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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 31/10/2024.

AVISO DE GATILHO: essa história fala sobre assassinato de familiares, assédio e estupro. Se um desses assuntos for sensível ou um gatilho para você, não recomendo a leitura.



O hotel Houston Inn, na grande cidade de Houston, Texas, nunca esteve tão vazio. Em tempos de glória e fartura, o estabelecimento passava um mês inteiro com a ocupação lotada em 100%. Mas os tempos eram escassos e sombrios depois do que houve há exato um ano.
Os jornais, revistas e noticiários na tv estampavam até o momento a notícia da trágica e inexplicável morte da jovem Lincoln, de 20 anos. foi encontrada nua e com vários hematomas em seu jovem corpo na piscina coberta do hotel em que estava hospedada, esse sendo o Houston Inn. A perícia, é claro, não encontrou nenhum culpado. O hotel alegou que a piscina estava em manutenção, por isso ela foi encontrada apenas uma semana depois do seu desaparecimento. Algumas pessoas ousavam dizer que o estabelecimento, que na época do acontecimento era cheio de dinheiro, usou de suborno para que o culpado não fosse encontrado, pois o crime provavelmente havia acontecido dentro do local.
Lincoln, irmã mais velha de , acreditava fielmente nessa teoria e que esse fato apenas os incriminava mais ainda. tinha certeza de que o assassino havia sido alguém de dentro do hotel, e o desgraçado (ou desgraçada) ainda estava lá, ela só não conseguia provar. Ainda.
Enquanto rodava a cadeira de seu pequeno escritório, em seu igualmente minúsculo apartamento em Castroville, observava atentamente o mural que havia montado ao longo dos últimos doze meses. Uma foto grande de sua irmã estava no centro, rodeada de outras fotos e notícias de jornais interligados por diversos fios coloridos. Parecia uma grande confusão, olhos alheios não iriam entender absolutamente nada. No entanto, conhecia cada pedacinho daquele mural, ela sabia o motivo de cada foto interligada com linha vermelha, que queria dizer que mais era importante; sabia que cada reportagem ligada com linha verde em cada foto era porque ela tinha certeza daquilo e cada linha amarela eram as incertezas.
passou a mão pelos lábios, pensativa. Teve um grande avanço em sua investigação particular, eliminando quase todas as linhas amarelas. As linhas de lã vermelhas e verdes a levaram até dois nomes importantes: Rebeca McDonna, gerente do hotel, e Luke Stewart, o bartender. Luke foi o último a ver sua irmã, e Rebeca claramente tentava encobrir a verdade. Foi com McDonna que falou há alguns minutos, usando o nome de Georgia Williams para reservar seu quarto no hotel onde passaria uma semana. Estava ansiosa para conhecê-los; ambos pagariam pelo que quer que tivessem feito.
Para isso, precisava mudar sua aparência. As roupas novas, um estilo mais sério e sexy, já estavam devidamente dobradas e arrumadas na mala de viagem. A questão era que seu rosto e seus cabelos continuavam iguais e perigosamente parecidos com , comparação que ouviu durante toda a sua vida, principalmente no velório da mais nova. Ela só queria chorar em seu quarto, mas teve de ouvir os parentes insensíveis lhe lembrarem a cada cumprimento o quão parecida ela era com a falecida.
No banheiro, separou a tesoura, uma caixinha de tinta vermelha (para colorir suas madeixas pretas), e abriu um estojo de seringas contendo ácido hialurônico e anestésico que conseguiu graças à sua formação em odontologia. A única dor que sentiu foi a picada da anestesia em algumas partes do rosto. Enquanto esperava fazer efeito, pegou a tesoura e, sem muito cuidado, cortou os longos fios até acima do pescoço, acertando as pontas em seguida. Vestindo novas luvas, a mulher colocou a tinta em seus recém-cortados fios e os prendeu para o alto.
Beliscando seus lábios, ela os sentia dormentes, assim como seu nariz, prontos para o preenchimento. Isso duraria muito mais que o necessário, mas seria o suficiente para a fuga que precisaria fazer se tudo acabasse bem. Quando acabasse bem, pois daria tudo certo.
Quando acabou, sua boca e seu maxilar estavam diferentes e seu nariz, mais definido. Depois de um longo banho, onde ria consigo mesma por não conseguir mover o rosto, ela se olhou no espelho novamente. Aquela ainda era ela, mas quem nunca a viu antes, jamais desconfiaria que seu rosto e seus cabelos haviam sido modificados. sorriu para seu reflexo, o máximo que a anestesia permitiu, satisfeita com o resultado.
Agora tudo o que faltava era descobrir a verdade e vingar sua irmã.



Os passos precisos de ecoaram pelo saguão quase vazio do hotel. Seus sapatos de salto alto em atrito com o piso frio faziam as poucas pessoas presentes prestarem atenção nela. Não era essa a intenção, com toda certeza ela preferiria passar despercebida em sua chegada. Contudo, queria passar a imagem de uma mulher poderosa, confiante e decidida, sem tempo para se importar com o barulho que seus sapatos faziam. Sendo assim, ela seguiu seu caminho sem olhar para os lados.
Quando chegou ao balcão, os olhos do jovem recepcionista a analisaram dos pés à cabeça. Ele deu um sorriso mínimo, fazendo difícil deduzir se era ou não genuíno.
— Boa noite e bem-vinda ao hotel Houston Inn. Meu nome é Gary O’Halloran, como posso ajudá-la?
sorriu e tirou seus óculos de sol, exibindo seus lindos (e falsos) olhos azuis. As lentes foram o toque final para o disfarce, também a ajudavam a não precisar do seu fiel óculos de grau.
— Boa noite. — Ela sorriu de forma forçada, torcendo para que não percebessem. — Eu tenho uma reserva de uma semana.
— Está no nome de quem?
— Georgia Williams.
— Ah, claro, a escritora! — Gary exclamou, balançando a cabeça. — Pode aguardar um minuto? A Srta. McDonna gostaria de recepcioná-la pessoalmente.
— Claro, eu espero — ela falou obediente, sorrindo largo antes de vê-lo se afastar.
O sorriso ainda era forçado, é claro, mas estava satisfeita em ver que mal pisou no lugar e seu plano já estava dando certo. Georgia Williams foi o nome que escolheu para sua personagem. Ela fingiria ser uma jornalista e escritora que estava interessada em escrever sobre a história do hotel, com a falsa promessa de que os deixariam contar seu lado da história. Fez questão de deixar um rastro nas redes sociais, tendo se especializado nisso em alguns cursos de informática. Sua personagem não mostrava muito o rosto, mas fez questão de tirar fotos e publicar depois das mudanças que fez. Se pesquisassem por ela antes de sua hospedagem, era aquele rosto que encontrariam. No momento que pisasse para fora daquele hotel, suas redes sociais iriam desaparecer.
Em questão de breves minutos, o recepcionista voltou com a gerente do hotel, que espelhava o sorriso largo, o dela sendo genuíno. afundou as próprias unhas em suas palmas, as escondendo por detrás do balcão.
— Srta. Williams! — Rebeca McDonna exclamou animada, estendendo a mão para apertar a da hóspede. Hesitante, estendeu a mão, retribuindo o cumprimento. — Bem-vinda ao Houston Inn! É realmente um prazer tê-la conosco e, em nome de toda a equipe, eu agradeço pela oportunidade de nos deixar contar a história desse incrível hotel!
— Ah, imagina! O prazer é todo meu — respondeu, olhando em volta. — Alguns passos aqui dentro e já estou encantada.
— Bom, espere até ver o resto! — A gerente se animou, se contagiando com o sorriso da garota. — Gary, cuide do check-in e leve as malas dela para o nosso melhor quarto, irei levá-la para uma tour.
— Tenha cuidado com as malas — tratou de pedir, olhando aflita para sua bagagem. — Meu material de trabalho está todo aí.
— Não se preocupe. — Gary sorriu, mexendo em seu computador. — Estão em ótimas mãos.
Rebeca a guiou pelo saguão de entrada até uma enorme escadaria que dava para o restaurante. Entretanto, passaram reto pela entrada, com a promessa de que voltariam no final. A gerente a levou para o espaço de lazer com spa, hidromassagem, academia, espaço com brinquedos para crianças, sala de jogos. Depois a levou para a cobertura com uma linda varanda com piscina. Durante todo o trajeto, a conversa era calorosa, como se ambas fossem amigas há anos. sentia seu estômago embrulhar toda vez que a gerente tocava seu braço, suas costas, ou sua cintura. Contudo, ela não perdia a postura em momento algum.
Propositalmente, a gerente passou reto pela parte da piscina coberta. sentiu todo o seu corpo arrepiar e um nó se formar em sua garganta. Por mais que tivesse curiosidade em entrar ali, algo dentro dela implorava para ficar longe.
— E para finalizar… — Rebeca fez um gesto amplo quando chegaram à porta do restaurante, onde ficava o bar. — Temos nosso restaurante e bar. Aqui servimos nosso café da manhã, almoço, jantar e sempre esticamos o bar algumas horas.
— É lindo — falou, anotando em um caderninho, que sempre carregava consigo, tudo o que a gerente falava.
Se ela iria falar sobre o hotel em seu falso livro, tinha que ao menos parecer realista. Sem contar que qualquer informação era válida para que pudesse descobrir a verdade. Nada escaparia dela.
Entrando no local já vazio – o jantar havia acabado há alguns minutos –, Rebeca a conduziu calmamente para o bar, seguindo, mesmo sem saber, o plano de . Luke Stewart secava alguns copos atrás do balcão, parecia aguardar por elas, mas sua distração entregou que não era nada disso.
— Luke, querido! — a gerente o cumprimentou animada, se sentando em um dos bancos. a imitou, tentando espelhar seu sorriso. — Esta é a Georgia Williams, a autora que falamos na reunião desta semana.
— Ah, sim, a nossa salvadora — ele falou, soltando uma risada anasalada. Ele jogou o pano pelo ombro e esticou a mão. — Luke Stewart, ao seu dispor.
Os olhos do homem foram descaradamente para o decote propositalmente exagerado de . Era um tanto assustador quão fácil eles estavam caindo em sua armadilha. Ela acreditou, até aquele momento, que os seduzir seria a parte mais difícil de seu plano. Pelo visto, estava sendo a mais fácil.
A ideia surgiu ao saber, por uma pesquisa minuciosa nas redes sociais dos dois funcionários, que Rebeca era bissexual e Luke um galinha de primeira que não se importava muito com os sentimentos de sua noiva, distribuindo curtidas em fotos de garotas mais novas e com poucas roupas. Ele era nojento, mas perfeito para o que planejava.
— Um cavaleiro — falou, tentando não colocar seu almoço para fora quando segurou a mão do garoto. — Farei questão de falar sobre o atendimento impecável dos funcionários.
— Isso é algo que prezamos demais. Fazemos reuniões a cada dois dias e treinamentos quinzenais — contou Rebeca, sem deixar de reparar nas pernas descobertas da escritora quando ela as cruzou. — Luke, dois pornstar martinis, por favor.
— Com prazer — ele respondeu, se afastando para preparar os drinks.
reparou no olhar da mulher sobre si. Aquilo não era ruim, aliás, facilitaria e muito o seu trabalho, caso soubesse usar isso a seu favor. E ela sabia exatamente como fazer isso.
Fingindo estar distraída com a parede repleta de bebidas caras, esbarrou propositalmente sua perna na da gerente e reparou em como os pelos dela se arrepiaram.
— Nosso bar... — começou Rebeca, depois de limpar a garganta. voltou a olhá-la, passando a língua demoradamente pelos lábios. — Foi o que nos fez ganhar a quarta estrela. O bar e o restaurante, é claro.
— Sem dúvidas, é incrível — respondeu, quando o barman voltou com as bebidas. — Um brinde a essa nova parceria.
Rebeca sorriu e aceitou o brinde, gostando da ideia. Durante o resto da noite, conduziu a conversa de forma que se mantivesse casual, longe de assuntos como o hotel e o que aconteceu nele no ano anterior. Seu plano era que ambos tivessem sua total confiança e, ao final da noite, ela sentiu que tinha conquistado ao menos um pouco.
Já no seu quarto, desmontou sua personagem. Tirou as lentes, os saltos, prendeu o cabelo, se enfiou no chuveiro e deixou que a água tirasse de seu corpo todo e qualquer toque que lhe deram. Ela colocou uma roupa confortável e se jogou na cama, exausta. Com o rosto enfiado no travesseiro, ela gritou de raiva até sua garganta doer. não podia acreditar que estava no lugar onde sua irmã foi assassinada, nem que passara a noite conversando com os possíveis assassinos.
Antes de dormir, aproveitando que estava tudo fresco em sua mente, ela digitou o que descobriu e passou a limpo suas anotações sobre o hotel. Aquilo poderia parecer inútil para o que faria em alguns dias, mas sabia bem que, mais para frente, seria muito importante.
Quando se deitou novamente na cama, observou a foto de sua irmã que sempre guardava com carinho embaixo de seu travesseiro. Aquilo tudo era por ela; teria a vingança que ela não poderia dar.



Lincoln não podia negar o quão maravilhoso era o café da manhã do hotel. No quarto dia de hospedagem, enquanto fingia novamente trabalhar no livro, ela se deliciava com croissants e queijos diversos, mais de um tipo de geleia e uma grande variedade de frutas. Era o paraíso do desjejum, com toda certeza sua irmã devia ter adorado. O almoço e a janta não ficavam para trás: no segundo dia de hospedagem, havia feito ambas as refeições na companhia de Rebeca McDonna, enquanto conversavam mais sobre o hotel. Um amontoado de informações superficiais sobre o funcionamento, sobre celebridades que já se hospedaram, como conquistaram as quatro estrelas. Nada daquilo ajudava Lincoln em sua investigação pessoal.
— Você não folga nunca? — ela perguntou, quando Luke se aproximou para repor seu café.
— Ah, claro que sim. — Ele riu, dando um sorriso que outras mulheres achariam lindo, mas apenas sentiu ânsia. — Mas é bom aparecer aqui quando moças bonitas estão por perto.
— Hm, certo, e você costuma paquerar muito as hóspedes? — ela retrucou, bebericando seu café da forma mais sexy que conseguiu, lambendo os lábios ao finalizar o gole.
— Só as especiais — ele respondeu, dando uma piscadela antes de se afastar.
Lincoln achou aquilo inacreditável. Com poucos dias de observação, ela percebeu que o homem realmente flertava e lançava aquele sorriso para qualquer mulher que entrasse naquele salão, inclusive sua chefe, a gerente do hotel. Luke não perdoava nenhuma hóspede e ela não escaparia ilesa. Ficou imaginando: quantas outras mulheres o desgraçado assediou ou estuprou como fez com sua irmã? Pensar nisso fez o café deixar de ser apetitoso.
No momento que se levantou, Rebeca entrou no restaurante com toda a sua elegância e um belo vestido branco. Seu sorriso da mesma cor se alargou ao ver , e se tornou sensual quando Luke se aproximou dela. Voltando a se sentar e a bebericar seu café, observou com atenção quando a gerente passou a mão pelo rosto do garoto e se demorou em sua barba, a acariciando. Lincoln não era especialista em hotelaria e teve a sorte de seus chefes (sendo homem ou mulher) terem sido sempre muito respeitosos com ela, mas de uma coisa tinha certeza: aquela não era uma relação normal entre patrão e empregado. Rebeca não tratava nenhum outro funcionário com carícias e sorrisos como fazia com Luke, e aquele não era o primeiro flagra. Parecia, inclusive, ser algo bem normal. Apesar de ele demonstrar certo desconforto, nunca declinou a aproximação, às vezes até a provocava com muita clareza.
, aproveitando que a gerente ainda se distraía com o homem, chamou outra atendente que passava por perto da mesa.
— Me tira uma dúvida para o livro, é comum terem relacionamento entre funcionários?
— Na verdade, não. Somos encorajados a não namorar ninguém aqui de dentro e, pelo que eu saiba, realmente não tem nenhum casal. — A garota lançou um olhar para os outros dois funcionários, mordendo o lábio inferior como se tentasse se segurar para não deixar nada escapar. — Mas parece que temos algumas exceções.
— Eles namoram?
— Ah, não. — A atendente, que tinha um crachá com o nome Pamela, riu. — Que eu saiba, a senhora McDonna é gay, apesar de já ter sido casada. Mas ela o adora.
— Entendi.
Pamela olhou nervosamente para o iPad da garota, depois para a chefe.
— Não vai colocar essa última parte no livro, não é? Acho que nem todos sabem.
— Não se preocupe, talvez apenas citar sobre a diversidade entre os funcionários. — sorriu de volta para a garota quando ela sorriu aliviada.
— Obrigada — Pamela sussurrou, antes de se afastar.
a observou se afastar. Quais mentiras mais Rebeca contava para seus funcionários?
Alguns segundos depois, a gerente já estava ao seu lado, ajeitando seus cabelos impecáveis.
— Georgia, querida! — ela exclamou, dando dois beijos nas bochechas de . — Mil desculpas por não ter conseguido conversar com você ontem. Como foi o seu dia?
— Ah, não tem problema… O dia na verdade foi muito bom, o livro já está tomando forma! — respondeu, forçando a empolgação.
— Não vejo a hora de ele estar pronto! — Rebeca respondeu, olhando em volta. — O que acha de irmos para a minha sala? Podemos falar melhor sobre o hotel, um relato menos formal de alguém que gerencia há mais de sete anos.
Com falso ânimo, a acompanhou até sua sala. Não deixou o restaurante sem antes lançar um olhar para Luke, deixando uma piscadela e rebolando exageradamente para que a imaginação do homem fizesse o resto do trabalho. Já na sala, se deixou observar tudo com muito cuidado, para que nenhum detalhe passasse despercebido. Enquanto ela anotava com agilidade em seu computador, Rebeca tagarelava de forma impecável e quase ensaiada sobre seus anos de trabalho no hotel, elogiando alguns funcionários e fofocando sobre outros. “Não ponha isso”, ela falava risonha; “escreva exatamente dessa forma”, ela pedia com mais firmeza. Lincoln estava prestes a perder a paciência. Seu cérebro, em meio a tudo isso, tentava pensar em como poderia procurar por provas dentro daquela sala.
— Gosta de rosé, Gigi? — Rebeca perguntou, a tirando de seus devaneios. — Não se importa se eu te chamar assim, não é? Afinal, seremos melhores amigas durante essa semana.
— Adoro rosé — respondeu sorridente. — E não me importo, mas só se puder te chamar de Beca.
— Claro, gostei de como soou. — Rebeca mordeu o lábio e se levantou.
— Eu pego! — falou, também se levantando. — Fique aí, não se preocupe.
— Que amor! — ela respondeu, voltando a se sentar.
caminhou da forma mais sensual possível até o pequeno bar que tinha no fundo da sala. Ela mexeu no bolso da frente de seu jeans e tirou os três comprimidos que usava para dormir. Eles eram fortes, ela sabia bem disso, mas também sabia que, se misturados com bebida, não a mataria – infelizmente –, apenas a apagariam por algumas boas horas.
— Me conte, Beca — ela falou alto, enquanto esmagava dois comprimidos na taça. — Reparei que o hotel tem poucas câmeras. Por quê?
— Só temos nas áreas comuns, como restaurante, saguão, piscina… Vamos colocar no spa no mês que vem — a gerente respondeu, balançando a perna. — Assim os hóspedes se sentem seguros, mas não vigiados.
— Faz todo sentido. — voltou com as taças, mas dessa vez parou ao lado da gerente para poderem brindar. — Eu posso tirar algumas fotos do lugar? Sabe, do restaurante, de algum quarto…
— Então, além de muito bonita e escritora, você é fotógrafa? — Rebeca disse, antes de dar o primeiro gole, os olhos fixos na outra mulher. — Cada vez mais interessante…
voltou para sua cadeira, tentando disfarçar o desconforto com o flerte com uma risada tímida. As duas continuaram conversando, mas agora sobre fotografia, enquanto tomavam mais vinho. Provocativa, Rebeca passava o pé descalço entre as pernas de , mas suas pálpebras começaram a pesar e sua língua a enrolar. voltou a se aproximar dela, agora tomando a liberdade de se sentar no seu colo enquanto ambas gargalhavam ( de forma forçada). Rebeca começou a reclamar que estava com sono ao mesmo tempo que beijava o pescoço de e apertava suas coxas. Sem deixar que a gerente percebesse, a morena olhou para seu relógio, pensando em quanto tempo demoraria até ela apagar. De repente, Rebeca tombou a cabeça no ombro de , ela sorriu vitoriosa. Passou a mão por seus olhos fechados, a cutucou, chamou seu nome. Nada.
Deixando-a ali e ainda sentada em seu colo, começou a mexer nas gavetas. Nada a interessou. Então começou a mexer no computador, abrindo cada pasta com documentos relacionados ao período do mês da morte de sua irmã. Não achou nada. Então decidiu mexer nos armários, olhando pasta por pasta e conferindo a cada minuto se a mulher ainda dormia profundamente. Quando estava prestes a desistir, encontrou uma gaveta trancada. Era a única da sala inteira que estava trancada.
Remexendo na bolsa de Rebeca, pegou o molho de chaves e começou a testá-las. Quando conseguiu abrir, uma pasta preta com o nome “ Lincoln” chamou sua atenção. Sentando-se no chão e com as mãos trêmulas, abriu a pasta, se deparando com diversos recortes de jornais e revistas falando sobre o caso, junto a documentos de processos que sabia terem sido arquivados. Ela tirou foto de tudo, mesmo já conhecendo cada detalhe daquela pasta; o único diferencial era um pequeno pendrive. Em seus dedos, o aparelho era frio e leve, todavia, seu conteúdo era de um peso inimaginável.
— Georgia? — Ela se sobressaltou ao ouvir a gerente chamar, com a voz arrastada. Escondendo o pendrive em seu sutiã, guardou tudo e voltou para o lado da mulher, acariciando seus cabelos loiros. — Eu ‘tô cansada… Não sei… Por que… O que houve…?
— Vou te levar para algum quarto, pode ser? — ignorou sua pergunta e a carregou para fora da sala.
Com cuidado, as duas foram até a recepção. Rebeca mal conseguia manter os olhos abertos e as palavras que saíam de sua boca eram sem sentido algum.
— Srta. Williams! O que aconteceu com ela!?
— Oi, Gary — falou, ajeitando a mulher em seus braços. — Me ajuda, acho que a Beca não está muito bem, posso colocá-la em algum quarto?
— Claro! — O homem gravou um quarto em duas chaves e entregou uma para a hóspede. — Vou com vocês.
E, ajudando a carregar Rebeca, os três seguiram para o sétimo andar. Depois de deixá-la na cama, explicou para o recepcionista que a gerente havia se empolgado no vinho rosé e que, talvez, não tivesse comido nada antes. Parecendo acreditar na história sem questionar, Gary as deixou sozinhas. esperou apenas o tempo de ele descer para voltar ao seu quarto, o pendrive incomodava seu peito por causa da curiosidade. Assim que entrou, abriu apressadamente seu computador e encaixou o aparelho, esperando ele carregar um giga em imagens, vídeos e documentos.
Os documentos eram os mesmos que ela tinha, mas os vídeos e fotos eram das poucas câmeras espalhadas no hotel. prendeu o ar quando abriu o primeiro vídeo, pois a primeira pessoa que apareceu foi sua irmã e, ao seu lado, Gary O’Halloran.



As filmagens mostravam Gary e no corredor, ele segurava o braço da garota como se tivesse posse sob ela. Era visível que a jovem estava bêbada, ela não conseguia nem ao menos ficar em pé quando entraram no elevador. O vídeo seguinte mostrava o corredor do quarto andar, onde sua irmã se hospedou. Era visível que ela puxava o garoto, não querendo ir ao quarto, mas Gary era claramente mais forte, praticamente a carregava nos braços. Os soluços de eram audíveis, ela não pensou que as imagens seriam tão fortes, muito menos que ele seria o assassino. Mas, por outro lado, fazia total sentido. O desgraçado tinha acesso a todas as chaves, tinha acesso às câmeras de segurança, aos dados dos hóspedes… ele tinha tudo nas mãos, e infelizmente, teve sua irmã.
Por que raios não o impediram? Por que deixaram que ele batesse com a cabeça dela na parede? Por que deixaram que as mãos dele a tocassem daquela forma nojenta?
A pergunta mais importante: por que esconderam aqueles vídeos? A polícia disse que não encontrou nada nas filmagens. Aquilo não era nada, muito pelo contrário, aquilo era toda a explicação do que aconteceu com Lincoln.
Em mais um vídeo, Gary carregava uma desacordada para dentro do quarto 407. Um corte no vídeo e agora o homem saía cambaleando pelo corredor, parecia desesperado, e suas roupas estavam cheias de sangue. No último e mais doloroso vídeo, Gary e Rebeca jogaram o corpo nu de na piscina coberta, limparam tudo e a deixaram ali. acabou de assistir a morte de sua irmã.
Ela fechou o notebook com raiva e correu para o banheiro, botando para fora todo o maravilhoso café da manhã e o maldito vinho que tomou uma hora atrás. Aquilo era demais para . É claro que ela sabia que corria o risco de encontrar tais coisas, mas pensou que teria estômago forte para ver o que estava procurando.
Ao se recuperar, sentada no chão frio do banheiro, ela parou para pensar no que fazer. Todo o seu plano teria que mudar, pois agora o alvo era outro. Gary,
o maldito recepcionista bonzinho, havia assassinado sua irmãzinha, e agora ela teria que pensar em como atraí-lo para um local e... apertou os lábios para reprimir um grito, tamanho era seu ódio. Ela nem ao menos sabia o que fazer.
Voltando ao seu computador, Lincoln começou a olhar a pasta de fotos. Haviam imagens congeladas dos vídeos, mas o que a interessou foram os prints de mensagens entre Gary e Rebeca, outras entre Rebeca e um advogado chamado Robert. A última dizia:

Gary: O que ele disse?
Rebeca: Eles conseguiram eliminar as imagens e fizeram parecer que ninguém passou pelo corredor durante algumas horas.
Gary: Estamos limpos?
Rebeca: Eu sempre estive, querido. Só estou te ajudando pela imagem do hotel.
Gary: Que se foda...
Rebeca: Olha como fala comigo, Gary. Eles podem ter apagado as imagens das fitas, mas elas estão aqui comigo em um pendrive. Estou cansada de você! Um deslize e…
Gary: E o quê? Você não arriscaria perder seu precioso hotel, não é, mãe? Mesmo que para isso tivesse que jogar seu próprio filho na cadeia.


Rebeca não respondeu mais. Então era isso, agora tudo fazia ainda mais sentido. se perguntava que tipo de monstro mantinha um assassino trabalhando em seu hotel, é claro que manteria se o assassino fosse seu maldito filho. A cabeça de rodou, o impacto de ter descoberto tudo de uma vez a atingiu com força. Ela precisava se afastar daquilo tudo.
Com certa pressa, desceu correndo para o bar. Precisava tirar da sua cabeça a ideia de que Luke era o assassino. Quando se aproximou do balcão, foi recepcionada com um sorriso radiante.
— Boa tarde — ela falou desanimada, olhando em volta.
— Boa noite — ele a corrigiu, mas manteve o sorriso.
olhou a tela do seu celular, que indicava já ser dez da noite. Quanto tempo passou em seu quarto?
— Você está com a cara péssima — Luke falou, entregando um copo com água para a garota. — Eu imagino que deva ser difícil.
— O quê? — ela perguntou distraída, enquanto bebia a água. Seu corpo agradeceu na mesma hora.
— Voltar ao hotel em que sua irmã morreu — ele falou em um sussurro.
congelou, seu corpo todo tremeu em reação ao que ouviu. Depois de tudo o que fez em si mesma, como era possível ele saber? Parecendo ler sua mente, ele falou:
passou um bom tempo aqui. Ela dizia se sentir sufocada em seu quarto.
Incomodada com o uso de palavras, se remexeu em seu banco.
— Desculpa a palavra, mas foi o que ela disse — ele falou, se apoiando no balcão. — Ela era linda, sério, uma das garotas mais lindas que já vi. Eu te disse que flerto com todo mundo, mas … Ela era diferente.
limpou uma lágrima que escorreu e respirou fundo. Estava fodida, não adiantava tentar mentir. Seu psicológico não estava dos melhores e seu raciocínio, sempre tão rápido, funcionava com lentidão naquela noite.
— Como me reconheceu?
— Ela me mostrou fotos de vocês duas. Você fez alguma coisa no rosto, não é? Mas continua com o mesmo sorriso encantador parecido com o da sua irmã.
— Vai contar para alguém? — ela perguntou, desviando o olhar para seu copo.
— Não, claro que não — ele respondeu, risonho. — Se minha irmã fosse assassinada e ninguém investigasse, eu também iria querer fazer o trabalho eu mesmo.
— Não é só descobrir o que aconteceu... — ela murmurou baixo, ainda sem olhá-lo.
— Ah, entendi. — Luke deu a volta no balcão, se aproximando dela. — Essa coisa toda de escrever um livro é tudo mentira. Quer fazer justiça com as próprias mãos, não é?
— Não agora que você descobriu tudo.
— Acha que vou te impedir? — Ele riu, chegando mais perto. — Eu sei quem fez. Ganhei uma bela grana para ficar quieto, mas nunca engoli essa história. — Luke pousou uma mão no joelho dela, a fazendo finalmente encará-lo.
— E você acha mesmo que vou acreditar em você? — soltou uma risada sem humor, empurrando a mão dele.
— Gary O’Halloran a matou, eu o vi no corredor cheio de sangue e desesperado. Eu encontrei na piscina — Luke falou em um fôlego só. — Rebeca é mãe dele, fez todo um esquema para ele sair impune, me deu uma grana para ficar quieto, mas não pense que me vendi fácil assim, ok?
— Eu estava pensando exatamente isso — ela falou com certa raiva.
— Rebeca ameaçou me denunciar, ameaçou manipular os vídeos para fazer com que eu aparecesse neles. Eu encontrei , tive o sangue dela em minhas mãos. — Ele coçou a nuca e respirou fundo, soltando sua raiva com a respiração. — O que você quer fazer? Eu te ajudo e podemos…
— Nem pensar. — Ela balançou a cabeça, saindo do banco e se afastando. — Fique fora disso e não conte nada a ninguém.
— Está bem. — Ele levantou os braços em rendição. — Mas saiba que seu segredo está a salvo e se precisar de algo, estarei aqui.
sorriu com simpatia, mesmo que seu cérebro funcionasse a mil por hora. Ela não podia confiar em ninguém, entretanto, precisava fingir que confiava para eles confiarem nela. Georgia, a autora? Não, ela nunca faria mal a ninguém. Mesmo que fizesse, era impossível encontrá-la. Ela se foi.



Na manhã seguinte, Georgia Williams saiu do hotel pela primeira vez em dias. Em uma loja de conveniência há várias quadras de distância, ela comprou vários pendrives, tinta vermelha para tingir seus cabelos e novos óculos de sol, pagando tudo em dinheiro e pegando toda e qualquer nota que pudessem dar. Depois passou no estacionamento ao lado e pagou por mais um dia em que seu carro alugado estava estacionado lá. Não, não veio de avião ou ônibus e, quando partisse, teria de deixá-lo para trás. Havia o alugado com documentos falsos, então não seria um risco deixá-lo para trás.
Além de pagar, a mulher deixou a tinta dentro do carro e pegou o pote com algumas flores secas dentro. Sua coloração era violeta, quase azul, e seu aroma era delicioso. Porém, a flor era deliciosamente perigosa. Aconitum napellus, também conhecida como acônito, era famosa pelo poderoso veneno. Mesmo seca, sua toxicidade era fatal para os humanos. Foi muito difícil encontrar alguém que as vendesse nos Estados Unidos, mas Georgia encontrou em Las Vegas alguns meses atrás.
Quando voltou para o hotel, Gary a recepcionou com seu sorriso irritantemente radiante. Agora aquilo lhe dava nojo, mas ela retribuiu. Georgia tinha que adorá-lo, mesmo que quisesse estrangulá-lo com as próprias mãos.
— Boa tarde, Srta. Williams — ele falou, dando uma piscadela. Seu rosto pálido e jovem não indicava nenhum sinal de que o infeliz era um filho da puta assassino e estuprador de garotas.
— Boa tarde, Gary. Como está sua mãe?
— Como você...? — ele perguntou, seu sorriso vacilou.
— Eu descobri muitas coisas, O’Halloran — falou, com um sorriso sarcástico no rosto. — Mas não se preocupe, isso não faz diferença para o livro. Só as pessoas certas precisam saber.
— O que quer dizer com…?
— Como ela está? — Lincoln insistiu, forçando mais o sorriso.
Gary analisou seu rosto com a cabeça levemente inclinada. Seu maxilar não relaxava nunca, mas ele pareceu decidir que ela não era ameaça.
— Está ótima. Ela dormiu aqui no hotel esta noite, já está na sala dela.
— Perfeito. — sorriu. — Eu a entendo, sabe? Também sou fraca para bebida.
— Engraçado — Gary falou, estreitando os olhos. — Ela está mais do que acostumada.
— Mas ela não tinha comido nada, lembra? Ela mesma me disse.
Gary assentiu, digitando algo em seu computador, sem olhar para a garota. Percebendo que ele não diria mais nada, batucou os dedos no balcão de mármore.
— Queria agendar um horário na sauna.
— Hoje temos apenas o último horário disponível, às 20:40.
— Perfeito. — sorriu para ele. — Pode marcar.
Lincoln saiu desfilando para seu quarto. Quando estava longe de vista, olhou suas mãos trêmulas e a palma marcada pelas unhas. Soltou o ar com raiva e assim que entrou no quarto, usou novamente o travesseiro para abafar seus gritos. Ela não aguentava mais toda aquela merda, ela precisava sair dali. Mas não podia partir antes de terminar seu serviço.
tomou um banho demorado, passou creme em todo o seu corpo com cuidado exagerado, vestiu sua melhor lingerie e um vestido preto e justo. Juntou todas as suas coisas e deixou ao lado da porta, amassou uma quantidade de acônito e a guardou em um pequeno vidro, escondendo em seu sutiã. Deu um beijo na foto de sua irmã e a guardou na bolsa antes de sair do quarto.
Rebeca McDonna abriu a porta na segunda batida. O dia dela havia sido exaustivo, ainda sentia um sono absurdo depois de exagerar na bebida na noite passada. Georgia Williams estava parada do outro lado, com um sorriso lindo, um vestido sexy e uma garrafa de vinho tinto na mão. Sem pedir licença, ela entrou desfilando. McDonna suspirou, se não tivesse apagado no dia anterior, com certeza teria aproveitado o belo corpo da escritora.
— Nada melhor que um vinho para curar uma ressaca, não é? — Georgia comentou animada, enquanto preenchia duas taças com a bebida escura.
Ainda de costas para a gerente, ela derrubou metade da flor amassada que se dissolveu dentro da taça. Assim que guardou o vidrinho, sentiu as mãos de Rebeca na sua cintura e a respiração dela em seu pescoço.
— Acho melhor não — ela falou. — Não quero perder a chance de te aproveitar…
— Você vai — falou, se virando para a loira. — Se prometer um brinde depois.
Ainda na dúvida, Rebeca pegou a taça e deu um longo gole. Fez uma careta, mas pareceu não achar ruim. usou a desculpa de ser um vinho mais barato, por isso estava amargo. Mas em sua taça, o vinho italiano que pegou do restaurante com Luke estava deliciosamente doce.
Ainda tentando seduzir, sentou-se na mesa com as pernas abertas. Beca lambeu os lábios e se aproximou, finalmente beijando a outra mulher, matando o desejo que sentia há dias. Não havia nada de calmo e delicado no beijo, as mãos das duas passeavam sem controle por seus corpos. apenas sentia ânsia, mas Rebeca estava adorando. Puxando-a consigo, McDonna sentou-se em sua cadeira, deixando a outra garota em seu colo, enquanto ainda se beijavam.
Beca soltou um longo suspiro quando os dedos ágeis de Georgia afastaram sua calcinha e começaram a tocar sua intimidade molhada. Ela se contorcia na cadeira, mas junto ao prazer, uma falta de ar começou a incomodá-la.
— Sabe, Rebeca, eu acho que se eu tivesse um filho, também faria de tudo para protegê-lo — falou no ouvido da mulher, seus dedos saindo dela de uma vez por todas. — Mas eu não tenho filhos, eu tenho uma irmã. Ou melhor, tinha.
Rebeca arregalou os olhos, mas não conseguiu dizer nada. Sua garganta estava fechada e ela já não conseguia mais respirar. sorriu, fingindo inocência.
— Meu nome é Lincoln, irmã mais velha da , a garota que o seu filho matou aqui dentro desse mesmo hotel. — se afastou, começando a passar álcool isopropílico 70% em tudo o que tocou e organizando cada item. — Você acredita que, por um bom tempo, achei que tinha sido o Luke? E quando comecei a investigação, não imaginei que você fosse tão cruel ao ponto de realmente deixar o caso da minha irmã ser arquivado.
Rebeca tentou se levantar, mas caiu no chão. passou por cima dela e, agora usando luvas, começou a mexer no computador. Com facilidade, ela teve acesso às câmeras de segurança dos corredores e do saguão. Apagou permanentemente todas as cópias desde o dia em que chegou e desligou as câmeras por onde ainda iria passar. Ela sentiu a mão de McDonna agarrar sua perna, mas, com um leve chute, ela se desfez do aperto. Se virando para a mulher e agachando para observá-la mais de perto, deu uma última olhada para ela.
— Vocês se meteram com a família errada.
Com um terrível prazer, ela observou Rebeca sufocar lentamente, agarrando seu pescoço como se isso fosse fazê-la respirar novamente. Uma espuma branca começou a sair da boca da gerente enquanto seu corpo entrava em choque e começava a ter espasmos. usou um pouco mais de seu álcool para limpar do corpo da mulher qualquer resquício de si própria.
Confirmando que o corredor estava vazio, trancou a porta e saiu quase desfilando com as duas taças em mãos. Quando voltou ao seu quarto, as quebrou com uma toalha e jogou os cacos pelo ralo, não podia deixar provas ou rastros. Contudo, não se deixou relaxar, ainda faltava um.



Com uma toalha enrolada em seu corpo, desfilou apenas com suas pantufas até a recepção. Seu sorriso doce não entregava de forma alguma que ela havia acabado de assassinar alguém, mesmo que seu cérebro estivesse explodindo e seu coração acelerado estivesse prestes a sair pela boca.
— Gary, querido — ela falou com a voz doce. O garoto a olhou de cima a baixo e lambeu os lábios, boquiaberto. — Eu queria a sauna mais quente, mas não sei como mexer naquele controle, é tecnológico demais para mim.
— É só você…
— Vai lá comigo? — ela pediu, deixando sua toalha cair alguns centímetros, mostrando mais da parte entre seus seios. Gary engoliu em seco, mas a acompanhou até a área do spa.
Já dentro da sauna, enquanto Gary mexia no controle remoto, deixou sua toalha cair por completo e esperou que ele reparasse nela. E quando reparou, Gary deixou sua máscara cair. Seu sorriso, antes profissional e forçado, agora era malicioso, enquanto caminhava em sua direção. segurou a ânsia, mas o deixou tocá-la.
— Eu sabia que você queria isso — ele sussurrou em seu ouvido, agarrando seus seios e traçando uma trilha de beijos em seu pescoço. — Desde o momento em que entrou pela primeira vez por aquela porta…
— É, Gary, é isso mesmo — ela retrucou, revirando os olhos sem que ele reparasse. — Eu te quero muito. Por favor, me fode logo.
— Não precisa pedir duas vezes. — Ele se afastou dela apenas para tirar suas roupas apressadamente.
Enquanto ele se despia, se virou para mexer em suas coisas, com a desculpa de que queria prender os cabelos soltos. Ela ligou o gravador do celular e pegou o estilete que roubara da sala de Rebeca, o segurando com uma toalha em volta. Ao sentir O’Halloran abraçando-a por trás, se virou e, sem cerimônias, enfiou o estilete em sua barriga. O choque foi instantâneo no rosto do jovem quando colocou as mãos no local perfurado.
— Que… porra é… essa?
— Ah, desculpa, esqueci de me apresentar de verdade — ela respondeu, enfiando o estilete novamente, dessa vez mais fundo, o fazendo urrar. — Sou Lincoln…
— Irmã… daquela vadia…
sentiu seu corpo esquentar. Ela tirou o estilete e enfiou pela terceira vez com toda a sua força, o fazendo cuspir sangue.
— Você não tem o direito de chamá-la de vadia! — ela gritou, tirando e enfiando o estilete de novo. — Você estuprou e matou a Lincoln!
— Sim. — Ele riu com escárnio e a voz fraca, caindo de joelhos. Seu rosto suado se levantou, um sorriso maldoso surgiu em seu rosto. — E faria de novo, e mais uma vez… E faria com você também… Vadias como vocês... Não merecem respeito, muito menos ficarem vivas…
o chutou com toda a sua força, o fazendo cair para trás. Fincou o estilete nele uma última vez. Ela usou a toalha para limpar o sangue do homem de seu corpo e vestiu suas roupas. Quando terminou, viu que o garoto se arrastava para fora da sauna. Pisando em sua mão com o salto, o impediu e se pôs no meio da porta. Com um sorriso maldoso, ela fechou a porta e a trancou, colocando o calor da sauna no máximo e tomando cuidado para fazer tudo isso com uma toalha. Gary morreria da mesma forma que sua irmã.
— Isso é por você, — ela sussurrou, antes de se virar e o deixar para trás.



fechou seu notebook depois de editar seu áudio, deixando de fora a parte que ela falava seu nome, e colocou todas as provas nos pendrives, os colocando em envelopes já endereçados. Um iria para o jornal local, outro iria para a polícia local e, como segurança, um iria para a polícia de Dallas. Um último ela deixaria em algum lugar do hotel e a última cópia ficaria com ela. Lincoln olhou para o seu quarto impecável; o cheiro forte de álcool puro invadiu seu nariz, o que era um ótimo sinal. Nada naquele lugar poderia indicar que Georgia Williams era Lincoln, muito menos que ambas estiveram ali. Enfiando as toalhas e o estilete em uma bolsa, , fazendo seu melhor papel de Georgia, seguiu para o bar com toda a sua bagagem. Sua hospedagem terminaria apenas na manhã seguinte, mas ela não podia esperar.
Sem surpresa nenhuma, encontrou Luke terminando seu turno. Seu sorriso ao vê-la com suas malas indicava que ele provavelmente a esperava. Ela colocou os óculos e manteve a cabeça abaixada.
— Terminou seu livro? — ele perguntou, passando o pano no balcão. apenas assentiu em silêncio, observando os últimos hóspedes se retirarem. — Ótimo. Ficou sabendo o que aconteceu com Rebeca? Correram com ela para o hospital, mas ela não resistiu. Teve uma parada cardíaca.
Algo em seu rosto indicava que Luke sabia perfeitamente que ela era a responsável por aquilo. Mas também indicava que ele havia adorado.
— Mal posso esperar para ver o que fez com o filho dela — ele sussurrou, dando uma piscadela.
— Não vou ficar para ver sua reação — ela retrucou, agarrando a bolsa com mais força. — Preciso ir embora e você disse que iria me ajudar.
— Com todo prazer — Luke respondeu, tirando o avental e entregando para ela. — Veste isso.
estranhou, mas fez o que ele pediu. O homem desapareceu pela cozinha e voltou com dois sacos de lixo e dois pares de luvas, entregando para ela.
— Coloque suas coisas aí, use as luvas. Tem algum carro?
— Sim, a algumas quadras.
— Ótimo, me segue.
E assim ela fez, indo para os fundos com o homem. Luke a guiou pelas portas dos fundos depois de pegar suas próprias coisas. De vez em quando, murmurava para algum funcionário que ela era uma ajudante em treinamento e que precisavam apenas levar o lixo para fora. Já do lado de fora, os dois ouviram sirenes cada vez mais próximas. Agora era quem guiava Luke em direção ao seu carro. Para sua sorte, o estacionamento era 24 horas, então ela não teve problemas em pegar seu veículo.
— Deixe eu ir com você, podemos ir para nosso apartamento.
— E correr o risco de você sair como culpado? Nem pensar — ela respondeu, sorrindo para o homem. Ela havia se tornado um monstro, mas não podia arrastar mais ninguém para dentro de seus problemas. — Volte para lá.
— Eu não vou voltar para aquele hotel nunca mais — Luke falou, segurando o rosto da garota. — Você fez o que eu queria fazer há meses. Por favor, me deixe ir.
ponderou. Infelizmente, toda a sua confiança havia sido abalada há muito tempo e ela não conseguia mais confiar em ninguém. Com Luke não seria diferente. Entretanto, ele sabia de tudo e, se voltasse, poderia contar aos policiais; então ele precisava ir com ela.
ficou na ponta dos pés para beijar a bochecha do homem antes de entrar no carro com ele, jogando suas coisas no banco de trás. Ela seguiu em direção à estrada, enquanto seis viaturas da polícia corriam em direção ao hotel Houston Inn. Depois de duas horas, parou o carro em um posto no acostamento da estrada e pegou sua bolsa com as roupas, toalhas, documentos e demais itens que usou durante a hospedagem. Enquanto Luke abastecia o carro, foi para atrás do estabelecimento, molhou a bolsa com o resto do álcool e acendeu o fósforo, a jogando dentro de um latão. Usando o banheiro no local, pegou a máquina de barbear que comprou mais cedo e passou por seu couro cabeludo, deixando as madeixas caírem dentro de uma sacola. Ela pegou seus fios raspados e jogou a sacola no fogo, que ainda queimava.
Antes de voltar para o carro, foi até a loja de conveniência para comprar cervejas e pagar a gasolina. Dentro de seu sutiã, o pequeno vidro frio com o resto da flor seca incomodava sua pele. Ela voltou para o carro e entregou uma das garrafas para Luke, o observando virar o líquido e dar um longo gole.
— Amarga demais — ele reclamou, mas continuou tomando sob os olhos atentos de .
— Cerveja barata.
voltou a dirigir para longe, lançando olhares para o homem que, aos poucos, se remexia desconfortável no banco do passageiro. Luke começou a mexer em seu pescoço, tentando pedir socorro sem som algum. Sua voz não saía de forma alguma, assim como o ar não entrava. Em questão de minutos, Luke apagou do seu lado, sem respirar. parou seu carro no acostamento e, usando as luvas que o próprio homem lhe deu, ela puxou o corpo dele para fora do carro e o deixou o mais afastado que pudesse, torcendo no fundo para que alguém o encontrasse a tempo, sabendo bem que seria impossível.
Ela jogou parte da gasolina que havia comprado em cima do carro, fez uma trilha e, a uma distância segura, ateou fogo. Seguiu o resto da estrada vazia a pé, com as labaredas iluminando a madrugada.
Agora não havia nenhum resquício que a ligasse ao que ela fez. Ela era apenas Lincoln novamente.

Um mês depois.


Os raios de Sol do fim de tarde na Califórnia entravam de forma deliciosa pela janela, aquecendo o quarto de Lincoln. Seus dedos ágeis mexiam em seu notebook, procurando por notícias. Um dia antes, depois de deixar a poeira baixar e o noticiário esquecer sobre Georgia Williams, ela enviou os pendrives que faltavam (para os jornais) e esperou a bomba se espalhar. Agora que todos falavam sobre terem descoberto os verdadeiros autores do assassinato de Lincoln, ninguém mais se importava com a morte dos assassinos. O carro em chamas ajudou na teoria de que ela teria morrido carbonizada e que o responsável havia sido Luke, encontrado sem vida há uma distância considerável. Diziam que ele havia tirado a própria vida depois de tudo o que fez. sentia-se mal pela culpa ter caído toda nele, mas antes tivesse sido o cara que acobertou o assassinato de sua irmã do que ela.
O caso deles seria arquivado, enquanto o de era solucionado.
Os jornais pediram declarações a ela, mas tudo o que disse foi que estava muito abalada, mas feliz por sua irmã finalmente poder ter paz.
Sorrindo satisfeita para a foto de , colocou para tocar o novo álbum de Taylor Swift, a única outra coisa de que falavam além do caso do hotel. A primeira música do aleatório, por coincidência, era a que mais se identificava.

She thinks I did it but she just can't prove it
No, no body, no crime
I wasn't letting up until the day he
No, no body, no crime
I wasn't letting up until the day he
No, no body, no crime


— I wasn't letting up until the day he died.


FIM


Qual o seu personagem favorito?
: 0%
: 0%
Georgia: 0%


Nota da autora: Sem nota.

🪐


Nota da Beth Saturno: Ai como eu amo uma vingança muito bem executada. Mais do que isso, eu amo a sua escrita, cara. Como pode você arrasar em tudo que faz? AFFE, PATRICIA. Eu amei essa fic, tá? Você arrasou demais. ♥

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