Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 30/01/2025Ela parou ao alcançar os portões traseiros do castelo. Dois guardas conversavam despreocupadamente, mas sabia que não podia arriscar ser vista. Movendo-se com rapidez, lançou uma pequena pedra contra um arbusto próximo. O som foi o suficiente para atrair a atenção dos homens, que se afastaram para investigar. deslizou para dentro, o peso de sua missão apertando-lhe o peito .
Os corredores do castelo estavam silenciosos, exceto pelo som distante do mar batendo contra as rochas. O salão do tesouro ficava perto da sala do trono, e ela sabia que o tempo era curto. Enquanto avançava, seus olhos examinavam cada canto, seus sentidos em alerta.
Finalmente, ela chegou ao local. Duas imponentes portas de madeira, adornadas com entalhes que contavam histórias das vitórias de Nárnia , protegiam o que ela buscava. pegou um pequeno frasco do cinto, contendo um líquido transparente que pingou na fechadura. Com um leve estalo, a tranca cedeu, e ela entrou rapidamente.
O salão do tesouro era grandioso, com prateleiras abarrotadas de relíquias antigas, armaduras douradas e coroas cravejadas de joias. Porém, nada disso interessava a . Seus olhos fixaram-se em uma pequena redoma de vidro no centro da sala, onde um cristal em forma de lágrima brilhava com um leve pulso prateado – a Lágrima de Estrela.
— Finalmente… — ela murmurou e caminhou até o pedestal.
Ao retirar a redoma e pegar o cristal, uma onda de calor irradiou de suas mãos, como se o artefato estivesse vivo. Por um breve momento, hesitou e admirou a delicadeza do objeto. Mas não havia tempo para contemplações. Ela guardou o cristal em sua bolsa e virou-se para sair.
— Achei que os ratos preferissem fugir em vez de mexer onde não devem.
A voz gelada de ecoou pelo salão, o que fez congelar. Ele estava encostado à porta, com os braços cruzados e uma expressão séria em seu rosto. Sua espada repousava no quadril, mas a confiança em seus olhos dizia que não precisava dela para dominá-la.
— Rápido demais para um rato — respondeu e forçou um sorriso, embora seu coração martelasse no peito.
— E ousado demais — retrucou e deu um passo à frente. — Você sabia onde procurar, então isso não foi um acaso. Quem te mandou?
— Ninguém me manda. — Sorriu debochada.
— Então isso torna você mais perigosa do que pensei.
Sem esperar resposta, desembainhou a espada. O brilho da lâmina refletiu a luz da lua que entrava pelas janelas altas.
— Você não vai sair daqui com isso.
, num movimento ágil, sacou seu arco e puxou uma flecha, a apontando diretamente para ele.
— E você não vai me impedir.
O silêncio entre eles era tenso, como uma corda prestes a arrebentar. Ambos sabiam que o outro era habilidoso, e um único erro seria fatal.
— Então, vamos dançar — disse, um leve sorriso de desafio surgindo em seus lábios antes de avançar.
A perseguição começou. disparou pelo corredor, seus passos ecoavam enquanto a seguia de perto. Ela conhecia bem a planta do castelo, mas ele conhecia melhor. Cada movimento calculado dela era imediatamente previsto por ele, e, em pouco tempo, conseguiu a encurralar em um corredor estreito.
— Fim da linha — disse, ofegante, mas firme.
apertou o arco com força, seus olhos fixos nos dele. Por um momento, ela considerou atirar, mas algo no olhar dele a fez hesitar. Antes que pudesse decidir, o rei a desarmou com um golpe preciso, e o cristal caiu de sua bolsa, rolando pelo chão.
o pegou e o ergueu para inspecionar.
— Isso é o que você veio buscar? — Seus olhos brilhavam com desconfiança, nunca havia tocado aquele artefato, porém sabia do que se tratava.
não respondeu, mas seu silêncio foi resposta suficiente.
— Espero que você tenha uma explicação muito boa. — a encarou com uma intensidade que fez se sentir exposta, como se já estivesse começando a decifrá-la.
E assim, um dilema de vontades começava.
entrou na sala com passos firmes, o peso da realeza refletido em sua postura. Ele parou diante dela e cruzou os braços enquanto a analisava.
— Espero que tenha se acostumado com o ambiente, porque você vai passar um bom tempo aqui se não começar a falar. — Sua voz era baixa, porém carregada de autoridade.
inclinou a cabeça e fingiu considerar as palavras dele.
— É confortável o suficiente, embora eu esperasse vinho para acompanhar.
não respondeu ao sarcasmo. Ele se aproximou e apoiou as mãos na mesa entre eles, os olhos fixos nos dela.
— Quem te enviou? — perguntou, direto.
não desviou o olhar, mas permaneceu em silêncio.
— O que você pretendia fazer com a Lágrima de Estrela?
Mais silêncio.
cerrou os punhos, claramente irritado.
— Você invadiu Cair Paravel, tentou roubar um dos artefatos mais importantes de Nárnia, e agora espera que eu simplesmente aceite sua falta de respostas?
ergueu uma sobrancelha.
— Talvez eu só goste de colecionar coisas brilhantes.
— Não brinque comigo, . — Ele usou seu nome pela primeira vez, o tom gélido. — Você sabe o que esse artefato significa.
— E você não sabe — a mulher rebateu, a voz agora firme e desafiadora. — Isso é o que me preocupa.
ficou em silêncio por um momento, a analisando. Havia algo em suas palavras, em seu tom, que o incomodava.
— Então me explique. O que eu não sei?
abriu a boca para responder, porém hesitou. Seus olhos escureceram por um instante, como se estivesse calculando algo.
— Eu poderia te contar, mas não acho que você acreditaria em mim.
inclinou-se para mais perto, sua paciência se esgotando.
— Tente.
Ela manteve o silêncio novamente, mas, desta vez, havia algo diferente em sua expressão. Não era mais desprezo ou ironia, porém cautela.
— Então, não vai falar. — recuou e se endireitou. — Nesse caso, você fica aqui até mudar de ideia.
Ele se virou para sair, mas , de repente, quebrou o silêncio.
— Você pode me manter aqui o quanto quiser, mas o tempo está contra nós, .
Ele parou e se virou lentamente para encará-la.
— O que quer dizer com isso?
Ela o encarou, mas não respondeu, o que só o deixou mais frustrado.
— Muito bem, se quer jogar esse jogo, eu posso jogar também. — Ele fez um gesto para os guardas que estavam na entrada da sala. — Ela ficará sob vigilância constante. Quero relatórios diários de suas ações e qualquer palavra que diga.
Enquanto os guardas a escoltavam de volta para o calabouço, lançou um último olhar para .
— Você vai perceber que estou tentando salvar meu povo. Espero que não seja tarde demais quando isso acontecer.
a observou ser levada, seu peito apertado com a mistura de desconfiança e uma pontada de dúvida que ele não conseguia ignorar.
Quando chegou à cela, encontrou sentada despreocupadamente no banco de madeira, seus cabelos escuros presos de forma displicente e um sorriso malicioso no rosto. Ela o observou com curiosidade, enquanto ele parava em frente às barras.
— Ora, veja só, a realeza decidiu me visitar de novo. Estou honrada, majestade. — Sua voz era carregada de ironia.
ignorou o tom e cruzou os braços.
— Você tem um talento especial para zombar da paciência alheia.
deu de ombros e apoiou o queixo na mão.
— É um dos meus muitos talentos. Mas, me diga, você veio para me interrogar ou só para me admirar de novo?
bufou, porém não conseguiu esconder o brilho irritado — e ligeiramente impressionado — em seus olhos.
— Você fala muito para alguém que está em uma cela.
— E você é muito tenso para alguém que tem tudo. — Ela se inclinou para frente, o sorriso diminuindo levemente. — Por que isso te incomoda tanto, ? Não sou exatamente uma ameaça.
Ele se aproximou das barras, os olhos fixos nos dela.
— Não sou ingênuo, . Você não é uma ladra qualquer. E o fato de não revelar o motivo de estar aqui apenas me dá mais razões para desconfiar.
A mulher o encarou por um momento, sua expressão desafiadora se suavizou por um breve instante antes de ela recuar.
— Continue acreditando nisso. Talvez eu seja apenas uma ameaça, afinal.
saiu sem dizer mais nada, porém sua mente estava inquieta. Ele ordenou que um mensageiro trouxesse relatórios de todas as regiões vizinhas. Era hora de descobrir mais sobre .
Na sala de estratégias, folheava pergaminhos com relatórios dos reinos vizinhos e as horas pareciam se arrastar. Quando finalmente encontrou algo, seus olhos se estreitaram.
não era uma criminosa comum, mas uma arqueira de renome do reino de Arcadya, uma terra ao norte, conhecida por seus guerreiros leais e habilidade com o arco. Ela havia sido uma das guardiãs da rainha, mas desaparecera há algumas semanas, sem deixar rastros.
— Então você é mais do que aparenta. — segurou o pergaminho com firmeza e, decidido, voltou às celas.
Não ficou surpreso, no entanto, por vê-la agir como se estivesse ali o aguardando durante aquele tempo todo.
— E então? Descobriu alguma coisa interessante sobre mim? — Um sorriso provocador se formou nos lábios bem desenhados dela.
ergueu o pergaminho e o exibiu. ergueu uma sobrancelha, em um gesto que o instigou a prosseguir.
— , a arqueira de Arcadya. Guardiã da rainha, desaparecida há semanas. Parece que você esqueceu de mencionar essa parte da sua história. Nós nos conhecemos algum tempo atrás, no casamento de Susana, por isso seu rosto me pareceu tão familiar.
O sorriso dela vacilou por uma fração de segundo, mas logo voltou.
— Parabéns, majestade. Você sabe ler e tem uma memória decente.
estreitou os olhos.
— Por que você, uma guardiã de renome, está aqui invadindo Cair Paravel?
levantou-se e se aproximou das barras.
— Talvez eu tenha meus motivos.
— E talvez eu esteja cansado de seus enigmas.
Eles ficaram em silêncio por um momento, o olhar de ambos carregado de tensão.
— Você é persistente, — disse ela, finalmente. — Mas cuidado. Às vezes, cavar muito fundo pode revelar segredos que você não está preparado para lidar.
grunhiu irritado e saiu mais intrigado do que nunca, agora determinado a descobrir o que realmente queria, e por que parecia tão decidida a esconder a verdade.
As palavras eram claras e ameaçadoras:
"A cidadã , de Arcadya, foi injustamente aprisionada em Cair Paravel. Há rumores de que ela foi falsamente acusada de roubar artefatos sagrados, porém, como guardiã da rainha, sempre se mostrou íntegra e devota a Arcadya. A rainha nega tê-la enviado a qualquer missão. De fato, o desaparecimento de foi relatado há algumas semanas e as esperanças de encontrar a mulher viva eram nulas.
Se Nárnia não esclarecer imediatamente os fatos e libertar a cidadã, seremos forçados a revisar nossa aliança com seu reino, o que pode resultar em um rompimento imediato das relações diplomáticas."
sentiu uma onda de frustração se formar em seu peito. Ele não poderia permitir que a aliança entre Nárnia e Arcadya fosse destruída por causa de um erro que ele não cometeu. Uma conspiração que não tinha pé e nem cabeça.
Enquanto ponderava, a porta da sala se abriu, e o mensageiro de Arcadya entrou, com um semblante grave.
— O que responde o rei à acusação de aprisionar uma cidadã de Arcadya injustamente? — o mensageiro questionou diretamente, com uma postura rígida.
se levantou, seu rosto impassível, porém sua mente trabalhava rapidamente. A situação estava se tornando delicada demais, e ele precisava agir com cautela.
— Não é do meu feitio reter cidadãos de outro reino sem razão — respondeu , tentando manter a calma. — está sob custódia, mas é uma questão de segurança, não de espionagem. Quanto ao roubo, como saberei se não foram os monarcas de Arcadya que a enviaram para efetuá-lo?
O mensageiro o observou por um momento, seus olhos desconfiados.
— jamais aceitaria ordens como estas. A menos que tenha provas concretas, o melhor seria libertá-la antes que seja tarde demais. Creio que perder a aliança entre Nárnia e Arcadya não esteja em seus planos.
permaneceu em silêncio por um momento, as palavras do mensageiro pesando em seu peito e ao mesmo tempo o irritando profundamente. Como podiam confiar em naquele ponto? No entanto, não queria expor as evidências que tinha, sentia que havia muito mais e queria desvendar o real motivo de , porém sabia que precisava agir rapidamente para evitar um conflito maior. Mas como fazer aquilo sem revelar demais?
— Eu entendo suas preocupações, e a seriedade da situação — disse , finalmente. — Para resolver essa questão, participarei de um evento diplomático com os representantes de seu reino. Assim, poderemos esclarecer qualquer mal entendido e reforçar as boas intenções de Nárnia.
O mensageiro observou-o com ceticismo, mas não questionou a proposta. Ele sabia que era conhecido por ser um rei calculista e astuto.
— Isso será aceito, mas apenas se você puder apresentar uma prova de sua boa fé. Para mostrar que Nárnia ainda valoriza a aliança com Arcadya, exigimos que o rei venha acompanhado de alguém que simbolize a união entre nossos reinos.
A presença de uma esposa ou consorte poderia selar o acordo entre os dois reinos. sabia que precisava agir rapidamente para manter a aliança e evitar um rompimento que seria desastroso para todos. Porém ele não tinha nenhuma mulher de confiança que pudesse desempenhar tal papel em tão pouco tempo. Não havia se casado e, por muito tempo, acreditava que nunca iria, até…
Ele olhou para o mensageiro, então um pensamento ousado surgiu em sua mente, algo inesperado, mas talvez a solução perfeita.
Horas mais tarde, se encontrava na cela de . Ela estava deitada no banco de madeira, com os olhos fechados, como se estivesse dormindo, mas sabia exatamente que ele estava ali. Quando o rei entrou, abriu os olhos e o encarou com seu sorriso habitual.
— Eu sabia que você voltaria. Sentiu falta da minha companhia, ? — ela zombou e levantou uma sobrancelha.
respirou fundo e tentou manter a calma diante das constantes provocações dela.
— Não estou aqui por diversão, . Eu preciso de sua ajuda.
Ela o olhou com uma mistura de curiosidade e desconfiança.
— E por que eu ajudaria você? Após tudo o que fez? Após me prender como uma criminosa e me acusar injustamente?
não respondeu imediatamente. Ele sabia que o que estava prestes a pedir seria difícil de aceitar. Mas o reino, e a aliança com Arcadya, estavam em risco.
— Um mensageiro de Arcadya chegou. Eles nos acusam de reter você e de acusá-la injustamente, sendo que nós dois sabemos da verdade. Eu preciso provar que não tenho nada a ver com isso, que a aliança entre nossos reinos permanece mesmo em meio à desconfiança. Para que isso aconteça, vou participar de um evento diplomático com os representantes dos reinos. Eles exigem que eu esteja acompanhado de uma parceira, alguém que simbolize a união entre Nárnia e Arcadya.
levantou-se e se inclinando em direção às barras da cela. Seus olhos estavam agora mais atentos, a provocação dando lugar à curiosidade, embora algo sem si já parecesse saber a resposta.
— E o que quer que eu faça? — perguntou ela, cínica. — Hmmm… você está me pedindo para ser sua parceira, reizinho?
olhou-a diretamente nos olhos.
— Sim. Finja ser minha aliada. Aparentemente, você tem uma certa habilidade para enganar as pessoas, já que ninguém acredita que é uma ladra. Mostre aos outros reinos que nossa aliança ainda é forte e que não somos ameaças um para o outro.
se recostou na parede e sorriu suavemente, como se refletisse sobre a proposta.
— E por que eu faria isso, ? Não tenho razão alguma para ajudar você depois de tudo o que aconteceu.
sabia que ela tinha suas próprias razões para hesitar, mas ele também sabia que era pragmática o suficiente para entender as implicações disso. Ele deu um passo à frente, mais sério agora.
— Porque, se não o fizermos, não apenas Arcadya, mas os reinos vizinhos podem romper suas alianças com Nárnia. E isso não é bom para nenhum de nós, você sabe.
ficou em silêncio por um momento, avaliando a situação. Ela finalmente suspirou, um sorriso sardônico ainda no rosto.
— Você realmente acha que só porque me prende em uma cela e me pede ajuda eu vou aceitar?
deu um sorriso curto, quase imperceptível.
— Não estou pedindo. Estou te oferecendo uma oportunidade de se redimir pelo quase roubo. E, de alguma forma, sei que você vai aceitar. Não me faça gastar mais tempo, .
A mulher, mais uma vez, o encarou, e o silêncio entre os dois se estendeu. Então, com um suspiro resignado, ela falou:
— Eu aceito. Mas saiba que, se eu fizer isso, você vai me dever um favor, . Um grande favor.
Ele a observou por um momento, e um sorriso pequeno, mas sincero, se formou em seus lábios.
— Considero esse favor pago, então. Agora, prepare-se. Temos um evento para preparar.
observava a cena, com sua postura impecável e olhos atentos. Ao seu lado, , agora vestida com um deslumbrante vestido de veludo azul escuro, parecia completamente à vontade entre os nobres, sua presença imponente contrastando com sua aparente posição subalterna. Ela sorriu com elegância enquanto conversava com uma duquesa sobre a arte da caça, suas palavras afiadas e encantadoras ganhando o respeito imediato da corte.
“Ela realmente sabe como se apresentar,” pensou, sentindo uma surpresa silenciosa crescer dentro de si. Embora ainda desconfiado, não podia negar que estava se saindo perfeitamente bem no papel de aliada. Cada movimento dela, desde o jeito como segurava a taça de vinho até o brilho nos olhos ao falar de seus feitos, mostrava uma destreza que ele não esperava de uma ladra.
— Senhor , o que acha? — perguntou , interrompendo seus pensamentos enquanto ela se aproximava dele. A mulher sorriu, seus olhos brilhando com um toque de diversão. — A corte parece impressionada, não?
a olhou de lado, vendo a confiança que ela exibia em seu rosto. Ele não pôde deixar de se sentir desconfortável, não só pela farsa, mas também pelo fato de que estava começando a vê-la de uma forma que nunca imaginou. estava conquistando mais do que apenas a corte. Ela estava conquistando sua admiração, causando nele emoções que jamais esperava sentir.
Nunca havia desejado ficar apenas olhando para alguém por tantas horas.
— Você está se saindo bem — o rei respondeu com um sorriso, enquanto tentava manter a compostura. — Mas mantenha os olhos atentos. O objetivo é conquistar e manter os aliados, não inimigos.
apenas acenou com a cabeça e absorveu suas palavras com um sorriso travesso. Eles continuaram a percorrer a sala juntos, cumprimentaram figuras importantes, compartilharam risos e conversas despreocupadas. , com seu jeito descontraído, parecia perfeitamente em casa, enquanto cumpria seu papel de anfitrião, sempre vigilante. Ele sentiu uma sensação estranha de conforto ao ter ela ao seu lado, mas sabia que, a qualquer momento, a farsa poderia ser desfeita.
E então, como uma sombra que se aproxima da luz, um novo convidado entrou na sala. Um homem de porte imponente, com uma capa de pele escura e um olhar afiado. Ele se dirigiu diretamente à mesa de , os passos pesados ecoando no piso de pedra. Era Lorde Cadwell, um dos maiores rivais de , conhecido por suas ambições e seu desprezo por Nárnia.
— Ah, , meu velho amigo! — Lorde Cadwell saudou, seus olhos percorrendo a sala até se fixarem em . — E quem é esta jovem dama? Não é todo dia que vejo uma pessoa tão encantadora em Cair Paravel.
sorriu educadamente, mas o tom na voz de Lorde Cadwell era de clara desconfiança. Ele estava estudando cada movimento dela, como se já soubesse algo que os outros não sabiam.
— Lorde Cadwell, permita-me apresentar Lady , uma visitante de Arcadya. Ela está aqui para discutir questões de aliança — respondeu, com um sorriso suave, tentando manter a calma.
Porém, Lorde Cadwell parecia não estar satisfeito com aquela explicação. Seus olhos estreitaram-se enquanto ele dava um passo à frente, apontando para com um sorriso irônico.
— Lady , é? E eu me pergunto: será que você também é a mesma ladra que tentou roubar o tesouro de Cair Paravel há algumas semanas? — disse ele, com uma risada maliciosa.
A sala de repente silenciou. Todos os olhos se voltaram para , que, por um momento, parecia congelada. O rosto de se transformou em uma máscara de surpresa, embora ele já soubesse que essa possibilidade poderia surgir. Mas o golpe foi rápido demais.
— O que…? — começou, mas Lorde Cadwell não o deixou falar.
— Não se faça de ingênuo, ! Eu a vi com meus próprios olhos. Uma ladra como ela jamais poderia ser uma aliada de Nárnia, muito menos sua parceira — Lorde Cadwell continuou, agora com uma expressão de triunfo. — Acredito que todos aqui deveriam saber o tipo de pessoa com quem você está se associando.
permaneceu imóvel por um momento, seus olhos fixos em Lorde Cadwell com uma frieza que contrastava com a tensão crescente ao seu redor. Quando ela finalmente falou, sua voz estava calma, mas com um toque de ironia:
— Então você me reconheceu, lorde Cadwell. Que bom, isso faz as coisas mais interessantes. — Ela olhou para , seu olhar desafiador. — Parece que minha verdadeira identidade não foi tão bem guardada quanto eu pensava.
A reação da corte foi mista: alguns estavam claramente surpresos, outros murmuravam, e outros, ainda, olhavam com uma certa desconfiança. O silêncio, no entanto, era pesado, como uma corda prestes a se romper.
olhou para , tentando avaliar a situação. O que ela faria agora? Como responderia a essa acusação sem que tudo desmoronasse? Ele sabia que nessa noite deveria consolidar suas alianças, poderia ser a última chance de provar que Nárnia não estava se tornando um alvo fácil para qualquer um que quisesse explorar suas fraquezas.
, porém, parecia calma, e uma sombra de um sorriso passou por seus lábios. Ela sabia o que tinha que fazer, e dessa vez, não seria apenas uma jogada política. Ela estava decidida a defender sua honra, de uma maneira que nunca imaginaria.
O salão de festas agora estava vazio, com apenas os ecos de conversas abafadas ainda ressoando nos corredores. sentia um peso crescente sobre os ombros. O olhar da corte ainda estava fixado nele e, mais uma vez, ele se viu forçado a lutar para manter o controle sobre a situação. Mas agora, em um dos corredores mais tranquilos do castelo, a farsa havia finalmente começado a ceder.
estava diante dele, uma figura solitária contra a luz tênue das velas, sua postura desafiadora suavizada pela falta de espectadores. Eles estavam longe dos olhares curiosos da corte, mas a tensão entre eles parecia mais forte do que nunca. As palavras de Lorde Cadwell ainda pairavam no ar, e se sentia dividido entre a lealdade ao seu reino e o entendimento crescente sobre as ações de .
— Então, você vai me contar o que realmente está acontecendo? — perguntou, a voz firme, mas com uma faísca de dúvida em seus olhos. Ele estava tentando entender, mas a confiança ainda não vinha com facilidade.
olhou para ele, como se o estivesse avaliando, antes de dar um passo à frente, mais perto da fraca luz que iluminava o corredor. Seus olhos estavam mais sérios agora, sem o brilho da provocação habitual.
— Não foi por ganância, . Não foi por nada que você pensa — ela disse, sua voz agora mais suave. — Eu roubei a Lágrima de Estrela porque era a única esperança para salvar meu povo.
se aproximou, um olhar cético estampado no rosto. Ele cruzou os braços, mas seu corpo se tornou mais tenso, como se estivesse esperando mais do que apenas uma justificativa simples.
— Eu já ouvi essa história antes, . O que você realmente está tentando me dizer? — Ele se forçou a manter a compostura, mas algo em sua postura suavizou, um reflexo da luta interna que estava começando a travar.
Ela respirou fundo e fechou os olhos por um momento antes de continuar.
— O meu reino… está sendo assolado por uma praga. Uma doença que consome as forças vitais dos nossos aldeões e está se espalhando mais rápido do que podemos conter. — Ela pausou, sentindo o peso de suas palavras enquanto lágrimas se formavam em seus olhos. — Não há outro jeito. Meu rei e minha rainha não querem que a notícia se espalhe, acham que vamos conseguir enfrentar isso sozinhos, mas todos sabem que não. Precisamos disso. Nosso povo precisa, ou todos vão morrer.
sentiu seu coração apertar à medida que ela falava, e, pela primeira vez, começou a questionar o próprio papel que desempenhava. Ele sempre acreditara que as alianças políticas e os pactos diplomáticos eram o caminho para a paz, mas agora, diante de , via algo que nunca imaginou: um reino à beira da ruína, com um povo que sofria, e reis orgulhosos demais para pedir ajuda e salvar aqueles que precisavam.
— O que você esperava de mim? — perguntou, a voz baixa, quase incerta. Ele olhou para ela, enquanto tentava entender as implicações do que estava ouvindo. — Você me fez acreditar que estava roubando apenas por lucro, mas agora me diz que há algo muito maior em jogo.
olhou para ele, seus olhos carregados de dor e uma frustração que ela não havia mostrado antes.
— Eu precisava de ajuda. Eu não tenho mais escolhas. Se não for pela Lágrima de Estrela, meu povo vai morrer. Não importa quem eu tenha que enganar, ou como me vejam. Eu faria qualquer coisa para salvar os que ainda posso. — Ela se aproximou dele, seus olhos fixos nos do rei. — , eu não quero ser uma criminosa aos seus olhos, mas o que mais você faria se estivesse em meu lugar? O que mais você faria se a vida do seu povo estivesse sendo tirada e ninguém parecesse se importar?
sentiu o peso da pergunta e o calor crescente de sua própria luta interna. Ele nunca teve de enfrentar uma situação como aquela. Seu reino nunca esteve ameaçado por algo tão imenso e urgente enquanto suas mãos estavam atadas. Ele era um rei, afinal. era a guardiã da rainha e nada podia fazer. Ainda assim, ela sacrificava tudo pelo seu povo. E, ao ver a sinceridade nos olhos de , ele começou a questionar tudo o que sempre acreditou sobre dever, lealdade e responsabilidade. Questionou até o porquê de nunca se imaginar conectado a alguém.
Os olhos dela transbordavam tantas emoções. Medo, insegurança, dor, frustração, súplica, admiração e… carinho? Como aquilo era possível?
Ele quis que todos os sentimentos ruins simplesmente fossem embora e ele pudesse aninhar apenas os bons ao redor dela.
— Eu… — começou, mas as palavras morreram em sua garganta.
, percebendo a confusão dele, deu um passo para trás e olhou para o chão, seu rosto marcado pela dor. Ela sabia que estava tentando entender, mas também que o impacto da verdade era algo difícil de absorver, ainda mais para alguém que cresceu em um mundo onde os problemas nunca pareciam tão próximos ou imediatos.
— Eu nunca quis te enganar, . Mas o meu povo está morrendo, e você é o único que ainda pode me ajudar. — A voz dela tremia, mas ela a controlava com esforço. — Deixe-me levar a Lágrima de Estrela. Você não perderá nada. Nós dois sabemos que não precisamos desse artefato como uma relíquia de poder. Eu só preciso dele para salvar os que ainda posso.
permaneceu em silêncio por um longo momento. Ele queria ajudar, queria acreditar nela, mas o peso da responsabilidade de sua posição como rei de Nárnia estava em constante conflito com seus próprios sentimentos sobre justiça e moralidade.
— Eu… não sei o que fazer com isso, — murmurou, a voz carregada de conflito. — Você me pediu ajuda, mas… o que acontece se eu te ajudar? E se meu reino for ameaçado por isso? E se os outros reinos virem isso como uma fraqueza?
olhou para ele com um olhar pensativo, quase triste. Sabia que estava dividido. Mas também sabia que, por mais que hesitasse, algo havia mudado dentro dele.
— O que acontece se você não ajudar, ? — ela perguntou, mais calma agora, com a sinceridade de quem não esperava mais respostas fáceis. — O que acontece se as pessoas morrerem, mesmo você sabendo que poderia tê-las salvo?
não respondeu de imediato, mas em seu coração a dúvida já havia plantado uma semente. Pela primeira vez, começou a enxergar o outro lado da história, não mais como um simples rei que se apegava às regras e alianças, mas como um homem que poderia fazer a diferença.
Os olhos de ainda transbordavam de dor e sentiu uma necessidade avassaladora de apagar tudo.
Antes que pudesse se refrear, suas mãos seguravam o rosto de e seus olhos oscilavam entre os olhos lacrimejados dela e seus lábios entreabertos.
— … — O nome dele ecoou em uma súplica e o rei decidiu que não pensaria mais sobre aquilo.
Venceu a distância restante entre eles e a beijou intensamente. Seus lábios tomaram os dela com voracidade e retribuiu de imediato. As línguas iniciaram uma dança a qual pareciam ter nascido sabendo executar.
apertou a mulher contra si e não lhe restavam mais dúvidas sobre nada. Depois daquele momento, não seria mais capaz de soltá-la. Faria qualquer coisa por .
, que estava conversando com alguns dignitários, sentiu o chão tremer sob seus pés. Ele se virou para , que estava ao seu lado, e viu a expressão de alerta em seu rosto, enquanto a mão dela, entrelaçada à sua por debaixo da mesa , o apertou com urgência. Sem precisar de palavras, ele soube que algo estava prestes a acontecer.
— Eles estão aqui… — sussurrou e seus olhos se estreitaram enquanto olhava para a porta de entrada do salão, onde sombras começaram a se aglomerar.
A porta foi arrombada com força, e, em instantes, homens armados irromperam no salão, empunhando espadas e gritando ordens. Era claro que eram soldados do reino de Édar, de onde vinha o Lorde Caldwell. O objetivo deles era óbvio: a Lágrima de Estrela. Pelo jeito, ele havia ouvido muito mais do que imaginavam sobre suas conversas.
se apressou para organizar suas tropas, mas antes que pudesse dar uma ordem clara, estava à sua frente, já com o arco em mãos e se posicionando com a destreza de uma guerreira experiente. Seus olhos estavam fixos nos soldados invasores, e seu corpo estava em total sintonia com sua arma, pronta para agir.
— Cuidado, — ela gritou, antes de disparar uma flecha que atingiu um dos invasores em cheio. O homem caiu, mas o caos continuava a se espalhar.
fez um gesto rápido para seus soldados e correu em direção ao conflito. Sua espada estava em suas mãos, e ele lutava com a ferocidade de quem não podia perder. A batalha se espalhou rapidamente pelo salão, mas a situação parecia fora de controle. Cada ataque dos invasores parecia ser planejado, como se soubessem exatamente onde a Lágrima de Estrela estava guardada.
, ao lado de , mantinha sua posição de combate e derrubava inimigos com uma precisão impressionante. Seus olhos não deixavam o rei e o alertavam a cada movimento perigoso. Ela estava ao lado dele, não mais como prisioneira ou acompanhante. Talvez desde o início fosse muito mais do que isso. A lealdade que ele começara a ver nela se confirmava a cada movimento que fazia e, depois dos momentos que compartilharam a sós ele sabia, havia paixão ali. A semente de um amor que floresceria e deixaria para trás seus dias sombrios.
De repente, foi cercado por três soldados inimigos. Ele bloqueou o primeiro golpe, mas o segundo o pegou de surpresa, e sua espada foi desviada para o lado. O soldado levantou a lâmina para um golpe fatal, porém, antes que o impacto fosse feito, saltou para a frente, seu corpo se interpondo entre e o atacante.
Ela usou sua agilidade para desviar a espada do inimigo, mas não sem custo. O golpe atingiu sua lateral, e soltou um grito abafado de dor e tropeçou para trás. O soldado caiu com a flecha de cravada em seu peito, porém ela mal teve tempo de se recompor.
, agora livre da ameaça imediata, se virou rapidamente para , seu rosto refletindo o choque ao vê-la ferida. Ela estava se afastando para continuar a luta, mas a ferida na lateral de seu corpo a fez vacilar por um instante.
— ! — gritou.
Ela tentou afastá-lo com um gesto rápido, mas sua força estava começando a diminuir.
— Estou bem, — disse com esforço, sua voz tensa, mas sem mostrar fraqueza. — Agora, fique de olho na Lágrima.
Mas não podia simplesmente deixá-la ali, jamais conseguiria fazer aquilo. Ele a puxou para trás com firmeza e a apoiou contra uma parede próxima, enquanto sua espada ainda estava em punho.
— Você está ferida, . Não pode continuar lutando assim!
resistiu um pouco, sua expressão marcada pela dor, mas ela sabia que ele tinha razão. Mesmo com o sangue escorrendo de seu ferimento, ainda olhou com determinação para o campo de batalha.
— Eu não vou parar até a Lágrima estar segura, . Não importa o que aconteça. — A coragem estava estampada em seus olhos.
Ele hesitou, mas não demorou a tomar uma decisão. Com um suspiro, a ajudou a se levantar.
— Nós dois vamos garantir que isso acabe. Vamos, agora! — ele disse, com firmeza.
, agora mais atento do que nunca, manteve ao seu lado enquanto avançavam para o salão, onde a luta ainda estava em pleno curso. Eles estavam longe de ter vencido, mas a batalha estava agora em seus termos, com ambos lutando juntos, lado a lado.
O golpe de contra o soldado inimigo foi crucial, e sua determinação para proteger tanto quanto a Lágrima de Estrela foi o que finalmente deu a vantagem necessária para a vitória. Mas, enquanto a luta continuava, não podia deixar de pensar no sacrifício que ela fizera por ele.
E, enquanto ele olhava para , agora mais confiante e focada, ele sentiu o peso de todos os seus sentimentos por ela.
A tensão estava no ar enquanto , acompanhado por e alguns de seus melhores guerreiros, se dirigia para a sala do trono, onde o líder do ataque havia sido aprisionado. Ele estava sentado, suas mãos amarradas, mas o olhar desafiador ainda se mantinha firme.
— Você ainda acha que pode escapar? — questionou, sua voz firme e fria, enquanto dava um passo à frente.
O homem sorriu, seu olhar penetrante.
— Eu não sou o único que você precisa se preocupar, Príncipe . Já viu o que um simples cristal pode fazer em mãos certas? — zombou, sua voz carregada de desprezo. — Não sou o único interessado na Lágrima de Estrela. Outros reinos pagarão uma fortuna por ela, e com esse poder... Eu teria controle sobre todos os reinos da região.
sentiu um arrepio. A ambição do homem estava clara, mas não apenas isso. Ele tinha planos para usar o poder do artefato para manipular outros reinos, colocando em risco a paz de Nárnia.
— Você acha que algum reino, sequer um inimigo, gostaria de ver você no comando? — retrucou. — A Lágrima não é algo para ser usado como mercadoria, é um símbolo de força, sim, mas também de responsabilidade. E você não está em posição de decidir seu destino.
O líder do ataque riu, ignorando a ameaça de .
— Responsabilidade? — ele escarneceu. — Você, de todos, fala de responsabilidade? Quantas vidas você sacrificou para manter sua coroa, ? Quantos de seus próprios súditos já morreram enquanto você os trocava por doces ?
As palavras pairaram no ar, como um peso, e sentiu o impacto. Odiava quando traziam seu passado à tona daquela forma, mas não podia se deixar abalar. Ele tinha um papel a cumprir, e a Lágrima de Estrela precisava ser protegida.
Ao lado do rei, manteve-se em silêncio, enquanto observava tudo com atenção. Queria socar a cara daquele maldito até que parasse de respirar, porém sabia que esse momento era crucial. As palavras trocadas entre e o inimigo não eram apenas sobre guerra ou poder; eram sobre o próprio futuro de Nárnia e o papel que eles tinham nas mãos. se aproximou silenciosamente de , seus olhos fixos no líder derrotado. A cada palavra que ele proferia, ela sentia mais claramente a intensidade da decisão que estava prestes a tomar.
— Eu não vou deixar você levar a Lágrima de Estrela para seus próprios interesses — declarou, sua voz agora firme e resoluta.
Caldwell tentou reagir, mas não teve tempo. Antes que pudesse sequer levantar, olhou para , seu olhar cheio de confiança, e fez um gesto sutil com a mão, pedindo para que ela se aproximasse.
— A Lágrima... — disse, sua voz mais suave agora. — Você sabe o que fazer com ela.
o olhou por um longo momento, os olhos brilhando com uma compreensão e emoção silenciosa. O peso do momento não passou despercebido. Ela sabia o que aquilo significava — que estava confiando nela de uma forma que não fazia sentido se ela ainda fosse uma estranha para ele. A confiança dele era clara, e, de alguma forma, isso a tocava profundamente. Nunca imaginou que ele a veria de forma tão verdadeira, não apenas como uma ladra, mas como alguém digna de carregar o poder de um artefato tão poderoso.
Com um gesto firme, pegou a Lágrima de Estrela das mãos de , que a entregou sem hesitação. Ela não tinha mais dúvidas sobre seu destino. O destino de seu reino, sim, mas também o seu próprio.
— Eu farei o que for necessário — ela respondeu com uma voz calma, mas carregada de determinação. — E, desta vez, a Lágrima será usada para o bem.
Os olhos de brilharam com uma mistura de orgulho e apreensão. Ele sabia o quanto isso significava — que, agora, os futuros de Nárnia e Arcadya estavam nas mãos deles dois.
A batalha estava vencida, mas a verdadeira luta estava apenas começando.
O líder inimigo foi arrastado para fora, agora vencido, sua ameaça neutralizada, porém o clima em Cair Paravel ainda estava carregado. e se entreolharam, sem palavras por um momento. As estrelas brilharam acima deles, iluminando a sala do trono, e, por um breve instante, tudo parecia possível.
O que começara como uma farsa, uma aliança forçada entre eles, agora se revelava como algo mais. Algo que e não poderiam mais ignorar.
A decisão estava tomada, e o futuro seria deles para moldar.
Mais uma vez, um beijo selou tudo que ainda estava por vir. A fome o tornava voraz. A ternura o tornava intenso e o amor o tornava vital.
Com um movimento delicado e calculado, tocou a ponta do cristal em vários dos feridos. Cada toque parecia restaurar não apenas seus corpos, mas suas esperanças. As feridas se fechavam e as pessoas começaram a se levantar, agradecendo com olhares de reverência. Ela curava com uma graça que nunca havia visto antes, como se o poder do artefato fluísse de dentro dela.
observava em silêncio, admirado não apenas pela magia da Lágrima, mas pela coragem e determinação que emanava. Ela havia cumprido a promessa, salvando vidas e garantindo a vitória, mas sua missão ainda não havia terminado.
Quando o último ferido foi tratado, se afastou para um canto da praça, onde a seguiu, sua expressão ficou marcada pela preocupação.
— Você vai voltar, não é? — ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de entendimento.
olhou para ele, o brilho do cristal refletido em seus olhos. A tristeza em seu olhar era clara.
— Eu preciso voltar, . Meu povo ainda está em perigo. A praga continua a devastar nossas aldeias, e a Lágrima de Estrela é nossa única esperança. — Ela hesitou, a dor da decisão pesava em suas palavras. — Não posso deixar isso para trás. Preciso ajudar meu reino.
permaneceu em silêncio por um momento. Ele sabia o que estava pedindo e entendia a importância da missão dela. No entanto, o pensamento de vê-la partir, de perdê-la depois de tudo o que haviam passado juntos, o afligia de uma forma que não conseguia explicar completamente.
Ele deu um passo à frente, tomando sua mão com suavidade, mas firmeza.
— Eu sei que seu povo precisa de você, . E eu não vou impedir você de ir, não depois de tudo o que você fez por Nárnia. — A voz de se suavizou, mas seus olhos continuaram firmes em . — Mas eu... eu não quero que você vá. Não assim. Não sem saber que, juntos, podemos encontrar uma solução para ambas as terras. Podemos trabalhar juntos, ajudar seu reino e, ao mesmo tempo, proteger Nárnia.
olhou para ele, surpresa pela sinceridade nas palavras dele. Ela sabia que era o rei de Nárnia, mas as palavras dele agora não eram apenas de um governante preocupado com a paz de seu reino. Havia algo mais em seu olhar, algo que ela não conseguia ignorar.
Ela soltou a respiração que mal percebeu que estava prendendo, e, por um breve momento, olhou para as mãos que agora entrelaçava às dele.
— Eu... eu não sei o que fazer. — confessou, sua voz suave e cheia de incerteza. — Eu quero ficar, , mas... meu povo precisa de mim, e a Lágrima... não pode ser desperdiçada. Eles ainda estão morrendo. Eu... — Ela olhou para baixo, lutando com a sensação de culpa e dúvida.
levantou a mão e tocou suavemente o queixo de para que ela o olhasse nos olhos. Ele viu a vulnerabilidade ali, algo que raramente mostrava. Aquilo o tocou profundamente. Não queria perdê-la e não iria.
— Eu confiei em você desde o começo, . Mesmo quando não sabia o que fazer com você, mesmo quando pensava que você só tinha roubado por ganância... agora vejo que estava errado. — Ele deu um passo mais perto dela, sem hesitar. — Agora sei que você tem algo muito mais valioso que qualquer artefato. Tem coragem. Tem paixão. Tem um coração que luta por aquilo em que acredita. E eu não quero perder você. Não sem tentar...
A confissão de era sincera, sua voz tremendo com a emoção que tentava esconder. sentiu seu coração acelerar com as palavras dele. Ela sempre teve seu orgulho e seu foco na missão, mas agora sentia a batalha interna crescente. O que ela realmente queria? O que deveria fazer?
olhou para ele, para a sinceridade em seus olhos, e as palavras que surgiram em sua mente foram as mais simples, mas também as mais profundas.
— Eu também não quero ir, . Eu... — Ela hesitou, o peso da decisão ainda pairando no ar. — Eu não posso...
a interrompeu suavemente, tomando sua mão com força.
— Eu entendo que você tem responsabilidades, , mas... posso ser parte delas? — Ele não sabia de onde vinha a coragem para fazer essa pergunta, porém não podia mais se conter. — Você não precisa fazer tudo sozinha. Podemos encontrar uma maneira de salvar ambos os reinos. Juntos. Me deixe ir com você.
olhou para ele, sentindo o coração bater mais forte. Ela queria acreditar naquilo, queria confiar. E, por mais que fosse difícil, algo nela estava começando a ceder. Com uma emoção crescente, finalmente sorriu suavemente, a dor e a dúvida se dissipando aos poucos.
— Talvez possamos realmente fazer a diferença. Eu aceito que venha comigo, . Vamos fazer isso juntos.
E, com isso, a decisão foi tomada. O futuro agora não era mais sobre separar seus destinos, mas sobre uni-los. Juntos, iriam proteger Nárnia, salvar o reino de Arcadya, e, quem sabe, mais do que isso.
Dentro das muralhas de Cair Paravel, a atmosfera era igualmente tranquila. A grande sala do trono, onde antes havia apenas uma tensão silenciosa e constante, agora estava cheia de vida. Soldados e nobres se reuniam com alegria para celebrar a vitória que parecia quase um milagre, não apenas pela defesa bem-sucedida do reino, mas pela promessa de uma aliança renovada entre Nárnia e Arcadya.
A Lágrima de Estrela, o artefato que antes era símbolo de desconfiança e mistério, agora tinha um novo propósito. O cristal havia sido levado ao coração do reino de Arcadya, onde sua energia, canalizada com o toque de , curou as terras devastadas pela praga. As aldeias que estavam à beira da extinção floresceram novamente, e os aldeões, uma vez doentes e fracos, agora eram saudáveis e cheios de vida. O reino reconheceu os esforços de e a gratidão por sua aliança com Nárnia, e as ameaças de ruptura foram finalmente afastadas.
Porém, apesar da cura e da paz, não partiu para retornar à sua terra natal. Em vez disso, ela decidiu permanecer em Cair Paravel. Não mais como a prisioneira que uma vez foi, mas como conselheira, aliada e o grande amor de . Ele havia demonstrado que as alianças podiam ser mais fortes do que as rivalidades, que os laços entre os reinos poderiam ser construídos sobre confiança e respeito mútuo. E, em sua decisão de ficar, não estava apenas protegendo o reino de Nárnia, mas também o seu próprio coração.
, por sua vez, havia mudado profundamente. O rei, que antes era marcado por desconfiança e reticências, agora se via mais determinado e compassivo. O relacionamento que ele começara com em uma base de desconfiança se transformara em um amor intenso e arrebatador. Ele não apenas viu em uma aliada capaz, mas também uma amiga verdadeira, a mulher de sua vida, alguém que compartilhou com ele a carga das responsabilidades de governar. E, mais do que isso, alguém que, mesmo em meio ao caos e à dor, manteve sua humanidade, sua coragem, e um coração que batia por aqueles que precisava proteger.
Agora, de pé na varanda do palácio, observando a paisagem que se estendia diante deles, e estavam juntos. O reino estava em paz, os reinos estavam unidos, e a tensão do passado havia desaparecido. Juntos, estavam prontos para enfrentar o que quer que o futuro lhes reservava.
— O que será do futuro, ? — perguntou , sua voz suave, mas cheia de um novo tipo de serenidade. Seus olhos estavam fixos no horizonte distante, onde o céu se encontrava com o mar, como se ali estivesse a chave para as respostas que procurava.
Ele olhou para ela, um sorriso leve nos lábios, e se aproximou mais, colocando a mão sobre o ombro dela de forma protetora. Podia sentir a confiança crescente entre eles, e sabia que ela não estava mais apenas falando de sua própria terra, porém de uma parceria verdadeira.
— Nós dois temos o poder de moldar esse futuro, . E não vamos fazer isso sozinhos. A Lágrima de Estrela... ela pode fazer mais do que curar. Podemos usá-la para proteger o mundo de forças que nem imaginamos. E não importa o que aconteça, não vamos deixar que as sombras tomem o que conquistamos juntos.
sorriu, se sentindo mais amada do que jamais imaginara. Ela olhou para ele com um sorriso tímido, mas cheio de carinho.
— Eu nunca imaginei que encontraria isso, . Você... e tudo o que construímos juntos. Não só para os reinos, mas... para nós mesmos. — Ela deu um passo mais perto dele, sentindo o calor de sua presença. — Eu quero ficar com você. Não só por causa do meu povo ou da Lágrima, mas porque você se tornou alguém que eu confio... alguém que eu não quero perder. Alguém que eu amo.
Ele a olhou, seu olhar cheio de gratidão e amor.
— E eu, você. — Ele pegou sua mão com firmeza, com uma força silenciosa. — Juntos, vamos fazer isso. Proteger, curar, governar. E, se o futuro nos der algum desafio, enfrentaremos juntos, como aliados, como amigos... e, espero, como rei e rainha.
O silêncio entre eles era suave, mas repleto de significado. Nenhuma palavra mais era necessária. Ambos sabiam o que o futuro lhes reservava: desafios, lutas e vitórias. Mas, mais importante, sabiam que não iriam enfrentá-los sozinhos.
Enquanto o sol se escondia atrás do horizonte, e se mantiveram juntos. E, com o vento suave acariciando suas faces e o mundo ao seu redor em paz, sabiam que o mais difícil já havia sido superado. O verdadeiro começo, agora, estava diante deles, um novo capítulo de uma aliança que, juntos, fariam durar para sempre.