Revisada por: Lightyear 💫
Finalizada em: 07/05/2025Eu tenho muito a dizer pra você, yeah
I got a lot to say
Eu tenho muito a dizer
I notice your eyes are always glued to me
Eu percebi que seus olhos estão sempre grudados em mim
Keeping them here and it makes no sense at all
Mantendo-os aqui e isso não faz sentido
Saimpton (capital de Mustanth) - day 1
A missão enviada por seus superiores era clara: coletar todas as informações sobre o possível ataque de mísseis contra a Lisdrâmia.
Estavam em um território desconhecido por todos, já que o país se mantinha desconectado do mundo e as regras eram claras.
Número 1: Não poderia acontecer nenhum tipo de falha.
Número 2: Deveriam se infiltrar no prédio da Segurança Nacional de Mustanth, coletar os dados e sair.
Número 3: Não confiar em ninguém.
Paranóia.
perdeu as contas de quantas vezes ouviu o seu parceiro resmungar que estava paranoica. Aquele incômodo parecia um alarme soando sem parar em sua cabeça, um alerta de que algo estaria errado.
E uma falha estava fora de cogitação.
Servia e protegia os interesses de seu país, a Lisdrâmia, com unhas e dentes. Foi durante o programa secreto do governo, intitulado como LIS, que conheceu o seu atual parceiro: . Foram enviados em diversas missões de espionagem pelo mundo, mas era a primeira vez que entravam em um país que não possuía uma boa relação.
As opções eram claras: completar a missão com sucesso ou ambos morreriam. E ela gostava muito de viver, mesmo que tivesse optado por uma profissão que pusesse isso em risco diariamente.
— Você precisa relaxar ou vão desconfiar que não somos um casal feliz prestes a conhecer a bela Saimpton! — falou , numa tentativa de amenizar a tensão da parceira.
Ela bufou enquanto analisava pela milésima vez o mapa do prédio da segurança nacional.
— Acho bom você tomar cuidado! Não é uma missão como todas as outras! Temos vidas em jogo! — explicou , sem levantar os olhos da tela do pequeno computador. — Um erro e todos nós morremos. — lembrou friamente.
abriu um sorriso zombeteiro, sentando-se no colchão da cama de casal. Observou a postura tensa da parceira.
O quarto era modesto, com um banheiro, um armário e um ventilador de teto. Estavam no verão e o dia estava quente, extremamente abafado. O rosto de ambos brilhava pelo suor que molhava suas testas.
— Novidade! Todas as missões são assim ou acha que entrei nessa sem saber dos riscos? — bufou, secando o suor da testa e se jogou de costas no colchão. Os braços abertos, encarando o ventilador de teto.
— Então, não vacile! — reforçou o pedido enquanto soltava um suspiro. Fechou os olhos, prendendo os longos cabelos castanhos num rabo de cavalo.
A missão teria que dar certo.
Eles gravaram em sua boca
Scribbled out the truth with their lies
Rabiscaram a verdade com suas mentiras
Your little spies
Seus pequenos espiões
Crush... Crush.. Crush... Crush! Crush!
Esmague, esmague, esmague, esmague!
Saimpton (capital de Mustanth) - day 7
— Claro, meu amor! — falou ela, abrindo um sorriso encantador e apaixonado para o parceiro.
sentiu o coração acelerar por estar impactado demais com os efeitos de seu sorriso, a forma como ele iluminava o seu rosto moreno, fazendo com que aliviasse a expressão de tensão que parecia estar grudada em sua face desde que a conheceu.
Estavam almoçando na parte externa de um restaurante local, disfarçados de casal turista, aguardando o contato que lhes daria todo o apoio durante a invasão. Deveriam aguardar naquela mesa sem levantar suspeitas. deveria estar segurando uma margarida dada por seu marido, num gesto romântico. Entretanto, a realidade era outra: os seus gestos, as suas falas, toda a interação entre eles era extremamente calculada para conseguirem manter a camuflagem do local, mas que, na verdade, escondiam a tensão e os milhares de segredos que ambos guardavam um do outro.
Ele estava tenso e desconfiado por conta do que havia sido confidenciado por seu chefe. O que ficou subentendido era que, pela primeira vez na vida, não deveria confiar sua vida nas mãos de sua parceira. E enquanto analisava suas reações ali, naquela mesa, tentava pôr em xeque se realmente poderia existir uma traição.
A sua atenção se dividia entre os personagens de ambos e a rua movimentada que estava repleta de carros coloridos, pedestres que carregavam mil quinquilharias e motos.
Sabia que em uma missão a confiança entre os parceiros era fundamental para que existisse chance de sucesso, mas o que não conseguia entender era o motivo de terem enviado-os sem ter certeza do que estava acontecendo.
— Será que o tio vai demorar muito? — perguntou , enquanto olhava o relógio em seu pulso e retornava sua atenção para a rua que ficava à esquerda de .
Ele franziu a testa, atento com as palavras da jovem.
— Como você sabe que é um homem? — perguntou num tom sussurrado, enquanto se debruçava sobre a mesa, fingindo pegar a mão da mulher e se esforçando ao máximo para disfarçar sua expressão de confusão.
A mulher abriu um pequeno sorriso e deu de ombros.
— Joshua informou na reunião. — Respondeu num tom calmo, mas seus olhos castanhos denunciavam a confusão.
Por algum motivo, não recebeu aquela informação de seu chefe. Abriu a boca, prestes a questionar, mas foi interrompido abruptamente por uma senhora com avental na cintura, que estava segurando uma bandeja com o pedido dos dois.
Ela colocou um copo de água na mesa, em frente à . Quando foi colocar o prato com o pedido, esbarrou no copo, derramando todo o líquido no colo da mulher. Começou a dizer várias palavras agitadas numa mistura de inglês e fitranp — idioma natal — enquanto passava um pano no colo.
— Tudo bem! Tudo bem! — A parceira repetia, tentando tranquilizar a senhora que insistia em esfregar sua bermuda jeans. Observou a mais jovem sorrir sem graça e abanar as mãos num gesto, que indicava que não se importava com o acontecido.
não conseguiu evitar a gargalhada que escapou de sua boca. tinha a expressão mais bonita do mundo, o que causou um aperto no peito do rapaz. Achava que, com o tempo, conseguiria superar os seus sentimentos em relação à mulher, mas o tempo só mostrava ser impossível.
Sua boca salivou ao sentir o cheiro delicioso do frango assado em seu prato, tomou um gole da sua água enquanto observava se levantar, com uma mancha mais escura na frente de seu jeans.
— Vou ao banheiro. — avisou com o indicador, apontando em direção ao restaurante, uma expressão sem graça em seu rosto.
confirmou enquanto mastigava avidamente sua comida.
Assim que a mulher sumiu de vista, ele largou o garfo no prato e olhou atento para a rua e, como que num passe de mágica, um jovem de bicicleta parou ao lado da mesa em que estava sentado e deixou um envelope pardo nas mãos do homem. Ele apenas confirmou com um gesto de cabeça, dispensando o ciclista.
Escondeu rapidamente por dentro do cós da bermuda, cobrindo com o tecido da fina regata preta que vestia. Checou novamente se a parceira estava retornando do banheiro, como a avistou, suspirou preocupado enquanto voltava a encher a boca com uma nova garfada.
deu uma última olhada para o pequeno corredor e verificou se alguém estava lhe seguindo. Resmungou baixo enquanto dava leves puxões no jeans úmido de seu short, afastando-o da pele. Revirou os olhos ao pensar no que teve que fazer para conseguir ir ao banheiro, sem levantar suspeitas de . Teve que dar um leve empurrão na senhora para que ela acabasse molhando sua roupa; não podia sair da mesa sem motivo enquanto aguardavam uma entrega que nunca aconteceria.
Entrou no banheiro, se dirigiu à última cabine que estava com um papel colado informando que estava entupida, abriu a pequena porta cinza e subiu na tampa da privada. Tateou o teto e forçou para tirar a proteção de gesso do lugar, enfiou a mão e sentiu uma sacola plástica. Pegou e jogou no chão, colocando a abertura no lugar, bateu as mãos uma na outra e desceu da privada, pegando a entrega e guardando dentro da sua roupa. Saiu da cabine e parou em frente à pia com espelho. Molhou as mãos e jogou água no rosto, observando seu reflexo no espelho. A testa franzida pela tensão, os olhos repletos de olheiras roxas pelas noites mal dormidas desde que soube o que esperavam dela nessa missão.
Dessa vez, ela não poderia contar com o seu parceiro.
Uma aura de desconfiança os envolvia. Ambos pareciam tensos enquanto se encaravam — após o retorno de . A expressão de falsa tranquilidade estava forçadamente estampada em seus rostos. Fingiam acreditar que tudo estava bem. A parceria deles existia há mais de três anos, acreditavam se conhecer profundamente: compartilhavam ideais parecidos, gostavam de executar as missões com maestria e com todo o cuidado para não deixar rastros. Tinham uma amizade, mas nutriam sentimentos secretos que não poderiam ser revelados, já que o trabalho deles ocupava o primeiro lugar em suas vidas. Não poderia existir relacionamento mais profundo entre eles — não sem bagunçar a carreira. Duas faces de uma mesma moeda, que se completavam com suas habilidades. Ela, especialista em disfarces, com uma excelente experiência em artes marciais, enquanto ele, dominava a arte em rastreamento.
e eram infalíveis.
Naquela mesma noite, e ainda não haviam lido os documentos que haviam sido entregues. Ambos esconderam um segredo e uma suspeita em comum: estavam sendo traídos.
— Te encontro no restaurante? — perguntou em pé, ao lado da porta, já com a mão na maçaneta e o polegar apontado para a saída. Mascava um chiclete de menta, os cabelos úmidos do banho recente e o corpo coberto por uma camisa regata branca e bermuda preta.
Ele observou sua parceira, que estava prestes a entrar no banheiro. Os cabelos presos no alto da cabeça, a toalha branca jogada por cima de seu ombro. Ela confirmou com um gesto de cabeça, dando uma piscada para o rapaz.
— Não coma sem mim — pediu, num tom brincalhão abafado pela porta do banheiro fechada.
— Jamais, querida — falou ele, aumentando o volume da voz para que ela pudesse ouvir. Ouviu uma gargalhada como resposta.
Assim que a porta do quarto se fechou, esperou uns minutos e se sentou na tampa do vaso sanitário, retirando o envelope de dentro da própria roupa. Colocou sua arma em cima da pia e o abriu. E, naquele mesmo instante, estava sentado em uma mesa do restaurante, com o outro envelope aberto em sua frente. O receio do que estaria ali o desencorajava a descobrir. Respirou fundo, finalmente, dando-se por vencido. Não precisou de um minuto para entender a mensagem.
Dois envelopes. Uma mesma mensagem: o traidor teria que morrer.
Poderiam ter procurado mil desculpas para evitar reconhecer o verdadeiro motivo que os levou até ali. Seria culpa do vinho, o forte cheiro de morte iminente que os rodeava, o peso da responsabilidade com seu próprio país ou, até mesmo, os sentimentos mais profundos e carnais que iam além de uma bela amizade profissional.
Nada seria dito naquela noite. Um acordo silencioso, principalmente pelo motivo de que, em poucas horas, uma das testemunhas seria incapaz de revelar o que havia acontecido entre e . Somente os lençóis testemunhavam as carícias, as promessas sussurradas e os gemidos de prazer. Estavam conectados profissionalmente, pessoalmente e agora, fisicamente. Um pertencia ao outro. Poderia ser um final feliz, mas ambos sabiam que a vida em que viviam não permitia finais felizes. Era viver ou morrer. Matar ou ser morto. Entretanto, naquela noite, decidiram matar outra coisa: o desejo secreto que sentiam um pelo outro durante anos.
Eles gravaram em sua boca
Scribbled out the truth with their lies
Rabiscaram a verdade com suas mentiras
Your little spies
Seus pequenos espiões
Crush... Crush.. Crush... Crush! Crush!
Esmague, esmague, esmague, esmague!
Saimpton (capital de Mustanth) - day 9
A missão havia sido um sucesso. Tudo que foi coletado revelava os planos de bombardeios contra diferentes países, inclusive Lisdrâmia, e milhares de vidas poderiam ser salvas com esses dados. Desde que colocaram todas as informações em um pequeno pendrive, nada havia sido dito por ou . Não houve exclamações de felicidade, a tensão era palpável entre ambos. O segredo da noite de prazer, a despedida silenciosa, continuava soterrada sob suas peles e suas memórias. As pistolas carregadas pareciam queimar a região da pele em que estavam escondidas, preparadas para o destino que havia sido decidido por seu país. E o preço era claro: milhões de vidas ou a vida de Daphe. Milhões de vidas ou a vida de . Ambos sabiam o preço que deveriam pagar.
Mas, somente daquela vez, o preço parecia alto demais. Doloroso demais. Até mesmo para , que servia fielmente e com a mais pura gratidão ao seu país.
Descobrir que a traição de seu parceiro era doloroso e, por mais que tentasse ocultar seus reais sentimentos, mesmo que aquela primeira e única noite revelasse mais do que estivesse disposta a admitir.
Passava da uma da manhã, o corredor estava silencioso o suficiente para que os passos da dupla ecoassem alto. Ambos vestiam preto da cabeça aos pés e, além de suas pistolas, carregavam expressões sérias.
destrancou a porta do quarto e entrou, com as batidas do seu coração acelerada. Desde a noite em que descobrira que deveria matar a sangue-frio sua parceira, cogitou mil formas de evitar que isso acontecesse, mas todas pareciam erradas. Os seus sentimentos deveriam ser postos em último plano, deveria focar em salvar milhares de vidas que dependiam deles, quer dizer, agora somente dele. Não era fácil acreditar que a pessoa que mais admirava seria capaz de algo tão terrível. Talvez fosse sua relutância em acreditar.
Aquela era a hora.
fechou a porta atrás de si, deu um leve baque e já sacou sua pistola preta, destravando-a.
— Estou há muito tempo me perguntando quando você agiria — falou , de costas para a mulher, enquanto devagar pegava a própria arma na cintura, sacando-a e mirando-a.
Ela não se surpreendeu, afinal, os anos de parceria só afirmaram que não deveria subestimar as habilidades do homem.
— Engraçado! Me perguntei o mesmo! Principalmente, como conseguiria fazer sem que eu reagisse e te matasse primeiro — debochou, com um sorriso no rosto, soltando uma gargalhada.
revirou os olhos e assumiu uma postura séria.
— Há quanto tempo? — perguntou, os olhos cravados em cada movimento da mulher.
— Tempo suficiente.
— E você conseguiria me matar? — questionou com um sorriso convencido, mas seus olhos transmitiam qualquer coisa, menos felicidade.
— Com as mãos amarradas nas costas, querido — bufou enquanto observava a expressão convencida da mulher: os olhos sem brilho e o sorriso estampado em seu rosto.
— Nosso tempo acabou, . — Falou ela num tom sério, assumindo uma postura tensa, o dedo indicador tremendo levemente, revelando o seu verdadeiro estado de espírito que era compartilhado pelo homem.
— Só precisa saber uma coisa, . Por quem? — perguntou ele, assumindo uma expressão de tristeza, a arma ainda apontada para a cabeça da mulher.
Ela não conseguiu disfarçar a expressão de confusão.
— Você está prestes a ser morto e quer saber uma coisa que está cansado de ouvir? — perguntou cética, continuou — Lisdrâmia, óbvio. Meu país depende de mim. — concluiu, com uma expressão de confusão, ao observar a expressão do homem que era idêntica à sua.
— Pare com as suas mentiras! Qual país? — perguntou num tom irritado, dando uma leve sacudida com a arma para demonstrar sua pouca paciência.
— Eu que deveria saber isso! Como teve a audácia de trair Lisdrâmia? Nossa pátria! — soltou, mas, no fundo, queria gritar com e perguntar como teve coragem em traí-la, ainda por cima, debaixo de seu nariz. Ela jamais se perdoaria por deixar algo assim passar batido.
— Quem está traindo a pátria é você! — riu incrédula com a acusação.
Ambos se encararam friamente em silêncio por alguns instantes. A expressão de ambos demonstrava uma fria conclusão diante das lembranças dos dias que antecederam a viagem. Eles, ao mesmo tempo, puxaram as folhas de dentro de suas calças, armas ainda em punho. Lançaram na direção um do outro. Se abaixaram, dividindo a atenção nos movimentos que faziam para pegar os papéis que haviam sido trocados e lê-los.
A expressão de era puro choque. parecia querer soltar um laser.
— Isso é uma armadilha! — disse , travando a arma novamente, lançando-a sob o colchão.
A mulher repetiu o seu gesto. Ambos se encararam, ainda numa curta distância segura.
Ela estava com o rosto vermelho de raiva. Ele estava tenso.
— Estamos sendo traídos. — constataram friamente em uníssono.
Em seguida, a distância entre eles encurtou, beijaram-se com fervor, revelando todos os sentimentos que estavam escondidos por baixo de camadas de profissionalismo, tempo, amor à sua pátria e milhares de vidas.
e iriam caçar o traidor até o inferno, caso fosse preciso.