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Revisada por: Sagitário

Última Atualização: 27/01/25
Se havia uma coisa que eu tinha certeza naquele momento, era que eu não gostava de Bristol. Não gostava de suas ruas suburbanas, seus jardins mal-cuidados, seu desleixo implícito. A mochila que eu carregava pesava na minha coluna, cheia de livros que eu pretendia deixar pela escola no primeiro dia de aula, já que não gostava de estudar em casa — se é que houvesse algo que eu gostava de fazer na construção altiva de tijolos avermelhados número 52 da rua Fort Laufendale.
Minhas sapatilhas gastas me carregaram pelas ruas, e o som suave dos solados ao bater contra o concreto me entreteve como uma sinfonia. Era uma das minhas favoritas: tinha uma cor bonita e, por estar severamente usada, era extremamente confortável, e eu a sentia deslizar contra a meia-calça cor de pele que eu usava. Era a única parte que eu me permitia ser imperfeita, os malditos sapatos gastos. De resto, o suéter azul-céu perfeitamente passado a ferro e engomado cobria a camisa social branca, a saia marrom xadrez sob medida, nem tão longa e nem tão curta, e a meia-calça sem nenhuma parte desfiada diziam o suficiente: que eu me levava a sério o bastante para me portar com equilíbrio e graça.
Ao seguir o mapa no panfleto da escola, finalmente cheguei a Roundview College, a escola na qual eu terminaria o ensino médio. Não havia nada especial nela; era precária e quase decadente em sua imponência barata, um local descuidado como tudo parecia ser naquela cidade. Com um suspiro, ignorei os adolescentes que se aglomeravam no pátio e caminhei até a secretaria para me informar sobre as aulas e o meu número de armário. Conversei por um momento com uma senhora agradável chamada Bessie, a secretária do diretor, e ela me instruiu em tudo que eu precisava saber.
— Obrigada, Sra. Porter.
— De nada, querida. Qualquer coisa, se precisar de mais informações, estarei por aqui!
Acenei com um leve sorriso e deixei a secretaria com meus horários na mão. Tinha uma aula de filosofia em breve, de inglês em seguida. Restava-me apenas guardar as coisas no armário e me preparar para estudar.
Quando estava quase alcançando o B41, dei de cara com uma camisa vermelha e um cheiro forte de cigarro. Franzi a testa e encarei o sujeitinho na minha frente de cima a baixo. Senti meu nariz se franzir levemente.
— Posso ajudá-lo? — questionei num tom petulante.
— Acho que sim, princesa. Pode me dizer seu nome. — O garoto sorriu, os olhos brilhando com divertimento.
— Está bloqueando meu armário — respondi sem paciência ao apontar para o B41.
O garoto vacilou, mas seu sorriso logo voltou ao rosto.
— Difícil, hein? Acho que irei te chamar de princesa, então, parece com uma de qualquer forma. É nova aqui, não é? Nunca te vi antes.
— Observador, hein? — Tentei contorná-lo para chegar ao armário, mas ele apenas colocou-se na frente novamente, cruzando os braços, os olhos azuis me observando como se eu fosse um pedaço de carne.
— Não quer mesmo me dizer seu nome, princesa?
— Não. No momento, só quero guardar minhas coisas no armário.
Ele pareceu entretido pela minha atitude enquanto umedecia os lábios.
— Caramba, não precisa ser tão arisca. Só quero te conhecer, princesa… — Ele pareceu notar o peso que minha bolsa fazia, as pontas dos livros e cadernos marcando o tecido. — Puta merda, o que tem aí de tão pesado?
— Você não saberia mesmo — retruquei, dessa vez com um meio sorriso, já que o rapaz não parecia ter visto um dia de estudo na vida. Finalmente ele me deu espaço para alcançar o armário, e usei a combinação escrita por Bessie no papel para abri-lo, finalmente começando a guardar todo aquele peso.
O garoto me observava minuciosamente, e senti minhas bochechas corarem levemente. Odiava ser observada.
— O que você quer?
— Já disse, princesa. Saber seu nome. Não sairei daqui enquanto não me disser, então se quiser se livrar de mim, a condição é essa.
Suspirei e me virei para encará-lo. Era uma cabeça mais alto, com cabelos castanhos lisos e olhos azuis profundos. O tipo de garoto que meus pais adoravam me alertar contra.
. Meu nome é .
. — Ele permitiu que o nome deslizasse pela língua como mel. — Por que nunca te vi por aqui, princesa?
— Acabei de ser transferida de Derby. — Empilhei os livros de acordo com as aulas para ficar mais fácil de pegá-los nos intervalos, finalmente fechando o armário e me virando para encará-lo, cruzando os braços.
— Ora, bem-vinda a Bristol. — Abriu os braços como se a cidade fosse grande coisa. Seus olhos viajaram pelo meu corpo, parando nas minhas coxas. — Tem belas pernas, princesa. Você malha ou algo assim?
Soltei um riso de deboche.
— Não vou dar para você, certo?
Ele riu e levantou as mãos em sinal de rendição.
— Uau, isso escalou bem rápido, não foi? Eu estava apenas admirando a vista, querida.
Ele abaixou as mãos e olhou para mim, divertindo-se com minha franqueza.
— Você realmente não está interessada em mim, hein?
— Eu deveria?
O garoto soltou uma risada escandalosa, olhando em volta como se eu houvesse dito algo muito engraçado. Continuei séria.
— Por que não? É seu namorado, princesa? Tem um namorado?
— Meus pais não me deixam namorar.
Ele vacilou, franzindo a testa.
— Como assim? Quantos anos você tem?
— Dezesseis.
— Dezesseis, hein? Mais nova que eu, mas não me importo. Poderia te levar para sair, o que acha? Não precisamos namorar.
Soltei uma risada de escárnio, abraçando um dos cadernos contra o peito.
— E quantos anos você tem?
— Dezessete. Vai me reportar para a polícia, bonitinha? — Ele coçou a nuca, seus olhos novamente passeando. — Brincadeiras à parte, sério. Seus pais não te deixam namorar até fazer dezoito?
— Queria eu. Até pelo menos vinte.
Ele ergueu as sobrancelhas, estupefato.
— Vinte? Cacete. O que seus pais estão tentando fazer, te transformar numa freira?
Pela primeira vez, uma risada genuína escapou dos meus lábios.
— Tipo isso. Eles são muito religiosos.
Ele coçou o queixo, pensativo.
— Ah, isso explica. Você diz que seus pais não te deixam namorar, mas isso não te impede de beijar garotos, não é?
Dei de ombros, um meio sorriso enigmático nos lábios que fez com que ele abrisse um galanteador que, embora eu detestasse admitir, me trouxe um sentimento estranho no estômago.
— Droga de pais. Sempre arruinando as coisas boas da vida, não é? — Ele colocou uma mecha dos meus cabelos atrás da minha orelha, e precisei me obrigar a não reagir. — E você é uma boa garota, sempre fazendo o que eles mandam.
Antes que eu pudesse responder, dois garotos o chamam no fim do corredor.
— Parece que a cavalaria está lhe recrutando. — Notei.
Ele soltou um risinho, a língua umedecendo os lábios.
— É engraçada, princesa. Gostei de você — apontou como se fosse um mérito imenso. — Não irá se ver livre de mim tão fácil.
Antes que eu pudesse protestar, pegou minha mão, pressionando os lábios gentilmente contra as costas dela, seus olhos nos meus. Eu podia compreender perfeitamente o perigo que meus pais me alertavam tanto sobre enquanto olhava naqueles pedaços do céu.
Sem ao menos se despedir, correu para falar com os amigos, deixando-me para trás, uma estranha sensação de vazio se instalando em meu peito.
Ele nem sequer havia me dito seu nome.


Continua...


Nota da autora: Minha primeira fic de skins depois de voltar a assistir! Assisti a primeira vez quando era adolescente, e fui obcecada pelo Cook e pelo ator (Jack O'Connell) desde então ❤ espero que gostem!

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