Tamanho da fonte: |

Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 11/08/2024

sentia a brisa da ilhazinha da Carolina do Norte invadir todo o seu corpo, o vento fresco era como se fosse uma camada protetiva para todo o calor que fazia. Sentada em cima da cerca da sacada, ela levou a lata de cerveja até a boca, sentindo o líquido refrescar a parte interna de todo o seu corpo, vagando os olhos pelo horizonte, podendo ver o mar à distância formando pequenas ondas, avistando o seu irmão em cima do telhado da grande casa que estava em construção. John B parecia fingir se desequilibrar e JJ estava em cima de um andaime com as poucas latas de cerveja que ainda estavam cheias.
— Se você cair, eu vou dar muita risada de você — disse , colocando a mão na testa, na tentativa de a luz solar não ofuscar completamente sua visão.
John B era a única família que restava para , seu primo, criados juntos desde sempre. Quando a mãe da garota morreu em um acidente de carro e Big John, pai de John B e tio de , era o único parente próximo e conhecido que poderia cuidar dela, os dois mais novos decidiram adotar o título de irmãos, fazendo questão de corrigir qualquer pessoa que falassem que eles eram primos.
Pope saiu de dentro da casa, brincando com uma parafusadeira que ele havia achado no chão, olhando para o amigo em cima do telhado.
— Isso dá o quê? Uma queda de três andares? — Pope disse, o observando. — Te dou 30% de chance de sobreviver.
John B colocou o dedo indicador na boca, o molhando e o estendendo, sentindo o vento bater contra sua pele, fazendo uma expressão dramática, como se estivesse calculando algo em sua cabeça. continuava encarando a cena com graça enquanto os outros dois garotos brincavam um com o outro.
— Então, eu devo pular?
— Isso, pula e eu atiro enquanto você cai — Pope pegou a furadeira, apontando para o amigo, fingindo mirar.
— Vai atirar em mim? — disse John B, fazendo arminhas com os dedos.
— Vou — afirmou Pope.
O garoto negro de olhos escuros era a pessoa mais inteligente que conhecia, a garota acreditava que ele era o único que conseguiria passar em uma faculdade boa e ter um bom futuro, ele merecia isso. Pope Heyward era o tipo de pessoa que, embora sabendo que tudo poderia dar errado, ainda estaria ao seu lado. Foi por causa dele que não havia reprovado em química e física, ele a tinha ajudado a estudar e passado algumas respostas durante a prova; mesmo que estivesse com medo de ser pego pelo professor, não poderia deixar sua amiga ir mal na prova.
John e Pope continuaram a brincadeira enquanto tentava espiar para dentro da casa, se esticando, ainda sentada no guarda-corpo de madeira, na tentativa de ver Kiara em algum lugar, já que haviam passado alguns minutos que a garota não havia aparecido. se perguntava o que sua amiga estaria fazendo, a casa ainda estava em reforma, então Kiara não teria como achar muita coisa além de muitos sacos de cimento, poeira e materiais de construções no geral. Após alguns segundos, pôde ver Kiara se aproximando com uma feição fechada enquanto passava a mão pela sua roupa, na tentativa de tirar a poeira acumulada.
Kiara (ou apenas Kie) era sua melhor amiga desde o ensino fundamental. Carrera experimentava o melhor dos dois mundos: sua família havia se mudado para o lado rico da ilha há alguns anos, aproveitando coisas que nem poderia sonhar em ter, mas, no tempo livre, Kiara continuava com os Pogues, na vida simples. As duas haviam se distanciado durante um pequeno período, quando Kiara se mudou. Inicialmente, Carrera tentou não se afastar dos amigos, principalmente de , sempre a convidando para uma festa com seus novos amigos, mas era inevitável não se afastarem, vivendo em mundos tão diferentes. Depois de alguns longos meses, sem muitas explicações, Kiara pediu desculpas por ter se afastado e tudo havia voltado ao normal entre o grupo.
— Aqui vai ter privadas japonesas com aquecedor de toalhas! — disse Kiara, andando em direção ao grupo de amigos.
— Claro, sem toalhas quentes não dá! — JJ ironizou, se apoiando no andaime.
JJ Maybank era o maior desafio que poderia enfrentar durante todos aqueles anos. O garoto de cabelos loiro queimados e olhos azuis foi seu primeiro amigo. O Maybank de 7 anos era o tipo de criança que puxava as tranças de , saía correndo e, meia hora depois, arrancava flores de um jardim para pedi-la em casamento em forma de se desculpar. O desafio começou quando eles tinham 14 anos e JJ começou a defender a garota de qualquer piada tosca que algum adolescente fazia. não sabia dizer quando JJ havia parado de ser um garotinho insuportável, que sempre a excluía das brincadeiras, para alguém que sempre estava do seu lado, apoiando e fazendo seu estômago encher de borboletas — claro que não queria que ele soubesse desta última parte.
— Aqui era um habitat natural de tartarugas, mas quem liga para as tartarugas, não é? — reclamou Kiara. — Dá para você não se matar, por favor? — Kiara perguntou, retoricamente, olhando para John B.
— Se você derrubar a cerveja eu não vou te dar outra — JJ disse, entregando uma lata de cerveja para John B, em cima do telhado.
No mesmo instante, a lata escorregou da mão de John B, caindo no chão e explodindo e vazando para os lados. Os outros adolescentes reclamaram em frustração, xingando o amigo, que passava a mão pelos cabelos, lamentando ter derrubado a bebida.
JJ resmungou, se movendo rapidamente para pegar uma nova lata para John B, ainda em meio aos xingamentos.
— Mas é claro que ele derrubou a cerveja — reclamou, em meio aos outros xingamentos dos amigos para o garoto. — Já é a segunda vez!
— A primeira estava quase vazia! — retrucou John B, se defendendo.
Pope se apoiou ao lado de enquanto o grupo voltava a conversar. O garoto lhe deu um breve sorriso, fingindo empurrar a garota para trás, a fazendo rir.
— Alerta de segurança! — avisou Pope, puxando a amiga pelo braço.
O grupo de adolescentes começou a correr enquanto riam por causa da adrenalina em seus corpos. olhou para trás, vendo JJ quase ser pego pelo segurança, que havia entrado pela porta da frente, enquanto os adolescentes tentavam fugir pelo jardim da casa. Gary, o guarda do pequeno e chique condomínio, parecia ter por volta de uns 45 anos, alguns cabelos brancos, e visivelmente não tinha físico para correr atrás de adolescentes. O homem gritava algo como "vou pegar vocês!" e "voltem aqui!". Não era a primeira vez que eles fugiam de Gary e, se dependesse deles, não seria a última.
Pope, e JJ ficaram para trás, e, quando dobraram a curva do jardim, avistaram a cerca de madeira que rodeava a casa em frente a eles. Pope foi o primeiro a pular, caindo de cara na grama, mas logo se levantou, voltando a correr. Na vez de , JJ agarrou a cintura dela, ajudando-a a pular, sem muita dificuldade. Maybank passou pela cerca segundos depois.
— Não queremos ficar para trás, não é, ? — o loiro disse, quase em um tom irônico, agarrando a mão de e voltando a correr em direção à Kombi que John B dirigia e o resto de seus amigos já estavam, pulando para dentro do automóvel rapidamente.
— Gary 'tá querendo mostrar serviço — comentou Pope, cansado.
JJ continuava a provocar o segurança, apenas se sentou no chão da Kombi, apoiando suas costas e cabeça na parte traseira do banco de John B, que dirigia, enquanto tentava recuperar o fôlego, se abanando com a mão. Sentindo que tinha corrido uma maratona intensa, Kiara ria do estado da amiga, ao mesmo tempo que xingava JJ por não ter parado de incomodar Gary ainda.
— Dê uma cerveja para ele, Jay — disse , entregando uma das latinhas para JJ. — Gary trabalhou bastante hoje, ele merece.
Assim que JJ jogou a cerveja para o segurança, Kiara o puxou para dentro enquanto Pope fechava a porta. John B acelerou a Twinkie — o apelido carinhoso que deram para a Kombi —, se afastando do bairro de casas enormes e bonitas. Eles ainda riam do que tinha acabado de acontecer, sobre a pequena perseguição, como Pope tinha caído e de como Gary era estúpido por conseguir achar que conseguiria alcançá-los somente correndo.
adorava tudo aquilo, simplesmente adorava o sentimento de liberdade e adrenalina que sentia, podendo apenas ser uma adolescente que fazia besteira como qualquer outra, sem se preocupar com as consequências. Talvez aquele sentimento de felicidade aumentasse porque amava estar com os Pogues, sua única família.
Pulou rapidamente para o banco do passageiro ao lado de John B, apoiando o braço na janela, olhando para a grande placa velha que ela conhecia tão bem, onde estava escrito:

"Bem-vindos a Outer Banks
O paraíso na Terra"


Outer Banks ou o paraíso na Terra, como você quiser chamar, era o típico lugar que a desigualdade social acontecia da forma mais comum possível.
Era o tipo de lugar onde havia dois empregos ou duas casas. Duas tribos, uma ilha. Não existia meio termo, ou você nascia um Kook no Figure Eight, rodeado de carrinhos de golfe, iates, roupas caras e fim de semanas no Country Club, ou você nascia no Cut, o lugar da classe trabalhadora que passa grande parte da sua vida servindo mesas, lavando os iates e trabalhando no Country Club até o fim de semana. O habitat natural dos Pogues. São a ralé, os peixes pequenos e descartáveis, os membros mais baixos da cadeia alimentar.
Claro que haviam pequenas brechas nesses mundos, Kiara era um bom exemplo. Viveu um bom tempo no Cut, até que o restaurante de seus pais começou a lucrar muito e eles se mudaram para o Figure Eight. Mas, no fim das contas, todos sabiam que, mesmo participando das festas e dos clubes, os “ricos de nascença” não os consideravam Kooks.
gostava de ver o lado bom das coisas. A desvantagem de ser um Pogue: eles eram ignorados e negligenciados. Mas o lado bom da vida Pogue? Por serem negligenciados, significava que poderiam fazer o que quisessem e quando quisessem.
Foi isso que foi ensinado à desde que se entendia por gente e ela partilhava do mesmo pensamento, aliás, a vida de um Pogue sempre foi a única realidade que ela pôde presenciar.

***


Na manhã seguinte, os raios de sol refletiam forte nos olhos de , que apenas os ignorou por um tempo, virando de costas para a janela e cobrindo seu rosto, na tentativa de voltar a dormir por mais algum tempo.
— Bom dia, — John B dizia, tirando os braços que cobriam os olhos da irmã.
O garoto sorriu, falso, cutucando as bochechas da irmã, que lhe lançou o dedo do meio ao mesmo tempo que murmurava um xingamento. bocejou, se sentando na cama e apoiando seus pés no chão. Seus olhos ainda lutavam para ficar abertos e seu celular brilhou, mostrando o horário que marcava, 10:30 da manhã, enquanto via John apoiado na porta do quarto, encarando a garota.
— Porra, Johnny, é muito cedo! — reclamou.
— Temos que falar com o conselho tutelar hoje, Bunny — avisou John B, fazendo reclamar novamente, jogando seu corpo para trás, batendo suas costas em seu colchão velho.
Bunny, o apelido que tinha ganhado de Big John quando era criança. John B era Bird, eles sempre eram os personagens principais das histórias que o homem inventava para as duas crianças dormirem. O motivo dos apelidos, de acordo com o próprio tio, era porque John B sempre foi independente e sempre vivia “voando” em novas encrencas quando era criança, já , sempre seguia John B, saltitando pelos cantos com uma carinha fofa, defendendo o garoto. Fazia 9 meses que, após uma noite chuvosa, Big John saiu de casa e algum tempo depois desapareceu. não gostava de pensar naquilo; toda vez que tocavam no assunto, a Routledge ficava quieta e apenas concordava com o que as pessoas falavam. Não gostava de afirmar que o homem estava morto, mas odiava pensar que Big John estava vivo e não tinha voltado para casa e nem mandado algum sinal para eles.
De acordo com a lei, os dois adolescentes deveriam estar morando com tio Ted, que havia se tornado o guardião legal deles após o desaparecimento de Big John, mas ele estava ocupado demais construindo cassinos em alguma parte do Mississipi, no lugar de cuidar dos sobrinhos.
assentiu com a cabeça, vendo o irmão se afastar em direção à sala. Ela se trocou rapidamente, jogando uma água em seu rosto, caminhando até a cozinha, tentando procurar qualquer coisa que ela pudesse comer rápido, mas, ao ouvir a buzina da Kombi, sua única opção foi uma caixa de cereal na metade. Olhando a data, notou que fazia exatamente uma semana que tinha passado da validade e, pensando por alguns segundos, considerando que aquele tempo não era muita coisa, apanhou um pouco na mão. Assim que John B buzinou mais uma vez, dessa vez mais alto e longo, correu até a Kombi, se sentando ao lado do garoto.
— Cereal puro? — John B perguntou, confuso, vendo a irmã comer como se fosse um pacote de salgadinho.
— Não compramos leite — ela deu de ombros. — Quer?
O irmão assentiu, tirando uma das mãos do volante, e pegando um punhado de cereais coloridos da caixa, sem ao menos tirar os olhos da estrada. repetiu o ato dele, aceitando que a comida não tinha nenhum gosto estranho, mesmo passando da validade. Minutos depois, eles estavam em frente à delegacia, onde haviam marcado de encontrar a assistente social. Normalmente, eles precisavam pegar uma balsa até o continente para falarem com o Serviço Social. Os dois respiraram fundo, deixou a caixa de cereal, agora vazia, no banco do carro, enquanto saíram a caminho do escritório. estava nervosa quando se sentou em frente à mulher. Cheryl tinha uma postura rígida, mesmo que tentasse passar uma imagem gentil e acolhedora. tremia sua perna direita involuntariamente, por causa do nervosismo e do medo. Se a assistência social descobrisse que eles estavam morando sozinhos, era um adeus à liberdade que tanto gostava, tinha arrepios só de imaginar que ficaria mudando de inúmeros lares adotivos, provavelmente separada de John B. Seu pior pesadelo era ser separada da única pessoa que era sua família que restava e se importava com ela.
— Ficamos sabendo que vocês são menores de idade, não emancipados, vivendo sozinhos — a assistente social dizia, calmamente, olhando para os dois.
beliscava o dorso de sua mão, olhando para John B rapidamente, esperando o garoto responder algo para Cheryl.
— Não, isso é mentira — John B negou com a cabeça.
— Precisam ser honestos para que possamos ajudá-los, é o que nós queremos, certo? — a mulher falou enquanto colocava alguns papéis sobre a mesa.
— Estamos sendo honestos — os dois falaram juntos.
— Certo, quando foi a última vez que falaram com o seu tio? — a assistente social perguntou, desconfiada.
— A uns 34 minutos atrás — ela falou, olhando o relógio de pulso imaginável que o irmão mostrava para ela.
Ambos trocaram olhares apreensivos ao perceberem que a assistente social havia começado a anotar algumas informações em uma prancheta. A mão de já começava a ficar avermelhada de tanto se beliscar pela ansiedade. John B segurou a mão da irmã, reparando o nervosismo da garota.
— Quando o viram pela última vez?
— Há 2 horas e uns 43 minutos. — Dessa vez foi John B que respondeu.
— John, , iremos amanhã falar com o tio de vocês e, se ele não estiver lá, irão para um lar adotivo — a mulher falou, anotando mais algumas coisas. — Garanto que encontraremos um lar seguro e amoroso para vocês.
— Esperamos por vocês lá! — se levantou juntamente com o irmão até a porta com um sorriso no rosto, tentando não demonstrar toda a ansiedade e medo que sentia. — Na verdade, John B, o tio T. não tem alguns exames marcados para amanhã?
John B assentiu, rapidamente.
— Um raio-X e alguns exames de sangue… — John B completou. — Tem como remarcar?
— Desculpem, mas realmente não podemos remarcar. — A mulher olhou para eles novamente. — Só queremos ajudar.
— Não precisamos de ajuda — John B falou, colocando suas mãos nas costas da irmã, a tirando do escritório.
Os dois ficaram em silêncio o caminho inteiro até chegarem à Kombi. passou as mãos pelo seu rosto enquanto John B apoiava a testa no volante, parecendo pensar em alguma solução. Seu coração estava apertado, odiava ficar tão preocupada com esse tipo de assunto, pois era o único que ela não conseguia reconfortar John B, muito menos pensar em como poderia resolver de uma forma fácil, igual acontecia normalmente. Sentia-se frustrada pela falta de opções em sua cabeça, se preocupava com John B mais do que com si mesma.
— Estamos ferrados — John B murmurou
— Eu sei — suspirou, apoiando a cabeça no banco, vendo o irmão voltar a dirigir em direção à casa.

***


As notícias sobre o Furacão Agatha se espalharam rapidamente pela ilhazinha da Carolina do Norte, interrompendo todas as programações da TV para o aviso de última hora no jornal. estava trabalhando na colônia de férias infantil do Country Club quando recebeu a notificação sobre a tempestade em seu celular. Seu corpo tremeu no mesmo instante, paralisada com o aviso em seu celular, ao ponto de receber uma pequena advertência de sua chefe por estar mexendo no celular durante o trabalho. Quando finalmente foi liberada, pegou seu skate e lutou contra o vento forte, na tentativa de chegar o mais rápido possível em casa. Grande parte de si fazia de tudo para ignorar os trovões fortes que ecoavam pelo céu, mas, toda vez que o som encontrava seus ouvidos, sentia seu corpo pular em susto. Assim que chegou em casa, percebeu o local vazio. Se preocupou com John B no mesmo instante, se perguntando onde o garoto poderia estar em meio ao início de uma tempestade. Não demorou muito para os pingos fortes começarem a cair e a única reação de foi correr em direção ao seu quarto, escondendo-se embaixo das cobertas enquanto torcia para que seu irmão chegasse logo em casa, ou que ela caísse logo no sono, o que, para sua sorte, aconteceu rapidamente.
Era tarde da noite, o furacão Agatha invadiu Outer Banks de mais forma intensa do que esperava, achava um tanto quanto assustador. apreciava a chuva e a calmaria de seu som, mas não gostava das tempestades, odiava o barulho do vento forte, da sensação que tudo estava prestes a ser destruído. Não gostava do sentimento de desespero que sentia quando havia tempestades e a preocupação que aparecia dentro de si, nem gostava de imaginar como poderia estar o resto do pessoal da ilha com o possível estrago, por isso tinha sido praticamente um milagre quando a garota dormiu com tanta facilidade assim que o furacão se iniciou.
sentiu as gotículas de água correrem sobre sua bochecha, deslizando para sua mandíbula. De início, achou que poderia ignorar os respingos de chuva, mas estava realmente ficando irritada, visto que não estava conseguindo dormir de jeito nenhum. Ela coçou os olhos e limpou seu rosto molhado, sem estar ainda completamente acordada, apanhando seu celular que estava embaixo de seu travesseiro. Ligando o visor, apertou os olhos por causa da luz forte da tela, vendo o horário marcar 2:20 da manhã. Limpando mais uma vez sua bochecha, se sentando sobre a cama, reparando a goteira que tinha se formado exatamente em cima de seu travesseiro, bufando, estressada, ainda meio dormindo, ela se levantou, empurrando a cama para o lado para garantir que não ficasse completamente encharcada durante o resto da noite.
O furacão Agatha parecia estar destruindo tudo lá fora. O vento forte fazia um enorme barulho, conseguia ver as gotas da chuva batendo em sua janela com agressividade e o vento arrastando algumas coisas, o que fez seu coração sofrer palpitações por causa do medo. Ela respirou fundo e caminhou o mais rápido possível até o quarto de John B, onde o garoto estava dormindo completamente sereno, ocupando todo o espaço da cama de solteiro. A garota se perguntou por alguns segundos se deveria acordar John para explicar a situação e dormir junto com ele, mas, assim que um raio brilhou pela casa, sendo seguido por um trovão, correu em direção à sala de estar, onde encontrou JJ dormindo no sofá-cama, com seus cabelos loiros grudados no rosto. Por alguns segundos, achou que estava delirando, pois não se lembrava de Maybank ter comentado sobre dormir em sua casa, e coçou seus olhos para ter certeza que estava vendo certo.
Para o azar da Routledge, um galho voou em direção à janela de vidro, e deu um pulo, assustada, o que a fez esbarrar com a pequena mesa de centro, onde havia algumas garrafas e latas de cerveja vazias. Em um pequeno efeito dominó, todas pararam no chão, fazendo culpar a si mesma por se assustar com algo tão bobo, como apenas um graveto.
!? — JJ falou, assustado com o barulho, se sentando no sofá. Seus olhos estavam semiabertos e suas mãos o ajudavam a se apoiar sentado no sofá. — O que está fazendo? Você está bem?
— Vim deitar na sala, porque John B está ocupando a cama dele inteira, mas, já que você está aqui, vou voltar para o meu quarto — resmungou, desviando para a chuva do lado de fora.
, se está com medo da chuva, é só me falar, não vou rir de você — o garoto falou, rindo nasalado.
— Não estou com medo da tempestade — o corrigiu, mentindo. — Tem uma goteira no meu quarto.
— Claro que tem — JJ Ironizou, sonolento, franzindo as sobrancelhas ao ver a garota dar as costas para ele. — Para onde você 'tá indo?
— Dormir com o John B — ela disse. — Você fala demais.
pôde ouvir JJ suspirando em frustração, a puxando para trás por sua camisa, a girando rapidamente. Os dois se olharam, mesmo que estivesse escuro demais para realmente verem a feição um do outro. A garota estava confusa e com muito sono para tentar colocar a cabeça no lugar e entender o que estava acontecendo. Vendo o loiro bocejar, cansado, sentiu o garoto a puxar em direção ao sofá, sem dizer nenhuma palavra sequer. De alguma forma que não compreendia, ele a colocou deitada ao lado dele, puxando o pequeno cobertor por cima deles antes de voltar a fechar seus olhos novamente.
— JJ, mas o que… — se debateu, tentando se levantar, mas foi puxada de volta pelo garoto.
— Cala a boca, , eu quero dormir — JJ resmungou. — Não aja como se nunca tivéssemos feito isso antes.
Routledge se manteve em silêncio por alguns segundos, sentindo o braço do garoto rodeando sua cintura, o que a fez sentir multidões de borboletas em seu estômago, além de se sentir burra por ficar tão nervosa apenas porque o braço de um de seus melhores amigos estava em sua cintura. Aliás, Maybank estava certo, quando eram crianças, dividiram o sofá-cama mais vezes do que poderiam contar, mas, após crescerem, a mania fofa e infantil havia se tornado algo estranho e constrangedor demais para dois amigos fazerem. Seria uma mentira enorme se dissesse que nunca reparou a forma como seu coração se descontrolava quando JJ Maybank ficava muito próximo ou falava algo que ele sabia como deixaria as bochechas dela avermelhadas. A garota o conhecia muito bem para saber que o loiro fazia isso propositalmente para envergonhá-la. O lado bom das borboletas em seu estômago que JJ causava foi que a ajudou a se distanciar do medo que a tempestade a estava fazendo sentir. A respiração do garoto estava mais pesada do que a de alguns segundos atrás, o que a fez imaginar que JJ estava dormindo. finalmente se aconchegou no sofá, tirando o braço do garoto de cima dela, simplesmente aceitando que não conseguiria dormir com aquele sentimento dentro dela mesma, mas, do mesmo jeito ficou próxima a JJ, não queria se afastar muito para não se sentir sozinha.



acordou com o galo cantando pela manhã, ficando incrédula ao perceber que o animal havia sobrevivido à tempestade. Ainda com sono, sentiu algo a fazendo continuar deitada, como se estivesse sendo segurada pelo sofá. Demorou alguns segundos para entender que o peso que sentia em volta de seu corpo era JJ, completamente abraçado a ela. No mesmo instante, a respiração da garota travou, começando a se mover lentamente, não querendo acordar Maybank e tornar a situação constrangedora para si. Quando finalmente conseguiu retirar o outro braço de JJ de cima de si, ouviu um resmungo de JJ que se parecia com um "fica quieta, ", mas ignorou os resmungos do garoto, se levantando do sofá. Tomando cuidado para não pisar nas latas que havia derrubado na noite anterior, caminhou em direção à cozinha ao perceber que havia ido dormir sem comer no dia anterior. Passou a mão pelo interruptor várias vezes, observando a lâmpada continuar desligada, torcendo que fosse um problema no pequeno botão, mas se frustrou ao perceber que, provavelmente, ficariam sem luz o resto do verão. pegou uma única fatia de pão, comendo devagar, tentando adiar ao máximo ver a bagunça que estaria do lado de fora do Castelo — o apelido que haviam dado para a casa. Sentiu um pequeno tapa em sua nuca e, ao olhar para trás, percebeu John B coçando os olhos, preguiçosamente, enquanto observava o lado de fora de casa pela janela.
— Bom dia, — John B falou, ainda com voz de sono. — Já foram lá fora? — perguntou, passando por JJ, dando um leve tapa em suas costas para acordá-lo.
— Não dá, cara, tenho pólio, não consigo andar! — JJ murmurava, ainda deitado. passou por ele dando um peteleco em sua orelha, o fazendo resmungar alguns xingamentos.
— Ca-ra-lho — a menina exclamou pausadamente. — Limpamos isso essa semana! — choramingou, se apoiando no batente da porta.
A garota passou a mão pelo rosto, tentando acalmar a si mesma ao ver a situação do lado de fora de sua casa; sentia que poderia apenas sentar na grama molhada e chorar de frustração pelo trabalho de organização perdido de alguns dias atrás. O quintal estava destruído, algumas cadeiras, que ela ficou com muito medo de guardar quando a tempestade iniciou, haviam voado uma para cada canto, galhos quebrados pelo chão, lixo espalhado e até mesmo alguns pedaços de telha que ela não soube responder se era do telhado ou da casa de algum dos outros moradores do Cut. O pensamento de que algumas pessoas provavelmente não tiveram a sorte de ter a casa intacta como o Castelo fez o coração de apertar em preocupação.
— Isso não é bom... — John B murmurou.
— Agatha fez muito estrago, não é? — JJ falou, se colocando ao lado de , a assustando.
— Porra! Quer me matar de susto?
— Você tem que relaxar, — disse o loiro, massageando os ombros da garota. — E eu sei o que está te fazendo falta.
— Se você falar maconha, eu te afogo no pântano! — ela brincou enquanto os dois caminhavam até John B, que estava em cima do pequeno barco, apelidado de HMS Pogue, tirando alguns galhos que haviam caído.
— Precisa se acalmar, Routledge — pontuou novamente.
Qualquer pessoa que já tivesse visto JJ pelo menos uma vez saberia reconhecer quantos cigarros de maconha ele fumava. O loiro exalava o cheiro da planta queimada, Kiara também era vista fumando juntamente a Maybank — e, até algumas semanas atrás, antes da Routledge se comprometer a parar de fumar — com também.
decidiu que iria acabar com seu vício após ter uma crise de ansiedade após acender um cigarro depois de ter um dia ruim. Ela sabia que não era uma boa ideia fumar quando não se estava bem, mas lembrava-se de se sentir tão sozinha que nem se importou com aquela informação. Minutos depois, se encontrava deitada no chão de seu quarto, chorando descontroladamente enquanto tremia, sendo encontrada por Pope e Kiara, e, após uma conversa, decidiu que seria melhor dar um tempo do fumo.
— Eu acho que deveríamos aproveitar que a tempestade levou a maioria dos peixes para o pântano e ir pescar — John B falou, sorrindo, após encarar o barco por alguns segundos.
— O conselho tutelar não iria vir hoje? — JJ perguntou.
— Eles não vão entrar em uma lancha, Jay — passava o braço pelo ombro do loiro, sorrindo, divertida. — Poseidon está nos mandando pescar!
John B concordou com a irmã e, após colocar um biquíni por baixo de sua camiseta que cobria até a barra de seu short jeans velho, o trio empurrou o HMS Pogue de volta para a água, embarcando, começando a navegar enquanto observavam o estrago que a tempestade havia feito no Cut. John B pilotava, JJ estava ao lado do amigo, enquanto estava no convés mais à frente dos garotos. O lugar estava uma bagunça completa, fios elétricos caídos no chão, barcos naufragados, algumas casas quebradas e uma enorme sujeira espalhada por toda a parte.
— Cara, olha esse lugar — disse John B, olhando todo o estrago que o furacão havia feito na ilha.
— Agatha, o que você fez!? — JJ exclamou.
— Vamos limpar isso o verão inteiro — reclamou.
— Esse é o meu pesadelo — John B respondeu, dirigindo o barco sobre as águas, até conseguirem avistar o cais dos Heyward.
acenou animadamente assim que viu Pope, que limpava o deck da loja que pertencia aos seus pais. Ao perceber os amigos se aproximando, Heyward começou a balançar a cabeça de forma negativa inúmeras vezes, tentando afastar o trio, o que não deu certo, pois os sinais foram ignorados por John B, que diminuiu a velocidade ao passar ao lado do amigo, com um sorriso animado estampado em seu rosto.
— Olha o que temos aqui! — John B falou, colocando a mão no ombro imitando um walkie-talkie. — Temos uma reunião de segurança, presença obrigatória, câmbio. — Terminou com um barulho como se estivesse desligando o aparelho imaginário.
— Não dá, meu pai não me deixa sair — Pope explicou, JJ o zombou.
— Qual é, cara, seu pai é um covarde, câmbio — JJ falou, recebendo um tapa no braço de .
— Eu ouvi isso, seu pequeno bastardo. — O Sr.Heyward se aproximava do barco.
— Oi, Sr.Heyward — a garota acenou, sorrindo, como uma criança inocente.
— Olá, , já avisei para você e Pope que esses garotos não são boas companhias — o homem sorriu, docemente, aconselhando a garota, enquanto JJ fingia ficar ofendido com o comentário.
— Não é como se eu tivesse muita escolha — disse, dando de ombros.
— A gente precisa do seu filho! — John B falou, olhando para o homem.
— Regras da ilha, o dia do depois do furacão é livre — JJ sorriu, fazendo o mais velho franzir as sobrancelhas.
— Quem diabos inventou isso? — o homem falou, bravo. — Acha que eu sou burro?
— O Pentágono, nós fomos autorizados pela segurança — dizia JJ, brincando com a situação. — Eu tenho um cartão.
JJ iniciou uma pequena discussão com o Sr. Heyward, algo que acontecia com uma certa frequência engraçada. cutucou o garoto, que tentava negociar com o pai para poder sair com os amigos. Pope franziu as sobrancelhas para ela, que apenas sinalizou com a cabeça para ele entrar rapidamente, mas o garoto olhou nervosamente para o mais velho, ainda pensando nas suas atitudes.
— Pula, vem logo! — sussurrou, fazendo o amigo pular no barco enquanto o Sr. Heyward reclamava. — Vamos devolvê-lo inteiro, eu prometo!
— Não gosto dos seus amigos! — o pai de Pope gritou uma última vez em direção ao barco que se afastava, fazendo todos rirem.
John B acelerou, voltando a navegar pelas águas do pântano. Pope se sentou ao lado da garota, começando a explicar a história de um livro que havia lido na noite anterior antes da energia acabar. JJ ainda comentava sobre o estrago que havia acontecido na ilha. O grupo gritou em animação ao ver Kiara com um grande cooler em suas mãos. O barco diminuiu a velocidade novamente para a amiga entrar no HMS Pogue com a ajuda de JJ. Era perceptível como a parte mais privilegiada da ilha foi menos afetada com a tempestade, o máximo de evidências de um furacão que conseguiu perceber no terreno da casa de Kiara era alguns galhos e folhas espalhadas pelo jardim, que já eram tiradas com facilidade pelo Sr. Carrera, além das janelas bem protegidas da casa. tentou ignorar esse assunto, não querendo focar na grande desigualdade social, quando o principal motivo de estar com seus amigos era tentar esvaziar a cabeça após uma tempestade tão forte.
— Olá, querida! — falou, ao cumprimentar a amiga. — O que trouxe para a gente hoje?
— Suco de caixinha? — perguntou Pope.
— Só cerveja — Kiara respondeu. e Pope fingiram desânimo ao ouvir a sua resposta.
JJ foi o primeiro a agarrar a caixa térmica, distribuindo as cervejas entre os amigos, iniciando oficialmente o passeio de barco. JJ, e Kie estavam sentados na parte elevada do convés do HMS Pogue, Pope cuidava do volante e John B estava esparramado na parte traseira do barco. O grupo ria alto enquanto ouviam JJ contar uma história sem muito sentido sobre como quase perdeu sua vara de pesca para um pelicano na última vez que foi pescar. não se preocupava muito se aquela história era verdadeira ou não, preferindo rir do loiro, no lugar de questioná-lo.
— E eu juro, o bicho era enorme, quase me levou junto! — ele dizia, abrindo os braços ao máximo, quase de uma forma teatral. John B balançava a cabeça, tentando não rir, enquanto Kiara e já estavam gargalhando há um bom tempo.
Pope tentava fazer Maybank voltar para a realidade, explicando para o amigo que provavelmente a ave só parecia ser tão grande por estar perto dele, mas JJ não parecia prestar atenção em nada que Heyward falava.
adorava esses momentos. Sentindo a brisa suave do mar e ouvindo o som das risadas de seus amigos, ela se sentia em casa. Era nesses momentos, entre risadas e histórias absurdas, que ela encontrava um alívio para as preocupações que carregava. John B tentando argumentar, JJ fazendo suas imitações exageradas, Kiara revirando os olhos e Pope parecendo genuinamente preocupado com a veracidade das histórias — tudo isso criava um ambiente onde podia relaxar e ser ela mesma.
— Agora, prestem atenção, olhem esse truque — JJ disse, pegando sua cerveja, ficando em pé bem na ponta do barco. — Ei, Pope, pode acelerar um pouco?
— De novo não! — reclamou Kiara.
— Cara, já tentamos isso umas seiscentas vezes, não funciona — John B falou, olhando o amigo.
— Vai desperdiçar a cerveja! — pontuou .
Maybank não se importou com os protestos dos amigos e jogou a regata cinza em , que mostrou o dedo do meio, fazendo o loiro rir. Pope começou a acelerar o barco e sentiu o vento bater mais forte em seu rosto e o cabelo voar. Ela fixou a palma da mão na borda do convés. JJ colocou uma garrafa de cerveja em frente ao seu rosto, esperando que a bebida caísse na sua boca, mas o líquido apenas voou para todos os lados, se esparramando em gotinhas.
— Cara, tem cerveja no meu cabelo — Kiara falou, com nojo, enquanto colocava a mão sobre o rosto para tentar se esconder.
Um baque repentino fez o barco parar, JJ foi arremessado em direção à água com força, afundando. escorregou, caindo no chão e quase batendo a cabeça, mas sem se machucar, fechou os olhos com força, sentindo a dor se misturar com uma leve tontura, e se colocou de pé novamente com a ajuda de John B, que estendeu a mão para se levantar. Abriu os olhos, respirando fundo, seguindo até a borda do barco, vendo JJ flutuando sobre a água com uma cara péssima de dor enquanto uma de suas mãos estava mais levantada, segurando a garrafa de cerveja para fora da água.
— Pope! — exclamou John B, ajudando a irmã a se levantar.
— Qual foi, cara? — Kiara disse, ao se levantar.
— Jay, você está bem? — foi a primeira a perguntar.
— Acho que meus calcanhares bateram na minha nuca — ele falou, grunhindo, devido à dor. — Pope, o que você fez?
— Tem um banco de areia, o canal mudou pelo Agatha — Pope disse, olhando JJ nadar para perto do barco.
— Ei, , você viu? — JJ olhou a garota, que franzia as sobrancelhas, confusa. — Salvei a cerveja! — ele brincou em tom irônico, como uma criança animada, vendo o garoto virar a garrafa de vidro de cabeça para baixo, vendo somente água sair da garrafa, fazendo gargalhar.
— Ei, Pope — o loiro perguntou ao subir no barco novamente. — O que você está fazendo?
— Tem um barco ali? — Pope perguntou, olhando para o mar, fazendo se aproximar do amigo, forçando os olhos para olhar a figura também.
— Cala a boca — disse John B, zombando.
— Não, ele tá certo, tem realmente um barco ali — falou. Todos se aproximaram da borda do HMS, olhando a figura no fundo da água. Parecia ser apenas a silhueta de um barco, pois era difícil ver algo fora da água.
Os Pogues se encararam por alguns mínimos segundos, concordando silenciosamente em mergulhar. e Kiara começaram a tirar suas blusas e shorts jeans, ansiosas, e os garotos foram os primeiros a pular, sendo seguido pelas duas logo depois. Nunca haviam achado um barco naufragado, era extremamente incomum naufrágios acontecerem sem a guarda costeira ser a primeira a saber, principalmente durante um furacão, pois achava ilógico alguém querer navegar durante uma tempestade. Os cinco mergulharam juntos, nadando até o barco submerso da forma mais rápida possível, tentando analisar o local antes de voltar para a superfície rapidamente. Apoiando seus pés na base do barco, dando impulso para subir de volta para o HMS Pogue, sentiu seus pulmões encherem de ar novamente enquanto seus olhos ardiam por causa do contato com a água.
— Vocês viram aquilo? — Pope perguntou, abismado.
— A gente encontrou a porra de um barco — comentou, ainda em choque.
— Era um Grady White — JJ falou, olhando para os amigos.
nunca entendeu muitas coisas sobre barcos, conhecia somente o básico, pois John B, JJ e Big John adoravam falar sobre modelos, motores, acabamentos e todo esse tipo de coisa que ela não se dava o trabalho de entender, mas, após ouvir tantas conversas, era de seu conhecimento que um Grady White não era qualquer tipo de barco. Sabia que era uma marca de barcos de luxo, que custava muito dinheiro para poder comprar e manter por um longo tempo.
— Um Grady White custa 500 mil dólares fácil, mano — JJ comentou, surpreso, subindo no HMS Pogue juntamente com os amigos.
— Quem é o idiota que naufraga um barco de 500 mil dólares? — perguntou, subindo no barco e se sentando ao lado de Kiara.
— É o mesmo barco que eu e o Pope vimos quando surfamos na tempestade! — falou John B, chamando atenção de sua irmã.
— Você só pode estar de brincadeira, John Booker Routledge! — reclamou, colocando a mão na cintura. — Pope, eu achei que você pensava, cara!
estava furiosa, nem queria imaginar o que poderia ter acontecido com o irmão se tivesse vindo uma onda muito forte ao ponto de afogá-lo. Odiava quando John B agia de forma tão egoísta e sem pensar em como as consequências de suas ações afetariam a vida deles. Apenas em pensar que poderia ter perdido mais alguém da sua família durante uma tempestade, seu corpo estremecia. Heyward tinha uma feição culpada em seu rosto, como se tentasse se desculpar em silêncio com a amiga, que cruzou os braços em frente ao peito, encarando a dupla em sua frente, esperando a resposta de algum dos dois garotos.
— Vocês surfaram em uma tempestade? — Kiara falou, brava.
— Esses são meus garotos, estilo Pogue! — JJ falou, animado, fazendo um toque com John B. As garotas reviraram os olhos, bateu com o cotovelo nas costelas de Maybank, que exclamou de dor, olhando para a garota de olhos verdes ao seu lado que ainda tinha uma feição irritada em seu rosto.
— Espera, nós sabemos de quem é o barco? — perguntou Pope, desviando o assunto da conversa.
— Não, mas vamos descobrir! — John B falou, tirando a âncora do compartimento do barco.
— É muito fundo, cara, eu não vou te ressuscitar, eu não sei fazer boca-a-boca — JJ disse, observando o amigo desenrolar a corda da âncora.
suspirou. Procurando algum tipo de coragem dentro de si, tirou a camisa — a qual tinha acabado de vestir de volta —, ficando na ponta do barco, vendo os seus amigos a observarem, confusos.
— Sou eu que vou pular. — A garota esticou a mão, esperando John B entregar a âncora para ela.
Sabia que sua ação era mesquinha, estava fazendo aquilo apenas para provocar seu irmão e, pela feição de John B, havia funcionado. O garoto fechou sua expressão no mesmo instante, fazendo questão de segurar a âncora com mais força, levantando as sobrancelhas, como se dissesse: “você não tem essa coragem”.
— Eu definitivamente sei fazer boca-a-boca, fiz um curso de salva-vidas na quinta série! — Maybank falou, sorrindo, mostrando o polegar em sinal positivo, olhando para Routledge. Desta vez, foi a vez de John B socar o braço do loiro, encarando sério o amigo, que ignorou o ato. A única reação de foi olhar para a água o mais rápido possível, fingindo pensar na profundidade que o barco estava, quando, na verdade, era apenas uma forma de tentar esconder o rubor que se formou em suas bochechas e não quebrar toda a pose séria e brava que estava fazendo.
— Você não vai descer lá embaixo — John B falou, a encarando.
— Vou sim. Se não me der essa âncora, eu pulo sem ela — falou, decidida.
Os dois Routledge se encararam por alguns segundos, iniciando uma discussão silenciosa. Por fora pareciam batalhar para ver quem iria ceder primeiro à pequena competição de encarar um ao outro. O resto dos Pogues estava sem jeito, se encarando, esperando a pequena briga dos irmãos acabar para decidirem o que iriam fazer.
— Só pulem logo! — Pope falou, nervoso. — Odeio quando vocês fazem isso, é agoniante e me dá ansiedade.
John B e tinham a pequena mania de discutir em silêncio desde crianças, não gritavam e nem xingavam um ao outro quando estavam bravos, apenas entravam em um pequeno jogo de olhares para ver quem iria desistir primeiro. Não durava muito, pois um dos dois sempre cedia ou entravam em um acordo, mas compreendia quando os seus amigos ficavam nervosos vendo os dois fazerem aquilo sem saber o que estava acontecendo ou o que passava na cabeça deles. O Routledge mais velho pareceu recuar por alguns segundos, antes de ceder, apenas aceitando que a irmã fosse junto com ele. Os dois se colocaram na ponta do barco, segurando a âncora, juntos.
— A missão é de vocês, marujos — Pope falou, fazendo continência para os amigos, que repetiram o sinal.
— Tomem cuidado — disse Kiara, preocupada.
— Prontos? — JJ perguntou, vendo os dois assentiram. — Então, vão! — ele falou, empurrando os dois para a água.
puxou todo o ar possível para os seus pulmões, sentindo as suas costas colidirem com a água, ainda segurando na âncora que os ajudava a afundarem mais rápido. Ela e John B se encararam, parecendo verificar se ambos estavam bem. Quando estavam perto do barco, soltaram a âncora e nadaram rapidamente em direção ao Grady White naufragado, procurando por algo que poderia ajudá-los a descobrir de quem era o barco. A garota decidiu nadar em volta da lancha enquanto seu irmão procurava dentro, vendo se algo tinha caído em volta do barco, mas, para seu azar, não achou nada. Os pulmões de já tinham começado a implorar por um pouco de oxigênio, John B pareceu segurar algo, mas, assim que encarou a irmã, agarrou o braço dela com força. Ambos deram impulso com os pés, John B puxava o pulso de , nadando o mais rápido possível para conseguirem voltar para a superfície.
— Vocês demoraram demais! — A voz de preocupação de Kiara foi a primeira coisa que eles ouviram ao chegar à superfície.
sentiu um alivio enorme ao conseguir voltar a respirar, começando a nadar em direção ao HMS Pogue novamente. Subiu no barco logo atrás de seu irmão, sua respiração ainda estava desregulada e seus olhos irritados por causa do contato com a água. Sentiu Pope colocar a mão em seus ombros, em preocupação, ao perceber a situação da amiga.
— Acharam algum cadáver? — questionou Pope.
— Não, mas eu podia ter trazido o da — John B falou, estressado.
— Você é tão dramático! — exclamou. — Eu estou bem.
— Bem? Você quase desmaiou lá embaixo! — John B ironizou.
— Chega! Os dois! — Kiara chamou atenção dos amigos. — , você está bem? — perguntou, olhando para a amiga, que assentiu com a cabeça, murmurando um "uhum". — Ótimo, então o que vocês acharam lá embaixo?
John B mostrou a chave para os Pogues, que encararam o objeto, curiosos.
— Uma chave… — Pope falou, desanimado.
— A chave de um hotel? — Kiara falou, confusa, olhando a chave.
Uma pequena discussão se iniciou entre o grupo, sem saber o que fariam com a chave do hotel e com o barco naufragado. se sentou nos bancos do barco com a chave na mão, pensando no que deveriam fazer com aquilo, na verdade, a mente da Routledge estava borbulhando em curiosidade, queria saber que tipo de pessoa navegaria com uma lancha de um valor tão alto em meio a uma tempestade, gostaria de saber o motivo de precisar navegar durante um furacão, quem era essa pessoa, se ela a conhecia e se ela estava bem e viva. Seu olhar desviou para seu irmão mais velho, que estava de braços cruzados, com o corpo rígido. Ela sabia que John B provavelmente se perguntava as mesmas coisas e, mesmo que ambos ainda estivessem nervosos e estressados pela teimosia um do outro, o conhecia bem o suficiente para saber o que o garoto estava se questionando no momento, pois os dois sempre foram extremamente curiosos.
— Deveríamos entregar para a guarda costeira — Kiara comentou, parecendo não ter mais ideias.
— Talvez eles nos recompensem por isso — completou, fazendo os amigos concordarem.
Todos concordaram com a ideia das duas garotas. Pope voltou a pilotar o HMS Pogue pelas águas do pântano, curvando em direção à cidade, onde eles encontrariam o cais da guarda costeira, na esperança de ganharem algum tipo de recompensa por acharem um barco naufragado, mesmo que não estivesse empolgada com o possível dinheiro que eles poderiam ganhar, mas sim, se encontrariam o dono do barco. Ainda que o grupo estivesse ansioso por uma resposta, Heyward não se deu o trabalho de acelerar o barco para chegarem rápido, pois sabia que, independentemente de qualquer coisa, a cabine policial que foi posta de forma improvisada após o furacão Agatha estaria lotada de qualquer forma.
Kiara, John B e JJ ainda estavam no convés, conversando. Os dois garotos falavam o quanto eles achavam que poderiam ganhar por terem achado o barco, enquanto Carrera ouvia a conversa com um sorriso divertido no rosto. Após mais um pouco de conversa, JJ se afastou de Kiara e John B, caminhando em direção à parte traseira do barco onde estavam seus outros dois amigos.
— Você está bem? JB não parou de falar como você poderia ter desmaiado lá embaixo — Maybank falou enquanto se sentava ao lado de .
— Ficamos mais tempo que o normal em baixo da água e eu fiquei com falta de ar, John B é dramático — ela respondeu, dando de ombros.
— Sabe, , se quisesse mesmo o boca-a-boca, era só pedir, não precisava quase ter se afogado — brincou JJ.
Antes que ela pudesse responder alguma coisa para o loiro, ficou em choque com a quantidade de barcos e pessoas que preencheram todos os espaços da doca onde estava o posto da guarda costeira. Demoraria um longo tempo para conseguirem atracar o barco e serem atendidos por causa da quantidade de pessoas. JJ se levantou, se colocando ao lado de Pope, começando a programar o que poderiam fazer para não passarem horas na fila.
— Ei, estamos bem, certo? — A voz de John B chamou a atenção da garota, a fazendo sorrir.
— Sempre estamos, Bird — falou. Seu irmão sorriu, parecendo apenas precisar da confirmação antes de começar a falar com os amigos.
John B e não precisavam de pedidos de desculpas elaborados, nunca precisaram, se conheciam muito bem para saberem que passar por todo aquele processo constrangedor de se desculpar por ações bobas. Apenas precisavam acalmar as cabeças teimosas deles e logo sabiam que tudo ficaria bem. Depois que perderam toda a família que tinham ao seu redor, não teriam escolha a não ser perdoar um ao outro.
Demorou alguns longos minutos até Pope finalmente conseguir algum lugar para atracar o barco. John B e JJ não perderam tempo em ir falar com a guarda costeira, enquanto o trio observava com muita precisão o local. Havia uma grande movimentação de pessoas, algumas se voluntariando para ajudar, outras pedindo ajuda, até mesmo policiais andando para todos os lados, o que deixou assustada, já que dificilmente os policiais ajudavam o pessoal da periferia, então ela sabia que o estrago havia sido maior do que imaginava, ao ponto de até a equipe policial ajudar. O furacão Agatha tinha destruído muitas casas do Cut e ela sabia daquilo, o que a fez agradecer pelo Castelo ter aguentado firme durante toda a tempestade, apenas deixando algumas goteiras pela casa.
— Cara, tem policiais para todo lado — falou, assustada.
— Agatha acabou com tudo por aqui, devem estar tentando ajudar — Pope comentou, e Kiara assentiram em silêncio.
Em pouco tempo, eles avistaram JJ e John B voltando, com a chave ainda em mãos, o que fez se desanimar.
— Ignoraram a gente — JJ disse, batucando uma caneta nos dedos.
— E o que a gente faz agora? — Kiara perguntou.
Os dois irmãos se encararam, sorrindo. John B jogou a chave para a irmã, que a pegou no ar. tinha plena consciência de o que o jovem desejava fazer. Ela conhecia o sorriso curioso e divertido de John B e a expressão de JJ. O loiro também havia compreendido e gostado da ideia, enquanto caminhava animadamente de volta ao HMS Pogue.
precisou implorar para Kiara aceitar a ideia de irem até o hotel indicado no chaveiro. Segundo Kiara, não era certo eles se envolverem em algo desconhecido. No entanto, após ser a única a discordar da ideia e ouvir argumentar ao seu lado sobre como era importante garantir que o dono do barco estava bem, Kiara finalmente cedeu.

***


O hotel se localizava em uma área estranha e afastada da ilha, estava completamente sujo, velho e extremamente malcuidado. Aquilo não parecia ter sido causado apenas pelo furacão Aghata, aquele lugar aparentava ter aquela aparência há muito tempo. Mais uma dúvida surgiu na cabeça de : era impossível imaginar que alguém que tinha um Grady White se hospedaria ali. A garota tinha quase a certeza que, com o valor do barco, dava para quase comprar aquele local, que não deveria cobrar mais que 100 dólares a hospedagem.
— Hotel ou laboratório de metanfetamina? — Kiara falou, fazendo uma cara de nojo ao se aproximarem do local que parecia cair em pedaços.
— Tomara que a gente veja o Walter White aqui — JJ falou, fazendo referência à série que eles viram a primeira temporada algum tempo atrás, depois de Pope implorar por meses para eles assistirem.
— Eu ficaria bem feliz se eu esbarrasse com o Jesse Pinkman — falou, fazendo os amigos rirem.
— Não me parece o tipo de local onde alguém com um Grady White estaria — John B disse, fazendo concordar com ele.
— Me parece um local onde alguém com um Grady White seria morto — Pope pontuou.
Pope atracou o barco no lugar que eles suspeitavam ser o cais, já que o deque de madeira estava completamente quebrado. John B, JJ e pularam para fora do barco, com a chave em mãos em busca do quarto.
, cuida deles! — Pope falou, apontando para ela.
— Eu posso tentar! — ela disse, olhando o amigo.
— Ei, John B, é sério, toma cuidado, ok? — Kiara disse, olhando para ele seriamente.
JJ e se encararam, confusos com a cena, parecendo esperar que Carrera falasse algo para eles, mas ela apenas sorriu para John B e voltou a se sentar no barco enquanto o trio começou a se afastar, seguindo em direção ao hotel, entrando no lugar que parecia estar vazio. As paredes do primeiro andar estavam cheias de infiltrações, algumas janelas quebradas e sujas.
— Eu sou a melhor amiga dela! — falou, assim que subiram as escadas. — Ela mal olhou para mim. — JJ riu, percebendo o drama falso da garota.
Ai, John B, toma cuidado — JJ falou, tentando imitar a voz de Kiara, enquanto apertava os ombros de John B. — Me dá logo o seu John P. gargalhou alto com a imitação, começando a andar de costas pelo corredor, olhando para os dois garotos.
— Me larga, cara! — John B disse, se soltando dos braços de JJ.
— Que palhaçada foi aquela? — JJ perguntou.
— Sei lá, JJ, ela só queria que a gente tomasse cuidado — John B deu de ombros.
riu, ironicamente, ao ouvir a resposta do irmão.
— Cara, você precisa fazer algo sobre isso — JJ falou, passando a mão na bochecha de John B.
assentiu com cabeça, concordando com JJ. Sabia que John B nutria sentimentos por Kiara há algum tempo, ela conseguia reparar como o garoto sempre queria ficar o mais próximo possível de Kie, às vezes parecia que até o modo de falar do garoto parecia mudar e, depois do que tinha acabado de acontecer, começou a suspeitar que talvez Kiara também gostasse dele, mas ela decidiu observar em silêncio por mais algum tempo ao invés de tomar alguma decisão precipitada antes da hora.
— Você conhece a regra, Pogue não pega Pogue — John B falou.
— Ela é gata, rica e anda com a gente! — JJ disse, ainda com os braços passados pelos ombros de John B. — Se fosse comigo, cara, eu não perderia tempo.
se virou de costas para os garotos no mesmo instante, voltando a andar normalmente pelo corredor, beliscando o dorso da mão ao perceber que nunca havia ouvido JJ falar assim de Kiara e como ele provavelmente não via da mesma forma. Claro que tinha todos os flertes bobos, mas a garota sabia que Maybank daria em cima até de uma pedra se estivesse sozinho. Se achava burra por toda vez se sentir tímida quando JJ flertava com ela, mesmo ele não levando a sério. Routledge platonizava demais as ações do loiro e ficava corada igual uma menina de 14 anos. Pensando naquilo, parecia uma ridícula ao perceber que ele sempre achou Kiara mais bonita que ela e não teve problemas em dizer aquilo em voz alta.
— Ei, é essa aqui! — estalou os dedos, apontando para o número da porta, chamando a atenção dos garotos, agradecendo por chegarem e finalmente poderem dar fim ao assunto.
— Será que ele tá aí? — JJ pensou alto. — Camareira! — falou, tentando fazer uma voz feminina.
— JJ? — falou, confusa, apontando para ela mesma como se fosse um "eu podia fazer isso".
Ficaram na frente da porta por alguns segundos, esperando alguma resposta. John B tentou olhar para a janela do quarto que dava ao corredor, mas, ao perceber que o quarto estava vazio, destrancou a porta, fazendo os três entrarem no quarto. foi a última a entrar, ela olhou para Kiara e Pope, que conversavam no barco, dando mais uma olhada para garantir que ninguém estava vendo os três entrarem no quarto, fechando a porta, com cuidado.
O quarto não era muito grande, tinha duas camas e um banheiro pequeno, carpete sujo pelo chão e papéis e bolsas espalhados, o que fez ficar cada vez mais curiosa, começando a investigar o local.
— Talvez tenha algo na bolsa, deem uma olhada — John B sinalizou.
— Achei um casaco — JJ falou, chamando atenção de . — Não tem nome, mas é maneiro.
— Ele deve ter uns 50 anos, usa sapato de velho — John B falou, fazendo uma careta.
caminhou pelo quarto escuro, tentando achar algo que fosse relevante para eles, mas a única coisa que achou foi alguns itens do hotel. As bolsas tinham apenas roupas e alguns objetos aleatórios de uso pessoal, que a garota não quis perder muito tempo analisando.
— Ei, olhem aqui, deve ser aqui que eles estavam pescando. — Maybank olhava para o mapa, mostrando para os irmãos Routledge.
— Não dá, JJ, isso fica fora da plataforma continental, tem muita onda, um barco de pesca não fica 5 minutos aí sem virar — explicou a garota e o loiro bufou, em frustração.
Os três voltaram a buscar algo, John B mexia em algumas gavetas, olhava alguns papéis e JJ estava ocupado demais roubando os produtos do banheiro. John B assobiou em animação ao ver o cofre, olhando para e JJ.
— Tenta qualquer coisa, logo deve abrir! — JJ falou, levando a mão até o cofre, mas a garota tirou a mão dele antes que pudesse se aproximar da parte manual da senha.
— Não mexe, pode travar o cofre — falou.
A garota caminhou até uma escrivaninha, onde ela tinha achado alguns papéis. Após ficar procurando por algum tempo, ela sorriu, animada, ao encontrar um pequeno pedaço de papel amassado que continha uma combinação de quatro números, levando em direção ao irmão, que ainda tentava abrir o cofre.
— Ei, Johnny! — a garota falou, se aproximando do irmão. — Tenta colocar 5 8 2 8.
John B assentiu, mexendo a parte giratória do cofre. Com rapidez, o garoto colocou o código, abrindo o compartimento de metal, que fez um pequeno barulho ao abrir. Os irmãos fizeram um pequeno hi-five em comemoração. Olhando dentro do cofre, os olhos de arregalaram. Havia uma quantidade enorme de dinheiro, uma arma e um monte de documentação velha. A garota colocou a mão sobre a boca, murmurando “puta merda”, em choque, sem saber o que fazer com as coisas que estavam ali dentro. JJ pegou a arma em um movimento tão rápido que demorou alguns segundos para perceber, segurando como se fosse uma arminha de brinquedo, apontando para os lados e fazendo pose de forma engraçada como se estivesse em um filme de ação.
— Mano, olha isso! — JJ falou, animado.
— JJ, solta essa merda! — falou e o xingou.
— É uma semiautomática, cara! — ele disse, ignorando as repreensões. — Ei, tira uma foto minha!
— JJ, solta essa arma, você não sabe de onde veio. Tem certeza de que quer uma foto com isso? — Foi a vez de John B repreender o garoto. — Não vamos levar isso.
se apressou em pegar um maço de dinheiro que tinha no cofre, enchendo os bolsos de seu short jeans, não se importando nem um pouco caso as notas ficassem amassadas, mas não foi muito prático, pois os bolsos de seu short eram pequenos, não tinha como colocar muito dinheiro. A sua única ideia foi enfiar as cédulas no bolso de JJ, que a encarou de forma estranha, mas logo depois sorriu. não era uma completa maníaca gananciosa, apenas entendia a realidade que vivia, ela e seu irmão precisavam de dinheiro, então ela achava uma enorme idiotice simplesmente ignorar dinheiro que estava parado em sua frente, implorando para que ela o pegasse, se sentindo menos culpada quando John B fez sinal de afirmação com a cabeça, apoiando a ideia, quando ela recuou em pegar o dinheiro. Antes que JJ pudesse falar algo sobre a garota enfiar dinheiro em seus bolsos como se ele fosse um stripper, o barulho vindo da janela chamou a atenção dos três, que viram Kiara e Pope pulando e agitando os braços de forma estranha.
— Polícia do condado de Kildare, — A voz apareceu juntamente com as batidas à porta. — Tem alguém aí dentro?
JJ abriu a janela rapidamente, passando para o parapeito do telhado, foi a segunda a passar, sendo agarrada pelo garoto, que a segurou ao lado dele, os prendendo contra a parede, enquanto viam John B fazer o mesmo do outro lado da janela.
A garota fechou os seus olhos com força, tentando regular a respiração que estava visivelmente agitada, ao tentar controlar o medo que estava sentindo, já que em sua cabeça só passava um filme com milhões de coisas que poderiam dar errado. fazia de tudo para se acalmar, não poderia surtar agora, não quando estava em um parapeito de um hotel de qualidade extremamente duvidável, com policiais a menos de um metro dela, enquanto ela tinha um dinheiro que ela não sabia de onde viera nos bolsos.
— Tá tudo bem, . Eles não vão ver a gente, eu prometo — JJ sussurrou em seu ouvido, na tentativa de acalmá-la, o que foi uma tentativa falha, pois a única coisa que fez sentir foi mais tensão. Nos primeiros segundos, ela havia esquecido que estava ao lado de JJ aquele tempo todo, se sentido uma enorme idiota por sentir as malditas borboletas inundarem seu estômago, mesmo estando na situação que estava e após Mayabank elogiar a melhor amiga dela. A Routledge realmente estava tentando não dar importância para JJ praticamente colado com ela, apoiando a cabeça contra a parede, tentando ficar o mais imóvel possível, pensando como tudo iria acabar rápido, se todos ficassem quietos.
Um barulho alto assustou , a fazendo dar um pulo, abrindo os olhos, pensando que seriam pegos. De relance, ela pôde ver a arma caída no chão, ficando raivosa ao perceber que JJ havia trazido a arma junto a ele.
— Me desculpe, me desculpe — JJ sussurrou, rapidamente. — Por favor, , não se mexa — ele falou, fazendo carinho na cintura dela.
nem sabia se estava com as bochechas rosadas de raiva ou timidez da situação, voltando a fechar os olhos, implorando para que tudo acabasse logo ou que ela apenas caísse daquele parapeito, batesse a cabeça e entrasse em coma por pelo menos uma semana. A garota não conseguia se mexer, falar e muito menos pensar, queria começar a berrar com JJ por ele ser tão idiota, ao mesmo tempo que queria xingar a si mesma por agir igual a uma estúpida perto do garoto que ela conhecia desde criança.
Quando finalmente conseguiram ouvir os policiais saindo do quarto, os três não perderam tempo em descer o mais rápido possível, voltando para o HMS Pogue, ainda com os corações acelerados e cheios de adrenalina e medo. Um alívio surgiu entre o grupo, após ninguém ter sido pego. respirou fundo, se apoiando em um dos bancos do barco enquanto olhava para Kiara e Pope de forma confusa.
— Podiam ter avisado antes — reclamou.
— Tentamos, mas o Pope era do grupo de matemática — Kiara ironizou. — Pelo menos acharam algo?
— Se achamos? Olhem isso. — JJ tirou a arma e o dinheiro de dentro de seu bolso, sorrindo, fazendo John B e sorrirem, juntamente a ele.
— Vocês tiraram evidência da cena de um crime? — Pope falou. — Eu não vou perder minha bolsa de estudos por causa de vocês.
Eles continuaram navegando pelo pântano, não querendo se encontrar com policiais tão cedo. queria apenas relaxar após todo o nervosismo que passou, que mesmo durando cinco minutos, parecia que havia ficado horas agonizando naquele parapeito do hotel. Pope e Kiara ainda estavam visivelmente bravos por eles terem pegado as coisas do cofre, eles deixavam isso bem claro, visto que não paravam de brigar e encarar com feições desapontadas para o trio por nem um mísero segundo. os entendia ou tentava, pelo menos. Não tinha sido a ideia mais lógica do mundo tirar uma arma e dinheiro de um quarto de hotel estranhamente suspeito, mas, em sua defesa, precisava muito daquele dinheiro e por nenhum momento imaginou que JJ realmente levaria aquela arma, aliás, John B havia visto os policiais guardando dinheiro para si mesmos e, se os bons policiais que supostamente eram para ser adultos responsáveis que deveriam os proteger e manter todo mundo seguro estavam pegando o dinheiro para benefício próprio, qual seria o motivo de adolescentes inconsequentes e sem boas condições financeiras não poderem fazer o mesmo?
Assim que perceberem a movimentação dos policiais, bombeiros e ambulância na doca, a curiosidade voltou a invadir a mente dos Pogues, que atracaram o HMS Pogue. Os cinco saíram do barco, andando em direção a um pequeno deck, onde encontraram Lilah. a conhecia por morar no Cut e sempre frequentar as festas da praia, além de terem algumas aulas juntas durante o ano. O local também estava cheio de pessoas curiosas, assim como o grupo. A Routledge encarou, confusa, todo o local, assim como seus amigos, imaginando que alguma casa provavelmente tinha desabado ou algo grave havia acontecido. Os olhos de se arregalaram assim que viram uma maca com um corpo, que estava sendo coberto com algo que parecia ser uma lona preta, fazendo-a sentir um calafrio.
— Quem é? — John B perguntou para a garota que estava com eles.
— Scooter Grubs — ela falou —, ele estava no mar durante a tempestade. Olhem a foto que eu tirei.
Assim que viu a imagem nojenta do cadáver, ela fez uma careta de contragosto, desviando o olhar para o corpo do homem. Ela viu o exato momento em que os paramédicos retiraram a lona, fazendo Lana Grubs, a esposa do falecido homem, chorar enquanto suplicava pelo homem.
— Qual era o barco dele? — JJ perguntou.
— Não sei como, mas aquele zé-ninguém tinha um Grady White novinho! — ela explicou, rindo ironicamente, dando ênfase no apelido pejorativo. — Todo mundo está procurando o barco.
respirou fundo, tentando não enlouquecer. Ela olhou para John B por alguns segundos, tentando ver se o garoto tinha alguma ideia do que fazer, e fez isso com todos os seus amigos, mas, ao reparar que nenhum deles estava tão perdido na situação tanto quanto ela, desviou seu olhar para Lana Grubs, que ainda chorava no corpo do marido.
A única reação dos Pogues foi voltar para a casa dos Routledge para tentarem pensar o que fazer naquela situação. No momento em que o corpo de Scooter Grubs foi levado pelo corpo de bombeiros, caminharam para o barco e seguiram em direção ao Castelo o mais rápido possível. O caminho foi agoniante e em silêncio, todos os adolescentes estavam nervosos e não tinham palavras para descrever a situação que se meteram.
— A porra de um cadáver! — exclamou, em choque, assim que pisou em casa.
, inicialmente, tentou não surtar, mas a foto do corpo de Sr. Grubs em decomposição e inchado por estar afundado na água por tanto tempo ainda estava gravada em sua cabeça, com todos os detalhes, deixando sua cabeça em completa ansiedade e nervosismo. Estava em completo surto, caminhava de um lado para o outro pela varanda de sua casa, já havia desistido de se acalmar, era uma tentativa inútil, principalmente quando percebeu que não era a única preocupada com a situação. Kiara roía as unhas, seguindo com um olhar preocupado para a sua amiga inquieta e Pope não parava de tagarelar sobre a situação.
— Não vimos nada, não sabemos de nada — Pope falou. — Precisamos ter uma amnésia coletiva.
JJ estava apoiado em uma parede, às vezes ele batia levemente com a cabeça contra a madeira na tentativa de fazer sua cabeça pensar menos em tantas coisas, já John B parecia estar fora de tudo aquilo, apenas assistindo tudo com uma expressão neutra sem saber exatamente o que falar ou fazer. Os olhos de se grudavam com o de deu irmão, mentalmente ela implorava para que John B falasse algo que a acalmasse, mas o garoto nem sequer olhava para a irmã novamente, perdido em seus próprios pensamentos.
— Pope está certo — JJ falou. — Nós negamos, negamos e negamos.
JJ caminhou até , que ainda não tinha parado de perambular de um lado para o outro. Maybank segurou os ombros dela, fazendo os dois se encararem, guiando a garota para trás em direção à parede em que ele estava apoiado a alguns segundos atrás. tinha uma expressão confusa estampada no rosto, olhou para seus amigos, mas nenhum deles pareceu dar importância para a cena. Assim que sentiu as suas costas tocarem a velha parede do castelo, viu JJ sorrir, aliviado.
— Assim está muito melhor, — Maybank sussurrou, se colocando ao lado dela, voltando a prestar atenção na conversa de seus amigos.
— Não podemos ficar com a grana! — Kiara comentou, fazendo voltar à realidade.
— Nem todo mundo pode bancar dados ilimitados, Kiara — JJ resmungou.
— Temos que entregar o dinheiro, se não dá carma negativo! — Kiara disse, ignorando o comentário de JJ.
precisou conter a vontade de revirar os olhos após ouvir a amiga falar. Amava Kiara, ela era sua melhor e única amiga, e sempre se sentia culpada quando ficava com raiva de Kie quando a garota começava a falar algo hipster que nunca entendia. Sempre se esforçava para entendê-la, mas toda vez Carrera parecia se esquecer que no fim do dia ela voltaria para sua mansão, para o Figure Eight, com geradores para continuar tendo eletricidade, sem goteiras e em sua cama quente, e não teria que se preocupar se seu salário daria para pagar as contas no fim do mês. Entendia que Kiara estava chateada com os amigos por terem pegado o dinheiro de uma possível cena de crime, mas aquela quantia não faria falta para Kiara como faria para o e o resto dos garotos.
— Também é carma negativo se envolver em um crime! — Pope disse, apreensivo. — Temos que ser discretos.
— Se ser discreto quer dizer ficar com a grana, então eu concordo — JJ falou.
— Isso é sério? — Kiara falou, incomodada. — Tenho certeza que concorda comigo, certo, ?
— Desculpe, Kie, mas eu acho que realmente deveríamos ficar com o dinheiro e nos manter fora disso — falou, recebendo um sorriso de JJ e uma revirada de olhos, seguido por um olhar feio de Kiara.
— Eu não concordo — John B finalmente disse algo, após passar tanto tempo calado, deixando e os garotos confusos. — Pensem um pouco! — exclamou. — Scooter Grubs é o cara que compra cigarro fiado. Eu o vi pedindo dinheiro no posto porque estava sem gasolina. Esse cara é um marinheiro que nunca teve mais que quarenta dólares no bolso e do nada ele aparece com um Grady White?
Todos ali sabiam que John B estava certo. Até mesmo se você fosse novo na ilha, em menos de uma semana, já teria visto Scooter Grubs pedindo esmola nos semáforos ou em qualquer outro canto da cidade. lembrava de como ela e John B sempre que podiam ajudavam Lana Grubs, a esposa de Scooter, oferecendo carona para a mulher e deixavam alguns trocados que tinham no bolso para o casal não passar fome durante aquele dia.
— Pope, como um cara desses compra um Grady White? — John B perguntou.
— Prostituição… — Pope falou, receoso.
encarou o amigo de forma confusa, negando com a cabeça, rindo, enquanto passava as mãos sobre o rosto, antes de voltar a olhar para o irmão.
— Maconha! — JJ e falaram juntos, sorrindo um para o outro, vendo John B concordar.
— Sem chamar atenção, sem fiscalização. Não tem como fiscalizar durante os furacões. — John B apontou para o JJ. — E o que isso significa, JJ?
— Contrabando! — JJ falou, animadamente, fazendo John B estalar os dedos, sorrindo.
— E eu garanto para vocês, tem muito contrabando naquele naufrágio — John B falou.
— Se tem contrabando no barco, é porque é de alguém — Pope disse, óbvio.
— Isso é só um detalhe — Kiara falou, sorrindo de forma divertida.
— Roubar um contrabandista seria burrice! — explicou Pope.
— Mas burrices dão certo o tempo todo — falou JJ, mostrando o dinheiro que havia pegado no hotel.
O grupo não conseguia ficar em silêncio nem por poucos segundos. Caminharam até a doca do castelo, todos se sentando no local. brincava de ir para frente e para trás em seu velho skate, se equilibrando para não cair por causa das tábuas soltas do antigo deck de madeira nunca reformado da casa. John B e Pope iniciaram uma pequena conversa sobre o possível contrabando que poderia estar no Grady White naufragado, Kiara explicava como deveriam agir de forma neutra diante toda a situação, sem levantar suspeitas de ninguém. JJ estava ocupado demais bolando um cigarro de maconha para prestar atenção na conversa de seus amigos, acendendo e dando a primeira tragada antes de oferecer para , que também não prestava atenção na conversa, ocupada demais em seu skate. O loiro ofereceu o beck para , que negou rapidamente.
— Você é tão sem graça! — JJ resmungou. — Você já foi mais divertida, .
— Eu sou divertida naturalmente, Jay, por isso não preciso mais de maconha — respondeu, sorrindo.
— Minha maconha também é natural — JJ respondeu, a fazendo rir.
— John B, como a gente vai entrar no barco? — perguntou, parando o seu skate e olhando para o irmão, tentando escapar do assunto.
— Eu não sei, mas, enquanto isso, precisamos ser discretos — John B falou, fazendo todos concordarem.
— Com um Kegger! — disse Kiara, animada.
não tinha problemas com festas, até gostava da maioria delas, mas seu maior problema era com socialização. Não via problema em conversar em pequenos grupos com pessoas que ela já conhecia, ao invés de um local cheio de adolescentes bêbados que a deixavam tímida e desconfortável, ao contrário de seus amigos, que sempre se divertiam durante as cervejadas na praia. Até mesmo Pope, que era mais fechado, sempre se encaixava em algum círculo diferente de pessoas para conversar, enquanto ficava sentada ao lado de Kiara, ouvindo todos conversarem, sentindo medo de falar algo em meio à todas aquelas pessoas. Às vezes, ultimamente, JJ fazia companhia para ela, porém se sentia mal ao pensar que Maybank provavelmente preferia estar se divertindo e conversando com o resto das pessoas ou até mesmo com alguma outra garota, mesmo que o loiro dissesse que preferia mil vezes do que todos aqueles adolescentes bêbados, o que a Routledge nunca conseguia acreditar de verdade.
— Vamos, , se anima! — disse Kiara, olhando para a amiga. — Você me disse que Marcus James estava curtindo todas as suas fotos e ele sempre vai nos Kegger.
— James é um idiota. — Foi a vez de JJ falar, recebendo um olhar repreensivo do resto de seus amigos.
— Ele sempre se oferece para limpar a praia e pagar o barril de cerveja no final — John B argumentou. — Aliás, se ele for um idiota, vai perceber.
— A gente pode parar de falar sobre isso? Eu estou meio constrangida agora — falou, rindo fraco, fazendo seus amigos rirem também.
Os Pogues se levantaram do cais com pressa, ansiosos para ajeitarem as coisas para a festa na praia. Em menos de uma hora, estava carregando o fardo de copos plásticos, em direção à praia. Sua camisa não estava mais cobrindo seu short jeans, agora a blusa estava presa em um nó, na parte das costas, a deixando justa e curta como um cropped. Pequenas trancinhas estavam na parte da frente do seu cabelo, as quais sempre ajudavam a diminuir a sua ansiedade. Kiara tinha o mesmo penteado, que também tinha sido feito pela Routledge. JJ e John carregavam o barril de cerveja em meio à praia, e Pope instalou a mangueira. Em alguns poucos minutos, o local estava cheio de adolescentes de todos os tipos, pedindo um copo de cerveja para o grupo que tomava conta do barril.
Os Keggers eram as festas mais populares de Outer Banks. A festa na praia consistia com barris de cerveja, música e uma fogueira, era o lugar onde Pogues, Kooks e Taurons se misturavam e faziam de tudo para se divertir, e, normalmente, era o momento em os grupos se misturavam e viviam em paz por algumas horas, sem muita encrenca além de uma discussão ou outra que sempre acabava rapidamente. Não dava para entender a pequena ilha e muito menos participar dos Keggers sem compreender o balneário, o lugar onde acontecia as festas com barris de cerveja.
gostava de pensar nas festas da praia como um pequeno oceano, havia os Pogues e seus amigos, moradores do Cut e proletariados, como pequenos peixes que moravam nos corais, iniciavam as festas, mas sempre precisavam ter cuidado com os Kooks, os maiores inimigos dos Pogues, herdeiros ricos e esnobes para caralho, como tubarões, orcas ou qualquer outro peixe predador. Por fim, os Taurons, os peixinhos migratórios, que você não se dá muito o trabalho de conhecer, pois já está acostumado com o ecossistema local, a maioria era uns idiotas que passavam uma semana de férias com a família em suas casas de verão, os famosos nem fede e nem cheira.
Como esperado por Kiara, Marcus James havia realmente aparecido na festa e, após um pequeno empurrão da Carrera, estava conversando com o garoto em um tronco de árvore, mais afastado do resto de seus amigos. James era gentil e caridoso, contava piadas que fazia a Routledge rir, a deixando menos envergonhada do que ela realmente esperava.
— Está trabalhando para os Thorntons agora? — perguntou, com uma feição triste, vendo o garoto concordar, rindo. — Cara, sinto muito, eles são piores que os Cameron.
Marcus riu da feição da garota, dando um último gole em sua cerveja, antes de voltarem a conversar sobre algum assunto aleatório. O garoto era um típico morador do Cut, então eles tinham o que conversar. Moravam no mesmo lugar, conheciam as mesmas pessoas e estudavam na mesma escola desde sempre. Por esse motivo, não ficava aquele silêncio constrangedor de quando conhecia alguém novo, o qual odiava.
O coração de parou por alguns segundos assim que viu JJ Maybank se aproximando, sua regata cinza larga voando, devido ao vento, segurando dois típicos copos de plástico vermelhos com cerveja. O loiro sorriu para os dois antes de se sentar ao lado de . Um clima tenso se instaurou pelos três adolescentes. Marcus e se encararam por alguns segundos antes de voltarem o olhar para Maybank, esperando o loiro falar algo.
— E aí, James? — JJ falou, passando os braços pelos ombros dela. não se incomodou, era acostumada com o pequeno ato protetor de JJ, principalmente durante as festas, como se Maybank sempre quisesse garantir que ela estivesse bem, mas não esperava que JJ iria fazer aquilo enquanto ela estava conversando com alguém.
— Tô bem, mano — Marcus disse, com um sorriso tímido. — Minha cerveja acabou, quer que eu pegue uma para você também? — James ofereceu, desconfortavelmente, levantando do tronco, olhando para .
e eu já estamos de boa aqui, não é, ? — disse JJ, entregando um dos copos para , que se viu em dúvida entre o conforto e a agitação que Maybank causava dentro dela diante de toda aquela situação. — Eu trouxe uma cerveja para ela.
O garoto de olhos escuros e pele bronzeada se afastou, incomodado, caminhando em direção ao barril de cerveja, que ainda era comandado por John B. pôde perceber o olhar confuso até mesmo para ela e Maybank, ao ver que James havia se afastado. No mesmo instante, saiu dos braços de JJ, fazendo o loiro ficar confuso com o ato inesperado e que raramente acontecia.
— Quer parar de ser um completo babaca? — perguntou, fazendo as sobrancelhas de JJ franzirem. — Você não é meu namorado para atrapalhar a conversa que eu estou tendo com um cara! Eu nunca te incomodo quando você tá com alguma garota no quarto do lado no Castelo!
estava furiosa, como JJ ousava praticamente insinuar para aquele garoto que eles tinham algo? Sua mente estava confusa, brava e estressada, sentiu seu peito afundar ao ver a expressão de JJ, confuso e até meio triste com a explosão repentina da Routledge. Maybank não disse mais nada, apenas levantou as mãos em rendição, murmurando:
— Desculpa, , só vai com calma na bebida. — JJ se afastou, bufando, enquanto passava a mão sobre seu cabelo loiro, mostrando sua inquietude, deixando totalmente confusa, pois ela já estava pronta para começar uma discussão. A garota voltou a olhar para Marcus James, que se aproximava, voltando a sorrir ao perceber que JJ não estava mais ali. continuou a conversar com o garoto sobre qualquer assunto possível, mesmo que sempre desviasse sua atenção para JJ uma vez ou outra, ainda confusa sobre o que tinha acontecido minutos atrás. Maybank conversava com John B perto da fogueira e, assim que os olhos azuis dele encontraram os olhos verdes de , a garota desviou o olhar, sentindo Marcus colocando a mão em sua perna, cada vez se aproximando mais da garota. não teve muita reação além de sorrir, tímida, enquanto fingia não estar com a cabeça em outro lugar. Ao mesmo tempo que fingia continuar a conversa de Marcus, não queria ser indiferente com o garoto, mas era quase impossível, principalmente quando sua cabeça estava cada vez mais cheia de coisa.
Briga! Briga! Briga!
viu o exato momento que a multidão se formou e rodeou o local com rapidez, percebendo que nenhum de seus amigos estava em seu campo de visão. Sem precisar pensar, ela se levantou em um supetão, caminhando com pressa, se enfiando em meio aos adolescentes, torcendo que não fosse JJ e nem John B metido em alguma briga naquele momento, mas, assim que viu a cena de seu irmão e Topper Thornton brigando na beira da água, ficou tão aflita que nem havia percebido que o garoto a havia seguido, encarando a cena. Viu Kiara com uma feição tão preocupada quanto a dela e Sarah Cameron, a garota que era denominada na ilha como “princesa Kook” e namorada de Topper, gritava, pedindo para que o namorado parasse.
— Seus Pogues de merda — Topper falou.
Isso foi o suficiente para fazer John B se estressar. Ele empurrou Topper fortemente, a cena era doentia, para dizer o mínimo: socos, empurrões e chutes para os lados. Cameron e Carrera eram as únicas que gritavam na tentativa de parar a briga, ao contrário dos outros adolescentes, que torciam e incentivavam toda a confusão. estava paralisada, seus olhos fixos em John B, sem conseguir soltar um som de sua boca.
Topper acertou um soco no rosto de John B, o fazendo cair na água, e sentiu ar faltar em seus pulmões, ansiedade e medo começando a surgir, fazendo todo o seu corpo tremer inconscientemente. Ao perceber que seu irmão ainda não tinha levantado, quando tentou se mover e tirar alguma coragem para salvá-lo, foi segurada. Se tivesse forças para isso, gritaria com Marcus James, implorando para ele soltá-la, mas, ao olhar para os braços que rodeavam sua cintura, sem ela nem conseguir se mover centímetros do lugar, percebeu que não pertenciam ao garoto que ela conversava a minutos atrás, mas sim a JJ. parou de se mover no mesmo instante, se apoiando no corpo do loiro, enquanto todos os gritos inundavam seus ouvidos.
— Ei, John B, não me faça eu te afogar igual seu pai — Topper falou, fazendo todos os adolescentes se calarem, e a raiva apareceu em John B no mesmo instante.
sentiu o irmão a encarando e, em um movimento involuntário de seu corpo, ela assentiu com a cabeça.
— Acaba com ele, JB! — gritou, fazendo o irmão sorrir, pulando novamente para cima de Thornton.
não soube o porquê de falar aquilo, nunca foi a favor de brigas, pelo contrário, detestava, mas ouvir aquelas palavras de Topper a enfureceu no mesmo instante.
A briga parecia nunca ter fim, os gritos em incentivo também continuavam, a garota já estava começando a ficar com medo da proporção que aquilo estava se transformando. sentiu tudo ficar em câmera lenta, tendo que se segurar no garoto, vendo Topper tentando afogar John B no mar a alguns poucos metros de distância.
— Johnny! — A voz de nem sequer soou tão alta, o nó em sua garganta a impossibilitou de gritar. O único que poderia ouvir sua voz era JJ, que estava próximo dela.
Maybank a soltou no mesmo instante, ela se sentiu fraca, quase podendo cair no chão, tentando segurar o choro. Em um piscar de olhos, tudo mudou, JJ tinha a arma na têmpora de Topper, que soltou John B no mesmo instante, se levantando devagar, visivelmente com medo das ações do Pogue. se xingava internamente por estar agradecida que Maybank pegou a arma, mesmo sendo uma ação inconsequente.
— JJ, larga isso! — Sarah Cameron falou, assustada.
— Disse algo, princesa? — JJ falou, irônico.
Era nítido o tom de voz irritado de JJ, a Routledge percebeu que aquele ato de Maybank, não passava de uma ideia que ele teve no momento que sentiu medo e não pensou se seria sensata ou não.
— Agora todo mundo me escuta, quero todos fora do nosso lado da ilha! — Maybank disse, apontando a arma para cima e disparando três tiros em direção ao céu.
Os adolescentes que estavam na festa corriam para o mais longe possível, a multidão se dissipou rapidamente. Sarah correu, segurando a mão do namorado. Kiara e Pope gritavam para JJ, o xingando, e apenas ignorou toda a situação, correndo em direção a John B, que desmaiou assim que ela chegou perto, a fazendo gritar em desespero, chamando a atenção de seus amigos, que precisaram carregar o garoto até a Twinkie.
Os Pogues estavam na Kombi, John B estava no banco de trás com a cabeça apoiada no ombro de . Kiara e Pope continuavam xingando JJ, o qual, após um tempo, parou de se defender, apenas dirigindo em silêncio. Maybank e a Routledge apenas trocavam olhares pelo espelho retrovisor, os quais não conseguia desvendar o que realmente significavam. O veículo ficou em silêncio no momento em que JJ deixou Kiara em casa e logo depois Pope. O loiro seguiu em direção ao Castelo, Maybank parecia estar estressado e com medo, assim como a garota, sempre batendo os dedos contra o volante da Kombi e olhando para os lados nervosamente. Ambos conseguiam sentir o clima estranho entre eles dois, tinha quase certeza de que não era apenas devido à confusão que havia acontecido na praia, tinha algo diferente, mas nenhum dos dois sabia explicar exatamente o que era.
Assim que chegaram à casa dos Routledge, JJ ajudou a colocar John B no sofá, pois a garota não queria acordá-lo. e JJ estavam na varanda escura, pela queda de energia, sentados em silêncio. O garoto brincava com seu isqueiro, desviando seus olhos para , que tinha seus olhos vidrados na árvore na frente da casa.
— Você é um idiota por atirar no meio da praia — a Routledge quebrou o silêncio.
O loiro bufou, revirando os olhos, começando a resmungar uns xingamentos e algo como: “pelo menos eu o salvei”. se levantou silenciosamente, caminhando até o garoto, ficando em pé em frente a ele, fazendo JJ olhar para ela. Mesmo no escuro, conseguia ver os olhos azuis de Maybank refletirem, assim como a água do mar.
— JJ — falou, sorrindo. — Obrigada por ser um idiota e ter salvado John B.
Dessa vez, foi a vez de JJ sorrir, ficando de pé em frente à garota. Agora era ele que via os olhos verdes dela brilharem. Os dois ficaram na mesma posição por alguns segundos, em silêncio, sem falar nada, apenas observando levemente um ao outro entre a escuridão.
— Então, Marcus James é tão interessante ao ponto de você brigar comigo por uma cerveja? — Maybank mudou de assunto repentinamente, fazendo cruzar os braços.
— Pare de se fazer de inocente, Jay! — falou, rolando os olhos.
— Se passou na sua cabeça que eu deixaria alguém que mal conhecemos te levar bebida, a inocente aqui é você, — Maybank argumentou, sem tirar os olhos da garota.
— Eu realmente não entendo você! — a garota de olhos verdes murmurou em um sussurro para si, passando a mão pelo rosto, suspirando. — Ficou me cuidando o Kegger todo só porque eu estava com um garoto, mas encheu Kie de elogios para John B mais cedo no hotel!
nem precisou continuar o monólogo para se arrepender no instante em que as palavras saíram de sua boca, imaginou que poderia ser os copos a mais de cerveja que bebeu na festa para fazê-la falar suas frustrações em volta na frente de JJ. Assim que parou de falar, um sorriso divertido se estampou na feição de Maybank. gostaria de poder sair correndo e mandar JJ esquecer as últimas frases que saíram de sua boca, sentia seu corpo paralisado em frente ao loiro.
— Por que estamos falando de Kiara? — Maybank riu. — Quer que eu elogie você também, ?
— Vai à merda, JJ! — resmungou, agradecendo por estar escuro demais para JJ conseguir ver as bochechas coradas dela.
, se eu elogiar você na frente do JB, eu acho que você nunca mais ouve minha voz — Maybank disse em um sussurro, após rir.
sabia que John B odiava quando ela e Maybank ficavam muito próximos. Já havia perdido as contas das vezes em que seu irmão teve pequenos ataques de ciúmes ao ver a garota se encolher um pouco por algo que o loiro havia dito. Sempre que percebia que ela e seu melhor amigo estavam se divertindo demais ou trocando muitas piadinhas, John B fazia questão de intervir, afastando os dois e reclamando que eles estavam “juntos demais”, como ele normalmente dizia, o que sempre fazia o resto dos Pogues rirem.
JJ se aproximou um pouco mais, voltando a olhar para a garota. Os dois se encararam, novamente, e ele ficou em silêncio por alguns segundos, deixando um beijo na testa de antes de se afastar.
— Boa noite, — JJ disse, se virando de costas para ela e saindo do Castelo.
pareceu paralisar por alguns segundos, não conseguindo raciocinar o que havia acabado de acontecer. Suspirou, frustrada, caminhando até o sofá-cama onde o irmão estava deitado, se jogando ao lado de John B, e caindo no sono rapidamente após um dia tão longo.



Continua...


Nota da autora: Sejam muito bem-vindos à Complicated!
Essa história tem um cantinho especial no meu coração e espero que conquiste um espacinho no de vocês também, se divirtam!

Nota da beth: Eu amo como a é tão bem inserida na história, que nem parece que ela não fazia parte da série hahaha 💜

Se você encontrou algum erro de revisão ou codificação, entre em contato por aqui.