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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 07/03/2025.

New Beginnings, Colorado.
Julho, 1980.


A respiração dela era ofegante, quase tão alta quanto o som dos seus passos desesperados sobre as folhas secas da floresta. O vento cortante da noite soprava entre as árvores, mas não o suficiente para abafar o som que mais temia — os passos pesados, ritmados, que a seguiam de perto. A cada passo que dava, o medo apertava-lhe o peito, tornando mais difícil correr. No meio da escuridão, os olhos da garota tentavam desesperadamente encontrar uma saída, mas a floresta parecia não ter fim, com sombras distorcidas por todos os lados.
Um estalo. Ela parou abruptamente, segurando a respiração e com os olhos arregalados. Virou-se lentamente, sabendo que não devia, mas era incapaz de não o fazer. Foi então que o viu novamente, a figura alta e encapuzada, com um facão nas mãos, e ele se encontrava mais perto do que antes.
Sem tempo para pensar, ela recomeçou a correr, sabendo que, no silêncio daquela noite interminável, ele estava lá. Apressou seus passos, sabendo que faria mais barulho do que antes, mas não tinha uma alternativa. Choramingou, sabendo que a sua maquiagem estava toda borrada ao redor dos seus olhos, e era uma das suas menores preocupações.
Se aproximou de uma árvore, se escondendo nela. Manteve seu corpo grudado no tronco, e tentou olhar entre os galhos. Engoliu seco e levou uma das mãos até a boca, pois achava que seu choro poderia ser ouvido. Não viu nada, nem de um lado, nem de outro.
Estava segura, pensou.
No entanto, ao se virar, tomou um susto que fez com que seu corpo petrificasse. A figura se encontrava diante dela. Observou, sem ter o que fazer, ele levantar o braço e passar o facão entre o seu corpo. Engasgou-se no próprio sangue, sentindo o gosto metálico na boca, o frio tomou conta do seu corpo e ela cedeu.
Foi jogada de lado como um saco de lixo, e o mascarado voltou a caminhar, segurando mais firmemente em sua arma e indo em direção ao acampamento determinado a fazer mais vítimas.



New Beginnings, Colorado.
Julho, 1998


!

A ruiva ouviu o seu nome ser chamado mesmo usando os fones, retirou o arco da cabeça, com Goo Goo Dolls tocando Íris em um volume aceitável, e o colocou em volta do pescoço. Parou de pedalar ao apoiar um dos pés no chão, no quais usava all stars amarelos.

Olhou na direção em que a chamavam e um sorriso brotou em seus lábios.

— Oi, ! Está indo para a aula?

O moreno colocou as mãos nos bolsos do agasalho cinza que usava e concordou com a cabeça. Fitou a garota à sua frente com seu rosto coberto de sardas, achava adorável. deu um pulo da bicicleta e começou a andar ao lado enquanto empurrava.

— Você conseguiu dar um jeito? Vai conseguir ir? sempre tem um plano! — prontificou o rapaz, rindo, fazendo com que a garota risse também.

Com um apertar de botão, desligou o walkman com a fita que havia conseguido gravar da rádio há algumas semanas. Um vento mais intenso a atingiu, fazendo com que seus cabelos ficassem bagunçados e ela tirasse alguns fios do seu rosto.

Ainda pensando no que havia ouvido de , ela era a pessoa que sempre tinha um plano?

Sendo filha de quem era, a garota precisava ser assim. No passado, a sua mãe passou por uma situação traumática. nunca entendeu direito, pois a mais velha não era muito de falar a respeito.

Ao chegar à escola com a fachada em tijolos vermelhos, colocou a bicicleta no lugar correto. Assim que se abaixou para que colocasse a corrente nas rodas, uma sensação ruim cresceu em seu corpo, fazendo com que o coração apertasse, e, mesmo com os fios vermelhos tapando parcialmente a sua vista, algo apareceu em seu campo de visão ao olhar por cima do seu ombro.

Do outro lado da rua, enquanto os carros passavam, os alunos chegavam e o ônibus escolar se mantinha em movimento, uma figura, que parecia ser masculina, usava uma máscara branca a fim de tapar o seu rosto. franziu o cenho, sentindo algo em seu estômago e continuou olhando. Até que um carro passou e ela se sobressaltou com um toque em seu ombro.

— Oi, bobona.

Fechou o cadeado e se colocou em pé, fitando a melhor amiga, que possuía um sorriso angelical e seus cabelos azuis se moviam por conta de uma rajada mais intensa.

— Oi, bobona.

— Nem acredito que essa é a nossa última sexta-feira de aula antes das férias. — possuía certa empolgação em sua voz.

ainda estava com o coração na boca.

— E no domingo nós vamos...

O sinal tocando e fazendo um barulho alto fez com que a fala de saísse cortada, fazendo rir. Passou um dos braços pelos ombros da amiga e dessa forma caminharam juntos para a entrada da escola.
Ainda assim deu uma olhada para o mesmo local de antes e nada viu. A sensação continuou ali, por pouco tempo, mas continuou.

De fato, a ruiva se sentia empolgada pelo fim das aulas. Não aguentava mais o terceiro e último ano, a sensação era que nunca acabaria aquele pesadelo de ser quase uma universitária e viver com a pressão da sua mãe em encontrar uma faculdade próxima a New Beginnings.

— Que horas hoje? — Ouviu falar com ao seu lado e abriu o armário, sorrindo imediatamente.

Viu uma foto do trio, uma polaroid tirada há alguns meses em um dos jogos do interclasse que teve no início do ano, os três com os rostos pintados com as cores da sua turma. Com uma das mãos, alcançou uma apostila de Física e soltou um suspiro.

— ... Né?

Após fechar o armário, se virou para os amigos e franziu o cenho.

— Né, o quê?

— Vamos ver filmes de terror hoje. Combinamos há semanas — respondeu calmamente.

Olhou para e , intercalando de um para o outro. Soltou um suspiro e concordou com a cabeça, começando a andar pelo corredor, enquanto outros faziam o mesmo apressadamente e se dirigiram até a sala de Física. Ela odiava essa disciplina. sempre pensava: quem em sã consciência gostava de exatas? Era quem vinha em sua mente.

🔪🩸


jogou uma pipoca dentro da boca, ouvindo o estralar do milho, e manteve os olhos grudados na pequena TV com antenas da sala na casa .

Todos nós enlouquecemos um pouco às vezes. — A frase foi dita no filme que estavam assistindo aquela noite, Pânico.

— Não. Acredito! — A voz de saiu baixa e a garota olhou para os amigos ao seu lado ligeiramente. — Ele é o assassino?

— O filme tá terminando, shh! — sussurrou de volta.

A ruiva segurou uma risada, voltando a jogar várias pipocas dentro da boca. Seus olhos vidrados na tela, as cenas aconteciam rapidamente e ela adorava esse filme, já havia visto várias vezes desde que chegou à locadora próxima à sua casa, até chegou a pedir um poster.

— Quero ver o próximo! — os olhou com um sorriso nos lábios.

— Vamos ver no acampamento! — deixou o balde de pipoca sobre a mesa de centro, ao lado de um vaso cheio de rosas da sua mãe.

— Sério?

alcançou a lata de Coca Cola em temperatura ambiente e trouxe até a boca, bebendo um gole generoso.

— Essas coisas que aconteceram no passado. Seus pais falam a respeito? — indagou baixo e os olhou ao seu lado.

Notou travar a mandíbula e olhar para as mãos. Suspirou e voltou a deixar a lata em cima da mesa, colocando uma mecha dos seus fios vermelhos e lisos atrás da orelha.

— Tudo bem, não precisa...

— Minha mãe não gosta de falar a respeito — a outra murmurou. — Ela sempre diz que foi traumatizante.

a fitou por longos segundos e acenou rápido com a cabeça. A mãe dela também não conversava a respeito do que havia acontecido. Sabia mais pelos outros do que pela própria mãe sobre a noite e madrugada fatídica de julho de 1980.

— Querem ver o próximo? — as olhou, dando de ombros, tentando amenizar o clima estranho que havia se formado.

— Prometi à minha mãe que voltaria cedo. — se levantou, passando as mãos pelo short amarrotado.

— Achei que ela estivesse de plantão hoje. — a olhou.

— Essa hora ela já deve ter voltado — murmurou, ao olhar para o próprio relógio no pulso. — Vejo vocês... se der tudo certo, no domingo.

Não deu tempo para que os amigos respondessem, apenas saiu em passos rápidos em direção à saída, mas sem antes pegar a mochila que havia jogado por ali. Os olhou antes de fechar a porta e foi até a sua bicicleta, que se encontrava no chão, na frente da residência.

Um miado alto assustou , que se virou bruscamente. A respiração tornou-se ofegante e fechou os olhos assim que distinguiu o animal andando por cima da cerca, com uma habilidade invejável.

— Gatinho. — Seu tom de voz era baixo, por conta da respiração ofegante. Engoliu seco e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, devido ao vento.

Ajeitou a mochila com cuidado em suas costas e jogou as madeixas para frente, sentindo o cheiro gostoso do xampu que havia usado no banho mais cedo.

O ponteiro maior e menor do seu relógio se encontrava no 11 assim que montou em sua bicicleta e começou a pedalar pelas calçadas desertas de New Beginnings. Apertou as mãos em volta do guidão, travando a mandíbula ao movimentar as pernas e focou em como as folhas, ao chão, se movimentavam por conta de uma rajada mais intensa.

O vento batia em seu rosto, bagunçando seu cabelo e deixando sua boca ainda mais seca. Aumentou a velocidade das pernas ao notar uma esquina, teria que atravessar a rua ligeiramente. Virou a cabeça, olhando do outro lado da rua, apenas algumas casas estavam com as luzes acesas. Voltou a direcionar seu olhar para frente.

Ao chegar à esquina, ambos os lados foram verificados. Por mais que não ouvisse barulho de carro algum, não sabia o que poderia acontecer e sua mãe sempre lhe ensinou a olhar para os dois lados antes de atravessar. Assim que fez isso, sentiu o corpo dar um tranco rápido em um buraco no meio da rua.

Merda!

Suas mãos bambearam, mas conseguiu manter-se firme, apertando o freio de leve para que não caísse e se equilibrou ao chegar à calçada. Voltou a pedalar mais rápido e, ao virar o rosto e olhar a rua deserta por cima do seu ombro, uma figura tomou a sua visão.

tremeu as mãos, bambeou novamente a roda da frente para a direita e esquerda, quase caindo, no entanto, normalizou. Manteve seu olhar na figura um pouco distante, cerca de duas casas de onde estava, com uma máscara branca ocultando seu rosto.

Engoliu seco, percebendo a figura iniciar passos mais rápidos em sua direção. Fez o mesmo, pedalando de forma mais ligeira, até que o seu pé escapou do pedal e desesperou-se. Seu coração, que já batia forte, foi sentido na boca. A ruiva seguiu com as mãos suando no guidão da bicicleta, observou a aproximação. Não sabendo como, encaixou seu pé em cima do pedal e o moveu o mais rápido que pode.

Sua perna reclamou, mas ignorou. Olhou por cima do ombro, com a respiração alterada e seus fios vermelhos a atrapalhando. De repente, direcionou seu olhar para frente, se assustando com um carro que saía de uma garagem abruptamente. Desviou, quase perdendo o controle da bicicleta e, por breves segundos, achou que fosse cair e se machucar.

Porra! — gritou, ao segurar fortemente no guidão e cambalear, sem ter como evitar. Sua perna exposta por conta dos shorts bateu no para-choque e a dor a invadiu momentaneamente.

Mesmo sentindo um incômodo ao movimentar, continuou a pedalar. Tentou mais uma vez olhar pra trás e nada viu. Avistou a sua casa distante, ao lado esquerdo, e atravessou a rua, voltando à calçada e finalmente chegando. Largou a bicicleta de qualquer jeito, tropeçando no pneu, e jogou a mochila pra frente.

De novo, sua íris percorreu a rua deserta. Sem olhar o que fazia, abriu o zíper e tateou, buscando pela chave de casa. A respiração ofegante, misturada com o bater forte do seu coração, a deixavam sem fôlego. Assim que encontrou, pegou com firmeza o molho de chaves e abriu a porta de supetão, a fechando na mesma velocidade.

Puxou o ar ao passo que fechava os olhos. Largou a mochila por ali e sua mente estava como uma TV fora do ar, não passava nada. Era como se estivesse com a antena ruim e precisasse regular.

?

A ruiva deu um pulo, se virando em direção de onde a voz vinha. Viu a mãe no topo da escada, com as sobrancelhas arqueadas, e passou a língua pelos lábios.

— Onde você estava, filha? — Desceu as escadas apressadamente.

— Cheguei da casa do . Estávamos vendo filmes de romance — mentiu, sabendo que a mãe odiava filmes de terror.

A ruiva notou a mais velha acender as luzes na parede no fim da escada e se aproximar. A cicatriz na bochecha da sua mãe era evidente, no começo da maçã do rosto até o canto da boca, e a fitou nos olhos, sabendo que ela não gostava que olhassem para uma marca que ela possuía desde 1980.

Uma mecha vermelha foi colocada atrás da orelha da jovem e ela sorriu fechado, sentiu o afago da mãe em sua bochecha e suspirou baixo.

— Mãe...

— Eu tenho uma coisa para te mostrar.

estranhou, deixou que a mãe fosse na frente em direção à cozinha. A acompanhou, mantendo seus passos lentos, contudo, sentia as pernas trêmulas e, ao chegar ao outro cômodo, já com a luz acesa, notou algo em cima da bancada. Seus olhos encontraram um papel.

— Eu assinei.

New Beginnings High School
Autorização para o Acampamento de Verão Colorado
Pai ou responsável que aceita que seu filho se divirta durante três semanas no melhor acampamento do país. Favor assinar no campo indicado e será entregue a um dos responsáveis.


não conseguia acreditar. Pegou o papel em mãos como se aquilo fosse ajudá-la e leu no mínimo três vezes todas as palavras que constavam ali. Virou o rosto, olhando a mãe com um sorriso crescendo em seus lábios, mas sua mente trouxe memórias de instantes.

Aquela máscara. A forma como a figura andava em sua direção. Engoliu seco.

— E aí, você está feliz, filha? — A mãe se aproximou, mexendo em seus fios.

— Não vou — respondeu ligeiramente e deixou o papel sobre a bancada. Pensou no que poderia dizer, sabia que a mais velha a bombearia com perguntas. — Não vou te deixar sozinha.

E sem esperar que a mãe falasse mais alguma coisa, se virou, saindo da cozinha, passando pela porta de entrada e pegando sua mochila. Subiu as escadas, quase tropeçando ao chegar ao topo e, em passos largos, entrou em seu quarto, fechando a porta.

Poderia ser a sua mente cansada lhe pregando peças. Mas e se não fosse?


Continua...


Nota da autora: Sem nota.

🪐



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