Revisada por: Calisto
Finalizada em: 24/11/2024Em nenhum dos artigos que eu li nos últimos anos me deu a chance de aprender sobre situações sinuosas, que são muito mais do que as margens lineares da vida. Onde eu aprenderia sobre o famoso grande dia de um casal, assim como era visto o casamento? Nem Max Weber, desenvolvedor da burocracia, saberia dar processos claros sobre esse movimento.
— Querida? — Ouvi mamãe me chamar mais forte e me afastei da janela, me virando para ela. Estávamos no quinto andar do Copacabana Palace, em uma suíte de frente com o mar, eu observava aquela imensidão que me assustava.
O oceano era profundo demais para a gente ter tanta coragem de desbravá-lo. Assim como a vida.
A família de fez questão de cuidar de todos os preparativos para nosso casamento, no quesito financeiro, claro. Todos os detalhes foram escolhidos por nós dois, porém. A mãe dele me pediu educadamente que aceitasse o casamento no hotel mais majestoso que o Brasil poderia ter e que atenderia nossas necessidades, considerando os lados religiosos. E, embora fosse ateu e eu não me opusesse contra isso e tão menos estivesse abalada em minha fé, aceitei e consegui manter minha opinião de que tudo fosse neutro. Queria que meus pais tivessem suas crenças respeitadas, assim como os Kim teriam as dele.
E, felizmente, estava tudo em paz. Seria uma cerimônia sem puxar lados, com o juiz de paz e nada mais.
Não era nada disso que me deixava nervosa, aliás, por mais assustador que pudesse ser desvendar a riqueza e poderio da família de . Aos poucos eu estava me acostumando e agora, quatro anos depois de ter entrado na administração do Barra Shopping, tinha conseguido minha tão esperada promoção para analista fiscal sênior — tudo bem que eu ainda não tinha todo o dinheiro de um Kim, mas agora não precisava mais parcelar todas as minhas compras na Shein e dirigia meu próprio carro, comprado com o meu dinheiro.
O que me assustava era justamente o desconhecido que estava embaixo do oceano, e por se dizer oceano, digo a vida. Até aqui eu tive uma coisa, mas, metodicamente, tudo muda a cada passo que damos. E eu estava dando um passo alto. Eu ia me casar com o homem que surgiu em minha vida da forma mais simples possível.
Acho que a parte mais assustadora era essa: estava tudo seguindo bem demais; igual a parte simples que a gente conseguia enxergar do oceano, até os olhos encontrarem aquele horizonte que parecia uma linha e trazia a sensação de total desconhecido.
Me casar estava sendo essa linha. Eu não teria como saber o que iria encontrar depois disso. Tudo o que eu tinha e sabia era sobre a parte simples, até onde os olhos haviam enxergado por enquanto.
— Você está tão linda… — Mamãe me trouxe de volta à órbita. — Não consigo acreditar que vai se casar.
— Nem eu. — Suspirei, sentindo meus olhos marejarem. — Estou sentindo que ao passar por essa porta, estarei entrando no guarda-roupas de Nárnia.
— Ah, minha … — Ela chegou bem perto de mim, pegando em minhas mãos e olhando nos meus olhos. — Eu sei que fui muito dura contigo por muitos anos e te apresentei uma vida difícil de matrimônio. Mas acredite quando tua mãe diz que casar com o coração é a maior benção que o Senhor nos deu. — Sorriu genuína. — Felizmente eu tive o mesmo privilégio que você. Casar com teu pai foi uma escolha do meu coração, embora de forma arranjada… Mas… Deus foi tão bom comigo que me apresentou um homem como ele. E hoje temos uma linda história sendo construída. Hoje temos a nossa . Tu é o melhor exemplo que posso te dar de como é se casar com o coração, minha filha. Tua vida é a minha mais pura prova dessa bênção Divina.
Certamente minha mãe já estava chorando. Quando ela me beijou na testa, delicadamente para não manchar minha maquiagem, eu também derramei lágrimas.
— Bem, o oceano — olhou para a direção que eu estava encarando antes, através da janela — é realmente assustador olhando de cima. Mas pense quantas coisas lindas podemos encontrar quando a gente se dispõe e desbravá-lo. A parte que nos dá medo é aquela que vai nos manter vivo, filha, e lembrar de como os desafios foram feitos para serem vividos com cautela, com cuidado, com a devida importância…
— Eu sempre tive medo de nadar, mãe. — Ri fraco. — Mas a beira, daqui onde estou, tem rendido mergulhos incríveis. Me faz querer ir mais fundo.
Ela se virou de frente pra mim novamente e encerrou:
— Case-se com o coração e tu jamais terá medo de continuar remando esse barquinho.
Assim que finalizou, apertou minhas mãos novamente e me deu um tempo para respirar. Eu já estava pronta, com meu véu e tudo. Agora viriam as celebrações.
Como eu e não tínhamos tantas exigências com frufrus, tudo seria simples à nossa maneira, mesmo que num lugar tão oposto disso. Isso pelo menos me tranquilizava.
— Vou chamar suas madrinhas, elas devem estar quase desmaiando. Temos trinta minutos — mamãe anunciou e foi até a porta.
Ela saiu e logo retornou com as quatro de olhos vendados, tendo ajuda da equipe do cerimonial. A porta foi fechada e ficamos nós e eles. Lethicia, , Kelly e com Gael no colo. Mamãe já havia me visto antes, já tínhamos tido nosso momento com meu pai, agora era hora das minhas madrinhas me verem.
— Valha-me Deus! O perfume eu tô sentindo, ela está usando o do ! — disse alto, estava ansiosa. — Vai ter espirrando no altar!
— Vai logo, ! Eu tô nervosa. — riu.
Vi Gael levar os dedinhos até sua venda e assenti para minha mãe. Ela e a cerimonialista viraram as quatro e o mini mocinho de costas e tiraram as vendas. Na contagem de três, se viraram.
logo abriu a boca a chorar. levou a mão à boca. Kelly tinha as mãos no rosto, com seu olhar encantado. Lethicia começou a se abanar. E Gael, bem, o jovem lordzinho que meu sobrinho era, saltou do colo de e veio até mim. Me agachei para ficar na altura dele e não tive como não me emocionar.
— Pra ti, tia . — Ele tirou de dentro de seu paletozinho do smoking que usava uma rosa amarela e eu o abracei.
— Ah, meu amor. Muito obrigada! — Enchi ele de beijos e ele se manteve ali do meu lado.
Obviamente foi uma sessão de vinte minutos muito rápida, tendo trocas de abraços, palavras de emoção e uma choradeira que só. Até que fui avisada: estava na hora.
Coloquei a rosa amarela de Gael no meio do meu buquê de astromélias. Ele pegou em minha mão e não quis soltar.
— Filho, a titia precisa ir com o papai dela — tentou e ele continuou negando.
— O tio disse que era para eu proteger a princesa dele. — Apertou minha mão, sendo de opinião forte. — Levar ela até o papai dela.
— E teu tio lá manda em alguma coisa? — riu. — Mas está certo, Gael. Tem que proteger a nossa , não é?
Ele assentiu e eu fiz bico.
Elas saíram na frente e eu esperei a deixa da cerimonialista, enfim seguindo pelo corredor com a ajuda necessária por conta do véu e de todo o médio volume do vestido.
Gael ficou comigo, sendo fiel ao seu tio, e descemos somente eu, ele e mamãe. Quando o elevador abriu e meu pai surgiu em meu campo de visão, foi impossível não chorar mais. Ele não discursou, não se prolongou, eu o conhecia bem para saber que seus gestos eram as palavras que ele gostaria de verbalizar.
Beijou minha testa e trouxe a primeira camada do véu para frente, cobrindo meu rosto. Sem se importar com qual fosse a simbologia religiosa, ele só estava ali, me abençoando à maneira dele.
— Pronto, tia . — Gael soltou minha mão e enxergou sua mãe logo ali, mais a frente, e foi correndo até ela.
— Está pronta? — papai perguntou.
— Desde a primeira sessão de pré estreia que eu o vi sair antes da metade…. — Sorri, convencida.
Seguimos para o local da cerimônia. Segurei firme meu buquê enquanto ouvia a entrada de todos. Primeiro foi com sua mãe, sob uma melodia simples de Halo da Beyoncé tocada no piano. Os padrinhos entraram ao som de Ed Sheeran. E por fim, Gael guiou os meus passos com papai até o altar ao som de Enchanted.
estava lá, como o meu oceano de promessas. E eu jamais deixaria de me encantar todas as vezes que caminhasse em sua direção.
Ele era o passo alto que eu gostaria de selar naquele momento.
Três anos depois…
— Crianças, não corram!
Não adiantaria eu falar, mas eu falava mesmo assim. Gael, Sebastian e Jeon, meu filho com , corriam de um lado para o outro no quintal. Nenhuma novidade e eu geralmente chamava a atenção somente pelo cuidado com os dois pequenos, mas excepcionalmente desta vez foi porque eu estava estranhamente me sentindo estranha.
— Tia, eu posso tomar outro sorvete? — Gael veio até mim, enquanto Sebastian jogava o brinquedo para Jeon pegar dentro da piscina.
— Sebastian! Não fica sozinho tão perto da piscina não, meu amor! — Acabei não respondendo Gael e berrei para o outro, me levantando. Foi neste momento que veio a vertigem e eu voltei para trás.
— Tá tudo bem, tia? — O pequeno mocinho em minha frente tocou minha perna, preocupado. Ele estava apenas chegando nos seis anos e já era muito mais doce que muito velho por aí.
— Tá sim, meu amor. A tia já vai pegar o sorvete para você… —Ttoquei o rostinho dele. — Chama o Sebastian pra tomar banho, por favor?
— Chamo.
Gael saiu rápido até Sebastian, chamando ele com a autoridade de ser mais velho. Pela educação coreana enraizada, os dois se respeitavam bastante com isso, chegava a ser lindo ver.
Me levantei devagar desta vez e indiquei que fossem para o banheiro, seguindo eles com meus passos lentos. Havia algo muito errado comigo, talvez fosse o calor absurdo do Rio de Janeiro. Ao passar para dentro, fechei a porta de vidro, deixando Jeon para o lado de fora.
— Seu pai já está vindo, ele vai dar banho e secar você — avisei e ele resmungou triste, raspando as patas no vidro. Manhoso que era.
Voltei minha atenção para os dois seres humaninhos e com muita concentração dei banho e arrumei os dois, claro que sob muita bagunça e brincadeira deles, que sempre me convenciam a usar a banheira do meu quarto.
Minhas férias iam para mais um ano sendo dividida com dois dos grandes amores da minha vida. Gael e Sebastian normalmente ficavam comigo por cinco a seis dias durante os últimos dias do período de férias escolares.
Mas excepcionalmente desta vez, eu não via a hora de dar o fim do dia e e virem buscar os dois. Não por mim, mas por eles, eu estava me sentindo muito imprestável e lenta demais. Não era cansaço pelos dias seguidos, até porque Jeon conseguia me dar mais trabalho do que eles, era que realmente havia algo errado. Há dois dias eu só queria dormir e dei graças a Deus que no dia anterior choveu o suficiente para os dois também ficarem com a mesma preguiça que eu.
Resultado: ficamos o dia todo na sala de cinema. Eles dormiam, eu dormia também.
Assim que coloquei os dois sentadinhos à mesa, escutei o choro de Jeon, a felicidade dele ao escutar e farejar a chegada de .
— Tio ! — Tanto Gael quanto Sebastian saíram correndo, pulando nele e quase o derrubando. Sebastian sempre segurava as pernas e Gael se esticava todo para escalar o tio. Era lindo de ver deixar eles fazerem o que queriam dele.
— Oi, morena. — Ele me beijou logo que chegou até mim, colocando os dois em seus devidos lugares novamente. — Por que ele não está participando? — Olhou para Jeon parado do lado de fora e com uma carinha triste, uivando para ser notado.
— Está te esperando para um banho. Hoje foi dia de piscina dos garotos.
— Tio, eu consegui mergulhar! — Gael contou com a boca cheia de pãozinho com Nutella.
— E eu pulei no fundão! — Sebastian também comentou. A piscina em questão era a infantil; quando eles estavam em casa só comigo, a piscina de adulto ficava fechada para evitar qualquer tragédia.
— Caraca, que incrível! Logo vocês vão estar mais fortes que o Acquaman!
— Eu prefiro o Homem-Aranha mesmo. — Sebastian sorriu convencido.
Fechei os olhos e bocejei, sentindo outra vez a minha consciência querer desligar. Voltei firme quando ouvi a denúncia de Gael:
— A tia quase caiu duas vezes hoje…
me olhou estranho. Gael estava sentado na cadeira da ponta, à esquerda dele estava Sebastian e eu do outro lado. Entre os dois, estava em pé.
— Como assim? Vocês jogaram a bola no telhado de novo?
— Não. Não foi nada demais. Eu levantei muito rápido e tive vertigem, acho que é o calor. Está tudo bem — disse, firme, e ele apenas assentiu, mas não muito convencido.
— Bom! — Bateu uma mão na outra. — Qual dos dois vai me ajudar a dar banho no Jeon?
— Ah, amor… Eles já tomaram banho!
Meu estômago não estava segurando nada. Já era mais de duas da manhã e eu ainda estava abraçada ao sanitário, sozinha, porque teve que ir atender uma urgência antes da meia noite no São Lucas. Com muita força, me arrastei de volta ao quarto e chamei um Uber, avisando meu marido que estava indo para o hospital. Felizmente não demorou muito e eu já estava lá. Mas fiquei surpresa quando vi me esperando com uma cadeira de rodas ao que o carro entrou na zona de desembarque rápido para pacientes.
— me ligou — ela disse logo que abriu a porta para mim, sabendo que eu ia questionar. — E o já está lá dentro.
— Mas pra que tudo isso? Ele é um exagerado. — Revirei os olhos, mas aceitei sem pestanejar a ajuda dela para descer e sentar na cadeira. Eu estava muito fraca. Talvez fosse a desidratação.
— Ele ficou preocupado, ué. Tu é sempre controlada com saúde, esposa de um médico, inclusive, e de repente tá aí, quase morta. Tu tá mais pálida que a bunda do meu marido, Carolina!
— Obrigada pela comparação. Meu estômago revirou triplamente. — Levei a mão até a boca, respirando fundo. estava me levando para dentro.
Passamos da recepção direto para o corredor dos consultórios. estava à porta, falando no telefone com alguém. Assim que parou na frente do consultório do , vi que Otávio estava ali dentro, na mesa do meu marido.
— Cadê ele? — perguntei direto, falando por cima do “oi” do meu cunhado. Ele desligou o celular assim que eu me aproximei. — Oi — disse mais baixo, respondendo posteriormente.
— Em cirurgia. E é daquelas longas. — colocou as mãos nos bolsos da calça. — Estava falando com ele no telefone.
— Teu irmão é um exagerado. Não precisava chamar vocês. Deve ser alguma intoxicação alimentar… Desidratação… — Revirei os olhos, foi me levando para dentro do consultório. — Inclusive, se for algo viral, vocês precisam ficar atentos com os meninos.
— Gael está ótimo.
— Sebastian estava dormindo como um anjo.
Os dois se organizaram contra mim e eu fiquei quieta, cruzando os braços.
— Boa noite, senhora Kim. — Otávio, que foi um terror na minha vida durante sua residência, agora era um dos amigos mais próximos nossos e padrinho do meu casamento, sorriu simpático para mim. Ele sabia o quanto eu odiava tirar sangue e, a julgar pelo monte de papel em suas mãos, havia um pedido de tudo. deveria ter orientado ele a me revirar.
Exagerado.
— Se fosse boa, eu não estava aqui. Mas oi, Otávio — murmurei, emburrada. — te tirou da cama também?
— Sim. Ninguém neste hospital tem autorização para tratar um Kim ou filiado. — Ele riu fraco. — Principalmente a senhora esposa do diretor do hospital.
Revirei os olhos outra vez, sentindo a vontade de vomitar. foi rápida e pegou o lixo para mim, dentro dele ficou mais uma leva de água e bile. Era tudo o que tinha dentro de mim desde o dia anterior.
— Certo, vamos logo, então. Assim te devolvo rápido para a Lethicia. — Suspirei, derrotada. — O que temos aí?
— Bem, exames de sangue, um check-up completo, ultrassom, raio X. Depois dos resultados laboratoriais, a gente vê se prossegue com mais exames de imagem.
Otávio se levantou e me revirou inteira, depois que me ajudou a deitar na maca. Me examinou e fez suas anotações tanto no computador, quanto no WhatsApp de — que muito provavelmente tinha solicitado uma enfermeira só para ler todo o relatório dos três.
— Não se preocupe, , ele tinha me avisado ontem que você não estava muito bem… Eu fui pra casa em alerta. — Otávio me deixou descer e voltar para a cadeira, com o amparo de outra vez.
— Que atencioso o meu marido… — Ri fraco. Ele era mesmo, mas às vezes passava do limite.
— Ela vai tomar alguma coisa por agora? Ou vai esperar os exames primeiro? — se aproximou de mim, me dando uma mantinha ao notar que eu estava tremendo.
— Fiz o pedido de uma bolsa de soro com glicose para hidratar ela. Um pouco por agora, depois dos exames a gente pode tratar melhor, sem qualquer risco… Pedi os resultados com urgência, então deve levar menos de cinquenta minutos. É o tempo do soro e raio X.
Ele terminou de digitar e assentiu para . Meu cunhado se levantou da cadeira que estava sentado e veio para trás da cadeira, empurrando para a porta que abriu, os dois em uma sintonia boa.
Os exames foram colhidos rapidamente e segurou minha mão na hora de tirar o sangue. O raio X foi feito no quarto que eu estava mesmo e me ajudou o tempo todo com a locomoção, enquanto se preocupava em encontrar algo para eu comer.
Tirei um breve cochilo e, quando acordei, não tinha ninguém ali comigo. O soro já não estava mais conectado em mim. Me levantei devagar e consegui calçar as pantufas que tinha mantido para ir ao hospital, aliás, até o pijama ainda era o mesmo. Estava com muita sede e então parei perto da porta, diante da mesa com água. Logo escutei um burburinho.
Prestei mais a atenção, até notar que era , e .
— E aí? O que está escrito? — perguntou.
— Eu não sei como dizer isso pra ela…
— Me dê isso aqui — ordenou. — Porra, tu tá lascado, homem! — Riu fraco, segundos depois.
Abri a porta, assustando os três.
— M-Morena? — gaguejou.
— Tá mais pra pálida — se adiantou, passando pelos dois. — Como você está, amiga?
— Curiosa pra saber por que o está lascado.
foi me guiando de volta até a cama e os dois entraram. Meu marido segurava um dos tablets com o logo do hospital e logo parou ao meu lado, me cobrindo assim que deitei. Olhei para eles totalmente ansiosa, estava nos pés da cama, de um lado e de outro.
— Amor… Seus exames voltaram — ele iniciou, acariciando meu rosto com uma das mãos.
— E? — franzi o cenho.
— E… — Ele engoliu a seco. — O seu beta HCG aponta gravidez. Você está grávida, .
— E você vai fazer um ultrassom para saber quanto tempo o sobrinho da titia já tem!
Encarei sem muito entusiasmo.
Era a única coisa que nesse oceano chamado me assustava. Engravidar.
Por isso tínhamos adotado o Jeon anos atrás.
Olhei para , vendo-o tentar esconder a felicidade a todo custo.
segurou minha mão, tomando minha atenção.
— A gente vai tomar um café, não é, ? — chamou e ela assentiu, deixando um beijo na minha bochecha antes de acompanhar ele.
Assim que os dois nos deixaram a sós, eu desabei a chorar.
— Amor… Olha pra mim — pediu, por eu cobrir meu rosto com as mãos. — Por favor.
— Eu… Eu… — solucei e ele me ofereceu um papel, secando ele mesmo minhas lágrimas. — Eu tô com medo, neném — fui honesta, chorando compulsivamente. — Como eu vou ser mãe? Como que faz isso?
— Ei, deixa para você pensar nisso depois. Tudo bem? Vamos cuidar primeiro desses sintomas que estão te fazendo mal. Vou fazer um ultrassom para a gente ver quanto tempo já tem a gestação e aí a gente vai resolvendo por partes. — Ele beijou minha testa e meus lábios. — Eu tô aqui, meu amor, não vou sair de jeito nenhum do teu lado.
Assenti, hipnotizada pela confiança que ele me passou.
puxou a máquina de ultrassom, sempre haveria uma em cada quarto no São Lucas. Cuidadosamente, ele passou o gel na minha barriga e o aparelho em seguida. O som do batimento cardíaco foi forte e muito alto.
— Aí está você… — ele disse, olhando mais de perto na tela e ajustando os óculos. Virou um pouco para mim, para eu enxergar a imagem. — Aqui, morena. Consegue ver? Essa coisinha está se escondendo da gente por… — Leu no canto da tela e virou o rosto para mim. — Dezenove semanas.
O choque de foi maior que o meu.
Em uma conta rápida, eu cheguei a quatro meses. Era muito tempo, quase metade da gestação total. Eu sempre fui muito cuidadosa com meu anticoncepcional, mas acho que ter trocado para o DIU não foi a melhor escolha.
— Isso… Isso é… Uau. — Fiquei sem palavras. — São quatro meses, . — Olhei para a tela, minha barriga e a sequência do batimento cardíaco. Ele estava pálido demais e eu fiquei com medo de que desmaiasse.
— Dá para ver o sexo, você quer saber? — me perguntou, coçando a nuca.
Nós dois havíamos sido pegos de surpresa. Totalmente. havia passado dos 40 anos e eu estava no meu caminho dos 30. Não tínhamos nos planejado em momento algum para sermos pais, para nós dois os sobrinhos e Jeon já causavam um efeito especial.
— Você quer saber? — questionei ele.
— Quero. Mas eu quero tudo o que você quiser. É meio perigoso se você não quiser seguir adiante, mas-
— Não! Eu… — Olhei para a tela, sentindo meu coração palpitar. — Eu não sinto que teria coragem… Está escutando essa melodia? É tão… gostosa.
— É mesmo. — Ele riu fraco, olhando para a tela com os olhos brilhantes. — Olhe. Dá pra ver… E…
— Um menino? — Estiquei o pescoço.
olhou pra mim sorrindo apaixonado, da forma que ele me olhava em momentos específicos, como no nosso casamento.
— É uma menina, . — A voz dele estava embargada. — Uma menininha sorrateira de dezenove semanas, com 79 gramas e oito centímetros e meio… Precisamos ganhar peso e tomar bastante vitaminas, mamãe.
Respirei fundo, me acalmando, embora ainda parecesse assustador.
Ele devolveu o aparelho para a máquina e digitou alguma coisa rápida no tablet.
— É, neném, talvez tu devesse se tornar obstetra. Primeiro o Gael, depois Sebastian e agora tu descobriu a gravidez da tua esposa. — Estiquei a mão para entrelaçar à dele. Ele riu e beijou os nossos dedos entrelaçados, ficando de frente com a lateral da cama outra vez.
— Você está pronta? — me perguntou. — Precisa de um tempo?
— Acho que se isso é o melhor que pode acontecer para nós, mesmo com nossas precauções, então… Sim. Eu tive quatro meses para estar aqui hoje, para saber dela agora. Nos próximos cinco eu quero aproveitar cada momento e aprender tudo o que tiver de aprender. Se eu tiver você do meu lado, nós vamos até o fim.
— Até o mais profundo do oceano. Não é? — ele citou minha promessa em nossos votos matrimoniais e eu assenti.
me beijou e em seguida acariciou minha barriga, beijando-a depois de limpar, então abaixou minha roupa.
— Maitê — disse, olhando-o séria.
— Maitê de Camargo Kim — completou, entendendo o meu objetivo. — Nossa Maitê.
Trocamos outro beijo, encerrando esse com nossas testas coladas. Então atendeu ao meu pedido de me medicar o que precisava e deixar eu dormir, porque eu precisava. É claro que na manhã seguinte eu tinha gente a rodo na frente do meu apartamento de internação (a qual fui transferida quando vimos que havia a necessidade das medicações assistidas).