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Revisada por: Aurora Boreal 💫

Últtima atualização: 06/08/2024

O hóquei feminino sempre foi considerado — ou melhor, lembrado — como apenas um esporte olímpico, mas não para Tucker. Para , o esporte era a sua vida, ela vivia e respirava hóquei vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Afinal, a ex-jogadora havia acabado de se tornar a atual técnica do Boston Pride, e não dava moleza para o time feminino.
Longe de começar a nova temporada, aproveitava mais um almoço de domingo com sua família. Cercada de boas risadas, péssimas piadas de seu irmão, Dylan, e muito vinho. Era assim que gostava de passar o tempo.
— Então, ansiosa para a nova temporada? — Foi seu pai, Michael, o primeiro a tocar no assunto.
— Um pouco, mas é normal. Eu sempre vou ficar ansiosa para cada temporada. — Ela deu de ombros, colocando mais um pedaço de queijo na boca. — Mas, por favor, agora eu só quero aproveitar minhas férias. Em breve estarei de volta ao trabalho e terei que colocar um time inteiro em ordem.
— Você não deveria se preocupar, todo mundo morre de medo de você, maninha.
— Não preciso que elas morram de medo de mim, preciso que elas joguem e levem aquilo a sério. Além de amar o que fazem, é claro.
— Ok, agora pare de comer queijo ou vai passar mal. Você sabe que não pode comer essas coisas, — sua mãe, Sarah, ralhou. Sem deixar sua mãe ver, revirou os olhos e prendeu o riso ao ver o irmão fazer o mesmo. Eles não gostavam de serem tratados como crianças, mas também não paravam de agirem como tais.
— Hoje tem pudim — Dylan falou, e os olhos de brilharam na mesma hora.
— Hum, parece que alguém gostou mesmo dessa sobremesa. — olhou para a mãe, sabendo que a mulher não gostava muito de fazer doce, mas desde que aprendera a fazer a sobremesa, aquela tinha se tornado quase um prato principal.
— Culpe o seu pai, ele não perde a oportunidade de pedir. — A matriarca deu de ombros, colocando os pratos na mesa.
— Obrigada, pai. — sorriu para o pai. Ela era considerada uma formiga por todos, não é à toa que desde criança comia açúcar puro escondida na cozinha.
— Vamos almoçar, porque tô sentindo que daqui a pouco você vai fugir de nós. — Sarah estreitou os olhos, sabendo que não conseguiria ficar um pouco mais de duas horas ali dentro. A questão não é que ela não gostava, mas lhe agradava muito mais o silêncio da sua própria casa.
— Desculpa, não gosto de deixar o Sulley e o Wazowski sozinhos. — Ela realmente sentia muito.
— Não acredito que esses são os nomes dos seus gatos — Dylan retrucou.
— Você chama o seu cachorro de Bambi, vai mesmo falar dos nomes dos meus gatos? — olhou séria para o irmão.
— Alessia tinha apenas sete anos quando adotamos o cachorro, não ia estragar a felicidade dela. — Ela revirou os olhos, como se aquilo não fosse desculpa o suficiente para colocar o nome de um cachorro de Bambi.
— Ótimo, vocês dois continuam os mesmos. — Michael riu, terminando de tomar a sua taça de vinho e ajudando a esposa a colocar a mesa para o almoço.
— Alguns hábitos nunca mudam, pai.
Todos sentaram ao redor da mesa, após Sarah colocar a lasanha no centro, pronta para ser devorada. serviu mais um pouco de vinho, aproveitando que não iria voltar dirigindo para a casa, já que Dylan tinha dito que a volta ficaria por conta dele. Enquanto Michael contava sobre o último jogo de basebol que tinha assistido, Dylan e tentavam fazer alguns comentários também, mas eles não eram muito fãs do esporte. Tanto Michael quanto Sarah sabiam disso, mas eles sempre tentavam se manter ocupados enquanto a temporada de hóquei não começava, diferente de , que vivia para o esporte.
— Já ficou sabendo da notícia, ? — Sua mãe parecia animada, mas o olhar que Dylan lançou em direção a mulher não foi dos melhores, por mais que ela não tivesse visto.
— Que notícia, mãe? — perguntou, curiosa.
— Acho que não é um assunto para o almoço — Dylan respondeu, e franziu a testa.
— Ok, conta logo, estou curiosa agora.
está de volta. Parece que conseguiu um emprego melhor aqui, Ethan também acabou se mudando. Parece que eles vão se casar no próximo outono…
Não importava mais o que Sarah contava, não estava mais prestando atenção. Os pais de nunca souberam o real motivo pelo qual a filha parou de falar com a sua melhor amiga. Aparentemente, achavam que tinha sido por causa dos rumos diferentes que suas vidas tiveram. Mas apenas Dylan sabia de todos os sentimentos que , um dia, nutriu por , e aquela não era a notícia que esperava receber em um almoço de domingo.






, você já marcou a prova do vestido? Marcou a prova do buffet? E os convites? Os vestidos das madrinhas já foram escolhidos?
olhou no relógio mais uma vez, respirando fundo antes de fechar a porta do banheiro e se esconder lá dentro. Enquanto do lado de fora do quarto, sua mãe, Grace, falava sozinha. não se deu ao trabalho de responder aquelas perguntas, elas já tinham sido feitas, no mínimo, um zilhão de vezes na última hora. Ela ainda precisava se arrumar e sair para o trabalho, as coisas do casamento poderiam ficar para mais tarde.
Bem, era o que pensava.
Quando a água bateu em seu corpo, foi o único momento naquela manhã que ela se permitiu relaxar. Fez de conta que não existia uma lista enorme de tarefas para ser cumprida, nem que existia uma Grace no lado de fora do quarto, provavelmente, furiosa com as tarefas que ainda não havia cumprido. E, muito menos, que não tinha um casamento para planejar. O seu próprio casamento.

Casamento ou matrimônio é um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, cultural, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto por muitos como um contrato.

Aquela definição encaixava perfeitamente com a vida que , provavelmente, teria. Afinal, casar nunca foi seu sonho e nem sua prioridade, ainda que conhecesse Ethan desde o último ano da faculdade. Mas desde então sua vida teve uma mudança drástica e teve a sensação que foi naquele ano que perdeu totalmente o controle das coisas que aconteceram a seguir. Ela não sabia se ficava feliz de estar de volta a Boston, por mais que tivesse passado os melhores momentos da sua vida ali, ela também estava ciente de toda a carga emocional que aquele lugar sempre acarretaria em sua vida. Principalmente, pelo fato de ter entregue o convite de casamento para a família . Bem, apenas para Michael e Sarah, ela não teve nem coragem de mencionar na sua lista de casamento.
Isso a corroía por dentro. Mas foi uma decisão que ela precisou tomar, para o seu próprio bem.
, eu estou falando com você há horas. — Grace adentrou o banheiro, sem se importar se a filha já tinha tomado o seu banho.
— Mãe, pelo amor de Deus! Eu estou tomando banho. — Ela desligou o chuveiro, se enrolando na toalha. — Eu sei que você está falando há horas, está repetindo a mesma coisa desde que chegou. Eu preciso trabalhar, e você deveria ir pra sua casa.
Num rompante de raiva, extravasou. Sua mãe sabia extrapolar todos os limites, mas com o tempo aprendeu a ser firme com a mãe, mesmo quando não queria.
— Você está me expulsando da sua casa? — O olhar firme de Grace fez se sentir uma garotinha novamente, mas ela não tinha mais doze anos, ela não precisava passar por aquilo.
— Não, estou dizendo que tenho outros compromissos e não estou disponível o dia todo. Já respondi o que você queria, agora eu preciso trabalhar. — Se a expulsasse de casa, Grace certamente faria mais uma das suas chantagens emocionais. não tinha mais tempo e nem paciência para lidar com aquilo.
Quando Grace murchou os ombros ao ouvir a resposta da filha, tinha mesmo entendido que havia exagerado. Então virou as costas e fechou a porta do banheiro, deixando sozinha novamente. Um gemido exasperado escapou dos lábios de , ela não lembrava mais do último dia que tinha realmente ficado sozinha naquele apartamento. O último dia que aproveitou o silêncio da sua própria casa já não era uma memória tão recente quanto gostaria. Desde que comunicou sua família sobre o noivado, foi como se tivesse dado passe livre para a sua mãe voltar a ser presente na sua vida, mas a verdade é que não gostava de quando Grace controlava tudo. Uma vez livre das garras da mãe, jurou nunca mais voltar para o mesmo lugar.
— Você quer uma carona para a clínica? — Grace perguntou quando apareceu, vestida com o uniforme do trabalho na sala, minutos mais tarde.
— Não, obrigada. — Ela gostava de ir sozinha para o trabalho, durante o caminho colocava uma música e tentava esquecer os problemas que a incomodavam. Não gostava de deixar que seus problemas pessoais afetassem seu desempenho no serviço. — Eu vou tentar marcar essa prova do buffet logo, então te aviso, ok? — Grace pareceu mais alegre dessa vez, como se sua insistência tivesse surtido algum efeito positivo. Mesmo que achasse totalmente o contrário.
— Tudo bem. Seu pai não está muito feliz com tudo isso, mas tenho certeza que ele não vai aguentar quando te ver de noiva.
— Não é como se o papai estivesse feliz o tempo todo, raramente algo o agrada. — A verdade é que Robert era mais pão duro do que aparentava, se não fosse por Grace, ele não gastaria um centavo de toda a sua fortuna.
— Ele trabalhou muito para ter o que tem hoje. — Grace sempre defenderia o marido, então era uma discussão que não estava disposta a entrar.
Após se arrumar e sair de casa, o pequeno percurso até o estacionamento do prédio em que morava foi silencioso. Ainda que se sentisse um pouco mal por ter sido rígida demais com a sua mãe, ela também se sentia bem em conseguir impor um limite, e, de certo modo, conseguir ter mais controle da sua própria vida. Algo que alguns anos atrás, isso não era possível. Por fim, deixou aqueles pensamentos para trás, ela teria um dia cheio na clínica. Se concentrar em seu trabalho era sua prioridade no momento, então se despediu de sua mãe no estacionamento e dirigiu até o trabalho.
Durante o pequeno trajeto, deixou o rádio ligado; em meio às notícias, ela se permitia prestar atenção na letra das músicas, ao mesmo tempo que tentava não pensar em nada. A manhã tinha sido exaustiva, mas qualquer momento consigo mesma era sempre bem-vindo. até se permitiu cantarolar, mesmo que errado, as músicas que tocavam no rádio, e toda vez que percebia que a letra estava errada, ela ria de si mesma. Pelo menos, naquele momento, a tensão que sentia em seus ombros se dissipou.
Oh, saturday sun, I met someone. Don't care what it costs, no ray of sunlight's ever lost cantarolou quando saiu do carro, o estacionamento da clínica em que trabalhava não estava tão cheio. Isso era um bom sinal.
— Que bom humor — Janice comentou, sorrindo, ao estacionar ao lado de .
— Ah, é o jeito, né? — deu de ombros, sorrindo para a colega de trabalho.
— Fiquei sabendo que Lenna está de volta. — Os olhos de brilharam, estava aliviada com a notícia. Lenna era uma senhora cheia de comentários sarcásticos e histórias vividas na juventude que contava para os enfermeiros, mas que, no fundo, tinha um coração bom. tentava não se apegar aos pacientes, sabendo que qualquer dia que ela chegasse, eles não estariam mais lá. Principalmente agora, no novo emprego, onde estava trabalhando há pouco mais de um mês, mas a conexão que teve com Lenna foi quase instantânea, que nem sequer tentou esconder o carinho que nutria pela senhora.
— Que ótima notícia. — colocou a mochila no ombro, caminhando ao lado de Janice para dentro da clínica.
— Você sabe o que isso significa, não é? — olhou para Janice, esperando uma resposta. — Mais trabalho, é claro. Lenna é tão teimosa.
— Bom, eu já estou familiarizada com tanta teimosia, que dificilmente Lenna me dá trabalho. — Naquele momento pensou na relação com a sua mãe, e nada chegava perto da teimosia daquela mulher. Lidar com Lenna não era nenhum trabalho para .
— Eu não sei qual é o problema dela com todos nós, mas com você ela é sempre tão… — parou de caminhar, virando-se de frente para sua colega, mas a expressão que encontrou no rosto de Janice foi quase de inveja.
— Tudo tão?
— Sei lá, com você é tudo mais fácil. — Janice deu de ombros, voltando sua atenção para o celular.
— Não é, acredite em mim. Mas tem que ter um jeitinho com Lenna, e ela vai te ajudar a fazer o seu trabalho, só isso.
— Ah, isso é quase impossível.
balançou a cabeça, rindo baixo e voltando a fazer o seu caminho. Lenna estava longe de ser a paciente mais fácil de lidar na clínica, mas não era impossível, um pouco de conversa aqui e ali, e pronto, você já tinha feito o seu trabalho no final. Quando entrou na clínica, a correria pela troca de turno já era tão habitual que ela conseguiu desviar dos colegas de trabalho e ir direto para o vestiário, guardou sua mochila no armário e começou o seu turno. Enquanto caminhava para a ala infantil, passou em frente ao quarto de Lenna e foi inevitável ouvi-la reclamar do enfermeiro que tentava tirar sangue de seu braço.
— Senhora Carter — a cumprimentou, controlando o sorriso em seu rosto.
Lenna pareceu aliviada quando encontrou com o olhar de , mas não tirou a carranca mal humorada do rosto.
— Ei, deixa comigo. — Dylan não demonstrou nenhuma resistência em tentar fazer seu trabalho, e logo saiu do quarto, deixando apenas e Lenna no cômodo. — Então, Lenna, vejo que você anda dando trabalho para os meus colegas.
— Não é culpa minha, . — Lenna nunca a chamava pelo nome, o que soava até engraçado para . — Mas que bom que você já chegou. E, bem… não foi dessa vez que eu parti para o outro plano.
— Lenna! — Dessa vez, não conseguiu controlar o riso. A conversa fiada era tão natural entre as duas, que Lenna parecia não notar que tirava sangue de seu braço. E se notava, bom, então ela fingia muito bem.
— E o casamento? Eu não sou surda, escutei a fofoca entre os seus colegas, mas então eu fui parar no hospital antes de conseguir comentar com você. — Os olhos verdes de Lenna não eram julgadores, mas curiosos.
— Eu juro que faria você voltar para esse plano a todo custo só para eu mesma poder contar a novidade. — tentou parecer animada, mas algo dentro de si não a deixava mais tão entusiasmada quando contava sobre o noivado.
— Não, por favor! Eu ficaria bem lá, não se preocupe. — Lenna calçou o chinelo peluciado, caminhando até a janela, esperando que falasse sobre a novidade. Quem visse de fora entenderia que eram duas grandes amigas, e que tinha todo o tempo do mundo para ficar horas e horas conversando com a senhora Carter. No fundo, ambas gostavam da companhia uma da outra e era isso que os outros enfermeiros não conseguiam compreender. Entretanto, essa parte elas também não faziam muita questão de explicar.
— Então… — Lenna sentou na poltrona próxima da janela, apertando o cardigan no corpo pequeno, e esperou que fizesse o mesmo. — Eu espero uma história romântica, de desastre já basta a minha vida.
— Foi tão romântico que eu acho que você vai ficar até enjoada. — respondeu rindo ao lembrar do pedido de casamento, voltando a sentir as famosas borboletas da boca do estômago.
— Essas são as melhores.


Continua...


Nota da autora: Essa história tem um lugar especial no meu coração, e eu espero que vocês gostem tanto quanto eu. Só posso dizer que elas têm muita coisa pra nos contar. E não esqueçam de comentar. Até a próxima ❤️

💫


Nota da Beth Aurora Boreal: Meu Deus, como AMO essa fanfic, estou me sentindo muito honrada que a Fer me escolheu para ser beta dessa preciosidade! Já fui perguntar a ela quando a atualização estará no meu e-mail, pois aqui trabalhamos assim e eu estou morrendo de curiosade para saber o que rolou entre essas duas! ❤️

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