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Aurora Boreal
Fanfic Finalizada
— Bom, eu sei que todo mundo está animadíssimo para conhecer o elenco do BBB 25 a partir de amanhã, na programação da Globo. — Ana Clara, apresentadora do MesaCast naquela noite, disse, sorrindo para os convidados do aquecimento. — Mas quero começar perguntando: o que vocês mais vão sentir falta da última edição?
— Olha, tirando os barracos icônicos, vou sentir falta de ver algo no estilo e , viu? — Mari Gonzalez respondeu, apontando para a imagem dos ex-participantes na televisão ao lado dela.
— Polêmica, hein, Mari? — Ana Clara acrescentou, observando as fotos. — Será que não tem chance do nosso novo elenco servir algo parecido? O que você acha, Thelminha?
— Ah, bem difícil, viu? — Thelminha, uma das campeãs, afirmou. — Todo mundo sempre fica comparando os perfis de uma edição para outra, mas essa dinâmica que a e o tiveram de ir de rivais para uma dupla temida no jogo é bem única pelo conjunto de acontecimentos no BBB 24, sabe?
— Esses dois vão ficar na memória mesmo… — Ana Clara concordou, pronta para mudar de tópico.
— Até porque eles não conversam mais, né? — Jojo Todynho comentou, arrancando risadas das colegas.
— Jojo! — Mari berrou, chocada com a coragem da amiga de tocar em uma das fofocas mais recentes que o pós-programa trouxe.
— Ué, gente, quem disse foi o Hugo Gloss, não fui eu, não! — Jojo explicou, rindo.
— Essa fofoca tá rendendo desde dezembro do ano passado. — Ana Clara concordou.
— Tem que falar mesmo, ele começou a namorar e pronto, largou a amiga! — Jojo exclamou, sem deixar a sinceridade marcante de lado. — Cadê o príncipe do programa? Era teatro?
— Vamos falar de coisa boa? — Thelminha mudou de assunto, segurando o riso. — Sobre a casa nova…
encarou o bloco novo de capítulos que tinha recebido da produção da novela enquanto um dos responsáveis por seu figurino ajustava a primeira troca do dia. Na verdade, não tirava os olhos da página 29 do capítulo 77, exatamente na cena em que seu personagem morria com três tiros absolutamente do nada. O ator tinha recebido um perfil completamente diferente para seu personagem quando aceitou a proposta do diretor da novela e, com “completamente diferente”, ele queria dizer duradouro.
Dantas, nome do personagem, tinha envolvimento com diversos núcleos, era uma das opções de par romântico de uma das protagonistas da novela e era, aparentemente, muito querido pelo público, um mocinho dos bons. Sinceramente, ele não entendia a decisão e passou a questionar se seu trabalho era realmente bom. Tinha feito poucos trabalhos antes de entrar para o Big Brother Brasil, assim que saiu, recebeu diversas propostas de publicidade; porém, pouquíssimas de obras audiovisuais. Inclusive, não teve um contrato oferecido pela Globo, somente fechando a obra da qual participava agora, a novela das sete.
— Vamos lá, ? — o figurinista o chamou, tirando-o de seus pensamentos e das palavras “Alguém dá três tiros em Dantas” escritas na típica fonte de roteiros.
— Claro, desculpe — o ator disse, deixando o bloco de folhas brancas com letras pretas em cima da mesa do camarim.
Enquanto vestia a roupa social, chegou em duas conclusões: ele era um péssimo ator ou alguém na equipe criativa da novela o odiava.
— Posso conversar um pouquinho com você antes da gente rodar a próxima cena? — perguntou, aproximando-se do diretor artístico da novela.
— Claro, querido, algum problema com as cenas de hoje?
— Não com as de hoje, mas com as que vamos gravar em breve — o ator respondeu, estudando a expressão do homem com seriedade, tentando identificar se ele tinha algum conhecimento maior sobre o que ele ia perguntar. — O Dantas vai ser assassinado.
— Eu fiquei surpreso com a notícia também, — o homem explicou, falando calmamente para não revelar mais do que podia. — Inclusive, até fui um pouco invasivo com a equipe de roteiro e questionei a decisão e entendi.
— A minha interpretação não está comportando o personagem? Não há nada que eu possa fazer para alterar isso? — o jovem questionou, deixando seus pensamentos negativos anteriores aparecerem na conversa.
— Claro que não, , você é constantemente elogiado, não só pela crítica, mas por todos que assistem a novela — respondeu, colocando uma das mãos no ombro do rapaz. — Inclusive, sua interpretação é o que fez o Dantas ser querido pelo público, muitas vezes mocinhos de bom caráter podem ser vistos como insossos ou algo parecido.
— Bom, então não entendo a decisão, inclusive, fui apresentado a um personagem de duração completa na novela.
— A equipe de produção me informou que não foi uma decisão da autora, foi algo sugerido por outra pessoa — o diretor revelou, tomando cuidado para não falar demais. — Uma pesquisa preliminar de desempenho da novela demonstrou que muitos estão sentindo que a novela vai parar de engrenar em breve e essa foi uma medida de prevenção. Alguém achou que matar um dos personagens mais queridos do público poderia chacoalhar a trama e resgatar a audiência que, sinceramente, caiu um pouco em comparação com o sucesso do primeiro mês de novela.
— Bom, fico um pouco chateado com a decisão, estava gostando muito do clima da novela — disse, aceitando que não havia nada que ele pudesse fazer. — Fico mais tranquilo de saber que estou indo bem, prometo estudar muito para trazer o melhor do Dantas nesses dias finais.
— Não se preocupe, por favor, eu não elogiaria sua interpretação à toa — o diretor disse, cumprimentando o ator que, definitivamente, era um de seus queridinhos. — Os argumentos dela eram realmente muito fortes.
“Os argumentos dela”.
, enquanto dirigia para sua casa após terminar as cenas do dia, conseguiu pensar em pelo menos outros seis personagens que poderiam ser assassinados na novela além do dele e, ignorando a ideia de que ele era um péssimo ator, só pôde concluir que alguém na equipe de roteiristas que auxiliava a autora da novela realmente o odiava.
agradeceu o carinho da mulher que havia acabado de pedir uma foto com ela e voltou a se sentar na mesa alta e redonda que dividia com outras duas amigas no bar que frequentavam antes de conhecê-la.
— Acho que nem eu, que era da sua equipe, pensei que você fosse ser tão querida assim! — Camila, a social media que sua melhor amiga havia escolhido para cuidar das redes sociais enquanto ela estava no programa, disse após tomar um gole do Martini que tinha pedido há alguns minutos. — Meu sonho era você aceitar algumas das publicidades que te oferecem, sério, você ia ser uma estrela!
— Ah, você sabe que esse nunca foi meu objetivo com o programa — reforçou, olhando o cardápio de petiscos do bar. — Eu queria o prêmio e, quem sabe, uma vaguinha na equipe da Globo nos bastidores.
— E conseguiu, né? — , atriz e amiga que havia feito após o programa, disse, finalizando seu primeiro drinque da noite. — O prêmio do terceiro lugar não é ruim, não!
— Deu para pagar minha especialização em roteiro, conseguir um apartamento por aqui, ajudar a família com algumas contas — explicou, decidindo-se por pedir uma porção de batatas com sour cream, ela fez um sinal para chamar um dos garçons que se aproximou imediatamente. — Com licença, queria pedir uma porção da batata oito do cardápio.
— No capricho em alguns minutinhos, Srta — o homem disse, anotando na comanda com o número da mesa delas. — A patroa pediu para avisar que a mesa de vocês é por conta da casa, ok?
— Que isso, não precisa... Pagamos sem problemas — começou a dizer, não era a primeira vez que isso acontecia e ela sempre ficava constrangida.
— Magina, Srta. — o garçom fez um sinal com as mãos. — Você viu o tanto de gente que entrou aqui só por sua causa? Já paga a mesa e muito mais! Minha família te adora, viu?
Antes que ela pudesse protestar, o garçom saiu cantarolando uma música que ela e grande parte do Brasil associavam a ela e a outro participante do programa.
— Ela pode até recusar as publis, , mas não para de receber presente na caixa postal — Camila contou, dando risadinhas da cara assustada da chefe (mesmo que ela não gostasse do termo) e, agora, amiga dela. Ela nunca se acostumava com os privilégios que a fama poderia trazer. — Todo dia eu organizo umas vinte no apartamento dela.
— Mentira! — a atriz disse, fingindo surpresa, colocando uma das mãos sobre a boca para esconder o sorriso zombeteiro que se abria no rosto dela. — Já recebeu cesta de café da manhã com um balão escrito “ e : Amor eterno”?
— E com “Amor maior” e outras cinquenta frases diferentes, ursinho de pelúcia, almofada com a foto deles — Camila respondeu, rindo junto com a atriz que não conseguiu mais esconder.
— Isso não tem graça, é constrangedor! — exclamou, passando a mão pelos cabelos. — Como que podem enviar tanta coisa de casal para pessoas que nunca foram um casal! O namora, isso é muito vergonhoso…
— Querida, vocês resgataram a energia de ship raiz de BBB que não existia há anos! — Camila, assídua espectadora do reality show, explicou. — Eu acho que seria até pior se tivessem mais caprichetes¹ no fandom de vocês!
— Assim, o também recebe essas coisas e a Olivia adora comer as geleias caras que eles mandam, então, fica tranquila. — , que já era amiga de muito antes dele entrar no programa, tentou acalmar a roteirista. — E é óbvio que todo mundo começou a exagerar nesses presentinhos porque descobriram que vocês se afastaram.
— Sim, com certeza! — Camila concordou, aproveitando que a mesa seria por conta da casa para checar a lista de petiscos caros do bar. — Vocês tinham uma amizade muito estranha lá dentro, não podem culpar o público!
— E aqui fora? Mais estranha ainda — a atriz reforçou, levantando as mãos em rendição quando a direcionou um olhar torto.
— Não faço ideia do que vocês estejam falando…
— Caô, ! — discordou, levantando uma das mãos para chamar o garçom. — Mas vou ficar quieta porque sou amiga dos dois e acho os dois completamente burros.
— O deve ficar puto que você conheceu a por alguns meses e continuou amiga dela mesmo depois que ela bateu a porta na cara dele, né? — a social media questionou, rindo. — Já consigo ouvir a voz dele dando piti!
— Gente, vamos parar de falar disso? — pediu, pronta para mudar de assunto. — Por que não falamos que a Globo me pediu para escrever uma minissérie, hein? Ou sobre o contrato da com a Netflix?
Há algumas horas, Camila havia deixado na frente do prédio dela após a noite de conversas maravilhosas que as três tiveram. A mulher subiu para o quarto andar e deixou os sapatos na discreta sapateira que ficava ao lado da porta do apartamento quarenta e quatro. Ao entrar em casa, tinha decidido tomar um banho e depois passar a noite revisando e concluindo o episódio número três da possível futura minissérie do Globoplay.
Desde que tinha saído do programa, havia fechado um contrato para fazer parte de salas de roteiristas das produções da Globo e tinha ficado muito lisonjeada ao receber o convite para escrever uma série exclusiva para eles, algo que imaginou que demoraria muito mais tempo para acontecer em sua carreira. Por isso, ela era tão grata pela participação no BBB, as coisas nunca estariam acontecendo naquela velocidade se ela tivesse somente começado a buscar um novo emprego após o fim da faculdade e do estágio em uma produtora em São Paulo. Ela nunca se arrependeria da inscrição.
Enquanto revisava as cenas iniciais do episódio três através do software de roteiro que costumava utilizar, vestida com o roupão felpudo confortável que havia recebido de um de seus fã-clubes no Twitter (que agora era X, mas ela nunca deixaria de chamar pelo nome antigo), ouviu o som da campainha melodiosa do seu apartamento. A mulher tirou o notebook do colo, colocou o aparelho no sofá e levantou para abrir a porta, imaginando que fossem um dos filhos da vizinha da frente querendo mostrar alguma novidade para ela.
Sem espiar pelo olho mágico, destrancou a porta e deu de cara com alguém que havia dividido o mesmo teto por três meses e não via por quatro.
— Você me matou! — , com os cabelos normalmente irritantemente alinhados, estava com os fios bagunçados e um monte de páginas brancas nas mãos quando falou com ela.
— Boa noite? — respondeu enquanto ele entrava na casa dela com tudo.
— O que você tem contra mim? — perguntou, segurando o roteiro com uma das mãos e usando o indicador para apontar para uma frase grifada com marca-texto amarelo bem no meio da página. — Três tiros, , papo reto, qual era a necessidade?
— Primeiramente, você vai voltar lá para fora, tirar seus tênis, e depois a gente pode conversar — disse com um sorriso, enquanto segurava a porta para ele e apontava para a sapateira de madeira.
— Sério, ? — exclamou, mesmo que tivesse imediatamente feito o que ela pediu.
— Agora sim! — ela exclamou, fechando a porta depois que ele passou só de meias. — Como você subiu sem me interfonar?
— O porteiro me reconheceu e meu nome está na lista de pessoas que podem entrar — explicou, voltando a mostrar a linha grifada de amarelo. — Não muda de assunto!
— O que eu tenho a ver com “Dantas morre com três tiros”? — perguntou, fingindo que não sabia exatamente quais eram as palavras ali ao se aproximar do bloco de folhas para ler melhor.
— Eu sei que você faz parte da sala de roteiro da autora da novela! — disse, exasperado.
— Deveria saber também que nem todos escrevem tudo em uma sala de roteiro, .
— Mas eu também já sei que você deu a ideia de matar o Dantas — o ator explicou, torcendo os lábios ao ouvir o nome completo que praticamente ninguém usava.
— Quem te contou isso? — perguntou, passando as mãos pelo rosto.
— O diretor da novela.
— Bem que me falaram que não existe confidencialidade no Projac, hein — reclamou, caminhando até a cozinha para encher um copo de água no filtro, sendo seguida pelo ator. — Olha, , atores normalmente não interferem na jornada do personagem deles, eu dei uma sugestão, a equipe e a autora concordaram e pronto, você só tem que estudar a cena e entregar ela no dia da gravação.
— Eu aceitaria isso tranquilamente se não tivesse dedo seu nisso aqui! — se controlou para não acabar mostrando a voz de “piti” dele, exatamente como havia chamado no programa. — Depois que você bateu aquela porta na minha cara, fica meio difícil não acreditar que essa decisão não foi influenciada pela nossa relação.
— Você tá sendo completamente sem noção — disse, levemente irritada após praticamente ser chamada de amadora pelo ator. — Eu te fiz um favor matando esse personagem!
— Fez um favor me deixando sem emprego? — exclamou, largando o roteiro na mesa de jantar dela. — Diferente de você, a Globo não fechou contrato comigo! Agora eu não tenho absolutamente nada, sendo que eu teria um contrato fechado até pelo menos setembro!
— Ah, , você sempre pode aceitar aquela oferta do tigrinho ou da Blaze que eu sei que estão te esperando no seu e-mail! — zombou, sabendo que o ator ficaria irritado, não conseguindo não rir depois.
— Cada vez mais eu entendo porque a gente passou um mês brigando no BBB! — o ator exclamou, pegando o monte de papéis na mesa e caminhando até a porta com a mulher em seu encalço. — Você é insuportável e insensível!
— Cara, eu tô pensando no entretenimento do público! — revidou, fingindo que ele não tinha usado um dos adjetivos que mais tinha causado problemas no seu jogo interno no programa. — Ninguém ia aguentar um chato que se faz de coitado por mais seis meses na televisão! E você nunca vai se tornar um Grande Otelo, um Tony Ramos ou qualquer outro ator memorável fazendo meia dúzia de personagens chatos e iguais!
— Eu me arrependo todos os dias de ter te dado o anjo aquela vez! — exclamou, mesmo sabendo que estava sendo infantil.
— Ok, eliminado, cansei de ouvir você! — gritou de volta, ela tinha consciência que o nível da conversa tinha baixado muito, mas não estava com paciência para lidar com . — Pode sair, obrigada.
olhou uma última vez para a mulher com o roupão vermelho com quem ele tinha dividido tantos momentos há um ano, antes de ouvir a porta batendo nas costas dele pela segunda vez.
Assim que escutou ele calçar os sapatos e se afastar do apartamento dela para pegar o elevador, pegou a almofada em formato de coração com o nome deles que usava no pescoço enquanto escrevia, e jogou longe, mesmo com tudo aquilo, não se arrependeu de ter escolhido Dantas entre os outros oito personagens que funcionariam muito bem como estopim para uma virada de chave na novela, mesmo que a implicância tenha falado um pouquinho mais alto…
Caprichete¹: É o nome dado nas redes sociais à pessoa que shippa algum casal; hoje em dia, a palavra é bem mais utilizada no contexto dos realities.
sabia que a cena ia ao ar hoje, porém, só tinha certeza disso porque fazia parte da equipe da novela. Todos tinham trabalhado muito para manter o assassinato de Dantas em segredo, mascarando o acontecimento até mesmo nos resumos de novela que eram divulgados para imprensa semanalmente.
Depois da visita amarga de em sua casa, passou a duvidar se realmente tinha tomado a decisão criativa correta ou se tinha deixado sua birra falar mais alto. De qualquer forma, em alguns minutos, ela teria o efeito imediato e, em alguns dias, o efeito como um todo, com as pesquisas de opinião pública.
deixou os pensamentos um pouco de lados ao observar a câmera acompanhar Dantas em uma locação aparentemente normal. O personagem, com uma caracterização bem diferente das roupas usadas pelo ator que dava vida a ele, caminhava tranquilamente, cantarolando uma música que fazia parte da trilha musical da novela. A mulher conhecia todos os passos que ele daria a partir de agora, sendo ela a responsável por toda a sequência de seu assassinato. Dantas olhou por todos os cômodos, procurando pela caixa que deveria buscar na casa onde estava, sem suspeitar que quando entrasse na cozinha, tudo mudaria. Dantas passou pela sala de jantar, chegou à cozinha. Mal teve tempo de observar o ambiente ao seu redor para achar a caixa, quando o primeiro tiro atingiu seu peito pelo lado esquerdo, a perspectiva da câmera antes nas costas dele, imitando o ponto de vista do assassino. , totalmente entregue, cambaleou para o lado com tamanha leveza que parecia que o disparo tinha sido real. Sem deixar tempo para o espectador se acostumar com a cena, o segundo tiro atingiu o abdômen do rapaz que, sem forças, finalmente atingiu o chão, tudo sendo vislumbrado através de uma fresta da janela aberta da cozinha, era um plano realmente muito bonito.
A partir dali, o movimento de câmera recomeçou, o assassino caminhava e o espectador caminhava junto até alcançar a figura ensopada de sangue e lágrimas, já desfalecendo. Dantas parecia tentar dizer alguma coisa, mas foi interrompido.
O último tiro foi na cabeça, cena rapidamente cortada por um fade out¹ pelo horário, que demandava menos violência. Quando a novela acabou e os comerciais que antecipavam o jornal apareceram, respirou aliviada, a direção tinha feito o texto se tornar impecável. A mulher pegou o celular, abriu o Whatsapp e procurou pelo nome de , digitando “infeliz” ao lembrar que havia mudado o contato.
Os dedos velozes digitaram um texto de umas dez linhas que transitavam entre elogiar a performance dele e pedir desculpas por sugerir que ele poderia fazer publicidade para o jogo do tigrinho.
Porém, ao lembrar do quanto havia falado mal dele para as amigas, apagou tudo e estava prestes a jogar o celular longe quando a tela mostrou uma chamada de FaceTime.
— Já olhou o twitter desde que a novela acabou, lindinha? — , apelido da melhor amiga de infância de , disse enquanto, pelo vídeo, servia um pouco de vinho branco na taça apoiada na bancada da cozinha.
— Tenho medo de olhar — respondeu, jogando o corpo no sofá e levantando o celular para o alto. — Mas se só você gostou, já fico feliz.
— Relaxa, todo mundo achou a cena incrível, aparentemente ninguém leu as letrinhas miúdas dos créditos finais da novela e não sabem que foi você — a mulher a tranquilizou, pegando o celular e a taça para conversar com a amiga na sala. — Mas tem uma galera bolada com a morte dele, espero que vocês achem uma boa explicação.
— Eu dei várias sugestões plausíveis quando recomendei assassinato para levantar a novela — explicou, sentando-se novamente para ficar de igual para igual na ligação. — Cabe à autora seguir ou não o que eu falei, só estou dando outras sugestões e ajudando com a organização da sala de roteiro, essa foi a única cena que eu escrevi até agora.
— E foi uma das melhores até agora, você sabe o que faz! — elogiou a amiga, dando um breve gole na taça antes de prosseguir. — Não é porque sou sua amiga, só que realmente o estava precisando de uns personagens mais diferenciados, sabe? Ele só fazia mais do mesmo!
— Vou te mandar o número dele e você manda um áudio falando isso, pode ser? — ironizou, sentindo dor de cabeça só de lembrar a discussão dos dois. — Quem sabe ele não enxerga quando uma fã disser…
— Ele já está todo felizinho com a repercussão, bobinha — disse, fazendo uma carinha de quem sabia de algo.
— O que aconteceu?
— Olhou o Gossip do Dia nos últimos dez minutos?
— Não, estava ocupada escrevendo um texto enorme para o e apagando.
— ! — A mulher a censurou antes das duas caírem na gargalhada. — Eles acabaram de postar e Olivia dançando "Coração Cigano”² em um barzinho depois que a novela acabou.
— Pelo amor de Deus, essa música, NÃO! — gritou, afundando a maldita almofada de coração no próprio rosto. — Eu odeio ele!
— Relaxa, todo mundo comentou que não tem metade do brilho que teve quando a Pitel³ obrigou vocês a dançarem na festa, por vocês terem conseguido o anjo juntos.
— Tá vendo? — disse, notando que mal conseguia beber o vinho de tanto rir. — Ele faz isso de propósito, esse canalha, maldito, eliminado…
— Você está com ciúmes! — gritou, deixando a taça de vinho na mesa de centro em frente ao sofá para não derrubar o líquido no chão.
— Oi? — gritou de volta, ficando estática na tela do celular da melhor amiga. — Você me odeia? É isso que você quer dizer?
— Deixa de ser dramática, ! — exclamou, voltando a pegar a taça. — Você está, sabe disso e usa melodrama para disfarçar.
— Ei, isso ficaria ótimo em um texto, viu?
— Vou começar a cobrar toda vez que você usar algo meu em um roteiro.
— Entra na fila, se essa minissérie for aprovada, vão ter vários... — zombou, caminhando até a cozinha com o celular na mão. — Mas, vem cá, , por que você não odeia o comigo?
— Nossa, você é a única, além da mãe, dele que chama ele assim — fez careta, observando a amiga pegar uma panela, azeite e um vidro com milho para pipoca, pronta para iniciar o preparo. — Nem os fãs quando estão bravos chamam assim.
— Chamam sim, que eu já vi.
— Você stalkeia ele, né? — falou rindo, quando a amiga fingiu bater com o vidro de azeite na tela. — Mas, respondendo a sua pergunta, eu acho que toda aquela situação de vocês foi completamente descabida.
— , ele deu em cima de você!
— , ele não sabia que era eu! — a mulher explicou, novamente deixando a taça na mesa de centro.
— Ele te viu no meu vídeo do anjo! — disse, fechando a panela e ligando o fogo. — Isso é canalhice, !
— Era um baile de máscaras, ! — continuou, tentando fazer a amiga enxergar por outra ótica. — Assim que eu tirei a máscara, ele pediu perdão! E eu sei que qualquer pessoa que ele desse em cima naquela noite tiraria a mesma reação de você, porque você está apaixonada por ele!
— Apaixonada é demais — rebateu na hora, o desconforto habitual que sentia quando tocava no assunto voltando com toda força. — E “está” é a conjugação incorreta.
— Você pode tentar se enganar, mas a sua irmãzinha sempre sabe — disse, mantendo a voz gentil, a amiga fugia de romance como quem fugia do diabo, só na vida real, é claro. — Eu sei que você vai repetir que três meses é pouco e que se apaixonar no BBB é burrice, mas nem os mais sábios escapam dele.
— Essa frase já é péssima, muito açucarada, não tem como usar — brincou, desligando o fogo e trazendo a panela tampada com as pipocas para o balde na frente da câmera, o sorriso dela era triste. — Ok, supondo que você realmente saiba tudo, ele podia ter esperado eu ir embora, né?
— E você acha que ele entendeu que você gostava dele, ?
— Eu dei sinais.
— Ai, , eu já vi seus sinais, são péssimos.
— Ei, eu faço o que posso, tá?
— , do mesmo jeito que você precisa que as coisas sejam ditas, talvez ele precise também — aconselhou, nada funcionava tão bem com a melhor amiga quanto palavras de afirmação. — Os dois ficam nesse chove e não molha e deu no que deu, fim da amizade! Uma das mais lindas do reality, ok?
— Esse seria o fim de qualquer jeito, — suspirou, pegando uma das pipocas do balde. — Quando você está indeciso sobre ser amigo ou algo a mais e o outro encontra alguém com convicção, o fim é inevitável.
— Essa frase é ótima, pode anotar — brincou, conseguindo aliviar o clima ao fazer rir. — O que você pode fazer é aliviar um pouquinho o lado dele, vai?
— Ele feriu o código das garotas, .
— Ele não sabia.
— Com agravantes.
— , ele pediu perdão!
— Ele me chamou de insuportável.
— Você é, às vezes.
— Ele votou em mim duas vezes.
— Vocês eram rivais!
— Ele me deu o monstro.
— ! — exclamou, levantando para deixar a taça na pia da cozinha. — É mais fácil dizer que você gosta de brigar com ele logo.
— É engraçado, a voz dele fica desafinada — admitiu, trazendo o balde para a sala. — E agora tenho que interpretar o papel de vilã que ele me deu!
— Vocês, jovens, são passionais demais para mim — falou, pronta para se despedir da amiga.
— Você tem cinco anos a mais que a gente.
— Que me ensinaram demais, lindinha — brincou. — Daqui cinco anos a gente conversa, amanhã tenho plantão, boa noite.
— Bom plantão, te amo e saudades.
A residente repetiu as palavras finais da melhor amiga e desligou, deixando pensando se não estava levando a situação de forma dura demais — como sempre.
Fade out¹: Na fotografia: desaparecimento gradual da visibilidade de uma imagem no final de uma determinada sequência. Na sonoplastia: o som em seu volume original começa a ser baixado lentamente até chegar ao silêncio completo (ou quase).
Coração Cigano²: música sertaneja cantada por Luan Santana e Luísa Sonza.
Pitel³: Giovanna Pitel, que foi uma das participantes do BBB 24.
já conhecia várias das pessoas que estavam na sala de reuniões em um dos prédios do estúdios Globo. Alguns faziam parte da equipe do BBB, outros, dos programas de televisão que havia participado após o fim do programa, ou eram membros do setor de dramaturgia e entretenimento, mesmo com os rostos conhecidos. As mãos dela suavam, os olhos estavam fixos no roteiro impresso no centro da longa mesa e o coração acelerava um pouco mais a cada minuto que algum participante da reunião demorava a chegar.
— Bom, , antes de mais nada, quero começar dizendo que sua contratação pelo comitê de entretenimento não tem a ver somente com você ser uma ex-participante. — Uma das responsáveis pelos conteúdos do Globoplay explicou assim que todas as cadeiras foram ocupadas. — É claro que sem sua participação, seu currículo jamais chegaria tão facilmente até nós, mas gosto de pensar que chegaria, porque você tem um criatividade tão potente e determinada que não passaria despercebida por nenhuma grande empresa.
agradeceu com um sorriso, não tinha certeza se era o momento de dizer alguma coisa, mas foi rapidamente respondida ao ouvir a voz de outro diretor:
— Você desvendou tramas lá dentro, foi responsável por criar novas que te favoreceram e não decepcionou aqui fora. — O homem fez uma pausa para beber um pouco de água antes de prosseguir. — O roteiro da minissérie é extremamente promissor, tem uma temática que não exploramos na plataforma ainda e é bem amarrada.
— Apesar de acharmos que abre brecha para outras temporadas — uma das participantes completou, sorrindo para .
— É um tema bem recorrente no exterior que tem um público consumidor forte aqui no Brasil, consideramos pela pesquisa de mercado que, com divulgação e produção corretas, pode trazer muitos frutos para a plataforma — outro acrescentou, provavelmente lidava constantemente com as estatísticas dos produtos de entretenimento da emissora.
— Então considere esse roteiro comprado para além do seu contrato de trabalho conosco — revelou a mulher que iniciou a conversa. — Queremos que você continue responsável, caso haja a compra de novas temporadas, e gostaríamos de convidá-la para participar do set de filmagem, já que você possui formação para isso.
— Porém, antes de você dizer qualquer coisa, temos duas condições prévias que podem alterar sua percepção sobre a oferta — o diretor avisou antes que pudesse girar na cadeira e dizer “sim” mil vezes.
— Primeiro, entregamos o material para roteiristas da casa com mais tempo de experiência e eles achariam interessante se você pudesse produzir um ou até dois episódios, quantos achar necessário, retratando um pouco mais dos acontecimentos do último capítulo que você entregou.
— Para desenvolver melhor as questões do protagonista no novo ambiente? — perguntou, puxando um bloquinho e caneta da bolsa para anotar as recomendações.
— Exatamente, eles acreditam que isso, em uma montagem alternada ou algo parecido, pode causar um cliffhanger¹ mais poderoso.
— Certo, consigo pensar em vários meios, mas possivelmente terei que reescrever os três últimos — explicou, terminando as anotações. — Tudo bem por vocês?
— Claro, organizamos o plano de produção incorporando o tempo para fazer um novo tratamento no roteiro — a mulher concordou, anotando algo no celular.
— Por fim, nossa última condição talvez não seja muito agradável — o diretor iniciou, engolindo em seco. No fundo, ele achava a exigência uma bobagem, mas não era o peixe grande da área e tinha que seguir ordens. — Segundo o que sabemos, é bem provável que agora mesmo alguns meios de notícias não muito ortodoxos estejam noticiando o fato de que você foi a responsável por sugerir o assassinato do personagem do seu colega de reality.
— Desculpe a indelicadeza, mas vocês realmente têm um problema de vazamento de informações aqui, viu? — disse ao passar os dedos pela sobrancelha, notando que vários funcionários ali concordaram com ela.
— É inegável, , peço desculpas por isso — a mulher disse, suspirando alto. Quantas vezes não tinha visto os membros da emissora se descabelarem com o problema? — Como imaginamos que a combinação de notícias anteriores com essa pode não ser muito positiva, pode deixar tanto vocês quanto a emissora em uma posição desinteressante. Nossa condição é de que o seja o protagonista da trama.
não soube dizer por quanto tempo ficou em silêncio, encarando as outras vinte pessoas na sala com ela. Não sabia nem dizer por que tinha tanta gente, se só quatro delas falaram.
Talvez fosse para intimidá-la.
A mulher queria perguntar o que fariam se ele não fosse considerado adequado para o papel pela direção, porém, segurou a língua ao imaginar que eles tomassem o comentário por birra, como muita gente consideraria o ato de matar o queridinho das 19h, mas era simplesmente algo muito recorrente no audiovisual brasileiro. Ela só estava pensando de acordo com a formação que tinha.
— Eu jamais deixaria uma oportunidade tão grande como essa passar por mim por questões tão banais, aceito todas as condições que vocês exigiram — concordou, metade da sala soltou a respiração que ela não notou que prendiam. — O é um ótimo ator, acho que ele só tem a se beneficiar com um papel tão diferente dos que ele tem feito. Por mim, os trabalhos já podem começar hoje, agradeço pela oportunidade, é muito mais do que eu sonhei ter realizado com a minha idade, obrigada.
— O talento sempre encontra a oportunidade — a diretora disse, balançando as mãos para dizer que não tinham feito nada, antes de cumprimentar .
Maio de 2025.
— Ok, vou começar dizendo para você não surtar — ouviu a empresária, que ele também chamava de irmã, dizer após encerrar uma ligação. — Não é o momento e você já fez isso demais.
— Não consegui o papel, né? — murmurou enquanto arrumava a mesa do jantar com desânimo.
— Pelo contrário, o papel é seu! — Zara soltou um gritinho e pulou ao redor do irmão. — Tecnicamente, ele era para ser seu mesmo.
— Como assim? — o ator perguntou, deixando os copos bagunçados na mesa para abraçar a irmã.
— Aqui vem o motivo para você não surtar…
— Você subornou a diretora?
— Claro que não, garoto, eu hein — a empresária respondeu, dando um tapinha leve no braço do ator. — Vou falar de uma vez: a série foi escrita por ninguém mais, ninguém menos que sua saudosa amiga e, é óbvio, ela não pensou em você de primeira, porém, exigiram que você fosse o protagonista antes de comprarem o roteiro e bla bla bla, aquele papo de contrato chato que ninguém gosta, mas…
— A é a autora da série? — interrompeu a irmã e ela viu o sorriso debochado crescer no rosto dele.
— É, a Globo meteu um papinho de “ah, contenção de danos” mas ficaram morrendo de medo de saírem mal falados daquela fofoca da novela — a mulher explicou, ajustando os copos que o ator não colocou no lugar. — Ela aceitou e agora você tem um trabalho novo, por favor, não vai entrar na pira de “não era para ser meu”, você precisa focar suas energias nesse personagem, tá?
— Zara, eu não vou entrar em pira nenhuma, isso é a melhor coisa que poderia ter acontecido! — exclamou, girando a irmã pela sala de jantar. — Ela me chama de medíocre.
— Não foi isso que ela disse, eu acho, mas…
— Mata meu personagem na novela…
— Foi bom para você e para a novela, vamos ser sinceros…
— E agora vai ter que me engolir como protagonista do primeiro trabalho inteiramente dela? Há!
— Você não acha que é um pouquinho rancoroso? — Zara brincou, abraçando o irmão.
— A partir de hoje é dedicação total ao personagem — ignorou o comentário. — Os dias de ser chamado de básico acabaram.
— Por favor, não entra naquela de “ai, não consigo sair do personagem” igual um monte de toscos fazem, ok? — Zara pediu, — Vou ter que achar um horário na sua agenda para fazer terapia, já que você vai ser um criminoso!
— Relaxa, Zara — o ator a acalmou, ainda a abraçando. — Eu tenho uma empresária braba que não vai deixar…
— Ah, importante mencionar que vocês vão anunciar a série mês que vem em um evento da Globo para divulgar a programação do segundo semestre, ok? — a mulher completou com a última informação que havia recebido na ligação. — É bom você começar a se acostumar com a ideia para se comportar! Sem mais polêmicas!
— E alguma vez eu me comporto mal?
Antes que Zara pudesse responder, o interfone do apartamento tocou anunciando que as pizzas deles haviam chegado.
Cliffhanger¹: É a interrupção de um grande acontecimento antes que ele seja concluído, normalmente utilizado em uma situação onde se põe os personagens em uma situação limite.
Desde que havia saído do BBB e entrado para o quadro de contratados da TV Globo, teve certeza que, quando eles realmente queriam, a equipe de PR¹ conseguia ser a melhor do mundo, deixando as das celebridades internacionais no chinelo.
Era muito mais fácil buscar os dois no mesmo carro, porém, alguém sabia que havia a possibilidade de um deles acabar desistindo do evento após alguma farpa trocada no caminho. Por isso, e tinham vindo para o centro de convenções, onde ocorreria o evento de apresentação dos lançamentos do segundo semestre de 2025 em carros separados e, próximo à entrada do prédio — não o suficiente para que alguém filmasse alguma coisa — o veículo com a roteirista estava parado enquanto o ator trocava de carro para que todos tivessem a impressão de que eles vieram juntos.
A porta de correr foi aberta e , usando uma camisa de manga longa com o mesmo tom de azul marinho do vestido dela, alguns botões abertos (sempre querendo aparecer, ela pensou), calça branca e sapatos oxford da mesma cor, entrou no carro, sentando-se ao lado de com um sorriso debochado no rosto.
Infelizmente, ele estava extremamente bonito.
— Um prazer vê-la novamente — disse quando o motorista deu partida para deixá-los na porta do evento.
— Queria poder dizer o mesmo — resmungou, ajeitando os fios na frente do rosto antes de guardar o celular na pequena bolsa que carregava.
— Em breve você vai dizer isso para os jornalistas, fica tranquila — zombou, ajustando a camisa no corpo.
sabia que o preço que se pagava para trabalhar com cinema era alto, mas aquilo era demais. A mulher escolheu manter o silêncio enquanto o carro se aproximava da entrada do evento, diversas pessoas esperando ver seus artistas favoritos se amontoavam por lá junto com fotógrafos e seguranças. viu que a única coisa permitindo a passagem deles eram cordas de controle da multidão do local que o carro parava agora até a porta de entrada.
— Prontinho — o motorista disse, indicando que eles poderiam descer.
Os dois agradeceram e, antes que pudesse chegar perto da porta, um dos seguranças do local abriu primeiro.
cumprimentou o segurança ao descer do carro e esticou o braço para ajudar a descer, quando ela encostou a mão na dele e saiu do carro, não soube dizer o que era mais forte: se eram os gritos de uma boa parte da pessoas que acompanhavam a entrada no prédio ou os arrepios que sentia.
Decidiu que, pelo seu próprio bem, era melhor que os gritos ganhassem.
agradeceu o segurança antes que e ela começassem a caminhar pelo tapete vermelho que levaria à porta, alguns fotógrafos gritavam para que eles olhassem para direita ou esquerda. viu algumas pessoas pedindo por fotos do lado esquerdo e seguiu para lá, enquanto foi para o lado oposto.
A ex-bbb abraçou diversas pessoas, pegou celulares para tirar fotos e agradeceu o carinho de todos, até chegar em um grupo de aproximadamente onze pessoas usando camisetas com uma foto de e ela abraçados após ganharem a prova do líder valendo um carro, onde só um deles ganharia a liderança e a Tracker azul.
E é óbvio que tinha perdido.
— , somos do Acervo ! — uma das moças exclamou quando ela se aproximou.
— Primeiro fã-clube no twitter — ouviu outro grupo dizer para do lado direito.
— Obrigada pelo carinho! — a mulher disse, sorrindo e pegando o celular das mãos da moça para tirar uma foto em grupo. — Adorei os posts que vocês fizeram durante o programa, ri demais!
— Ah, você é maravilhosa!
— Vamos assistir muito a série, você merece!
— O não sabe o que está perdendo.
fingiu que não ouviu o último comentário e distribuiu abraços entres eles antes de se afastar e encontrar no centro do tapete vermelho, eles sorriram um para o outro de forma genuína, ter aquelas pessoas defendendo-os em alguns paredões tinha mudado a vida de ambos.
— Coração cigano, cigano — os dois ouviram alguém puxar em meio a multidão e, no próximo verso, diversas outras vozes passaram a acompanhar a primeira. — Segue me enganando, mudando, de cheiro em cheiro, de beijo em beijo e aqui no meu olhar morando…
A dupla deu um breve cumprimento final antes de entrar no prédio enquanto o grupo ainda cantava a música que os perseguia desde que tinham saído.
— Eu nunca vou perdoar a Pitel por isso — brincou.
— Eu também não.
Após tirarem algumas fotos para os jornais e conteúdos da emissora, e aguardaram nas cadeiras perto do palco, onde os produtores, diretores, atores e outros profissionais relacionados aos lançamentos esperavam seu momento de subir no palco.
— Agora queremos convidar pessoas extremamente especiais para apresentar uma série que promete muito! — Tati Machado, a apresentadora do evento, disse quando a logo da série e do Globoplay apareceram no telão atrás dela. — A diretora Luísa Lima² e dois nomes que eu tenho certeza que todo mundo aqui conhece: e , a autora e o protagonista da série Duplicado!
Os três levantaram em direção ao palco com palmas os acompanhando até que pegassem os microfones entregues pela produção.
— Boa noite! — disse, acenando para os presentes antes de abraçar Tati.
— Para mim, ter esses dois aqui juntos é um sonho, como é para você, Luísa? — a apresentadora brincou após cumprimentar os três.
— Cara, é um privilégio gigantesco! — a diretora exclamou, sorrindo para a dupla. — Quando me apresentaram o texto da , eu fiquei maluca! Ela escreve de uma forma que deixa a gente livre para explorar todo e qualquer estilo na produção ao mesmo tempo que guia a equipe para não nos perdermos.
abraçou a diretora antes dela prosseguir, o primeiro projeto profissional de sua vida estava em excelentes mãos.
— E agora esse cara aqui! — a diretora continuou, apontando para , o ator estava estrategicamente posicionado ao lado de e somente fez um coração com as mãos para a mulher. — Não tinha outra pessoa para o papel, o mergulha de cabeça em tudo o que faz e está sendo essencial para o projeto da série, ninguém vai se decepcionar.
— Meu Deus! — Tati exclamou, colocando uma das mãos no braço de . — Vocês só estão me deixando mais curiosa! O que a dupla tem a dizer sobre estarem juntos novamente?
— Eu fiquei muito animado com o convite para o personagem — começou depois de pedir que ele fosse primeiro. — E mais ainda quando disseram que era obra da , sempre achei ela genial e depois de ler o roteiro, tive certeza! Vai ser uma honra interpretar um personagem feito por ela e conviver em set é praticamente um confinamento, então, é bem nossa praia.
— vai pro set também? — Tati jogou o assunto para a mulher após rirem do comentário de .
— Normalmente os autores ficam em casa — explicou, sorrindo para a plateia. — Mas como já fiz muito set antes, vou ser assistente de platô!³
— Espero que vocês entrem nos estúdios Globo conscientes de que essa já é a série mais esperada do ano, não é, gente? — Tati jogou a pergunta para o público do evento, recebendo cumprimentos e gritos animados da plateia.
— Sem pressão total, hein — zombou.
Tati estava prestes a encerrar com uma pergunta mais descontraída, porém, uma voz alta e grave na plateia ressoou no ambiente, impedindo que a apresentadora continuasse.
— Falando em pressão, vocês estão tendo dificuldades em lidar com esse trabalho após os boatos de brigas entre vocês nos últimos meses?
normalmente lidava muito bem com pressão, porém, a pergunta a pegou desprevenida, afinal, a equipe havia garantido que qualquer questionamento relacionado aos dois de forma pessoal havia sido previamente proibido.
— Dificuldade nenhuma, porque os boatos são maldosos — os salvou, como fez muitas vezes nos momentos que a mulher travou durante o programa. — A e eu tivemos uma conexão fortíssima no BBB e isso não acabou, apesar do enorme esforço que o Léo Dias parece fazer para isso acontecer.
O comentário fez todos no local, incluindo o jornalista que havia feito a pergunta, rirem. achou que sua risada soou meio desesperada, mas disfarçou.
— Todo mundo que assistiu o programa viu que era o sonho dela escrever uma série ou qualquer coisa parecida e eu estou extremamente honrado em fazer parte disso com ela — continuou antes de colocar um dos braços ao redor dos ombros de que, novamente, teve que disfarçar o sobressalto que seu corpo deu ao sentir o toque dele.
— E é isso aí, pessoal! — Tati cortou o momento tenso com precisão, decidindo encerrar ali. — Duplicado vem aí no próximo semestre, obrigada pela presença, queridos.
Os três agradeceram e seguiram o caminho na parte traseira do palco indicado por um dos produtores do evento, Luísa se despediu dos dois ao encontrar uma colega de profissão e a dupla seguiu pelo corredor que levaria ao camarim.
— Ainda acha que eu sou péssimo ator? — zombou ao perceber que os dois estavam realmente sozinhos.
— Idiota — disse, empurrando a mão dele do ombro dela para afastá-lo de si.
— Sendo sincero, eu não menti ali — acrescentou conforme eles entravam na sala reservada para os dois, tentando mudar o tom da conversa. — Depois que comecei a estudar mais o personagem, receber os tratamentos dos episódios e tal, achei você genial, de verdade.
— Fico extremamente feliz que esteja do agrado do próximo vencedor dos “Meus Prêmios Nick” — zombou, jogando-se no sofá em frente ao que o ator havia se sentado.
— Piada de extremo mal gosto porque, um: o “Meus Prêmios Nick” não existe mais — ele enumerou com a mão esquerda. — Dois: você está menosprezando nossa série e três: não está ajudando a acabar com clima hostil entre a gente.
— Clima hostil que você criou — retrucou ao encarar os olhos maliciosos do ator.
— Admito que fui muito insensível indo na sua casa aquele dia — confessou, usando as mãos em sinal de rendição. — Inclusive, pensei em convidar você para um jantar.
— Vai cozinhar um prato a la xepa para relembrar os velhos tempos?
— Não, não — negou, sorrindo para a mulher que estava na sua frente. — Vou te levar no Paris 6 para comer os pratos com nossos nomes, o e-mail deve chegar amanhã junto com a proposta urgente para estrelar uma campanha bem brega de Dia dos Namorados.
encarou o ator com a boca aberta em uma expressão que misturava choque com a vontade de rir. Sem palavras, a roteirista decidiu por jogar uma das almofadas do sofá nele.
— A gente tem o povo, — zombou, agarrando a almofada antes que ela atingisse seu rosto. — Não tem o que fazer…
— Ajudaria muito se você não mentisse sobre uma intimidade que a gente não tem — retrucou ao levantar do sofá para pegar um pouco da água saborizada exposta na mesa de comes e bebes preparada para eles.
— Mas eu não menti — explicou, levantando-se também. — Acho que você tá fazendo escuta seletiva comigo.
— Meio difícil acreditar que você tá falando sério — disse, terminando sua bebida. — Você vai lá e solta uma piada com, sei lá, quarto duplo no cruzeiro do Neymar logo depois.
se segurou para não fazer uma brincadeira com o que ela havia dito, a pré-produção iria começar em breve e ele desejava focar inteiramente no personagem que viria pela frente. É óbvio que a pressão interna era maior com ela por perto durante as gravações, imaginava que ela fosse ficar em silêncio, mas o ator a conhecia bem demais para saber o que ela pensava só de encarar seus olhos atentos.
Por isso, manter um clima saudável entre e ele era essencial para que o set de “Duplicado” não fosse tenso. Não era porque ele sentia falta dos dois de antes, mas porque ter a diretora e autora do seu lado só traria benefícios para a série.
Tudo pela arte, né?
— Isso não era incômodo quando estávamos no BBB — escolheu dizer.
— A situação era diferente naquela época — rebateu, deixando o copo em cima da mesa.
— Antes você não tinha se apaixonado por mim, né? — se arrependeu no mesmo minuto do que disse ao ver a expressão aterrorizada no rosto da mulher.>br> — De onde você tirou isso?
— Eu sei que parece, mas eu não sou um homem tão burro assim — o ator explicou, dando uma risadinha. — A gente sempre sabe…
— Eu sabia! Você deu em cima dela de propósito! — gritou, encostando a ponta do indicador no peito dele, bem onde os botões da camisa começavam a abrir.
— Porra, não! — ele exclamou, erguendo os braços em rendição (parecia que estava sempre fazendo isso com ela). — Eu tenho pesadelo com essa noite pelo menos uma vez por semana, não, não!
— Você não se escuta?
— Eu quis dizer que aquela noite confirmou minhas ideias — continuou, aparentemente, ele era péssimo tentando aliviar tensões. — E antes que você diga que eu não me importei, eu fiquei bem feliz quando cheguei a essa conclusão seis horas depois com ajuda da e da minha irmã.
não conseguiu não rir, usando a mão que havia encostado nele para cobrir o sorriso, o que ele achava péssimo.
— É por isso que fizeram um edit seu com Aquariano Nato⁴ — murmurou.
— Edit péssimo para minha imagem, inclusive — zombou, guardando a informação de que ela via o que falavam dele nas redes mesmo depois que pararam de conversar. — Mocinho de novela com essa música? Não combina.
— Se você ficou feliz, por que não fez nada? — retomou o assunto, ele notou que ela estava levemente acanhada.
— Achei que tinha perdido a chance — ele explicou, direcionando um sorriso triste para ela. — É óbvio que eu deveria ter conversado com você, preferi adiar a parte dois da humilhação para outro dia.
— Nem fui tão grossa naquele dia — disse, semicerrando os olhos para ele.
— Verdade, se tornou irrelevante depois que você me desejou uma vida de publi de aposta — zombou, rindo com . — E eu até pensei em aparecer lá com a almofada de coração com nossa foto, umas rosas e pá, mas aí você feriu meu coração.
— Oi? — perguntou, segurando outra risada.
— Você foi na festa daquele ator que me odiava no BBB! — explicou, colocando a mão do lado esquerdo do peito, como se tivesse sido atingido. — Nós homens também temos sentimentos, ok?
— Ele me adorava!
— Me senti traído — brincou. — Não foi intencional, mas atingiu forte.
— Os boatos do nosso rompimento começaram naquela noite — chutou, lembrando dos tweets que leu no dia seguinte.
— E o pior é que espalharam a fofoca como se tivéssemos nos beijado e a amizade ficou estranha — acrescentou, passando a mão pelos cabelos. — Porra, quem me dera!
— A Olívia iria adorar ouvir isso — relembrou o status de relacionamento dele.
— Acho que ela não se importaria — explicou, aproximando-se da mulher para sussurrar. — Me trocou por um britânico, acredita?
— Sempre soube que você seria um péssimo namorado — provocou.
— É meio difícil ser um bom namorado quando você não esquece sua dupla de prova — ele respondeu, aproximando-se um pouco mais para circular um dos cachos do cabelo dela.
— Sonhou muito com aquela prova da Stone nesses últimos meses? — relembrou uma das provas do líder onde eles ficaram pendurados agarrados um no outro.
— Sonhei com muito mais.
quebrou a pequena distância entre eles ao descer os lábios para um ponto no pescoço de . O ator sorriu ao perceber os arrepios crescerem na pele dela. Antes que ele iniciasse qualquer outro movimento, a mulher puxou seu rosto para cima pelo cabelo e juntou as bocas de ambos. Por um momento, não sabia se estava aprofundando o contato entre os dois ou se preparando para nocauteá-lo — provavelmente, os dois. foi conduzida pelo local até suas costas colidirem com a parede enquanto uma de suas mãos acariciava a pele exposta pelos botões abertos da camisa azul que ele usava. não conseguiu evitar o sorrisinho no meio do beijo quando as mãos dele delinearam o corpo da mulher até alcançar o início da fenda na perna do vestido. suspirou ao sentir os dedos apertarem sua coxa antes que ela fosse erguida para o alto por ele.
estava pronto para descer o beijo para o pescoço dela quando os dois foram interrompidos pelo barulho característico da câmera do celular após fotografar.
quase atirou para o outro lado da sala, porém, antes que eles pudessem identificar o fotógrafo misterioso, ele havia sumido.
— Puta que pariu — xingou, colocando a mão na testa, já sentia a dor de cabeça chegando.
— Esquece o que eu disse — falou. — Vão ser mais de três e-mails de campanhas…
Dessa vez, ele não conseguiu fugir da almofada.
PR¹: Em Inglês, “Public Relations”, ou seja, Relações Públicas. É o nome da equipe que, normalmente, faz assessoria de imprensa, além de outras coisas.
Luísa Lima²: diretora responsável por séries como “Os Outros” e “Onde Está Meu Coração”.
Assistente de Platô³: O assistente de platô auxilia os restantes dos produtores nem um set de filmagem, principalmente o produtor de platô (também chamado de diretor de platô) e o produtor de set. Ela dá apoio a todas as atividades destes profissionais, para facilitar um pouco a sua rotina atarefada.
Aquariano nato⁴: funk cantado por Mc Saci que viralizou no Tik Tok.
