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Revisada por: Hydra

Finalizada Em: 19/07/2024
Acordei suando frio, com a respiração ofegante e desorientado.
Meu sonho estava relacionado à pessoa que eu falhava em evitar pensar durante a semana inteira: .
Era provavelmente o terceiro sonho consecutivo que eu tinha com ela: estávamos na floresta proibida, havia uma névoa espessa no chão e ela sorria para mim, do jeito que eu desejava que ela sorrisse a todo instante, mas nunca acontecia. Ela só sorria para os outros, nunca para mim, provavelmente pelo fato de eu tratá-la mal de propósito, para que ela se afastasse de mim. Durante nossa caminhada na floresta, encontramos um Quokka, criatura tão sorridente quanto ela, proveniente da sua terra natal, Austrália. A garota se abaixou para fazer carinho nele e quando resolvi fazer carinho no animal para acompanhá-la, ele se esquivou e correu numa velocidade acima da média, ela foi atrás dele me deixando para trás. Então eu corri e nunca a alcancei, aquele tipo de pesadelo onde você nunca chega aonde quer chegar e percebe que está perdendo antes de acordar.
Porque essa era a razão do meu sonho: eu podia correr o quanto fosse, na direção dela ou para longe dela... Meus problemas continuariam ali me assombrando. Se eu corresse na sua direção, meus pais me deserdariam e talvez eu até fosse morto por traição ao sangue, apagado da árvore genealógica como o traidor Black. Se eu corresse para longe dela, provavelmente perderia a última centelha de fogo e felicidade que havia em meu peito, porque sim, eu podia fingir para qualquer pessoa, mas meu coração sabia que eu estava apaixonado por ela.
era lufana, algo que por si só, já deixaria meus pais com o nariz franzido em desdém, e para piorar as coisas, ainda era uma maldita sangue-ruim.
Como, em nome de Merlim, pude deixar isso acontecer? Deixar aquela garota simplória e tão distante da minha realidade se aproximar tanto assim de mim?
Vi-me em quase todas as ocasiões tratando-a mal, xingando, ofendendo, humilhando para que ela não se aproximasse de mim, e quanto mais eu fazia, mais ela se convencia de que aquilo era apenas fachada. Porque ela era simplesmente assim, conseguia ver o melhor das pessoas, mesmo que o meu melhor estivesse enterrado muito abaixo da superfície. Ela nunca se ofendia, sempre piscava com calma e doçura e dizia coisas como “está tudo bem, Malfoy, o dia em que você não precisar mais fingir, eu serei a primeira a te acolher”. Aquilo sempre me derrubava e me atingia de um jeito que eu não esperava.
Respirei fundo, girando algumas vezes em minha cama antes de perceber que não conseguiria mais dormir. A sua risada bonita ecoando em minha mente, quando ela tocou o animal sorridente em meu sonho.
Peguei-me fazendo um caminho sorrateiro até a torre de astronomia. Precisava pensar um pouco, o momento não era nem um pouco propício para eu estar tendo uma porra de um momento de fraqueza como este. Lorde das Trevas havia passado uma tarefa a ser feita, tarefa esta que eu estava enterrado até o pescoço e não havia mais como voltar. Não que eu quisesse voltar… Na verdade eu queria, mas não podia admitir isso para alguém e muito menos pensar nisso, afinal se Lord Voldemort descobrisse que seu pupilo escolhido a dedo estava pensando em dar para trás… O que seria de mim?
Além de todo esse estresse, sonhar ou pensar em uma determinada lufana não me ajudava em nada.
E ela estava na torre. Merda.
— Você é provavelmente a última pessoa que eu esperava ver aqui, Malfoy. — sua voz era suave, sem julgamentos e seu sotaque era uma das coisas que eu mais gostava nela.
— Digo o mesmo, . — eu já estava acostumado a ser desprezível com as pessoas.
— Problemas para dormir? Caraminholas na cabeça? — perguntou ela, tirando o olho do telescópio e fazendo anotações no pergaminho ao seu lado.
Ah, se você soubesse que uma dessas caraminholas é exatamente quem fez a pergunta.
— Você não faz ideia. — suspirei, não sabendo se continuava ali ou voltava por onde entrei. Eu precisava de um tempo para a minha cabeça, e não mais momentos com ela para ficar obcecado.
— Quer compartilhar alguma coisa?
— Não, na verdade nem sei porque estou perdendo tempo falando com uma sangue-ruim. — eu precisava me afastar dela. Urgentemente.
Ela pôs uma mecha de cabelo loiro para trás da orelha.
— Você não precisa fingir para mim. Não quando estou sozinha.
— Do que é que você está falando? Acha que sabe alguma coisa sobre mim? — cuspi patético, como se ela fosse se deixar enganar.
— Acho que isso tudo é fachada. Um ódio gratuito e bobo para que as pessoas não saibam que você gosta de uma lufana nascida trouxa. — ela disse, fazendo meu coração palpitar de maneira diferente.
— Quem te falou uma asneira dessa? É muita criatividade para uma lufana perdedora pensar sozinha. — insisti, mas já sabia que estava perdendo a batalha.
Ela sorriu, um sorriso bonito e verdadeiro. Senti meu estômago revirar.
— Como eu já disse, você não precisa mentir para mim, Draco.
Draco.
Ela nunca falava meu primeiro nome, percebi que minhas pernas me levaram para perto dela mesmo que eu não pensasse nisso. Ela não recuava, não estava com medo de mim, nunca esteve.
— Quando você soube? — minha guarda baixou quando ouvi meu primeiro nome, nossos primeiros nomes sempre estiveram fora de cogitação, era um acordo mútuo não verbal. Eu nunca havia a chamado de .
— Não sei dizer muito bem, acho que foi na mesma época em que descobri que gosto de você também.
Aquilo era novidade, não existia a mínima possibilidade daquela garota gostar de mim, não quando meu nível de toxicidade perto dela era acima do suportável.
— Como você pode ser tão autodestrutiva a ponto de gostar do garoto que faz bullying com você?
— No começo eu te odiava, te odiava de verdade. — Sua pele era quente e bronzeada, e seus cabelos eram dourados, as pontas queimadas pelo sol. Ela provavelmente passava o verão na praia, e por um milésimo de segundos, me imaginei em alguma praia da Austrália com ela sorrindo para mim como em meus sonhos. — Quase cheguei a pedir transferência para Beauxbatons, mas meus pais realmente gostaram de Dumbledore.
Pensar na possibilidade de que ela iria pedir transferência por minha causa me machucou mais do que eu admitiria a qualquer um. Ela continuou:
— Depois de algum tempo eu percebi que as provocações e insultos eram tão incessantes que algo em minha cabeça pareceu fazer sentido. Não é possível que esse garoto não consiga ficar calado nem uma mísera vez em que passa por mim, não existe uma só vez em que eu passe despercebida por ele. E então eu liguei os pontos, eu nunca passava despercebida por você, porque você sempre estava me procurando. E quando achava… Boom. Insultos para chamar a minha atenção, porque nada te doía mais do que eu ser indiferente a você e seus amigos.
estava linda e acho que nunca estive tão próximo dela, usava brincos prateados em formato de estrelas, os cabelos estavam soltos e seus olhos estavam negros, como a noite lá fora. Não estava usando as vestes da escola, usava um suéter preto fino e calças jeans.
Meus pais abominavam tecido jeans, diziam que era o cartão de entrada dos trouxas e nenhum bruxo que se preze usa itens jeans. Eu vestia um roupão de algodão preto aberto, e por baixo eu estava de pijamas, uma calça listrada e uma camisa branca lisa. Ridículo, vulnerável.
— Eu não queria que fosse assim.
— Mas é. Eu sei de onde você vem, Draco, e sei principalmente o quanto a sua família me abomina.
— Isso não é desculpa. — acabei dando mais um passo em sua direção, estávamos próximos o suficiente para que eu pudesse tocá-la.
— É sim.
— Não, , não é! — fui mais grosso do que gostaria, e ela se assustou. Gostei de como o seu nome soou em minha boca. — Pare de me tratar como um pobre coitadinho que não teve escolha. Eu não tive escolha de muitas coisas na minha vida, mas te tratar mal por opção não era uma delas. Eu fiz de propósito.
— Por quê?
— Você já sabe o porquê. — desviei meus olhos dos seus, com vergonha por ter sido um idiota esse tempo todo.
Senti os dedos dela em meu queixo, erguendo meu rosto para que eu a encarasse.
— Quero que você diga. — os pelos do meu braço se arrepiaram com a coragem dela. era destemida, não baixava a guarda e foi aquilo que fez ela se destacar de todos que eu já fui um idiota.
— Eu fiz tudo o que fiz com você porque estou apaixonado por você, . Porque a minha vida é uma droga e o único momento em que meu coração parece viver é quando te vejo passar pelos corredores. Tentei te afastar de mim, porque eu sou a merda de uma casca vazia que só faz o que os outros mandam. E o breve momento que eu passo ao seu lado, vendo tudo o que eu nunca vou ter, me faz ter ainda mais raiva.
— Quem te disse que nunca vai ter? — perguntou ela, e eu acabei soltando ar pelas narinas, em uma risada sem graça alguma.
— A vida que está escrita para mim não me permite fazer esse tipo de escolha, eu nunca vou poder me relacionar com uma nascida trouxa.
Notei seus olhos ligeiramente marejados, ela mordeu o lábio e acenou com a cabeça concordando, nitidamente magoada.
— Por favor, não faça isso comigo. — supliquei com a voz embargada, segurando sua mão e puxei-a, fazendo com que ela viesse ao meu encontro. — Me desculpe, .
Ela enlaçou as mãos em minhas costas por dentro do roupão e ergueu a cabeça olhando em meus olhos. Nunca em meus sonhos mais loucos, eu imaginaria aquela proximidade toda. A garota sorriu, ficou na ponta dos pés e beijou a ponta do meu nariz.
Afastou-se de mim, pegou sua varinha e pronunciou ainda sorrindo:
— Expecto Patronum!
A luz que o feitiço produziu clareou o ambiente inteiro, uma névoa brilhante saiu da ponta da sua varinha e nos rodeou. Um animal, que reconheci ser um quokka, correu entre nós dois, aquele sorriso amigável que ele sempre tinha e que me lembrava .
Nesse momento, percebi o motivo desse animal sempre rondar meus sonhos: era o espírito animal dela, o animal que me fazia lembrar dela, de seus sorrisos que nunca eram para mim e por mais adorável que o bichinho fosse, continuava sendo selvagem, indomável e sempre correndo para longe de mim. O animal correu pelo ar, passou pela janela e sumiu noite a dentro.
— Para quê este feitiço? — perguntei, puxando—a novamente para mim, agora que eu tinha sentido o calor do seu corpo, seria difícil me afastar.
— Para que daqui há alguns anos, eu me lembre do dia em que Draco Malfoy foi gentil comigo.


Fim!


Nota da autora: Sem nota.

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