Revisada por: Saturno 🪐
Última Atualização: 12/06/2025.cruzou os braços abaixo do peito, claramente ofendido com a reação da melhor amiga. Ele franziu o cenho, e quando olhou na direção dele, as gargalhas apenas ganharam mais forças, e reparou que, como sempre, ela ia ficando ainda mais vermelha conforme as risadas aumentavam.
— Sim, ! Nós dois somos os únicos melhores amigos que nunca fizeram aquele acordo de “se eu não tiver encontrado ninguém aos meus trinta anos, nós nos casamos”, sabe? Deveríamos fazer isso inclusive. E qual o problema de passar a data do dia dos namorados comigo? Não entendi qual a graça.
secou os olhos, ainda rindo, e balançou a cabeça com um sorriso largo.
— Ai, ... é que... você falando sério desse jeito me pegou desprevenida! — ela disse, tentando recuperar o fôlego. — Mas tá bom, vai... — Ela apoiou as mãos na cintura. — O que exatamente você tem em mente? Jantar à luz de velas? Trocamos chocolates? Ou você quer que eu use vermelho e finja que te amo?
— Nossa, obrigada pela empolgação — ele rebateu, revirando os olhos. — Eu pensei mais em comida japonesa e uma maratona de filmes ruins. Só nós dois. Nada de fingir nada, relaxa. Mas já que você tocou no assunto… — ele deu um passo à frente, com um sorriso travesso — se quiser fingir que me ama, eu deixo.
ergueu uma sobrancelha, o encarando com aquele brilho debochado que sempre surgia quando os dois começavam a provocar um ao outro.
— Você só quer companhia pra não ficar triste quando vir os casais postando fotos no Instagram. — Ela deu um tapinha no ombro dele. — Tá bom, . Aceito. Mas só se a gente incluir vinho e uma playlist brega.
— Fechado. — Ele sorriu, com aquele ar vitorioso de quem havia acabado de fechar o melhor acordo da vida.
Por alguns segundos, ficaram em silêncio, apenas se encarando. O sorriso dela se suavizou, e o dele também. Era sempre assim com eles. Brincadeiras, provocações, risadas…, mas, de vez em quando, algo no olhar de um para o outro ficava tempo demais no ar. Como agora.
— Então… é um encontro? — ela perguntou, num tom de quem tentava brincar, mas cuja voz saiu um pouco mais baixa do que esperava.
— É só o Dia dos Namorados. Com a minha melhor amiga — ele respondeu, mas seu olhar também carregava algo que as palavras não diziam.
“E o que você espera que eu diga?” — suspirou e passou as mãos pelos cabelos. — “Nós dois já sabíamos da probabilidade de isso acontecer, não é, ?”
, do outro lado da linha, mordeu o lábio, tensa, sem saber o que responder agora e sabendo que o melhor amigo estava cansado daquela história.
“Espero que me dê algum conselho, você é meu melhor amigo!” — Ela jogou, voltando a morder o lábio enquanto esperava a resposta de .
Um suspiro mais alto foi ouvido por ela dessa vez, e então ele pigarreou:
“Quer um conselho? Um conselho de verdade?”
se ajeitou na cadeira, o coração acelerado e a mente embaralhada. Com um movimento rápido, prendeu o celular entre o ombro e a orelha, inclinando ligeiramente a cabeça para mantê-lo no lugar, enquanto usava as duas mãos para bloquear a tela do notebook à sua frente. A tela escureceu com um leve clique, e ela soltou um suspiro nervoso.
Com passos apressados e ainda descalça, empurrou a cadeira giratória para o lado e se levantou, atravessando a porta de vidro do pequeno escritório em direção à copa. Os dedos brincavam com a barra da blusa de moletom, enquanto ela tentava controlar a ansiedade — a voz de do outro lado da linha ainda ecoando em sua cabeça.
engoliu em seco, já encostada na pia da copa, esperando o impacto do que ele estava prestes a dizer.
“Você vai me machucar?” — Respirou fundo, mordeu a parte interna da bochecha e fechou os olhos.
soltou uma risada nasalada, sem humor algum, do outro lado.
“Eu não vou machucar você, ! Mas ele vai… e você sabe que ele vai machucar você outra e outra vez. E tudo isso porque você deixa.”
As palavras dele bateram forte. permaneceu em silêncio, os olhos ainda fechados, como se pudesse evitar que cada sílaba encontrasse abrigo dentro dela.
O silêncio entre os dois se esticou, denso, incômodo — o tipo de silêncio que só existe entre pessoas que se conhecem demais.
Ela apertou o celular com mais força contra o ombro, a voz saindo em um sussurro quase imperceptível:
“Você está bravo comigo?”
respirou fundo do outro lado da linha, e dessa vez o tom dele veio mais calmo, mas ainda carregado de mágoa.
“Eu estou bravo com ele... e frustrado com você. Porque você é a pessoa mais incrível que eu conheço, e, mesmo assim, continua implorando migalhas de afeto pra alguém que nunca vai te dar o que você merece.”
sentiu o peito apertar. Ela sabia. Ela sempre soube.
“E o que você faria se fosse você no meu lugar?”
Houve uma pausa. Longa. E então a resposta dele veio baixa, firme, e com uma dor quase imperceptível escondida ali:
“Eu escolheria alguém que já está aqui. Que nunca foi embora. Que te ama de verdade, mesmo que você nunca tenha notado.”
Silêncio. Total. Ela parou de respirar por um segundo.
E, pela primeira vez em anos, não soube o que dizer.
desviou o olhar para a janela da copa, como se o céu acinzentado lá fora pudesse lhe dar alguma resposta. Mas tudo que encontrou foi o próprio reflexo no vidro — o rosto cansado, os olhos marejados, e aquela sensação amarga de estar no meio de algo que já tinha passado dos limites há tempo demais.
Ela engoliu em seco.
“…” — começou, mas parou. A voz dela fraquejou, e então ela se forçou a soar firme — “você está fazendo parecer que disse algo que não disse.”
“Sério, ?” — A voz dele estava embargada, e o cansaço emocional agora era impossível de esconder. — “Você vai mesmo fingir que não entendeu?”
Ela apertou os olhos por um instante e sacudiu a cabeça, como se pudesse afastar aquela sensação estranha que crescia no peito.
“Às vezes você fala as coisas de um jeito que... parece uma indireta. Mas você é meu melhor amigo. Eu não vou confundir as coisas só porque estou emocionalmente fragilizada, ok?”
Do outro lado da linha, o silêncio durou apenas dois segundos antes de explodir:
“Você já tinha planos comigo! Esqueceu? Passar o Dia dos Namorados juntos, lembra disso?”
Ela prendeu a respiração.
“Mas aí ele apareceu. E você achou uma ideia brilhante trocar uma noite leve comigo, com risos, vinho e piadas idiotas... por uma transa com ele. Porque é isso que ele quer, e você sabe disso. E eu sei também.”
As palavras caíram como marteladas. sentiu o corpo amolecer e se encostou na pia, tentando manter a compostura.
“E depois?” — ele continuou, mais baixo, mais doído. — “Depois você vai acabar jogada às traças. Chorando no meu ombro, num domingo qualquer, num bar qualquer, me pedindo pra não dizer “eu te avisei”.”
Ela levou a mão à boca, os olhos enchendo de lágrimas.
“E sabe o que mais me machuca?” — finalizou, com um riso sem alegria. — “É que você prefere passar por tudo isso… a estar segura ao meu lado.”
O silêncio voltou.
Só que agora era insuportável.
Ela ficou ali parada, sentindo o peito apertado, as palavras dele ainda reverberando em cada canto do corpo.
“Segura ao meu lado.”
Era fácil demais se perder nas repetições — nos padrões que doíam, mas eram familiares. Ele, o outro. Sempre o mesmo jogo: promessas vagas, sumiços, desculpas esfarrapadas e aquele olhar irresistível que desarmava suas defesas antes mesmo de ela conseguir dizer “não de novo”.
Mas … nunca precisou prometer nada para estar ali.
Ela respirou fundo, deixando o celular escorregar da posição entre o ombro e a orelha para a mão. Levou o aparelho à frente dos olhos, encarando a tela como se pudesse ver o rosto dele do outro lado da linha.
“Me desculpa.” — A voz saiu baixa, quase falhada. — “Você tem razão.”
Do outro lado, ele não respondeu de imediato. Ela sabia que ele precisava ouvir mais do que aquilo.
“Eu cansei de me machucar sozinha.” — Ela passou os dedos pelo rosto, limpando discretamente uma lágrima que escorria. — “Então… se a proposta ainda estiver de pé, eu aceito. Quero passar o Dia dos Namorados com você.”
demorou mais um segundo, e quando respondeu, o tom estava mais calmo, mas ainda vulnerável:
“A proposta sempre esteve de pé, . Eu só estava esperando você parar de correr.”
Ela soltou um riso pequeno, sem graça.
“Tá. Mas só aviso uma coisa…”
“Hum?”
“Se for um jantar à luz de velas mesmo… eu quero escolher o vinho.”
Ele riu pela primeira vez na conversa.
“Fechado. Mas só se eu escolher o filme ruim depois.”
“Negociado.”
E, com isso, ela encerrou a chamada, olhando para o celular como se uma pequena parte do coração dela tivesse mudado de lugar naquele exato momento.
Talvez ainda doesse. Talvez ainda fosse confuso. Mas, dessa vez, ela estava indo na direção certa.
A chave do apartamento sempre ficava embaixo do tapete felpudo laranja, — ou verde, ou preto, ou azul, depende do dia. Todas as vezes que ela ia para lá depois do trabalho, depois de algum compromisso qualquer, ou aos finais de semana antes deles saírem, o combinado era o mesmo: “chave embaixo do tapete já, só chegar, pegar e entrar.”
Se agachou o suficiente para pegar a chave depois de afastar o tapete com o pé esquerdo e destrancou a porta do apartamento magnífico do amigo. Não importava quantas vezes ela entrasse lá, ficava encantada e estupefata em todas elas.
O apartamento de tinha aquele tipo raro de equilíbrio entre o elegante e o acolhedor. As paredes, em tons neutros como cinza claro e bege quente, contrastavam com quadros coloridos pendurados em pontos estratégicos, a maioria presente de amigos artistas ou comprados em feirinhas durante viagens que ele costumava fazer sem muito planejamento.
Logo à esquerda, a sala se abria num espaço generoso, iluminado por janelas amplas do chão ao teto que deixavam a luz natural entrar sem pedir licença. As cortinas de linho branco estavam parcialmente abertas, e a claridade da tarde desenhava linhas douradas pelo chão de madeira clara. Um tapete geométrico em tons de mostarda e azul quebrava a monotonia e aquecia o ambiente, em frente ao sofá cinza de linho largo e profundo — o tipo que praticamente te abraçava quando você se jogava nele.
A estante de livros tomava uma parede inteira, dividindo espaço com vinis antigos, pequenos bonecos de personagens que eles dois amavam, e algumas plantas em vasos de cerâmica que, surpreendentemente, ainda estavam vivas. O aroma do lugar era sempre o mesmo: uma mistura de café fresco, livro antigo e o leve cheiro amadeirado do difusor sobre a mesinha de centro.
Na cozinha americana logo ao fundo, tudo era organizado com aquele toque prático e despretensioso de alguém que mora sozinho há tempo suficiente para saber exatamente onde está cada coisa — exceto quando estava lá e mudava tudo de lugar só para provocar.
Ela largou a bolsa sobre a poltrona azul-marinho ao lado da estante e soltou um suspiro leve.
Lar de verdade não era onde ela morava. Era ali.
— Espero que você já esteja vestido! Me poupe de ver sua bunda branca! — Ela adentrou o corredor que levava aos quartos e ao banheiro.
Ouviu a risada dele vir do quarto, a porta meio aberta.
— Você seria muito privilegiada de ter essa visão, eu garanto. Mas não está merecendo isso tudo.
Ele abriu a porta e a encontrou parada no final do corredor, encostada na parede, com aquele ar casual que só ela conseguia ter. Usava um cropped de tricô canelado, cor creme, de mangas largas e caimento solto, que deixava à mostra a cintura fina e o piercing discreto no umbigo. O tecido, mesmo simples, valorizava sua silhueta de um jeito quase involuntário.
O jeans escuro contrastava com o tom claro da blusa, criando um equilíbrio entre o despojado e o cuidadosamente escolhido — porque mesmo quando ela dizia que "não pensou muito no look", sempre parecia ter saído de uma campanha de moda. Os cabelos estavam soltos, caindo sobre os ombros em ondas naturais, e os brincos de argola dourada balançavam levemente com cada movimento dela.
Ele notou também a pulseira delicada em seu pulso e a tatuagem no antebraço que ele já conhecia de cor, mas que ainda prendia seu olhar toda vez. E quando os olhos dela encontraram os dele, teve certeza de uma coisa: não estava pronto.
Não mesmo.
— Hoje você foi rápido, achei que ainda estaria no banho e que eu teria que escolher seu look. Aliás, saudades de quando eu escolhia seus looks, viu?
Ela tentou soar leve, descontraída. Mas os olhos dela... ah, os olhos dela traíram tudo.
O olhar passeou por ele de cima a baixo, e o impacto foi imediato.
estava vestido de forma casual, como se não tivesse acabado de parar o coração dela por um segundo. Usava uma regata preta justa que moldava os ombros largos e os braços fortes com um nível de definição que não era possível ignorar — não quando se conhecia cada centímetro daquele corpo apenas como “o do melhor amigo”. O cabelo caía em mechas desalinhadas sobre a testa, e os fios pretos faziam contraste com a pele clara. Havia algo na simplicidade daquele visual que tornava tudo ainda pior. Ele parecia tão... sem esforço. E ainda assim, absurdamente bonito.
Ela piscou algumas vezes, tentando se recompor antes que ele notasse o turbilhão que se formava por dentro. Então puxou o ar com sutileza e soltou com um sorrisinho debochado:
— Tá bem básico, né? Achei que fosse me impressionar hoje, mas, pelo visto, meu presente de Dia dos Namorados é um look de academia com regata preta. Que romântico, . Tô quase emocionada.
Ele riu, a expressão divertida, e abriu os braços como quem se entrega:
— Esse é meu charme, pô. Simples, direto e funcional. Igual delivery de sushi.
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu evitar o sorriso que escapou. Porque, no fundo, era isso mesmo. era exatamente assim — fácil de gostar, impossível de esquecer.
E naquele instante ela soube: o problema não era ele estar bonito demais. Era ela finalmente estar o vendo-o por completo.
— Caraca esse sushi aqui? De outro mundo! — disparou, com a boca cheia de hossomaki.
gargalhou com a sinceridade que só ela sabia demonstrar e quase engasgou com seu próprio sushi descendo a garganta. Ela, percebendo o esforço dele para engolir a peça e não rir, gargalhou depois de jogar uma almofada nele.
— Você é rico, eu não. Não estou acostumada com essas coisas caríssimas e gostosas, a não ser quando estamos juntos e você insiste em me arrastar pro seu mundo.
— Também gosto quando você me arrasta pro seu mundo, …— ele disse com um tom mais baixo, quase sem perceber que as palavras haviam saído.
parou por um segundo, segurando os hashis no ar, o sorriso ainda presente nos lábios, mas agora mais suave. Os olhos dela buscaram os dele, tentando entender o que havia por trás daquela frase dita tão casualmente — ou talvez não tão casual assim.
— Meu mundo? — ela provocou, inclinando a cabeça com um sorrisinho de canto. — O mundo do café instantâneo e da lasanha congelada?
— O mundo em que eu posso ser só… eu. — respondeu, a encarando de um jeito que fez o estômago dela revirar. — Sem a pressão de ter tudo certo. Sem os rótulos. Só eu, com você.
desviou o olhar por reflexo, voltando a mexer no sushi como se aquilo fosse suficiente para esconder o que acabava de acontecer dentro dela.
— Você tá sentimental hoje, hein — disse, numa tentativa fraca de brincar.
— Culpa sua — ele rebateu, com um sorriso pequeno. — Esse lance de Dia dos Namorados mexe até com os corações mais resistentes.
Ela riu baixo, mas não respondeu. Porque sabia. Sabia que o dele nunca foi resistente quando se tratava dela — e, talvez, o dela também não fosse mais.
Depois de comerem os sushis, foi a vez de abrirem a garrafa de vinho que havia sido levada e escolhida por .
— Se você quiser, eu posso pedir uma sobremesa. Eu não me esforcei, porque sei que você não gosta muito de doces.
— Aqui está a nossa sobremesa, e, diga-se de passagem, melhor que qualquer petit gateau… — Ela ergueu a taça que havia servido para si mesma. — Se bem que você certamente me serviria outra sobremesa… Petit Gateau é muito simples para você.
Ela estreitou os olhos, olhando outra vez para ele como se estivesse analisando-o e pensando no que ele serviria de sobremesa.
— Eu certamente teria encomendado algo à altura — ele respondeu, se encostando mais no encosto do sofá e cruzando as pernas, o tom da voz mais baixo, mais íntimo. — Algo com presença, sabe? Tipo um tiramisù artesanal… um negócio que chega devagar, mas marca. Como eu.
riu, levando a taça aos lábios para disfarçar o arrepio que aquela última frase provocou. O vinho parecia ainda mais forte agora — ou talvez fosse a forma como ele a olhava, com aquele brilho provocador que aparecia quando sabia que estava ganhando no jogo deles.
— Modesto como sempre — ela murmurou, mas o sorriso não negava o quanto estava se divertindo.
— Eu só falo verdades. — Ele deu de ombros, pegando sua própria taça e a erguendo também, os olhos fixos nos dela. — A questão é: você provaria?
Ela sentiu o corpo inteiro reagir à pergunta. O silêncio que se seguiu não era desconfortável, mas denso. Intenso.
inclinou levemente a cabeça, analisando cada centímetro daquele rosto que ela conhecia há anos… e que agora parecia novo, perigoso, quase tentador.
— Talvez. — Ela finalmente respondeu, depois de um gole demorado. — Mas só se você prometer não me deixar viciada.
arqueou uma sobrancelha, um sorriso lento se formando no canto dos lábios.
— Não posso prometer nada, .
Quando ela saiu da cozinha, com as duas taças nas mãos, encontrou ele mexendo no controle da enorme TV que estava fixa no painel da sala, então uma música dos anos 80, que mal conhecia — e sabia que muito menos — começou a tocar, e ele, ainda com o controle da TV na mão, se virou para ela.
Estendeu a mão na direção dela e depois deixou um sorriso ladino escapar. , é claro, não resistiu e começou a gargalhar.
— Tudo como você pediu. Eu passei a tarde inteira procurando essa playlist, .
Ela se aproximou devagar, as duas taças ainda firmes nas mãos, mas o riso escapando sem controle.
— Sério mesmo? — perguntou entre risadas. — Você não sabe nem o nome da banda que tá tocando agora, !
— Detalhes. — Ele deu de ombros, a mão ainda estendida. — Você pediu uma playlist brega, e eu prometi uma noite romântica. Aqui está. Luz baixa, vinho bom, sushi caro e… trilha sonora de filme antigo. Tô me superando.
entregou a taça para ele e, mesmo zombando, não conseguiu conter o calor que subia pelo rosto. A verdade é que... ele tinha mesmo se esforçado. E aquele tipo de esforço, vindo dele, era raro, porque só colocava energia no que realmente importava.
Ele deu um passo à frente, pegando a taça com a mão esquerda e entrelaçando os dedos da mão direita na dela. O contato era quente, familiar, mas diferente. Tinha intenção.
— Não acredito que você quer dançar agora — ela disse, ainda rindo, tentando parecer debochada, mas sentindo o coração acelerar.
— Claro que quero. Se for pra passar o Dia dos Namorados com minha melhor amiga, que seja direito. — Ele deu um leve puxão, a trazendo mais perto.
se viu cercada por ele, pelos braços firmes, pelo cheiro adocicado do perfume que ela conhecia tão bem. Seus corpos se encaixaram com uma naturalidade que a deixou desconfortável… porque nunca tinham se permitido tanto. Nunca assim.
— Você é ridículo — ela murmurou, encostando a testa no ombro dele, o sorriso ainda preso nos lábios.
— Mas você tá dançando comigo — respondeu, com a voz rouca, quase num sussurro, ao pé do ouvido. — E é só isso que importa agora.
— Sabe que você tá péssimo nisso, né? — disse, com um tom debochado, dando uma leve trombada proposital no quadril dele.
— Que absurdo! — fingiu indignação, a girando com exagero. — Eu sou um excelente dançarino de... música dos anos 80 que eu nem conheço.
— Isso nem é uma categoria válida. — Ela gargalhou, tropeçando levemente, mas ele a segurou com firmeza. — Você tá inventando regras como sempre faz quando tá perdendo.
— Eu nunca perco — ele respondeu, com aquele sorriso torto que ela conhecia bem demais.
— Ah, não? Então dança essa aqui. — Ela largou uma das mãos dele e começou a se mover de forma esquisita, rebolando exageradamente como se fosse parte de um videoclipe tosco. — Ó, anos 80 puro! Me respeita, Rick Astley.
— Meu Deus, o que é isso? — Ele levou a mão ao rosto, rindo alto. — Você tá me seduzindo ou tentando me exorcizar?
Ela gargalhou e tentou imitá-lo, o puxando pela blusa, dando passos errados e rodando com ele até os dois tropeçarem no tapete e caírem no sofá, quase em sincronia. Ela caiu primeiro, e ele logo em seguida, meio de lado, com o braço em volta da cintura dela, como se o instinto fosse protegê-la da queda — mesmo que mínima.
Ambos riram alto, deitados lado a lado, meio embolados, até que a risada dela foi diminuindo aos poucos. E a dele também.
Ele ainda estava com o rosto virado para ela. Ela, com a respiração um pouco mais acelerada, se virou também — os olhos encontrando os dele em meio ao que parecia uma pausa estranha no tempo. O tipo de pausa que não se avisa. Que não se espera.
ainda estava sorrindo, mas seus lábios tremiam levemente. E havia algo nos olhos de que ela nunca tinha visto daquele jeito. Algo silencioso. Algo que a fez esquecer o que tinha dito segundos antes.
— O quê? — ela perguntou baixinho, entre um riso nervoso, achando que ele diria mais uma de suas piadas.
Mas ele não disse nada.
Em vez disso, agiu.
Rápido. Impulsivo. Natural demais para ser planejado.
se inclinou e a beijou.
Sem aviso. Sem hesitação. Um impulso que partiu do fundo do peito e explodiu nos lábios.
O beijo não foi calmo — foi desajeitado, quente, cheio de surpresa. Ela não correspondeu nos primeiros segundos, mas também não se afastou. Só quando sentiu a mão dele tocar sua cintura com cuidado, como se pedisse permissão para continuar, foi que cedeu.
E, de repente, era como se o mundo estivesse em silêncio de novo. Só os dois. Só o gosto do vinho, a trilha antiga ao fundo e o calor que crescia num lugar que sempre foi chamado de “amizade”, mas que agora parecia alguma outra coisa — algo sem nome, sem definição, sem aviso.
O beijo ganhou fôlego. Mais profundo. Mais presente. Como se os segundos tivessem se estendido num tempo que só existia entre eles. As mãos de escorregaram da cintura para a lateral das costas dela, apertando com firmeza e um certo cuidado, como se estivesse tocando algo precioso — ou perigoso.
se viu rendida antes de ter tempo de pensar. As mãos dela, que até então estavam paradas entre eles, buscaram o pescoço dele por instinto, o puxando um pouco mais para perto. Ela sentia o coração martelando tão forte que teve medo de ele escutar. Ou pior: de ele sentir o quanto aquilo estava mexendo com ela.
Os lábios se encaixavam como se tivessem se procurado por tempo demais. Não havia mais espaço para dúvida, só para a urgência silenciosa que crescia entre os toques, entre os sussurros abafados quando ela suspirava contra a boca dele, entre as respirações que falhavam conforme a intensidade aumentava.
deslizou a mão para o rosto dela, o polegar roçando com leveza a curva da bochecha, e então segurou a base do maxilar com gentileza, guiando o beijo com mais firmeza agora. Era um toque que dizia eu te conheço há anos, mas beijava como quem estava descobrindo cada detalhe pela primeira vez.
As pernas dela se moveram levemente, como se buscassem um espaço onde pudessem se encaixar melhor ao corpo dele. Estavam próximos demais, e ainda assim pareciam querer mais. Mais calor. Mais toque. Mais deles dois ali.
Até que, num rompante de consciência, afastou os lábios, ofegante.
Os olhos dela estavam arregalados, a pele corada, o peito subindo e descendo num ritmo rápido demais. ainda estava com a mão na lateral do rosto dela, os olhos presos nos dela — assustados, mas sem arrependimento.
O silêncio voltou, pesado agora.
Porque o beijo havia acontecido. Prolongado. Quente. Carregado.
E nenhum dos dois sabia o que fazer com aquilo.
— O que diabos acabou de acontecer aqui, ? — Desceu as mãos para o peito dele, tentando em vão afastá-lo de si. O calor que ainda emanava do corpo dele era muito forte e a deixava meio tonta.
não recuou de imediato. Ainda com a testa quase colada à dela, respirou fundo, o olhar inquieto.
— Eu... eu não sei — ele murmurou, sem tentar fingir controle. — Foi um impulso. Um péssimo, maravilhoso, confuso impulso.
Ela pressionou as mãos contra o peito dele com mais força agora, criando um espaço mínimo entre os corpos.
— Você não pode simplesmente me beijar assim, ! — ela exclamou, tentando manter o tom firme, mas sentindo as palavras desmancharem na garganta. — A gente tava dançando uma música idiota, rindo de uma piada idiota e... e aí você me beija como se…
— Como se eu estivesse esperando isso há tempo demais? — ele completou, a voz baixa, mas firme.
piscou. O rosto corado, a respiração ainda descompassada, o coração martelando nas costelas.
— Isso não significa que você devia ter feito. — Ela desviou o olhar, os dedos se apertando contra o tecido da camiseta dele. — Você é meu melhor amigo, . Isso aqui... isso muda tudo.
— Talvez já tenha mudado — ele respondeu, finalmente se afastando um pouco, mas sem quebrar o contato visual. — Você acha que foi só um momento? Um erro de vinho e nostalgia de Dia dos Namorados? Um impulso, uma brincadeira, ?
Ela quis responder. Quis gritar que sim. Que aquilo era uma loucura, um deslize de um segundo, uma faísca errada acesa por uma noite carente.
Mas tudo que conseguiu foi um sussurro rouco:
— Eu não sei o que foi, .
Ele assentiu devagar, os olhos ainda nos dela.
— Tudo bem — disse, mesmo que sua voz denunciasse que não estava nada bem. — Mas não mente. Você sentiu, . Eu sei que sentiu.
Ela fechou os olhos por um segundo, tentando encontrar qualquer âncora no meio daquele caos interno. Quando abriu novamente, ele já estava sentado ao lado, de mãos apoiadas nos joelhos, sem tocá-la.
Os dois ali, no mesmo sofá, tão próximos quanto estranhos agora.
passou a mão pelos cabelos, tentando organizar o que nem ela conseguia entender. E então soltou, num suspiro entrecortado:
— Precisamos esquecer que isso aconteceu. Ok? No três…
olhou para ela, o maxilar travado. Queria dizer que não. Queria dizer mil outras coisas. Mas, em vez disso, inspirou fundo.
— Um… — ela começou.
— Dois… — ele disse, sem muita convicção.
Os dois se encararam.
— Três — falaram juntos.
Mas nada mudou.
O silêncio ficou ali, pairando entre eles como um lembrete teimoso de que certas coisas não se desfazem só com contagem regressiva.
pigarreou, se endireitando no sofá e puxando a manta que estava no encosto para cobrir as pernas, como se aquele gesto pudesse criar uma barreira invisível entre eles.
— Vamos ver um filme, vai — ela sugeriu, apressada demais. — Clássico de Dia dos Namorados. Nada melhor pra limpar a cabeça.
— Ah, claro. Porque ver gente se apaixonando vai apagar da memória o fato de que a gente acabou de... — Ele parou no meio da frase, balançando a cabeça. — Esquece. Escolhe aí.
Ela pegou o controle, tentando agir naturalmente, mesmo que seus dedos tremessem levemente.
— Harry Potter? — perguntou, virando para ele com um olhar de quem buscava terreno seguro.
arqueou uma sobrancelha.
— Se for pra ver Harry Potter de novo, eu exijo o direito de narrar todos os pensamentos secretos do Snape como se ele estivesse apaixonado pela McGonagall.
— Não estraga a saga, — ela respondeu, aliviada por um resquício da normalidade entre eles.
— Eu tô tentando salvar a noite com humor. É isso, ou eu começo a cantar as músicas do ABBA que tão naquela playlist brega que você me obrigou a achar.
Ela riu, finalmente, mesmo que os olhos ainda carregassem um peso sutil.
— Você é péssimo com emoções.
— E excelente com piadas de mau gosto — ele completou, pegando uma almofada e abraçando contra o peito, como se ela pudesse conter a vontade de tocá-la de novo.
A abertura de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban começou a tocar, preenchendo o espaço com trilha sonora conhecida.
Eles não se tocaram. Não se aproximaram.
Mas também não foram embora.
E, naquele momento, era o mais perto que conseguiam chegar de algo que parecesse seguro.
A vinheta da Warner passou e logo o logo de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban apareceu na tela. ajeitou a taça na mão, enquanto se levantava para buscar a garrafa de vinho, já com um pretexto pronto nos lábios.
— Já que a gente vai fingir que nada aconteceu, nada melhor do que vinho pra manter o fingimento fluindo.
— Vinho. A solução adulta para a bagunça emocional — ela respondeu, e ele ouviu o sorriso na voz dela antes mesmo de olhar.
Quando voltou, encheu as taças com um cuidado quase exagerado, como se focar em um detalhe tão simples fosse mais fácil do que encarar o que ainda pairava no ar. Sentou-se de novo, mas dessa vez a pequena distância entre eles era um pouco menor. Um gesto inconsciente, talvez. Ou só a falta de espaço emocional pra fugir de verdade.
— Você sabe que o Sirius é basicamente uma versão mais dramática de você, né? — ela comentou, os olhos na tela, mas a voz com aquele tom provocativo de sempre.
— Ué, claro. Bonito, incompreendido, com tendências ligeiramente autodestrutivas… tudo a ver.
Ela riu, e o som foi como um alívio entre as palavras não ditas. Bebeu mais um gole do vinho, relaxando contra o encosto do sofá. O joelho dela tocou o dele de leve — não foi de propósito, mas também não se afastou.
percebeu.
Mas não comentou.
O filme seguia. À medida que as cenas se desenrolavam, os dois se permitiam pequenos comentários, piadas bobas, teorias absurdas de como Snape tinha, de fato, um caso secreto com a McGonagall. As risadas surgiam, mas, entre elas, os silêncios vinham também — aqueles em que os olhos se encontravam tempo demais, ou em que uma das mãos se mexia no sofá e quase, quase tocava a outra.
As taças foram ficando mais vazias. A fala foi ficando mais baixa. E os corpos mais relaxados.
Num certo momento, cruzou as pernas e o pé roçou no tornozelo de . Eles se olharam rápido, como quem pega algo no flagra, mas nenhum dos dois disse nada.
— A gente tá tentando muito, né? — ele murmurou de repente, sem olhar pra ela.
— Tentando o quê? — ela perguntou, já sabendo a resposta, mas querendo evitar que ela tomasse forma em voz alta.
— Fingir que ainda é só isso aqui. — Ele ergueu o que restava da taça. — Filme, vinho, piada ruim.
Ela virou o rosto devagar, os olhos nos dele, que agora estavam mais sérios, menos performáticos.
— Não era pra ser mais que isso — sussurrou, quase pedindo desculpas ao universo.
— Mas foi.
E ali, entre uma taça de vinho pela metade e o som do filme ao fundo, os dois sabiam que a contagem de até três nunca funcionou de verdade.
A tensão não explodiu em outro beijo — ainda. Mas estava ali, pulsando entre os dois. Quente, viva. E completamente impossível de ignorar.
O silêncio entre eles ficou mais espesso.
Na tela, Harry descia da vassoura em meio à tempestade. Mas nenhum dos dois estava mais assistindo.
mantinha a taça entre os dedos, mas não a levava mais à boca. O vinho já estava morno. Esquecido. Como tudo o que não fosse ele.
estava inclinado levemente para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, como se estivesse preso entre o desejo de respeitar o espaço dela e a necessidade de dizer — ou fazer — alguma coisa.
Ela se mexeu. Um pequeno ajuste de posição. O joelho encostando no dele mais uma vez.
Foi o suficiente.
Ele virou o rosto na direção dela. Devagar. Como se desse a chance de ela recuar.
Mas ela não recuou.
O olhar dela já estava ali, esperando. Confuso, mas aberto.
— Eu não tô mais tentando fingir — ele disse, rouco. — E você também não tá, .
Ela não respondeu. O peito subia e descia rápido, mas os olhos… os olhos disseram tudo.
E, dessa vez, não houve tropeço, brincadeira ou impulso.
levou a mão até o rosto dela, segurando com delicadeza, como se tivesse medo de quebrá-la. Os dedos roçaram a linha do maxilar, subindo até a curva da orelha. se inclinou levemente, como se o corpo dela já soubesse o caminho.
O beijo veio. Lento no começo. Mais consciente. Mais profundo.
Diferente do primeiro — não havia riso, não havia surpresa. Só o desejo acumulado, a tensão reprimida, o carinho escondido sob anos de amizade.
Ela passou os braços ao redor do pescoço dele, o puxando para mais perto, e ele respondeu com uma mão firme em sua cintura, guiando o beijo com mais urgência agora. Os corpos se moldaram um ao outro como peças que, por muito tempo, fingiram não se encaixar.
As bocas se buscavam com familiaridade e fome. O gosto do vinho ainda estava ali, misturado com algo novo, intenso e inesperado. Ela suspirou contra os lábios dele. Ele gemeu baixinho quando sentiu os dedos dela se perderem entre seus cabelos.
Nada mais importava. Nem o filme, nem as regras, nem o medo do depois.
Naquela sala, só existiam eles dois.
E o tipo de beijo que não se esquece.
O beijo não parou.
Pelo contrário, cresceu.
A cada segundo, a cada toque, a cada suspiro, parecia que o que eles seguraram por tanto tempo finalmente se desprendia do controle.
se inclinou ainda mais, pressionando o corpo contra o dela no sofá. As mãos deslizaram pela lateral do tronco de com cuidado e firmeza, como se quisessem aprender de novo o que ele já conhecia há anos, mas agora sob outra luz, com outra intenção.
Ela puxou a blusa dele levemente, sentindo os músculos sob o tecido. O coração dela batia tão rápido que parecia impossível que ele não ouvisse. Ele a beijava como se estivesse ali pela primeira vez e ao mesmo tempo como se soubesse exatamente onde tocar, como guiá-la, como deixá-la sem ar.
arqueou levemente o corpo quando sentiu a boca dele descer para sua mandíbula, traçando um caminho lento até o pescoço. A respiração dela falhou.
— ... — sussurrou, mas era um chamado, não um aviso.
Ele respondeu com outro beijo, agora mais demorado, mais quente, as mãos encontrando o caminho por baixo do tecido do moletom que ela usava, explorando sua pele com reverência e desejo contido.
Ela deslizou os dedos pelas costas dele, pelas laterais do corpo, subindo até entrelaçar atrás do pescoço, o puxando para si. O mundo parecia encolher à volta deles — só o calor, o som abafado da trilha sonora distante, e os corpos que se procuravam como se fossem feitos para aquilo.
Num movimento quase ensaiado, ele a deitou no sofá com mais delicadeza do que ela esperava. Ficou por cima, os cabelos caindo levemente sobre a testa enquanto a encarava. Os dois estavam ofegantes, os olhos fixos, como se estivessem prestes a atravessar uma linha invisível — e sabiam que não haveria mais volta.
— Tem certeza? — ele perguntou, a voz baixa, densa, o polegar acariciando a pele exposta abaixo da blusa dela.
Ela não respondeu com palavras.
Puxou-o de volta para si, os lábios se encontrando outra vez, e dessa vez sem hesitação alguma.
A noite seguiu como se o tempo tivesse desacelerado para eles. Cada toque era lento, atento, como se os dedos de estivessem mapeando a pele de pela primeira vez, mesmo conhecendo cada cicatriz e curva desde sempre. Mas agora tudo parecia novo. Familiar e inédito ao mesmo tempo.
Os beijos se tornaram mais profundos, mais úmidos, mais carregados de tudo que eles não sabiam como dizer. Ele a beijava com a boca e com o corpo inteiro, como se ela fosse o único lugar seguro que ele já conheceu — e talvez fosse. sentia os lábios dele deslizando por sua clavícula, descendo até o centro do peito, enquanto suas mãos exploravam com delicadeza, sem pressa, mas com uma intenção que não deixava dúvida: não havia espaço para arrependimento ali.
Ela retribuía com a mesma intensidade — os dedos passeando pelas costas dele, subindo até o cabelo, puxando de leve quando o prazer se tornava demais para conter. A cada suspiro que escapava, a cada estremecer que tomava seu corpo, ela sentia a tensão dos últimos anos sendo desfeita entre eles.
O beijo ainda os envolvia quando deixou a taça de lado no chão, esquecida, e suas mãos voltaram a encontrar a cintura de com mais firmeza. Ele a puxou delicadamente para seu colo, as pernas dela deslizando naturalmente para os lados dele, o montando com uma intimidade que nunca haviam permitido antes — mas que agora parecia inevitável.
— Você tá tremendo — ele murmurou, contra a boca dela, sua voz rouca como se lutasse para manter o controle.
— E você tá quente demais — ela respondeu, ofegante, o nariz roçando no dele. — Não sei se é o vinho, o beijo, ou os dois.
— Não é o vinho, — sussurrou, com os lábios colados à curva da mandíbula dela. — É você. Sempre foi você.
As mãos dele subiram pelas costas dela, deslizando sob o moletom, os dedos quentes encontrando a pele nua com um toque reverente. se arrepiou inteira, as unhas curvando-se levemente no ombro dele.
— Me avisa se eu estiver indo rápido demais — ele disse, com o rosto encostado ao pescoço dela, a respiração pesada e descompassada. — Eu não quero fazer nada que você vá se arrepender depois.
Ela entreabriu os lábios, os olhos meio fechados, enquanto sentia os lábios dele deslizarem até a base de sua orelha. Suas mãos passaram a explorar as costas de por debaixo da camiseta preta, os dedos traçando os contornos definidos, a pele quente e firme sob seu toque.
— E se eu disser que já esperei demais? — ela respondeu, com a voz baixa, quase um suspiro. — Você não faz ideia de quantas vezes eu imaginei como seria… você me tocar assim.
Os olhos de se fecharam por um segundo, como se aquilo tivesse atingido algo fundo demais. Ele apoiou a testa na dela, tentando recuperar o fôlego.
— Me fala o que você quer, — ele pediu, as mãos agora deslizando pela lateral do corpo dela, polegares encontrando o cós do short que ela usava. — Eu tô aqui. Inteiro. Só me diz.
Ela segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou de novo — mas agora mais devagar, mais profundo, como uma resposta silenciosa, cheia de certeza.
Ele entendeu.
levou as mãos até a barra do moletom dela e esperou um segundo antes de puxar a peça por cima da cabeça, revelando a pele clara, a lingerie rendada que ela claramente não escolheu por acaso. Os olhos dele percorreram cada detalhe com um cuidado quase religioso.
— Você é linda demais — ele murmurou, como se dissesse para si mesmo.
Ela riu baixinho, sem graça, mas com os olhos brilhando.
— Fala mais — pediu.
— Linda… forte… deliciosa… — ele disse, entre beijos pela linha do pescoço, descendo lentamente até o centro do colo. — E minha. Nem que seja só hoje, me deixa ser seu.
As mãos dela estavam agora em sua nuca, o puxando mais para perto. Uma delas desceu pela lateral do tronco dele e puxou a barra da camiseta. Ele entendeu o recado e tirou a peça em um único movimento. O toque da pele dele contra a dela fez ambos prenderem a respiração.
passou as mãos pelos ombros dele, explorando com calma, como se estivesse tateando o desejo que crescia rápido demais. Os dedos desceram pelo peito, pelas costelas, e quando ela se inclinou para beijá-lo ali, sentiu soltar um gemido baixo e prender os dedos na cintura dela com mais força.
— Assim você me desmonta, — ele disse, com um riso ofegante. — Juro por Deus.
Ela sorriu, satisfeita, o rosto ainda colado ao peito dele.
— Então desmorona comigo, .
Ele ergueu o olhar para ela com uma intensidade que a fez perder o ar. E, com os corpos já colados, a respiração entrecortada e os corações batendo descompassados, ele a deitou no sofá, a cobrindo com seu corpo, os beijos se tornando mais quentes, os toques mais ousados. Cada parte de pele descoberta era tratada com atenção e desejo.
As mãos dele traçavam mapas invisíveis por sua barriga, cintura, coxas, enquanto ela o puxava para mais perto, como se não suportasse mais nenhum espaço entre eles.
As mãos dele traçavam mapas invisíveis por sua barriga, cintura, coxas, enquanto ela o puxava para mais perto, como se não suportasse mais nenhum espaço entre eles. Os beijos se aprofundavam, os corpos se entendiam por instinto. Não havia palavras agora — só suspiros, gemidos baixos, e o som abafado da respiração entrecortada contra a pele quente.
deslizou a mão pela parte interna da coxa dela, com calma, como se soubesse exatamente o que fazer, mas ainda assim quisesse sentir cada reação dela sob seu toque. Quando os dedos encontraram o elástico da calça jeans de tecido escuro. Ele parou por um segundo, como se desse a a chance de recuar.
Ela não recuou.
Pelo contrário.
Com os olhos brilhando e o rosto corado, levou a própria mão até o cós e ajudou a empurrar o tecido para baixo, os dois rindo baixo entre beijos e toques apressados que já não tinham mais contenção. A calça e a lingerie caíram juntos no chão, seguidos logo depois pela peça dele — e, naquele momento, não havia mais nada entre os dois.
Nada além da pele e do que sentiam.
parou por um segundo, os olhos percorrendo o corpo dela como se quisesse guardar cada detalhe na memória. A luz suave da sala desenhava sombras pelas curvas de , e ele passou as mãos lentamente pelos quadris dela, descendo pelas coxas e subindo de novo, com reverência, como se a estivesse descobrindo pela primeira vez — e, de certa forma, era mesmo.
Ela gemeu baixo ao sentir o toque quente dele subir por sua barriga até os seios, os dedos explorando com delicadeza, apertando com a medida certa entre carinho e desejo. Quando ele levou a boca até lá, deixando beijos lentos e úmidos que arrancaram um suspiro mais alto dela, arqueou o corpo, se sentindo cada vez mais entregue.
Ela buscou o corpo dele com as pernas, enlaçando sua cintura, o puxando ainda mais para perto. A pele de era quente, firme, e os músculos se contraíam levemente sob o toque dos dedos dela, que agora passeavam por suas costas, seus braços, seu peito. Ela traçava caminhos sem direção, apenas sentindo — a textura da pele, o som da respiração dele, o arrepio que provocava a cada movimento.
— Você é tão... — ela começou, mas não terminou.
Ele a beijou de novo, calando qualquer palavra. E agora não havia mais hesitação. Os corpos colaram por inteiro, e encaixou o rosto na curva do pescoço dela, respirando fundo contra a pele sensível.
— Me deixa sentir você — ele pediu, num sussurro que mais parecia um pedido desesperado. — Inteira.
assentiu com um movimento lento, ofegante, os olhos fechados. E então, com cuidado e intensidade, ele a preencheu.
O corpo dela se curvou em resposta. Os dedos se fecharam nas costas dele, e um gemido escapou dos lábios dela, abafado contra sua boca.
E foi assim que os corpos se encaixaram sem esforço, como se tivessem esperado por isso a vida toda...
Os corpos se encaixaram sem esforço, como se tivessem esperado por isso a vida toda. O ritmo foi lento no início — quase hesitante, mas logo se tornou mais firme, mais entregue, mais deles. Não havia jogo ali. Nem pressa, nem medo. Era desejo puro, mas também era ternura. Era carinho escondido em cada impulso, cada toque, cada sussurro de prazer.
arqueava o corpo a cada movimento dele, os lábios entreabertos, soltando gemidos abafados contra o pescoço dele. E sussurrava o nome dela entre um beijo e outro, como se estivesse redescobrindo uma versão dela que ninguém mais conhecia. Como se cada pedaço que ela entregava fosse um presente que ele prometia guardar com cuidado.
E quando, enfim, o ápice veio — intenso, arrebatador, inevitável — os dois permaneceram abraçados, os corações disparados, as respirações descompassadas e os olhos fechados, como se quisessem manter aquela noite viva só por mais um instante.
Depois, com o corpo ainda colado ao dela, a cobriu com a manta do sofá e deixou um último beijo calmo na curva do ombro de , que agora repousava de olhos entreabertos, os dedos entrelaçados aos dele.
Não disseram nada.
Porque não havia o que dizer.
O silêncio entre eles não era vazio — era cheio de tudo que tinham acabado de compartilhar.
E também de tudo que viriam a enfrentar depois.
Mas não naquela noite.
Naquela noite, tudo que existia era o toque da pele, o calor do outro corpo, e a certeza de que alguma linha havia sido cruzada.
E nenhum dos dois queria voltar.
A luz da manhã invadiu a sala sem pedir licença, filtrada pelas cortinas finas que balançavam suavemente com a brisa. Era um novo dia, mas o mundo parecia suspenso naquele pequeno espaço onde os corpos de e ainda estavam entrelaçados sob a manta, no mesmo sofá da noite anterior.
foi a primeira a acordar.
Os olhos abriram devagar, ainda pesados, e por um instante ela não se moveu. Estava deitada sobre o peito dele, os batimentos cardíacos calmos, a respiração profunda e ritmada. A pele dele contra a dela ainda era quente, e havia um conforto tão familiar naquele toque…, mas, ao mesmo tempo, tudo era diferente agora.
Ela passou a língua pelos lábios, sentindo ainda o gosto suave do vinho e da noite que haviam dividido. Quando ergueu levemente a cabeça e o viu dormindo, com os cabelos bagunçados e a expressão mais tranquila do que costumava ser, algo apertou em seu peito. Ele parecia... em paz.
E ela não fazia ideia do que aquilo significava.
Tentou se mexer devagar, mas ele se remexeu também, despertando aos poucos.
— ... — murmurou, ainda com a voz rouca de sono, os braços se ajustando ao redor da cintura dela por reflexo. — Que horas são?
— Umas oito, eu acho — ela respondeu baixinho, tentando manter o tom casual, mas a tensão na voz era perceptível.
abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de encará-la. O olhar dele ainda estava suave, mas havia uma pontinha de dúvida ali, como se não soubesse se devia sorrir, falar ou simplesmente voltar a dormir.
— Bom dia — ele disse, a voz mais firme agora.
— Bom dia — ela respondeu, com um sorriso pequeno. E, por um instante, o silêncio entre eles foi... estranho.
Não havia arrependimento no olhar dele. Nem constrangimento. Só incerteza.
Ela afastou o corpo devagar, se sentando no sofá, puxando a manta para cobrir parte do corpo, como se só agora se desse conta de que estavam completamente nus.
— A gente precisa conversar... — ela começou, mas ele a interrompeu com um leve gesto de cabeça.
— Eu sei. Mas pode ser depois? — ele perguntou, se sentando ao lado dela e puxando a calça do moletom do chão, a vestindo rapidamente. — Só... me deixa fazer um café primeiro.
assentiu em silêncio, abraçando os joelhos sob a manta. Observou enquanto ele ia até a cozinha — os ombros largos, os passos lentos, a mão passando pelos cabelos bagunçados.
Tudo nele era tão familiar.
Mas agora tudo tinha peso.
Enquanto o cheiro de café começava a se espalhar pelo ambiente, ela respirou fundo, tentando se convencer de que aquela manhã não precisava ser uma resposta definitiva.
Talvez só precisasse ser o começo.
O café já estava quase pronto quando apareceu na cozinha, agora vestindo a camisa de — grande demais, caindo pelo ombro, deixando à mostra uma parte da pele marcada pelos beijos da noite anterior. Ele olhou para ela por cima da xícara e sorriu. Um sorriso pequeno, mas verdadeiro.
— Fiz o forte, do jeito que você gosta — disse, empurrando uma das canecas na direção dela.
Ela pegou, os dedos encostando brevemente nos dele. Ficaram ali em pé, cada um segurando uma caneca, em silêncio por alguns segundos. O tipo de silêncio que vinha carregado de tudo.
— Eu tentei fingir que não estava surtando — ela começou, com a voz baixa. — Mas... é claro que estou.
encostou-se na pia, cruzando os braços com a caneca ainda nas mãos.
— Eu também — confessou. — Mas não porque me arrependi. Porque agora... não tem mais volta, né?
Ela assentiu devagar, encarando o líquido escuro da caneca como se ele pudesse responder por ela.
— Eu não quero que isso destrua o que a gente tem — ela sussurrou.
— — ele chamou, fazendo com que ela finalmente o encarasse. Os olhos dele estavam firmes, mas ternos. — O que a gente tem... só cresceu. Não mudou de forma, só se revelou. Eu sempre estive aqui. Sempre quis estar. Só estava esperando você me ver do jeito que eu sempre vi você.
Ela sentiu a garganta apertar, o coração acelerado, como se todas as palavras que precisava dizer estivessem presas. Mas uma delas escapou:
— E você ainda quer?
— Claro que quero. — Ele deu um passo à frente, pegando a caneca da mão dela e deixando ambas sobre a pia. — Mas só se for por inteiro. Sem fingir, sem prometer que vai voltar a ser como era. Porque não vai. E, sinceramente? — Ele segurou o rosto dela entre as mãos. — Eu não quero voltar.
mordeu o lábio inferior, emocionada. Os olhos arderam, mas ela não chorou.
— Eu também não quero voltar.
Ele sorriu, aliviado, e a beijou ali mesmo, um beijo calmo, sem pressa — como se selasse um pacto silencioso entre dois corações que sempre se pertenceram.
Quando se separaram, ela soltou um riso leve, encostando a testa na dele.
— Só me promete uma coisa.
— Qualquer coisa.
— Que a gente ainda vai assistir Harry Potter, discutir teorias idiotas e brigar pra ver quem lava a louça depois.
— Feito. — Ele riu. — Mas só se você prometer continuar escolhendo vinhos ruins e me dando desculpas pra ficar mais uma noite.
Ela deu um passo para trás e fez uma reverência dramática.
— Com prazer.
E assim, entre uma xícara de café e um beijo roubado na cozinha, os dois entenderam que o que tinham não era só amizade, nem só desejo — era casa. Era amor em forma de história antiga que, enfim, tinha encontrado seu novo capítulo.
E, dessa vez, ninguém fingiu que não sabia onde aquilo ia dar.