Revisada por: Lightyear 💫
Finalizada em: 12/06/2025Outro acontecimento sociológico dolorosamente comum nessa época do ano: mesmo as mais céticas ficam com medo das assombrações ao checar a data no calendário. Os fantasmas dos ex-namorados e as ligações perguntando: você está acordada? São piores tipos de aparição dos espíritos. E eles tentam te possuir todos os anos!
— É um feriado capitalista — declarei, cruzando os braços enquanto aguardava pelos pedidos.
Sentadas em uma mesa de mármore na nossa cafeteria de estimação da Park Avenue, Sweet's Heart, eu e minhas amigas discutimos sobre o pior feriado já criado.
É sério, San Valentin devia ter deixado os casamentos esfriarem ou inventado o apenas no civil naquela época. Por conta da boa ação de um padre, sentia-me condenada ao sofrimento eterno — mesmo que durasse apenas 24 horas até Manhattan voltar ao seu ritmo ocupado e brutal de sempre.
Bom, é verdade o que dizem: miséria ama companhia. Especialmente se for das suas melhores amigas. Acho que as dores são mais parecidas assim, como irmãs que sabem exatamente onde cada uma se machucou na infância.
Era um milagre que as quatro estivessem solteiras ao mesmo tempo. Miranda havia dado o pé na bunda oficial de Derek, o garoto mais novo que era doce, mas frouxo demais. Samantha era uma defensora assídua do estilo de vida rápido que você só vê na Metrópole: relacionamentos demandam tempo demais, casos são mais divertidos! Eu estava desiludida com o amor depois do encontro horrível que havia tido há dois meses, tão chato que cochilei enquanto ele se gabava sobre algum investimento.
— Todos os feriados são capitalistas — Mirando retrucou, sempre analítica, até mesmo no momento em que estava na fossa e só queria um milkshake de café da manhã. Ela mexeu em seu cabelo avermelhado, olhando ao redor, com impaciência. — Nem está cheio, por que essa demora?
— Então esse é capitalista e pior — grunhi contrariada, despojando os cotovelos na mesa e apoiando o queixo nas minhas mãos. — Vi um cara hoje na rua com um buquê maior do que ele. Quanto deve ter custado? 100 dólares? — Qual é, você gasta mais em sapatos do que qualquer cara gasta com flores e bombons — a ruiva riu e tive que concordar a contragosto. Diferente dos homens, um bom par de botas nunca me deixou na mão.
— A não ser que compre algo da Tiffany’s — Samantha interferiu, bebericando um shot de expresso como se fossem quatro horas em algum lugar. E era, só não em Nova Iorque. Mas isso nunca a parou. Ela ditava suas próprias regras em todos os aspectos da vida.
— Eu gosto do Dia dos Namorados.
A única do grupo que parecia reter alguma simpatia pelo cupido era , com seus cabelos escuros e olhos brilhantes. Ela podia ter saído direto de uma comédia romântica. Minha amiga dispôs um sorriso meigo ao dizer aquilo e quase consegui compartilhar do seu entusiasmo.
Apesar de ter nascido uma romântica incurável naturalmente, esse ano tinha um quê especial: Kurt Kurk. Ele e se conheceram na galeria de arte onde ela trabalha como PR quando ele foi consertar o computador dela. Kurt era o típico cara de T.I: óculos grandes de armação preta, gosto de moda questionável e sem um pingo de atrevimento no corpo. Samantha o chamaria de escolha segura, Miranda diria que ele era estável, mas em um tom elogioso.
Já eu, achava fofo que pelo menos uma pessoa parecia ter encontrado o amor em Nova Iorque.
— O Kurt já te convidou para um encontro? — perguntei, seu sorriso doce refletindo na minha expressão.
— Ainda não, mas sei que vai — respondeu, inabalável.
Se a deusa Afrodite precisasse de uma assessora, com certeza seria .
— Querida, esses nerds não conseguem encontrar o próprio pinto na calça nem com um mapa desenhado. — Sam pontuou com descaso, terminando o seu drink e movendo seu rosto para pedir outro ao garçom, seu cabelo amarelo brilhando sob a luz que atravessava as janelas preguiçosamente.
— Ei, os nerds também podem ser bons de cama! — defendeu sua quedinha do trabalho, arrancando risadas das duas que não estavam envolvidas na discussão sobre o desempenho sexual hipotético do pobre coitado.
— Eu não sei, eu vejo eles mais como cachorrinhos doidos para agradar. — A loira deu de ombros.
— Somos mulheres inteligentes e somos boas de cama! — Miranda retrucou, recebendo um aceno em sinal de apoio vindo de .
— Isso é porque somos mulheres — explico. — Homens são naturalmente burros porque se acham espertos e, por isso, deixam todo o sangue ir lá para baixo.
— Ei, não é assim — a ruiva discordou, adotando a postura da advogada: ereta, com olhos focados e com firmeza na voz suficiente para selar acordos de paz. Era bom ter alguém que mantinha nossos pés no chão enquanto as cabeças estavam nas nuvens. — Quando você diz essas coisas, tiramos a responsabilidade dos homens. Eles são seres completamente funcionais que agem como babacas porque são babacas, não por falta de intelecto.
Aquilo me fez refletir. Será que fazíamos isso? Dávamos chances e mais chances aos caras porque éramos condicionadas pelo sistema a vermos eles como garotos, quando eles sabiam muito bem as besteiras que estavam aprontando?
Era tudo deliberado assim? Havíamos caído em uma mentira sobre homens burros? Ou era uma mistura dos dois acontecimentos?
— Meninas, nem todo homem é assim! — A morena tentou, provavelmente sentindo a atmosfera de descrença no sexo oposto. Viu só? provavelmente era o próprio cupido disfarçado. — Alguns são gentis, fofos e…
— Tipo o nerd de TI? — Samantha provocou, arrancando gargalhadas de todas nós e bochechas vermelhas da maior defensora dos amores.
— Chega! Vou chamar ele para sair — ela disse, decidida e admirei a sua coragem. Quantas noites solitárias teriam companhia se tivessem um grama dessa ousadia? — São os anos 90, uma garota pode tomar iniciativa.
Após terminarmos de comer, ainda tinha aquele pensamento fincado na minha mente, crescendo como uma árvore não podada no Central Park. Os homens sentiam essa pressão no Dia dos Namorados ou eles nem ligavam, blindados pela estupidez ou, como Mirando tinha dito, ignorância pura?
A resposta veio mais tarde em forma de um e-mail do meu colega detestável, . Ele escrevia a coluna de esportes, sem classe alguma, e se achava o gostosão do escritório, com aquele cabelo castanho caindo nos olhos, camisas que apertavam um pouco demais seus braços e um sorriso traiçoeiro que sempre parecia zombar de mim.
tinha sido a minha inspiração para a Escala . Uma equação matemática simples que havia criado durante uma noite de bebedeira com as meninas e que havia se tornado uma das matérias mais acessadas da minha coluna sobre relacionamentos e sexualidade feminina. O diagrama de tinha como objetivo mostrar que o nível elevado de aparência física de um homem é diretamente proporcional ao seu percentual de pedância social por minuto.
De maneira mais clara: quanto mais gostoso, mais idiota.
A criação dessa teoria veio depois de um dia no escritório — um dos poucos encontros presenciais que eu era obrigada por contrato a prestar para a revista. Ele derrubou café na minha blusa branca sem querer e, ao invés de se desculpar, disse que eu deveria agradecer, porque agora dava para ver o quão quente eu era.
Tirando e seu jeito detestável, todos no prédio eram muito amáveis, principalmente a redatora de política — que tinha uma sala cheia de prêmios que brilhavam ainda mais do que seus mocassins. Ao contrário do que os babacas dos anos 50 achavam, era possível escrever sobre guerras no Sudão e manter um dos cabelos mais bonitos que eu já vi.
Hoje era um dos dias que a diretoria havia marcado para eu ir à sede. Tudo estava indo perfeitamente bem, até o furacão cabeludo aparecer e estragar tudo.
— A sexóloga do momento chegou.
Respirei fundo. Ele sabia que esse não era o meu título, mas me chamava assim só para irritar. Se eu caísse no joguinho dele, ganharia. Então, tentei manter a calma.
— Eu não sou sexóloga e, se fosse, diria para você fazer um exame de IST. — Dou um sorriso irônico que se desata em uma risada ao ver que uma das estagiárias fez uma careta para ao ouvir aquilo. Ele bufou, provavelmente irritado por ter perdido uma possível conquista.
Ou, como eu gosto de chamar, alvo. Homens como vêem a cena do namoro como um grande tabuleiro, o objetivo é roubar a rainha (levá-la em um encontro, trocar alguns amassos e dormir com ela) e pronto. Sem ligações no dia seguinte, sem encontros e nem pense em conhecer os pais.
O diagrama em seu demérito é a ciência mais exata de relacionamento que existe. Manhattan estava infestada de caras como ele: bonitões com boa lábia que se achavam capazes de conseguir tudo.
Era uma praga pior que os ratos.
sentou-se na superfície da mesa, o sorriso presunçoso voltando aos lábios. — A que nós, meros mortais, devemos a sua ilustre presença?
— Reunião — respondi curta e rápida, voltando a caminhar em direção à sala da editora-chefe. Mas a presença dele pairou sobre mim como uma entidade.
— De que horas?
— Quer a minha agenda? — franzi o cenho, apertando o passo. Ele realmente queria me irritar hoje.
— Também tenho uma reunião.
Aquilo me fez estancar no meio do caminho. Senti o homem tropeçar e bater nas minhas costas pelo freio brusco.
Não, não. Absolutamente, não. Havia ouvido boatos, todo mundo tinha, de que os editores-chefe, movidos por jantares regados a vinho, haviam planejado uma colaboração entre segmentos diferentes. Achei que estava salva, escrevendo a coluna do conforto da minha cama e encarando paredes cor de rosa ao invés de colegas com o dedo no nariz, mas, aparentemente, não era o caso.
Como eles queriam juntar a minha coluna com a de ? Mesmo que para uma postagem especial, os dois assuntos não tinham um denominador comum! Esportes e relacionamentos? Que tal como ser um jogador de futebol e não trair a sua mulher? Bufei, duvidava que , o cara que já havia saído com metade do escritório, soubesse algo sobre fidelidade.
— Não é uma fusão — disse, mais para mim mesma do que para ele.
— Definitivamente é uma fusão — respondeu e eu grunhi, virando-me para encará-lo.
— Não temos nenhuma pauta conjunta!
— Pela primeira vez na vida, , você pode estar certa. — Sua expressão irônica logo foi substituída por olhos arregalados e desfocados, como se estivesse se lembrando de algo. — Ah, merda...
Filho da puta.
— O que você fez? — aproximei-me, apontando o dedo em seu rosto. Sabia que tinham suas digitais em toda essa confusão.
— Eu comentei sobre uma festa que talvez se encaixe na sua coluna. — Engoliu em seco, erguendo as mãos em sinal de paz.
Juntei as sobrancelhas, confusa.
— Uma festa? Do que você está falando?
O que nos traz agora: o e-mail estampado no meu notebook, me desafiando a abri-lo. Eu conseguia sentir a presença de perto de mim, rindo da minha dor como um demônio que se alimenta da tristeza alheia. Meus olhos, entretanto, estavam mais curiosos do que previ, lendo as palavras e se revirando assim que o título da mensagem apareceu.
De: .@sports.com
Para: .@satc.com
Assunto: Festa dos Corações Partidos
Senhoras e senhores, vocês estão sendo cordialmente convidados para a festa anual dos Corações Partidos. O Dia dos Namorados não precisa ser solitário, podemos nos reunir, beber e conversar com os amigos. Quem sabe até encontrar uma pessoa legal no meio da multidão? Como diria uma convidada especial, tudo é possível em uma cidade como Nova Iorque.
Gemi em desespero ao ler aquilo. Ele sabia que eu estava odiando a ideia de ter que ir nesse desfile de indecências disfarçado de festividade e estava me provocando com minhas próprias palavras. Até mesmo por caracteres em um computador, conseguia ser insuportável.
Vocês sabem as regras: nada de acompanhantes, nada de roupas caretas e nada de pessoas comprometidas.
E levem suas próprias camisinhas! Teremos uma sexóloga profissional e minha querida parceira na festa. Alguns de vocês já devem ter lido a sua coluna, . Vamos ver se ela entende mesmo de sexo!
Ps: , quando estiver lendo isso, lembre que você é obrigada a ir à festa. Espero que use aquele vestidinho da festa de Natal. :)
Meu sangue ferveu. Aquele idiota tinha mandando AQUILO para quantas pessoas? Cliquei na aba de destinatários, querendo me enterrar como um avestruz ao perceber que ele tinha enviado o email para quase 100 contatos, incluindo gente da revista.
Eu podia morrer de vergonha, mas queria matar mais.
O computador apita, anunciando uma nova mensagem. Respiro fundo antes de voltar meu olhar para a tela que mais parecia um castigo.
ADENDO: Parceira de trabalho, não de outra coisa. Vocês têm uma mente suja.
Ao ler aquilo, desejei que o bug do milênio realmente acontecesse e levasse embora toda a tecnologia do mundo.
Mais tarde, as meninas estavam no meu apartamento. Começou com uma ligação de pedindo conselhos para o plano Kurt, já que sua tentativa de chamá-lo para sair havia dado errado mais cedo. Como toda situação com boas amigas, acabamos reunidas na casa mais próxima para prestar apoio.
O assunto havia evoluído e estávamos provando roupas para a minha tortura dupla do sábado: o Dia dos Namorados e a festa do babaca .
— Acho que ele gosta de você — disse, vasculhando entre os vestidos de uma caixa que eu não tocava há pelo menos dois anos. Encolheu os ombros, um ar sonhador parecia envolver todos os seus movimentos. — Como os meninos que puxam o cabelo das meninas quando gostam delas.
Miranda bufou, jogando um par de sapatos para longe: — Isso abre precedente para relacionamentos tóxicos.
— Não é verdade! — a morena protestou. Crispou os lábios, pensou e voltou seu olhar para mim, mais confusa do que convicta: — É?
— Homens são ensinados que, sendo babacas, conseguem atenção, aí continuam sendo babacas.
— Acho que eles conseguem ser babacas sem nenhum condicionamento.
— Que tal esse? — Samantha levantou um vestido branco que eu havia usado no meu aniversário de 21 anos. Ele tinha um tecido estilo camisa masculina, mas exibia mangas longas e um decote que ia até em cima do umbigo.
— Queria algo menos aberto.
— Esse é para mim, não para você — disse, gesticulando com a mão livre. — Além disso, ele não gosta de você.
— Obrigada! — Ao menos uma das minhas amigas tinha a cabeça no lugar. — A gente se odeia…
— Ele quer te comer — afirmou sem rodeios, categórica.
— Samantha! — Miranda repreendeu e senti meu rosto esquentar, um frio na barriga parecido com a primeira vez que o vi, embrulhando meu estômago. Sabia muito bem qual era aquela sensação e a negava com todas as forças.
O que era bem mais fácil quando aquele imbecil abria a boca.
— Desculpa. Lindo vestido!
— Você quer ser processada por calúnia?
— Por dizer que o babaca quer comer ela? — Samantha revirou os olhos. Ela aceitou aquela informação como verdade absoluta e não deixaria alguém contrariá-la. — Qual é!
— Ele quer comer qualquer coisa que tenha um pulso e peitos — retruquei, bufando enquanto sentava na minha cama. Tentava me ajustar nos lençóis, mas nada parecia certo. É claro que ele não queria nada comigo em específico. Apenas me tirar do sério.
— Eu odeio a palavra comer. — fez uma careta.
— E uma xoxota. — Adicionou a loira, despreocupada.
— Eu também odeio essa palavra. — O cenho franzido da morena pareceu aprofundar.
— Olha, não importa. Ele pode gostar de você, querer transar ou te odiar. — A advogada levantou, vindo até mim e segurando a minha mão. — O que importa é que você vai fazer a melhor matéria do mundo e, quem sabe, escrever sobre como ele não arranjou ninguém na própria festa da pegação.
Por um momento, os pensamentos conflituosos se dissiparam e abri um sorriso genuíno, imaginando como seria incrível se o rei não conseguisse um encontro em seu próprio castelo.
— Você pode contar com isso.
Mais tarde, decidi ligar para . Ele podia ser um troglodita, mas eu ainda respeitava a etiqueta de eventos. O convite dizia sem acompanhantes , entretanto, com certeza aceitaria de bom grado se os meus extras fossem mulheres. Ele era previsível a esse ponto.
O telefone tocou três vezes antes dele atender.
— , esportes. Com quem eu falo?
— Bom dia, idiota.
— Sexóloga, como você está? — Seu tom, inicialmente profissional, havia diluído e dado espaço àquela voz arrogante de sempre. — Ligando para saber sobre o meu dia ou sobre a nossa matéria?
Apertei o telefone com força entre meus dedos. Seria tão bom enrolar o fio no pescoço de e sufocar as palavras antes que elas saíssem da boca dele.
— Nenhum dos dois. Quero saber se posso levar algumas acompanhantes.
— Você viu o e-mail, . Sem acompa... — parou no meio da frase, raciocinando que ouviu. — Espera, você disse algumas?
— Sim.
— No feminino?
Respirei fundo. Homens eram como mariposas e a ideia de estar em um ambiente com mulheres era a lâmpada mais chamativa do mundo.
— É, . Mulheres — respondo, de maneira monótona.
— Sempre há espaço para mais uma — É possível ouvir o sorriso em sua voz e não resisto a revirar os olhos. Se estivesse perto de por mais tempo, iria acabar com as orbes presos no meu crânio. — São as amigas que você cita na coluna?
Por um segundo, a surpresa congela minhas veias, apenas para um corar teimoso aquecer meu sangue e fazê-lo circular mais uma vez. Como assim conhecia as amigas que citava nos meus artigos?
— Desde quando você lê minha coluna? — pergunto, meu timbre saindo mais baixo do que queria admitir.
Ele também gasta alguns segundos para responder, escolhendo as palavras antes de cuspi-las com presunção familiar.
— Conheça seu inimigo.
E, simples assim, as coisas voltam ao normal. Sorrio de maneira irônica para o telefone.
— Uma pena que não tenha aprendido nada com ela.
— É o que veremos. — Arqueio a sobrancelha, mas continua antes que eu possa dizer algo. — Te vejo na festa, sexóloga.
— Eu não sou uma... — O barulho da linha vazia me interrompe e bufo, colocando o aparelho no gancho com mais força do que o necessário. — Babaca.
Com aquilo resolvido, enviei um email para as meninas e marquei um horário com minha massagista preferida de Manhattan. Precisava que alguém tirasse a tensão dos meus ombros, que aumentavam toda vez que ele dirigia a palavra a mim, ou respirava, ou quando eu lembrava que ele estava vivo.
O número 14 chegou no calendário mais rápido do que esperava. A Big Apple. havia se transformado em uma gigante maçã do amor, mais romântica do que nunca. A viagem de táxi com as meninas havia sido repleta de olha, aquela loja está com promoção de chocolates e que fofo, aquela mulher tem um ursinho gigante!
Um fenômeno ambiental peculiar acontece com a proximidade latente do Dia dos Namorados. A Nova Iorque glamourosa, cheia de luxo e noites inesquecíveis de diversão, se torna um filme de romance a cada esquina. Não importava para onde você olhasse, a paixão estava nascendo como uma planta entre a rachadura de concreto no chão da cidade. E ganhava quem fosse mais rápido para colher a flor.
Outro acontecimento social que é possível ser enxergado a olho nu nessa época: mesmo as mulheres mais desapegadas se encontram desejando por um olhar apaixonado. Bom, ao menos a maioria delas. Se você for como a Samantha, só um bom sexo serve. Ainda assim, até mesmo Miranda parecia estar perdida em devaneios enquanto assistia uma vitrine com ursinhos de pelúcia desaparecer no retrovisor do carro.
É impossível não odiar o Dia dos Namorados. Olha o que uma data idiota faz com mulheres incríveis e glamourosas! Somos reduzidas à carência e à vontade de comer calorias demais — e isso nem vem só do nosso interior. Qualquer pessoa de fora te olha com pena se você não estiver de mãos dadas com um cara. E os homens, eles nem parecem se importar.
Quando descemos do táxi, pagou o motorista e andamos em direção à entrada. havia alugado um bar conhecido em Manhattan, provavelmente aproveitando o dinheiro que a revista deu para ele aprimorar a sua festa anual.
— Então, o que devemos esperar? — Miranda pergunta enquanto estamos paradas na fila. — Prostitutas e charutos?
— Que nojo. — A morena crispou os lábios crispados.
— Não seria tão ruim. — Samantha dá de ombros.
— Sabe, não é tão assustador quanto parece. — Uma voz masculina reverbera atrás de nós e todas viramos para ver quem era. Pelo olhar compartilhado, nenhuma reconhecia o homem. Ou seja, era apenas um convidado ousado e muito bonito.
— E como você sabe? — Pergunto, arriscando um tom desafiador.
— Eu já vim aqui algumas vezes. — Ele responde e o encaro, julgando que tipo de cara ele é para ser um frequentador desse tipo de ambiente. O estranho arqueia a sobrancelha, os lábios curvados com divertimento. — Resposta errada?
— Certamente diz muito sobre você — digo, beirando o flerte, sem nem perceber, até as palavras saírem da minha boca. Bom, se os drinks não estiverem inclusos, poderia contar com a minha lábia para arranjar alguns.
Como tudo que é bom dura pouco, uma avalanche de cabelos bagunçados perfeitamente entra em contato e soterra a minha conversa com o desconhecido.
— Sexóloga, achei que tinha desistido. — Viro-me ao ouvir o cumprimento inconfundível. Ele está vestindo calça jeans, uma blusa verde de mangas e um sorriso lateral provocativo. Com aquela roupa despreocupada, parecia ainda mais bonito do que em nossos breves encontros no escritório.
Aquilo me deixou com ainda mais raiva, eu não queria me sentir atraída por um idiota. Percebi que seu olhar demorava em mim, as palavras de Samantha ecoando em minha mente. Ele queria me levar para cama? Por que eu ligava?
Pelo menos aquele olhar roubado estava ajudando na minha autoestima.
— , achei que já tinha ido para o banheiro com alguma prestadora de serviços sexuais. — Dei um sorriso irônico, cruzando os braços, o que fez meus seios ficarem mais proeminentes pelo decote do vestido.
piscou, parecendo tentar voltar à realidade e ignorei o tremor que senti em minhas pernas.
— Ouch. — Fez uma expressão dramática, colocando a mão no peito. Ele pareceu notar a presença do outro homem um pouco perto demais de mim para ser apenas outro residente da fila. arqueou a sobrancelha, dirigindo-se para ele — E você seria?
— David Lynch — o desconhecido respondeu, oferecendo a mão, a qual foi ignorada com prontidão. — Eu já vim algumas vezes, lembra?
— Não — respondeu direto, voltando o olhar para mim, repleto de curiosidade e algo a mais. — Vocês...?
— Acabamos de nos conhecer.
Meu parceiro de trabalho assentiu antes de girar a cabeça para o homem de novo, um sorriso sarcástico pintava seu rosto quando ele disse:
— Que pena. Não aceitamos acompanhantes.
— Mas ela disse que a gente acabou de se conhecer... — tentou argumentar.
— Com certeza, cara. — desconversou, batendo com a palma da mão no ombro do homem. Pude notar que seu maxilar estava rígido e não consegui deixar de me perguntar o porquê. Ele se virou para o segurança, falando acima dos protestos do cara da fila: — Elas podem entrar, estão comigo.
Varri para debaixo do tapete as teorias sobre o comportamento estranho de . Afinal, tinha algo mais importante à minha frente: a possível samora de Manhattan.
Respirei fundo, preparando-me para enfrentar uma selva de pessoas seminuas e fluidos distintos espalhados pelo chão. Tentei encarar aquilo como uma pesquisa de campo, fechando os olhos assim que passei pela porta da frente. Vamos lá, . Não pode ser tão ruim assim.
— Bem-vindas à melhor festa de Nova Iorque, senhoritas.
Ao abrir as pálpebras, encarei o lugar estupefata. Não havia correntes no teto, nem dançarinas com nada além dos mamilos cobertos, muito menos gente transando nas mesas. Certo, havia alguns casais se pegando nas quinas escuras, como em qualquer bar que se dignasse a honrar o nome, mas o resto parecia... Fofo?
Corações de papel pendurados nas paredes e balões se acomodavam no teto, entre as luzes vermelhas que enfeitavam o local. Um moedor de papel, daqueles do escritório, estava no centro do bar e rugia enquanto picotava algo e recebia aplausos da multidão. Os drinks nas mãos das pessoas pareciam temáticos, com guarda-chuvinhas e canudos coloridos. Um quadro do Cupido, com a flecha enfiada na bunda, era exposto como um pedaço de arte inestimável e todos pareciam tirar fotos dela ou ao seu redor.
Me virei para encarar , que já me olhava com um sorrisinho satisfeito no rosto idiota esculpido pelos deuses. E então, eu entendi.
Era uma armadilha. Um afrodisíaco para as garotas se sentirem tentadas pela atmosfera romântica e ser mais fácil para os caras levá-las para casa.
— E aí, gostaram da festa? — ele perguntou, virando-se para as meninas com aquele charme corriqueiro.
— Ela está linda — elogiou.
— Gostei do pessoal — Samantha disse, estudando o local.
— As bebidas são de graça? — Miranda perguntou, encarando uma das pessoas que passava com um copo colorido.
riu, respondendo todos os comentários com uma simpatia invejável. Um agradecimento para , uma dica sobre um dos solteiros mais cobiçados para Samantha e a confirmação de open bar para Miranda. Até minhas amigas estavam sendo conquistadas pelo inimigo!
Logo, elas estavam andando até o bar e comecei a segui-las com em meu encalço. Eu não lembrava de trabalhos em dupla serem tão insuportáveis na escola.
— E você, sexóloga? — questionou, gesticulando ao redor. — Ou é baixaria demais para o seu nível?
— Eu sei qual é seu joguinho.
Semicerrei os olhos, encarando-o antes de voltar minha atenção para a bancada. As garotas estavam a alguns metros de distância, rindo e escolhendo suas bebidas. Mas eu estava aqui a trabalho. Bufei, subindo no banco em frente à bancada, reservado para bêbados solitários, assim como todo o resto daquele evento.
— Que joguinho? — perguntou, parecendo genuinamente confuso, do jeito que um tigre parece inofensivo antes de arrancar a pele do seu rosto.
— Isso tudo. — Usei a ponta do pé para empurrar o banquinho, fazendo com que ele girasse em uma demonstração teatral do que eu queria dizer. — É um truque para homens pegarem mulheres.
— E para mulheres pegarem homens — pontuou, sentando ao meu lado. — Com a sua coluna, achei que você era mais adepta à liberdade sexual.
— Cala a boca — revirei os olhos, apanhando um dos shots de tequila rosa que o barman havia colocado na mesa e virando-o. O líquido ardeu em minha garganta, mas acalmou meus pensamentos acelerados por um minuto. Decidindo que, se ia escrever sobre a experiência da festa dos Corações Solitários, devia passar por todas as atrações, não é? E isso inclui o bar. — Você está se utilizando da carência e da pressão social para jogar elas aos leões.
me estudou por um momento, parecendo dividido entre dizer algo ou não, optando por continuar a conversa.
— Começou assim — admitiu, virando um dos drinks. Até mesmo a careta em seu rosto era adorável e tive vontade de engolir a garrafa toda de tequila para afogar aquela sensação, mas apenas tomei mais um shot, acalentando-me naquela ardência. — Mas as mulheres são espertas para caralho.
Arqueei a sobrancelha com interesse. — Continue.
Ele suspirou, pegando mais um copinho entre os dedos e encarando o líquido rosado.
— Eu tinha sido chutado no Dia dos Namorados.
— Surpresa nenhuma.
voltou seu olhar para mim com uma carranca e dei de ombros.
Pov
— Preciso lembrar que você veio aqui sozinha hoje?
— Eu vim com as minhas amigas! — me contradisse, como sempre. Um beicinho involuntário surgiu em seu rosto. Virei o copo antes que fizesse algo estúpido como beijá-la, nem o álcool queimava mais que meu desejo por aquela mulher irritantemente irreverente. — E com o cara da fila.
— Você não iria aguentar um minuto com o Jonathan. — bufei, revirando os olhos. Ela pareceu me analisar por um momento, resmungando um: então esse era o nome dele. Senti um aperto no peito ao cogitar que poderia estar afim dele, mas logo a morena voltou o foco para mim.
— Por que não? — Não havia interesse por trás das suas palavras, apenas curiosidade. Peguei mais uma dose, virando-se antes de responder.
— É um cara de finanças. — Lambi os lábios, dando um sorriso vitorioso ao ver seu olhar na minha boca. Não era tão inalcançável assim, hm? — Tem como ser mais chato que isso?
curvou os lábios com ironia, aquele sorriso que, mesmo recheado de escárnio, era reservado apenas para mim.
— Claro que tem. Ele podia ser de esportes.
— Ouch.
Ela revirou os olhos, tomando mais um shot de tequila. Eu já conseguia sentir minha cabeça um pouco sonsa pelo teor que havia ingerido.
— Volte à história da festa.
— Mandona, eu gosto. — Dei um sorriso provocador, recebendo um bufo em resposta. Entretanto, consegui enxergar as bochechas levemente coradas dela. Meu coração parecia sair pela boca, aquilo era um sinal de irritação ou atração? Limpei a garganta, continuando: — Como eu estava dizendo, tinha levado um fora e meu amigo estava solteiro. Mas aí percebemos...
— Perceberam o quê?
— Que estávamos em Nova Iorque! — declarei, batendo no balcão com os dedos. — Tem ideia de quantos corações solitários existem por aqui?
Para uma cidade com milhões de habitantes, era bem fácil se sentir sozinho.
— Você não tem ideia. — respondeu, mostrando vulnerabilidade pela primeira vez desde que a conheci. O álcool realmente quebrava barreiras. Ela só era aberta assim em sua coluna, em meio a textos sobre a vida em Manhattan e o que estava acontecendo com suas amigas.
— Acredite, eu tenho. — disse, oferecendo um sorriso triste em simpatia. Curtia até demais a vida de solteiro, mas, depois de conhecer a mulher que sempre tinha uma resposta na ponta da língua e me colocava no meu lugar, até tinha que admitir que comecei a querer a presença mais corriqueira de alguém. Dela. — Então, eu pensei, e se nós juntássemos todos os solteiros em um só lugar?
— Por isso a regra: sem pessoas comprometidas — comentou, tomando mais uma dose. nem fazia mais careta, acostumada com o gosto.
— Gente que namora já tem coisa demais! — ri, balançando a cabeça.
— Concordamos em uma coisa — gargalhou, um dos sons mais bonitos que já havia escutado, poderia facilmente competir e ganhar da voz de Bruce Springsteen que cantava alguma música sobre amor e essas merdas no fundo do bar.
— Você? Concordando comigo? — fingi choque, pegando mais dois copos e deslizando um para ela. — Vamos brindar a isso, sexóloga.
Ela bufou, mas segurou a dose. — Você ao menos sabe o que uma sexóloga faz?
— Bom sexo? — Arqueei a sobrancelha.
— É claro. — Revirou os olhos e viramos mais um shot. O gosto parecia doce na língua já acostumada. soltou o vidro, apoiando a bochecha em uma das mãos. Tive vontade de beijá-la, ela estava tão linda. — E a regra dos acompanhantes?
— As pessoas têm menos inibições sem gente que elas conhecem ao redor — expliquei, desviando o olhar para estudar o local. Precisava manter minha atenção em qualquer lugar, não ela, senão iria dizer algo estúpido como quero você ou estou apaixonado. — Além disso, qual a graça de vir aqui com alguém de quem você já gosta?
Muita, muita graça.
Exceto quando um idiota na fila tentava furar a sua chance.
— Você deixou minhas amigas virem — acusou, seu tom desafiando-me a contrariá-la.
— Mulheres — disse, como se aquilo resumisse tudo. Perspicaz, bufou sem acreditar totalmente, talvez pela ceninha com Jonathan. — E eu estava curioso.
— Com o quê?
— Queria saber quem eram as personagens das suas histórias.
— Não são personagens — afirmou de prontidão, chacoalhando a cabeça. — Tudo que escrevo é real e sem filtros.
— Até a história do cara com pinto pequeno? — Arqueio a sobrancelha e ela assente. — E a do cara que tomava banho toda vez depois de transar?
— Essas e todas as outras. — riu enquanto eu citava as situações que ela e seu grupo haviam passado.
Perguntei-me o quanto mais eu conseguia fazê-la rir, gostava daquele som.
— Por isso as pessoas se identificam com a sua coluna.
— Está me elogiando?
Então, meus pensamentos começaram a percorrer outro caminho. Quais novos sons eu era capaz de tirar de ? Gemidos manhosos, gritos de prazer, sussurros que pediam, imploravam por mim?
— Apenas constatando um fato — disse, sem tirar os olhos dela. — Aliás, belo vestido. E era. Um vestido roxo que abraçava os lugares certos do corpo de , expondo seus seios em um decote que deixava um gostinho de quero mais, como se tivesse sido feito sob medida para acabar com o pouco juízo que me restava.
— Isso é um elogio ou um fato?
— Você escolhe.
— Um fato, então.
— E o que seria um elogio? — Perguntei curioso, inclinando-me em sua direção. Para ouvir a resposta acima da música, que parecia ter aumentado, para senti-la mais perto de mim.
— Dizer que estou gostosa. — mordeu o lábio inferior, parecendo mais confiante do que nunca. E eu tive que rezar para que meu membro se controlasse dentro da minha calça com aquela visão. — Vamos ver se você acerta quem é quem.
Pov
— Samanta deve ser a de vestido vermelho que disse que havia gostado do pessoal. – Suspirei aliviada quando prosseguiu com o assunto. Eu culparia a quantidade excessiva de álcool pela manhã quando me lembrasse daquela conversa. Eu não acreditava que tinha dito aquilo... E nem no olhar que ele me deu quando eu disse.
O desejo e a razão brigavam como irmãos na minha mente, e eu estava dividida entre querer provocar mais e sair correndo para não cometer uma burrice.
Afinal, ele ainda era .
— Ela é uma versão sua feminina — comentei, ainda tentando me recompor.
— Ela é demais, então. — Ele sorriu, apesar de também parecer afetado. Aquilo fez minha cabeça rodar. — A que sorri para todo mundo deve ser a .
— Como sabia?
— Ela parece uma boneca, é gentil.
— Também tem um bom gancho de direita — acrescentei, um sentimento terno me esquentando ao olhar minhas amigas de longe.
— E sobra a ruiva, Miranda. Advogada e racional acima de tudo. – fez uma voz séria e eu ri.
— Estou impressionada. — Admito e ele pega mais dois copos de tequila, empurrando um para mim.
— Bebe mais um comigo então.
Penso em protestar, mas, na verdade, não quero. De relance, vejo se separando de Miranda e Samantha, que a assistem com animação, e andar até um homem de óculos.
Kurt?! Não consigo evitar o sorriso em meu rosto antes de voltar a atenção a , que também parecia entretido com a vida amorosa da minha amiga.
— Você não me disse o motivo da regra da camisinha.
— Não é óbvio? — ele riu, aproximando-se. Perigosamente perto, e eu não queria que parasse. — Coisas acontecem em festas como essa, .
— Que tipo de coisas? — pergunto em um sussurro, minha respiração descompassada.
— O tipo de coisas sobre as quais você escreve, sexóloga. — Havia aquela velha provocação em sua voz, mas também algo a mais. Algo tateável, real. Além dos insultos e palavras de duplo sentido que atirávamos na direção um do outro desde o primeiro olhar. Seus olhos não saíam da minha boca e lambi os lábios inconscientemente.
— E sobre o que escrevo, babaca?
— Isso.
Ele me beija. Não há fogos de artifício ou frio na barriga como tocar de lábios castos durante um primeiro encontro. É rude e áspero, apesar da boca macia. Ele me beija como um homem faminto, um homem que está cansado de esperar por algo e que parece ter, finalmente, encontrado isso. A sua mão encontra o caminho para meus quadris, segurando-os firmemente, fazendo-me gemer baixinho, sentindo o sorriso dele crescer com isso.
Idiota convencido.
Decido contra-atacar, mordendo seu lábio inferior e, logo em seguida, lambendo o local para pedir passagem com a língua. A maneira como apertou minha cintura confirmou que havia conseguido afetá-lo. Disse a mim mesma que aquela era a razão do arrepio que percorreu todo o meu corpo.
puxou-me para mais perto. Eu poderia sentar em seu colo se quisesse, mas ainda não. Meu corpo está pressionando contra o dele, seus dedos afundam na minha pele sobre o vestido, mesmo quando ele se afasta ofegante.
me olha de cima a baixo e quase sinto uma vergonha colegial. Aquele tipo que você só experimenta depois do primeiro beijo, escondido na quadra, quando as suas amigas nem sabem ainda.
— Eu amo esse vestido para caralho — ele diz e reviro os olhos, puxando-o pela nuca até que nossos lábios se encontrem novamente.
Eu ainda odiava o Dia dos Namorados. Mas a noite não era tão ruim assim.
Pelo menos, neste ano.