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Codificada por vênus. 🛰️
Concluída em: 24.11.2024

— Senhor, esse é o último voo que tenho para Seul na data de hoje. E não temos mais primeira classe, somente a comum.
A atendente disse da forma mais neutra possível e se Xiaojun estivesse sem a máscara cobrindo metade de seu rosto, ela poderia ver o sorriso dele se desfazer. Tudo o que ele menos podia ouvir naquele momento era uma notícia dessa, acentuando como estava perdido e que estaria extremamente encrencado ao chegar em Seul. Perder o voo agendado naquela manhã por causa de dez minutos num engarrafamento foi a coisa mais irresponsável que poderia ter feito — seu staff fora completamente específico ao deixá-lo levar um dia a mais, referente aos outros companheiros do grupo, desde que ele não causasse nenhum problema e tivesse extremo cuidado com os imprevistos.
O voo reservado para Seul era menos cheio e tinha a disponibilidade de o reconhecimento ser menos perigoso, dentre outros detalhes, para ele que ia sozinho. Xiaojun estava completamente desapontado consigo mesmo por ter acordado mais tarde naquela manhã. Se soubesse que teria de lidar com tal acontecimento, não teria ficado até tão tarde com seus pais. Não se arrependia de ter pedido um dia a mais em Pequim para estar com eles antes de ir cumprir seus compromissos em Seul com a empresa, mas deveria ter se calculado mais para evitar dores de cabeça.
Agora ele iria no primeiro voo que tinha disponível para Seul, na classe econômica — o que não era um problema por razões financeiras ou de classe, mas sim por ter mais gente, e quanto mais pessoas, maiores as chances de ser reconhecido e ter seu rosto estampados imagens tiradas sem sua permissão ou da SM.
Um grande transtorno. Contudo, não tinha muito o que fazer.
— Senhor? — a atendente o chamou, trazendo-o de volta para a realidade. — O voo sairá em 40 minutos, tenho exatamente um minuto para ajustar sua passagem. Posso finalizar?
Ele respirou fundo, pressionando os olhos e os abrindo outra vez. Então assentiu para a mulher à sua frente, passando a mão no cabelo para tentar distrair-se da própria tensão.
— Pode sim.
Não demorou, ele precisou apenas assinar um papel, mostrar seu documento e torcer para que não fosse vazado sobre sua presença ali e ir para a fila de embarque, que já estava liberado. Não olhou o telefone, mesmo não parando de vibrar; sabia que eram mensagens do grupo de todas as units e também do staff querendo saber se já tinha conseguido resolver o próprio problema. Sua cabeça estava latejando demais para dar atenção, naquele momento, aos inúmeros acontecimentos dos amigos na capital coreana, sabia de algumas coisas que aquele dia reservava e outras que ainda seriam reveladas, além de não ter fôlego para aguentar o sermão que viria.
Seu embarque foi tranquilo, era um avião pequeno, com duas fileiras de três poltronas em cada linha. Infelizmente não teve o privilégio de fazer check-in a tempo de escolher a janela e acabou ficando com a poltrona do meio, torcendo para ter mais sorte em suas companhias durante aquelas três horas de voo.
A primeira poltrona preenchida foi a de seu lado esquerdo, por uma senhora simpática e, com toda certeza do mundo, de fora da Ásia. Ela parecia preocupada e perdida, mas com a ajuda da aeromoça, se aconchegou em seu lugar. Não demorou muito e ele pôde reparar que ela não parava de se virar em seu próprio lugar, encarando o corredor para a direção da entrada, parecendo nervosa. Xiajojun digitava uma mensagem para Winwin, mas decidiu bloquear a tela de seu telefone e arrumar a boina que usava, também ajustando a máscara em seu rosto — todo e qualquer mínimo detalhe era importante; ser reconhecido ali seria uma situação difícil — para poder tocar suavemente o braço dela que estava apoiado no suporte de divisória dos bancos. A senhora o encarou assustada e ele limpou a garganta, arriscando a sorte com o idioma chinês.
— Está tudo bem? A senhora precisa de algo? — perguntou suavemente e de forma pausada.
Ela o encarou sem expressão por um momento, até parecer ter entendido e arqueou as sobrancelhas.
— Oh, querido... Obrigada. Está tudo bem sim. — sorriu para ele. — Estou preocupada com minha neta, ela precisou atender a uma ligação e até agora não chegou. Se ela perder esse voo, estamos ferradas! — virou-se novamente para o corredor, reclamando: — Bendita hora que esse infeliz foi ligar para ela!
Xiaojun assentiu, se arrumando outra vez no banco.
— Alguém deveria chamá-la. não pode perder o dia e horário para estar em Seul! — a senhora continuou reclamando, parecendo um brinquedo quando se dá corda e não tem parada.
— Fique tranquila, ela com certeza irá entrar a tempo. — tentou tranquiliza-la.
Ela virou o rosto para ele outra vez, com uma feição séria.
— Você não o conhece, filho... — suspirou, desistindo. — Eu só queria que minha conhecesse alguém tão doce quanto você. — estendeu o braço, passando a mão no rosto de Xiaojun suavemente.
— Ah... — ele prendeu a respiração, meio sem jeito. — Ela ainda irá encontrar-
— A minha é a 13B. Da minha vó 15B. Eu sei porque sou boa de decorar números, mas o papel ficou com ela...
A voz alta e estridente o cortou, fazendo-o virar o rosto para a direção de onde vinha, no corredor; a mão da senhora ainda estava em seu rosto.
E a moça em pé, “discutindo” com a aeromoça, em um olhar panorâmico pelas poltronas, encarou a direção deles.
— Ah! Eu disse! Ali, olha. — apontou para ele. — Reconheço aquela mão e anel em qualquer lugar!
Então era a tal .
Ela caminhou pelo corredor, sendo toda a situação rápida demais para ele pensar que ainda tinha a mão de uma desconhecida espalmada em sua bochecha e que a neta da qual ela estava comentando era espalhafatosa demais — ou pelo menos era o que já aparentava com aquela entrada no avião e sua caminhada pelo espaço curto, carregando sua mala.
— Vovó! Fazendo amizade com estranhos? — parou ao lado deles, chamando atenção da senhora.
— Filha! Por que demorou tanto? — a pergunta saiu com tom de alívio, com a mão sendo tirada de seu rosto.
A partir disso, Xiaojun não compreendeu mais nada do idioma delas e então voltou para sua conversa no aplicativo de mensagens com seus amigos. Além do grupo que tinha apenas o WayV, também tinha o com todos do NCT. O que para ele foi um martírio, já que Taeyong estava bravo e desapontado por sua “irresponsabilidade”. E ele não seria o único a cobrá-lo quando chegasse em Seul.
— Atenção senhores passageiros, por gentileza acomodem-se em seus lugares-
— Ah! Eu preciso passar.
As instruções que seriam passadas pela comissária foi a primeira coisa que o trouxe de volta para o ambiente, guardando o celular, mas a voz de , novamente falando em chinês, o deixou mais atento. Colocou o celular dentro da mochila em seus pés, no mesmo instante em que ela conseguiu terminar de enfiar sua mala dentro do bagageiro.
Ao fazer menção de levantar-se para ela poder chegar em seu lugar, foi cortado.
— Não precisa sair, não! Eu consigo chegar ali.
Ela sorriu abertamente e ele ficou parado no lugar, reparando a senhora negar com a cabeça. Não teve tempo de refutar, começou a passar. Restou para Xiaojun fechar o máximo as pernas e tentar se encolher, como um tatu, para ter espaço o suficiente. Por sorte, a pessoa sentada na poltrona do meio à sua frente não tinha abaixado o encosto ainda. Mas não deixava de ser embaraçoso.
— Vovó precisa ficar na poltrona do corredor, por conta do banheiro, e eu amo a janela. — ela comentou, assim que se sentou e ele pôde relaxar o corpo outra vez. Tinha um jeito nela de falar que não era comum, era como se ela estivesse tagarelando e não falando.
ama paisagens. Ela é fotógrafa. — a avó comentou do outro lado, olhando-o com um sorriso enorme. — Tira fotos incríveis pelo mundo todo e ainda leva a vovó junto.
— Ahn... legal. — Xiaojun virou o rosto para , sorrindo simples, mesmo que não pudesse ser visto por causa da máscara.
— Você deveria ver as fotos incríveis que minha neta já fez. Ela já fotografou até a Beyoncé!
— Vovó! — ralhou.
Xiaojun riu fraco.
— Ela deve ser mesmo muito boa no que faz, senhora...
— Pode me chamar de Cindy, querido. — o sorriso doce da senhora, agora Cindy, outra vez preencheu o rosto dela. — Meu nome é Aparecida, mas parece que as pessoas têm problemas em acertar ele e Cindy fica mais fácil.
— Na verdade, a senhora queria que seu nome fosse Cindy por causa da Lauper. — a denunciou.
— Também. Gosto muito dela. — Cindy respondeu, o olhando. — Igual a , ela gosta da Lauper e também de grupos do k-pop.
A espinha de Xiaojun esfriou. Ele se manteve ereto, quase fundindo-se à poltrona — e não era apenas por conta de o avião estar em alta velocidade para a decolagem; algo que passou despercebido até aquele momento devido a conversa.
— Não... Eu gosto de um grupo e outro. — suspirou, o tranquilizando. — E vovó, ele não deve ser coreano... — em um breve olhar, ele viu Cindy dar de ombros. — Minha avó acha que para me fazer enturmar com homens coreanos tem que me vender como uma apaixonada por k-pop. — disse baixo somente para ele. — E ela ainda não sabe diferenciar muito bem, deve ser coisa da idade.
, estou com o aparelho hoje! Posso te ouvir. — Cindy curvou o corpo, chamando a atenção dos dois. — Querido, não é que estou vendendo minha neta. Ela é linda, talentosa e uma menina de ouro. Quem levaria a avó para cima, literalmente, e para baixo no mundo todo enquanto faz trabalhos? Você não acha ela linda?
— E-eu...
— Não precisa responder. — o tranquilizou. — Vovó, está deixando ele sem graça. Por favor.
— Só quero te ajudar a encontrar alguém legal, divertido e que seja tão bonito por fora como por dentro, assim como você. — Cindy mudou o tom para mais baixo e desanimado. — Não gosto de te ver assim, atendendo ligações daquele traste do seu-
a cortou, outra vez, mas no idioma que ele não entendia.
Xiaojun se concentrou em encarar a poltrona à sua frente, enquanto sentia o avião terminar de se estabilizar no céu. Finalmente estava indo em direção a Seul. Se pudesse dormir, logo acordaria já no solo em que deveria estar há horas. Suspirou pesado, notando que Cindy se levantou, parecendo frustrada. Puxou o celular do bolso outra vez e os fones sem fio também.
— Me desculpe pela minha avó. — ouviu a voz de e virou o rosto para ela. — Ela não tem travas na língua.
— Tudo bem. Todo mundo tem uma avó querendo fazer papel de cupido. — ele respondeu calmo.
— Ah, mas às vezes ela foge um pouco da realidade.
— Talvez seja porque ela te ama e quer o seu bem. — Xiaojun deu de ombros, esquecendo de seu celular e fones, encostando a cabeça no encosto da poltrona. — Às vezes acabamos por nos intrometer demais no espaço do outro porque queremos apenas o bem e não vemos que fica... assim.
— Minha mãe faleceu há alguns anos e ela era quem cuidava da minha avó. Mamãe não aguentou perder meu pai, o amor da vida dela, e logo adoeceu também. — ela começou a compartilhar, também se ajeitando confortavelmente. — Então sobramos nós duas, já que meus outros avós faleceram antes mesmo de eu nascer e de nenhum lado tenho tios. Ela é minha única família. Eu deixo porque sei que ela quer meu bem... Mas-
parou bruscamente.
— Mas?
— Deixa pra lá. Pessoal demais para compartilhar com um estranho que não conheço e sequer sei o nome. — ela franziu o nariz. — E que, inclusive, não sei nem como é o rosto. Precisa mesmo de tudo isso? — se referiu à máscara e à boina.
Ele desviou o olhar para frente.
— Me chamo Xiao.
— Nossa, que banheiro maravilhoso, ! — Cindy surgiu tão de repente, animada outra vez e espalhafatosa assim como a chegada de sua neta pouco antes.
Não demorou muito para que, ouvindo a conversa delas em outro idioma, ele pegasse no sono. Em seu sonho, parecia tudo tranquilo, como se não estivesse a pouco de levar a maior bronca monumental do século, assim como se não estivesse ali entre duas pessoas desconhecidas que, mesmo malucas demais para o comum de sua vida, lhe fizeram sentir-se mais à vontade.
Até sentir um aperto forte em sua mão, com o chacoalhão de seu corpo e ouvir a voz do piloto, explicando o que estava acontecendo.
Era uma turbulência.
Ele abriu os olhos, vendo a mão de apertando a sua, tão forte que ele pôde sentir a circulação parar. Não disse nada, continuou parado da mesma forma, esperando que aquilo parasse. E quando parou, quando foram avisados pelo piloto que havia acabado e faltava pouco menos de 15 minutos para pousarem, soltou o ar pesado de forma leve.
— Acho que nunca fui acordado de uma forma tão brusca assim... — comentou, bocejando. — Pode soltar minha mão agora, talvez ainda tenha salvação para a circulação. — riu fraco, nervoso.
— Você estava dormindo? — perguntou tão rápido que ele quase não entendeu pelo vestígio do sotaque.
— Sim? — puxou sua mão, massageando.
— Você é estranho. — Ela continuou o encarando com uma careta.
— E por acaso é comum sair pegando na mão de alguém dentro de um avião? — Xiaojun rebateu.
— Quando tem medo envolvido, tudo é feito sem pensar.
tirou o próprio cinto, levantando-se e saindo dali.
— Ela passou um bom tempo dizendo algumas coisas e você respondeu... — Cindy disse, pegando sua atenção. — As melhores e mais marcantes relações sempre começam ao contrário, querido. E com a magia do Natal? — sorriu pretensiosa. — Ah... essa magia é única. Só saia desse avião depois de pegar o número dela, sim?
Xiaojun estava um pouco atordoado ainda, mas assentiu, virando o rosto para encarar a janela. As nuvens não foram capazes de lhe dar nenhuma linha de pensamento, apenas ficou ali divagando nos acontecimentos da manhã e na fala da avó de . Parecia estar em uma comédia romântica de Natal, com toda aquela confusão.
Porém, nem tudo poderia ser mesmo encarado como um desastre. Às vezes se trata de apenas um movimento para que as coisas mudem.




FIM.


Nota da autora: Espero que tenha gostado. Até a próxima!


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