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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 19/07/2024
SE TINHA UMA COISA QUE odiava, era os jantares em família. Talvez não tanto quando não era a sua família de Lyon que vinha visitá-los em Reims, uma cidade aos arredores de Paris, onde os pais da modelo residiam há alguns anos. Eles não a conheciam tão bem quanto sua família materna e acreditavam que sabiam de tudo apenas lendo fofocas sobre sua vida por redes sociais.

sempre soube que tinha algo especial. Filha de pai francês e mãe brasileira, ela cresceu no Brasil com paixão pelo vôlei. Desde muito nova, ela se destacava nas quadras, com sua altura, beleza e talento. Ela sonhava em jogar pela seleção brasileira e representar seu país nas Olimpíadas.

Ela conseguiu realizar seu sonho aos dezoito anos, quando foi convocada para a seleção feminina de vôlei. Ela era uma das estrelas do time, que ganhou vários títulos e medalhas. Era admirada por milhões de fãs, que a viam como um exemplo de determinação, garra e carisma.

Mas sua carreira no vôlei foi interrompida por uma tragédia. Em um jogo decisivo, ela sofreu uma grave lesão no joelho, que a afastou das quadras por um ano. Ela teve que passar por uma cirurgia e um longo processo de recuperação, que foi muito doloroso e difícil. ficou frustrada, triste e sem esperança nenhuma de voltar às quadras.

Foi nesse momento, após oito meses, que ela descobriu uma nova vocação: a moda. Ela foi contratada por uma agência de modelos em NYC, que viu nela um potencial incrível. se mudou para The Big Apple sem saber muito o que esperar. Ela pensou que seria uma forma de se distrair e ganhar dinheiro, enquanto ainda se recuperava da lesão.

Porém, ela se surpreendeu com o sucesso que fez no mundo da moda. Ela tinha um rosto lindo, um corpo escultural e uma personalidade magnética, o que conquistou os melhores estilistas, fotógrafos e revistas. Ela desfilou nas principais semanas de moda do mundo, como Paris, Milão e Nova York. Participou de campanhas publicitárias de marcas famosas, como Dior, Chanel e Versace. E, para finalizar, ganhou prêmios e reconhecimento, como o de melhor modelo do ano pela Vogue.

se tornou uma super modelo, uma das mais requisitadas e bem pagas do mundo. Teve o prazer de viajar por vários países, conheceu muitas pessoas influentes e viveu experiências incríveis. Se divertiu, foi feliz, mas também enfrentou as mentiras da mídia, pressões e críticas. O que acontecia com todas as pessoas públicas.

E com certeza com ela não seria diferente, ainda mais se tratando da sua família.

O que mais a incomodava era que, assim que se sentassem à mesa, suas tias iriam começar a interrogá-la sobre sua vida amorosa, ou sobre a falta dela. Ela não havia apresentado alguém desde seus dezoito anos, e agora, aos vinte e quatro, ela se sentia uma solteirona. Ela não entendia por que sua família era tão obcecada com isso, afinal, ela tinha uma carreira de sucesso como modelo, ganhou prêmios, viajava pelo mundo e ganhava muito dinheiro. Ela não precisava de um namorado para ser feliz.

Mas suas tias não pensavam assim. Quando todos se acomodaram, elas começaram a disparar perguntas aos primos da brasileira, e logo chegaram nela.

— E você, querida? Quando vai nos apresentar um rapaz bonito? — Marie, a irmã do seu pai, perguntou com um sorrisinho.

— Eu ando muito ocupada com o trabalho, tia. Não quero me envolver e nem estou procurando ninguém por agora — tentou desviar do assunto, sabendo que seria inútil. — Não quero me apressar e escolher a pessoa errada.

— Trabalho, trabalho e trabalho... Isso não é vida. Você não acha que tá ficando velha demais pra isso? Você não quer ter filhos? — insistiu, fazendo com que todos os olhos caíssem sobre a modelo.

— Você é muito exigente, . Precisa ser mais flexível — Clara, filha de Marie que estava grávida de seis meses, comentou ao lado da prima, recebendo um olhar de reprovação da mesma.

— Eu tenho vinte e quatro anos, não cinquenta. Tenho tempo de sobra pra pensar sobre a minha vida amorosa. E quem disse que eu quero ter filhos? — retrucou, perdendo toda a paciência que lhe restava.

— E olha só, até o seu irmão que valia nada está namorando e vai trazer a garota para jantar. Ela é uma gracinha, você vai adorar! — Marta se intrometeu, apontando para o irmão mais velho de que conversava com o pai deles, fazendo a mulher se sentir ainda pior. — Tem que se mexer para não sobrar.

não sabia que Eric estava namorando. O irmão havia acabado de se mudar de Londres para Paris, onde jogaria pelo Paris Saint-Germain na próxima temporada, e ainda não teve a chance de encontrá-lo. Trocaram algumas mensagens no WhatsApp e ele havia avisado que tinha uma surpresa.

— A Louise é uma boa menina.

— Fico feliz pelo Eric — a modelo falou com sinceridade. — Ele merece alguém que o faça feliz.

— E você, não tem nenhum amigo que possa virar um namorado? Colega de trabalho? Vizinho? — Clara provocou novamente, e sentiu vontade de voar em seu pescoço. Elas nunca se deram bem, Clara sempre teve uma síndrome de superioridade mesmo sabendo que sua prima era a verdadeira celebridade.

— Acho que isso é um problema meu, não é?

— Que pena. Seu pai está preocupado com você, sabia? Ele espera que você traga um namorado para o Natal — Marie comentou totalmente falsa, fazendo suspirar. Não queria decepcionar seus pais de forma alguma.

— Foi o que ele comentou com o meu pai e com a tia Eliza. — Clara balançou os ombros sem tirar os olhos da tela do celular.

— Os seus pais têm medo que você fique pra titia pra sempre, é o que parece que vai acontecer. Eles querem te ver feliz seguindo os mesmos passos deles. — Marta sorriu, provocante. — Queremos conhecer alguém na nossa próxima visita a Reims, querida.

— Ela deve ter alguém, só não quer contar. Conheço a minha filha — Eliza, a mãe de , apareceu com um prato de docinhos e serviu todas antes de se sentar ao lado da filha com um sorriso ansioso no rosto. — Espero que o sortudo apareça aqui na nossa festinha de natal natal.

A modelo quase se engasgou. Ela não tinha ninguém e odiava a ideia de se contentar com qualquer coisa para agradar terceiros. A ideia de encontrar um namorado em um mês era ridícula. Para sua sorte, antes mesmo de dar uma resposta, viu o celular vibrar várias vezes sobre a mesa de centro e agradeceu aos céus, enquanto se afastava com o aparelho em mãos.

— Oi, amiga, está curtindo o passeio? — perguntou assim que a mulher atendeu a ligação. foi até os fundos e se sentou em um estofado na área de churrasco.

— Não, tenha certeza disso.

— Bom, posso te dar uma forcinha. Eu e o Federico marcamos uma viagem para Ibiza com o pessoal, tá afim?

— Claro que sim! Eu estava mesmo procurando um motivo pra ir embora. — ouviu um riso da melhor amiga e revirou os olhos. Federico Valverde era o namorado de , eles se conheceram quando a melhor amiga da modelo ainda cursava nutrição, e logo conseguiu um estágio em Bernabeu, com o Real Madrid.

— Sua mulher maravilha chegou!

— Que ótimo! — riu junto. — As minhas tias estão me zoando por não ter um namorado desde os dezoito anos, acredita?

— Você manteve o foco na carreira, não é à toa que chegou aonde chegou, não é?

— É disso que estamos falando. Namorar não é uma prioridade pra mim e nunca foi, tive outras coisas pra me preocupar. — Suspirou, levando uma das mãos a testa. — Mas parece que até o meus pais estão pensando como as minhas tias.

— É claro que eles estão, fazem oitenta e dois anos que você levou um namoradinho pra casa — a nutricionista zombou, e ouviu a amiga resmungar do outro lado. — O que a sua mãe falou?

— Que espera conhecer o meu namorado no natal, você tem noção do que é isso?

— Falta um mês pro Natal, dá tempo. — Como todas as vezes, , do outro lado da linha, falou em um tom brincalhão, mas logo parou pra dar um conselho. — Não se preocupa com isso, . Você sabe que os mais velhos têm esse costume de querer impor padrões e expectativas. Se você não quer e eles insistem tanto, paga de doida.

— Não quero me frustrar e nem decepcionar meus pais. — A modelo passou uma das mãos no rosto.

— Então arruma um namorado, ué! Homem pra você é o que não falta. Não se esquenta com isso agora, vai arrumar suas malas porque vamos para Ibiza, babe.

[...]


era um dos jogadores de futebol mais famosos e cobiçados do mundo. Ele tinha apenas vinte e cinco anos, mas já havia conquistado títulos importantes pelo Paris Saint-Germain e pela seleção francesa, além de prêmios individuais e contratos milionários. Ele era bonito, carismático, inteligente e divertido, mas ultimamente andava cansado de ouvir as mesmas coisas de sua família.

Ouvia que precisava se acalmar, que ele não podia ficar saindo com tantas garotas, que ele tinha que pensar no seu futuro e na sua carreira. Ele sabia que eles só queriam o seu bem, mas ele não via nada de errado em aproveitar a vida. Ele era jovem, rico, famoso e talentoso. Por que ele deveria se prender a uma só pessoa, se ele podia ter todas que quisesse?

Ele tentava ignorar as críticas, mas elas ficavam cada vez mais frequentes e intensas. Sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus tios, seus primos, todos pareciam ter uma opinião sobre a sua vida amorosa. E todos concordavam que ele precisava de uma namorada séria, que o amasse de verdade e que o fizesse feliz. Eles diziam que ele estava desperdiçando o seu tempo e o seu coração com garotas que só queriam se aproveitar dele, que não se importavam com ele como pessoa, mas apenas como um troféu.

Mas o que eles sabiam? Eles não conheciam as garotas com quem ele saía. Eles não sabiam como elas eram divertidas, inteligentes e bonitas. Não sabiam como elas o faziam se sentir bem, como elas o admiravam e o respeitavam. Não sabiam como elas o entendiam e o apoiavam. Eles não sabiam de nada.

não precisava de uma namorada. Ele estava feliz assim. Não estava afim de se comprometer, se limitar e até mesmo se frustrar. Ele queria ser livre, leve, solto e viver o momento, sem pensar no amanhã. O francês queria ser ele mesmo, sem se preocupar com o que os outros pensavam. Mas os outros pensavam muito. E falavam muito. E julgavam muito. E isso começou a afetar a sua reputação como jogador.

A imprensa, os fãs, os patrocinadores, os treinadores, os colegas, todos começaram a questionar o seu profissionalismo, o seu foco, o seu comprometimento. Eles diziam que ele estava se distraindo, se desviando, se desgastando. Também diziam que ele estava se arriscando e se prejudicando.

E isso, além de afetar sua reputação, começou a afetar o seu desempenho em campo. Ele não conseguia mais jogar com a mesma alegria, mesma confiança e habilidade. Ele se sentia pressionado, ansioso e inseguro. errava passes, perdia gols, cometia faltas. E tinha a necessidade de provar que todos que o julgaram estavam errados. Ele precisava mostrar que ele ainda era o melhor.

Só que achava que era jovem demais para se casar ou ter filhos, e que ainda tinha muito o que aproveitar da vida. Mas sua família também não pensava assim. Eles queriam que se estabelecesse com uma mulher séria, que o amasse de verdade e que o fizesse feliz. Os seus pais queriam que ele formasse uma família, como seus irmãos mais velhos já haviam feito. Eles esperavam que o jogador levasse uma namorada no Natal, para apresentar a todos e para mostrar que ele era maduro e responsável.

sabia que sua família só queria o seu bem, mas ele se sentia pressionado e incomodado. Ele não queria compromisso, nem responsabilidade, nem drama. Apenas aproveitar o momento e seguir em frente. Só que a sua família não entendia por que ele trocava de namorada como quem troca de camisa, e por que ele nunca levava nenhuma delas para conhecer seus pais e irmãos.

, você precisa parar. Você não pode ficar pulando de galho em galho para sempre. Precisa de uma companheira, não de uma aventura que vai sair nas manchetes fazendo sua reputação ir pra lama — Fayza falou, bebericando a caneca de chá que havia feito minutos antes.

— Eu sei o que a senhora quer dizer, mas eu não estou pronto para isso, mãe. Eu tenho tempo, eu tenho que focar na minha carreira e conquistar coisas que ainda não conquistei. Eu não posso me prender a ninguém agora. Não quero me arrepender depois — respondeu, se ajeitando na cadeira do balcão.

— Filho, você não vê que isso não te faz bem? Como você não vê que isso te expõe a riscos e problemas? Que isso te impede de ser feliz? — a mais velha insistiu, encarando o jogador que parecia um pouco entediado com o assunto.

— A senhora sabe que eu me cuido. Sabe também que eu sou feliz e que não preciso de mais nada. Eu não tenho mais quinze anos, dona Fayza. — Riu fraco, brincando com o relógio em seu pulso.

— Sim, e é por isso mesmo, . Você tem vinte e cinco anos — Fayza falou ainda mais séria que antes. — Tá na hora de se estabelecer com alguém, não acha? u e seu pai andamos conversando e queremos que traga alguém pra passar o Natal com a gente.

— Isso é brincadeira, né?

— Não. Nós queremos o seu bem, sua felicidade e isso vai mostrar que você não é o estereótipo de jogador que andam falando por aí. — Fayza balançou a cabeça. — Estão publicando merdas sobre você.

— Sinceramente... acho tudo isso uma loucura, eu não acredito que um relacionamento vá reverter isso. Estão me pregando pra Cristo.

— É a única coisa que eu tenho pra te dizer. Pense bem. — Fayza deu as costas e saiu sem nenhum remorso, acreditando que realizaria o seu pedido.

Mas ele não acreditava nessas coisas, e sabia que sua família não ia desistir, ainda mais agora que já tinham dado um ultimato: ele tinha que levar uma namorada para o Natal, que era daqui um mês. Balançou a cabeça, afastando os pensamentos e tirou o celular do bolso quando o aparelho notificou uma mensagem do seu amigo e colega do atual time, Vinícius Junior. Naquele momento, uma viagem com amigos para a praia cairia muito bem.



Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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