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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 09/03/2025

Londres, 2006. Victoria’s Secret Show


— Senhoras e senhores… McFLY! — o apresentador anunciou e o estômago de Dougie revirou. Aquela apresentação era uma das principais para que a banda decolasse. O desfile da Victoria’s Secret era repercutido mundialmente e os meninos esperavam, ansiosamente, que sua música também.
Harry estava posicionado no centro do palco devido à instalação da bateria, Dougie estava quase ao seu lado no piano, enquanto Danny e Tom estavam espalhados pela passarela. A contagem do baterista foi iniciada e, em segundos, Dougie começou a tocar o piano. Depois de todos se levantarem pelos arranjos iniciais, Tom começou a cantar.
Anne Boleyn she kept a tin, which all her hopes and dreams were in, she plans to run away with him forever… — o loiro cantou e a plateia gritou. — Leaves a note and starts to choke, can feel the lump that's in her throat it's raining and she leaves her coat in silence…
Dougie se levantou e pegou o baixo do tripé e foi para o meio da passarela. Quando a parte mais animada da música começou, as modelos começaram a aparecer. Particularmente, aquela era uma das músicas favoritas do baixista no novo álbum, a escolha de performá-la no desfile foi dele, inclusive.
Uma das modelos mexeu no cabelo de Dougie e ele interagiu com ela, fazendo-o rir. Logo depois, Danny e Tom também interagiram com a mulher. Na parte do baixista, o público se animou e os gritos começaram a se intensificar.
People marching to the drums, everybody's having fun to the sound of love... — Dougie começou a cantar enquanto Danny e Tom se animaram e começaram a desfilar junto das modelos. — Ugly is the world we’re on, if I’m right then prove me wrong I’m stunned to find a place we belong…
Dougie foi até a plataforma onde a bateria de Harry estava e os dois tocavam juntos animadamente a canção. “Transylvania”, apesar de parecer sombria, era uma música animada e Dougie a amava. Os dois guitarristas voltaram para o início do palco para que as modelos tivessem destaque, afinal, o dia era delas.
Dougie, o mais animado dos quatro, logo voltou ao centro da passarela para brincar com as modelos. O baixista pulava, fazia poses e atuava com as mulheres. O dia estava incrível para todos eles, mas a noite do garoto se iluminou ao ver a mulher mais linda daquela noite, Emilia Brown. Mesmo aquele momento sendo o que ele cantava, Dougie fez questão de acompanhá-la e apresentá-la para o público.
Racing, pacing in the dark, she's searching for a lonely heart… — O cantor e a modelo fizeram uma brincadeirinha de encostar um no outro e animar mais ainda o público. Dougie sorriu para ela e Emilia decidiu entrar na brincadeira. — She finds him but his heart has stopped, she breaks down…
Assim que o cantor cantou a próxima parte, ela interpretou a música. Dougie a levou de volta e, quando a música fez referência à rainha, ele fez uma reverência boba para Emilia.

[...]


A after party do desfile estava repleta de atores, cantores e estilistas do mundo inteiro. Os integrantes da banda estavam extasiados. Danny, Tom e Harry estavam encantados com aquele pessoal, enquanto Dougie parecia estar hipnotizado por uma pessoa em especial.
— Vai até ela, cara — Harry o encorajou. O baixista riu e foi até o bar onde Emilia estava.
— Whisky? É forte. — A risada rouca da modelo o entorpeceu.
— E você tem idade pra beber? — Ela o encarou.
— Tenho — ele disse, orgulhoso. Naquele ano, havia, finalmente, se tornado maior de idade. — Eu vou querer um também.
O barman rapidamente trouxe o pedido do músico e os dois beberam em silêncio.
— Você foi bem lá no palco.
— Bem? — a americana deu risada. — Eu fui, provavelmente, a melhor em palco.
— Você é modesta — o britânico sorriu.
— Realista, prefiro dizer. E também direta — ela lhe deu um sorrisinho. — Então, o que te traz aqui, Dougie Poynter?
— Então você sabe quem eu sou?
— É claro — ela deu risada. — Vocês tocam na rádio toda semana.
— Fico feliz — ele riu. — Trabalhamos muito para…
Dougie foi impedido de falar, pois a modelo se aproximou dele o suficiente para sussurrar em seu ouvido.
— Não quero saber, Dougie Poynter. Mas te espero mais tarde no quarto 712 do Royal Housegards.
Dougie nem mesmo teve tempo de respondê-la, já que Emilia rapidamente foi conversar com outras pessoas as quais ela achava mais interessantes.

[...]


Por volta da meia-noite, Emilia recebeu uma ligação da recepção, avisando-a que o baixista estava lá. A ansiedade de Poynter para chegar até o quarto fez com que ele se sentisse um idiota. Parecia um garoto de quinze anos que estava prestes a perder a virgindade.
— Poynter — ela lhe deu um sorrisinho.
— Brown.
A modelo o puxou para dentro do quarto e os dois se juntaram imediatamente. Emilia pouco se importava com o que ele queria falar, ela apenas queria seu corpo por cima do dela. Nada mais que isso.
Rapidamente, Dougie a puxou para seu colo e a mulher retirou sua blusa. O baixista, no entanto, não teve trabalho algum ao apenas desenlaçar o robe da modelo.
O corpo de Emilia era lindo, Dougie sabia e via com seus próprios olhos naquela noite. Ele a teria só para si. Os beijos que ele distribuía em seu pescoço a faziam gemer, requerendo por mais, enquanto ela o arranhava nas costas.
Em passos enrolados, Douglas foi até a cama e se pôs, finalmente, por cima. Aquela noite deveria ser considerada, conquanto, incrível para os dois. E era essa imagem que Dougie queria ter de Emilia. Mas ela mudaria.

[...]


Três meses depois de seu encontro com Emilia, o baixista recebeu uma mensagem da modelo. Dizia que estava em Londres e que queria encontrá-lo, se ele pudesse. O tom autoritário havia sumido, no entanto, Dougie ainda tinha intenções de repetir o que viveram no dia do desfile.
— Você está saindo cedo do ensaio por quê? — Fletch apareceu no encalço do baixista.
— Vou encontrar uma amiga — ele disse baixinho. — E está tudo bem para o show no final de semana.
— Sem gracinhas, Dougie — Fletch pediu. Era difícil mantê-los sem se meterem em problemas. Dougie principalmente.
O restaurante que Emilia havia escolhido, é claro, era de primeira classe. Dougie agradecia aos deuses que tinha condições de pagar por qualquer coisa que pedisse ali.
— Pensei que fosse pedir para que nos encontrássemos em seu hotel. — Ele apareceu, assustando a modelo.
Emilia estava verde. Parecia que estava prestes a vomitar.
— Está tudo bem? — o garoto inquiriu. — Quer que eu chame ajuda?
A modelo revirou os olhos e ele soube que tudo estava bem.
— Eu estou grávida — ela disse de uma vez, pegando o baixista de surpresa. — E eu vou tirar isso.
Emilia Brown estava grávida de Dougie Poynter. E ela iria tirar aquilo. Dougie, entendia, acima de tudo, que aquilo era uma decisão dela. No entanto, faria de tudo para que o destino da criança não fosse o aborto.
— Grávida? — Ele respirou fundo. Céus, como contaria à sua mãe e à sua irmã? Como contaria para Fletch e os meninos? — Emilia…
— Eu não posso, tá legal? — ela se defendeu. — Isso aumenta meu corpo cada vez mais! Meus seios incharam, minha bunda está flácida e eu tenho barriga.
— Emilia, você está gerando uma pessoa em você. É claro que o bebê…
— Não fale isso — ela o advertiu. — Eu não vou ter. Nunca quis ter um filho, minha carreira e meu corpo vêm em primeiro lugar.
Ela parecia sentir nojo. Dougie nunca tinha pensado em ser pai tão cedo, mas ele sempre quis. Queria ter uma casa repleta de crianças e uma família. Era claro que Emilia não era a mulher com quem ele construiria sua família.
— Emilia, por favor. Tenha essa criança — ele pediu. — Depois você pode sumir de nossas vidas. Eu pago todos os seus procedimentos estéticos, se preciso.
— Eu não quero que você me pague. Eu tenho dinheiro — a modelo resmungou. — Só quero tirar isso de mim.
— Por favor, Emilia — ele pediu. — Você pode sumir. Não vou revelar nada sobre você, digo que contratei uma barriga de aluguel, qualquer coisa.
A modelo o encarou em choque.
— Você tem dezoito anos — ela disse, assustada. — Como quer um filho?
— Não sei — ele disse. — Só peço que mantenha. Todos os custos podem ser meus, se você quiser. É só me direcionar as contas.
O celular da modelo apitou e ela parou de prestar atenção no que ele dizia.
— Eu tenho que ir, Douglas. — A modelo ajeitou sua bolsa e se levantou.
— Por favor, pense no assunto.

[...]


Dois dias depois, Dougie recebeu uma mensagem da modelo avisando-o que manteria o bebê. E também o avisou que lhe enviara, por correio, as contas dos médicos e o ultrassom.
Ainda em choque sobre a responsabilidade que havia escolhido ter, o baixista saiu do camarim, decidido a contar aos amigos da banda que seria pai. Ele, Douglas Poynter, que não sabia nem mesmo como trocar uma fralda, seria pai!
— Viu um fantasma, docinho? — Harry perguntou em um tom brincalhão.
— Caras… — Todos que estavam em preparação pararam para lhe dar a devida atenção. Até mesmo Fletch. — Eu vou ser pai.

[...]


Seis meses depois, quando Emilia já quase não conseguia andar de tão grande que sua barriga estava, de quão inchados estavam seus pés, ela estava morando com Dougie. O cantor exigiu que a modelo dividisse a casa com ele nos últimos meses de gravidez.
— Dougie… — ela o chamou ao sentir a primeira contração. — Eu acho, ah!
O baixista rapidamente ajeitou sua postura e ligou para a médica de Emilia. A doutora lhes avisou que, se o intervalo de tempo das contrações diminuísse, era para levá-la ao hospital. Aos poucos, as contrações iam diminuindo e o baixista as anotava em sua mão.
— Estamos indo para o hospital. Kara vai nascer — ele anunciou.
— Ela não vai se chamar Kara — a mulher resmungou.
— Ela vai, Emilia — Dougie disse indiferente. Por dentro, o garoto estava em surto. Sua filha nasceria em breve.
Todos da família — entende-se por sua mãe e Jazzie — e da banda estavam avisados. O músico rapidamente chegou à garagem do prédio e ajudou Emilia a se ajeitar no carro.
Em menos de quinze minutos, os dois adentraram o hospital. A modelo já estava em trabalho de parto e os levaram para o quarto. A obstetra de Emilia estava à espera dos dois quando entraram no quarto.
— Pronta? — dra. Clarke perguntou.
— Sim. Não vejo a hora de tirar isso de mim — a modelo suspirou.
A expressão da médica foi clara para Dougie. O baixista levantou as sobrancelhas e suspirou fundo.
— Você está nervoso, papai? — ela falou com ele.
— Mais que tudo no mundo. — Ele sentiu sua mão tremer. A doutora riu e, a partir daquele momento, a atenção foi dada à modelo e à Kara.
Depois de alguns empurrões, Dougie conseguiu ver a cabeça da criança e, aos poucos, sentiu seu corpo ficar mole. A cena não era das mais confortáveis para se ver, mas ele nem ligava. Tudo que queria era segurar Kara e sentir tudo que sua mãe dizia que ele sentiria.
O choro estridente da bebê cortou os urros da modelo e Dougie sentiu seu estômago girar. Sabia que aquele choro significava vida. E aquela criança seria sua vida, dali em diante.
— Papai… — a obstetra sorriu. — Sua princesinha quer lhe conhecer.
Dra. Clarke colocou Kara nos braços do pai e ele se sentou na poltrona do quarto. Dougie soltou a respiração que não sabia que prendia e suas lágrimas saíram. Sentia tudo que sua mãe havia dito. Sentia, mais que tudo, medo. Aquele ser humaninho com os gritos estridentes dependia dele mais que tudo.
Kara segurou o grande dedo do pai e estabeleceram, naquele momento, o elo entre os dois. A menininha com poucos fios loiros na cabeça parou de chorar, fazendo com que o baixista chorasse. Era o maior amor do mundo, ele sabia. Sabia também que seria difícil, mas ver aqueles dedinhos segurando sua mão fizeram tudo valer à pena.
— Bem-vinda a este mundo feio, querida — ele disse baixinho. — Seremos eu e você por toda eternidade.



era uma publicitária e fotógrafa, de 27 anos, que acabara de se mudar para o centro de Londres para um apartamento incrivelmente grande e que ainda cabia dentro do seu orçamento, após o dono praticamente colocá-lo para doação com o preço que estava pedindo pelo aluguel. Ela sabia que os apartamentos no centro da cidade eram sempre os mais caros, mas, por um milagre do destino, ela conseguira aquele por uma pechincha. Talvez não fosse considerado tão baixo quanto deveria ser para chamar de pechincha, mas, comparado aos outros daquele bairro, ele estava mesmo barato.
O dia da mudança havia finalmente chegado, e junto com toda a animação e o êxtase que corria nas veias de , também era possível ver o cansaço estampado em seu rosto. Ainda haviam muitas caixas para serem desfeitas no novo lar da mulher e, se não fosse pela ajuda de Joe, seu irmão mais velho, e de Brianna, sua melhor amiga, ela com certeza não saberia que horas acabaria com tudo aquilo.
— Esse apartamento é lindo, — Brianna, com toda a animação que só ela conseguia ter em pleno sábado de manhã, disse com um sorriso no rosto.
— Ele é, né? E eu amei ainda mais quando o dono me falou o valor do aluguel. Eu juro que, se não estivesse na frente de um estranho, eu teria chorado. Mas tenho certeza que meus olhos lacrimejaram na hora. Olhos traidores.
— Vocês podem parar de bater papo e me ajudarem aqui? — Joe carregava, ou ao menos tentava carregar, três caixas de papelão, uma sobre a outra.
— É por isso que eu te amo, maninho. — largou a caixa que estava segurando no chão da sala e correu até o irmão.
— Acho que essas foram as últimas. Ainda bem que os móveis já chegaram, agora é só colocar tudo no lugar. — Brianna se jogou no sofá de dois lugares enquanto via Joe se jogar na poltrona e no outro sofá maior. Eles estavam exaustos.
— Eu estou tão feliz de finalmente ter meu lugar, mas só de pensar que vou passar meu final de semana todo arrumando isso aqui, eu tenho vontade de me jogar na cama e fingir demência. — fez uma careta triste. O cansaço começava a dominar seu corpo, mas o lado virginiano — o qual as pessoas falavam que continha em seu mapa astral, mesmo ela não entendendo nada sobre o assunto — falava mais alto, impedindo-a de viver no meio da bagunça e sujeira que o apartamento ainda se encontrava.
— Você sabe que vamos passar o dia aqui te ajudando, para com esse drama. — Foi a vez de Brianna fazer uma careta, dessa vez de repreensão, para a amiga.
— Não é justo, Luke precisa da atenção de vocês.
— Ele vai sobreviver algumas horas sem a nossa presença. Você mima mais o nosso filho do que nós. Pare com isso, por favor. — A voz de Joe se fez presente no ambiente, em um tom sério. Mas em seguida deu de ombros, encostando o corpo na poltrona e fechando os olhos para descansar por alguns minutos.
— Eu não vou parar de mimar o único sobrinho que vocês me deram. Vamos arrumar isso logo, eu quero muito dormir. — Deu um pulo da poltrona, partindo para pegar um balde, um pano limpo, desinfetante e a vassoura. Aquele chão precisava, urgentemente, ser limpo.
O apartamento era grande, mais do que estava acostumada, mas conseguiram dividir todas as tarefas. Ou seja, ficou com os dois quartos; Brianna ficou com os dois banheiros da casa, afinal, ninguém limpava banheiros melhor que Brianna e ninguém sabia como ela conseguia fazer aquilo tão bem; Joe ficou com a sala e a cozinha, aproveitando para abastecer os armários e geladeira da irmã. Como um bom irmão mais velho, ele precisava se certificar de que, pelo menos, a alimentação do final de semana estivesse garantida e que ela não fosse a base de fast food.
— Se eu voltar aqui e esse banheiro não estiver brilhando, eu mesma enfio sua cabeça na privada. Não duvide de mim, .
— Você acha que eu sou doida de duvidar de você? Te conheço há exatos... — começou a contar nos dedos, mas desistiu dando de ombros — muitos anos, não importa quantos. Sério, muito obrigada por toda ajuda. Eu não sei o que seria da minha vida sem vocês.
— Você até sabe, mas não vai falar, nunca se sabe se vai precisar se mudar de novo. — Joe já estava abraçado com Brianna enquanto os dois dividiam o sofá maior após a faxina.
— Às vezes eu te odeio por me conhecer tão bem. — olhou, satisfeita, pelo cômodo, seu irmão tinha se esforçado para deixar tudo o mais limpo e organizado possível. Viver em uma casa com criança o tinha mudado completamente, tornando-o mais organizado, estava feliz por aquilo.
— Podemos pedir uma pizza, o que acha? Já coloquei a cerveja no congelador — Joe deu a sugestão, que foi aceita com frenéticos acenos de cabeça pelas duas mulheres. Não era à toa que Brianna estava noiva de Joe, eles eram iguais, sem tirar nem pôr. Como melhor amiga de , ela não podia querer uma cunhada melhor que aquela.
— Eu vou tomar banho, mas a casa é de vocês também. Fiquem à vontade, mas não muito, não quero que o Luke dois seja concebido no meu sofá — gritou do corredor, já indo para o seu quarto. Antes que ela pudesse ver, Joe deu um sorriso ladino para Brianna, mas ela fez questão de ignorar. Ela conhecia aquele sorriso.
— Acho que esse é um ótimo momento para fazermos outra miniatura nossa.
— Sem chance, você sabe que daqui não sai mais nada. Não vem com esse sorriso para o meu lado, Joe .
— Se eu fosse você, não teria tanta certeza assim. — Joe começou a distribuir beijos pelo pescoço e nuca da noiva, mas recebeu um beliscão no braço. Ela estava falando sério, muito sério. — Você é muito ruim, credo.
— Não podemos fazer isso aqui, mas quando chegarmos em casa… — Tomou um gole da cerveja do noivo, sem esperar resposta alguma dele. — Liga pra pizzaria, você deu a ideia.
Brianna ligou a televisão, deixando em um canal de música, para se distrair até voltar do seu banho. Sem contestar, Joe pegou o telefone e pediu uma pizza grande de mussarela e pepperoni, era o suficiente para deixá-las felizes.
Uma hora mais tarde, todos estavam reunidos na sala novamente, em volta da mesa de centro e com suas respectivas fatias de pizza em mãos. Era até nostálgico aquela cena, lembrando que e Brianna viveram assim durante quase toda a graduação. Pouco antes do último ano da faculdade de publicidade, Brianna conheceu Joe, após ele ter voltado de uma viagem de Nova Iorque, e foi quando eles resolveram que não ficariam mais longe um do outro. Então, o que antes costumava ser feito apenas por e Brianna, passou a ser feito por , Brianna e Joe.
— Não é justo a gente ficar relembrando esses namoros meia boca da faculdade quando você conheceu o cara mais incrível do mundo — disse, indignada, colocando mais um pedaço de pizza na boca.
— A culpa não é minha se você não teve essa sorte.
— Eu posso garantir que ela não teve mesmo. — Joe começou a contar, a irmã até já imaginava qual história ele contaria. Ele sempre contava a mesma. — Lembra daquela vez que você não quis me dizer onde estava e, quando eu cheguei, você pulou pra dentro do carro e me fez sair voando do motel? Parecia que estávamos fugindo da polícia, acho que foi a situação mais constrangedora.
— Com certeza foi a situação mais constrangedora da minha vida. O cara nem tinha cabelo e escondia a careca com aquele chapéu ridículo. Ah, não estávamos fugindo da polícia, estávamos fugindo de um maluco com diarreia e com meia dúzia de fios de cabelo na cabeça. É pior que a polícia.
— Era uma boina — disse Brianna entre risos.
— Era ridículo, de qualquer forma. E ele ainda teve dor de barriga, eu jurei nunca mais sair com ninguém da engenharia.
— De qual delas?
— Todas, eles não prestam.
No fim da noite, estava rindo da própria desgraça vivida na época da graduação. Tinha sido péssima em alguns momentos, principalmente nos momentos em que ela mesma se colocava naquelas situações constrangedoras. Porém, eram ótimas histórias para serem contadas em momentos como aquele que estava vivendo naquela hora. Afinal, tudo não passava de lembranças e ela gostava, de certa forma, de recordar aquela época.
— Eu adoraria ficar mais um pouco e relembrar todos os seus piores encontros da faculdade, mas eu realmente estou cansado — Joe foi o primeiro a falar.
— É, eu também estou. E morrendo de saudade do meu filho, ele é uma peste, mas é meu filho — completou Brianna, rindo.
— Eu adoro esse amor que vocês têm pelo Luke, é um pouco exótico, eu diria.
— É realista, quando você tiver filhos, vai saber de o que estamos falando. — O casal já estava parado à porta do apartamento. se despediu e agradeceu mais uma vez por toda a ajuda e pela companhia na janta.
— Acredito em vocês. Obrigada de novo, amo vocês. — Ela deu um abraço apertado e um beijo no rosto de cada um, esperando o casal entrar no elevador para fechar a porta. Finalmente estava sozinha e poderia ter o descanso merecido. Colocou a caixa de pizza fora, lavou os pratos e copos utilizados no jantar e se jogou na cama.
Silêncio, era tudo o que queria.
O sono já estava chegando e com ele o cansaço dominava o corpo de , ela já se encontrava devidamente esparramada no meio de sua cama e com os olhos fechados, deixando o sono se aconchegar do jeito que ela queria. Mas os primeiros acordes de “After Midnight” do Blink-182 puderam ser ouvidos.
Nãooooo resmungou. Tapou a cabeça com o travesseiro, a fim de abafar o som, mas nada adiantou. O som do baixo sendo tocado pôde ser ouvido ainda mais alto do que da primeira vez. — Eu não acredito que isso está acontecendo. Eu preciso dormir e eu vou.
calçou o par de chinelos e saiu apressada do apartamento, pronta para uma boa briga, caso fosse necessário. O som do instrumento vinha do apartamento de cima, bem em cima da sua cabeça. Eram quatro apartamentos por andar, então não era tão difícil descobrir qual porta precisaria bater. Não esperou para bater na primeira porta que viu, a qual dava bem em cima da sua. Mas, para a sua surpresa, quem abriu a porta foi uma menina jovem, jovem demais para o que ela esperava, com as pontas dos cabelos pintadas de roxo e um olhar entediante na direção de .
— Eu poderia falar com o responsável? — Sua voz firme não intimidou a garota, apenas lhe deu um prazer ainda maior em saber que estava incomodando e, com isso, abriu o seu melhor sorriso.



Dougie estava exausto. Tinha que lidar com tantas coisas ao mesmo tempo que apenas sentia que seu corpo desintegraria a qualquer momento. Os ensaios e composições estavam quase prontos e o modelo fora chamado para participar de uma campanha publicitária sobre seu livro.
— Cheguei — o homem anunciou e a menina rapidamente aumentou o som do baixo. — São duas horas da manhã, Kara. Desliga isso. E vá dormir.
A menina parou instantaneamente e encarou Dougie.
— A vizinha nova veio falar comigo — ela disse. — E foi estúpida.
— O que ela disse?
— Que eu era menina e não podia tocar baixo — ela mentiu. Dougie ficou furioso.
— Ela não pode falar com você desse jeito, querida — ele reprovou a atitude da vizinha. Kara era apenas uma criança, não havia motivos para que a mulher fosse uma idiota com ela. — Amanhã mesmo irei falar com ela.
— Obrigada, Dougie — ela sorriu.
— Não é Dougie, é pai — ele corrigiu a pré-adolescente.
— Tanto faz!
Dougie suspirou fundo. Sua relação com Kara só parecia piorar e ele não sabia como mudar aquilo. Havia tentado terapia, saídas, mais tempo com ela e aquilo só parecia afastá-la mais ainda. O baixista, contudo, entendia que a pré-adolescência era uma das piores fases da relação com os pais, mas ainda assim queria resolver aquela situação.
Quando Kara nascera, o músico jurara a si mesmo que faria de tudo para que sua vida fosse a melhor possível, de modo que ela sempre o visse como seu melhor amigo.
Para ele, sua filha sempre seria sua melhor companhia. Quando Kara era mais nova, costumavam ficar juntos e até mesmo passavam mais tempo com as outras famílias da banda. Apesar de ser a mais velha, Kara costumava estar com os Fletchers e os Judd.
Dougie deitou em sua cama, ainda pensativo. No dia seguinte, teria que modelar e reclamar com sua vizinha, portanto, deixou o cansaço falar mais alto.

[...]


A manhã começou atarefada para os Poynter. Kara tinha uma prova importante de química e o músico tinha que estar na agência em pouco tempo. E ele ainda havia prometido à filha que falaria com a vizinha.
— Vamos nos atrasar — ele afirmou. — Termine de se arrumar e me encontre na garagem, falarei com a vizinha.
Kara afirmou com a cabeça e foi colocar seu uniforme enquanto seu pai comprava sua briga. Todos naquele prédio conheciam os Poynter, seja pela insistência de Kara pelo baixo ou por Dougie estar na mídia londrina novamente. O terceiro andar do edifício chegou e Douglas foi até a porta que ficava debaixo de seu apartamento e, no momento em que ia bater, a porta se abriu. Uma mulher muito bonita apareceu. É claro, bonitas e mesquinhas, Dougie pensou.
— Como posso ajudar? — ela perguntou.
— Talvez sendo educada da próxima vez — ele disse. A mulher o encarou, confusa.
— Quem é você? — ela perguntou.
— Sou o pai da menina que você destratou ontem — ele vociferou.
— Eu destratei?
— Sim — ele afirmou. — Não se diz para uma garota de catorze anos que baixo é pra menino. Que mundo você vive?
— O mundo que a sua filha é uma grande mentirosa, senhor… — ela riu.
O rosto do cantor ardia de raiva.
— Como? Você agora está dizendo que Kara é uma mentirosa?
— Para quem tem um nome bonito, aparentemente ela tem uma personalidade bem feia. — soltou uma risada. Ela estava furiosa. Como aquele homem tinha coragem de acusá-la de algo que ela não tinha feito? — Primeiramente, Dougie Poynter, eu jamais falaria com uma criança assim. Eu apenas pedi para que ela parasse de tocar.
— Não foi isso que ela me disse — Dougie respondeu.
— Você deveria saber que crianças mentem — ela riu. — E a sua, aparentemente, mais que o normal. Talvez se, por volta da meia-noite, o senhor estivesse em casa… Ela soubesse.
E então tocou no ponto fraco do músico. Dougie tinha muitas inseguranças acerca da paternidade e tinha muito, mas muito medo de falhar e se tornar um pai que não é exemplo para seu filho. Não sabia sobre coisas de meninas, mas aprendera o máximo que podia. Deixava Kara pintar suas unhas, aprendera a fazer tranças e sabe-se lá o que faria quando a menina começasse a menstruar. Ele sempre se esforçava por ela. Aprendera, inclusive, a tocar as músicas infantis que ela gostava no baixo para que pudessem ficar juntos fazendo coisas que ambos gostavam.
— Eu preciso trabalhar — ela disse, passando por ele. — Tenha um bom dia, Dougie Poynter.
O cantor ainda ficou um tempo parado, pensando que havia falhado como pai. Talvez estivesse certa, afinal. Ele deveria ser mais presente. Pouco tempo depois, seu telefone tocou e o visor indicou que era Kara. Dougie se dirigiu até a garagem e Kara aparentava estar ansiosa para saber o que havia acontecido.
— O que houve? — ela perguntou.
— Você está de castigo, é isso o que houve — Dougie disse. — Eu pensei que não chegaríamos até lá, mas você me mostrou que preciso tomar medidas drásticas.
— Mas Dougie, eu… — ela tentou se defender, mas foi interrompida.
— É pai! O que custa me chamar assim? — o baixista vociferou.
Kara, durante o caminho até o colégio, dava inúmeros motivos por ter mentido para seu pai e isso o deixou ainda mais irritado. Dougie estava magoado pelo o que a vizinha — que não o conhecia — havia falado. Ele era um pai ruim. Entretanto, sabia que aquela personalidade que a menina cada vez mostrava mais era toda dele. Talvez, quando criança, Emilia fosse mais calma. O músico havia estacionado na frente da escola.
— Tenha um bom dia, pai — a menina disse, irritada.
— Às vezes, eu queria que você fosse mais como sua mãe — ele deixou escapar. — Boa prova, Kara.
— Nunca mais peça que eu me pareça com ela — Kara disse e seu pai viu a mágoa se formar em seus olhos.

[...]


estava extremamente irritada naquela manhã. Depois de reclamar com sua vizinha sobre o som do baixo, a menina o tocou ainda mais alto, então seu sono foi horroroso. Mais cedo, Dougie Poynter a acusara de coisas que não havia feito — e jamais faria.
— Que bicho te mordeu, querida? — Anne, uma das figurinistas a perguntou. — Você estava tão animada esses dias, ia se mudar… Ah, meu Deus! O senhorio deu pra trás?
— Não — ela respirou fundo. — Meu segundo dia no prédio e já vieram arranjar problemas comigo.
— O que houve? É uma velha reclamona?
— Pior — ela resmungou. — Dougie Poynter é meu vizinho e é um…
— Babaca, pai ausente… O que mais? — Dougie entrou na sala e completou a fala de , que arregalou os olhos ao vê-lo. Ele seria o artista que ela fotografaria para a campanha ambiental.
A boca de não sabia se se mantinha aberta ou fechada, visto que ela repetiu o movimento algumas vezes. Mas logo se manteve fechada, a fim de evitar dar uma resposta ainda mais desaforada do que já havia dado pela manhã. Ela só tinha vontade de dar umas boas palmadas em Kara, talvez assim a menina deixasse de ser mentirosa.
— Eu não falei nada disso. Talvez, eu tivesse dito que você não passa de um arrogante prepotente, se tivesse dado tempo. — A mulher revirou os olhos, sem esconder qualquer resquício de indignação.
prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto, deixando alguns fios de cabelo soltos pelo seu rosto. O cabelo castanho, em um tom escuro, realçava ainda mais os seus olhos verdes, quase deixando Dougie hipnotizado pela beleza da mulher. Agora, de perto, ele pôde reparar no quanto a mulher estava arrumada e... bonita? Sim, bonita demais para o trabalho.
. — Ela estendeu a mão para Dougie. — Eu costumo me apresentar antes de as pessoas baterem na minha porta me chamando de mal-educada.
— Dougie Poynter. — Apertou a mão da mulher à sua frente, cumprimentando-a por fim. Ela tinha razão, além de ter esquecido as boas maneiras que recebera de sua mãe, ele também tinha sido mal-educado e acusado-a de algo que não havia feito. Péssimo começo de dia.



— Você não vai mesmo mudar essa carranca? — Brianna resmungou pela milésima vez.
— Não, eu só queria dormir e nem isso eu consegui — choramingou, derrotada.
, você tem 27 anos. Não me faça, a essa altura do campeonato, ter que te dar umas boas palmadas. — O pouco de paciência que restava em Brianna, já estava se esvaindo. suspirou alto. Apertou mais algumas vezes o botão do elevador, como se, assim, ele fosse chegar mais rápido ao térreo.
— Como foi o trabalho? — Foi a vez de mudar de assunto.
— Normal. Infelizmente, não tem nenhum Dougie Poynter lá na agência. Mas, quando não aguentar mais ver a carinha dele, pode mandá-lo pra lá.
— Deixa o Joe escutar isso. — Brianna mostrou a língua como resposta. Amadurecimento era algo quase inexistente quando as duas estavam juntas.
— Boa noite, . — Oh, não. conhecia aquela voz. Se virou lentamente, torcendo para estar imaginando coisas e ouvindo vozes do além. Mas estava enganada. Era ele mesmo, o seu querido e amado vizinho do andar de cima e sua aprendiz do titio Lúcifer ao lado.
— Boa noite, Poynter. — ignorou totalmente a figura da adolescente ao lado do pai, o primeiro contato não tinha sido dos melhores e, sinceramente, não achava que ele melhoraria com o tempo. Quando as portas prateadas finalmente se abriram, pulou para dentro do cubículo metálico, agarrando o braço da amiga para que ela entrasse de uma vez.
— Como foi na prova? — Dougie disse para Kara, mas a garota apenas deu de ombros.
— Química não é o meu forte. Achei que você soubesse, papai.
e Brianna tentavam não prestar atenção na pequena conversa entre pai e filha, mas o clima começava a ficar tenso dentro do pequeno elevador.
— Você não pode tirar mais um D ou vai repetir de novo. — O elevador parou no terceiro andar, as duas mulheres se entreolharam.
— Não me importo — a menina deu de ombros.
— Você deveria — ele resmungou. — Vou procurar um professor particular de novo.
— O irmão da é professor de química — Brianna disse, apressada. — Talvez ele possa ajudar.
quase gritou de susto quando ouviu sua cunhada falar aquilo. Kara parecia não ligar para os três adultos ali. Dougie encarou e lhe deu um sorrisinho sarcástico.
não vai se incomodar? — O músico levantou suas sobrancelhas.
— Não tenho que me incomodar com nada. É o trabalho do meu irmão, afinal. — A mulher se virou completamente para o cantor. — Boa noite, Dougie e Kara.
A publicitária saiu do elevador e puxou Brianna consigo. Provavelmente levaria um grande sermão de sua melhor amiga. No entanto, estava cansada pelo dia que teve e por sua noite mal dormida.
— Você foi estúpida com ele sem razão — Brianna disse.
— Ele me acusou de uma coisa que não fiz. E você sabe que odeio isso.
— Você age como uma criança, — Brianna riu. — Mas por que me chamou aqui?
— Porque ontem eu não consegui dormir por conta do som insuportável do baixo, e hoje eu vou fazer uma noite de karaokê — disse e deu um sorrisinho.
— Você vai devolver na mesma moeda? Ela é só uma criança.
— Pode apostar, Brianna — ela sorriu.

[...]


Assim que Dougie saiu do banho, a música alta invadiu seus ouvidos. Ele sabia de onde vinha, é claro. Entretanto, decidiu ignorar. Dancing In The Dark do Bruce Springsteen foi a primeira música que ele reconheceu.
Durante quase meia hora, ouvia músicas que eram agradáveis aos ouvidos de Dougie. Kara não estava feliz com a implicância da publicitária e seu pai achou graça nisso.
— Você pode pedir pra ela parar? — A menina entrou na sala de estar. — Eu estou tentando estudar!
— Você? — Dougie deu risada. — Estudar?
— É um trabalho de artes — sua filha disse. — Preciso me concentrar.
Seu pai se surpreendeu com a resposta da filha. Momentos nos quais Kara estudava eram raros, ele deveria aproveitar aquela brecha. Rapidamente, Dougie foi até o andar debaixo, pensou que, pelo pouco que mostrara, ela negaria de primeira. O cantor respirou fundo e bateu. O som alto e os gritos das duas mulheres cantando Wannabe das Spice Girls incomodava um pouco, ainda mais pela desafinação das duas. Bateu mais uma vez, pois sabia que não havia sido ouvido. Mais uma. Na quarta, decidiu tocar a campainha também.
O barulho incessante fez Brianna abrir a porta às pressas, encontrando um Dougie Poynter emburrado. A mulher, rapidamente, pegou sua bolsa que estava na bancada e saiu do apartamento.
— Boa sorte — ela deu dois tapinhas no ombro do músico.
So, here's a story from A to Z, you wanna get with me, you gotta listen carefully we got Em in the place who likes it in your face, you got G like...
continuou ignorando o homem, até que ele se irritou e entrou no apartamento. A publicitária o encarou com uma expressão nervosa.
— Sai da minha casa! — ela vociferou.
— Diminui o som, por favor? — Dougie pediu.
— Não.

— Já mandei você sair — ela apontou para a porta.
— Por favor, . É a primeira vez que Kara estuda por vontade própria — ele contou a verdade. — Eu juro que ela nunca mais vai atrapalhar seu sono, só não atrapalha esse momento único.
A fotógrafa o encarou por um instante. Dougie tinha a expressão cansada, como se realmente a estivesse pedindo de coração. afrouxou sua postura defensiva e franziu o nariz.
— Só porque já está tarde — ela disse e Dougie deu um sorriso fraco. — Não venha com esse sorriso pra cima de mim, Dougie. Não fiz por você.
— Obrigado, — ele disse baixinho.
— Não precisa agradecer — a mulher deu de ombros. — Não fiz por você.
— Agradeço pela Kara.
— Nem por ela — ela disse baixinho.
Quando Dougie adentrou sua casa sem permissão, estava pronta para degolá-lo. Mas se lembrava de quando era uma adolescente rebelde e fazia sua mãe puxar os cabelos de estresse e preocupação. Apesar de ter sido uma adulta calma, aprontava de tudo. Joe era quem sempre a ajudava a mascarar tudo. Sentia falta da rebeldia, na verdade. Quer dizer, ela já estava beirando aos trinta, não tinha como ser rebelde. Mas seu lado adolescente deveria compreender Kara. Ela era uma das suas.
— A propósito… — ele deu um sorrisinho. — Você é uma ótima rapper.
— É claro que sou — deu risada.
— Eu não sou um pai ruim, .
— Eu acho que sei. — Ela fez uma careta.
Dougie se despediu e voltou ao quarto andar. Quando abriu a porta, encontrou sua filha sentada na mesa com o livro de matemática aberto. Sua cara de desespero dizia muito sobre sua relação com a matéria. O músico deu uma risadinha.
— Você precisa de ajuda? — ele ofereceu, mesmo tendo quase a mesma dificuldade que a menina.
— Eu consigo fazer isso sozinha — a menina o respondeu e ele a encarou.
— Certeza? — ele questionou e ela assentiu. — Tudo bem. Boa noite, Kara.
— Boa noite, pai — a menina soltou naturalmente.
Kara chamá-lo assim não era comum há um bom tempo. Ele poderia soltar fogos naquele momento. Dougie se abaixou e deu um beijinho na cabeça da menina, como fazia quando ela era mais nova. E, pela primeira vez em muito tempo, o cantor se deitou em sua cama sem uma preocupação diária com sua filha.



— Então, você disse que seu irmão é professor de química — Dougie começou a falar, caminhando ao lado de pela agência.
— Eu não, Brianna disse — ela interrompeu, mas voltou a se calar, esperando que ele terminasse.
— Você não se importa mesmo que eu peça ajuda dele para a Kara? — Dougie fez questão de parar na frente de , fazendo com que a mulher trombasse nele.
— Já disse que não, é o trabalho do meu irmão e não meu.
— Sabe, você reclamou da Kara, mas é tão teimosa quanto ela. — Ele deu um sorrisinho, irritando ainda mais a mulher. bufou alto e cruzou os braços. — Já que você não se importa, pode me passar o contato do seu irmão?
— Assim como Kara, você é bem irritante, que ironia. — Ela sorriu quando viu Dougie formar uma carranca. — Me dá logo seu celular.
Dougie esticou o aparelho na direção da mulher, rapidamente ela anotou o número de Joe no celular do músico e pegou o seu próprio logo em seguida, enviando uma mensagem para o irmão.
— Ei, eu vi isso. O que você mandou pra ele? — voltou a caminhar, sem esperar por Dougie.
— Eu só o avisei que um certo carinha metido a rockstar vai entrar em contato com ele, pedindo ajuda para a filha, a qual a meliante não me deixou dormir a noite toda no meu primeiro dia de casa nova. Esqueci de alguma coisa? Acho que não. — Ela virou para ele esbanjando todos os dentes incrivelmente brancos na boca.
— Eu desisto, vocês vão me enlouquecer! — Ele ergueu as mãos para cima, como se pedisse alguma ajuda divina.
— Aprenda a domar seu dragãozinho e todos saímos vivos dessa — respondeu, já de costas para Poynter.
— É muito fácil pra você sair julgando os outros, .
Dougie desistiu de manter um diálogo que fosse com . Aproveitando que o ensaio já tinha acabado, ele resolveu pegar suas coisas e sair do local. Ele sabia que Kara não era e, talvez, nunca fosse a pessoa mais fácil de lidar. Mas quando ouvia as pessoas a julgando não era nada agradável de se ver e ouvir.

[...]

Poynter tinha tido um dia cheio, e depois de sua última entrevista no período da tarde, a única coisa que ele queria era se jogar na sua cama. Mas, quando saiu do elevador, encontrou Harry com Lola e Kit um em cada lado de seu corpo; foi impossível controlar o sorriso em seu rosto, por mais que estivesse cansado, Dougie amava aquelas crianças, elas lembravam o tempo que Kara era daquele tamanho.
— Tio Dougie! — As duas crianças saíram correndo em sua direção, animados. Dougie teve que se equilibrar, já que estava com a sacola da janta que comprara para ele e Kara, em mãos.
— Calma aí, galerinha, tem tio Dougie pra todo mundo. — Harry pegou Kit do colo do amigo e abriu a porta do apartamento.
— Kara? Harry está aqui com seus primos — Dougie gritou, assim que entrou em casa, mas a menina não respondeu. — Ei, mate, espera um pouquinho.
— Deixe que eu chamo, aproveite os seus sobrinhos. — Harry correu até o corredor, onde ficava o quarto de Kara, ele imaginava que ela devia estar aprontando alguma coisa, por não ter saído do quarto ainda.
— Kara, é o tio Harry, tá tudo bem aí dentro? — ele disse no lado de fora, depois de ter dado duas batidinhas na porta.
— Depende, você está sozinho ou meu pai está atrás de você? — A voz da menina saiu abafada.
— Estou sozinho, juro. — Ele ouviu o clique da porta sendo destrancada e entrou no cômodo quando a porta se abriu.
Harry sabia que Kara era a cópia do pai, quando entrou em seu quarto ele teve certeza. Os pôsteres de bandas na parede, a bagunça do quarto e o estilo meio punk eram totalmente Dougie, não tinha dúvida sobre isso. Até mesmo a timidez da menina era uma característica herdada do pai, mas quando olhava para Kara, a aparência física era igual a de Emilia.
— O que você está aprontando? — Harry perguntou, risonho.
— Por favor, não me mate, tio Harry. — Ele riu ainda mais, mas Kara não saiu do banheiro.
— Eu não vou, me fale e eu invento uma desculpa para o seu pai.
Harry era o típico tio protetor, ele sabia que Dougie era duro com a menina e tentava sempre amenizar as coisas. Afinal, ele mesmo já tinha sido adolescente e fazia coisas até piores que a de Kara.
— Talvez, eu tenha feito uma coisinha — ela disse baixinho, saindo do banheiro em seguida. Quando Kara saiu do banheiro, Harry demorou a perceber o que ela realmente tinha feito de tão errado assim, mas respirou aliviado ao perceber que ela tinha apenas cortado o cabelo e feito uma franja. Agora as mechas roxas que ela tinha quase não apareciam mais, e mesmo assim tinha ficado realmente bom.
— Você cortou sozinha ou foi num profissional? — Harry analisou ainda mais, caramba, estava realmente bom.
— Eu cortei sozinha. — Ela deu um sorriso amarelo.
— Ok, então temos um talento aqui. — Ele sorriu, e Kara respirou, aliviada. — Acredite, nem quando o seu tio Tom corta o cabelo com um profissional fica tão bom assim, e a culpa nem é da pessoa.
Ela riu, já tinha visto alguns desastres capilares provocados por Tom e a visão não era muito agradável.
— Qualquer coisa que eu o seu pai disser, saiba que estou pronto para defendê-la. — Harry abraçou-a pelos ombros, puxando a menina para fora do quarto.
Quando Harry e Kara entraram na cozinha, Dougie ainda não tinha visto a mudança no visual da filha, já que ele estava de costas para os dois. Porém, quando Poynter virou e encarou Kara, a reação não foi das melhores, o que assustou até mesmo Harry.
— Kara, o que você fez? — Ele olhava boquiaberto para a menina.
Para a surpresa de Dougie, a filha ficou ainda mais parecida com Emilia. Parecia até mesmo que ele estava vendo uma versão mais nova da mulher. Emilia usava o cabelo no mesmo estilo de Kara na época que se conheceram e aquilo, com certeza, desencadeou algumas lembranças que Poynter gostaria de esquecer. Entretanto, para Kara, aquilo foi como se o pai tivesse odiado e o medo começou a dominar o corpo da menina, apenas mais uma de suas inseguranças aparecendo mais uma vez. Em um ato de impulso, sair correndo apartamento afora foi a melhor saída que ela encontrou, não aguentaria mais uma reação negativa do pai, não naquela noite.
O elevador do prédio estava em manutenção, então se viu obrigada a ir de escadas. Quando estava chegando ao primeiro andar, a publicitária foi empurrada para sair do caminho. Fazendo algum esforço, recolheu suas bolsas do chão e desceu o lance de escada e encontrou Kara encolhida no canto. De primeira, pensou em brigar com a menina mais uma vez, mas seus olhos vermelhos diziam que algo de errado havia acontecido.
— Tudo bem? — ela perguntou baixinho.
— Não. — Kara soluçou. — Vai embora.
— Kara, aconteceu alguma coisa na escola?
— Meu pai não gostou do meu novo corte de cabelo. — Ela chorou mais ainda.
Enquanto acariciava os cabelos da menina, observava os traços dela. Parecia alguém que já tinha trabalhado, mas não lembrava quem, e sabia que não era seu pai.
— Olhe pra mim, minha linda. — ajeitou o cabelo de Kara e secou suas lágrimas. — Você é linda, tudo bem? Não precisa nem da aprovação do seu pai.
— Você acha?
— Acho. — sorriu. — Eu já desconfiava que Dougie Poynter era meio idiota, mas agora ele me provou que ele é idiota. Você ficou ótima.
— Obrigada, . — Kara fungou.
As duas foram impedidas de se abraçar pelo barulho de criancinhas que vieram até as duas. Avistou Poynter e um homem moreno, que reconheceu ser o baterista da banda da qual ele participava. As crianças abraçaram Kara e se levantou.
— Como você tem coragem de dizer a ela que não está bonita? — a publicitária o enfrentou. — Kara está linda.
— Eu não disse que ela estava feia — Dougie disse, um pouco surpreso com o tom dela. — Eu só me assustei porque...
Sem nem mesmo continuar, o baixista se abaixou e abraçou a menina. encarava a cena ainda irritada, como se Poynter não estivesse fazendo mais que sua obrigação. Harry a puxou para um canto mais separado.
— Ela está a cara da mãe a cada dia... — ele sussurrou. — Mas, agora, com essa franja, ela está uma cópia dela.
Quando o baterista lhe disse isso, lembrou o nome da mulher a qual Kara se parecia. Emilia.
— Emilia alguma coisa. — Ela engoliu em seco. — A modelo? Ela é a mãe da Kara? — Harry balançou a cabeça concordando, fazendo ficar ainda mais chocada.
— Mas o que aconteceu? — Ela acabou soltando sem perceber. — Não, esquece, isso não é da minha conta. Só diga pro seu amigo parar de ser um idiota, ok?
deu as costas para todos, entrando no elevador e seguindo para o seu apartamento, ao contrário dos Poynters, ela estava chegando em casa naquela hora, enquanto eles já deviam estar descansando (ou não) há algumas horas. Porém, assim que adentrou o seu lar, com o pacote de compras em mãos, a primeira coisa que fez após largá-lo em cima da mesa foi pegar o telefone e ligar para Brianna. Alguns toques depois, a amiga atendeu.
— Chora, bebê — Brianna disse, pôde ouvir os resmungos de Luke ao fundo, e ela sentiu ainda mais saudade do sobrinho.
— Você lembra daquela modelo Emilia alguma coisa? Ela fez um ensaio na sua agência e foi mega grossa com todo mundo, e no fim eu acabei editando as fotos dela. — mordeu o lábio ao comentar, não sabia exatamente como contar, mas precisava contar aquilo.
— Infelizmente lembro sim, o que tem ela? Emilia Brown. Não me diga que você vai ser azarada de ter que trabalhar com ela e o Poynter ao mesmo tempo. — Brianna riu, mas a não, então ela voltou a ficar séria.
— Não. — suspirou. — Emilia é mãe de Kara Poynter.
— O QUÊ?



— Então, Emilia é mãe da Kara e a desgraçada sumiu no mundo? — Brianna olhou, incrédula, para , mas a morena apenas deu de ombros.
— Olha, pelo o que eu entendi, isso é um assunto proibido no apartamento de cima. E, pelo amor à sua vida, Brinna Hawkins, você trate de controlar essa boca de sandália — praticamente suplicou a amiga que não contasse a ninguém aquilo, ela mesma não sabia se poderia tocar no assunto com o próprio assunto, ou seja, Dougie Poynter.
— Ok, mas espera aí, até ontem você odiava a Kara e agora está cheia de amores com a garota. Amiga, você mesmo disse que ela é uma aprendiz do tio Lu. — revirou os olhos, enquanto separava um pouco de nhoque para fritar e outra parte deixaria para Brianna comer com molho.
— Amiga, eu sei. Mas ontem… — Ela suspirou, relembrando a cena da noite passada. — Ontem eu conheci uma nova Kara, mas, se ela infernizar meu sono de novo, eu estou disposta a devolver na mesma moeda.
— Ufa, que susto. Agora sim é a que eu conheço. — Howkins pegou seu prato e sentou-se no sofá grande, pegou a tigela com nhoque frito e o molho barbecue, sentando ao lado da amiga; a garrafa de vinho já estava posta junto com as taças na mesa de centro e logo Miss Simpatia começou a rodar na tela.

[...]

chegou à agência um pouco mais cedo que o normal, por sorte, não tinha nenhuma sessão de fotos agendada, então teria tempo de editar todas as suas fotos atrasadas. Pelo menos, era isso que ela tinha em mente.
— Bom dia, — Kate, sua colega de trabalho, a cumprimentou. — Temos um cliente hoje aqui na agência e ele insistiu para ser fotografado por você.
— Por mim? — não conseguiu pensar em ninguém específico, mas acabou aceitando para não gerar problemas para a equipe. Ela sabia muito bem como os clientes conseguiam ser bem chatos quando queriam, e isso gerava mais estresse e reuniões desnecessárias para a equipe. Quando adentrou a sala onde aconteceria o ensaio, ela se deparou justamente com Dougie Poynter.
— Não acredito! — Ela foi obrigada a rir, passou a mão na testa tentando se controlar, mas, assim que viu o sorriso convencido estampado no rosto do baixista, ela teve mais vontade ainda de estapear aquela carinha. — Você é um cretino, Dougie Poynter!
As pessoas ao redor a olharam, assustadas, costumava ser calma e simpática com todos com quem trabalhava, aquilo era intimidade demais do que eles estavam acostumados.
— Nós somos vizinhos, tá tudo bem. — Ela fez uma leve careta e apontou de si para Dougie, enquanto as feições do rosto do pessoal se suavizaram ao ouvir a explicação. — Olha, eu tenho mais o que fazer. E as fotos para a campanha ambiental já foram tiradas, então você vai tirar essas fotos novas com outra pessoa, sim!
— Não vou.
— Qual o seu problema? Todo mundo aqui é ótimo. — não acreditava que tinha que lidar não só com a filha, mas com o pai birrento também.
— Mas você é melhor, eu já vi as fotos da campanha ambiental, elas são ótimas e nem foram editadas ainda.
— Tá, tudo bem, mas você vai ficar me devendo — ela se rendeu, e começou a preparar a câmera. — Anne, por favor, arrume uma roupa para o Dougie, ele esqueceu de tirar o pijama! O baixista fez uma careta, mas acabou seguindo Anne para trocar de roupa, realmente não tinha como fazer as fotos para a coleção de roupas novas vestindo uma calça de moletom velha, uma blusa branca e uma touca rosa. Até que tinha um pouco de razão, mas ele não assumiria tão fácil. Antes que ela reclamasse novamente, Dougie seguiu Anne e os dois saíram da sala. Quase quinze minutos depois, eles não voltaram e , com a agenda cheia, tinha coisas a fazer.
— A madame já terminou? — adentrou a sala ao lado, sem ao menos bater. Certamente, se arrependeria daquela decisão. Dougie Poynter estava apenas de cueca. — Inferno!
Assim que o viu, além de admirar — coisa que ela não admitiria nem com pena de morte —, a publicitária fechou a porta. Quando isso aconteceu, pôde ouvir a risada do baixista dentro do local. Bastardo!, ela pensou. Dougie Poynter era um descarado insolente.
— Pode entrar, já estou devidamente vestido, — ele falou mais alto através da porta para que ela pudesse ouvi-lo. adentrou o local e o encarou. Poynter vestia uma calça azul, seu vans clássico e estava colocando uma blusa branca de mangas que tinham pequenos detalhes coloridos na frente. Uma pena usar uma camisa de manga, pensou. Seu braço tatuado merecia destaque. Por um instante, questionou seu pensamento: desde quando o braço de Dougie Poynter chamava sua atenção daquela maneira? E por que havia pensado naquilo? Saindo de seus devaneios, lhe ofereceu um sorriso falso.
— Podemos? Tenho mais o que fazer — ela foi sincera.
O baixista a seguiu sem dizer muito e rapidamente os dois foram para o local onde tirariam as fotos. Dentro de si, travava uma batalha: por ser curiosa, queria saber mais sobre Poynter e Kara, mas não achava que tinha intimidade alguma com eles para perguntar algo. Desfazendo seus pensamentos, a mulher ajeitou seus materiais e a câmera estava a postos.
— Que pose você quer que eu faça? — ele perguntou.
— Não sei, tanto faz — ela deu de ombros. — A que você se sente mais confortável, talvez?
Dougie ficou sério e encarou a câmera. Depois de alguns cliques, mexeu a mão, indicando que ele trocasse de posição. Dougie ficou de lado e uniu as mãos. Algum tempo depois, os dois já tinham tirado algumas fotos e ela não estava satisfeita, apesar do rapaz ser bastante fotogênico.
— O que foi? — Dougie perguntou, sério. — Danny sempre disse que eu era feio, mas com você me encarando assim eu tô realmente achando que ele tem razão.
riu do comentário de Dougie.
— Não estou satisfeita com o que eu tirei.
— Eu garanto que estão ótimas.
— E eu garanto que você não entende de fotografia. — Ela soltou uma risadinha. — Ou você entende disso também?
— Por que você é sempre tão rude comigo? — ele perguntou.
— Porque você é um idiota e acha que é o dono do mundo — ela cuspiu. — Eu não vou sucumbir ao seu ego só porque você é famoso, muito menos porque é meu vizinho.
— O que eu fiz que prova que eu sou idiota? — Douglas cruzou os braços e a encarou com a mandíbula travada.
— O jeito que você tratou sua filha ontem, Dougie — ela foi sincera. — Vários garotos vão quebrar o coração da Kara, mas você não pode fazer isso. Você é o único que deve estar lá para ampará-la, independentemente das suas indiferenças.
A fotógrafa saiu da sala para se recompor e decidiu tomar um cafézinho. Quando voltou à sala, Dougie estava com suas roupas iniciais e encarava a vista. Um pouco irritada, soltou um suspiro.
— Por que você trocou de roupa? — ela perguntou.
— Pensei que tivéssemos terminado — ele foi sincero e ela lhe deu um sorriso. — Não?
— Não. Eu preciso de, pelo menos, mais umas cinquenta fotos para escolhermos cinco para a campanha. Vai trocar de roupa, Douglas.
Ele a encarava com um sorrisinho no rosto.
— O que foi? — ela perguntou.
— Você parece minha mãe me mandando trocar de roupa. — Ele soltou uma risada e ela revirou os olhos.
— Vai trocar de roupa antes que eu te jogue daquela janela, por favor — ela pediu, respirando fundo, e ele gargalhou, mas a obedeceu. Calma, guardava a fúria de dez gatos famintos, então irritada ele não queria nem ver.

[...]

Perto das sete, estava na porta da agência esperando Joe. Como de costume, os dois iam jantar juntos. Brianna e Luke tinham ido visitar sua mãe e não poderiam comparecer ao jantar semanal da família. Mesmo assim, os dois mantinham a tradição.
— Finalmente! — reclamou ao se sentar ao lado do irmão. — Pensei que estava vindo de Nárnia.
— Oi, irmãzinha! Quanto tempo, eu estou bem, obrigado por perguntar, e você? — ele ironizou.
— Com muita fome. — Ela riu e Joe entendeu todo mal humor.
— O que vamos fazer para o jantar de hoje? — o professor de química perguntou.
— Lasanha. — Ela sorriu e soltou um gritinho de animação.
Os dois conversavam sobre coisas do dia-a-dia enquanto se encaminhavam para o prédio de . Falavam sobre como Luke havia crescido e o quão esperto estava, comentaram também sobre Brianna, e ao chegarem ao edifício, os dois encontraram com Dougie Poynter no lobby.
— Até aqui? — ela bufou quando o viu. Joe não entendeu muito bem, mas presumiu que aquele era Poynter.
— Boa noite — Dougie os cumprimentou ao entrar no elevador. Enquanto tentava apertar o botão para que a caixa metálica subisse logo, Joe entrou em sua frente.
— Boa noite. — Joe sorriu e revirou os olhos. O clima no elevador começou a ficar estranho, então a publicitária fez questão de apresentá-los.
— Dougie, esse é meu irmão, Joe. Foi ele quem a Brianna indicou para dar aulas particulares de química para Kara — ela disse a contragosto.
— Prazer, Dougie — ele cumprimentou o químico e os dois começaram a conversar.
— Então você está dando muito trabalho pra minha irmã na agência e aqui? — Joe sorriu.
— No trabalho sou eu, aqui é minha filha, Kara. — Ele riu. — Enquanto um Poynter atiça, o outro descansa.
— Ha, ha, ha, muito engraçado, Douglas. — revirou os olhos. — Não sei o que fiz pra merecer vocês.
— Precisamos relembrar sua adolescência? Tem conteúdo suficiente para provar que você merece. — Seu irmão riu e Dougie pareceu interessado. Antes que o baixista pudesse perguntar, tapou sua boca.
— Nem pense. — Ela, depois de ter feito, questionou sua atitude. Dougie rapidamente mordiscou e lambeu a palma da mão dela e ela tirou com um pouco de nojo.
— Ew! Nojento! — ela resmungou.
— Nojento? Você já fez coisas de salubridade duvidável — Joe a atiçou.
Antes que pudesse respondê-lo, o terceiro andar chegou e ela o puxou para fora do elevador, sem nem mesmo darem boa noite para o músico. Joe soltou uma risada enquanto tentava encontrar a chave certa no molho. Seu irmão a encarou, curioso.
— Esse é o efeito Dougie Poynter? — ele riu.
— Eu só quero tirar a baba dele da minha mão — ela comentou, tentando não tremer. — Isso é tudo.

[...]

Quando Dougie abriu a porta do apartamento, ele já se encontrava arrumado — o que era raro — e Kara estudava na mesa da cozinha. Assim que avistou o pai, guardou seus materiais e foi para o seu quarto, ainda que ele tivesse conversado com a menina na noite anterior, ela ainda estava ressentida.
Dougie preferiu tomar um banho rápido e trocar de roupa antes de ir atrás de Kara, talvez ela precisasse de um tempo, ele daria esse tempo a ela. Após o banho, Poynter foi para a cozinha e preparou macarrão com molho branco para os dois, Kara gostava e, bem, ele também.
— Filha? — Dougie bateu duas vezes na porta, esperando uma resposta da menina.
— Oi, pai, entra — ela disse baixo, mas ele ainda escutou. Quando Dougie colocou a cabeça para dentro do cômodo, viu que Kara estava lendo um livro deitada na sua cama. O mais engraçado foi quando ele se deu conta que o livro que ela estava lendo era um dos Dinossauros que fez cocô, o qual ele tinha escrito com seu melhor amigo Tom Fletcher.
— Acho que você já passou da hora de ler esse tipo de livro — ele comentou, sorrindo. Kara tirou os olhos do livro e encarou o pai, também sorrindo.
— Eu sei, mas você escreveu com o tio Tom, e percebi que nunca tinha lido. Se eu ainda fosse criança, ia gostar de ler um desses, com certeza.
— Então isso é sinal que fizemos algo certo. — Ele sentou na cama ao lado da filha. — Vamos jantar? Fiz macarrão com molho branco, sei que você gosta.
— Hum, tô morrendo de fome. — Kara largou o livro na estante e já estava saindo do quarto quando o pai a chamou.
— Filha, desculpe por ontem, me expressei mal. — Ela parou na porta, encarando o pai, os olhos brilhantes de Kara a lembrava ainda mais Emilia. Era como se Dougie estivesse falando com a mulher, mas ele tinha que deixar esses pensamentos no passado. Kara não era Emilia e nunca seria, ele tinha cometido um grande erro justo com sua filha, e precisava se redimir.
— Eu sei que fiquei mais parecida ainda com ela, mas, se eu soubesse que ficaria assim, jamais teria cortado meu cabelo. — A resposta de Kara surpreendeu Dougie, nessas horas a voz de vinha a sua mente “você é o único que deve estar lá para ampará-la, independentemente das suas indiferenças.”
— Você não pode se privar de fazer o que quer por causa disso, filha, quero que isso fique bem claro. Você sempre vai ser uma parte de nós dois, e eu sempre vou estar aqui pra você. — Dougie se levantou, puxando Kara para um abraço.
— Eu sei, pai. — Kara abraçou a cintura do pai e afundou o rosto no peito do pai. — Podemos jantar agora? Eu estou faminta.
Na hora que Kara terminou de falar, sua barriga soltou um barulho alto, Dougie poderia jurar que tinha um monstro ali dentro. Os dois se encararam por alguns segundos e começaram a rir.
— Vamos alimentar seu monstro interior. — Dougie caminhou abraçado com a filha até a cozinha. — E depois podemos assistir um filminho, e até comer um chocolate, o que acha?
— Acho que você está tramando algo pra mim e eu não vou gostar. — Kara olhou por cima do ombro enquanto pegava um pouco de massa na panela em cima do fogão.
— Eu? Jamais faria isso. — Dougie tentou controlar o riso.
— Fala logo, pai.
— Você vai ter aulas de química com o irmão da .
— Tudo bem, eu não quero repetir de ano e continuar olhando para a cara da senhora Sanders.
— Ótimo, eu também não quero que você repita o ano.
— Podemos falar de coisa boa agora? Essa massa está divina!



O dia da aula de química de Kara havia chegado e a menina estava um pouco ansiosa. Dizer que ela era ruim em química era um eufemismo. A menina tinha muita dificuldade com todas aquelas contas, elementos e reações. Esperava mesmo que Joe fosse sua luz no fim do túnel.
— Deve ser ele. — A menina ouviu o pai falar e ir atender a porta. Kara ajeitou seu material em cima da mesa e se ajeitou na cadeira. Odiava se sentir burra, mas aquela matéria e a professora Sanders certamente cumpriam o papel de desmotivá-la.
— Joe! Seja bem-vindo — Douglas cumprimentou o irmão de sua vizinha com um sorriso no rosto. — Você aceita alguma coisa para beber ou comer?
— Não, cara. Obrigado — Joe agradeceu e encarou Kara com um grande sorriso. — Oi, Kara. Ouvi falar bastante de você.
— Acredito que não foram coisas muito boas… — a menina soltou uma risadinha. Joe foi até a menina e sentou-se ao seu lado.
— Eu tinha uma igual em casa — ele riu. — Quando me contou da sua travessura, perguntei se você era uma mini .
era igual a mim? — Kara soltou um risinho.
— Quase, mas ela era pior — ele riu. — Eu diria que a foi uma grande dor na bunda, mas não conte a ela.
Kara deu risada do comentário de Joe e os dois conversaram um pouco antes de começarem a estudar. Ela não sabia muito como ele fazia aquilo, mas, ao entrar naquela casa, era possível sentir o nervosismo da adolescente da porta e sabia que conversar com a menina a distrairia. Além disso, Joe sabia que era normal pessoas com grande dificuldade em matérias com bastante cálculo ficarem ansiosas e bastante nervosas ao se depararem com questões extensas.
— Bom, qual é a matéria que vamos estudar hoje? — o professor perguntou, sorridente.
— Estequiometria. — Ela fez uma careta e ele riu.
— Essa matéria é bem tranquila — ele foi sincero. — Vamos lá, você já fez bolo?
— Já — ela respondeu, desconfiada.
— A receita do bolo é estequiométrica, ou seja, ela tem certas proporções — ele começou a explicar. — Por exemplo, para fazer um bolo, você precisa de três ovos. Isso significa que a cada três ovos que você adicionar, você fará um bolo.
Kara prestava atenção no que Joe falava e o baixista os observava de longe. Do modo que ele explicava, até Dougie conseguia entender.
— Um exemplo claro é a água. Ela não é formada por dois hidrogênios e um oxigênio? Então, pode-se dizer que, com dois hidrogênios, se faz uma molécula de água. Ou que, com um oxigênio, obtemos uma molécula de água.
Os dois ficaram imersos no ambiente químico por bastante tempo, até que Kara conseguisse fazer todas as questões que Joe passara por conta própria. Além disso, Joe fazia piadinhas de química para descontrair. Quando terminaram, Kara estava até feliz por estudar química.
— Você não quer enviar um currículo para a minha escola não? — Kara perguntou. — A professora Sanders é péssima.
— Eu adoraria, mas eu já sou professor em outra escola.
— Pai, eu quero mudar de escola! — Kara anunciou e Dougie riu. — Mas agora… Quero saber sobre a . Como ela era quando mais nova?
— Ela fugia de casa pelo menos duas vezes na semana — Joe riu. — Implorava pra eu distrair a mamãe, ou então, quando algo dava errado e eu tinha que buscá-la, sempre parava na farmácia pra comprar qualquer remédio pra dizer pra nossa mãe o motivo de termos saído.
— Ela era inteligente mesmo — Kara riu. — Qual foi a história mais bizarra que você acobertou a ?
— A era bem atentada… — ele riu. — Mas a mais bizarra foi quando, aos dezesseis, ela fugiu pra sair com um garoto e eu tive que ir buscá-la do outro lado da cidade. Ela estava com a mão roxa.
— O que aconteceu? — Kara perguntou, assustada.
— Além do cara ser um idiota, ele tinha um probleminha comigo. — Joe revirou os olhos. — Disse a ela que era pra ela fazer questão de dizer pra mim que ele estava saindo com a minha irmã mais nova. Então socou o nariz dele várias vezes.
— Ela fez isso? — Kara riu.
— Fez — o professor de química riu. — E eu já queria avisar…
Ele quase se virou para Dougie.
— Minha irmã quebra narizes como ninguém.
— Acho que essa foi pra você, pai… — Kara riu e Dougie os encarou, confuso.

(...)

O trabalho de edição de fotos estava fantástico. Dougie era bastante bonito (e fotogênico), então editar aquelas fotos era quase que um momento de descontração. observava os traços marcados do músico e seu braço era o que mais lhe chamava atenção, pois as tatuagens de Dougie eram incríveis. Já era tarde da noite quando sua campainha tocou e a fotógrafa estranhou. Quando olhou pelo olho mágico, viu Kara segurando um livro.
— Oi, Kara — a publicitária sorriu para a adolescente.
— Oi, — a menina sorriu fraco. — Seu irmão esqueceu o livro dele lá em casa.
— Ele é bem esquecido, obrigada por ter trazido, Kara — sorriu ao ver a letra do irmão grifada na capa do livro com um sorrisinho do lado. Kara estendeu o objeto para , mas ela teve uma ideia. — Você quer entrar, Kara? Estou editando algumas fotos do seu pai.
— Está? — ela perguntou baixinho. — Posso ver?
— Sinta-se em casa — a fotógrafa disse e logo se arrependeu. — Mas nem tanto.
A risada infantil de Kara encheu a sala de estar da mulher. puxou uma cadeira da mesa de jantar para sua escrivaninha e sentou-se em seu lugar. Kara estava com o olhar ávido na mulher, que parecia fazer aquilo como ninguém.
— Nossa, meu pai é muito bonito — Kara comentou com um tom surpreso.
— Ele é… — disse baixinho.
— Como? — Kara riu. — Você acha meu pai bonito?
— Não, quer dizer, sim! Ele não é feio, mas não é bonito, bonito.
— Isso quer dizer o quê? — Kara perguntou.
— Isso quer dizer que você é uma pestinha, Poynter. Observe meu trabalho em silêncio.
— Queria ser bonita como ele — ela comentou baixo. — As meninas da escola vivem dizendo que ele é bonito e eu devo ter puxado a minha mãe para ser tão feia.
Emilia Brown estava longe de ser alguém feia. Quer dizer, fisicamente. Emilia Brown era alguém com péssimo caráter e extremamente egoísta, mas Kara não sabia disso e não era papel dela dizê-la aquilo. No entanto, ela sentia raiva daquelas garotas.
— Elas são umas idiotas, Kara — ela disse, séria. — Você é linda, nada do que elas dizem importa.
— Pra você é fácil falar, é linda de qualquer jeito — a garota disse, desanimada.
— Ei, esquece essa história, todas nós somos lindas, de maneiras diferentes. Até o chato do seu pai, mas ele não precisa saber disso. — Kara soltou um riso baixo e piscou para a garota, voltando a dar atenção para a tela do computador em seguida.
— Tudo bem, eu vou logo para casa, antes que ele apareça aqui. — Na hora que olhou no relógio, percebeu que Kara já estava ali há uns bons vinte minutos, e bem na hora o interfone do seu apartamento tocou. Era Dougie.
— Oi, , Kara está aí? — Ela ouviu a voz do vizinho soar preocupada.
— Oi, vizinho. Sim, eu acabei de prendê-la no quarto de hóspedes, para que eu possa ter uma boa noite de sono — disse apenas para provocar. Ela também conseguia esquecer que tinha maturidade.
— Você fez o quê? — Ele quase soltou um berro no outro lado da linha.
— Relaxa, Poynter, ela já está subindo.
desligou o interfone na cara de Dougie mesmo, e encarou Kara que já estava quase na porta.
— Você gosta de provocar o meu pai, né? — Kara tinha um sorrisinho no rosto, igual ao pai. Realmente, não tinha como negar que ela era uma Poynter.
— Eu só apenas me vingo um pouquinho pelo trabalho que ele me dá no meu trabalho — ela riu. — Boa noite, Kara.
— Boa noite, . — apertou o botão do elevador e esperou que a menina entrasse para voltar para sua casa.
Quando fechou a porta do apartamento, seu celular vibrava ao lado do computador. É, trabalhar seria a última coisa que ela conseguiria fazer naquela noite. Porém, relaxou o corpo no sofá quando viu o nome do seu irmão brilhar na tela do aparelho.
— Eu preciso trabalhar, mas vamos lá, chora — ela atendeu a chamada.
— Você é sempre tão simpática atendendo minhas chamadas… — Joe respondeu.
— E você é sempre tão dramático. Mas o que precisa mesmo?
— Esqueci meu livro nos Poynter.
— Eu sei, já está aqui. Como foi a aula com a mini Lulu? — foi direta.
— Mini Lulu? Deus, .
— Na verdade é o outro cara, mas beleza — ela soltou uma risada seguida do irmão.
— Foi boa, eu sempre fui um ótimo professor, você sabe. — conseguia imaginar o irmão se vangloriando por isso. Mas ela sabia que era verdade, passou em química no colégio com a ajuda dele e não podia negar.
— É verdade, mas foi tranquilo mesmo?
— Sim, vou dar outras aulas e contar mais dos seus podres para a sua arque inimiga mirim.
— Não se atreva a fazer isso, Joe , ou eu peço para Brianna arrancar suas bolas fora. — O tom de voz de passou a ter um certo desespero.
— Ela não vai fazer isso. — ainda conseguiu ouvir Brianna gritar no fundo um pedido de desculpas. Suspirou baixo, ela sabia que o irmão a estava provocando.
— Eu preciso trabalhar e começar a traçar meu plano de vingança contra você, caso Kara Poynter descubra tudo o que eu já fiz. — Ela voltou com o seu tom ameaçador, Joe soltou uma gargalhada no outro lado da linha.
— Fica tranquila, vou deixar você trabalhar — ele disse, calmo. — Boa noite, .
— Ei, te amo, maninho.
— Também te amo.
desligou o telefone, desligou mesmo, e voltou sua atenção para o computador. Sua semana estava sendo cheia, várias sessões de fotos, várias fotos para editar e mais outros anúncios que provavelmente apareceriam até o final da semana. Trabalho é que não ia faltar para , então ela precisava terminar tudo que havia pendente o quanto antes. Respirou fundo e sentou na cadeira novamente.
— Mãos à obra, .

Enquanto gastava suas horas de sono concentrada em seu trabalho, no apartamento de cima, os dois moradores não tinham a mesma preocupação. Dougie e Kara estavam terminando de jantar, quando a garota decidiu provocar o pai.
— A é bem bonita, né, pai?! — ela começou a falar, como quem não queria nada, enquanto terminava sua sobremesa.
— É sim — ele respondeu tão rápido que nem percebeu o que acabara de dizer. — Quer dizer, sei lá. — Ele deu de ombros.
— Pai, você é péssimo mentindo. — Kara apontou a colher na direção do homem e estreitou os olhos. — Mas tudo bem, ela também te acha bonito.
— Por que está me contando isso, Kara? — ele disse, sério.
— Porque você precisava saber, tá na cara que é afim dela. — Kara colocou o pote de sobremesa na pia e foi para o seu quarto, deixando o pai um pouco boquiaberto sozinho na cozinha.
— Vá escovar os dentes e se arrumar para dormir, isso não é assunto para criança — ele gritou da cozinha. Mas sabia que a menina estaria revirando os olhos se estivesse na sua frente.
A cabeça de Dougie estava uma bagunça, a mudança de cabelo da Kara ainda o perturbava um pouco, principalmente porque não havia mais nada que ele pudesse fazer. O que acabava fazendo-o lembrar cada vez mais de Emilia, de uma forma que chegava a assustá-lo. Assim que terminou de ajeitar a cozinha e ver se não tinha nada atirado na sala, passou no quarto de Kara e a menina já estava dormindo. Reparou no quanto a filha tinha ficado mais calma, parecia que as coisas estavam finalmente se ajeitando. Eles também tinham se aproximado mais e isso o deixava extremamente feliz. Talvez ela topasse passar a tarde no estúdio com ele no dia seguinte, pelo menos esse era o plano. Antes de fechar, foi até a cama da filha e beijou o topo de sua cabeça.
— Boa noite, princesa — ele disse baixo, achando que ela não iria escutar.
— Boa noite, pai.



Dougie estava reunido no estúdio com o restante da banda, além de David e Jason também estarem acompanhando-os naquela nova jornada. Estar de volta àquele lugar estava sendo maravilhoso para ele, era onde ele sempre encontraria paz. O álbum estava quase pronto, então eles passavam mais tempo rindo um do outro do que realmente trabalhando. Poynter foi pegar mais uma xícara de café, quando Harry parou ao seu lado.
— Como andam as coisas com a Kara? — ele perguntou, assustando um pouco o amigo mais novo.
— Ela tá mais calma, e o irmão da foi dar aula de química para ela. Acho que ajudou bastante — Poynter respondeu, tomando um gole da bebida já não tão quente quanto gostaria.
— Então já conheceu o restante da família dela, é? Não achei que ia ser tão rápido — Judd cutucou o amigo, que apenas revirou os olhos. — Mas falando sério, como isso foi acontecer?
— O quê?
— O irmão da — Harry disse.
— Ah, a namorada do irmão dela comentou comigo. Nos encontramos no elevador, por acaso, só isso. — Dougie pegou sua xícara e voltou para o sofá onde estava sentado anteriormente.
— É só questão de tempo até você conhecer os pais dela — Harry falou tão próximo ao ouvido de Poynter, que ele chegou a derramar um pouco de café em si mesmo antes de chegar ao sofá.
— É — Dougie riu. — Provavelmente nos conheceremos no lobby do prédio.
O baterista ignorou o comentário idiota de Poynter e seguiu para seu lugar favorito enquanto Dougie ajeitava as coisas em seu baixo. Apesar de estarem trabalhando à beça, Dougie estava feliz. Era clara a importância da banda para ele. Danny, Tom e Harry eram os que o apoiavam quando ele precisava de ajuda. Conforme o baixista teve que lidar com a pré-adolescência de sua filha, ele se afastou um pouco dos três, mas eles compreendiam. Dougie foi o primeiro da banda a ter filhos e só Kara já bastava para tirar toda a sua sanidade.
Entendia toda vez quando sua mãe o relembrava o que passara com ele e Jazzy. Kara tinha seu jeito com a aparência de Emilia. Desde pequena, Poynter sabia que a área artística era o futuro de sua filha, uma vez que ela era bonita o suficiente para ser uma modelo e talentosa o suficiente para ser uma baixista. Torcia, no entanto, que Kara se mantivesse longe das câmeras e das passarelas.
Sabia que sua filha jamais teria o jeito de sua mãe, mas aquelas seriam semelhanças para assombrá-lo. Do jeito que Emilia Brown era conhecida pelo mundo da moda, a aparência delas seria facilmente comparada. E, apesar de Dougie ter desejado que sua filha tivesse uma mãe presente, ele não queria que aquela mulher, que desistira de sua filha anos atrás, se aproximasse agora. Poynter entendia que Emilia havia priorizado sua carreira e nunca se importou, na verdade. Também estava ok com o fato de que ela não queria ser mãe, aquilo, para ele, pouco importava. Mas o jeito que ela tratou a bebê, como se Kara fosse uma parasita, desconsiderou toda a possibilidade de carinho que ele poderia ter por ela.
Poynter e os amigos gravaram algumas músicas e escreveram outras. Era quase noite quando Dougie saiu do estúdio e decidiu que aquele dia seria um ótimo dia para comerem fora. Dougie tentava falar com Kara, mas a pré-adolescente não o atendia. Quando chegou ao lobby de seu prédio, esperava pelas costumeiras reclamações do zelador.
— Boa tarde, senhor Poynter — ele cumprimentou Dougie.
— Boa tarde, senhor Prescott. — O baixista parou, na espera das reclamações do dia.
— Hm, sim? — o homem perguntou, confuso.
— Quais são as reclamações de hoje? — ele suspirou.
— Não tem — o zelador riu baixinho. — Kara passou o dia inteiro quieta.
— Você tem certeza, senhor Prescott? — Ele levantou as sobrancelhas em surpresa.
— Sim — ele confirmou. — A senhorita Kara passou a tarde toda no terceiro andar.
— Isso não é bom. — Ele apressou o passo. — Tchau, senhor Prescott.
Dougie correu até o elevador e apertou incessantemente o botão que o levaria para o andar de . Sua filha não tinha maturidade e , bem, ela conseguia não ser madura também. Assim que o elevador soltou o plim, o baixista saiu e deparou-se com a porta do apartamento de aberta. O homem, no entanto, encontrou uma cena estranha: as duas sentadas no chão da sala, dialogando pacificamente. Dougie bateu duas vezes para chamar a atenção das duas e sorriu ao ver que sua filha aparentava estar feliz.
— Atrapalho? — ele perguntou.
— Sempre, mas entra aí — provocou.
— Oi, Dougie — Kara o cumprimentou.
— Ah, ótimo. Retrocedemos — ele bufou. o encarou e lhe deu um sorriso complacente.
— Estávamos escolhendo e editando suas fotos. Quer vê-las? — tentou aliviar o clima.
— Pode ser. — Ele sentou ao lado de e observou o trabalho bem feito que ela havia feito.
As fotos ficaram incríveis, é claro. Não porque era ele que modelava, mas sim pelo trabalho de . Talvez a roupa que a figurinista havia escolhido também tivesse ajudado.
— Ficaram ótimas — o baixista elogiou o episódio de .
— O modelo ajudou, apesar de eu ter que mandá-lo trocar de roupa — implicou. — Você não tem roupas além de pijamas?
— Tenho, mas é meu estilo — ele riu.
— Estilo… — ela riu. — Sei.
— Eu quero fazer um ensaio — Kara afirmou. — Posso?
— De maneira alguma — Poynter negou.
— Por que não? — Kara o enfrentou.
— Você não tem idade para isso — ele argumentou.
— Na verdade, hoje em dia tem ensaio até de newborn, Dougie — argumentou. — Que tal vocês fazerem um ensaio juntos?
— Por favor, pai. — Kara usou a melhor expressão de cão que caiu do caminhão de mudança para convencê-lo.
— A vai fazer? — ele bufou.
— Eu? O quê? Não! — a fotógrafa se recusou. — Vocês já são os vizinhos mais chatos que eu tive na vida. Sua filha é uma pestinha e você é uma peste!
— Isso quer dizer que você vai? — Kara usou seu melhor sorriso.
— Eu pago quanto você quiser — Dougie disse.
— O quanto eu quiser? — deu um sorriso maldoso.
— Seja sensata, por favor — Dougie riu.
— Estou brincando, faço o preço normal, vizinho — ela sorriu. — Mas só se alguém prometer se comportar.
— Eu prometo! — Kara deu um pulo. — Então podemos fazer?
— Sim, podemos — Dougie concordou.
Kara levantou-se e abraçou o pai com força. No fundo, Poynter precisava muito daquele abraço e era bom vê-la feliz. apreciou a cena fofa dos dois e organizou as fotos escolhidas para a campanha enquanto Kara dava uma enxurrada de ideias para o pai. Pensando bem, Dougie Poynter fazia tudo por sua filha, mesmo que de seu jeito todo torto. Ele era mesmo um bom pai.



estava próxima da janela, olhando o movimento da rua lá embaixo enquanto escutava sua mãe falar da vida no litoral. Era típico de Nora comentar sobre como a cidade litorânea, St. Ives, ainda conseguia manter sua reputação como um centro artístico, e mesmo já sabendo as falas da mãe de cor, ela balançava a cabeça e concordava com tudo. Não, não era o tipo de pessoa que deixava sua mãe falando sozinha, na maior parte das vezes, era apenas o cansaço tomando conta de seu corpo, mas ela gostava de conversar com a mulher sempre que podia. Esse era um dos motivos por ainda estar com o telefone grudado na orelha, a semana tinha se arrastado, e ainda tinha muito trabalho pela frente. Mas escutar a voz de sua mãe a acalmava.
— Joe disse que está dando aula particular para o seu vizinho. — O tom de voz de Nora mudou, foi impossível passar despercebido por . Ela era igual a mãe nesse aspecto, sempre que queria mais informações ou apenas uma fofoca boba.
— Não, ele está dando aula para a filha do meu vizinho. — não conseguiu segurar uma risada. Por um breve momento, imaginou Dougie Poynter sentado, tentando entender algumas das fórmulas que Joe, possivelmente, estaria explicando. Não querendo se gabar por ser seu irmão, mas Joe era um ótimo professor e faria até mesmo Dougie Poynter aprender química.
— Ah, e como é ser vizinha do modelo? — Nora voltou a interrogar a filha, o que fez abrir um sorriso involuntário. Ela podia imaginar sua mãe com a típica cara de quem não quer nada, mas se corroendo por dentro para perguntar sobre todos os detalhes. Se Nora soubesse o quanto a vida da sua filha tinha virado de cabeça para baixo por causa dos dois vizinhos de cima, ela pegaria o carro naquele momento e não se importaria de viajar cinco horas e meia até a capital inglesa.
— Você anda olhando as fotos de Dougie Poynter, é? Vou contar para o papai — brincou.
— Ah, seu pai até gosta das músicas dele. — Ok, não esperava por essa. — Mas, então, me conta logo.
— É normal. Mas a filha dele é…
— Cuidado com a boca, — Nora a cortou, sabendo muito bem sobre o temperamento da filha e da sua facilidade em citar palavrões a todo e qualquer momento.
— Uma peste. — A palavra não saiu mais com tanta força quanto a do primeiro dia. não queria acreditar que Kara tinha melhorado, e o lado pentelha da menina tinha dado espaço para um lado amigável? Não, suportável era melhor.
Elas não eram amigas.
Não por enquanto.
— Então acho que você encontrou alguém à sua altura. — A voz suave da sua mãe parecia se divertir no outro lado da linha. relaxou o corpo, sabendo que tudo aquilo era verdade.
— Mãe!
— Tudo bem, só estou brincando. Ou não. — Ela soltou um suspiro, derrotada.
— Joe é um fofoqueiro. — A resposta típica de comprovava apenas que alguns hábitos nunca mudavam. — Como está o papai?
— Bem, está na varanda aproveitando o início do outono, você sabe como ele ama essa estação. Você já jantou? — O tom de preocupação de Nora deu as caras de novo. — Não se atreva a comer qualquer coisa, , você tem essa mania quando está atolada de serviço.
— Prometo jantar assim que desligar. — se acomodou no sofá, tentando desviar os olhos das várias abas abertas em seu computador.
— Algo saudável, por favor — sua mãe ralhou.
— Tudo bem. — Sua voz saiu baixa, mas dessa vez não conseguiu desviar os olhos do computador. A janela do skype piscava, indicando que alguém estava tentando falar com ela. — Merda — ela resmungou.
!
— Desculpa, mãe, preciso desligar. Nos vemos no próximo feriado?
— Claro, querida. Estou com saudade de vocês. — escutou alguns barulhos ao fundo antes de encerrar a ligação. Podia imaginar seus pais na varanda da casa, a brisa gélida batendo em seus rostos e sua mãe repassando a conversa que tinha acabado de ter com a filha. Na esperança de que o feriado chegasse mais rápido, logo tratou de terminar o trabalho do dia.
— Desculpa, mãe, mas a janta saudável vai ter que ficar para outro dia. — disse para si mesma, quando sentou novamente na frente do computador e percebeu que já passava das nove da noite.

[...]

— Você tem prova quando? — Joe olhou para Kara novamente, assim que terminaram mais uma lista de exercícios. O desempenho da menina tinha melhorado, e muito, desde que as aulas começaram, mas Joe sabia que ela precisava mais de atenção do que de ajuda com a matéria mesmo.
— Na próxima quinta — ela respondeu, guardando o material na mochila.
— Tenho certeza que você vai se sair bem, mas vou mandar mais uma lista de exercícios e a gente tira todas as dúvidas na terça, tudo bem? — Joe sorriu, tranquilizando-a. Dougie escutava a conversa dos dois, mas em nenhum momento se atreveu a se meter. Ele sabia que Joe estava fazendo um ótimo trabalho, Kara até tinha melhorado seu humor e as reclamações da escola também diminuíram.
— Ei, Joe, quer ficar pra jantar? — Dougie apareceu na sala, esperando uma resposta para voltar e colocar a mesa.
— Não, obrigada, Poynter. — Joe guardou o material que tinha usado na aula e mandou uma mensagem rápida para Brianna. — Tenho quase certeza que minha irmã não jantou, vou dar uma passada ali.
— Joe, espera! — Kara correu até a cozinha, pegando um pote que tinha deixado em cima da ilha para não esquecer de entregar ao irmão de . — Você pode levar para a ? São brownies.
Joe resolveu ignorar a parte em que Kara chamou sua irmã pelo apelido e não questionar, afinal, ele sabia o quanto a relação das duas era uma verdadeira guerra de gato e rato. E, no momento, as duas pareciam ter estendido uma bandeira branca. Isso era bom. Pelo menos, era o que Joe achava.
— Acho que ela não vai se importar se eu roubar um no meio do caminho, não é? — ele sorriu, colocando a mochila no ombro. — Boa noite e bom descanso pra vocês.
Os Poynters se despediram de Joe, o deixando seguir para o andar debaixo. Assim que se aproximou da porta do apartamento da irmã, Joe conseguiu escutar uma música típica daqueles sons ambiente, a luz baixa indicava que não tinha ido dormir ainda, então não demorou em apertar a campainha e receber um “entra” como resposta. Sim, ele apertou a campainha, mesmo sabendo que a irmã estava em casa, eles respeitavam a privacidade um do outro.
— Ei, que bom te ver — sorriu quando viu o irmão aparecer no seu campo de visão. A aparência de cansada estava estampada em seu rosto, e realmente estava, mas precisava de um gás para o trabalho que tinha que encarar noite adentro.
— Tenho uma entrega. — Ele esticou o pote para a irmã, mas a cara de interrogação de ficou evidente que ela não estava entendo nada. — Minha aluna mandou te entregar.
— Ah, é? — deu uma olhada e, ao abrir o pote, se surpreendeu com o cheiro maravilhoso dos brownies, dando-lhe água na boca. — Hum, parece bom.
— O que tá fazendo? — Ele olhou ao redor, percebendo que tinha deixado a sala com uma vela aromática acesa, o som de ondas tocando baixo no notebook e o cômodo era iluminado pela luminária e o que entrava da rua pela janela do apartamento.
— Conversei com a nossa mãe algumas horas atrás e prometi jantar. De verdade — ela riu, dando de ombros. — Mas acabei me distraindo com o trabalho, o peso na consciência apareceu e agora eu estou fazendo uma janta de verdade. Quer se juntar a mim?
— Claro. — Joe arregaçou as mangas da camiseta e se juntou à na beira do fogão. — Qual o cardápio?
— Eu adoraria fazer algo diferente, mas você sabe que minha especiaria favorita é macarrão. Então juntei todas as sobras comestíveis que encontrei na geladeira e coloquei na panela e aquela ali é a água para massa.
— Ok, vou dar um jeito nesse molho.
— É por isso que eu te amo. — Como uma boa irmã caçula, serviu duas taças de vinho tinto e deixou que Joe comandasse o fogão, ele adorava cozinhar mesmo e ela sabia que o resultado seria ótimo.
Mais tarde, Joe estava sentado na mesa da pequena cozinha de e apreciava uma imitação de yakisoba. O mais velho levava mesmo jeito para a cozinha, e agora entendia que ela não faria aquela mágica em um curto espaço de tempo como o irmão.
— Será que, dessa vez, mamãe pode não ficar sabendo que você fez a janta? — Ela fez uma cara de inocente. — Eu estava dando um jeito antes de você chegar.
— Prometo não contar, se Brianna não ficar sabendo que jantamos sem ela. — acenou rapidamente com a cabeça. — Quer sobremesa?
— Se sua sobremesa for os brownies da Kara, eu quero, eles ainda estavam quentinhos quando saí de lá.
— Vamos ver se aquela pestinha sabe cozinhar. — pegou um quadradinho e partiu ao meio, enfiando uma inteira na boca. Sua feição revezava entre ora levantar a sobrancelha e ora fechar os olhos. — Nossa, paguei minha língua. Isso tá muito bom, e aposto que é vegano, o que torna essa coisa ainda melhor — ela disse de boca cheia.
— Você tem que dar um desconto pra ela, — Joe falou. Conhecendo o pouco da Kara durante as aulas, sabia que a garota não era má, tampouco uma peste como sua irmã a pintava.
— Espera aí, eu estou perdendo meu maior aliado, é isso mesmo? — A morena olhou-o, espantada, enfiando a outra metade que sobrou na boca, lambendo os dedos por último. — Não acredito, Joe . Brianna nunca faria isso comigo.
Joe soltou uma gargalhada, mas se arrependeu logo em seguida. Não queria que sua irmã tivesse problemas por ele estar fazendo barulho naquela hora da noite, afinal já estava tarde e ele precisava ir para a casa logo.
— Bom, se você acha isso — ele deu de ombros, ainda rindo. — Eu preciso ir agora, e vê se descansa, já está tarde — Joe apontou para o relógio na cozinha, que já marcava quase meia-noite e quase teve um pequeno ataque de pânico. Ela ainda tinha tanto trabalho pela frente.
— Será que o dia não podia ter, tipo assim, umas trinta horas? — Ela fez uma careta. Joe colocou os pratos na pia e os deixou limpos. — Para, você já fez tanta coisa desde que chegou.
— Só estou dando menos trabalho, você é a primeira pessoa que reclama por não ter que lavar a louça.
— Quando alguém cozinha pra você, você limpa. Foi você que me disse isso, Joe. Para de lavar minha louça, e arraste seu traseiro para fora daqui antes que minha amiga maluca ligue. — E, como se a mulher estivesse escutando, o telefone de Joe começou a tocar no mesmo segundo.
— Credo, acho que você pediu pra ela me ligar de propósito. — Ele secou as mãos no pano de prato e pegou sua mochila do sofá. — Se cuida, e vê se descansa mesmo. — Joe deu um beijo em e saiu do apartamento, atendendo o celular que ainda estava tocando. Quando a publicitária voltou para o aconchego do seu sofá e colocou o notebook no colo, a intenção era terminar o seu serviço o mais rápido que conseguisse para poder descansar. Mas, ao contrário disso, resolveu fazer uma pesquisa rápida ou nem tanto assim.
— Que eu não me arrependa disso. — Então digitou no google Emilia Brown e Dougie Poynter.



Na manhã seguinte, Kara acordou sozinha — podia ser, até, considerado um milagre — e ao se deparar com o silêncio na casa, achou até mesmo que estivesse acordando cedo no dia errado da semana. Mas quando percebeu que a porta do estúdio estava fechada, sabia que o pai tinha passado a noite lá. Dougie tinha tornado aquela peça do apartamento em um pequeno estúdio, fazendo o possível para que o som não saísse e atrapalhasse os vizinhos. Ele não precisava de mais esse problema na sua vida.
— Pai? — Kara o chamou, ainda um pouco sonolenta. Como não obteve resposta, entrou na sala mesmo assim, e encontrou exatamente o que já imaginava que encontraria. — Você não dormiu a noite toda, senhor Poynter?
Dougie se assustou ao encontrar a filha parada à porta, e riu ao ser chamado do mesmo jeito que ele costumava falar com ela.
— Bom dia? — Ele levantou a sobrancelha, na dúvida. Tinha entrado ali um pouco depois das onze, a hora em que Kara foi dormir, mas não imaginou que passaria a noite toda com o baixo em seus braços. — Acho que perdi um pouco da noção de tempo. Culpado.
Kara riu com a expressão do pai, ele não tinha mais aquela armadura e o jeito sério toda vez que falava com ela.
— Vou fazer o café, e você vai tomar um banho, mocinho. — Ela deus as costas ao pai, indo para a cozinha. — Temos vinte minutos ainda. Você vai me levar para a escola, né?
— Claro, não tenho muita escolha. — Ele bagunçou os cabelos da filha ao passar por ela. E, como em um passe de mágica, aquele clima agradável se foi.
— É, você nunca tem escolha — ela resmungou baixo.
Kara queria entender o que se passava na cabeça de seu pai. Às vezes, achava que conseguia compreendê-lo, mas ele sempre se desfazia dela. Por momentos, a menina desejava não ter nascido e odiava sua mãe, quem quer que fosse, pois sua pessoa preferida no mundo, seu pai, a odiava por isso. Quando terminou de fazer o café da manhã, a menina voltou para seu quarto. Enquanto se olhava no espelho, quis chorar. Por que ela não podia se parecer com seu pai?
— Você é um estorvo, Kara — ela disse e caiu em lágrimas.
Antes que Dougie saísse do banho e a visse daquele jeito, a menina fez o que sempre fazia. Vestia uma máscara e se fechava mais ainda ao seu pai. Odiava o fato de ser quem era e como era. Sem pensar muito, a garota voltou para sala e o esperou no sofá.
— Você já tomou café? — Poynter perguntou ao aparecer na sala.
— Não — ela disse. — Apenas coma logo e vamos. Não quero me atrasar.
— Mas você não pode ir sem comer.
— Perdi a fome, Dougie — ela disse. — Vai logo.
O baixista preferiu ir tomar seu café da manhã sem brigar. Quando terminou, sua filha o esperava já na porta. Era estranho ver como Kara mudava de humor repentinamente e o odiava. Não conseguia compreender mulheres em geral, mas sua filha estava no topo delas. O caminho até a escola da menina foi meio lento pelo trânsito matinal, mas Kara estava ignorando qualquer comentário vindo de seu pai. Uma música do Fall Out Boy, Uma Thurman, tocava no carro e a menina cantava junto. Quando ficaram mais próximos da entrada do colégio, Dougie diminuiu a velocidade.
— Boa aula hoje, Kara — ele disse e ela o ignorou novamente. — Obrigado pelo café.
— Claro, não tenho muita escolha — ela deu um sorriso debochado ao pai e saiu do carro.
O baixista ficou chocado pela resposta, mas percebeu que o comentário que fizera mais cedo havia magoado Kara. Ele não tinha intenção de machucá-la, longe disso. O comentário de voltou à sua cabeça. Vários garotos vão quebrar o coração da Kara, mas você não pode fazer isso. E foi isso que ele havia feito, falhando, mais uma vez, como pai.
Antes que pudesse piorar a situação, Poynter correu até sua filha. O jeito que ela andava era calmo e ele sabia que Kara fazia de tudo para não ser percebida, o que ele achava um absurdo. Kara merecia ser vista, ouvida e admirada.
— Kara! — ele gritou e a menina deu um pulo de susto.
— Dougie? — ela perguntou baixinho. — O que você está fazendo aqui?
— Precisamos conversar, filha — ele disse baixinho. — Pensei que pudesse faltar aula hoje e irmos ao estúdio.
— Isso é uma pegadinha? — ela perguntou, nervosa.
— Não — ele sorriu. — É uma oferta de paz, de novo.
— Tudo bem — ela concordou e ele ofereceu a mão para ela dar um soquinho. Ela o fez. Poynter tirou a mochila rosa de sua filha e colocou nas costas, fazendo com que todos olhassem para ele. O baixista já estava acostumado com a atenção, então pouco se importava. Kara ficou incomodada, mas logo tratou de dar atenção ao seu pai.
— Quais os planos pra hoje? — ela perguntou ao entrarem no carro. — Eu ainda não te perdoei.
— Os planos para agora são tomar café da manhã, conversar e dormir até às onze — ele sorriu. — Depois, nós vamos gravar umas coisas, tenho umas ideias e acho que você pode me ajudar.
— Tudo bem — ela disse baixinho. — Sobre o que você quer falar?
— Sobre hoje mais cedo — ele disse. — Não queria te machucar, filha. Mesmo se eu tivesse escolha, eu escolheria levar você todos os dias. Eu sei que você não vê isso, mas eu quero ser seu melhor amigo.
— Dougie, eu… — ela começou a dizer, mas rapidamente se corrigiu. — Pai, eu sei que você não gosta de mim por causa dela. Sei que cada dia que passa, eu me pareço mais com ela. Eu daria tudo pra ser bonita como você pra você não me odiar.
— Eu não te odeio, Kara — ele disse. — Você é minha menininha, eu te amo tanto, filha. Sempre fomos eu e você contra o mundo. Às vezes, o quanto vocês se parecem me assusta, mas eu jamais poderia te odiar por isso.
— Às vezes, parece que você me odeia — ela falou baixinho. — Não quero que você me odeie, pai. Você é tudo que eu tenho.
— Você também é tudo que eu tenho — ele sorriu. — E eu jamais poderia odiar a melhor parte de mim. Agora, por favor, tire isso da cabeça. Sei que temos nossas diferenças, mas vamos tentar melhorar isso, tudo bem?
— Tudo bem, pai.
— Ótimo, agora você vai jurar que não vai contar à sua avó que eu te tirei da aula para fazermos besteiras, ou eu vou cortar as cordas do seu baixo em retaliação — ele ameaçou e a menina gargalhou.
— Pode deixar, eu prometo, senhor Poynter — ela sorriu.
— Agora vem, vamos tomar um café da manhã bem não-saudável que o conselho tutelar me mataria por te oferecer.
— Estou dentro, velhote. — Ela saiu e entrelaçou sua mão a de seu pai.
Os dois tomaram café da manhã na lanchonete favorita da menina. Conversaram, riram e tiraram algumas fotos para mandar para a avó de Kara. Eles foram rápidos e a menina, no fim das contas, estava faminta.
Assim que terminaram, foram para casa para que pudessem dormir um pouco antes de começarem os trabalhos. Passava das sete quando entraram em casa. Dougie confiava plenamente no talento de sua filha com o baixo para pedir ajuda a ela com acordes para a banda. Como nos velhos tempos, Poynter puxou dois edredons grossos que tinha e colocou no chão da sala.
— Vamos dormir aqui? — os olhos de Kara brilharam.
— Sim, vou pegar nossos travesseiros e cobertores para tirarmos a nossa soneca — ele sorriu.
— Tudo bem — ela sorriu.
Kara se sentia bastante sonolenta e estava com uma leve dor abdominal. Talvez não devesse comer tanto no café da manhã como fizera mais cedo.
Quando Dougie voltou, ela já estava com sua calça de pijama e uma camiseta dele do McFLY.
— Por que não usa a sua? — ele perguntou.
— A sua é maior e mais confortável, pai.
Dougie ajeitou as coisas no chão e os dois deitaram juntos. Kara se aconchegou ao lado do pai e, enquanto ele fazia carinho em seus cabelos, os dois pegaram no sono. Como antigamente.

[...]

Como combinado, o despertador de Dougie tocou quatro horas depois. Kara se remexeu, mas não acordou. Poynter, por outro lado, tinha sono leve e logo acordou. Como tinha combinado com a banda de ir para o estúdio somente à tarde, ele tinha que garantir pelo menos um almoço decente para sua filha. Se fosse só ele, não se importaria de aparecer no estúdio apenas com o café da manhã no estômago e passar o resto do dia comendo besteiras. Mas quando se tratava de Kara, ele não podia deixá-la ter hábitos alimentares tão ruins quanto os seus. Por fim, preparou um almoço rápido para os dois, arrumou a cozinha e o resto da casa o máximo que conseguiu. Tarefas domésticas não eram o forte de Dougie, mas se esforçava para ser o melhor exemplo para sua filha. Kara, por outro lado, era uma bagunça completa, e mesmo com os eternos sermões do seu pai, conforme ia crescendo, a bagunça crescia junto com ela.
Antes de acordá-la no chão da sala, Poynter observou o quanto sua menininha estava crescendo, e mesmo que a semelhança com Emília o assustasse, ele sabia que Kara Poynter tinha sido a melhor escolha de sua vida. Não podia negar que sua vida tinha virado de cabeça para baixo a partir do momento que escolheu ter Kara, pois sabia que Emilia sumiria no mundo após sair do hospital. Mas o apoio de sua família e da banda foi essencial para ele se tornar, cada vez mais, o melhor pai para a sua garotinha. E, com esse pensamento em mente, Dougie decidiu que não deixaria nunca mais Kara ter pensamentos errados sobre a relação deles. Nem mesmo, se algum dia, Emilia voltasse a aparecer em sua vida.
— Pai, você ‘tá passando mal? Tá com uma cara estranha — Kara perguntou, esfregando os olhos com a mão, ainda sonolenta.
— Tá tudo ótimo — ele riu, largando o pano de prato na mesa. — Vamos almoçar? Temos uma tarde de muito trabalho no estúdio.
Kara sorriu, animada com a ideia de ficar no estúdio com a banda. Logo levantou, foi até o seu quarto e trocou de roupa. Não ficando muito diferente de seu pai, já que vestiu uma calça jeans, uma blusa velha do Blink-182 e um moletom preto por cima.
Os dois almoçaram rapidamente em casa e foram até o estúdio em que costumavam gravar. Kara não sabia que Poynter havia planejado seu dia inteiro ao lado da filha. Ela só não contava que ele trouxesse algumas pessoas em especial.
— Ok, você precisa fechar os olhos agora — ele pediu.
— Por quê? — ela perguntou, um tanto curiosa.
— Me obedeça, as consequências serão boas.
Kara o obedeceu e eles adentraram a sala. Seu pai havia planejado com Mark Hoppus, do Blink-182, para surpreendê-la naquele dia. Dougie a colocou exatamente de frente ao homem.
— Pode abrir os olhos, Kara.
A menina custou a acreditar que estava vendo quem estava vendo. Talvez ela estivesse dormindo ainda ao lado de seu pai, como eles haviam combinado mais cedo. Mas não.
— Meu Deus, meu Deus! — Ela deu pulinhos de alegria. — É você! Eu cresci ouvindo suas músicas, pai, é o Mark Hoppus.
Dougie riu da animação da filha. — Eu sei, não é demais?
— Demais? É mais que demais! — Theo interviu.
— Estava ansioso para conhecer vocês dois — Mark sorriu. — Danny e Dougie falaram que são ótimos no que fazem.
Assim que o êxtase passou, Kara deu risada, ainda incrédula que Mark Hoppus estava ali com ela. Theo, no entanto, já tinha tido seu momento tiete e apreciava o de sua amiga. Estava genuinamente feliz por ela, pois, quando se conheceram, ela havia dito que adorava Blink-182.
— Eu sei que Mark adorou a atenção, mas vamos trabalhar? — o musicista sugeriu.
— É pra já! — Theo pulou do sofá onde estava.
Os mais velhos mostraram a composição para os dois pré-adolescentes e eles mostraram claro interesse nela. Kara sentia seu corpo pulsar e aquilo vinha geralmente quando ela estava prestes a compor algo.
— Ok, ok, eu tive uma ideia — ela sorriu. — Pai, cadê seu baixo?
O baixista pegou o instrumento e entregou à filha que o colocou sem dificuldade nenhuma. Kara verificou se tudo estava nos conformes e colocou em acordes o que pensava sobre a música. Theo pegou sua guitarra da case e tentou acompanhá-la. Dougie, Danny e Mark apenas observavam a facilidade que eles tiveram em criar algo que eles não acharam legal por tempos. Growing Up era uma das composições favoritas de Poynter do novo álbum e agora que Kara participaria da faixa, a tornaria mais favorita ainda.
Horas mais tarde, Kara e Theo estavam jogados no tapete do estúdio, enquanto os três mais velhos estavam trabalhando ali dentro. A euforia por estar na presença de Mark Hoppus foi tão grande que eles já tinham perdido a hora, e Danny só se deu conta quando recebeu uma mensagem de Jules perguntando sobre o paradeiro de seu filho.
— Theo e Kara estão se divertindo, né? — Danny parou ao lado de Dougie, depois que o baixista do Blink foi embora. A tarde foi longa e produtiva, além de emocionante para os dois jovens.
— Sim, acho que é a única pessoa que ela não briga — Dougie comentou, olhando para a filha dessa vez.
— Hum… — Danny olhou para os dois, tomando um gole do seu café. — Você acha que… esses dois — ele pigarreou, tentando controlar o riso. — No futuro?
— Para com essas ideias, Danny. Minha filha tem catorze anos, Theo que tire o cavalinho dele da chuva.
— Ué, não é nada demais. Ia ser tipo Tom e Gi. — Ele soltou uma gargalhada alta dessa vez, principalmente pela cara de reprovação de Dougie. Kara sempre seria sua garotinha, e namorados estavam fora de cogitação no momento.
— Para de falar besteiras. Tenho certeza que Jules não sabe que você pensa essas coisas do filho dela também. — Danny deu de ombros, ainda rindo da reação do amigo.
— Ei, falando sério, leve a Kara lá em casa no final de semana. Podemos fazer uma noite de karaokê com as crianças.
— Tenho certeza que Kara não vai me deixar escapar — Dougie sorriu.
— Fechado, então — Danny sorriu.
Dougie esperou que todos terminassem seus afazeres no estúdio e partiu para casa com sua filha. Ele gostava tanto de vê-la sorrir, que talvez, naquele momento, ele poderia mandar a escola se danar. Kara estava animada e elétrica após o encontro com Hoppus e aquilo o deixou feliz. No fim das contas, a felicidade de sua menina era tudo que importava.



Continua...


Nota da autora: Finalmente a fic Poynter chegou! E nós estamos ansiosas pra saber o que vocês acharam, então não esqueçam de utilizar a caixinha de comentários aqui embaixo.
Bjs, até a próxima att <3

Nota da beth: Muito queridas a Kara e a tendo um momento de entendimento, ansiosa para a aproximação delas 💜

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