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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: Agosto/2024.

Woodsboro, Maryland.


— E aí, o que você acha?
parou o seu Jeep no estacionamento deserto do campus do colégio e olhou para a garota ao seu lado com os pés apoiados no banco do passageiro. Ela tirou os olhos do celular, o olhando, e ambos compartilharam um sorriso sapeca. Um vento mais forte adentrou, fazendo com que os cabelos vermelhos dela esvoaçassem e ele não conseguiu tirar os olhos desse acontecimento.
— Acho que vai ser incrível, .
O silêncio perdurou por alguns segundos entre os dois. Eles se olhavam e Aurora sentiu seu coração palpitar mais forte com a troca de olhares mais demorada. Foi abrir a boca ao ver se curvar e pegar o aparelho celular que se encontrava no painel do carro, no entanto, o celular caiu das mãos do rapaz no chão do automóvel, e ele se curvou um pouco mais para alcançá-lo no escuro dos seus pés.
Um barulho no vidro fez com que os dois se sobressaltassem e olhassem na direção de onde vinha aquele barulho. Os amigos de gargalharam ao conseguirem dar um susto nos dois, e o rapaz abriu o vidro enquanto negava com a cabeça em desaprovação ao comportamento deles.
— Que merda vocês dois tem na cabeça? — disparou, levemente irritado com o susto que havia tomado.
— Relaxa, . Você e a Aurora estavam fazendo algo de errado? — um deles falou, enquanto sorria maliciosamente para a garota, que revirou os seus olhos.
O rapaz engoliu seco antes de responder.
— Mais respeito! — acrescentou ele rapidamente. — O que vocês estão fazendo aqui?
Aquela noite era uma das últimas antes da volta às aulas e, consequentemente, aos dias mais chatos da sua vida, como chamava o colégio, mas algo em seu coração o dizia para aproveitar aquele ano como se fosse o último, já que, no próximo, ele estaria em uma faculdade, em uma outra cidade.
— Nós estávamos praticando os 500m na pista — o outro respondeu, enquanto sorria. — Mas já estamos indo, tá tarde.
se despediu dos seus amigos com um aceno rápido com a cabeça, os viu andar calmamente em direção a um dos carros que estava por ali no estacionamento e logo o automóvel desapareceu na noite. Nem notou que se encontrava sozinho no carro, então saiu, batendo a porta e vendo Aurora parada próxima ao porta-malas. Sorriu.

— Não liga pra eles. São uns idiotas — falou, ao abrir e pegar a cesta com comidas que havia trazido. Aurora estava com uma mochila amarela nas costas e alcançou uma sacola com a toalha que usariam naquele piquenique noturno.
Andaram lado a lado, conversando a respeito de assuntos aleatórios, rindo um com o outro e aproveitando suas companhias. Ela, então, estendeu a toalha, e ele colocou a cesta. Logo ambos se sentaram.
— Você já contou? — ouviu Aurora questionar, no instante em que ficaram lado a lado.
— O que eu contei e pra quem exatamente? — Ele a olhou, rindo.
A ruiva observou as sardas no rosto do rapaz perfeitamente desenhado. Riu, mordendo o próprio lábio inferior, e negou com a cabeça.
— Pro seu pai. Sobre...
— Não falei ainda. — Se apressou em responder.
Certo silêncio se fez presente entre os dois e tirou algumas coisas que haviam trazido de dentro da cesta, enquanto pensava em relação à pergunta de Aurora. Ele teria mais cedo ou mais tarde que conversar com o seu pai. Seus pensamentos foram interrompidos pelo toque do seu celular.
— Merda, eu falei que desligaria. Desculpa.
A garota riu ao deitar-se de barriga para cima e continuou rindo ao ver o rapaz ao seu lado procurar pelo aparelho nos bolsos da bermuda que usava.
— Alô — atendeu, com certa impaciência em sua voz.
Tudo que pôde ouvir do outro lado da linha foi uma respiração estranha e uma ou outra palavra incompreensível. Franziu o cenho para o aparelho em sua mão e olhou o visor com a seguinte mensagem:

“NÚMERO BLOQUEADO”


— Ei, quem quer que seja, me liga de novo. O número tá bloqueado e não tá dando pra entender nada.
Assim, deixou o aparelho sobre a toalha, enquanto alcançava uma garrafa de água.
— Tudo bem? — Ouviu Aurora indagar. meneou a cabeça, enquanto bebia um gole do líquido.
— Deve ser uns dos meninos. Você sabe que o Alex e o Mike adoram essas coisas.
— Essa é a personalidade deles! — Riu.
Ficou mais à vontade, esticando as pernas ao lado da garota, e sorriu rapidamente ao olhá-la.
— E você, está ansiosa para Harvard?
O celular começou a tocar novamente. O mesmo aviso de número bloqueado aparecia no visor, e o rapaz voltou a franzir o cenho.
— Coloca no viva-voz — pediu Aurora, ao notar a confusão em sua expressão.
passou o dedo pela tela e fez o que ela havia pedido.
— Oi. Quem é?
— Oi, !
Um arrepio estranho lhe percorreu a espinha e ele engoliu seco instantaneamente.
A voz era estranha. Era rouca. Não lembrava ninguém que conhecia. Soava como algo que ele nunca havia ouvido.
— Desculpa, mas isso está muito estranho. Vou desligar.
Foi para apertar o botão vermelho que encerrava a ligação, mas a voz falou novamente:
— Se você desligar, eu corto a garganta da garota ao seu lado na sua frente.
Seu coração bateu tão forte em seu peito que chegou a doer.
Ele e Aurora se entreolharam. Ela, sentindo o corpo inteiro tremer depois do que havia ouvido. O coração da garota batia forte, e percebeu pela sua expressão, então pegou em uma das mãos dela.
— Fica calma. Pega o seu celular e ligamos para o meu pai — falou, apenas mexendo os lábios, não emitindo nenhum som.
?
Aurora concordou com um aceno.
— Tô aqui — respondeu para o seu aparelho, ainda em mãos.
Olhava para a garota, enquanto ela procurava pelo celular nos bolsos da mochila.
— Qual é o seu filme de terror favorito?
Aquela pergunta fez com que, estranhamente, o corpo do rapaz gelasse. Não soube ao certo por quê. No entanto, uma sensação ruim se apoderou. Tirou seus olhos da mulher e olhou para o aparelho.
— Eu não gosto de filme de terror. Quem é que está falando, porra? — Não soube dizer de onde, mas tirou coragem para usar aquele tom de voz com a pessoa do outro lado da linha.
— Sou o seu pior pesadelo, Riley.
— Como você sabe meu nome? Como você sabe quem eu sou?
— Você é muito famoso.
De fato, no colégio, ele era um rapaz bem popular, todos o conheciam. Viu Aurora começar a discar alguns números de canto do olho.
— Você é um fã? — Foi debochado.
— Da sua família.
— Me diz quem você é. Podemos marcar um encontro.
— Nós vamos nos encontrar, sim.
Uma gargalhada rápida foi ouvida no fim da conversa, a ligação abruptamente encerrada, e eles se entreolharam.
De repente, todos os postes ao redor do enorme campo de futebol foram apagando, um por um, como se as lâmpadas explodissem. Cada barulho era um susto diferente para ambos, que, no fim, se encontravam em um breu, com o coração batendo forte e a respiração ofegante. Ambos podiam ouvir suas próprias respirações.
— Que merda está acontecendo, ? — A voz de Aurora era exacerbada.
Lágrimas brotaram nos olhos da jovem mulher. Ela não precisava ser uma gênia para saber que as coisas estavam indo de mal a pior. Aquilo não era uma simples brincadeira.
— Vamos sair daqui! Rápido! — O rapaz se colocou em pé num pulo, puxando a garota pela mão e com as telas dos celulares ligadas. — Liga pro meu pai! Agora, por favor! — suplicou.
Aurora, trêmula, começou a mexer no aparelho, mas um barulho fez com que os dois voltassem seus celulares e atenções para frente. A sensação de que tinha mais alguém ali predominava em seus corpos.
Com a mão igualmente trêmula, virou a tela do seu aparelho para si e ligou a lanterna, a fim de ver o que estava acontecendo à certa distância dos seus olhos. A princípio, não viu nada.
— Não tem ninguém aqui — sussurrou, sem certeza. — Fica perto de mim. — Passou um dos seus braços pelos ombros da garota, a mantendo próxima.
Desse modo, começaram a andar lentamente pelo campo de futebol escuro. Seus pés pisavam em algumas folhas caídas no local, fazendo com que se assustassem com qualquer tipo de barulho, tendo em vista o silêncio que predominava. O único som que ouviam era das suas próprias respirações.
Mais um passo e o celular de Aurora caiu no chão. Pararam de andar imediatamente para que ela pegasse, e acompanhou com o olhar o seu movimento, mas, no segundo seguinte, algo brotou na frente dos dois, os assustando.
engoliu seco, reconhecendo a roupa e o pânico tomou conta do seu corpo ao ouvir um grito de Aurora com o susto.
Viu uma mão se levantar, portando uma faca, e ele não pensou duas vezes em seus próximos movimentos. Deu um impulso para frente, se jogando sobre, tentando parar, mas tudo que sentiu, segundos depois, foi a faca penetrando a sua carne. Um grito engasgado ecoou pela sua garganta, seguido de uma dor insuportável nas costas. Assim, caiu de joelhos no gramado, ouvindo o choro de Aurora e certo frio abraçando seu corpo.
! — ela gritou, com os olhos marejados e vermelhos, as bochechas cheias de lágrimas e o corpo travado, vendo aquela cena que parecia ter saído de um filme de terror. Não conseguia se mexer, não conseguia pensar.
O corpo do atleta caiu de costas no gramado com quem tinha feito tudo isso próximo a ambos. Parecia ser destemido, saber o que queria e não ter nenhum tipo de sentimento.
— Aurora, corre, por favor.
A voz de saiu entrecortada e fraca. Notou uma perna por cima de si e começou a sentir todo seu corpo ficar frio. Ele sabia o que iria acontecer, que fim teria, não iria de forma alguma conseguir sobreviver. Esperou pelo pior, mas a dor alucinante novamente atingiu sua carne, um pouco abaixo do ombro, e ele gritou.
Sua camisa branca estava tomada pelo vermelho do seu sangue, o gosto metálico era sentido em sua boca e certo enjoo atacou seu estômago, mas sabia que a sensação era de que seu corpo estava desistindo.
Seus olhos começaram a fechar e ele não conseguiu ver com clareza os próximos acontecimentos. Apenas viu vultos distantes, ouviu os gritos de Aurora e o som da faca a atingindo várias vezes. Aquilo parecia estar acontecendo com ele, o tanto que doía saber que ela estava perdendo a batalha.
— Ei, parado! — Ouviu alguém distante gritar, mas não soube dizer quem era.
As luzes se acenderam como um milagre, os refletores foram acesos um a um, e pôde ouvir passos se aproximando, enquanto ouvia tiros. Não teve forças para se mexer, a dor que sentia em seu corpo era gigantesca.
— O filha da mãe sumiu! Continuem procurando por ele! — gritou para os outros policiais, que saíram correndo. — , eu estou aqui, filho!
— Pai... — Ele tinha lágrimas nos olhos e levantou uma das mãos, procurando por ele.
— Não fala nada. Não faz nada. Tá tudo bem. — O mais velho puxou o mais novo para o seu colo, pegando em uma das mãos dele. Deixou que lágrimas escorressem pela sua bochecha. — CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! — gritou.
— Nós já chamamos, xerife. Eles chegam em 3 minutos — um dos policiais respondeu calmamente.
— A Aurora, ela... — murmurou.
O Riley mais velho levantou o rosto, notando o corpo de Aurora no chão. Estava tão desnorteado que não tinha conseguido prestar atenção em mais nada. Olhou para o lado e viu que um dos seus homens se aproximava e checava se a garota estava viva. Ele negou com a cabeça ao olhá-lo.
— Tá tudo bem, filho. Tá tudo bem. — O beijou na cabeça, mas com o coração apertado de preocupação.
— Ele me ligou.
Os sons da ambulância chegando já podiam ser ouvidos.
O xerife franziu o cenho.
— Quem te ligou? — Olhava para o filho em seus braços, que possuía os olhos fechados e a pele mais pálida do que o normal.
— Ele me perguntou qual era meu filme de terror favorito, pai.
O coração do mais velho quase parou de bater.
— Você viu a máscara dele?
Ele sentia o olhar do mais novo sobre si. segurou no uniforme do pai, o puxando, e sentiu uma lágrima descer pelo seu rosto.
— É o ghostface.



1 ano depois.

despertou dos seus devaneios quando o som fortíssimo de uma buzina penetrou em seus ouvidos e fez com que o rapaz desviasse do carro que vinha em outra direção na estrada. Por ter feito isso tão em cima da hora, pôde ouvir o outro automóvel passar rente ao seu e o condutor xingar. Não tirava a razão dele. Apertou o volante com toda força que reuniu e parou no acostamento, achando que seria mais seguro.
— Puta que pariu! — resmungou.
Apoiou a testa no volante e respirou fundo. Fechou os olhos e deixou que o ar entrasse pelas suas narinas e saísse pela sua boca bem devagar. Ao abri-los, após se sentir mais calmo, deu um pulo e um grito. Alguém vestido com a máscara do ghostface estava no banco de trás. Apertou mais o volante, sentiu a sua garganta secar e seus batimentos cardíacos aumentarem novamente, e, logo que se virou, olhando pra trás, não viu mais ninguém.
Com os olhos arregalados e o coração na boca, soltou a direção, sentindo as mãos suadas. Fechou os olhos novamente, no entanto, com certo receio de acontecer mais uma vez. Olhou pra trás e, de novo, não viu ninguém. Seu coração batia tão forte que ele achou que fosse passar mal, o calor naquela localidade chegava a ser insuportável na época do ano.
Julho.
Lembrou-se das palavras da sua psicóloga “Não tem nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.” Com as mãos trêmulas, o rapaz deu a partida no automóvel e olhou para o GPS, chegaria em alguns minutos, estaria seguro em...
Woodsboro.
Voltou a engolir seco quando mudou a marcha para que o carro acelerasse. Só estava voltando para aquela cidade, pois o seu pai se casaria novamente e fazia questão da sua presença. Aquele tempo longe fez muito bem a , por mais que tivesse pesadelos recorrentes e algumas visões, ele sabia que era questão de tempo até tudo acabar.
Enquanto dirigia, lembranças tomaram a mente do rapaz. Seu cérebro formou imagens ruins, do dia em que estava no campo de futebol com Aurora e do momento em que ambos foram atacados por alguém usando a máscara.
E ninguém havia acreditado nele. Seu pai, policial local, tomou o assunto como se tivesse sido um assalto com duas vítimas, uma delas fatal.
— Que merda!
A placa dizia “Bem-vindo a Woodsboro” e o total de habitantes que girava em torno de 950 pessoas. O local era pequeno, todos se conheciam, sabiam da vida um do outro e de tudo que acontecia o tempo inteiro, era quase impossível manter um segredo na pequena cidade situada em Maryland.
Passou pelo centro do município, onde havia alguns carros estacionados próximos a lojas de conveniência, mas logo dirigiu para outro lugar e não a casa do seu pai para onde iria depois. Assim que avistou o local, engoliu seco. Lembranças tomaram conta da sua mente. Sentiu os olhos arderem e apertou mais fortemente no volante do automóvel.
— Vim te visitar, Aurora. Eu nunca... — Negou com a cabeça ao desligar o carro e, ao fechar os olhos, sentiu uma lágrima escorrer, tentou limpá-la.
Deixou o veículo e caminhou em passos firmes. Seu corpo tremia, pois estar naquela cidade, respirando aquele ar, fazia com que sentimentos ruins apossassem espontaneamente de si. Passou pelo gramado do cemitério, por diversas sepulturas, e chegou até onde queria.
Um vento extremamente quente lhe atingiu e fez com que as lágrimas que escorriam pelo seu rosto secassem. Observou o local, sentindo um embrulho no estômago e pensando em como as coisas poderiam ser diferentes. Ao lado da data de nascimento, havia a data de falecimento de Aurora : 19/07/2022. Aquela data, mesmo há um ano, assombrava a sua vida.
Ajoelhou e colocou uma das mãos sobre o jazigo, fechando os olhos e sendo tomado por lembranças, momentos felizes com ela, como gostavam das mesmas séries e sempre conversavam e maratonavam juntos, como amavam dividir um milkshake de baunilha no Peter’s e como tinham regras na amizade, e uma delas era nunca dormir brigado com o outro.
Tirou os olhos do nome da amiga escrito naquele local e olhou pra frente, como se aquilo fosse ajudá-lo a se acalmar. No entanto, algo apareceu no seu campo de visão, atrás de uma árvore, um pouco distante. Em um súbito, se colocou de pé e forçou a vista, mas não obteve sucesso. Cabelos. Longos. Ao vento.
Ruivos.
engoliu seco, pela confusão que apossou do seu corpo e pelo calor intenso que fazia em pleno Verão. Deu alguns passos, sentindo seus pés fraquejarem, mas não hesitou. Se apressou e acabou tropeçando em um degrau que não havia visto. Por impulso, foi jogado pra frente, mas não caiu.
Seus olhos voltaram pro lugar de antes e não via nada. Nada. Ninguém.
Eu estou ficando louco. Só pode.
Esse foi o seu pensamento.
Passou as mãos pelo rosto e pensou que dirigiu por duas horas e se sentia um pouco cansado por tudo que havia feito no dia anterior da viagem. Dessa forma, caminhou em passos lentos de volta ao estacionamento e, assim que chegou próximo ao seu carro, um barulho fez com que se sobressaltasse.
Era o maldito celular. o tirou do bolso da calça com delicadeza, desde o acontecido há um ano, os toques de qualquer aparelho telefônico o deixavam afoito. Sentia seu coração palpitar e as mãos levemente suadas e moveu os dedos, os sentindo doer.

“NÚMERO BLOQUEADO”


Era uma piada. Com certeza era uma piada. Alguém ficou sabendo o que aconteceu e estava lhe pregando uma peça. Sua mão tremeu mais e, no instante em que foi atender, a chamada caiu, como se encerrassem. Riley engoliu, mesmo com a sua garganta seca e soltou o ar que nem sabia que estava prendendo.
O clima da cidade era quente, como de costume em Julho, mas a sensação era de estar um milhão de vezes mais quente. Um pingo de suor escorreu pelas suas costas e se manteve na posição, com o aparelho nas mãos. O mesmo toque começou, mas outra mensagem apareceu na tela.

“PAI”


Suspirou aliviado.
— Oi, pai — disse, assim que atendeu.
— Oi, filho. Já está em Woodsboro? Achei que fosse chegar mais cedo. — Ouviu a voz do mais velho e levou uma das mãos até a testa, fechando os olhos.
— Hm, cheguei. — Ao abrir os olhos, entrou no carro para que enfim saísse dali. — Eu chego aí em casa daqui a pouco, tá bom?
Apoiou a cabeça no banco do motorista e fechou os olhos novamente após desligar a ligação. Deixou o aparelho de qualquer jeito no banco do passageiro e respirou fundo. Pensou nas palavras da sua psicóloga.
“Não tem nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.”
Mentalmente, mudou algumas palavras, mas mentalizou quase a mesma coisa: “Você não viu nada ali. É coisa da sua cabeça. Siga em frente.”
Deu a partida e dirigiu. Ligou o rádio enquanto isso, fazendo com que a sua mente fosse tomada pela letra da música e deixasse o que havia acontecido pra trás. Ainda estava tomado pelas emoções quando estacionou atrás do carro da polícia do seu pai e, assim que desligou, o silêncio fez com que um barulho ensurdecedor de ambulância invadisse a sua cabeça.

— Levem-no ao hospital mais próximo. Ele foi esfaqueado e está perdendo sangue...
Aquela trágica noite ainda martelava seus pensamentos em flashs.
— Homem. 17 anos. Foi esfaqueado em um assalto.

Manteve sua cabeça apoiada no volante e fechou os olhos com força, como se aquilo fizesse com que as memórias desaparecessem, no entanto, não adiantava muito e sabia disso.
Um barulho no vidro fez com que um grito de susto escapasse entre os seus lábios e ele olhou na direção em que aquele som vinha.
— O que você está fazendo aí? Sai desse carro. — Seu pai abriu a porta, fazendo com que o ar quente de fora abraçasse seu corpo, e ele apenas concordou. — Oi, filho. — O xerife levou os braços ao redor do corpo do mais jovem.
se sentia confuso. O que havia acontecido no cemitério com o vislumbre de uma mulher ruiva, a chamada bloqueada na tela do seu celular, as visões no banco de trás enquanto chegava a Woodsboro, sua cabeça chegava a doer.
— Oi, pai — o mais novo sussurrou e acariciou o pai nas costas. Logo que se afastaram, o rapaz forçou o seu melhor sorriso. — Como você está? Como estão as coisas para o casamento? — Fingiu ânimo, sabendo que havia dado certo, afinal, o mais velho abriu um sorriso.
— Estou bem. Estamos bem. Depois você pega as malas, vem. Me conta como estão as coisas em Havard.
— Lionel, você precisa parar de encher o garoto de perguntas.
Uma voz feminina ecoou no ouvido do jovem Riley, e seus olhos foram diretamente na direção. Sorriu com aquilo e, em passos rápidos, se aproximou da futura esposa do seu pai e a abraçou. Eles sempre tiveram uma relação um pouco conturbada, tendo em vista que boatos surgiram na cidade a respeito do relacionamento dos dois ter começado, ou não, antes de Lionel ter se separado da mãe de .
Mas ele iria fingir ao máximo. Os próximos dias eram todos sobre puro fingimento.
— Bom te ver — afirmou, ao se afastar.
— Bom te ver também, garoto. — Sentiu as mãos dela em seu rosto, passando pelos seus cabelos e fazendo um carinho gostoso. — Vem que eu fiz a sua torta favorita.
O dia seguiu normal. Comeu a torta de maçã feita por Jennifer, que, a propósito, estava deliciosa, e pôde subir para o seu quarto depois de uma maratona de perguntas sobre a nova faculdade, que começaria em algumas semanas, e como estavam os seus treinos no atletismo.
Acordou na sua antiga cama algumas horas depois, com o susto de uma porta batendo e fazendo um estrondo dentro do seu quarto. Sentou-se e respirou fundo, focando em apenas um pensamento. Tão logo ele iria embora e não voltaria pra Woodsboro tão cedo.
Caminhou até o banheiro e jogou uma água gelada no rosto, aquilo sempre o ajudava a acordar. Andou até a enorme janela do seu quarto, viu que o céu tinha uma coloração alaranjada no horizonte e sabia que o Sol estava se pondo.
Depois de trocar de roupa, pegou o que precisava e desceu as escadas com as chaves do carro nas mãos e o celular. Assim que chegou ao andar debaixo, ouviu vozes na cozinha e reconheceu como sendo do seu pai e de Jennifer, sua madrasta.
— Oi — murmurou, ao se aproximar do batente da porta, e os dois o olharam. — Vou correr um pouco na pista de atletismo da universidade. Volto logo. — Rodou a chave no dedo indicador e se virou para sair.
— Se cuida. — Ouviu a voz do seu pai, tombou a cabeça pra trás e suspirou.
— Não se preocupe. O assaltante não vai me pegar.
Não se deu ao trabalho de olhar para o seu pai antes de sair. Bateu um pouco forte a porta da frente e correu até o seu automóvel, já rumando em direção ao campus da faculdade, local que não ficava muito longe de casa.
Aumentou o volume do rádio, abriu os vidros e deixou que Taylor Swift fizesse com que esquecesse, ou tentasse, os últimos acontecimentos daquele dia.
— ‘Cause the players gonna play, play, play, play, play. And the haters gonna hate, hate, hate, hate.
Logo que estacionou em um local vago, constatou que havia alguns carros no local, provavelmente de pessoas que trabalhavam na faculdade e estavam no campus antes das aulas começarem. O rapaz saiu, andou até o porta-malas e colocou o tênis e uma roupa própria a fim de correr mais confortavelmente.
Era irônico pensar que ele estava ali um ano depois. Naquele campus.
Sentiu um ar mais frio tomar conta do seu corpo ao se aproximar da pista, mas ignorou, sabia que aquilo era psicológico. Olhou o seu relógio e passou o dedo, deixando na opção em que marcaria o tempo da sua corrida.
Respirou fundo e fechou os olhos.
Ergueu os braços, sentindo seus músculos doerem um pouco, e tentou regular a sua respiração. Ficou na mesma posição por alguns segundos, logo os colocando para frente e depois puxando os pés e alongando as pernas. Focou no fim, ao abrir os olhos, os refletores acesos, a pista olímpica, era acostumado com aquilo, cresceu correndo naquelas pistas.
No entanto, não resistiu. Seu olhar caiu no campo de futebol e engoliu seco, sentindo um nó na garganta. Tentou imediatamente deixar pra lá aquele sentimento ruim que se formava em seu corpo.
Colocou-se em posição de aceleração, manteve as mãos na pista e os olhos abertos e vidrados no fim. Por mais que a noite já estivesse tomando conta, ele ainda conseguia ver o fim.
Um barulho fez com que ele olhasse por cima do próprio ombro, era o vento. Os galhos das árvores se moviam graciosamente, como se dançassem uma música calma.
— Foco, . Teu tempo tá uma merda. Você precisa melhorar isso — falou pra si mesmo, sabendo que só dependia dele.
Fez o que sempre fazia quando treinava. Manteve os polegares alinhados e levantou o corpo. Mentalmente, ouviu o tiro iniciando a corrida, sabia que o corredor atingia a sua maior velocidade entre 50 e 60 metros, e era quando ele dava o melhor de si.
Correu. Fez o seu melhor ao mover as pernas e os braços ligeiramente. Tentou manter a respiração no ritmo para que não se cansasse tanto. Momentos variados do dia de hoje apareceram em sua mente enquanto corria. Ao terminar, olhou no relógio de pulso, com a respiração ofegante, e fez uma careta com o seu tempo.
Voltou à posição inicial em passos rápidos, mesmo com a boca seca, a respiração ofegante e o corpo quente. Pensou que a última coisa que havia comido fora a torta de sua madrasta e sentiu fome, se sentiu mentalmente exausto.
Olhou novamente pro fim e sua vista estava levemente embaçada, mas ignorou, era algo que fazia regularmente. Ouviu o barulho de um galho quebrando e olhou na direção desse som com os olhos arregalados e seu coração palpitando.
Subitamente, se colocou de pé e deu uma volta, olhando para todos os lados, assustado, querendo saber o que era aquele maldito barulho. Um galho caindo? Um animal solto no campus?
O único som que conseguia ouvir era da sua própria respiração. Mordeu o lábio, com um único pensamento em mente: ir embora. Deu um passo e um barulho fez com um grito repentino escapasse dos seus lábios. Riley estava com o seu coração na boca, e seu celular tocava no bolso do agasalho de corrida.
Com uma das mãos levemente trêmula, o rapaz tirou o aparelho de lá. Demorou alguns segundos para conseguir tomar coragem e virar a tela pra si.

“Número bloqueado”


Engoliu seco, mas o celular não parava de tocar e aquele barulho estava o irritando. Sem pensar duas vezes, passou o dedo pela tela, atendendo a chamada e trazendo o aparelho até próximo à orelha.
Olá, .
Fechou os olhos no mesmo instante em que aquela voz distorcida entrou pelos seus ouvidos. Sentiu o batimento cardíaco ainda elevado, a boca seca e um arrepio percorrer todo o seu corpo.
— Você não é real. Você não existe. Não. Você. É. Coisa. Da. Minha. Cabeça — expressou em pausas, sua voz mal saiu pelo tamanho do seu nervosismo.
Uma gargalhada foi ouvida do outro lado da linha e o jovem rapaz sentia as suas pernas travadas, era como se os seus pés tivessem sido cavados naquele lugar. Uma leve tontura perdurou pelo seu corpo e olhou para os lados, em busca de um lugar pra ir, afinal não se sentia seguro.
Um segundo foi o suficiente para reagir e dar impulso pra frente com o seu tronco, seguido das suas pernas. Enquanto corria, tentava respirar pelo nariz, mas, pelo nervosismo, o ar entrava pela sua boca e ressecava a sua garganta. Tentou olhar por cima do ombro, contudo, nada viu.
Alcançou um muro de arame no fim da pista, depois da pequena grama, e escalou, com certa dificuldade, pois estava com o celular em mãos. Ao chegar ao topo, enroscou o seu pé e caiu lá de cima do outro lado, batendo o ombro ao encontrar o chão e gemeu de dor. Imediatamente, seus olhos percorreram o caminho que havia feito, mas não viu ninguém.
Com os olhos arregalados, a respiração ofegante e um latejar em seu ombro, o rapaz se levantou e correu, subiu um pequeno morro de gramado e chegou até o calçadão do campus, mas seu corpo se encontrou com outro corpo e ele foi jogado no chão.
Ao cair de bunda, olhou pra cima, assustado. Aqueles cabelos ruivos se movimentaram por debaixo do capuz por conta do vento noturno mais forte, e franziu o cenho. Sua mente demorou para entender o que estava acontecendo.
Sua boca estava quase pronunciando um nome, mas o garoto foi interrompido.
— Tá tudo bem? — Ela se aproximou um pouco mais, abaixando e tirando o capuz.
O loiro fechou os olhos rapidamente, logo os abrindo. Era como se a sua mente estivesse pregando peças. Piscou algumas vezes.
— Foi você quem vi no cemitério — ele sussurrou o óbvio.
A garota se colocou de pé, com um sorriso sapeca nos lábios, e pegou algo dentro do bolso do agasalho. Era um cigarro.
— Eu cheguei lá pra visitar a minha irmã e você estava lá.
— Você é... — franziu o cenho.
. Sou irmã gêmea da Aurora.


Continua...


Nota da autora: Sem nota.

🪐


Nota da Beth Saturno: Mano, e essa irmã gêmea, hein? Já sei que vai dar no que falar heheehehe. Aff, eu amo as suas cenas de tensão. Me senti totalmente paranoica que nem o Jake, coitado. Continua logo essa obra de arte!

Se você encontrou algum erro de revisão ou codificação, entre em contato por aqui.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.