Revisada por: Júpiter
Última Atualização: 26/03/2025Dois mil e quatorze.
Tinha se preparado para seu primeiro dia para andar pelas ruas de Busan. A ansiedade pulsava dentro de seu coração em saber que estava no local que mais desejou por toda sua vida.
Ela reconhecia os locais que via em fotos, filmes, k-dramas e, principalmente, pelas histórias contadas pelas a família de sua amiga, Thais. As duas eram como irmãs, se conheciam desde pequenas, era impossível não saber nada uma da outra. Morando no mesmo condomínio, tudo facilitou, principalmente para conviver com as histórias.
Ali estava ela, registrando cada passo que dava, cada árvore que avistava. Passou pelo Parque Nacional de Taejongdae, visitou algumas lojas locais e, em um momento de pausa, entrou em uma conveniência. Comprou algumas coisas para comer e logo enviou uma mensagem para Thais, que estava a caminho. Thais estava ali como estudante, pronta para viver essa nova experiência, e estava animada para acompanhá-la.
Aquela tarde era perfeita, convidativa a simplesmente admirar cada canto da cidade. decidiu esperar sua amiga a duas quadras da conveniência, onde desfrutaria de um bom café gelado e um lanche para saciar a fome. Depois, as duas iriam ao cinema, aproveitando uma programação especial só para amigas.
Rapidamente, Thais já estava lá, o rosto corado pelo calor e a leve corridinha que deu para atravessar a rua o mais rápido possível. abriu o sorriso ao ver a amiga.
— Oi, meu amor!
— Oi, . Gostou do passeio? Conheceu os pontos turísticos e Busan?
— Estou encantadíssima! É tudo tão mais bonito do que eu imaginava.
— Sabia que ia gostar, está tomando os devidos cuidados?
— Sim, pode ficar tranquila, estou verificando o tempo todo, não estou deixando de comer.
— Ótimo, assim me poupa meus cuidados. — Thais fez a amiga rir. Nunca negaria cuidados a sua amiga, muito menos quando o assunto era o açúcar do sangue desregulado.
tinha diabete tipo 1, tudo bem, ela vivia normalmente, mas com todos os controles possíveis e imagináveis, e Thais era seu braço direito, não deixava nada acontecer com ela, dito isso, essa foi uma das promessas que fez para os pais da amiga.
— Acha mesmo que ficaria sem meu controle de glicose, por favor, né — sorriu. — Vamos assistir qual filme mesmo?
Saíram da conveniência, a única compra feita por Thais foi alguns docinhos.
— Não sei, eu fiz essa escolha de última hora. Ao chegar lá a gente escolhe, como você se saiu falando aqui?
— Me acostumei com seus pais e avó, mas, nossa, eles falam mais rápido do que imaginei, eu consegui entender, mas quando eu falava, me sentia uma tartaruga.
Thais gargalhou, colocou a mão na boca para soar mais educado, ela tinha a certeza que aquilo ia acontecer.
— Eu queria tá junto só para ver todas as expressões, desculpa rir.
— A melhor amiga do mundo, sem comentários.
Caminharam mais um pouco e depois pegaram um transporte público.
O Busan Cinema Center, um dos poucos lugares que ela imaginou ir naquele dia. A arquitetura era majestosa; a cobertura com suas ondas chamou a atenção de e os grandes paineis de vidros que refletiam as luzes de Busan. Ao anoitecer, ela teria uma das lindas surpresas que o cinema guardava para ela.
O aroma tentador da pipoca a convidada e aqueles murmúrios das pessoas deixavam o ambiente mais animado. Seguiu Thais para todos os lados que ela ia, viu a amiga comprar dois pacotes de pipocas, os refrigerantes para elas e, claro, ela também comprou alguns chocolates.
— Eu estou sem palavras. — jogou fora o pacotinho. — Você viu? Eles usaram viagem no tempo, quem foca em viagem no tempo tão bem assim?
Era seu tema favorito.
— E é de época, mil oitocentos e nove, dá para acreditar nisso? Me lembrou tanto de Orgulho e Preconceito. — Seus olhos brilhavam.
— E ele todo amável com ela, e como ele a fez se sentir dentro da sociedade, isso foi tão lindo.
— Não me diga que você se apaixonou por mais um personagem.
— Bom, não seria novidade, seria?
— Não mesmo — sorriu. — Vamos ao McDonald 's ou quer ir em outro lugar?
— O Mc não é nada igual ao nosso, não é?
— Os lanches são bem diferentes, podemos ir até lá e depois — falou bem animada. — Vamos no Mc mesmo, eu preparo um jantar para você amanhã, o que acha?
— Por que eu discutiria? — riu. — Eu super aceito!
— Fica alguns minutos de espresso.
— Tá bem — disse, olhando para trás. O cinema, que era aberto ao ar livre, estava lindo, as luzes de LED passando calmamente pelo teto eram de se tirar o ar. Não tinha ouvido falar de como ficava a noite, apenas como o lugar era maravilhoso.
— Lindo, não é? Eu passaria bons tempos aqui só admirando.
— Sim.
— Mas vem, vamos acabar perdendo o espresso. — Ela se referia a qualquer trem de espresso.
O McDonald's não tinha só especiarias diferentes como também a decoração interna. se apaixonou pelo o local.
Thais explicou o cardápio para ela, ao mesmo tempo a compreensão da língua. escolheu um Bulgogi Burger, a batatinha e a Coca-Cola gelada não poderiam faltar, e Thay ficou com o de sempre — quando ela ia lá sem a amiga, um Shrimp completo também.
Se o primeiro dia já lhe encheu de felicidades ela só conseguia pensar nos outros dias.
Os dias se desenrolaram lentamente, como se o tempo estivesse em contemplação, enquanto a primavera de Busan revelava sua beleza. As árvores mostravam suas delicadas flores que exibiam uma paleta vibrante de rosas, brancos e lilases, dançando suavemente ao sabor da brisa suave; e os perfumes delas marcaram um capítulo lindo em sua vida.
Seu destino era o Museu de Arte de Busan e, pelo percurso, podia ouvir as doces melodia dos pássaros, o cheiro do tteok tão irresistível que comprou um pouco para comer enquanto ia para o museu.
Sua arquitetura era linda, delicada e contemporânea, combinava sua elegância e modernidade de forma harmoniosa. A atmosfera era tão envolvente que convidava os visitantes a explorarem o seu interior; o museu deixava seus espaços grandiosos para expor obras de artistas, a iluminação aconchegante, a boa disposição das artes.
estava parada em frente à uma arte, admirando. Olhava cada detalhe, se apaixonando mais pela obra, contudo, enquanto estava ali, sentiu seu corpo cansar e a sede chegar, ela umedeceu os lábios e respirou fundo para manter a calma; olhou em volta, procurando um lugar tranquilo para se escorar e aplicar a insulina que carregava consigo.
Caminhou sem levantar muito alarde, mas sua visão começou a ficar turva e sem querer esbarrou com um pouco mais de força em uma pessoa que estava apreciando as artes também, se desculpou de uma forma tão seca que odiou-se por aquilo.
— Ai, droga, eu não. — Molhou os lábios novamente. — Não consigo achá-la dentro da bolsa. — Estava tão fácil, mas o pequeno desespero a atrapalhava.
Aquela pessoa que ela esbarrou olhou na direção dela, percebendo que não estava bem, principalmente pelo modo que a garota se escorou no pilar. Com passos rápidos, ele andou na direção dela.
— Está tudo bem? Precisa de ajuda?
A voz do homem a despertou, sendo gentil e cauteloso. Ele não tocou nela, apenas ficou próximo, caso ela desmaiasse.
— Eu preciso achar minha insulina, se eu não aplicar logo…
— Posso procurar por você?
— Pode — disse, entregando a bolsa.
Ele pediu licença e mexeu na bolsa, a insulina estava dentro de um saquinho, junto do medidor de glicose — ela carregava um junto para evitar acidentes como aquele.
— Aqui — ele mostrou.
— Que alívio, você poderia aplicar? — o viu concordar com a cabeça. — Ótimo, pode aplicar aqui no braço, na região do tríceps. Só aplicar, não precisa ficar com dó.
— Muito bem, com licença — pediu ao subir um pouco a manga da blusa. Tirou a tampinha, e aplicou sem receio como havia recebido a instrução. — Demora muito para fazer realizar o efeito?
— Não muito. — Olhou para ele, foi o primeiro contato visual dos dois. — Se quiser, pode voltar a apreciar as artes.
— Não, fico aqui com você até melhorar. — Estava sendo solidário.
— Agradecida.
Ficou ao lado dela até perceber que estava melhor, a pequena preocupação era nítida nos olhos do moço.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, está se sentindo melhor?
— Estou sim, vou só medir minha glicose. — Pegou o glicosímetro e aferiu sua glicose, agora estava próximo de cento e trinta, o que era consideravelmente bom. — Enfim, estou melhor. Sabe algum restaurante aqui por perto?
— Tem um que é bom, eu gosto de ir lá. Fica a duas quadras daqui, você segue reto a rua do museu. — prestava atenção. — E vira sua segunda direita, logo você estará no restaurante.
— Ok, muito obrigada — sorriu. Desencostou-se do pilar e perdeu o equilíbrio levemente, seu corpo estava um pouco fraco ainda, então era compreensível para si. — Ai, que vergonha. — Colocou a mão sob a boca para rir.
— Não se preocupe, eu vou com você, se quiser, assim você não cai.
— Acho melhor não, já tirei seu foco das artes e fiz você ser temporariamente meu aplicador de insulina.
— E não me incomoda ter feito isso por você. Eu vou com você, tudo bem?
Respirou fundo, tinha a opção de negar, mas um outro lado a fazia querer aceitar. Sua refeição estava sendo muito bem equilibrada, entretanto não conseguiu compreender qual momento ela errou o cálculo e sua glicose alternou; esse era seu receio, de acontecer outra vez de ela baixar e por fim precisar ir ao hospital.
— Tudo bem, vamos, eu só vou fazer uma ligação no meio do caminho.
— Como quiser — sorriu. — Desculpe a falta de educação, sou Nam Joo-Hyuk.
Sabia que falar seu nome inteiro seria meio complicado para ele, então decidiu falar apenas…
— Pode me chamar de .
Sorriu gentilmente ao se conhecerem.
caminhou ao lado dele até o restaurante. Uma parte do caminho ela foi conversando com ele, até o momento em que chegou à frente do restaurante. Carinhosamente, Thais pediu para que ela mantivesse a localização do seu celular ligado, que qualquer coisa era para ligar para ela imediatamente, o que foi aceito por .
— Uma boa recomendação, eu amei o local.
— É sem dúvidas um dos locais que mais gosto de vir, a comida local e esse toque italiano faz toda a diferença.
— Vou concordar contigo, preciso vir aqui mais vezes.
— Fico feliz que realmente gostou daqui.
— E realmente gostei, passarei meus dois últimos meses vindo aqui.
— Dois últimos meses? — Joo-Hyuk olhou confuso e logo mudou de expressão.
— Não é isso que você está pensando. Meu Deus! Eu quero dizer que é meu tempo passando aqui em Busan.
— Ah — ele respirou, mais aliviado. — Eu já ia ser indelicado.
— Tudo bem, eu deveria ter me formulado melhor, eu estudei muito, mas às vezes eu confundo a forma de colocar as palavras.
— Mas você está se saindo bem, o seu sotaque é bem sutil, quase imperceptível.
— Muito obrigada.
Uma pequena pausa dramática pairou entre eles.
— Posso fazer uma pergunta? — questionou.
— Claro.
— Teria mais lugares bons e não tão populares para visitar?
— Sim. — Pensou um pouco. — Se quiser, posso te apresentar esses lugares, não se preocupe. — Já se adiantou. — Eu vou apresentar lugares movimentados e alguns bons foodtrucks para comer.
— Aceito, você salva meu número?
Aquele almoço de emergência foi um dos melhores para ela durante sua estadia de um mês e meio. Sua glicose havia se estabilizado e tinha voltado tranquilamente para o museu ao lado de Joo-Hyuk para terminar de ver as exposições.
Ao anoitecer, esperou sua amiga retornar do curso, ela estava prestes a pegar o certificado de chefe — e, assim, atuar legalmente no país, e com isso passava mais horas estudando do que no hotel simplório que elas dividiam. Ela contou sobre o ocorrido e como Nam Joo-Hyuk foi atencioso com ela, Thais se segurava para não rir, mas o nome realmente marcou para a mulher, ela já tinha lido em algum lugar.
Thais pesquisou na internet e voltou a olhar para a amiga, deixando-a ver as fotos em seu celular.
— E aí, é ele?
— Sim! — Estava impressionada. — Mas como você achou?
— Eu normalmente olho sempre as revistas da banca que fica perto de onde estou estudando, e a Songzio estava com destaque em uma delas, e ele era simplesmente a capa da revista.
— Um modelo.
— Você chamou atenção de um modelo de capa de revista, parabéns.
— Ow. — Estava toda ruborizada. — Por favor, vai com calma, ele só me ajudou.
— E pediu para ser seu guia. — Jogou uma almofada na amiga. — Eu vou dormir, vê se não vai dormir tarde para não chegar atrasada no ponto de encontro.
— Claro que não vou — revirou os olhos. — Parece minha mãe — comentou consigo mesma.
O despertador tocou e ela desligou, voltando a tocar depois de cinco minutos e desligou mais uma vez; ficou neste pequeno ciclo vicioso por duas vezes até o momento que pegou o celular e olhou a hora, estava atrasada! Thais acertou mais uma vez.
Levantou rapidamente para se arrumar, aferiu sua glicose e ajeitou sua bolsinha de primeiros socorros para uma garota de diabetes tipo 1.
Sem nenhum oi, a conversa delas era infinita, nunca tinha um oi ou então boa noite, foi uma péssima mania que elas adquiriram.
Ele estava sentado no banquinho que ali tinha, esperando chegar.
— Oi! Me atrasei, desculpa.
— Oi, não tem problema — deixou um sorrisinho de lado escapar. — Pronta?
— Sim, e pode ter certeza, dessa vez não vou passar mal.
Eles riram.
Um dos primeiros locais que ele a levou foi na rua do Mercado de Jagalchi, era um dos lugares bem falados, mas o objetivo do Joo-Hyuk era mostrar as ruas ao redor, onde se escondiam as melhores comidas e souvenirs.
— Você vai gostar aqui — disse Joo-Hyuk com um sorriso radiante, iluminando ainda mais o ambiente. — Este é o maior mercado de frutos do mar da Coreia do Sul.
estava maravilhada com o mercado, as barras coloridas com os vendedores exibindo suas mercadorias: peixes, moluscos e crustáceos frescos; alguns foram pescados na hora e podia se escutar as histórias dos pescadores sendo contadas para os clientes enquanto eles escolhiam.
— Vamos experimentar algo? — Joo-Hyuk sugeriu, a guiando para uma barraquinha depois que ela concordou. — Aqui, você pode provar o melhor peixe fresco da cidade.
assentiu, um misto de empolgação e nervosismo. Eles se aproximaram da barraca, onde um homem idoso, com um sorriso caloroso, começou a preparar os pratos. Joo-Hyuk conversava animadamente com ele em coreano enquanto observava, fascinada pela fluência e pela conexão entre eles.
— Isso é sashimi de polvo! — Joo-Hyuk disse, servindo um pedaço para . — Você vai gostar.
Com um pouco de hesitação, ela pegou o sashimi, era a primeira vez dela experimentando a iguaria. Respirou fundo e tomou coragem, mastigou com cuidado e a explosão de sabores invadiu sua boca, era muito melhor do que imaginava.
— Isso é incrível, senhor. — Olhou para ele. — Está muito bom, muito bom mesmo.
— Obrigado.
Eles fizeram reverência e ela continuou a andar ao lado dele. Nam ia explicando todos os lugares, entrando em algumas ruas e falando dos pratos que eram mais vendidos e algumas histórias engraçadas que aconteceram no local. Os dois estavam se sentindo tão bem juntos que não viram as horas passarem, era prazeroso ter ao seu lado. O olhar doce e a atenção dela para todas as palavras deixava o dia todo mais memorável.
— E ali — Joo-Hyuk apontou para uma pequena loja — é onde fazem o melhor tteokbokki da cidade. Vamos lá!
Eles entraram na loja, onde o aroma picante e adocicado do molho de Gochujang os envolveu. assistiu enquanto o cozinheiro preparava os bolinhos de arroz, sua habilidade impressionante fazendo com que ela se sentisse em casa. Joo-Hyuk pediu uma porção e, enquanto esperavam, ele começou a compartilhar histórias de sua infância, momentos em que visitava o mercado com sua família.
— É um lugar especial para mim — ele confessou, olhando nos olhos dela. — Espero que você sinta a mesma conexão.
— Obrigada por me mostrar isso — ela disse, enquanto mordia um pedaço de tteokbokki, o sabor explosivo fazendo-a sorrir. — Estou amando cada momento.
— Sabia que ia gostar daqui. — Olhou o relógio. — Sei que comemos muito bem — tirou uma risada sincera de —, mas vamos almoçar?
— Sim, por favor.
Começam a andar.
— É um restaurante local daqui, ele fica meio escondido entre as barracas, mas é um dos melhores.
Ela balançou a cabeça, compreendendo a explicação.
Realmente ficava entre as barracas. O restaurante era simples e ao mesmo tempo aconchegante, o aroma da comida se espalhava por todo o local. Sentaram-se em uma mesa e Joo-Hyuk fez questão de pedir os pratos para eles.
— Você precisa experimentar o Sundubu Jjigae e o Grilled Mackerel. Eles são incríveis aqui — Joo-Hyuk recomendou, seu entusiasmo contagiante.
— Vamos pedir isso, então! — sorriu, sentindo-se animada.
Enquanto esperavam o garçom trazer os pratos, foi até o toalete para aferir sua glicose: tudo certo, ela estava bem e não teria com o que se preocupar. Retornou à mesa e bebericou um pouco da água.
Nam começou a contar sobre a cultura local e algumas histórias sobre o prato. Ele falava com paixão, e se sentia cada vez mais envolvida não apenas na comida, mas também na riqueza da cultura coreana.
Após a refeição, Joo-Hyuk pediu a conta e, enquanto saíam, sentiu-se grata por cada instante vivido naquele dia. O Mercado de Jagalchi e o Sujeong Sikdang se tornaram lembranças queridas, marcando o início de uma nova fase em sua vida em Busan, ao lado de alguém especial.
Após um almoço delicioso no Sujeong Sikdang, e Nam Joo-Hyuk decidiram dar um último passeio pelo Mercado de Jagalchi antes de se despedirem do dia. O sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa, criando uma atmosfera mágica ao redor deles.
Ele a convidou para passar em uma das barraquinhas de doce que estavam no final da rua. A senhora era simpática e abriu um sorriso ao ver o casal — não de namorados, é claro — se aproximar da sua barraca. Animada, ela explicou cada doces, e, por vontade, escolheu hotteok e bungeoppang, que foi a melhor escolha.
— O que achou?
— Isso é simplesmente maravilhoso!
— É um dos meus milhares de doces favoritos — sorriu.
Enquanto saboreavam os doces, a conversa fluiu naturalmente, e a conexão entre eles se tornava cada vez mais evidente. O dia estava chegando ao fim, mas a sensação de que algo especial estava começando se fazia presente.
Com o céu agora estrelado, Joo-Hyuk olhou para .
— Eu realmente gostei de passar este dia com você. Espero que possamos fazer isso mais vezes.
— Eu também! Foi uma experiência incrível. Obrigada por me mostrar tanto da cultura coreana — respondeu, sentindo-se grata.
— Posso mandar mensagem? Para podermos sair e conhecer outros lugares, eu me empolguei com o mercado hoje. — Passou a mais nos cabelos enquanto falava, era tão lindo.
— Claro, e aí marcamos em um horário agradável para nós.
— Com certeza.
— Até mais, boa noite, .
— Boa noite.
Estava tão abobalhada com seu dia que até esqueceu de responder sua amiga, mas tudo bem, logo desceria do ônibus e poderia compartilhar seu dia com a garota.
Os meses passavam, perfumados como as flores de primavera de Busan. Joo-Hyuk e passaram a conhecer Busan quase que por inteira, havia dias que ele trabalhava e marcava para um horário após as sessões de fotos e testes, já outros, Thais ia juntos com eles, não atrapalhava como ela achou de início, na verdade, ela gostou de conhecer a cidade natal de sua família atrás do olhar de um morador local.
Os dois se abriram por um pequeno amor que nasciam entre eles, por receio, Joo-Hyuk não contou nada para ela, pois em uma tarde ensolarada ela contou que estava lá apenas para conhecer e que voltaria sozinha para o Brasil. Talvez, fosse só um doce engano do destino trazer uma garota do outro lado do continente, o deixando com um amor bem caloroso em seu coração.
Em seu último dia em Busan, estava na sacada admirando o mar; as ondas se mexiam lentamente e traziam uma brisa refrescante. Seus olhos se enchiam de lágrimas por saudades que já estava sentindo. Com a mala pronta, ela faria o check-in na recepção junto de sua amiga. Thais agora se hospedaria em uma pequena casa, assim passaria os dias mais tranquila em relação ao tempo que passaria estudando.
Aeroporto de Busan.
olhava o aeroporto na esperança de ver Joo-Hyuk, ele tinha dado sua palavra que estaria lá, entretanto, no dia anterior, ele estava vindo diferente, conversava bem pouco com ela e mínimos sorrisos eram expressos por ele.
— Procurando ele ainda?
— Só para ter certeza.
O painel piscou, mostrando que seu voo já solicitava que os passageiros fossem para o portão de embarque.
— É a sua deixa.
— Acho que é — suspirou. — Se cuida, Thay, não me faça voltar para cá correndo.
— Você volta que eu sei, e nem é por mim. — Thay a envolveu em um abraço e ria junto dela. — Vai me avisando tudo, tá bom?
— Pode deixar, eu aviso todas as paradas.
— Perfeito, dê um beijo nos meus pais.
— Com toda certeza!
— Até em breve, .
— Te vejo em breve, te amo, Thay.
Ela chorou, chorou por saber que ficaria mais um tempo longe de sua amiga, e tentar intercalar os horários para contar as novidades seria complicado.
As pessoas que estavam no aeroporto começaram a sair da frente e olhar o garoto que corria desesperado até o portão de embarque. Nam Joo-Hyuk estava atrasado! Seus olhos percorreram o painel onde mostrava que o voo para Brasil já estava fechado; apoiando suas mãos em sua cintura, ele retomava o fôlego e o peso da sua escolha caía sobre seus ombros naquele início de tarde.
Dois mil e vinte quatro.
São Paulo. Como essa cidade consegue ser linda, inquieta, conquistadora e desafiadora.
Dez anos se passaram, estava com sua faculdade de moda concluída, o diploma ficava pendurado na parede da sala de sua humilde quitinete. Pequena e aconchegante com toda a elegância que carregava seu nome, só conhecia a casa nos finais de semana onde dormia, estudava e passava um bom tempo conversando com a Thay e assistindo seus doramas.
Domingo estava naquele clima padrão de preguiça, a chuvinha caía contra a janela, o balde de pipoca vazio ao lado dela no sofá, o cobertor a cobria por inteira e só se mexia quando recebia uma mensagem de sua amiga.
Arrumou-se mais um pouquinho no sofá, tirando o balde, e deixou o celular em cima da mesinha ao lado do sofá. Aos poucos, foi caindo no sono ali mesmo.
O canal de streaming notificou se alguém ainda estava assistindo e ela permanecia no seu sono mais profundo.
Sentiu sua pele se esquentar e a claridade incomodava seus olhos. Aos poucos, foi despertando. Seus olhos passaram por todo ambiente, identificando como que estava: a televisão da sala ainda ligada com a mensagem no visor, a cortina bem aberta e o celular na mesinha. Esticou a mão para pegá-lo e verificar o horário. Que azar, o aparelho estava descarregado e forçou-se a se levantar para ver o horário no relógio de parede da cozinha.
— Puta que pariu! — Sua expressão não foi das melhores, e nada como um palavrão para expressar todos seus sentimentos. — Eu estou mais do que atrasada!
Deixou o celular carregando e se arrumou. Fez tudo rapidamente, pegou o carregador portátil, deixando seu celular dentro da bolsa. O coque escondia um cabelo todo descuidado de uma boa noite de sono. Correu até o ponto de ônibus e pegou o primeiro que fosse para o último ponto antes da estação; mexeu dentro da bolsa, procurando o cartão e passando na catraca; mais uma corrida de uma pessoa que necessita de um metrô todo lotado.
Agora, respirando mais calma, ela se encaixou em um cantinho da divisa dos vagões e ali mesmo começou a se maquiar. Não gostava muito disso — na verdade, ninguém gostava de ter que fazer isso, mas não iria para o trabalho com sua cara capenga.
Bellini Luxe, era um espaço que emanava sofisticação. Na entrada, o nome de Sofia Bellini se destacava em letras grandes sobre o balcão de recepção, dando as boas-vindas a todos que cruzavam a porta. À direita, um corredor elegante levava às salas dos diferentes setores, cada uma com sua própria porta de vidro, revelando um vislumbre do trabalho criativo que acontecia ali.
Sua mesa, grande e de vidro, ficava de frente para a porta, permitindo que ela tivesse uma visão clara do movimento na sala. Sobre a mesa, havia um laptop sempre aberto, cercado por cadernos repletos de esboços e anotações. Canetas coloridas e tesouras de alta precisão estavam organizadas em um suporte elegante, prontas para serem utilizadas em qualquer momento de inspiração.
adorava esse espaço, que não apenas refletia seu estilo pessoal, mas também era um testemunho de sua dedicação e paixão pela moda. Era ali que suas ideias ganhavam vida e onde ela sonhava com as próximas grandes inovações da Bellini Luxe.
Sentou-se em sua mesa depois de pegar um café na cozinha. Estava prestes a começar seu trabalho, quando Sofia apareceu na sua porta, uma única batida e ela entrou.
— Está atrasada.
— Mil desculpas. — Colocou a caneca ao lado do laptop. — O metrô estava… — suspirou para dar mais credibilidade — insuportável de tão problemático.
— Sim, sim eu vi. — Ajeitou o óculos, olhava para o seu tablet. — Preciso fazer uma reunião, preciso que você esteja na sala daqui a dois minutos.
— Estarei lá — sorriu educadamente.
Esperou a mulher se retirar da sala para poder respirar, aliviada.
— Puta merda, o que está acontecendo no metrô que ela viu? — Desbloqueou o celular e pesquisou. — Nossa, que dia! Ou eu tirei a sorte grande ou é outra coisa.
Um vagão havia desencarrilhado e outro quebrado, tudo ao mesmo momento, e causado o maior alvoroço. A linha não tinha mecânicos à disposição na hora. Sorriu com sua pequena sorte de conseguir um álibi sem ao menos saber que teria e se encaminhou para a sala de reunião.
A sala de reunião era um espaço elegante e funcional. As paredes eram revestidas com paineis de madeira escura, conferindo um ar de sofisticação. Uma mesa grande e retangular ocupava o centro, cercada por cadeiras estofadas que ofereciam conforto durante longas discussões. As janelas amplas permitiam a entrada de luz natural, criando um ambiente iluminado e inspirador.
Sua curiosidade alastrava por toda sua mente. Escolheu uma das cadeiras que ficaria no centro da mesa, de frente para a janela. se acomodou na cadeira, esperando os outros membros da equipe. Reconheceu alguns rostos ali, Julio e Paula, os principais, que sempre iam para as viagens externas da Bellini e ela nunca era chamada. Seu coração palpitou ainda mais, queria saber qual o motivo de ela estar ali.
Todos pareciam ansiosos, trocando olhares e cochichos enquanto aguardavam a chegada de Sofia.
Finalmente, a porta se abriu e Sofia entrou, sua presença imponente imediatamente chamando a atenção de todos. Ela era uma mulher de negócios, com um olhar afiado e um senso de estilo impecável que inspirava respeito. admirava a forma como Sofia conduzia as reuniões com firmeza e clareza, sempre mantendo a equipe focada e motivada.
— Bom dia a todos! — Sua voz suave ecoou pela sala. — Estamos caminhando para nosso desfile e precisamos garantir que tudo esteja perfeito!
— Será mês que vem, certo? — Paula questionou, olhando as informações em seu tablet.
— Correto. Preciso que tudo esteja pronto até lá, quero que passe por mim todos os preparos. Como está a criação do cenário, Paula? — Olhou para Paula.
— Fluido perfeitamente bem. — Conectou seu aparelho no projeto. — Esse é nosso moodboard, como vamos trazendo o ar tropical do Brasil, pensei em algo nesses estilos, trazer tons mais pasteis, remetermos à nossa flora. — Passava cautelosamente os moodboards. — Para a passarela, coloquei areia e um pouco de água que ficaria tudo bem cercado, e aqui usariam um tecid…
— Desculpa, interromper. — se inclinou para mais perto da mesa. — Eu amo a ideia, Paula, e tenho certeza que a Sofia também, mas vamos estar trabalhando com modelos que não estamos acostumadas, Julio já falou que não conseguiu um acordo de levar as nossas modelos.
Bellini tinha imposto uma regra clara para todos os funcionários: caso quisessem ver o desfile dela ser deslumbrante, deveriam deixar mulheres de verdade desfilarem. Seus designs não eram feitos para um único estereótipo de corpo. Julio, que administrava todas as modelos, amou a ideia e tomou a frente desde o início.
— E não é duvidando do profissionalismo delas, mas será que elas conseguiriam desfilar em nossa passarela assim?
— Pensei a mesma coisa, sua ideia é brilhante — disse em um contexto só, desde a passarela, disposição das cadeiras e até o cenário. — Só não consigo imaginar se isso vai dar certo lá.
— O que você sugere? — Paula começou a refletir sobre a ideia, não se sentiu ofendida, mas a zona de conforto a atrapalhou um pouco. — Eu posso deixar apenas a água, sabemos que isso é mais “comum”.
— Ótimo! — Sofia aprovou. — Julio, é oficial mesmo?
— Eles são insuportáveis! — revirou os olhos. Sofia amava o jeito sincero e seco de Julio. — Mas continuarei tentando, entretanto, as modelos continuam sendo aquelas.
— Algo a observar ou acrescentar? — Lucas deu uma pequena alfinetada. Ele era o fotógrafo oficial da Bellini, que mantinha as fotos impecáveis no site e nas redes sociais.
— Não, são modelos lindas, mas as nossas são a beleza brasileira.
— ? — Sofia apenas falou seu nome, ajeitando os óculos e esperando o pronunciamento da mulher.
Os batimentos cardíacos aumentaram, sua mão suou frio. Estava acostumada a conversar com ela, mas quando ela apenas dizia seu nome, o frio na espinha surgia como se fosse seu primeiro dia lá.
— Sofia, eu realmente acredito que estamos no caminho certo.
— Em relação à água…?
— Sim, temos que ajustar isso adequadamente, não vou deixar passar. O local onde vamos deixar nosso desfile é no stage quatro. — Enviou um e-mail para todos. — Eu encaminhei para vocês o local, com e sem todo o cenário que a Paula criou. Claro, sem contar as novas mudanças que planejamos.
— Isso está muito bem estruturado. Paula, deixa eu te perguntar: como você construiu a iluminação? Preciso de algo que realce as roupas e as modelos.
— Eu pensei nisso, meu bem. Coloquei um tom quente que, ao mesmo tempo, realça os tons pasteis do cenário, e, não se preocupe, teremos aquele jogo de luz para as lindas modelos — sorriu ao ver que Lucas aprovou.
— Agradeço por termos a melhor equipe — Sofia falou, relaxando na cadeira e segurando sua caneca. — Eu queria fazer um pronunciamento. — Tomou a bebida e evitou fazer uma careta. — Não vou comparecer em Seul para o desfile.
— O quê?! Como não? — Paula questionou, incrédula.
— Tenho um evento mais importante que este, então quero que tudo esteja pronto até… — verificou a data no aparelho — daqui a duas semanas, esse é o tempo ideal para podermos ter tudo preparado.
— Du-duas semanas?
— Paula, calma. — olhava com ternura, tentando passar tranquilidade. — A gente consegue, como sempre.
— Eu só tenho uma dúvida — Julio começou a falar. — Se a Mademoiselle não vai, quem irá representar a Bellini Luxe?
— Que pergunta. — Se levantou. — A . — Sua expressão sugeria que a resposta era óbvia. — A reunião está terminada.
As palavras ecoaram pela a sala, sua visão ficou turva e apenas aquele copo de água na sua frente seria suficiente para ela naquele instante. Sofia já havia se retirado da sala, Paula abanava e Julio trazia mais um copo de água, suas ideias se embaralharam como um emaranhado de linhas ao tentar a primeira costura.
— Será que ela falou sério? Eu tô achando que a vodka estava mais forte dessa vez — comentou, desviando o olhar para o horizonte do jardim.
— Ah, gata, é você! Ela não ia dizer isso à toa, não — Julio respondeu, com um sorriso maroto, como se estivesse segurando uma revelação bombástica.
— Julio, não faz sentido ser eu.
— Poxa, sete anos de empresa! Você entrou como estagiária e se mostrou uma profissional incrível. Não vai aceitar esse reconhecimento?
— Não é questão de aceitar, Julio.
— Ah, claro! Desculpa, me confundi com aquele ali na esquina, né? — ele brincou, piscando um olho e fazendo um gesto exagerado. — Vamos lá, você merece isso, e todo mundo sabe!
— Concordo plenamente. — Paula encostou-se na mesa. — E agradeço a você não fazer mais perguntas.
— Agora, vamos celebrar esse reconhecimento. Que tal um happy hour mais tarde?
— Hmm, pode ser! — respondeu, sentindo um calor no peito. — Mas só se você prometer que não vai me deixar sozinha com a vodka dessa vez.
— Fechado! — Julio riu. — E, se precisar de um colete salva-vidas, eu estarei lá.
riu, acompanhada dos outros colegas de trabalho. Aquela noite seria longa depois do expediente, e ela já passou a planejar todo o cronograma deles. Como uma apaixonada pela culinária coreana, ela escolheu também um restaurante coreano.
Deixou o projeto de lado temporariamente e desbloqueou o celular.
O grupo era apenas deles quatro, como um quarteto fantástico de happy hour, não deixavam de passar uma.
: “Mas é isso mesmo, você acha que vou fazer algo sem churrasco e soju?!”
: “Eu, hein, tá me estranhando.”
Pa: “Eu topo! Lá é maravilhoso, já sinto o cheirinho daqui”
Julio: “Nada mais me surpreende vindo da .”
Julio: “Saio mais cedo hoje, mas espero vocês no hall”
Pa: “Claro, senhor, suas entradas mais cedo vão te custar caro ainda.”
colocou a mão na boca para conter mais ainda a risada. Julio tinha xingado Paula, que deixou a amiga rindo da discussão, pareciam dois irmãos tanto na fisionomia, quanto no gênio, era inacreditável.
Por fim, o relógio marcava dezoito horas em ponto. salvou seu projeto e desligou o laptop. Pendurou a bolsa em seu ombro, saiu desligando a luz e fechando seu escritório; a cada porta que ia se fechando, seus colegas iam se aproximando dela, andando ao seu lado. Julio estava no hall, como prometido, esperando o trio.
— Bateram o ponto? — Julio lembrou.
— Claro, não somos um insuportável — Paula disse, segurando no braço do amigo.
— Vamos logo, então — revirou os olhos. — Só espero que não tenha mais gente inconveniente como você lá.
— Meu Deus, vocês não se cansam, não? Eu seria maluca para falar que vocês se amam, se eu não soubesse que você é gay — disse , amarrando seu cabelo. — Vamos a passos rápidos, estou morrendo de sede.
— Vamos lá!
O ambiente estava começando a ficar movimentado. Os quatros amigos esperavam a host retornar a atenção para prosseguirem o atendimento.
O aroma da carne de porco sendo aquecido na churrasqueirinha aumentou a fome deles. Ajeitaram-se à mesa e fizeram o pedido das carnes e bebidas. Por uma pequena influência, pediu uma água com gás, gelo e limão. Desde que começou a assistir os vídeos do rapaz, ela não deixou mais de lado essa bebida.
— Isso é muito bom, nossa! — Lucas comentou, cortando mais pedaços de carne. — Como pode uma culinária ser tão rica.
— A minha amiga, Thais, me acostumou mal desde cedo, a tia fazia dois lanches para a escola, o meu e o dela, e era tudo essas delicinhas. — Movimentou a mão em círculos em cima dos banchans. Não era exatamente aqueles, mas ela demonstrou que era apenas a culinária que estava presente no dia-a-dia desde a infância.
— Foi ela que abriu um restaurante lá, não é? — a amiga perguntou.
— Isso mesmo, fica em Busan, podemos ir lá, sei que vamos ser bem recebidos.
— Eu já sinto o sabor, o som de Busan, as luzes de Seul. — Paulinha estava viajando acordada.
— Achei que era a que era apaixonada por lá.
— E sou, Julio, mas eu acho que fiz alguém amar também.
— Amar! Hm! — Fez o som com a boca ao comer um pouco de kimchi. Deu um pequeno pulinho na cadeira e virou mais para . — Eu já mostrei meu mais novo amor?
— Não, me mostre.
— Paula, você tá irreconhecível! — Julio tirou risadas sinceras de todas.
— Ignora ele, olha, você o conhece?
pegou o celular da amiga e olhou para a foto do mais novo amor dela. Seus olhos arregalaram e se engasgou com a água, não foi o broto de soja que comeu e sim a foto.
— Ai, meu Deus, você está bem?
— Sim, calma. — sorriu amigavelmente. — Foi só o broto de soja, mas conheço sim, ele é lindo: Nam Joo-Hyuk.
O nome dele ainda causava grandes palpitações em seu coração. Parecia que foi ontem que eles haviam se conhecido; saudades e amor andavam lado a lado e queria ao menos não ter perdido o número dele e assim não poder mais conversar com ele.
— Ah. — Respirou, mais aliviada.
— Esse soju de pêssego é muito bom. — Lucas se serviu mais um pouco. — Provem — incentivou.
Estar ali, cercada por amigos e risadas, lhe proporcionava uma felicidade imensurável, como se cada gole de soju amplificasse a alegria daquela noite calorosa. No entanto, a mágica do momento foi interrompida antes mesmo das onze horas, deixando uma sensação agridoce no ar. O dia seguinte seria longo para a equipe.
O sol emanava todo seu calor. A primavera estava mais para quente do que ameno como ela sempre amava.
Terminou de subir as escadas da estação, prendeu seu cabelo e seguiu calmamente para o trabalho; um privilégio que poucas vezes conseguia ter. Chegou junto de Paula, que abriu um sorriso ao vê-la. Segurou a porta e entraram juntas.
— Bom dia, flor do dia!
— Bom dia, Paulinha.
— Pronta para apresentar toda a estrutura?
— Eu mal dormi à noite só pensando nisso, espero que fique tudo no agrado da Sofia. — Terminou de bater o ponto. — Quero ver tudo no seu moodboard, você mexeu nele?
— Eu terminei de ajeitar às quatro da manhã, estou cansada e não vou mentir. — Pararam na frente da sala de Paula. — Te vejo na reunião.
— Duas coisas antes, a primeira: não faça mais isso, nada de trabalho em primeiro lugar, sempre sua saúde e depois o trabalho. Segundo: tome café, um ou dois, não sei, não fique sem tomar, logo você vai cair no sono, eu te conheço.
— Foi só a primeira vez, acredite, e sobre o café, pode deixar. Agora, tchau.
— Tchau. — Caminhou para a sua sala, colocou a bolsa em cima do armarinho e sentou-se na cadeira. — Mais um dia, vamos lá!
Ligou o computador e continuou o novo projeto.
Duas batidinhas na porta e ela entrou logo. Desta vez, a caneca estava em suas mãos e o líquido dentro mostrava ser um algo quente pela fumacinha.
— .
— Oi, Sofia, bom dia!
— Reunião daqui a três minutos.
— Certo.
se despediu de Sofia com um tchauzinho e organizou todo o material que levaria para a reunião. Sua confiança exalava pelo brilho dos seus olhos, levantou-se e foi até a sala junto de seus companheiros.
— Bom dia!
— Bom dia, Sofia — um coro educado veio da equipe.
— Quero ver como está o projeto, me passem tudo.
— Bom — começou a falar. — Mantemos as ideias como antes — o projeto passava na tela branca —, deixando então a água escorrer apenas nessas áreas, seguindo todo o protocolo de segurança.
explicou tudo para Sofia, apresentando cada um dos moodboards que Paula havia criado. Luca e Julio também aproveitaram a oportunidade para tirar suas dúvidas, deixando claro que todos os problemas haviam sido pensados meticulosamente. Sofia estava admirada com o trabalho da equipe, a liderança de mostrou que sua escolha foi a melhor, Seul teria uma brilhante representante da Bellini Luxe.
— Parfait, vous êtes prêts pour le défilé à Séoul.
— Merci. — sorriu.
— Essas são as passagens de vocês, ficarão por três semanas lá, vou acompanhar tudo depois que Lucas colocar em nosso site.
— Sofia — Paula a chamou. — Desculpe ser inconveniente, mas qual seria o motivo de a senhora não ir com a gente?
— A apresentação de ballet da minha filha, será no teatro. — Bebericou o chá. — Vou deixar as fotos dela na rede social.
— Ai, que linda, vai ser Le Lac des Cygnes? — Julio falava francês fluente.
— Giselle, uma peça maravilhosa. — Gesticulou com as mãos.
— Ah, sim, eu vi quando estava em Paris. Parabéns.
— Obrigada. Estão dispensados, obrigada pela reunião.
— Ai, queria um dia eu poder cancelar um evento importante em Seul e ficar em São Paulo para ver a apresentação da minha filha.
— , acho que você está meio perdida — Julio falou. — Ela vai para a França.
A garota olhou para a porta, se certificando que ela não estava mais perto.
— O quê?! Eu jurava que ela ia ficar aqui.
— Não, gatinha, está muito enganada.
— Meu Deus, eu vou voltar pro trabalho.
— Não esqueçam que viajamos nesta quinta — Lucas lembrou a todos.
— Tranquilo, não vou me atrasar. — Saíram da sala de reuniões, pararam alguns centímetros longe da porta. — Eu vou estender as expedições até quarta, não se preocupem em me esperar.
— Eu também, vamos voltar juntas mesmo — Paula avisou. — Quero sair daqui na quarta-feira mais cedo e com isso descansar melhor para o voo.
— Tô fora, onde já se viu se matar assim, sendo que o voo é longo? — Lucas saiu andando e balançando a cabeça.
— Esquentadinho. — deu a língua para ele e, como um gesto carinhoso, ele mostrou o dedo do meio. — É isso, vamos voltar ao trabalho, até o almoço, pessoinhas.
— Até!
De volta à sua sala, ela continuou organizando o próximo evento. Os dias passaram a ser assim, corridos, para não ficar nada em falta. Todos os projetos finalizados eram passados por ela e depois encaminhados para Bellini. Entrava no horário e saía tarde, seu corpo pedia descanso já, e ainda era terça.
Por fim, a quarta-feira chegou, e com ela a tão merecida saidinha mais cedo. passou novamente na sala de Bellini para reforçar o aviso do horário que iria sair naquele dia — Paula fez o mesmo procedimento, porém horas depois. A manhã tinha começado mais friozinha, a chuva caía contra a janela do escritório, deixando o ambiente mais tranquilo para se trabalhar. Em seu laptop ela verificava a previsão do tempo em Seul, ficava atualizando de cinco em cinco minutos.
— Como to ansiosa, credo! Nem parece que já fiz viagem a trabalho. Tomaria um chá, mas também to com preguiça de levantar daqui. — Relaxou na cadeira, jogando sua cabeça no encosto. — O que tá acontecendo comigo?
O seu celular vibrou naquele instante. O pop-up mostrava a mensagem de Thais. Deu pequenos pulinhos de alegria ao saber que era sua melhor amiga.
“Vai ficar em Seul? Vai ficar em Busan?”
“Quanto tempo? Esse fuso horário só atrapalhou meus planos de conversar com você, amiga.”
A mania entre elas permanecia, nunca um bom dia ou boa tarde, muito menos um tchau. A conversa infinita durava anos e essa era a maior graça entre elas.
Mexeu na agenda do celular onde havia deixado marcado o dia que retornaria e tornou a responder a amiga.
“Tentarei, o restaurante está muito movimentado esses dias.”
“Famosinha né, quer o quê?”
“Prometo dar um jeito.”
“Eu também, preciso dar um abraço em você, estou morta de saudades”
“Se vier, tem comida de graça.”
“Meu Deus, eu vou muito!
Vou voltar a trabalhar, saio mais cedo hoje.”
“Me deixa atualizada, quando entrar no avião, me passa o número do voo.”
“Claro, claro.”
“❤️”
— Que isso? — Esfregou os olhos. — Desde quando Thay manda coraçãozinho? Nem vou perguntar, o médico pediu para não contrariar.
Bloqueou o celular e o colocou ao seu lado. O resto da tarde foi angustiante, parecia não passar mais; os números marcados no relógio do computador demoraram para chegar às dezesseis horas em ponto e, quando o número virou, saiu correndo para bater o ponto.
Com a bolsa organizada, ela esperava o laptop desligar para fechá-lo, pegou seu tablet, que de maneira alguma poderia deixar lá, e aproveitou para verificar sua glicose no aparelhinho. Depois de muito batalhar, ela conseguiu seu tão sonhado Freestyle Libre e isso facilitou muito a sua vida.
— Pronta? — Paulinha apareceu na porta de .
— Sim, podemos ir.
— Você está bem? — Viu a amiga guardando o medidor.
— Ah, só monitorando como sempre, mas eu to bem, não se preocupe.
— Não irei. Você conseguiu a carta do seu médico?
— Peguei, ele fez uma carta digital e impressa e to com minhas insulinas prontinhas também, em outras palavras, estou mais do que apta para ir viajar.
— E pensar que eu nunca imaginei ter que me preocupar com isso. — Olhou para o celular enquanto falava com .
— Olha a novidade, Luca acabou de mandar uma mensagem falando que terá modelos homens, a Sofia falou algo das roupas?
— Não me recordo, na verdade, ela não falou nada da coleção, vejo isso em casa e mando para vocês, dá só um ok para ele, por gentileza.
— Beleza.
Julio: Espero que sua lov não venha com novidades.
Pa: Aí já não é problema dela, é nosso, mas nada que a gente não dê um jeito. Vai, time!
— “Vai, time”, eu to achando que a influenciou demais a Paula. — Julio estava na sala de Lucas.
— Deixa ela, ela é uma fofa quando fica assim.
Julio mediu de cima a baixo Lucas e depois se retirou da sala, compreendeu muito bem o que ele quis dizer, mas, para não causar nada na véspera da viagem, ele só saiu, deixando o amigo de trabalho sem compreender nada.
estava em casa. Após um banho fresco, ela deixou o café passando na cafeteira e retornou ao banheiro para colocar o adesivo da glicose. Com cuidado, ela tirou o papel que protegia a cola e aplicou no lugar onde tinha feito a assepsia.
— Ui, essas agulhadinhas, viu. — Respirou, aliviada por ter terminado.
Com um sorriso no rosto, ela começou a arrumar suas malas, escolhendo cuidadosamente cada peça de roupa. Queria estar perfeita para a viagem e cada detalhe contava. pegou seu celular e abriu o aplicativo de monitoramento de glicose, conferindo se tudo estava em ordem. Enquanto tomava seu café, ela acomodou-se no sofá e assistiu, pela milésima vez, seu dorama de conforto, Weightlifting Fairy Kim Bok Joo.
A saudade da Coreia enfim iria diminuir, poder retornar ao país que se tornou tão querido através de histórias e k-dramas e o principal: fazer o trabalho que ela amava com a melhor equipe e poder reencontrar Thay. Seul a aguardava.
acordou mais cedo do que qualquer outro dia, verificou mais uma vez suas malas, principalmente a mochila que carregava consigo dentro do avião. Checou os adesivos, sua glicose do momento pelo aplicativo que instalou no celular, todas as insulinas e também a carta de liberação do médico, se realmente estava ali dentro. Solicitou um carro para levá-la até o aeroporto enquanto colocava a mala no elevador.
— Boa madruga, senhor Ortiz.
Julia comprimentou o porteiro, ela parou do ladinho da cobertura, pois a garoa começou a aumentar.
— Senhora , achei que você fosse sair mais tarde para o trabalho.
— Hoje eu viajo a trabalho, minha mãe vai ficar cuidando da casa, então, se você ver a janela aberta, está tudo certo — riu.
— Não vou precisar avisar o síndico, está anotado. Coloque sua mala aqui dentro, vai molhar ela aí fora.
— Obrigada. — Puxou-a mais um pouquinho. — Eu não quero chegar atrasada ao aeroporto. — Olhou o aplicativo.
— Com essa garoa, pode ter certeza que a tendência é parar.
— Ai, nem me fale, senhor Ortiz, quero chegar logo ao aeroporto.
— Olha lá, é aquele?
Ela forçou a vista para ler a placa do carro e o sorrisinho de felicidade apareceu no rosto.
— É sim! Obrigada.
— Não precisa agradecer e boa sorte.
— Obrigada!
Passou rapidamente pelo o portão social e caminhou até o carro, o motorista desceu e ajudou a mulher a guardar a mala — ela permitiu isso depois que confirmou ser o motorista.