo contrário; trouxe uma aspecto natural, como se as coisas tivessem rolado assim mesmo, naturalmente. Você sente de TUDO lendo Body and Soul, a fofura do relacionamento da Adel com a mãe, a tristeza por ela estar partindo como o marido que amou, o luto que acompanha a Adel depois disso, o medo e receio que ela sente quando conhece a Vicky, o momento e que ela enfim se abre e diz o que sente... e, é claro, a maneira LINDA com que a Vicky demonstra retribuir. É tudo tão completo que me impressiona sendo uma oneshot tão curtinha. Porque tudo na narrativa ocorre de maneira inteira, sem deixar faltar. Ela cumpre o que promete e ainda entrega um pouco mais. Enfim, eu amei.

Bem, é isso. Deixem um comentário para a autora aí embaixo, hein? Eu tô de olho <3


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