Tamanho da fonte: |

Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: Julho/2024.

— Eu gosto de você — diz, Sonic, meu colega de trabalho.

Estamos no café próximo à escola primária de heróis em que damos aula. Quando ele me convidou para tomar um café, imaginei que seria para falar das gincanas do verão. Sonic me recebeu muito bem quando comecei a trabalhar no colégio, logo nos tornamos amigos. Mas para mim sempre foi apenas isso. Amizade. A revelação me pegou mesmo de surpresa.

— Sony, eu...
— Eu sei — me interrompe. — Você não pode retribuir a esses sentimentos. — Sorri amarelo. — Você gosta daquele cara — diz, e confirmo. — Eu só contei porque não podia continuar guardando esse sentimento aqui dentro. — Coloca a mão no peito. — Mas só pra ter certeza, você sabe que ele é um idiota, não é?
— Eu sei. — Rio. — Mas aquele idiota é o amor da minha vida — confesso.
— Certo, eu não precisava ouvir isso depois de me declarar, mas como é você, eu vou relevar — brinca.
— Ainda amigos, não é? — Estico o mindinho para ele, que cruza o dele com o meu.
— Isso e nada mais! — Sorri.

Chego em casa sentindo cheiro de queimado. Corro até a cozinha, mas não há nada no fogo ou forno. Procuro por fumaça pela sala e no banheiro, mas não há sinal de incêndio em lugar nenhum. Me apresso até o quarto e fico aliviada ao ver que não é nenhum curto circuito, mas, sim, Bakugo. Ele parece irritado. Mais que o normal.

— Amor? — Ele me olha de relance, enquanto joga algumas peças de roupa na mochila. — Está tudo bem? — ele não responde. — Kacchan? — Mais uma vez sem resposta. — Estou falando com você, Bakugo.
— Não me chama assim!
— Então fala comigo.
— O que quer que eu diga? — Ele para de socar as roupas na mochila e me encara. — Se quer que eu fale que irei te deixar livre pra viver uma vida de merda, com aquele seu amigo maldito, então você vai morrer esperando — diz, e volta a empurrar as roupas na mochila.
— Me deixar livre? Amigo maldito? Do que você está falando? — pergunto confusa.
— Para com essa porra! Não precisa mais fingir. Só o que não entendo é que se você não estava feliz, então por que não veio falar comigo? — A cada palavra, sua voz fica mais cheia de ódio. E a cada palavra entendo menos o que está acontecendo. Toco em seu braço para fazê-lo parar com as roupas e olhar para mim, mas tiro a mão rapidamente. Ele está fervendo.

— Não fica falando as coisas pela metade, diz logo o que está acontecendo — digo nervosa, esfregando as mãos.
— Sonic — diz, finalmente. — Esse nome te diz alguma coisa?
— Sim. Trabalhamos juntos. Ele é meu amigo.
— Amigo? — Ri. — Não. Kirishima e eu somos amigos. Você e aquele desgraçado são amantes. Ele me contou, . Contou tudo — diz, entre os dentes.
— Amantes? Nem nessa vida e nem em nenhuma outra. Não sei o que ele disse, mas foi tudo mentira. Ele se declarou hoje para mim, mas eu disse que não era recíproco. Aliás, ele sabe bem que é você quem eu amo — digo, e ele me olha sem reação. É a primeira vez na nossa relação que o sentimento "amor" é falado. Ele fecha a mochila e tira um potinho do bolso da calça.
— Passa nas mãos se não quiser que isso se torne uma queimadura. — Ele joga o potinho em cima da cama e coloca a mochila nas costas.

Não pergunto para onde ele vai. Nem mesmo tento impedi-lo de ir. Lágrimas descem sem hesitação pelo meu rosto. Estou triste e com muita raiva. Sonic foi um completo filho da puta. Não. A culpa é minha. Eu que fui tola de achar que ele ainda seria meu amigo. Que inocente. Mas o que me deixa mais brava é o Kacchan ter acreditado nas mentiras daquele infeliz. Ele sequer me deu o benefício da dúvida. Em uma coisa Sonic estava certo, Bakugo é mesmo um idiota.
A raiva que estou sentindo se sobressai à tristeza. Enxugo as lágrimas e decido não ficar me lamentando. Que se dane, Sonic. Que se dane, Kacchan. Não quero mais ver esses dois nem em pensamento. Estou determinada a cumprir esse desejo, mas, ao entrar debaixo do chuveiro e sentir a água escorrer pelo meu corpo, volto a chorar. Os momentos que passamos juntos começam a surgir na minha cabeça.

Janeiro de 2039

Assim que ele abre a porta, meu queixo cai.

— O que é isso, Kacchan? — pergunto desacreditada.
— Que pergunta idiota é essa? Não está vendo que é um cobertor?
— E o que você está fazendo de cobertor, seu mala sem alça? Esqueceu que vamos ao cinema?
— Você que é a mala sem alça aqui! — retruca. — E eu não vou.
— Por que não?
— Porque meu desempenho é uma merda no frio.
— E daí? Vamos ao cinema, não vamos assaltar um banco. Vamos logo. Você prometeu que iria comigo — insisto.
— Que merda! Vou trocar de roupa — diz, e o sigo para dentro do cômodo.

Ele vai para o quarto, e fico à sua espera na sala. Ele volta minutos depois, ainda com o cobertor, mas, desta vez, traz um travesseiro.

— Não me olha com essa cara de cachorro perdido, eu avisei que não iria.
— E por que me fez esperar? — pergunto irritada e me levanto. — Tanto faz, eu vou embora. — Ele me empurra pelo ombro, me fazendo sentar de novo.
— Não vai, não. Eu disse que veria um filme com você e é isso que vamos fazer — diz, jogando o travesseiro em mim. — Toma. — Ele me entrega uma sacola com um potinho dentro.
— O que é isso?
— Pudim. Sabia que você ia ficar com essa cara de bocó por causa do filme. Então agora para de me perturbar e cala essa boca — diz, indiferente.
— Obrigada.
— É melhor levantar essa bunda daí e ir fazer a pipoca. Eu vou escolher o filme. Você só assiste porcaria — reclama.
— Eu vou fingir que não escutei. — Me levanto e eu vou até a cozinha.

Ele escolheu um filme de terror para vermos, apesar de eu ter dito mil vezes que não queria assistir aquilo. No final, eu vi pouquíssimas cenas. Na maior parte do tempo, fiquei de olhos fechados. Acabei dormindo.
Abro os olhos sonolenta e percebo que não estou mais na sala. É um sonho? Um pesadelo? Me mexo e sinto um peso se erguer atrás de mim. Piedade, meu Deus, eu não quero morrer.

— O que foi? — Uma voz rouca e raivosa surge, junto a uma luz laranja atrás das minhas costas. — Por favor, não me mata! — imploro chorosa.
— Hã? Mas de que merda você tá falando? — Olho para seu rosto, que está sendo iluminado pelas chamas em suas mãos.
— Kacchan?
— E quem mais seria?
— Onde estamos?
— No meu quarto, droga.
— E por quê?
— Porque você estava toda torta no sofá. Mas já estou me arrependendo de não ter te deixado lá — explica impaciente, e a luz laranja que brilha em suas mãos se apaga. — Agora deita e dorme. — Ele se ajeita, puxando a coberta.
— Eu não posso — digo, e ele solta um gemido insatisfeito.
— Por quê?
— Preciso ir pra casa. Não avisei que passaria a noite fora.
— Eu liguei pra sua mãe e avisei. Agora cala a boca e dorme — diz, e volto a me deitar. Me mexo de um lado para o outro, sem conseguir dormir.
— Ai meu Deus! O que foi agora? — Ele se senta irritado.
— Estou com medo. Não pode acender a luz?
— Não tem que ter medo do escuro. Tem que ter medo de mim se não me deixar dormir — diz, e se deita com brutalidade, virando de costas para mim.
— A culpa é sua por ter colocado aquela droga de filme — reclamo. Ele bufa e entrelaça nossos dedos.
— Não vou acender a porcaria da luz, então se contenta com isso.
— Obrigada — sussurro.

Junho de 2039

Estamos na sala da casa dele. Uma vez por ano, o pessoal da antiga turma dele sorteia uma casa para que seja o ponto de encontro deles. Esse ano foi a casa do Bakugo. Quando ele me chamou, eu não sabia disso. Só descobri depois que dei de cara com várias pessoas esparramadas no chão da sala.

— Ei, você é a menina que caiu do palco durante o festival da escola! — um garoto ruivo comenta. Sinto meu rosto esquentar na hora. — Foi um tombo bem feio.
— É. Foi — digo, sem graça.
— Você era da turma da última sala do corredor, não era? Você e o Kacchan são amigos? — uma garota de cabelo rosa pergunta e assinto. — Como se conheceram?
— Essa tonta caiu em cima de mim e me jogou na lama. — Bakugo aparece, segurando dois copos.
— Você cai bastante, hein? — comenta a garota de cabelo rosa.
— Chega desse papo furado. Você não é nenhuma estrela do rock pra me fazer ficar esperando, sabia? — diz, e estende um dos copos para mim.
— Por que me chamou?
— Estamos fazendo um torneio de Mortal Kombat. Você vai ser minha dupla.
— E por que eu?
— Porque meu parceiro é ruim e eu não gosto de perder.
— Mas... — um garoto loiro tenta argumentar, mas logo é interrompido.
— E quem protestar vai se ver comigo! — O garoto se cala, ofendido, e mais ninguém mostra resistência.
— Acho que não tenho escolha.

No começo, eu estava muito envergonhada por ser uma estranha em um grande grupo de amigos. Mas cada um deles fez eu me sentir acolhida e à vontade. Aos poucos, o apartamento foi ficando vazio, até sobrar apenas Kacchan e eu.
Estou sentada atrás de Kacchan, com as pernas cruzadas no sofá. Ele está sentado no chão, quase quebrando o controle do vídeo game. Mexo em seu cabelo e ele pausa o jogo. Por que eu fiz isso? Me encolho, esperando algum tipo de ataque, mas ele não vem. Bakugo se ajeita, colocando a almofada no meu colo e recostando sua cabeça sobre ela. Ele dá play no jogo e volta a jogar. Dou um sorriso e volto a acariciar seu cabelo.

Outubro de 2040

5 Chamadas de vídeo perdida(s)


10:45
Signal Wi-Fi Battery 85%
Foto de Perfil
Bakugo
online

Por que não me atende? Quero falar com você!

10:32 Visualizado

Por que tem que ser por ligação? Não aprendeu a escrever?

10:33

Você prometeu me mostrar mais de Nova Iorque.

10:34 Visualizado

Já faz duas semanas que foi pra essa missão.

10:34 Visualizado

Sei que deve estar corrido por aí, mas nem se preocupou em dizer se está tudo bem :(

10:34 Visualizado

E desde quando tenho que dar satisfação da minha vida pra você?

10:35

Eu me preocupo com você.

10:36 Visualizado

Não deveria. Eu sei me cuidar.

10:37

Para de ficar enchendo meu saco. E não manda mais mensagem.

10:37


Lembro que, depois deste dia, fiquei tão chateada que bloqueei ele e não nos falamos por mais ou menos 2 meses. Só voltamos a conversar porque Kirishima e Deku me contaram que, na época que Bakugo se afastou, foi porque na missão em Nova Iorque, ele havia se machucado muito feio. Quebrou uma perna e algumas costelas, e não podia sair de casa. Ficar incapacitado o deixou amargurado. E, segundo eles, ele confessou querer me preservar disso.
Me senti um pouco culpada por não o procurar novamente, então depois que os amigos dele me contaram isso, eu fui atrás e nos acertamos. Mas já era tarde. Eu já estava de viagem marcada para Paris.
Quando contei a Bakugo que iria embora, também contei que gostava dele. Já que eu estava indo embora, decidi ir de coração leve. Para minha surpresa, Bakugo me beijou. E ali eu me dei conta de que seus sentimentos eram recíprocos.


Presente

Afasto os pensamentos e desligo o chuveiro. Coloco meu pijama e deito na cama. Abraço o travesseiro dele e seu cheiro me inebria. Aos poucos, sinto o sono chegar.

Acordo com o som de batidas na porta. Olho a hora. São duas da manhã.

— É bom que o mundo esteja acabando pra me acordar uma hora dessas — resmungo, levantando da cama. Abro a porta e sinto meu corpo estremecer.
— Posso entrar?
— Não. — Tento fechar a porta, mas ele me impede.
— Eu vou entrar mesmo assim — diz, e entra.
— Isso é invasão de domicílio. Eu posso chamar a polícia, sabia?
— Pode chamar. Eu não ligo. — Ele se encosta nas costas do sofá e cruza os braços.
— O que você quer, Bakugo? — pergunto impaciente.
— Você parou de me chamar assim há muito tempo.
— É melhor se acostumar.
— Quando percebeu que me amava?
— Eu não te amo. Falei isso no calor do momento. Então se veio aqui por esse motivo, pode ir embora — digo, e abro a porta. Ele vem na minha direção e fecha a porta lentamente, ficando bem próximo a mim.
— Diz de novo que não me ama e eu vou.
— Eu não te amo.
— E pode dizer isso olhando nos meus olhos? — Ele está mais próximo agora. Se é que é possível.
— Posso — digo trêmula. — Mas não quero.
— Não fode comigo. Está mentindo na cara dura.
— Você não foi tão incrédulo quando acreditou em um desconhecido. — Me esquivo dele e vou até a cozinha pegar água. Bebo a água e, ao colocar a garrafa d'água de volta na geladeira, vejo o pudim que ele trouxe para mim ontem. Tento resistir, mas não consigo. — Você ainda está aqui? — pergunto, de boca cheia, ao me virar e ver ele encostado no batente da porta.
— Eu gritei com ele. Eu o empurrei. Quis quebrar a cara dele. Mas nem mesmo por um segundo acreditei nele — diz, e o olho com dúvida.
— Você bateu nele?
— Porra, e isso importa?
— É claro que importa, idiota. Você é um herói, não pode sair batendo nas pessoas sem mais nem menos — digo brava e ele sorri malicioso.
— Está preocupada comigo?
— Quê? Não! — protesto. — Sai logo daqui.
— Eu percebi que te amava quando fui atrás de você em Paris — diz, quando passo por ele. Me viro para vê-lo, mas ele continua de costas. — Meu estágio na agência que o Best Jeanist abrir por lá foi só uma desculpa para ir te ver, você sabe. Mas o cabelo cheio de gel, a blusa de gola alta... Aaaa — ele bufa. — Aquela merda foi ideia minha. Eu queria te impressionar. Estava com medo de você estar tão encantada com os franceses que me veria como um palhaço quando nos encontrássemos.
— Mas quando eu te vi, eu só sabia rir. Você estava ridículo — digo. Ele assente, passando a mão no rosto e se vira para mim.
— Eu tava puto por ser feito de chacota, mas também tava puto porque eu queria continuar a te ver sorrir. E saber que o motivo do seu sorriso naquele momento era eu... Porra, foi bom demais! Foi aí, . Foi nesse exato momento que percebi que te amava com cada pequena célula do meu corpo.
— Disse que não acreditou nele. Então por quê? — pergunto, me referindo às acusações que ele fez mais cedo. Ele desvia o olhar, passando a mão no cabelo.
— Eu tive medo.
— Medo? De quê?
— Do que ele falou ser verdade — confessa.
— Eu nunca...
— Não estou falando de traição. — Me olha. — Você é uma mulher incrível, . E é claro que qualquer homem que te conhecer vai ser feliz ao seu lado. Assim como eu sou. Mas e você, ? Será que você pode ser feliz ao lado de alguém como eu? — Ele balança a cabeça negativamente, com os olhos marejados. — Eu posso aguentar uma traição. Mas não suportaria ser o motivo da sua infelicidade. — Sua voz sai rouca e cortada. Meu coração bate forte e meu peito está apertado. Deixo o doce de lado e me aproximo dele.
— Você é irritante. Chato. E me faz constantemente querer te matar. Mas nada disso faz de mim uma pessoa infeliz. Aliás, já estou tão acostumada com a sua personalidade terrível, que quando você está longe, eu até sinto falta. — Rio, secando as lágrimas que ele deixou cair. — Eu te amo desde muito antes de você pensar em me amar. Porque eu sonhei com você, Kacchan, a minha vida inteira. Você é tudo o que eu sempre quis. Um pouco irritado e sem paciência, mas tudo bem — brinco.
— Me perdoa, — pede, olhando em meus olhos.
— Por ser um babaca? — Ele semicerra os olhos, mas um sorriso aparece em seu rosto.
— É. Por ser um babaca — diz, me envolvendo em um abraço, e o beijo.


FIM


Nota da autora: Oioi! Essa fic foi a segunda na categoria de animes que eu escrevi, e confesso que ter escolhido o Kacchan foi meio duvidoso da minha parte ksksk. Mas vamos torcer para ele melhorar, não é mesmo? ^^ Espero que gostem! Um beijo! Com carinho, Felix.

🪐


Nota da Beth Saturno: Eita que eu adoro um pp mal-humorado e não nego hahahaha. Eu amei essa short. Quero mais deles, como faz?

Se você encontrou algum erro de revisão ou codificação, entre em contato por aqui.
Para saber quando essa fanfic vai atualizar, acompanhe aqui.