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Codificada por: Cleópatra

Finalizada em: 01/08/2024
Mais um dia comum, numa cidade comum, num trabalho completamente sem graça. Era isso que se passava pela cabeça da jovem atendente durante os momentos de pausa.

A fumaça que escapava de seus lábios rosados, era amarga, mesmo que tivesse uma essência qualquer de fruta misturada nos tóxicos do cigarro o amargor sempre estava presente. E o causador disso estava longe de ser o pequeno tubo de câncer preso entre seus dedos.

Se lembrando do que uma das atendentes mais antigas disseram — sobre as finanças da pequena cafeteria tornando-se pior —, ponderava que em breve teria de voltar a procurar outro emprego patético para uma pessoa mais ainda.

Fugiu da casa de sua mãe no auge da juventude, estar nas ruas era melhor que conviver com o estúpido novo marido que ela arrumou. Não tinha luxo, bem longe disso, mas ao menos era livre para fazer o que quiser, a vida dos sonhos.

Ao abrir os olhos, escapando dos próprios devaneios, a jovem encarou o céu cinza no fim de tarde. Mórbido, talvez se tivesse um pouco de sorte guardada para ela, não iria chover até que estivesse nas entranhas de seu apartamento.

Um som alto soou e ao seu lado, a porta da entrada dos funcionários foi aberta num único solavanco, revelando uma figura esguia que atendia pelo nome de — sua colega de turno e também o mais próximo que poderia chamar de amiga —, seu rosto estava vermelho e fúria vestiam seus olhos claros. A mulher olhou para as laterais nervosamente antes de encontrar aquela que procurava apoiada contra o muro dos fundos.

— Já faz quinze minutos que está aqui — apontou o dedo em sua direção —, é minha vez e me dá a porra do cigarro antes que eu volte lá e derrube todas preciosas xícaras do Sr. Thomas no chão.

— Qual é o problema dessa vez? — se afastou do apoio, ajeitou as vestes e estendeu o maço de cigarro junto de um isqueiro para , essa pegou os objetos tão nervosamente que nem conseguiu acender a maldita das chamas. Xingando em voz alta tudo e qualquer coisa.

Com um pequeno riso, e um pouco de pena da pessoa desestabilizada em sua frente, tomou o isqueiro e acendeu o cigarro da amiga que resmungou em deleite depois do primeiro e longo trago.

— Aquele… Maníaco passou meia hora explicando como as novas xícaras que ele comprou deve ficar viradas para sei lá que diabos de direção. — soprou a fumaça para cima antes de se voltar para novamente — Gasta uma fortuna em xícaras bonitas, mas não nos dá um aumento. Se eu não precisasse desse salário de merda, já teria pedido demissão.

— Mais um dia comum na vida da classe trabalhista — a voz delicada da companheira de turno soou enquanto se afastava para voltar aos seus deveres —, você se acostuma.

— Vá se foder .

Alisando o uniforme, e pescando um chiclete do bolso escondido, a figura voltou para dentro do estabelecimento apenas para se deparar com… Nada. Como esperado, o lugar estava vazio. A televisão estava ligada num canal qualquer, as mesas limpas e organizadas, não era um ambiente ruim, a razão para seu declínio parecia ser sua localização. Na rua daqueles que simplesmente não se importam.

Thomas, o proprietário, tinham inúmeras manias que levavam sua colega a loucura. Mas ela em particular nada tinha contra o homem, claro que algumas de suas ações eram desnecessárias. Porém, geralmente só ignorava e seguia com seu expediente. Ao menos no fim do dia o dono as deixavam pegar as comidas que ficavam na estufa por tempo demais. O salário era realmente baixo, mas não tinha que se preocupar em passar fome.

No balcão viu as novas xícaras, e reparando que metade delas ainda estavam na posição antiga as ajeitou, pegando um pano em seguida para fingir estar trabalhando, sem clientes para servir, não tinha muito o que uma atendente fazer.

Algum tempo após começar a trabalhar — e questionar a solidão do atual dono —, ficou sabendo que aquela cafeteria era o sonho da esposa do Sr. Thomas, ela morreu num acidente ou algo envolvendo um carro alguns anos atrás. Sem filhos, sem família, o homem deixou seu trabalho de luxo numa grande empresa para gerir o sonho da falecida. A curiosidade de um novo estabelecimento funcionou no começo, nos primeiros meses fora o assunto do bairro, mas conforme eles passaram e os anos se foram a pequena cafeteria com interior azul e bancos cor de caramelo caiu no esquecimento. Como todos os sonhos que não se realizam e morrem, porque seus donos deixam de acreditar, ou não eram desejados o suficiente para serem perseguidos.



A polícia investiga a morte de uma jovem, nesta quinta-feira, nos arredores do distrito comercial. O corpo da vítima, de 19 anos, foi encaminhada para a autópsia para determinar a causa da morte.

Segundo as testemunhas, a equipe chegou rapidamente depois de uma denúncia, e retirou os restos mortais antes que alguns curiosos pudessem contaminar qualquer evidência. Já que a natureza brutal do ataque é sem precedentes.



Na televisão a reportagem chamou a atenção, apesar de não ser a melhor das cidades, não era comum ver mortes dessa maneira. A tela mudou da âncora para um repórter no local, os prédios eram familiares. Não estava em sua rota diária, mas também não estavam tão longe.



O trabalhador, que se identificou apenas como Arty, disse aos repórteres que estava voltando do trabalho nesta manhã quando acabou tropeçando em algo e caindo no chão. Quando se abaixou para ver o que causou a queda, se espantou ao encontrar um corpo, mas não apenas isso. A barriga da vítima apresentava um corte no abdominal e segundo a testemunha ‘suas tripas enrolava o pescoço como uma echarpe’



— Uma pena, não é?

que estava tão vidrada no aparelho não reparou quando um cliente entrou e andou até o balcão com passos leves. Tomando então um susto quando ouviu a voz tão próxima de si, era um rapaz alto e esguio com olhos tão profundos que pareciam ter se perdido no meio de um oceano. Tinha uma máscara comum de cor preta cobrindo seu rosto e cabelos escuros pareciam estar contidos embaixo de um boné.

— Sim — voltou a seus sentidos —, realmente uma pena. O que posso fazer por você?

— Dois cafés, um forte e um fraco… — ele parou por um momento olhando doces no balcão —, me indica algo para encontro?

— Não é porque trabalho aqui, mas a torta de morango é realmente ótima.

Sua cabeça abaixou e as mãos se ergueram para retirar a máscara, revelar um rosto bonito, e um sorriso charmoso — Aceito sua sugestão, qual mesa posso sentar?

— Como pode ver, estamos um pouco cheios no momento — indicou o interior da loja com um tom de riso, se deixando sorrir para o jovem —, a segunda mesa da janela é um bom lugar para você e sua garota. Levo os pedidos assim que ela chegar.

— Obrigado.

— Essa porra de cafeteria… — voltou no exato momento que o cliente estava se afastando, mas não o suficiente para escapar dos xingamentos da funcionária. Ele olhou para ela por um momento, e a sempre tão revoltada atendente chegou a corar de ver havia, enfim, um cliente na loja.

segurou a risada entre os dentes e apenas encarou a colega com sarcasmo, essa não podia responder em voz alta, mas mostrou-lhe um dedo do meio ereto com uma bela e longa unha pintada de vermelho antes de se esconder na cozinha. Enquanto isso, a amiga tomou seu tempo preparando o pedido do cliente roubando alguns olhares para o rapaz sentado na segunda mesa próximo da janela.

A garota dele era alguém de sorte, ela mesma não se importaria em perder horas e talvez alguns dias com alguém como ele. Havia uma aura misteriosa que o envolvia e que fazia com que sua presença não passasse despercebida, se ela tivesse que dizer chegava a ser até sedutora.

Nesse momento o sino da porta tocou e por ele passou a esperada companhia, ela era linda, um longo cabelo loiro cheio de ondas. Mas não era qualquer loiro, era como se cada fio de cabelo fosse feito de creme de baunilha, um tom suave e delicado que combinava com seu rosto rosado e lábios vermelhos. Vestida em tons claros olhou ao redor, sua feição se iluminou quando encontrou seu par, com passos leves como se pisasse em nuvens andou até ele.

Do balcão onde estava ela tinha uma ótima visão da mesa, o contraste por si só já era impressionante. Era um anjo se encontrando com o próprio diabo.

Tirou um pedaço da torta, colocou sobre um prato, arrumou tudo numa bandeja e andou até eles — Aqui está seu pedido, dois cafés, um forte e um fraco e uma fatia de torta de morango, creme e açúcar?

— Sim, por favor — a jovem respondeu com um sorriso, a atendente correu em direção balcão e pegou os dois deixando na mesa e em seguida se afastando para deixar o casal conversar.

voltou da cozinha, mais calma depois de provavelmente se pegar num canto com o cozinheiro, ele não era tão mais velho que ela. Tinham um lance casual que só acontecia na dispensa, pobre Sr. Thomas teria um ataque se soubesse o que aqueles dois faziam perto dos sacos de farinha.

— Então, posso me aproximar sem correr riscos?

— Tão engraçada , devia deixar de ser uma garçonete para ser palhaça. — se sentou no banco próximo ao caixa e respirou fundo, olhando para o horário, passava das seis da tarde —, ainda temos um longo caminho até às dez.

se aproximou da amiga e colocou a mão em seus ombros, abaixando para falar em seu ouvido — Depois que o Sr. Thomas sair, eu faço dois expressos.

— Faça três — apareceu na janela da cozinha para o balcão de pedidos, se apoiando com um suspiro cansado —, acho que é capaz de eu desmaiar no meio do caminho para minha casa.

olhou para inquisitiva e a amiga bateu de leve em seu ombro, tendo as orelhas tingidas de vermelho — Ele tem feito o turno noturno na fábrica, depois que saí daqui, não tenho nada a ver com isso.

— Preferia que fosse, se eu dormi três horas nos últimos dias — foi interrompido por um bocejo —, é muito.

era um jovem dedicado, apesar de pouca escolaridade aprendia rápido e por anos ajudou a mãe de forma caseira a fazer bolos na cozinha de sua casa para vender. Tinha duas irmãs mais novas, as quais ele amava muito e cuidava para terem sempre o melhor. Por esse motivo acabava aceitando trabalhos extras, visando juntar mais dinheiro para pagar a escola delas e cuidar da mãe, agora acamada.

— Que tipo de bastardo doente faz uma coisa dessas? — chamou o assunto indicando o jornal, que ainda falava do corpo encontrado — Matar já ruim o suficiente, esquartejar? Me dá arrepios, é desumano.

— Qualquer crime de morte é desumano, alguns são apenas melhor justificados. — comentou — Estranho. Faz parte do meu caminho, mas não me lembro de ter visto nada no local.

— Jura? — de repente pareceu muito interessada — Que horas?

— Não sei, talvez umas quatro e dez.

Ela puxou um bloco de dentro da gaveta do caixa e começou a escrever — Se esse tal ‘Arty’, encontrou o corpo às cinco da manhã e não viu nada. Ele mesmo pode ser o assassino.

— Por que alguém iria reportar o próprio crime?

— Pare de ser lerdo , se você reporta, as suspeitas em cima de você são quase inexistentes — lhe apontou uma caneta —, ou até poderia ser você. me salve!

revirou os olhos e apenas riu baixo, nisso o dono do local apareceu aparentemente trajado para sair.

— Que bom que estão todos aqui, você fecha a loja hoje — disse rapidamente, as mãos se esfregavam uma na outra em frenesi, havia suor salpicando seu rosto e os olhos estavam vagando para qualquer lugar que não fosse seus funcionários.

— Já vai Sr.Thomas? — questionaram por pura educação, e curiosidade. Já que o homem não costumava sair antes das oito da noite.

— Sim, tenho assuntos a resolver, então até amanhã. — apressadamente ele saiu pela porta da frente colocando o casaco.

Na casa dos quarenta anos, o homem era sempre tão calmo — apesar das suas peculiaridades —, então o ver numa pilha de nervos certamente era estranho.

mal esperou que ele passasse pela porta e apontou — Você acha que pode ser sido o Sr. Thomas? Um homem velho, nunca superou a perda da mulher, desenvolveu algum desejo reprimido e então…

Ela fez um movimento com o polegar como se estivesse cortando o próprio pescoço.

— O que tem de errado com você? Céus, você é a psicopata aqui, .

— Vocês dois estão fazendo barulho demais — interrompeu —, que tal eu fazer algo para nós e essa discussão pode continuar em tons baixos para não atrapalhar o casal.

Ambos trocaram olhares e soltaram os ombros enfim relaxando, a jovem balançou a cabeça seguindo para a máquina de café, apesar de ser um lugar pequeno o dono colocou um certo investimento nos equipamentos. Os grãos de café torrados foram moídos na hora, o som deles se quebrando era surpreendentemente satisfatório, o aroma característico logo chegou ao seu nariz junto do vapor quente que vinha da xícara de bebida recém-feita.

era geralmente quieta, não falava muito, mas sabia muito bem a preferência dos dois que trabalhavam com ela, afinal já fazia pouco mais de seis meses que tinha aqueles dois em sua vida. estava com Thomas por quase três anos e pouco mais de um ano — apesar de sempre reclamando —, se não fosse a dupla sua vida seria muito mais solitária do que já era.

— Você é um anjo agradeceu aquecendo as pontas do dedo na xícara antes de bebericar na borda.

— Longe disso — ela respondeu fazendo o mesmo com a própria xícara, esquentando as mãos frias na cerâmica quente.

— Ela é um lobo, com a pele de cordeiro — sorriu em direção do homem —, você diz que sou psicopata. Não consegue imaginar o que o rosto bonito da já viu, ou fez.

— Chega — o tom que a mais nova usou foi mandatório, ali estava uma breve demonstração do demônio preso em seus ossos. Criatura que apenas se livrava das amarras quando confinada na escuridão entre quatro paredes, tão rápido quanto o lobo apareceu se foi, deixando para trás apenas o que restou da ovelha.

Pela terceira vez no espaço de duas horas o sino da entrada tocou, os três funcionários olharam juntos para a porta onde havia um homem alto e corpulento praticamente fumegante, seu rosto estava vermelho e os olhos escuros como a noite brilhando de fúria.

— Então é aqui que você vem sua vadia? — questionou andando até a mesa do casal e pegando os fios claros da mulher entre os dedos — Achou poder me montar igual uma cadela no cio, ganhar joias e presentes e apenas partir? Não, não querida, não é assim que funciona.

— Ei, você! Solte a garota, estou ligando para a polícia! — detrás do balcão pegou o telefone, enquanto isso também saiu de seu posto procurando pela cozinha qualquer coisa que pudesse o ajudar.

— Polícia é? Acha que eles se importam com uma prostituta? Uma clandestina? — ele pegou a mulher e a puxou, o acompanhante tentou fazer algo, mas recebeu um soco que o fez cair no chão — Agora, diga a eles que não precisam se preocupar. Que você apenas está sendo uma má garota.

— Por favor, eu… Vou com você, só vamos embora, por favor.

— E, o que mais?

A garota de cabelos de creme olhou para o rapaz no chão — Nós nunca vamos nos ver novamente.

tinha uma faca nas mãos pronta para se lançar ao homem desagradável, mas quando seus olhos se encontraram com o da jovem bonita viu atrás de seu rosto uma expressão que conhecia. Desolação, um pingo de esperança brutalmente arrancado daqueles condenados a trabalharem nas sombras, o imbecil não estava mentindo. E muito provavelmente era seu dono, o cafetão.

O rapaz no chão começou a se mexer depois do nocaute, mas já era tarde demais, ele já estava sozinho. bateu o telefone no balcão — Esses putos nunca atendem quando se precisa, qual o problema deles?

— Deixa disso, se pensarmos foi até melhor. Imagina só o que Thomas diria — a mais nova soltou a faca na bancada e se aproximou do cliente, ajudou ele sentar no chão, imediatamente vendo o sangue no canto da boca.

temos gelo? — perguntou.

— Tem creme congelado.

— Vai ter de servir — a garota segurou o homem pelo braço e o ajudou a se levantar o guiando até o balcão e o sentando em um dos bancos. Ele ainda parecia um pouco atordoado — , pegue uma dose de conhaque para ele, por conta da casa.

se aproximou — Merda, ele te nocauteou feio.

— É, consigo sentir — o cliente respondeu aceitando o pacote das suas mãos e colocando no rosto, soltando um sibilo de dor em seguida.

— Aqui está uma dose de conhaque para o príncipe encantado — bateu a xícara de café em sua frente —, desculpe, não temos um copo mais apropriado.

— É o suficiente, obrigado.

respirou fundo, antes de pegar dois guardanapos — Tem um pouco de sangue no canto da sua boca, vou limpar a mesa.

— A vontade.

Não demorou até que dentro da pequena cafeteria do Sr.Thomas, as mesas, talheres e xícaras quebradas estivessem no lixo e tudo voltasse a sua normal monotonia. Salvo o garoto sentado no balcão com um saco de confeitar no rosto já inchado. estava no canto observando com cuidado enquanto a parceira não escondia o olhar afiado em cima do cliente.

— Então… Quais promessas vazias você fez para a prostituta daquele cafetão?

— Aqui vamos nós, , pare com isso — apontou em sua direção.

— O que foi? Não é todo dia que se tem um pouco de drama — retrucou o ignorando —, já estamos na avenida dos sonhos quebrados mesmo, na verdade, estamos dentro de um neste momento.

— Não ligue para ela — disse se aproximando — é geralmente ácida, mas hoje está particularmente tóxica.

O cliente riu e em seguida reclamou da dor — Não tem problema, não está tão longe. A conheci nas ruas, é verdade, mas não foram promessas vazias. Ofereci uma saída, ela aceitou.

— Tão romântico.

— Não imagina o quanto.

— Bom, peço desculpa em nome da equipe pelo ocorrido — interrompeu —, talvez seja melhor ir a um hospital ver se está tudo certo aí dentro.

Ela apontou para a cabeça dele que apenas balançou em negação — Estou bem, não tem culpa de vocês nisso, apenas minhas más escolhas.

Ele colocou o creme no balcão e tirou a carteira do bolso, deixando algumas notas — Deve ser o suficiente para cobrir os utensílios quebrados, é melhor eu ir. Não quero causar mais problemas.

Antes que pudesse recusar, pegou as notas e guardou no caixa, o cliente se despediu e a jovem o acompanhou até a saída.

— Espero que não me expulsem na próxima vez, estava certa sobre a torta de morango , talvez eu volte por ela.

A mão que abriu a porta para ele sair apertou a maçaneta, um frio subindo sua espinha, lentamente a atendente ergueu os olhos para o rapaz — Nunca disse meu nome.

— Está escrito na sua tag — respondeu apenas abaixando o olhar —, não foi preciso. E a propósito pode me chamar de Dabi.

Da porta, a jovem observou a figura desaparecer na rua escura, poucos carros passavam por ali, pessoas preferiam as ruas mais iluminadas, então apenas o vento gélido dançava entre os prédios cinza assobiando suas canções de solidão. Calafrios subiram sua espinha por conta das baixas temperaturas — ao menos era o que escolhia acreditar —, raios cortavam o céu iluminando o fundo das nuvens de tempestade. Podia ser apenas uma sensação por tudo que aconteceu no dia, mas ela sentia um incômodo rastejando atrás de si, observando a cada movimento. Fechou a porta devagar e rumou para seu lugar original, atrás do balcão no meio das discussões de e .

Naquela noite a chuva castigou a cidade de maneira impiedosa por algumas horas, chacoalhou os telhados, revolveu as árvores, lustrou as ruas de asfalto apenas para que pudessem refletir os brilhos prateados da lua depois que a camada de nuvens se dissipou. Bem a tempo do trio finalizar seu expediente e andar para suas casas, seguiram juntos até parte do caminho, mas em certo ponto se separaram.

ainda tinha sorte de ter um alojamento na região, era decrépito, mas tinha uma cama, energia e água quente. Era só o que poderia pedir para o fim de um dia como aquele, apesar de o bairro ser afastado não sentiu medo, afinal sempre havia pessoas trabalhando nos horários noturnos. Esses garantiam uma certa segurança aos moradores por um valor simbólico todo mês, roubavam dos bairros vizinhos, mas não se sua própria gente.

Subiu os poucos degraus rapidamente e enquanto pescava as chaves na bolsa, água espirrando para os lados enquanto os sapatos a levavam até a porta. No momento que o clique da fechadura soou, uma mão bateu na parede bem ao lado de sua cabeça. A pele imunda, as unhas escuras e uma tatuagem de cruz sobre o dedão revelaram quem era antes mesmo de se virar.

Antony, o mais perto que tinha de um senhorio, era um vagabundo que vendia ópio e outras drogas no distrito vermelho da cidade e as mascarava como um negócio de exportação de carvão. Ele era alguém alto, de aparência desgarrada, que fedia a fumaça e bebida barata.

— Vim cobrar o aluguel — disse o hálito podre batendo em sua nuca.

— Tem dez dias até o prazo, pode me cobrar depois que eu passar dele, mas isso não vai acontecer — rapidamente abriu a porta e entrou, mas antes de conseguir a fechar um pé a impediu — Que porra que você quer?

— Seus serviços — olhos cheios de malícia fitaram seu corpo da cabeça aos pés.

— No caso das drogas terem derretido a parte do seu cérebro que pensa. Me deixe refrescar sua memória, eu não sou uma prostituta. — tentou fechar a porta, mas não conseguiu.

— Não é o que dizem, toda semana com um cara diferente num restaurante novo.

Um riso cínico escapou de sua boca — Já que sabe tanto sobre mim, deve saber que eles me levam para jantar e os ajudou a esvaziar suas bolas cheias de frustrações.

— Não é dinheiro, mas continua sendo a mesma coisa, não é?

— Não porque eu consigo escolher os beneficiários — num ato até perigoso, levantou a perna e pisou no sapato que a impedia de fechar com os saltos, Antony se afastou com um grito e ela fechou a porta rapidamente. Empurrando a mesinha que ficava ao lado como espécie de barricada.

Tinha boas trancas, mas nunca se sabe.

O imbecil continuou esmurrando a sua porta por alguns minutos, gritando ofensas, até que seu fôlego se esgotou e desistiu. A garota andou até a janela apenas para ver a figura se afastando, abaixou a cabeça quando Antony desapareceu e só então acendeu as luzes da sua casa. Eram dois cômodos e um banheiro, o primeiro era uma divisão de sala e cozinha e o segundo seu quarto, o banheiro ficava no meio junto de um impressionante corredor de cinquenta centímetros.

A luz foi acesa, bolsa e casaco jogados numa cadeira e sapatos abandonados na entrada, tudo que queria era um bom banho e descansar as pernas depois de um dia conturbado. Ainda tinha umas delícias do dia anterior, então faria bom proveito de as devorar enquanto assistia a um programa qualquer na televisão.

Entretenimento barato e açúcar, o que mais poderia pedir? Contudo, apesar de ter os dedos cobertos de glacê, tudo que via de informação era sobre o terrível assassinato daquela garota encontrada na manhã do mesmo dia. Continuava sendo tão terrível quanto no momento em que assistiu à notícia, e não pode deixar de se lembrar da garota de cabelos claros que foi arrastada para a cafeteria naquela tarde.

Esteve próxima o suficiente daquele mundo para saber como as pessoas eram tratadas, objetos de troca, mercadorias, algumas até mesmo valiam menos do que as pedras enlameadas no chão. Não a conhecia, também não tinha interesse, mas como alguém que já viu os lados mais doentes presentes na alma humana, pediu em silêncio em sussurros para o teto que a observava enquanto dormia, para que nada acontecesse com ela e que naquela noite seus demônios permanecessem em suas jaulas.



Era um labirinto de ruas estreitas, pedras escorregadias pela temporada de chuvas, a lama se agarrava aos sapatos e os cavalos que ali passaram pelo dia deixaram para trás seu odor como lembrança. Passagens escuras para noite, mas não invisíveis para a lua. Frio e névoa reinavam, se deitavam sobre as pedras e corriam dentre as vielas vazias, testemunhas silenciosas dos horrores que acometiam o mundo dos vivos.

No limiar de um portão de ferro, bêbados de aglomeravam em volta de uma garrafa de conhaque barato, passando de mão em mão até que suas mentes entorpecidas sequer se lembrasse qual era a real função de suas pernas. Na visão, que rodava feito a roda de uma carroça, alucinações vinham os visitar. A garota dos sonhos, o dinheiro do vizinho, a morte do desgraçado que roubou sua esposa, desejos soprados em seus ouvidos pelo diabrete preso no frasco.

Não longe, apenas na rua atrás, uma jovem corria pelos mesmos caminhos sujos segurando a barra do vestido nas mãos. Os cabelos desordenados cobriam seu rosto, da boca a respiração apressada se condensava e dissipava em espirais, ela tola acreditou. Tomou as palavras de um desconhecido para o coração, deitou-se com elas, esperando que um dia — talvez apenas por um momento —, sua vida mudaria. Estúpida, mudanças não acontecem para aqueles como ela, manchada, impregnada até os ossos de pecados. Reservado para si apenas a esperança, a visão de um campo verde e vistoso na distância admirado sempre de uma gaiola, uma prisão na torre do castelo das lamentações.

Vinhas se agarraram aos seus pés e de frente caiu esfregando o rosto na sujeira acumulada, um assovio de morte soou em seus ouvidos e passos a avisaram que vieram coletar sua alma. A figura cortava a neblina baixa como se fosse parte dela, esguia e sombria, andava com passos ritmados em sua direção. Devagar, rastejante, sua presença revelada na frente dos olhos a prendia no chão sem conseguir se mexer.

Ele se abaixou ao seu lado, sem mostrar sua face, ergueu a mão coberta por luvas até seu rosto e ajeitou os fios de cabelo atrás de suas orelhas. Seu indicador correu a lateral de sua bochecha, levantou seu queixo e sussurrou em tons baixos com os lábios próximos aos seus, enquanto a frieza da lâmina roçou em seu pescoço.

— Agora você está livre para partir.

O grito ecoou pela noite, horrível, tenebroso, mas para os bêbados que dançavam na noite era apenas mais um sussurro vindo de dentro da garrafa.



se levantou num pulo, com um grito travado na garganta. Mãos se ergueram para se certificar de que ela ainda estava ali e não retalhada, afogando no próprio sangue. Haviam gotas de suor em sua testa, assim como na nuca onde os fios de cabelo se agarravam, na cabeceira da cama o relógio marcava quatro horas da manhã. Chuva batia contra sua janela, constante e insistentemente, só então percebeu que suas mãos e pés estavam gelados.

Se sentou na cama com alguns instantes, arrumando os cabelos para trás enquanto pensava no pesadelo. Era estranho como se via numa perspectiva espectadora da cena, mas sentiu o corte sendo feito em sua pele, e a angústia de ver o céu escuro enquanto a vida escorria quente e vermelha sobre as vestes de aparência vitoriana. Sua língua colada no fundo da boca fora envolvida por um gosto metálico, e levantando a mão até os lábios deixou um sibilo de dor escapar quando encostou no recente corte.

Ainda tinha algumas horas até que tivesse que levantar para de fato trabalhar, apesar da mente inquieta queria aproveitar o restante da madrugada para continuar a dormir. Ignorando o frio que recebeu quando saiu das cobertas, vestiu os chinelos ao lado da cama e andou com passos arrastados até a cozinha, um chá a ajudaria a voltar a dormir. Colocou água para esquentar e pegou as últimas folhas verdes e as colocou num bule, e enquanto esperava rasgou um pedaço de guardanapo de papel e colocou sobre a boca.

Havia um cheiro úmido no ar, então supôs que deveria estar chovendo já a algumas horas, mesmo sem ferver o vapor da água subia. Aproveitou para esquentar ali as mãos frias, estavam limpas, mas podia ver a sujeira da rua de paralelepípedos do seu sonho manchando suas palmas. Um calafrio percorreu seus ombros, e olhou para trás apenas para ter certeza que tudo que havia atrás de si era o silêncio de sua casa. Uma das cortinas balançava suavemente, apesar de fechada existia uma fresta que permitia o vento entrar cantando.

Andou na direção dela e puxou a cortina para o lado, apenas para se forçar na moldura e cessar de vez aquela mísera corrente de ar se arrastando para dentro de sua casa. Estava escuro do lado de fora, mas isso não a impediu de ver do outro lado da rua uma figura parada, a capa de chuva era preta e o capuz estava sobre seu rosto. Engoliu seco, de alguma maneira soube que estava a observar, mesmo que não houvesse luz do lado de dentro, sentia olhos mirando sua figura com intensidade. Os vestígios do sonho ainda persistiam e rondavam sua mente, foi então que voltou os olhos para a porta onde havia empurrado a pequena mesa, e sem perceber soltou um suspiro de alívio.

Parecia estar no mesmo lugar que a deixou, quando voltou a olhar o lado oposto da calçada já não tinha mais ninguém. Levantou a mão até a lateral da cabeça se perguntando se seriam suas maldições pregando peças, o chá foi feito e com a xícara quente entre as mãos voltou para o calor de suas cobertas. Sentada com as costas contra a cabeceira, sentindo o líquido a esquentar de dentro para fora, o cheiro adocicado e floral da camomila preenchendo seu ser e acalmando um coração agitado, não o suficiente para seguir seu plano original.

rolou na cama pelo que restava das horas até decidir estar próximo o suficiente da hora de começar a trabalhar, para se aprontar e deixar o apartamento. Fez as coisas devagar, e mesmo assim saiu vinte minutos antes que o normal, colocou o guarda-chuva no braço e se aproximou da porta para arrastar o móvel ao seu lugar original, mas havia algo de estranho. A mesinha estava alguns centímetros afastada, não mais que dois dedos, mas tinha certeza de que a deixou rente a entrada após bater a porta na cara de Antony. Afastou os pés e observou na madeira gasta do chão pequenos riscos.

Engoliu seco, será que alguém tentará entrar em sua casa enquanto dormia? As trancas estavam em perfeitas condições e quando abriu a porta também não parecia ter nenhuma entrada forçada, podia ter arrastado o móvel sem querer e não se lembrava. Sim, deveria ter sido isso. Ficar assistindo às notícias no dia anterior não fez bem, estava paranoica.

Esfregou as mãos nervosamente, desde que passou pela reabilitação da dependência química não ficava tão nervosa. Apesar de já ter mais de dois anos, ainda sentia sensações percorrendo sua coluna, eram aranhas usando suas pernas longas para se prender na pele, fantasmas que subiam devagar e se embrenharam nos cabelos de sua nuca causando a mais profunda agonia. Por mais que tentasse, elas não saiam, não caíam; porque não existiam, apenas eram fruto dos seus pesadelos mais profundos.

Acendeu um cigarro e colocou na boca antes de fechar a casa, abrir o guarda-chuva e caminhar em direção ao trabalho, o tabaco a tranquilizou, o suficiente para que deixasse o passado trancado em sua sala.

Não era a única saindo do bairro para trabalhar, as calçadas estavam cheias de gente, tranquila por poder se concentrar nas outras pessoas e não em si, andou; reparando nas cores, nos passos, e no som da chuva que acertava o chão repetidamente, haviam rugidos de trovões ao longe que perpetuavam arrastados pelo céu. Apesar de na noite anterior a lua ter conseguido um espaço, parecia que hoje quem voltará a dominar foi a tempestade.

Puxou o que restava do cigarro para a boca, travou a fumaça em sua garganta, e soltou lentamente. Tinha ainda algumas ruas para andar, mas uma certa movimentação a parou, haviam um aglomerado de pessoas numa das esquinas. Teria que contornar a todos eles para continuar seu caminho até o café, escutou gritos de horror, sussurros baixos e sirenes se aproximando.

Alguém bateu contra seu ombro e o que restava do fumo caiu no chão, por reflexo olhou para baixo. Apenas para se deparar com uma água avermelhada que banhava o entorno de seus pés, virou a cabeça e ali encarando diretamente seus olhos havia o corpo de uma jovem.

Ela estava apoiada contra a parede de uma viela, um corte longo na parte inferior da barriga por onde as entranhas escapavam e se erguiam até os ombros. Porém, o que realmente foi a causa de tamanho horror foi o talho em sua garganta que manchava a pele e o que restou das vestes de vermelho. levantou a mão até seu próprio, se certificando que o sonho que teve continuava a ser apenas um sonho.

Se afastou com passos rápidos, apenas voltando a cabeça para ver a vítima novamente, ato que desejou posteriormente não tê-lo feito, pois reconheceu no meio da sujeira os fios cor de creme e o rosto bonito e sorridente. Colocou a mão na boca, cambaleando para longe e se apoiando na parede dos prédios que foram testemunhas do crime.

Com o canto da visão distorcida, continuou dando passos lentos para longe, esteve com a garota na parte da tarde, poucas horas separavam a vida da morte. E o sonho, maldito sonho, seria ela agora uma médium? Alguém que conseguia prever as ações desse assassino?

!

O grito e o agarro em seu braço a fez saltar de susto, era . A testa franzida de maneira preocupada e olhos complacentes ansiavam para a retirar do local. Enxergou no rosto da amiga que ela também tinha a visto e que compartilhava dos mesmos sentimentos.

— Está bem para andar? Precisamos sair daqui.

Não teve forças para responder, acenou com a cabeça e seguiu com ela, e não foi até chegar no café que abriu a boca. Com medo de que o que estava lutando para manter em seu estômago resolvesse sair.

Quando o trio voltou a se encontrar no meio dos fornos da cozinha, já havia recebido um relatório completo da situação e todos os palavrões que guardou no caminho.

— Tudo que posso dizer é que esse assassino está por perto — disse a mulher, recebendo um olhar atravessado do amante.

— E com base no que você diz isso?

— Assassinos em série não costumam se afastar das áreas que moram, ou frequentam, para matar. São metódicos demais para isso, e outra coisa — continuou —, deve ser alguém que se mudou recentemente. Caso contrário já teríamos presenciado outros crimes, não? A não ser que algo tenha virado a chave da cabeça de alguém, como a notícia de que vai perder a casa.

— Eu sei onde você quer chegar — apontou — Sr. Thomas não tem nada a ver com isso.

— Droga, mas você viu como ele estava ontem! diga a ele — a mulher apontou na direção da outra que apenas deu de ombros, ela estava no canto com os braços cruzados sobre o próprio corpo.

— Ele estava um pouco nervoso, mas qualquer um ficaria — e continuou —, eu mesma tive pesadelos com isso.

— Viu , ficar assustado é uma reação normal. Você que está toda, modo investigativo — ele pareceu respirar fundo e se virou de costas —, só não envolva o Sr. Thomas em nada disso.

trocou um olhar com , ela o conhecia bem o suficiente para saber quando estava mentindo ou não. Então, com passos lentos, ela se aproximou e apertou as laterais do corpo de , como um dos métodos de tortura mais eficientes que existe, não demorou até que ele começasse a rir e pedir para parar.

— Está certo, eu conto! — ele se afastou — Mas vocês tem que me prometer não falar nada. É sério, nós três podemos perder o emprego com isso.

— Apenas fale de uma vez, pelos céus.

— Sr. Thomas, está namorando — disse por fim —, e se tudo deu certo depois de ontem, noivo.

A notícia de namorada já era impressionante o suficiente, para as duas garotas que não conheciam o dono da cafeteria a tanto tempo era algo inimaginável. Mas era diferente, apesar de seu lugar ser a cozinha, poderia ser considerado algo como o gerente da loja, cuidava dos estoques, da validade dos alimentos. Olhava tudo, desde os ingredientes até às finanças no fim do dia, parecia normal o homem saber um pouco mais da vida do proprietário do que as duas damas que tão alegremente preenchiam as horas de seu dia.

— Oh, estão tendo uma reuniãozinha — de repente a porta abriu e o Sr. Thomas passou por ela com um grande sorriso, completamente diferente daquele poço de nervosismo que foi embora da cafeteria no dia anterior. —, se estiverem falando mal de mim, eu vou embora, se não, posso me juntar?

— Não estamos falando mal do senhor — veio ao resgate enquanto chutou de leve a perna de para que ela se recompor depois do choque da nova informação —, apenas comentando sobre as notícias recentes. Sabe, os jornais só falam das vítimas.

— Ah, sim, terrível não é mesmo? Que tipo de pessoa faz isso? Na verdade, não sei se é possível chamar sequer de humano — e continuou —, acho que existe algo de sombrio na parte mais profunda da psique que desabrocha mais do que devia em um caso com esse.

As três figuras ficaram olhando o seu chefe em silêncio, até que ele percebesse que apenas estava jogando palavras bonitas e que nenhum deles sequer havia entendido. Thomas arrumou os óculos no rosto e sorriu envergonhado, antes de alisar o casaco de linho e se afastar.

— É melhor eu resolver algumas coisas, não se esqueçam de organizar as canecas com a alça para a esquerda.

— Claro que não — sorriu com sarcasmo, mas esse não foi percebido pelo mais velho —, como podemos esquecer das preciosas xícaras viradas para a esquerda?

— Muito bem — ele sorriu genuinamente mais uma vez e sumiu para seu escritório, no momento em seguida jogou um pano no rosto de que voltou a reclamar do Sr. Thomas e suas manias peculiares.

Depois de abrirem o café, algo de estranho aconteceu, tiveram clientes entrando e saindo a todo momento. nos seus devaneios, atribuiu o evento aos assassinatos que ocorreram na região, pessoas são curiosas, e buscando tirarem suas próprias conclusões resolveram andar até os locais dos crimes e verem com os próprios olhos. Dessa vez, não achou que ela estivesse tão errada, parecia uma teoria realmente válida.

Internamente ela agradeceu pela repentina movimentação, assim não teria de dar voz aos próprios pensamentos. Claro que as notícias tomaram boa parte do dia, civis entravam e perguntavam coisas, até mesmo policiais adentraram o local e avisaram as moças do perigo. O assunto foi constante durante o seu dia, mas entravam por um ouvido e saiam pelo outro sem realmente alimentar a inquietação em seu peito.

O trio trabalhou duro naquele dia, como não tiveram que trabalhar durante meses, e logo quando finalmente conseguiram parar para descansar já estavam nas horas finais de expediente.

— Estou exausta — disse erguendo a mão até o pescoço depois de então ficarem sozinhos na frente do balcão.

— Se alegre, minha amiga, se tivermos um mês inteiro como hoje. Não vamos precisar nos preocupar com contas por um semestre inteiro.

— Aleluia — disse pela janela da cozinha e em seguida olhou para algo atrás de parecendo surpreso. A fala divertida morreu em sua garganta e eles encararam o mesmo rapaz que havia sido jogado naquele mesmo chão no dia anterior.

— Desculpe, eu deveria ir embora? — as mesmas vestes escuras e um boné na cabeça, hoje sem a máscara, mostrando um sorriso sem graça que mal curvava o canto de seus lábios.

Foi então que aqueles pensamentos silenciados, voltaram e com ele a imagem da garota morta. Não havia uma identificação oficial, mas tinha a certeza de que era sim a acompanhante prévia do rapaz, aquele que se intitulou Dabi. Sentiu as pernas fraquejarem um apito insistente em seu ouvido e pequenos pontos de luz dançaram em sua visão, se não fosse pelo reflexo rápido do cliente teria ela ido ao chão.

Dabi a tomou nos braços e com cuidado ajudou a atendente a se sentar num dos bancos altos que ficava próximo ao balcão. Mesmo através das roupas pode sentir o calor e o cheiro doce e gramíneo que emanava da garota, parecia ter uma manhã no campo aninhada em seu peito.

— Desculpe — levou a mão à cabeça —, o dia foi corrido. Acho que agora que paramos, meu corpo resolveu parar também.

O rosto corado era adorável em sua visão, a atendente gentil tinha olhos brilhantes apesar de atribulados. Manteve a mão nas costas da garota servindo de apoio, sentindo a pele tremer sobre a ponta dos seus dedos, o próprio coração acelerando com a cena. Aquele estado vulnerável era completamente…

— Então o que podemos fazer por você hoje? Café? Torta?

Dabi engoliu seco e se sentou no banco ao lado — Sim, é o suficiente, obrigado.

— Infelizmente a de morango acabou — comentou com um riso aceitando o copo que a entregou com água —, mas a de chocolate triplo é a segunda melhor.

— Então é o que vou querer.

— Mas aposto que não foi por isso que voltou, não é?

— Aqui vamos nós de novo, alguma vez na vida você não falou o que realmente queria? Porque estou começando a pensar que é impossível você manter a língua na boca.

— Só estou falando o que ninguém tem coragem de dizer — completou colocando café para moer —, eu dificilmente voltaria a um lugar em que me bateram. Sem ofensa.

Dabi riu baixo — Provavelmente está certa, mas tive um bom motivo para voltar. Além da torta de morango.

e repararam no olhar de canto para uma desatenta. E apenas foi poupado porque o velho Thomas desceu do escritório, ele olhou para o cliente no balcão e sua segunda atendente que visivelmente afetada.

— O que aconteceu por aqui? , está bem? — ele se adiantou a garota.

— Sim, foi apenas… Estafa. — um sorriso fraco puxou o canto de seus lábios — Eu vou ficar bem em alguns segundos, desculpe por isso.

— Não, não, está tudo bem — ergueu suas mãos impedindo que ela se levantasse —, reconheço que tiveram mais trabalho do que o comum hoje. Proponho fecharmos a loja mais cedo, até para vocês se sentirem mais seguros na volta para a casa.

— Claro, que depois de o cliente estar satisfeito.

Dabi tinha os pedidos em sua frente, e bebericava devagar de sua bebida e teve certeza de dizer ao gerente que estava tudo bem, que era um amigo, e que entendia perfeitamente suas preocupações.

— Que bom, , pode fechar hoje novamente?

— Claro, Sr. Thomas, tenha um bom descanso.

E com isso mais uma vez ele partiu, não deixou de reparar no novo anel que usava com orgulho no dedo. Agora ela tinha certeza de que realmente o dono da padaria estava tendo um romance e parecia bem feliz com isso. E em sua comemoração — apesar do mais velho já ter deixado a loja —, pegou mais um pedaço da torta e colocou na frente da amiga, entregando junto um garfo.

— Coma, para ver se recupera um pouco da cor no seu rosto. Depois pode ir embora, eu e damos conta.

Normalmente ela teria se recusado, mas sua mente ia e voltava. não sabia o que a fez ficar tão afetada, não a conhecia bem o suficiente para pesar por sua morte. E ainda assim o rapaz que esteve com ela ontem estava tranquilo comendo e tomando café ao seu lado.

! — estava com a mão em sua frente.

— Desculpe, o quê?

— Chega, você está indo para a casa — ela pegou o garfo caído —, você aguenta uma hora sozinho?

— Sim, mas…

— Eu posso levar ela em casa — o cliente se pronunciou e completou olhando para a garota —, claro se você me permitir.

— Querido, ela não tem muitas opções. Vou pegar a bolsa — rapidamente ela sumiu para os fundos. sentiu um nó estranho na boca do estômago, seria aquilo a coisa certa a se fazer? Havia dúvidas em seus pensamentos.

estou bem!

— Bem mal, você soltou o garfo e nem percebeu — gritou em resposta, soltou sua bolsa no balcão e pegou um papel —, esse é o endereço dela. Não é tão longe, você me ligue quando chegar lá.

Ela não teve muito o que responder, já que foi praticamente expulsa, Dabi pagou pelo seu pedido e juntos tomaram as ruas. Não estava tão escuro, ainda havia um resto de luz do sol passando pelos prédios, parou de chover durante o almoço e o céu voltou a ficar azul enquanto as horas caminhavam para a tarde.

— Me permite? — ele estendeu o braço para ela, porém o tom em sua voz era um tanto quanto áspero — Será ruim se cair no meio da rua.

Olhou por alguns segundos e enlaçou o braço com o seu — Desculpe, por todo esse trabalho.

— São dias perigosos — o rapaz disse indicando para seguir seu caminho.

Se passou algum tempo, a loja já estava a duas ruas de distância, e o único som que alcançava seus ouvidos eram os que aconteciam ao seu redor. Dabi a olhava de canto de olho, só quando tiveram que parar para esperar o semáforo fechar foi que voltaram a falar.

— Consigo ver que está incomodada — até poderia dizer que ele soava desapontado —, afinal ainda sou um desconhecido.

— É, só, tem muitas coisas na minha cabeça. Não quero te ofender Dabi.

— É gentil da sua parte de preocupar comigo — e continuou —, também não tive a chance de agradecer por ontem. Então, obrigado. E a propósito meu nome é Touya, o verdadeiro, Dabi é como sou conhecido no meu ramo.

— Como um nome de herói? Ou codinome?

— Algo parecido, trabalho numa barbearia, ninguém realmente usa o nome de verdade por lá.

— E você trabalha lá há muito tempo? — questionou enquanto atravessavam a faixa de pedestres continuando o caminho até seu apartamento.

— Não muito, cheguei na cidade a pouco mais de dois meses. Gosto de trocar de cidade de tempos em tempos, para não cair na rotina. Já se mudou alguma vez?

abaixou a cabeça, não havia sido exatamente um desejo por renovação que a havia feito sair da casa de sua mãe — Uma única vez, não é exatamente uma boa lembrança.

Foi então que percebeu estar num caminho um pouco diferente, não tão distante da rota original, porém uma rota mais longa — Devíamos ter virado naquela…

Se interrompeu, era justamente a avenida onde encontraram o outro corpo naquela manhã.

— Sei disso, imaginei que gostaria de evitar — comentou em resposta —, talvez também tenha um desejo escondido de passar mais tempo com você.

— Pare com isso — respondeu quase nervosa —, estava com sua garota ainda ontem.

Precisou engolir com força depois de tal frase proferida.

— Minha garota? — havia um tom divertido e sarcástico em sua voz — Pelo que me lembro falei ser um encontro, não disse ser com minha namorada. Nos viu segurando mãos? Beijando ou fazendo qualquer coisa além de conversar?

Levemente culpada, e envergonhada, desviou o olhar para os pés.

— Você supôs, baseado no que eu disse de oferecer uma vida melhor, que estava diretamente ligado a um romance proibido? Você pensa fofo — Touya riu.

Deliberadamente beliscou seu braço de leve dizendo para que se calasse, de algum modo ele conseguiu quebrar o gelo e o caminho realmente pareceu mais curto do que o de costume. Quando reparou já estava na rua da sua casa.

— É aqui que nos separamos, obrigada pela caminhada. Me ajudou a tirar algumas coisas da cabeça.

— Fico feliz em ajudar.

Ela subiu os degraus com um pouco de incerteza, deveria o convidar para entrar? O coração batia nervoso no peito, o clique da chave soou e ela apenas deu uma última olhada na direção do rapaz que também ansiosamente esperava por algum chamado. silenciou os gritos dos seus desejos e entrou rapidamente, na bolsa o seu celular começou a tocar, era .

Soltou a bolsa na mesa, e pegou o aparelho apenas para ser recebida com a educação majestosa da amiga.

— Que parte do me avisar não entendeu?

— Acabei de chegar, pegamos o caminho mais longo.

Um riso soou — Claro que sim, ele… Está aí?

— Não.

— E por que parece triste com isso?

— Não sei, tem algo de estranho nele — respondeu andando até a janela, ele já tinha ido embora — mas também é interessante. De qualquer forma, estou bem, obrigada por se preocupar comigo.

— Coma algo de verdade e vá dormir, te vejo amanhã.

— Certo, até.

ajeitou os fios de cabelos na cabeça e respirou fundo, contudo antes de conseguir sentar para seguir as recomendações da amiga. Batidas soaram em sua porta, devia ser Antony, aquele bastardo sempre ficava de tocaia na porta de sua casa. Devia tê-la visto chegar por sua janela.

— Escuta aqui… Oh, Touya!

— Juro que ia embora, mas… Sabe quando disse sobre a garota de ontem ser minha namorada — o rapaz parecia nervoso, mexia nos cabelos e mirava o chão —, fiquei com uma coisa na cabeça e não conseguiria colocar a cabeça no travesseiro sem dizer para você.

Seus olhos se ergueram, tão intensos, se sentiu seu próprio rosto esquentar, não olhavam para ela como se enxergassem sua alma, como os romancistas descreviam. Mas sim como se tivessem feras presas atrás de suas íris, completamente famintas.

— Não teria chance de eu me interessar por alguém como ela, não com você na mesma sala.

Sua boca se abriu levemente sem proferir uma resposta.

— Você é linda, realmente é, quase uma escultura.

Após deixar uma declaração espontânea e inesperada, deu aceno de cabeça. Confirmando que finalizou sua missão, Touya virou rapidamente para descer os degraus, mas parou quando ouviu uma risada genuína.

— Simplesmente vai embora assim? Você com certeza é um cara estranho.

— Isso é bom ou ruim?

se apoiou na porta — Depende, se você entrar e aceitar um chá posso descobrir.

A roda da fortuna, que decide a sorte ou azar dos seres humanos, parou. Escolhendo para seu destino, começou com um chá e uma conversa acanhada, depois veio um jantar usando o que restava em sua geladeira. O suficiente para que ambos carregassem as conversas até tarde da noite, sentados no sofá da sala com pouco espaço entre eles, a televisão estava ligada apenas para prover um som ambiente já que palavras doces e sussurradas estavam sendo trocadas.

— Sabe, você tem esse brilho . Mas seus olhos têm uma sombra que eu ainda não consegui descobrir o que é. — seu indicador estava em seu queixo levantando o rosto em sua direção.

— E provavelmente não vai — respondeu —, não é algo que gosto de lembrar. Quem dirá contar para alguém que me interessa.

— Interessa? Suponho então que decidiu que sou um estranho bom então.

— Até segunda instância, sim.

Sem medo o homem se inclinou em sua direção, a mão livre contornou sua coxa encontrando apoio atrás de seu joelho, Touya puxou a garota para seu colo sem afastar sua boca. Os dedos que seguravam seu queixo desceram até seu pescoço fazendo um carinho na lateral apertando de leve o ponto onde a veia em seu pescoço pulsava.

— Esse era seu plano desde o começo? — perguntou empurrando os ombros do rapaz para trás.

— Não.

Então ele a puxou novamente, dessa vez explorando a pele quente do abdome escondida pela blusa com as pontas dos dedos e levantando o tecido em seguida. Esse foi colocado de lado assim como sua própria camisa, sem pudor as mãos dela percorriam seu torso. Alcançou os botões de sua calça e abriu os botões pressionando com a mão o pênis pulsante.

Se afastou por um segundo apenas para se livrar dos restos de sua roupa, Touya deslizava os dedos por seu corpo como se estivesse adorando uma estátua e a ajudou na tarefa de se livrar das calças arranhando as pernas de leve enquanto as puxava para baixo.

Agora estava nua de roupas e inibições, voltou a sentar no colo do rapaz de frente a mão apertando seu membro rijo entre os dedos olhos fixos nos dele enquanto o masturbava no sofá de sua sala, sua garganta estava quente, mas as pontas dos dedos frias. Suas pernas se tornaram inquietas tamanho desejo crescente, Touya massageou suas pernas, cintura apertando os seios entre as mãos rodando os polegares sobre os mamilos duros e arrepiados pelo ar gélido da noite.

O movimento devagar, mas firme o fez ficar duro em instantes, e parecia satisfeita o suficiente para o guiar para seu centro úmido. Não antes de alcançar a bolsa jogada no canto e tirar de dentro dela uma camisinha.

Ela arfou quando o rapaz a preencheu cravando as mãos em seus ombros buscando apoio, seu acompanhante encarou com seriedade, a segurando no lugar parada por tempo o suficiente para que se tornasse torturante. Ela ansiava por sentir ele se esfregando contra as paredes de sua vagina, foi então que ambas mãos se ergueram até seu pescoço.

— Mexa.

Não foi gentil como as outras palavras trocadas, sua voz rouca soou como uma ordem, movimentou a pélvis para frente esfregando pele com pele e não conseguiu conter o gemido de luxúria que rasgou o seu ser. O estímulo fora o suficiente para fazer suas pernas tremularem, os dedos a apertaram com um pouco mais de força.

não se importava de fazer todo o trabalho, gostava de manter as coisas em seu ritmo, geralmente os homens com que se deitava a seguravam e dedilhavam seus dedos no seu corpo enquanto os engolia por completo. Mas o único contato que tinha dessa vez ela o pênis dentro de si e as mãos em seu pescoço, era excitante, erótico, a fazia sentir estar vivendo uma fantasia. Ao invés de palavras vazias, pedidos, e elogios genéricos, ele a comandava com autoridade mesmo sem nada a dizer.

Aumentou o ritmo sentindo borbulhar no seu interior, colocou as próprias mãos sobre as do rapaz apertando quase ao ponto de não conseguir respirar. Alcançando o êxtase de uma foda como a que nunca tivera antes.

Precisou respirar pela boca, rapidamente levando ar para dentro dos seus pulmões. Contudo, o aperto não afrouxou, tentou puxar as mãos dos rapaz, mas não conseguiu, um pouco mais de força e sentia que ele poderia quebrar seu pescoço ali mesmo.

Tossiu um pouco quando ele a soltou, ainda estava sentada em sua cintura, então apoiou em seus ombros e levantou. Vendo brilhar os líquidos que se envolviam em seu pênis, ele também gozou julgando pela ponta branca do preservativo, sentiu escorrer pelas próprias pernas os seus sucos de libido.

Geralmente evitava falar depois do sexo com as companhias de uma noite, mais ao menos se limpar era uma necessidade, pegou as roupas jogadas e as levou até o banheiro. Ficando surpresa pelas marcas de dedos no reflexo, o homem foi gentil a todo momento, porém quando preenchido pelo prazer da carne teve uma mudança completa. Não o tomou como sendo uma pessoa violenta, nem na vida quem dirá durante o sexo. Era um pouco peculiar, mas não as odiou, confessou para si mesma esticando o pescoço para o lado a fim de ver melhor as marcas vermelhas.

Levou um pequeno susto quando viu através do espelho o rapaz se esgueirar, ele se aproximou lentamente e colou o corpo contra o seu também olhando a imagem refletida. Abraçou a sua cintura, novamente usando toques leves para erguer as mãos até seu pescoço.

— Você é suja, sabia? Usando alguém como um brinquedo sexual apenas para satisfazer suas vontades sórdidas — disse em seu ouvido apertando seu pescoço novamente cravando as unhas curtas em sua pele —, eu odeio pessoas como você.

Seu ódio era genuíno, não era um ‘roleplay’, calafrios não eram mais de desejo e sim motivados pelo medo de quando tentou se livrar do aperto e o homem a prendeu contra a pia.

— Olhe bem — Touya segurou seu rosto de frente para o espelho tapando também sua boca a mantendo quieta —, essa imundice é você. Mesmo assim tem orgulho de foder com um cara qualquer, olhar as marcas como um troféu. Você é nojenta, mas tem um pescoço bonito, não se preocupe vou te livrar do fardo que é viver.

Uma mão escondida em suas costas revelou uma navalha. Ainda que tentasse gritar, despida de todas as suas defesas, não tinha o que fazer além de presenciar seu pesadelo se tornando realidade. A figura esguia que a visitou de madrugada veio como um presságio e agora a morte chegou para recolher o que restava de sua vida.

— Agora você está livre para partir.

Sua lâmina afiada cortou a pele com facilidade, estar próximo à pia o ajudou não precisaria lidar com muita sujeira como fez com as outras. A atendente ainda engasgou com o próprio sangue e soltou barulhos antes da vida escorrer vermelha para fora de seu corpo, tinha o apartamento inteiro para si, ninguém poderia interferir como fizeram com suas outras obras de arte, deixou o corpo apoiado na parede do chuveiro enquanto procurava outros utensílios.

Após ajeitar a cama e alinhar uma série de facas encontradas na cozinha, pegou o corpo enrolado num lençol e o colocou no colchão. Ela ainda estava nua, então correu com a ponta da faca pelo centro, tombando a cabeça pensando no que faria primeiro, seus seios eram macios… Os guardaria por algum tempo.

Apesar de frio e sem vida, não foi difícil separar a carne dos ossos, tranquilamente violou o corpo da garota com precisão. Mas algo o incomodava, seu rosto manchado de terror parecia o encarar, falava com ele sussurros de dor. Iria calar a boca se não tivesse um rosto certo? Sim, isso iria resolver, a textura era diferente e os pedaços de crânio revelados abaixo o fez pensar num cobertor.

Era engraçado, um cobertor de pele para uma cama de ossos.

Só que não era o suficiente, não estava bom, ainda tinha nojo da pele que encostou em si. Seu braço esquerdo, quando o ajudou a se levantar sem que pedisse, foi arrancado e jogado para o lado com a ajuda de uma faca de pão e um martelo. Restava apenas o lugar onde seus corpos se tocaram durante o sexo.

Touya virou a cabeça, repulsa tomou conta de seu corpo. Odiava, odiava todas elas, de todas as maneiras. A faca atravessou seu ventre e abdômen repetidas vezes, abominação, mereciam morrer. A escuridão da loucura que tomava seus olhos não clareou até que toda sua cavidade inferior estivesse vazia, num ataque de fúria os órgãos foram jogados pelo quarto, sim. Era isso! Agora estava tudo bem, estava limpa de toda a sujeira.

Ainda era madrugada quando saiu retomando as ruas escuras e fazendo seu caminho sozinho, deixando para trás sua mais linda obra de arte.




Fim.


Nota da autora: Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!


Bibliografia

Crimes Vitorianos Macabros - Editora Darkside "A Sombra de Jack" Página 17 a 48

Jack Estripador e a Londres Vitoriana | Nerdologia Criminosos

Documentário BBC: Jack Estripador - o caso reaberto | BBC News Brasil

Jack O Estripador (Desvendando O Estripador) | Metaforando

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