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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 28/12/2024

Ano de 2010


A luz suave da manhã filtrava-se pelas janelas do antigo orfanato, lançando sombras dançantes nas paredes de cimento e nos corredores vazios. e , como tantas outras crianças, haviam crescido ali. O orfanato não era um lugar de muitas risadas, mas, para eles, aquelas paredes frias e os sorrisos tímidos dos outros meninos e meninas eram, de alguma forma, a única casa que conheciam.
A rotina era simples e rígida. As crianças acordavam cedo, vestiam os mesmos uniformes, as refeições eram rápidas, e as brincadeiras, quando aconteciam, limitavam-se ao pátio. No entanto, havia uma magia naquele espaço pequeno e limitado, algo nas entrelinhas de cada dia que tornava tudo um pouco mais suportável. E essa magia vinha da amizade entre e .
Eles tinham uma conexão única, algo além da simples amizade. Entendiam-se sem palavras, compartilhando risos e olhares. Quando as sombras da noite chegavam, era um ao outro que procuravam. Sempre juntos, seja embaixo das árvores do jardim, onde faziam planos para um futuro melhor, ou nas escadas escondidas, onde se refugiavam quando a saudade das famílias apertava.
Naquele dia em particular, o orfanato estava mais silencioso que o normal. As crianças estavam em suas atividades, mas e estavam escondidos atrás de um velho muro de tijolos, onde ninguém poderia vê-los.
, com sua energia incansável, tentava ensinar a fazer um truque com uma bola de meia velha. Ele se agachava, concentrado, enquanto ela tentava imitar seus movimentos, suas mãos pequenas falhando a cada tentativa.
— Vai dar certo, ! — dizia o garoto, com seu sorriso largo e confiante, que parecia iluminar até os cantos mais escuros daquele orfanato.
, embora frustrada, não conseguia deixar de sorrir. Sabia que, com ao seu lado, tudo parecia possível. Ele sempre fazia com que as coisas parecessem mais fáceis. Eles não precisavam de mais nada além um do outro.
De repente, olhou para ela com um brilho travesso nos olhos, como se tivesse uma ideia. Levantou-se rapidamente e esticou a mão para ela.
— Vamos correr! — exclamou.
Sem esperar resposta, puxou a menina pela mão e começou a correr ao redor do pátio, desviando das outras crianças, rindo e se escondendo atrás dos postes e das árvores. O vento batia no rosto deles e, por um momento, o orfanato e todas as suas limitações pareciam distantes. Para , a sensação de correr ao lado de era a sensação de liberdade. Ali, com ele, ela sentia que podia ser quem quisesse, sem o peso da solidão ou do passado. a fazia acreditar que a vida podia ser uma grande brincadeira, cheia de surpresas e desafios a serem superados.
Quando finalmente pararam, ofegantes e rindo, sentaram-se no chão de terra batida, olhando para o céu, onde as nuvens começavam a se formar.
— Quando a gente crescer, vamos sair daqui e fazer todas as coisas que a gente sonhou — disse , seu olhar perdido no horizonte.
virou a cabeça para ela, sorrindo com aquela confiança inabalável que sempre a fazia sentir que qualquer sonho poderia se tornar realidade.
— Claro. Eu vou cuidar de você, . E você vai ser minha parceira em todas as aventuras. Vamos ser os melhores, você vai ver.
Nesse momento, sentiu que, apesar de tudo o que eles não tinham, havia algo que ninguém poderia tirar deles: a certeza de que, enquanto estivessem juntos, poderiam conquistar o mundo.
O céu começava a se apagar lentamente, e as estrelas tímidas surgiam no manto escuro da noite. O som do vento sussurrando nas folhas da árvore e o farfalhar distante das outras crianças brincando no pátio eram as únicas coisas que quebravam o silêncio ao redor de e . Eles estavam ali, ambos sentados com as costas contra o tronco da árvore, com os pés descalços tocando a terra fria e os olhos fixos na marca que haviam feito na casca.
A árvore, com sua casca rugosa e envelhecida, parecia um guardião silencioso de sua história. As pequenas inscrições "" e "", ainda frescas na madeira, pareciam gritar uma promessa de que, independentemente de onde a vida os levasse, aquele momento ficaria ali, imortalizado no coração do orfanato.
se recostou contra o tronco e, com um sorriso satisfeito, observou o trabalho deles, os nomes gravados que eram mais do que simples letras. Eram marcos de um vínculo que crescia, de uma amizade que, apesar de todo o caos ao redor, se mantinha firme, como a árvore em que estavam sentados.
olhou para ele, os olhos suaves, mas com uma luz intensa por trás da timidez. Algo no gesto simples de tocava seu coração de uma maneira que ela não conseguia expressar em palavras. Ele sempre soubera como fazer com que tudo parecesse possível, até mesmo os momentos mais difíceis.
— Eu não sabia que você gostava tanto dessas coisas — ela disse, a voz quase um sussurro, mas cheia de admiração. Ela nunca imaginaria que ele fosse tão profundo, tão capaz de ver a beleza nas pequenas coisas.
deu uma risada baixa e suave, um som que parecia feito para aquele momento. Mexeu a terra com os pés descalços, um gesto quase automático, como se estivesse tentando entender como as palavras que estavam prestes a sair poderiam combinar com a sensação que tomava conta dele.
— Eu não gosto, — respondeu ele, olhando para o céu agora pontilhado de estrelas. — Eu preciso disso. Preciso saber que algo de bom está acontecendo, que estamos fazendo algo certo, algo que vai durar, não importa o que aconteça depois. A gente pode sair daqui, mas a nossa marca vai ficar.
sentiu um nó no peito, um misto de sentimentos que não conseguia explicar. Ali, naquela árvore, com os nomes deles gravados nela, ela sentia que, de algum modo, tudo ficaria bem. Havia uma certeza ali, uma promessa silenciosa entre eles, de que, se um dia o orfanato fosse apenas uma memória distante, eles sempre se teriam um ao outro. A amizade deles, selada naquela árvore, era algo que o tempo não poderia apagar.
Ela se afastou um pouco, esticando os pés para sentir a terra fria entre os dedos, e olhou para . Ele estava tranquilo, absorto em seus próprios pensamentos. O vento levantava seus cabelos escuros, e a luz tênue da lua parecia dar-lhe uma aura quase mágica, como se ele fosse a personificação de tudo o que ela sempre quis e sempre temeu ao mesmo tempo.
— Eu não sei o que vai acontecer, ... mas sei que, se eu precisar, vou me lembrar dessa árvore. Vai ser nossa, para sempre. E sempre que olhar para ela, vou saber que você estava aqui. Que você esteve aqui comigo.
Ele olhou para ela, os olhos brilhando com algo que ela não conseguia identificar, mas que aquecia seu peito. Ele não disse nada de imediato, apenas estendeu a mão para ela, como uma promessa silenciosa de que, com ele, ela nunca estaria sozinha.
segurou sua mão com força, com a mesma confiança com que sempre se entregara a ele. As estrelas brilhavam no céu como testemunhas do momento, e a árvore, com seus nomes gravados, parecia ser a sentinela silenciosa do futuro deles.
Ali, entre o céu e a terra, entre o silêncio e a promessa, e sabiam que o que viviam era algo muito maior do que a vida dura que os cercava. Era um vínculo profundo, forjado no tempo, no riso e na dor, e naquele instante, eles sentiram que podiam conquistar o mundo, se fosse preciso. Porque, enquanto estivessem juntos, qualquer coisa era possível.




Ano de 2019


A areia fina e branca escorregava entre os dedos de enquanto ela caminhava pela praia ao pôr do sol, sentindo o vento fresco bagunçar seus cabelos loiros. A brisa do mar e o horizonte dourado eram o cenário perfeito para a paz que ela buscava. O dia não tinha sido fácil: uma briga intensa com o noivo ainda reverberava em seus pensamentos, deixando-a ansiosa e sem saber como agir. A praia, contudo, oferecia um refúgio temporário. A loira respirou fundo, tentando deixar que o som das ondas acalmasse a inquietação que pulsava em seu peito. A estudante de pedagogia costumava lidar com as próprias emoções com serenidade, mas agora tudo parecia confuso e fora de controle. Precisava desse momento sozinha para pensar, para redescobrir o que realmente desejava.
continuou a caminhar pela faixa de areia, com os olhos fixos no horizonte, onde o sol já mergulhava lentamente no mar, tingindo o céu de tons laranjas e rosados. Cada passo parecia levar embora um pouco da tensão que pesava sobre seus ombros. Ela pensou na conversa com o noivo, nas palavras duras trocadas, nas dúvidas que haviam surgido como sombras em seu coração. Era difícil admitir para si mesma, mas a verdade era que talvez ela estivesse fugindo mais de suas próprias incertezas do que dos problemas no relacionamento.
Quando finalmente levantou o rosto, avistou ao longe a movimentação na casa de praia onde a festa de Réveillon estava prestes a começar. Luzes suaves surgiam nas varandas, e o som de vozes e risadas se misturava ao som das ondas. Mesmo assim, ela hesitou em se aproximar, ainda relutante em se misturar àquela energia festiva.
E então, em meio às pessoas que chegavam e se dispersavam, viu uma figura familiar. Ele estava de costas, os cabelos escuros sendo bagunçados pelo vento do mar, a postura casual, mas carregada de uma presença que ela reconheceria mesmo depois de tantos anos. A visão de fez seu coração disparar, como se aquele reencontro repentino trouxesse à tona todas as lembranças guardadas, o vínculo que haviam compartilhado durante a infância.
Por um instante, ficou imóvel, absorvendo a imagem dele ali, tão próximo, mas ainda alheio à sua presença. Não via desde 2014. Na época, eram inseparáveis, melhores amigos que confiavam tudo um ao outro. Mas a vida, com seu jeito de mudar tudo sem aviso, os levou por caminhos diferentes, e ela se acostumou a guardá-lo como uma lembrança distante.
Sentindo o coração acelerado, ela deu alguns passos incertos na direção dele. se virou devagar, como se de alguma forma tivesse sentido que alguém o observava. Seus olhos se encontraram, e um breve sorriso de reconhecimento se formou no rosto dele. respirou fundo, reunindo coragem enquanto se aproximava.
? — A voz dele, um pouco mais grave do que ela lembrava, carregava uma mistura de surpresa e saudade.
Ela assentiu, sorrindo, e pôde ver um brilho nos olhos dele.
— É… sou eu, . Faz tempo, né?
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquele momento, cada um medindo o impacto daquele reencontro inesperado.
A pausa entre eles parecia se estender, carregada de coisas não ditas, de sentimentos que o tempo não apagou completamente. O som das ondas era o único barulho entre eles, ecoando naquela atmosfera quase mágica. deu um passo em direção a ela, seus olhos profundos observando-a com uma intensidade quase desconcertante, como se ele estivesse tentando ler as marcas que o tempo havia deixado nela. se sentiu vulnerável sob aquele olhar, como se estivesse despida de todas as armaduras que construiu ao longo dos anos. Ela desviou o olhar para o chão, sentindo as bochechas queimarem sob o peso daquela presença tão familiar, mas ao mesmo tempo, tão nova.
— Você está… diferente — ele disse, e o sorriso que brincou em seus lábios era suave, mas carregado de uma nostalgia inconfundível. — Mas, ao mesmo tempo, é como se fosse a mesma de sempre.
abriu um sorriso tímido, seus pensamentos voando para o passado, para os momentos em que os dois eram inseparáveis. Sentiu o rosto se aquecer, um misto de timidez e saudade. De repente, parecia que todos aqueles anos se dissolviam, e a garota que ela fora voltava à superfície.
— E você… bom, você virou um homem de verdade agora — ela respondeu, a voz entremeada por uma risada suave. — Lembro de você sempre falando sobre os sonhos que tinha, as viagens que queria fazer.
Ele soltou uma risada baixa, quase sem jeito, e passou a mão pelos cabelos, um gesto que ela lembrava bem.
— Pois é… algumas dessas viagens se tornaram realidade. Trabalhei em alguns dos lugares que imaginava quando éramos só crianças. E você, ? — Ele a olhou, os olhos brilhando com um misto de curiosidade e carinho. — Continua com aquele seu amor pelos estudos? Está estudando o que mesmo? Pedagogia?
assentiu, com os olhos brilhando com orgulho e uma sombra de melancolia. Parecia que ela estava revivendo cada uma das decisões que a trouxeram até ali.
— Sim. Estou terminando o curso… acho que sempre foi o que eu quis. Gosto de saber que estou aprendendo a ajudar os outros a encontrar um caminho. — Ela parou por um momento, como se estivesse pesando as próximas palavras. Não sabia se deveria mencionar a confusão que era sua vida amorosa naquele momento. — Mas, sabe… a vida sempre tem uma maneira de complicar as coisas.
a observava com uma expressão compreensiva, percebendo algo indefinido e melancólico em seu olhar. Ele estendeu a mão e tocou levemente o ombro dela, um gesto que parecia conter uma promessa silenciosa de apoio.
— Eu entendo… às vezes, a gente acha que tem tudo planejado, e, de repente, aparece uma curva inesperada. — A voz dele era baixa, quase um sussurro que a envolveu como um abraço silencioso.
Por um instante, sentiu-se segura, confortável, como se aqueles dez anos não tivessem passado. Era como se todas as palavras que eles não disseram ao longo dos anos estivessem ali, flutuando ao redor deles, preenchendo o silêncio. Sentindo-se um pouco mais ousada, ela o encarou e soltou uma risada.
— Lembra daquela promessa que fizemos? De pular as sete ondas juntos e desejar algo para o futuro?
Ele riu, e a alegria em seu olhar parecia iluminar a noite ao redor deles. Seus olhos brilhavam como os de uma criança que finalmente reencontra um amigo.
— Claro que lembro. E olha só… o futuro chegou. Talvez seja hora de cumprir essa promessa.
sorriu, e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se leve, como a garota que ela fora na adolescência, correndo pela praia ao lado dele, sem preocupações. O cenário ao redor parecia o mesmo de tantos anos atrás: o mar, as estrelas nascendo no céu, o murmúrio das ondas. Naquela noite especial de Ano Novo, a praia se tornava um cenário perfeito para reviver o passado e, talvez, descobrir o futuro.
estendeu a mão para ela, sem dizer mais nada. Era um gesto simples, mas carregado de significado. Ela entrelaçou os dedos nos dele, sentindo o calor familiar de um amigo que nunca se afastou realmente. Sem trocar uma palavra, caminharam juntos em direção ao mar, com a ansiedade se dissipando com o som das ondas e a brisa suave que acariciava seus rostos.
Ao tocarem a água fria com os pés descalços, eles riram, contagiados pela simplicidade daquele momento. Sentiam-se como crianças outra vez, vivendo uma noite de reencontros e segredos não revelados. Pularam a primeira onda de mãos dadas, o riso ecoando pela praia como se fosse o riso de duas crianças que descobriram um mundo novo. Cada onda que pulavam trazia consigo uma memória, um desejo, uma esperança. sentia que, ao cumprir aquele ritual, algo entre eles se restaurava, algo que o tempo havia distorcido, mas não destruído. Era como se, a cada onda, uma parte dela que se perdera ao longo dos anos fosse restaurada, junto com a amizade e o afeto que eles compartilhavam. Ao pularem a última onda, os olhos de encontraram os dela, e ali, naquele olhar, sentiu que ainda havia espaço para um futuro juntos, de uma maneira que eles ainda não entendiam, mas que já começava a se desenhar entre as ondas e as estrelas daquela noite de Ano Novo.
A noite envolvia e em uma quietude que só era quebrada pelas ondas, pelas risadas distantes da festa e pelo silêncio eloquente entre eles. Ao terminar o ritual das sete ondas, ainda de mãos dadas, ficaram lado a lado na água, respirando fundo, com os olhares fixos um no outro. Havia algo diferente no ar, uma sensação de possibilidade, como se todos aqueles anos de distância estivessem prestes a desaparecer em um só instante.
a observava com uma expressão quase indecifrável, mas os olhos dele contavam uma história que reconhecia — uma história que ela mesma se perguntava se era real ou fruto da nostalgia que os envolvia. Ele soltou um suspiro, e seu olhar se suavizou enquanto ele ainda a segurava pela mão.
… — ele começou, a voz baixa, mas cheia de uma vulnerabilidade que ela nunca tinha visto antes. — Acho que sempre houve algo… algo que ficou para trás quando nos afastamos. Eu tentei deixar tudo isso no passado, mas… você sempre esteve aqui — disse ele, levando a mão ao peito, em um gesto que expressava tudo o que ele guardava há tanto tempo.
O coração de acelerou, cada batida ecoando o que ela sempre tentou negar para si mesma. Aquele sentimento profundo e inconfundível que nunca a deixou. Sem responder, ela deu um passo em direção a ele, encurtando a distância que os separava. Sentiu a respiração dele próxima, o calor da sua pele misturando-se com a brisa do mar.
Ele ergueu a mão e tocou levemente seu rosto, como se estivesse incerto sobre a realidade daquele momento. fechou os olhos, sentindo a mão dele em sua pele, um toque delicado e, ao mesmo tempo, intenso. Quando abriu os olhos, já estava inclinado em sua direção, com seus olhos fixos nos dela, em uma pergunta silenciosa. A loira não hesitou. Com um movimento sutil, se aproximou, e o beijo aconteceu de forma natural, como se sempre estivesse ali, esperando pelo momento certo. Os lábios dele eram quentes e gentis, transmitindo anos de saudade e de tudo o que ficou preso no tempo entre eles. O beijo começou suave, mas logo se aprofundou, como se ambos estivessem tentando recuperar todo o tempo perdido. Ali, com os pés na água e o céu estrelado acima deles, sentiu que finalmente estava onde deveria estar. a envolveu em um abraço, e, no silêncio da noite, eles se deixaram perder um no outro, como se fossem as únicas duas pessoas no mundo.
Quando o beijo cessou, o silêncio entre eles não era mais de dúvida, mas de uma cumplicidade que falava mais que qualquer palavra. segurou a mão de , puxando-a de volta para a areia enquanto trocavam sorrisos tímidos, ambos ainda tentando compreender a intensidade daquele momento.
A festa continuava ao longe, mas eles seguiram em direção contrária, caminhando juntos pelas sombras da praia. Ao chegarem à entrada do hotel onde estava hospedado, ele parou e olhou para ela com um brilho nos olhos, como se estivesse esperando um sinal, uma resposta.
sorriu, levemente envergonhada, mas deixou-se ser guiada por ele. Subiram até o quarto do rapaz, onde as luzes suaves criavam uma atmosfera acolhedora, e a brisa do mar entrava pela janela aberta. O quarto era simples, mas cheio de uma intimidade que parecia até familiar. Ela olhou em volta, ainda sem saber o que dizer, e apenas sorriu, deixando claro que não havia necessidade de palavras.
Eles se aproximaram novamente, como se um ímã invisível os unisse. E naquela noite, entre olhares e carícias, deixaram que as palavras não ditas e os sentimentos guardados fossem revelados. Cada gesto, cada toque, parecia resgatar um pedaço da história que haviam deixado para trás.
Quando a madrugada avançava e o cansaço finalmente os venceu, adormeceu ao lado dele, ouvindo a respiração tranquila de . Ela se sentia em paz, como se aquele momento tivesse sido guardado para eles desde sempre.
Ao amanhecer, os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas, banhando o quarto em uma luz dourada. ainda dormia profundamente quando abriu os olhos, sentindo uma leveza e, ao mesmo tempo, um peso inexplicável no peito. Passou um tempo observando-o, gravando cada detalhe daquele momento, tentando se convencer de que aquele instante era o que ela precisava, que tinha encontrado um porto seguro em .
Mas, com o sol surgindo no horizonte, percebeu que algo dentro dela se agitava. Havia perguntas que não podia responder, dúvidas que nunca imaginou enfrentar. O rosto tranquilo de , com a paz que ela sentia ao seu lado, pareciam distantes agora, como se a realidade tivesse voltado a invadir aquele sonho. E então ela se lembrou de Luca. O noivo. O compromisso. A vida que ela havia planejado ao lado dele. Aquelas promessas feitas com tanto carinho e certeza, os planos que haviam sido feitos, o futuro que se desenhava. A imagem de Luca, sorrindo e aguardando por ela, entrou em sua mente como um peso. Ele ainda estava em casa, esperando, e ela sabia que não podia simplesmente ignorar a responsabilidade que tinha para com ele, por mais que seus sentimentos a puxassem para outro caminho.
Sentindo um nó apertar em seu peito, ela se levantou lentamente para não acordá-lo. Vestiu-se em silêncio, suas mãos tremiam levemente enquanto buscavam a roupa que parecia cada vez mais distante da vida que ela realmente queria. Olhou uma última vez, com seu rosto sereno enquanto dormia, alheio ao que ela estava prestes a fazer. Sentiu uma pontada de dor, mas também uma estranha sensação de certeza. Algo lhe dizia que precisava partir naquele momento, e ela não sabia como, mas sentia que era a única maneira de não se perder ainda mais.
Deixou o quarto com cuidado, descendo pelas escadas em passos leves. O hotel ainda estava silencioso, o novo dia apenas começando, como se o mundo não tivesse pressa para despertar. caminhou pela praia, onde a festa já tinha se dissolvido, e apenas as marcas na areia contavam a história da noite que passou.
Sem olhar para trás, ela continuou andando, perdida nos próprios pensamentos. O vento fresco da manhã parecia cortar a tensão em seu peito, mas as dúvidas que ela carregava estavam muito mais profundas. O que aconteceu entre ela e parecia um sonho distante agora, algo quase irreal. Ela tentava entender o significado de tudo o que havia vivido naquela noite, mas o peso do compromisso com Luca parecia ser maior.
Quando finalmente se afastou do hotel e da praia, sabia que a decisão que tomava naquele momento a levaria para um caminho desconhecido. E, embora soubesse que precisava de respostas, ela ainda não estava pronta para enfrentá-las.


FIM.


Nota da autora: Essa história é apenas uma prévia da jornada de Isabella e Gabriel. Muito em breve, trarei uma shortfic sobre eles. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei de escrevê-la!

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