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Revisada/Codificada por: Pólux

Última Atualização: 29/10/2024
Kakashi Hatake estava sentado atrás de sua mesa, o ambiente ao seu redor carregado pela umidade sufocante de uma noite chuvosa. O som da água batendo furiosamente contra a janela, criava uma trilha sonora que combinava perfeitamente com o caos que reinava em sua mente. Papéis estavam espalhados por toda a mesa, mapas marcados com pistas que pareciam não levar a lugar algum, relatórios que só traziam más notícias. O cenário diante dele era um reflexo de seu estado interno: desmoronando.
Ele olhava para suas mãos, os dedos apertando a caneta com força, quase como se a pressão física pudesse, de algum modo, pressionar uma resposta para fora de sua mente. Mas nada vinha, apenas a sensação persistente de estar preso em um labirinto sem saída. O "Sorridente" estava sempre um passo à frente, deixando um rastro de morte e terror que zombava de cada tentativa de captura. Kakashi fechou os olhos por um momento, tentando afastar a onda de frustração que ameaçava engolfá-lo.
Então, um pensamento incômodo surgiu, um pensamento que ele vinha tentando afastar o dia inteiro: ele precisava dela. Só de pensar nisso, seu corpo se enrijeceu. Ela era a única que conhecia o assassino tão bem quanto ele, talvez até melhor. Ela poderia ver o que ele não conseguia, encontrar as pistas escondidas nas entrelinhas da loucura.
Contudo, pedir a ajuda dela significava mais do que admitir sua própria falha; significava abrir uma porta que ele jurou manter fechada. A história entre eles era carregada de ressentimento, raiva e algo mais profundo que ele não queria nomear. Kakashi passou a mão pelo rosto, sentindo a aspereza da barba por fazer. A ideia de precisar dela era uma agulha constante em seu orgulho ferido. O fato de que ela, entre todos, era a única capaz de entender o que ele estava enfrentando o enfurecia ainda mais.
Ele se levantou abruptamente, empurrando a cadeira para trás com um rangido agudo contra o chão. Caminhou até a janela, a escuridão lá fora refletindo sua turbulência interna. Sua mente girava entre a necessidade desesperada e o orgulho ferido. “Memento Mori”, ele pensou, as palavras gravadas na pele abaixo da clavícula ecoando em sua mente. Lembre-se de que você vai morrer. Era um lembrete cru de sua própria mortalidade e do tempo que se esgotava.
Com um suspiro frustrado, ele fechou os olhos. Precisava dela, era um fato que não podia mais negar, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Cada fibra de seu ser relutava, mas a cidade estava em perigo, e ele não podia permitir que o orgulho ou o passado o paralisassem. Ele sabia que teria que engolir a raiva, aceitar a necessidade e ir até Senju. Cada passo em sua direção seria uma batalha interna, mas ele não tinha outra escolha.
Ele se lembrou da noite em que ela partira, da decisão que ela tomara e do caminho que escolhera. Era um tempo que parecia tão distante, mas agora, em meio ao desespero, parecia que o passado e o presente se chocavam, exigindo uma resolução.

[•••]


Sete anos antes

A chuva caía torrencialmente, golpeando o asfalto sujo com força implacável. O som era um rugido constante, uma sinfonia caótica que preenchia o silêncio da cidade adormecida. Cada gota parecia bater com uma urgência cruel, escorrendo pelas calçadas e formando poças escuras e profundas, refletindo as luzes amarelas dos postes enferrujados. A rua estreita estava deserta, exceto pelos detritos trazidos pelo vento; papéis de jornal, sacos plásticos, folhas mortas que dançavam desordenadamente como fantasmas de um passado esquecido.
Kakashi estava parado no meio do beco, com o corpo encharcado, a água fria escorrendo por seu rosto e pescoço. O casaco negro grudava em sua pele, pesado pela chuva. O ambiente ao seu redor era opressor — os prédios antigos, com fachadas de tijolos vermelhos agora escurecidos pelo tempo, pareciam se inclinar sobre ele, como se estivessem prestes a desmoronar. As paredes úmidas refletiam a luz dos néons piscantes de um bar decadente na esquina, criando sombras que se moviam de forma traiçoeira.
O ar estava carregado com o cheiro de asfalto molhado, misturado com o odor agridoce de lixo apodrecendo em latas de metal velhas. Cada respiração de Kakashi parecia pesada, o frio da noite penetrando em seus ossos. Ele mal sentia o dedo no gatilho da arma, a mão firme, mas o coração acelerado. À sua frente, a silhueta de se destacava, imóvel, com a arma apontada diretamente para ele.
estava alguns passos à frente, o corpo meio encoberto pela escuridão do beco, com a luz de um poste solitário iluminando apenas parte de seu rosto. Seus cabelos curtos, tão negros quanto a noite, grudavam em sua testa e em suas bochechas, cada fio gotejando como se o próprio céu estivesse chorando por ela. Os óculos redondos estavam salpicados de gotículas, distorcendo seus olhos escuros, mas Kakashi conseguia sentir o olhar dela — um misto de dor, raiva e decisão.
O som da chuva era quase ensurdecedor, um tamborilar constante que preenchia cada espaço, cada silêncio entre eles. Ele teve que erguer a voz para ser ouvido.
, abaixe a arma! — Kakashi ordenou, com um tom firme, mas seu coração batia como um tambor, tentando superar o som da tempestade.
respirou fundo, cada inspiração parecia uma luta, seus ombros subindo e descendo de maneira quase imperceptível. O vento forte balançava a aba de seu casaco, jogando água em seu rosto, misturando-se com as lágrimas que ela se recusava a reconhecer. Ela apertou mais a pistola, o dedo se contraindo, mas sem apertar o gatilho.
— Não posso, Kakashi. — Sua voz saiu mais alta, mas quase se perdia no barulho da chuva. — Você não entende… nunca entendeu!
O som do trovão ribombou à distância, ecoando pelos becos como um grito de advertência. Kakashi deu um passo à frente, tentando se aproximar sem parecer ameaçador. Ele viu o olhar de vacilar por um breve segundo — um lampejo de incerteza, de medo, talvez.
— Então, me faça entender! — Ele implorou, a voz quebrando no final. — Me diga por que você está fazendo isso!
Ela inclinou a cabeça para o lado, um sorriso amargo curvando seus lábios, um sorriso que não alcançava seus olhos. parecia cansada, exausta de uma batalha interna que ele não podia ver.
— Você acha que é tão simples, Kakashi? — Ela murmurou, quase inaudível contra o som da chuva. — Que tudo se resume a certo e errado? Preto e branco?
Os dedos dela estavam firmes na arma, mas havia um tremor sutil, uma hesitação que ele notou. Kakashi deu mais um passo, suas botas fazendo um som surdo ao pisar nas poças, espirrando água suja em torno dele.
— Eu sei que você está escondendo algo. — Ele falou, a voz baixa, mas clara. — Sei que você não faria isso sem um motivo. Me diga, , o que está acontecendo?
Ela olhou para ele com um misto de dor e raiva, as gotas de chuva escorrendo por seu rosto, disfarçando as lágrimas que ela não conseguiu mais reprimir.
— O que está acontecendo? — Ela riu, uma risada curta e amarga que mal se ouvia sobre o som da chuva. — Eu cansei, Kakashi. Cansei de lutar por um mundo que está apodrecendo de dentro para fora, e que nunca quis ser salvo. Cansei de ser parte de um sistema que nos usa como peões, de ser uma peça em um jogo onde todos são corruptos, onde todos mentem… inclusive você.
Ele sentiu o estômago revirar, a dor em suas palavras atingindo-o como um soco. O Hatake nunca a tinha visto tão… quebrada. Ele estendeu a mão, como se pudesse alcançá-la, puxá-la de volta do abismo.
, por favor… — Ele implorou, os dedos quase tocando o vazio entre eles. — Não faça isso. Não vire as costas para tudo o que construímos. — Ele sussurrou. — Não faça isso. Não me faça ser seu inimigo.
Ela fechou os olhos, como se tentasse bloquear suas palavras, como se a dor de ouvi-las fosse insuportável. Quando os abriu novamente, a decisão estava lá, fria e inabalável.
— Eu não estou virando as costas, Kakashi. — respondeu, sua voz soando mais forte, mais firme. — Estou escolhendo meu próprio caminho. Um caminho onde eu não preciso fingir ser algo que não sou.
Kakashi balançou a cabeça, o cabelo prateado molhado caindo em seus olhos. A raiva, o desespero, misturavam-se em um nó apertado em seu peito.
— E é assim que você justifica se tornar uma assassina? — Ele gritou, dando mais um passo em direção a ela, a voz cheia de incredulidade e dor. — Vendendo sua alma ao submundo? Traindo tudo o que nós éramos?
Ela o olhou, os olhos escuros brilhando com uma mistura de tristeza e determinação.
— Não traí nada. — Ela sussurrou, tão baixo que ele quase não pôde ouvir. — Apenas cansei de ser traída por um sistema que nunca se importou.
O trovão soou novamente, mais perto desta vez, uma rachadura violenta que fez as janelas vibrarem. deu um passo para trás, para dentro das sombras, como se quisesse desaparecer.
, espere! — Kakashi deu um passo rápido à frente, sentindo o pânico crescer. — Por favor, não vá!
Ela olhou para ele uma última vez, seus olhos negros cheios de algo que ele não conseguia decifrar — dor, amor, talvez uma despedida silenciosa.
— Eu sinto muito, Kakashi. — Ela sussurrou, sua voz quase perdida na tempestade. — Mas já fiz minha escolha.
E antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, antes que pudesse alcançá-la, ela se virou e correu para a escuridão. Kakashi ficou ali, imóvel, a chuva martelando seu rosto, os braços estendidos para um vazio que ele nunca poderia preencher. Havia um gosto amargo da perda e da traição na boca.
Ele não disparou. Não podia.
O som da chuva era tudo o que restava entre eles, um rugido constante que engolia o último fragmento de esperança. Ela havia escolhido o lado dela. E agora, Kakashi sabia que teria de viver com sua ausência — e com as consequências de sua escolha.


[•••]


De volta a sua realidade… Ele pegou o casaco, sentindo o peso da decisão em seus ombros, e se dirigiu para a porta. Amanhã, teria que enfrentar não só um assassino, mas também seus próprios demônios.


Continua...


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Nota da autora: Nunca escrevi essa temática, então por favor, tenham paciência comigo, estou muito nervosa com esse tema, porém muito empolgada, espero que seja bem aceita.

**Obra inspirada no rap Circo dos horrores, e nos filmes: Coringa, Esquadrão suicida, Uma noite de Crime e em séries policiais e sobre psicopatas.

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