Revisada por Aurora Boreal 💫
Atualizada em: 12/06/2025
— Você não deveria ter chego tão tarde da festa ontem — ela comentou e eu suspirei.
— Mãe! — reclamei, franzindo a testa.
— Não começa! — ela falou. — E você sabe que seu pai não gosta que você fique andando com Spike.
— Mãe, foi a festa de formatura da faculdade, você sabe. Eu acabei o curso! — Abri um largo sorriso. — Eu precisava comemorar.
— Eu sei. — Ela suspirou. — E estamos muito orgulhosos de você. — Dei um sorriso de lado, suspirando.
— E, outra, Spike é meu namorado, vocês gostem ou não. — Ela suspirou e balançou a cabeça.
— Toma o remédio e tenta dormir, você está com febre. — Ela suspirou e confirmei. — Vou dizer para o seu pai que você não vai para o mercado amanhã.
— Não mesmo! — falei, alto, fazendo-a rir. — Pela primeira vez em quatro anos eu vou poder dormir até tarde. — Ela concordou com a cabeça.
— Boa noite! — ela falou, dando um beijo em minha testa e puxando minha coberta para cima. — Parabéns, minha formanda. — Sorri.
— Obrigada, mãe! — Suspirou. — Amo vocês! — Minha mãe sorriu, apagando a luz do meu quarto.
— Também te amamos, querida! — Ela fechou a porta do meu quarto e ouvi seus passos se afastarem para seu quarto.
Coloquei o remédio do lado da cama e joguei as cobertas para frente, me levantando devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Acendi meu abajur e tirei meu pijama, jogando—o para os lados, e peguei a roupa que eu havia deixado pendurada atrás da porta e coloquei rapidamente, colocando um moletom em seguida. Calcei meu tênis bem apertado e ouvi barulhos, me fazendo parar o que fazia.
— Não fique assistindo isso até tarde, precisamos receber a mercadoria do mercado cedo. — Ouvi minha mãe falar e senti minha respiração acelerada.
— Pode deixar! — meu pai respondeu e o silêncio prevaleceu novamente.
Me debrucei na cama e puxei minha mochila debaixo da mesma, junto com o secador que eu usei para fingir minha febre e coloquei ambos em cima da cama, conferindo rapidamente as poucas trocas de roupa e meu salário do mercado rapidamente para pequenos gastos e soquei tudo dentro da mala, conferindo o horário no relógio ao lado da cama.
Assim que o relógio virou onze da noite, ouvi um barulho fino bater contra a minha janela e esperei ouvi-lo novamente antes de me aproximar dela e ver Spike no quintal do primeiro andar. Corri até a porta e tranquei a mesma, ouvindo o baixo clique dela e segurei minha respiração por alguns segundos, esperando a reação de alguém.
Ouvi novamente o barulho na janela e segui para ela, abrindo-a devagar, segurando-a com o trinco e peguei minha mochila, colocando-a nas telhas e me debrucei sobre a janela e subi na mesma, tentando fazer o mínimo de barulho possível, e, quando me vi para fora, abaixei a mesma devagar, soltando-a levemente quando a fechei.
Caminhei devagar e abaixada pela telha e quando cheguei na beirada da mesma, vi Spike sorrindo para mim lá embaixo e joguei minha mala para ele, que a pegou facilmente e a pendurou em suas costas.
— Vem pelo canto, devagar! — Ouvi sua voz baixa e segui por onde ele falou, olhando para baixo, vendo que não era alto, seria fácil.
— Me segura! — falei, me colocando de costas para a beirada, respirando fundo.
— O que você está fazendo? — Me assustei com a voz do meu pai na janela do seu quarto. — Aonde você vai? Marissa, ela está fugindo!
— Vem logo! — Ouvi Spike gritar e eu soltei meu corpo para baixo, sentindo-o bater contra Spike e nós dois cairmos no chão.
Vi as luzes de casa se acenderem e nos levantamos correndo e entramos no carro correndo, e Spike colocou a chave na ignição e o carro não ligava.
— Vai logo! — gritei, batendo minhas mãos no painel.
— Não quer ligar, tá frio demais! — ele falou, forçando a chave novamente.
— Olívia! — Minha mãe saiu pela porta da frente de pijama, correndo em minha direção.
— Liga! — Spike gritou, quando o carro realmente pegou e ele mudou a marcha rapidamente.
— Você vai se arrepender disso. — Ouvi minha mãe falar em meio aos choros.
— Se você fizer isso, nós não te aceitaremos de volta. — Ouvi meu pai falar e engoli em seco, vendo as casas passarem como borrões, quando Spike acelerou com o carro.
Olhei para trás rapidamente, já não conseguindo mais ver minha casa ou minha família e suspirei, sentindo uma lágrima solitária em meu rosto e respirei fundo. Spike colocou sua mão em minha perna e virei o rosto para ele, vendo o ruivo sorrir.
— Você tem a mim. — Ele falou e eu sorri, apertando sua mão. — Eu estarei aqui para sempre! Eu te amo! — ele falou e eu sorri, encostando minha cabeça no banco e vendo as casas de Puerto Limón passarem rapidamente pela minha vista, mas optei por fechar os olhos, me fazendo respirar fundo.
O despertador tocou às quatro e meia da manhã, e eu respirei fundo, batendo a mão no mesmo e me coloquei sentada na cama, esticando meu corpo. Passei a mão pelo rosto e tirei minha viseira, abrindo os olhos devagar e encontrando meu quarto sendo iluminado somente pela luz do poste que entrava pelas cortinas claras.
Acendi o abajur e me estiquei na cama, alongando meus braços para cima e torcendo o pescoço, ouvindo-o estralar e suspirei, jogando meus pés para o lado. Puxei o celular da tomada e coloquei minha senha, vendo as centenas de notificações no meu e-mail e nas redes sociais da minha empresa e bloqueei novamente. Eu tinha empregados para conferir isso para mim.
Andei até o closet e abri a porta, vendo as luzes se acenderem e procurei pela roupa de ginástica que eu havia separado ontem e a coloquei, tentando não me apressar, nem atrasar no meu horário. Sentei-me na cadeira ao lado da porta e calcei os tênis, ficando pronta.
Fechei a porta do meu closet, puxando minha bolsa arrumada e a joguei na cama, seguindo para o banheiro e fazendo rapidamente minhas necessidades matinais, escovando os dentes, meus cabelos e fazendo um rabo de cavalo alto. Passei um lápis e um batom claro no rosto e saí do banheiro, puxando a porta em seguida.
Liguei a luz do quarto e apaguei a do abajur, dando uma conferida rápida no mesmo e abri a porta do quarto, imediatamente, ouvindo o barulho de música alta vindo da vizinhança e respirei fundo, fechando a mão em punho forte. Saí do quarto fechando a porta, agradecendo o isolamento extra que eu havia colocado nos quartos e no escritório.
Larguei a bolsa na mesa da sala e andei até o outro quarto e abri a porta devagar, observando a luz do abajur refletir na cúpula com estrelas e girar pelo quarto. Minha filha dormia calmamente ali, abraçada em sua boneca de pano que eu havia dado em um dos seus aniversários. Bee, sua gata mesclada, aproveitou a fresta da porta e saiu do quarto, se enroscando em minhas pernas, antes de ir atrás do seu pote de ração e água.
Após conferir que tudo estava bem, puxei a porta novamente, fazendo o mínimo de barulho para fechar e a deixei continuar seu sono calmamente. Peguei a chave do carro no chaveiro ao lado da porta e corri para a cozinha para pegar uma banana e andei pela sala, parando em frente a porta e puxando forte a respiração, antes de destravar e abrir a mesma.
Se eu achava que a música dentro de casa estava ruim, lá fora estava pior. O som fazia as paredes tremerem e minha cabeça querer explodir. A porta do outro lado do corredor estava aberta e eu podia ver algumas luzes brilhantes refletirem pelo corredor claro e algumas pessoas correndo pelo outro lado. Conferi o relógio novamente, eram cinco horas da manhã.
Ignorei a zona do meu vizinho e apertei o botão do elevador, vendo-o subir pelo contador acima da caixa de metal e coloquei a mão na cabeça, respirando fundo. O elevador se abriu e mais quatro pessoas saíram do mesmo gritando e sacudindo seus copos com cerveja, derrubando no lobby do meu andar e eu afastei alguns passos para trás, para que eu não fosse atropelada por eles.
Entrei no elevador, apertando o botão do térreo e abri minha mochila, pegando meu perfume e espirrando um pouco pelo elevador, esperando que aliviasse o cheiro de fumaça e bebida. Dei uma olhava rápida em meu celular antes do elevador chegar ao térreo. Saí do mesmo, seguindo para a garagem e entrei no carro, jogando minha bolsa para trás e dirigi até a academia.
O dia estava começando a dar o ar da graça, os raios de sol começavam a passar pelas nuvens e iluminar o Upper East Side em Nova York. Parei o carro em frente a academia e saí do mesmo, ouvindo o alarme travar e passei pelas portas duplas da academia, vendo-a vazia ainda, do jeito que eu gosto.
— Bom dia, senhora Weddburg — o porteiro falou para mim e eu acenei com a cabeça. — Em ponto, como sempre.
— Bom dia! — Sorri para ele, acenando com a cabeça e segui para os armários, guardando minha bolsa em um dos espaços vazios e segui para a esteira, começando os trabalhos daquela manhã.
Fiz meu treino em exatamente 45 minutos, ficando sozinha na academia por mais da metade desse tempo, até que outros sócios começaram a aparecer, fazendo que aquele lugar começasse a encher.
Antes da zona se formar, eu entrei no banheiro, tomando meu banho completo, lavando meus cabelos compridos e me preparando para mais um dia de serviço. Coloquei uma roupa genérica, que seria trocada quando eu chegasse em casa, juntei minhas coisas e saí da academia, acenando para os professores e porteiro daquela manhã.
Enquanto comia minha fruta, dirigi meu Porsche Cayenne de volta para o apartamento, estacionando-o na garagem subsolo e entrei no elevador novamente, apertando o botão do último andar, jogando a cabeça para trás, pensando na festa que estava acontecendo quando saí mais cedo. Suspirei e senti o elevador parar no meu andar e as portas se abriram.
— Ah! — Tomei um susto ao ver algumas pessoas adormecidas na frente do elevador, e passei por cima delas, tomando cuidado onde pisei e vi a quantidade de copos de plástico jogados pelo corredor.
Virei o rosto para a porta da frente e ela estava fechada e não tinha mais som rolando. Revirei os olhos e caminhei até meu apartamento, colocando a chave na porta e entrei no mesmo, me livrando da bolsa na mesa da sala de jantar. Um miado me distraiu e Bee voltou a andar em volta das minhas pernas e eu revirei os olhos.
— Sua comida já está lá! — falei para ela e andei até o quarto de Ellie, abrindo a porta devagar e segui até sua cama, sentando na beirada da mesma. — Bom dia, dorminhoca! — Passei a mão em seus cabelos claros, vendo-a fazer uma careta. — Vamos acordar! — Dei um beijo em sua cabeça e fiz um carinho em suas costas.
— Bom dia, mãe! — ela falou, baixo, enquanto se sentava na cama.
— Olá, querida! — falei e ela me abraçou forte, pude ouvi-la bocejar contra minha orelha e estralar um beijo em minha bochecha.
— Oi! — ela falou, coçando os olhos e eu joguei seus cabelos para trás.
— Vamos levantar? — perguntei e foi o que eu fiz, ficando ao lado da sua cama.
— Já vou! — ela falou, com a voz baixa, e eu me aproximei da janela, abrindo o blecaute, deixando as luzes da manhã entrarem em seu quarto, observando a Quinta Avenida lá embaixo e o Central Park do outro lado da rua.
Observei os quadros da gravidez de Ellie, até seu nascimento, em sua parede rosa clara e saí de seu quarto, me caminhando para a cozinha.
— Bom dia, senhora Weddburg — ouvi minha empregada falar, enquanto entrava no meu apartamento e eu sorri.
— Bom dia, Brigite, tudo bem?
— Tudo bem, senhora, e contigo? — Ela sorriu.
— Tudo bem! — Ela concordou.
— Precisa de alguma limpeza especial hoje? Além do corredor, é claro! — Ri fraco, colocando minhas mãos em seus ombros.
— Só meu escritório mesmo. — Ela concordou com a cabeça. — Está começando um novo mês, contas, pagamento de empregados, é aquela loucura de novo. — Ela sorriu.
— E o corredor? — ela perguntou.
— Deixe que meu vizinho cuide disso, a festa foi dele! — Dei de ombros e ela riu, afirmando com a cabeça.
— Sim, senhora! — Ela sorriu.
— Você pode ficar de olho na Ellie hoje? Anna não pode vir de segunda e certeza de que eu vou ficar até tarde na rua. — Ela riu, fraco.
— Como se Ellie me desse algum tipo de trabalho — ela respondeu e eu sorri.
— Fico feliz em saber disso! — falei, seguindo para a cozinha, abrindo os armários e geladeiras e separando frutas, cereais, sucos e leite para o café da manhã de Ellie e deixei tudo em cima da bancada.
— Oi, mãe! — Ellie apareceu na cozinha com seu uniforme preto, branco e amarelo e escalou o banco da cozinha, se sentando na mesma.
— Oi, meu amor! — falei, estalando um beijo em sua testa. — Você se vira aqui? Eu vou me arrumar!
— Uhum! — ela falou, começando a misturar o leite com o cereal e eu corri de volta para meu quarto.
Me coloquei em frente ao espelho do meu banheiro e peguei o secador, secando-o com a mão esquerda e escovando com a mão direita. Joguei meus cabelos para trás e passei a escova pela franja, fazendo-o cair em ondas. Abri minha gaveta de maquiagens e fiz uma completa, base, pó, sombra, máscara, lápis, blush, batom e tudo o que eu tinha direito. Passei a mão em meus lábios com batom escuro e joguei meus cabelos para trás, abrindo um sorriso com o que vi.
Voltei para meu closet e procurei pela minha saia e camisa social e vesti, ajeitando a blusa para dentro da saia e me olhei no espelho, girando meu corpo, conferindo o look e fui ao armário de sapatos, olhando as opções e acabei escolhendo um salto nude. Coloquei meus acessórios e saí do closet, puxando a porta.
Passei pela divisória do meu quarto e entrei no escritório, juntando meu notebook e tablet e ajeitei tudo na minha mochila. Peguei a pasta com amostra de compras para o próximo mês, a tabela de contas da empresa e coloquei tudo na minha bolsa, jogando o celular e a carteira juntos.
Voltei para a sala, mas passei pelo banheiro de Ellie, vendo-a debruçada na pia, em cima do pequeno banquinho que tinha em seu banheiro. Deixei as coisas na mesa da sala de jantar e conferi minha agenda ao lado da mesa do telefone, tirando o trabalho, nenhum compromisso meu ou de Ellie. Soltei um suspiro e ouvi minha pequena correr de volta para a sala com sua mochila nas costas.
— Estou pronta! — ela falou, apoiando a mão na cadeira.
— Vamos, então! — falei, ajeitando a mochila nas costas e a bolsa na mão.
— Tchau, Brigite — ela falou para a nossa empregada e eu assenti com a cabeça.
— Vou pedir para o Gabriel deixá-la aqui após a aula — falei e ela confirmou com a cabeça.
— Eu estarei esperando. — Ela sorriu.
— E não se esqueça de almoçar, tem dinheiro na gaveta. — Ela concordou com a cabeça.
— Você fala isso todo dia, senhora.
— Se você me obedecesse, eu não precisava falar. — Pisquei para ela, que riu. — Tenha um bom dia!
— Vocês também! — ela respondeu, seguindo com sua vassoura para dentro.
— Tchau, Brigite, tchau, Bee — minha pequena de onze anos falou, seguindo saltitante para a porta e abriu a mesma. — Eca! — ela falou rápido e eu corri para onde ela falava, vendo a entrada de casa do jeito que eu havia visto mais cedo, mas dessa vez não tinha pessoas bêbadas deitada no lobby do meu andar.
— Isso não é problema nosso, vamos! — Ela segurou minha mão e andamos até o elevador, vendo-o se abrir em nossa frente, antes que apertemos os botões, um moço bem mais jovem que meu vizinho saiu do mesmo, usando um terno muito bonito.
— Bom dia, senhora Weddburg! — ele falou sorrindo e eu acenei com a cabeça.
— Bom dia, Bruce, vai para o trabalho? — Retribuí e ele riu.
— Tô ferrado! — ele disse, rindo e, enquanto entramos no elevador, ele seguiu para o apartamento do meu vizinho.
— Hoje eu vou demorar, tá bem, meu amor? — falei para Ellie, que brincava de vestir alguma boneca em seu tablet.
— Eu sei, mãe, relaxa. — Ela falou e eu ri, passando a mão em seus cabelos. — Estou acostumada!
Abri meus olhos e senti minha cabeça pesar, me fazendo levar a mão nela imediatamente. Soltei um suspiro alto e mantive meus olhos fechados por um tempo, sentindo alguma coisa se mexer ao meu lado... Algumas, para falar a verdade.
Ergui a cabeça e respirei fundo, encontrando uma bunda na minha visão. Passei a mão no meu rosto e me levantei, me vendo entre duas mulheres debruçadas na cama e uma terceira que se olhava no espelho, com uma blusa minha e eu suspirei, mais uma que eu perderia.
— Bom dia — ela falou e eu dei um sorriso de lado, não sabendo nem mais qual era seu nome, ou de alguma das três e segui para o banheiro.
Entrei embaixo da água gelada do chuveiro e deixei que ela levasse embora toda a ressaca e a dor de cabeça que estava palpitando em minha cabeça. Deixei a espuma do xampu cair em meu rosto e aproveitei para lavar as outras partes.
Puxei a toalha do boxe e me sequei com ela rapidamente, enrolando-a na cintura, aproveitei que estava no banheiro e escovei os dentes, enrolando bastante com o enxaguante bucal na boca, tentando fazer com que o cheiro de bebida sumisse da minha boca. Apesar de estar na minha casa inteira.
Voltei para o quarto e coloquei a primeira boxer que eu encontrei e passei a toalha nos cabelos, jogando em algum do quarto, onde as meninas já tinham ido embora... Pelo menos daquele cômodo.
Andei até minha sala de estar e fiz uma careta para a zona que tinha acontecido na noite passada e respirei fundo, colocando a mão na cabeça. Eu não cuidaria daquilo, não tinha capacidade para pensar naquilo agora.
— Aqui, meninas! — Bruce, meu assistente, falou, mostrando a porta do meu apartamento aberto para as três mulheres que estavam na minha cama mais cedo.
— Liga para gente, lindinho! — elas falaram e eu acenei com a cabeça, com um sorriso no rosto.
— Nem se iluda, ele não vai ligar — Bruce falou, empurrando a última pelas costas e fechando a porta com força. — Nunca vi peitos tão grandes na minha vida — ele comentou sozinho, balançando a cabeça, e eu ri.
— É porque você não gosta disso, Bruce! — Ele me encarou e voltou a pegar as latas e copos vazios pelo meu apartamento.
— Eu procuro alguém para viver a vida, , não vejo graça em dormir com uma... Ou três, por noite, sem perspectiva nenhuma. — Cocei a cabeça, fazendo uma careta.
— Vou deixar você pensando que foram só três. — Suspirei e mordi meus lábios. — Aspirina? — perguntei.
— Em cima do piano — ele comentou e eu observei as duas pílulas, junto com um copo de água, em cima do piano de cauda e me sentei sob seu banco para beber as mesmas. — Devo começar as falar seus compromissos do dia, senhor , ou deixamos para quando estiver disposto a ouvir? — Suspirei.
— Bem, eu não tenho escolha, mas podemos fazer isso tomando café em algum lugar? — Bruce virou o rosto para mim.
— Não sei você, mas eu vou almoçar um bife bem grande. — Olhei para ele. — São quase meio-dia, faz umas quatro horas que eu estou esperando você levantar. — Ri fraco, franzindo a testa.
— Eu vou me arrumar, então. — Me levantei novamente, andando pelo corredor.
— Estarei esperando aqui, ligando para uma faxineira urgente! — o ouvi gritar e ri fraco, balançando a cabeça.
Revirei os olhos, voltei de volta para meu quarto e passei direto para o closet. O quarto estava zoneado também, tinha vários resquícios de festa espalhados pelo local, além do cheiro forte de bebida, maconha e, provavelmente, cocaína.
Andei pelo closet e optei por uma calça social escura, uma camisa social branca e uma gravata longa da mesma cor da calça. Vesti tudo com a maior calma do mundo e prendi a calça com um cinto escuro. Segui para o armário de sapatos e peguei um da mesma cor do cinto, colocando um par de meias da mesma cor e os calcei.
Peguei o paletó da mesma cor da calça e o joguei na cama, atravessando o quarto e seguindo para o banheiro. Olhei meu rosto do espelho e constatei que podia estar pior. Espalhei gel pelas minhas mãos e joguei os cabelos para trás, pegando um pente na gaveta e penteando-o para trás.
Voltei para o quarto e atravessei a divisória que dava para o mesmo e abri a porta do meu escritório, feliz por ser a única coisa em casa que não estava zoneada, tirando todas aquelas caixas com panfletos para distribuir. Conferi alguns papéis soltos em cima da mesa e joguei tudo dentro da minha maleta, fechando-a em um estalo e a carreguei para fora do escritório, fechando a porta de madeira quando passei por ela.
Vesti o paletó, escondi a carteira e o celular nos bolsos internos e voltei para a sala com a maleta em mãos. Bruce segurava uma vassoura e juntava todo o lixo em um canto perto da porta. Ele tinha feito questão de colocar luvas e fazer uma cara exagerada enquanto varria para outro lado.
— Você não precisa fazer isso — falei para ele, apoiando a maleta no sofá.
— Eu sei! — ele falou revirando os olhos e eu preferi me calar.
— A vizinha da frente tem uma empregada, quem sabe ela tem alguém para indicar? — perguntei, com um sorriso no rosto.
— A vizinha da frente que te odeia? — Ele abriu um largo sorriso e eu respirei fundo.
— Ela não me odeia, a gente só teve alguns desentendimentos — falei, dando de ombros.
— É, sei! — Ele foi irônico e eu abri um sorriso de lado.
— Quais meus compromissos para hoje? — perguntei, mudando de assunto.
— Você vai se encontrar com membros do partido e visitar escolas — Bruce falou.
— Com membros do partido, você diz...
— Sim, seu pai estará lá! — Confirmei com a cabeça, respirando fundo. — E sua mãe também, é um almoço em comemoração à alguma coisa que está explicada no briefing que eu te passei ontem à noite...
— Que eu não li ainda. — Franzi a testa.
— Como eu suspeitei. — Ele riu, fraco. — Tem uma cópia no carro. Vamos? — Respirei fundo e confirmei com a cabeça.
— Vamos! — falei, seguindo para a porta da frente e saindo por ela.
A faxineira da linda encrenqueira que morava na minha frente estava passando uma vassoura pelo chão, recolhendo os restos de copos e o que mais tivesse sobrado da minha festa na noite anterior.
— Brigite, por favor, você não precisa fazer isso. — Bruce saiu na frente, puxando a vassoura de sua mão.
— Alguém precisa fazer isso, Bruce — ela falou, puxando a vassoura novamente da mão do meu assessor.
— Hoje mesmo eu vou contratar alguém para se responsabilizar pela sujeira do senhor . — A loira mais baixa desviou o olhar de Bruce e colocou em mim.
— E o senhor não pode cuidar da própria sujeira? — Ela olhou para mim e eu franzi os lábios, ela era arisca igual sua patroa.
— Essa doeu! — Bruce cochichou para mim.
— Bom dia para você também, Brigite — falei para ela que sorriu.
— Bom dia, senhor . — Ela sorriu. — As campanhas continuam?
— Sim, temos mais quatro meses na luta. — Ela confirmou com a cabeça. — Já decidiu se vai votar em mim?
— Já, sim. — Afirmei com a cabeça.
— Que bom! — falei e ela riu fraco.
— Já decidi se vou votar em você, não disse se sim ou se não! — Ela soltou uma risada e Bruce gargalhou ao meu lado.
— Tenha um bom dia, Brigite! — falei, passando por ela, apertando o botão do elevador.
— Bom dia! — ela falou, rindo.
— Até mais! — Ouvi Bruce falar e o elevador abriu em minha frente e eu entrei nele.
Enquanto descíamos, peguei meu celular no bolso de dentro do paletó e conferi algumas notificações no celular. A maioria eram mensagens de pessoas da noite passada, e mulheres, pedindo para eu ligar para elas. Suspirei e guardei o celular no bolso novamente. Aquilo era complicado.
O motorista já estava esperando dentro da limusine preta. Eu entrei no carro e me isolei do resto. Bruce me entregou o papel da reunião de mais cedo, mas eu logo me distraí, reuniões do partido eram chatas, o único motivo de eu ter me juntado a um partido é que eu teria o apoio do meu pai e de pessoas influentes dentro dele. Eu só queria fazer o melhor para essa cidade caótica.
Bruce falava com o telefone e comigo, eu só não sabia em que momento ele falava com quem, mas preferi continuar fingindo que não era comigo e prestar atenção nas paisagens da ilha de Manhattan.
— Onde são as escolas que vamos visitar hoje? — perguntei, interrompendo Bruce.
— No Queens. — Confirmei com a cabeça, precisava me livrar daquele terno antes disso.
— Me arranje uma troca de roupa.
— Já preparei — ele falou e eu confirmei com a cabeça.
— Obrigado! — falei, suspirando, observando um caminho por mais um tempo, antes das portas se abrirem em frente ao grande edifício antigo no Civic Center.
— Bom dia! — falei para os seguranças da porta e segui em frente, subindo as grandes escadarias do prédio.
Passei para a parte interna dos escritórios e acenava para todos os conhecidos que me viam, além de alguns trabalhadores. Bruce seguia um pouco atrás de mim confirmando alguma reunião ou evento para a minha campanha. Aquele cara devia ter metade da minha idade, precisava frear um pouco ou ficaria louco, era só trabalho e mais trabalho. Às vezes, dava vontade de jogar o telefone dele pela janela.
Respirei fundo ao parar em frente a sala do meu pai, atual prefeito de Nova York e respirei fundo, fechando os olhos e Bruce bateu em minhas costas, se desculpando e eu dei dois toques na porta, sendo recebido pela minha mãe.
— Querido! — Ela abriu os braços para mim e eu sorri, dando um rápido beijo na senhora de cabelos brancos. — Dormiu pouco, não foi? — Ela passou a mão embaixo de meus olhos e eu ri.
— Bom dia, mãe! — falei sorrindo.
— Você precisa repor suas energias, querido! — ela falou e eu ri fraco.
— Eu sei, mãe, só aproveitando um pouco. — Ela sorriu.
— Um pouco? — Meu pai saiu de sua poltrona e abriu os braços para mim. — Vai precisar de muito mais coisas para ser eleito prefeito dessa cidade.
— Estou criando meu terreno, pai, vamos devagar! Temos tempo até as eleições! — Ele me abraçou forte e eu senti meus ossos estralarem.
— Sim, tempo o suficiente para te trazer ao mundo como o futuro prefeito , não só o herdeiro de segundo, como alguém novo, com olhar visionário e jovialidade para dar e vender. — Ri fraco, balançando a cabeça.
— A população te ama, pai. — Ele colocou a mão no peito como sempre fazia, orgulhoso.
— Mas eles estão acostumados a te ver ao meu lado, quando mais novo. Não se esqueça que eu já fui prefeito dessa cidade...
— Quatro vezes, sei bem, pai! — Ele riu fraco com o meu desânimo.
— Bem, mas você vai ser o prefeito mais novo que eu fui, é uma geração nova, eles querem mudanças e você pode proporcionar isso a eles. — Sorri fraco, imaginando a pressão em meus ombros.
— Que horas é o almoço, pai? Eu tenho alguns compromissos eleitorais na parte da tarde.
— Certo, certo! — Ele conferiu seu relógio de pulso. — Paul, podemos ir? — Ele se virou para o seu segurança mais antigo.
— Sim, senhor. Chamarei o carro — ele falou, se retirando, sem antes bater a mão na minha, me cumprimentando.
— Fiorella não veio? — perguntei, olhando poucas pessoas andando pelo seu gabinete.
— Ela vai nos encontrar no almoço — minha mãe falou e eu abracei a mais baixa de lado, sorrindo.
— Beleza, ela disse que tem os materiais gráficos para a minha campanha prontos já. — Cocei a cabeça, respirando fundo.
— Ela mencionou isso mesmo — minha mãe falou e eu confirmei com a cabeça.
— Bem, vamos almoçar? — Bruce perguntou, sumindo com o silêncio que se instauraria ali.
Estacionei o carro em frente ao prédio espelhado novamente, o valet abriu a porta para mim e eu agradeci com a cabeça, andando a passos largos pelo chão de mármore, ouvindo os saltos baterem fortemente contra os mesmos. O segurança do prédio abriu a porta para mim e eu assenti com um sorriso de lado.
O som ecoou mais alto quando passei a pisar no chão espelhado do lado de dentro e os seguranças internos abriram o portão ao lado da catraca para que eu passasse e os cumprimentei como todos os dias. Entrei sozinha no elevador e as portas se fecharam.
Soltei um suspiro pelo longo caminho até o 32º andar e me permiti soltar um bocejo longo, o dia estava corrido, já passava das três da tarde e só agora eu havia conseguido almoçar, se você chamava salada de almoço.
O logo da minha empresa se abriu a minha frente, Weddburg em uma letra preta simples e fina, e Cerimonialista de Casamentos em um rosa mais claro embaixo, com algumas flores de cerejeira cobrindo as laterais da segunda linha. A recepcionista estava ao telefone, mas me cumprimentou com a cabeça e eu segui para dentro, vendo que a maioria dos meus funcionários estavam ocupando as salas de reuniões com casais de diversas cores, gêneros e orientações.
Consegui chegar à minha sala sem que ninguém me parasse e fiz questão de fechar a porta um pouco, me jogando na minha cadeira e respirando fundo, colocando as mãos na cabeça. Meu olhar chegou à minha longa agenda, vendo todos os horários ocupados até às nove da noite, suspirei. Teria que me lembrar de enviar um jantar para Ellie.
— Ah, você voltou! — Minha assistente pessoal apareceu na frente da minha porta e eu me endireitei na cadeira, apoiando os braços na mesa.
— Vamos lá! — falei ,suspirando. — O que temos para tarde?
— O de sempre. — Ela deu de ombros e eu ri. — Mas tem um problema...
— Ai, meu Deus... — Coloquei a mão na cabeça.
— Você tem horário com a Monique daqui a pouco. — Respirei fundo, balançando a cabeça e dei um pequeno sorriso.
— Sempre temos alguns desafios, certo? — Lily riu e eu puxei o ar fortemente.
— Certo, senhora Weddburg. — Pisquei para ela que sorriu.
— Fale para as minhas noivas de julho que amanhã eu passarei o dia com Elie Saab e Vera Wang, reconfirmando parcerias, minha participação nos eventos deles, você sabe. Se alguém quiser se encontrar para discutir vestidos de noiva, é a hora! — Ela confirmou com a cabeça. — Mas Lily, uma a cada hora, por favor.
— Sim, senhora. — Sorri e ela saiu, me deixando sozinha.
— Senhora Weddburg. — Ouvi meu rádio dizendo ao meu lado e peguei o mesmo. — A cliente das 15h30minh chegou. — Me olhei no espelho em cima da mesa e vi que minha maquiagem estava intacta.
— Peça para ela entrar, por favor! — Me levantei da cadeira e segui para meu armário, pegando um fichário novo e um kit de brinde para o novo casal que chegava. — Hora de trabalhar. — Respirei fundo, me colocando próximo a minha porta, abrindo as portas duplas de correr.
Ao fundo no corredor, um casal de meia idade falava com Lily na mesa da recepção e eu respirei fundo, acompanhando ambos com aquele sorriso feliz, nervoso, empolgado e surpreso ao mesmo tempo, além de não soltarem as mãos um do outro.
— Essa é a senhora Weddburg, ela cuidará pessoalmente da cerimônia de vocês! — Lily os indicou a mim e eu sorri, vendo, imediatamente, a noiva colocar as mãos na boca surpresa, me fazendo rir. Já estava acostumada com isso.
— Olívia Weddburg, a maior cerimonialista do mundo. — Abri um largo sorriso, esticando a mão para ela e seu noivo. — É incrível, prazer conhecê-la.
— Ah, obrigada! É muito gentil da sua parte! — Sorri e indiquei a sala para que eles entrassem. — Fiquem à vontade, por favor! — Eles olharam meu escritório em volta um pouco, antes de se sentarem nas duas cadeiras em frente à minha mesa. Dei a volta e me sentei em frente deles.
— Confesso que estou muito nervosa — a noiva falou e eu ri fraco.
— Bem, eu não vou dizer que não precise, pois você não é a primeira pessoa que se empolga ao me ver, mas vou dizer que é um prazer para mim ser reconhecida a esse ponto. — O casal sorriu.
— É que você é responsável pelo casamento de diversos famosos, realeza, você está sempre presente nisso. — Ela respirou fundo. — Angelina Jolie e Brad Pitt, Avril Lavigne e Deryck Whibley, Kim Kardashian e Kanye West, Kate Middleton e Príncipe William... — Ela parou, respirando fundo. — Você é fantástica e é um grande prazer poder fazer um casamento contigo!
— Nem todo casamento precisa custar quinhentos milhões de dólares — falei e eles riram. — E eu gosto do que eu faço, das cerimônias para 50 pessoas ou dos casamentos que você mencionou. — Ela sorriu, fraco.
— Desde que marcamos aqui, ela só fala disso! — o noivo falou e eu ri fraco, sorrindo para ambos.
— Bem, obrigada por tudo isso, mas acho que vocês precisam se empolgar com seu casamento agora, certo? — falei, colocando as mãos na mesa e eles sorriram. — Bem, quando vocês marcaram seu encontro aqui comigo, vocês já falaram com a minha equipe sobre o orçamento de vocês, certo?
— Sim! — eles falaram meio tímido.
— Vocês não precisam ter vergonha disso, um casamento é um casamento, pequeno, grande, é sempre magnífico e vocês lembrarão disso pelo resto da vida de vocês. — Eles sorriram. — Então, através do orçamento de vocês, nós montamos pacotes que vocês vão escolhendo e montando o casamento de vocês, salão, decoração, roupas, joias, enfim, tudo que vocês gostariam de ter no casamento de vocês. — Eles confirmaram com a cabeça e eu abri o fichário novo e peguei o papel com o valor do orçamento deles e colei na contracapa do fichário. — Vamos aos nomes do nosso futuro casal?
— John e Annie! — ele falou e eu sorri, escrevendo na primeira folha com a minha caneta preta e minha letra cursiva.
— E o sobrenome que será usado?
— Weaver! — eles falaram e eu sorri.
— O casamento dos Weaver, então. — Sorri. — Sabiam que o W é uma letra muito boa para ser usada em casamentos? — Eles riram. — Não querendo me referir a nada em particular, é claro! — Eles sorriram e eu os acompanhei. — Eu vou entregar a vocês uma lista para ser preenchido sobre as coisas que vocês gostariam de ter no casamento de vocês, ou seja, como vocês visualizam o dia mais importante da vida de vocês. — Eles confirmaram com a cabeça. — Quando vocês estiverem isso pronto, minha equipe vai montar os pacotes que eu disse para vocês, isso inclui uma pesquisa de campo, procurar decorações similares as que vocês escolheram, lugares que comportem a quantidade de convidados que vocês querem, marcas e estilistas que prepararão as roupas de vocês, enfim, com isso, faremos nossa próxima reunião.
— Perfeito! — Annie falou e eu sorri.
— Bem, isso é para vocês. — Toquei na cesta com diversos brindes da empresa. — Que vocês consigam se acalmar um pouco antes das coisas ficarem mais corridas. — Eles sorriram. — Agora eu vou levar vocês até Lily, minha assistência aqui de fora... — Toquei no rádio. — Lily, por favor... — falei com meu tom de voz baixo. — E ela vai passar as próximas informações para vocês. — Eles sorriram e vi Lily abrir a porta da minha sala. — Quero que vocês saibam que vocês podem ligar para nós, enviar mensagens e e-mails com dúvidas e ideias que vocês possam ter. Não precisam se acanhar. Estamos aqui para isso, para ajudar vocês.
— Obrigado! — eles falaram juntos e eu sorri.
— Vamos lá, gente? — Lily perguntou e eles se levantaram, com John levando a sacola com os brindes.
— É um prazer! — eles falaram e eu os cumprimentei, antes deles saírem da sala.
— Você entrega para eles a lista com o orçamento mais básico, ok?! — falei baixo para Lily, que confirmou com a cabeça.
— Pode deixar! — Ela sorriu.
— Monique já chegou? — perguntei.
— Ainda não, ela está atrasada — Lily falou e eu respirei fundo.
— Como se fosse alguma novidade. — Suspirei e ela riu.
— Seu próximo cliente é a Monique e depois você tem outro às cinco. — Concordei com a cabeça.
— Ok, vou ao salão de beleza, ver o que está faltando, me avise quando a tormenta chegar. — Ela sorriu e concordou com a cabeça, se retirando da sala.
Me levantei da minha poltrona, pegando uma das pranchetas penduradas na parede e segui para fora da sala, voltando a andar pela empresa, dando uma olhada rápida na ocupação de cada cerimonialista e os casais de noivos falando animados ou preocupados sobre sua cerimônia.
Cumprimentei alguns clientes que passaram por mim e entrei no salão de beleza, vendo meus três maquiadores ocupados com noivas, fazendo teste de maquiagens em três clientes e dois dos meus cabeleireiros fazendo o mesmo, e o terceiro parado, contando a quantidade de batons na extensão da parede inteira.
— Posso interromper? — perguntei a ele.
— Sim, senhora Weddburg. — Ele sorriu, se virando.
— Como está o estoque? — perguntei. — Vocês não me dão uma resposta sobre isso há dias. — Apoiei minha prancheta no balcão e ele franziu a testa.
— Estou contabilizando isso só agora, a semana está meio corrida. — Confirmei com a cabeça. — Além do mais, você não deveria se preocupar com isso, pensei que eu falaria com o pessoal de compras. — Ri fraco, balançando a cabeça.
— Como se eu fosse deixar minha empresa nas mãos de terceiros que nem ficam aqui. — Suspirei e ele riu.
— O que sentimos falta, eu já mandei para o departamento de compras e eles mandaram...
— Sim, mas estamos em julho, as coleções novas estão saindo, precisamos nos atualizar. — Cruzei os braços.
— Sim, senhora. — Ele suspirou. — Eles estão acabando, fazemos essa contagem e te mando.
— Muito obrigada! — Sorri, piscando para ele.
— Senhora Weddburg? — Ouvi meu rádio tocar e respirei fundo puxando-o da saia e colocando próximo a boca.
— Sim? — perguntei.
— Monique chegou... — Ela fez uma longa pausa.
— E... — incentivei que ela continuasse.
— Ela não está feliz. — Fechei os olhos.
— Eu também não estou, Lily! — Suspirei. — Já chego aí! — Prendi o rádio novamente na minha saia e respirei fundo.
— Dia difícil? — Um dos cabeleireiros perguntou e eu suspirei.
— Clientes difíceis! — Passei a mão na testa de leve, para não estragar minha maquiagem, e balancei a cabeça.
— Bem, gente, me arrumem isso hoje, tenho uma reunião com o pessoal de compras na semana que vem, vamos ter que dar um jeito nessa bagunça.
— Beleza, a gente resolve e mandamos para Lily.
— Isso, melhor! — Balancei a cabeça. — E, meninos... — Os seis viraram para mim. — Se precisar ficar até mais tarde, fiquem! Eu pago as horas extras.
— Obrigada, chefe! — eles falaram felizes e eu saí do salão, cumprimentando as clientes com o olhar e dei largas passadas para fora do salão, cruzando a empresa pelo corredor que dava para a frente espelhada do prédio, dando bastante iluminação para a sala principal de recebimento de clientes.
— Eu não quero saber como, eu quero mudar agora! — Vi Monique, um dos casos mais complicados que eu havia pego em toda minha carreira, gritar com Lily.
— Senhora Stevenson, o casamento é em duas semanas, não tem co...
— Eu quero que você se vire! — ela gritou e bati a mão na porta de propósito.
— Estou atrapalhando algo? — Deixei a prancheta em minha mão na mesa de Lily e cruzei os braços sobre o peito.
— Eu estava falando aqui com essazinha... — Ergui um dedo, interrompendo-a.
— Primeiro de tudo, ‘essazinha’ é a minha funcionária, e ela não merece essa grosseria toda só porque você tem mais dinheiro do que ela. — Sorri, confirmando com a cabeça, vendo-a entreabrir os lábios. — E outra, falar e gritar são duas coisas diferentes. — Afirmei com a cabeça. — Todos meus funcionário e clientes ouviram. E eles não têm nada a ver com isso.
— Como você se atreve? — Revirei os olhos.
— Lily, você pode nos dar licença, por favor? — Virei para ela, que acenou com a cabeça, e saiu de lá o mais rápido possível. — Você veio atrás de mim, Monique, não o contrário. — Suspirei. — Seu casamento vai acontecer em duas semanas, você deveria estar no nosso SPA, relaxando um pouco, o que mais você pode querer? — Cruzei os braços novamente.
— Eu quero mudar a decoração da minha festa — ela falou e eu respirei fundo, passando a mão nas têmporas.
— Já falei pelo telefone, pelo e-mail, e agora, pessoalmente, isso não é possível mais, Monique. — Balancei a cabeça. — Dez dias é o que separa você do casamento dos seus sonhos.
— Eu já disse que pago a diferença. — Fechei os olhos fortemente, tentando encontrar uma abordagem diferente para usar.
— Meu trabalho é feito por etapas, eu tenho uma equipe gigante para cada um cuidar de uma parte do casamento, temos a pessoa da decoração, do local, da locação das mesas, cadeiras, banda, roupas, entretenimento, música, padrinhos, madrinhas, lista de presentes, lua de mel, enfim, cada pessoa nessa empresa cuida de uma parte do casamento de todos os clientes, por questão de ordem de chegada. No primeiro encontro vocês falam comigo, e um mês antes do casamento fazemos a finalização e checagem, voltando a se encontrar só no dia da cerimônia, não tem como eu tirar o meu representante de decoração agora, sendo que ele já tem uma lista de outras noivas e noivos para atender. — Ela revirou os olhos como uma adolescente de 15 anos e cruzou os braços.
— Mas eu quero. — Suspirei, abaixando a guarda.
— Então, você vai pegar o contrato que fizemos no dia da sua chegada e você vai ler certinho como funciona a empresa Weddburg, sobre o pacote que você fechou e sobre as informações do seu casamento. Tem tudo isso naquela apostilinha lá, preparei com muito amor e carinho. — Ela bufou. — E, antes que eu me esqueça, eu faço mais de trezentos casamentos por mês, de pessoas do mundo inteiro. Você veio até mim, não o contrário. — Afirmei com a cabeça. — Se me dá licença, eu tenho outra nova cliente daqui a pouco. — Peguei a pasta da mesa de Lily e segui para dentro da minha, ouvindo meus saltos ecoarem no tapete rosa claro. — Lily, por favor! — falei no tom de voz de sempre e me sentei na minha cadeira.
— Senhora? — Ela apareceu e eu a chamei com a mão, fazendo-a entrar na minha sala e fechar a porta.
— Ligue para a secretária do noivo da senhora Stevenson, vamos dar um jeito nisso. — Ela arregalou os olhos.
— Senhora?
— É o que você ouviu, Lily, e passe para mim, precisamos de uma conversa. — Ela assentiu com a cabeça. — Ele não sabe o que está acontecendo aqui.
— Sim, senhora! — ela falou, confirmando com a cabeça e eu ergui meu notebook, vendo a câmera da sala da frente.
— Fique aqui, por enquanto, até ela se tocar e ir embora. — Vi Monique na câmera da frente e a mais nova riu fraco, se sentando na cadeira da minha frente. — Vamos trabalhar? — perguntei e ela sorriu.
— Com certeza!
— Essa história é muito ruim — falei, baixo, e as crianças riram. — Bem, criançada, é hora do lanche! — falei, batendo as mãos e as crianças se levantarem, saindo correndo para fora da sala.
Me levantei do chão e passei a mão na minha calça jeans, notando algumas professoras mais novas cheia de sorrisinhos para mim e eu ri fraco, balançando a cabeça. Bruce passou por entre elas, pedindo licença e se aproximou de mim novamente.
— Para onde agora? — perguntei e ele guardou o telefone no bolso.
— Ensino médio. — Franzi o rosto, suspirando. — Não fique triste, eles são legais.
— Eu não lembro do meu ensino médio de forma tão boa. — Bruce riu baixo.
— Bem, alguma coisa na sua vida tinha que ser ruim, certo? — Ele deu de ombros. — Sua vida política tem sido muito boa. — Ri fraco.
— Você não tem o que fazer, Bruce? — perguntei para ele, empurrando-o levemente que saiu gargalhando.
— Senhor ? — A professora da sala que eu estava se aproximou e eu abri um sorriso.
— Me chame de , por favor. — Sorri e ela assentiu com a cabeça.
— O senhor é muito bom em lidar com as crianças. — Ri fraco, balançando a cabeça.
— É até engraçado isso, já que elas começam a chorar em meu colo. — Ela riu fraco e sorriu.
— Tenho certeza de que você é muito bom em tudo que faz, é um ótimo secretário para nossa cidade, foi um ótimo vereador... — Ela tocou meu braço levemente e eu já sabia onde aquilo levaria.
— Que isso, senhorita, só faço minha obrigação! — Sorri, sentindo-a subir a mão.
— Vamos, ? — Bruce me chamou e eu dei um passo para trás, distraindo-a também.
— Preciso ir! Obrigado pela atenção. — Virei meu corpo para o lado. — Até mais.
— Tchau! — Ela acenou sorridente e eu dei uma corrida até Bruce.
— Até a professora? — Ele cochichou para mim e eu olhei para trás, vendo-a acenar novamente.
— Muito nova para mim — falei e ele riu, balançando a cabeça.
— Não me lembrava de você ser seletivo — ele falou e eu ri ironicamente.
— Quer para você? — Bruce deu uma olhada para trás antes de abanar a cabeça.
— Não, obrigado! — Ri junto dele.
Eu e ele seguimos pelos corredores da escola pública no Queens que havia sido melhorada pela implantação de um projeto que meu pai fez e eu supervisionei, não havia deixado as escolas perfeitas, mas melhorou um pouco, e eu teria que continuar com esse projeto. Os seguranças nos seguiram a alguns passos de distância, nos acompanhando de perto.
O diretor da escola nos esperava na porta do auditório, onde eu faria uma palestra para os alunos do ensino médio. Apesar de somente os alunos a partir de 16 anos poderem votar aqui nos Estados Unidos, esse era o pessoal mais interessado em melhorias, depois que Donald Trump entrou na presidência (Deus nos ajude!). Então eles queriam melhorar, procuravam por empoderamento, liberdade de expressão e de ser quem quer, além de outros direitos básicos para todo jovem, como educação de qualidade.
— Eles já estão te esperando — o diretor falou e eu confirmei com a cabeça.
— Eles têm algum horário para acabar? — perguntei.
— A aula acaba às seis horas, muitos saem correndo. — Ele riu fraco e eu confirmei com a cabeça.
— Bem, eu não sou conhecido por dar discursos grandes e memoráveis! — falei, rindo. — Vamos liberar essa turma mais cedo. — Ele concordou com a cabeça.
— Eu vou te introduzir, tudo bem? — ele perguntou.
— Claro, por favor! — Apontei para a porta e ele entrou no auditório improvisado na escola e eu fiquei parado na porta, com Bruce atrás de mim. O diretor seguiu para o meio da sala, pedindo que os alunos se silenciassem.
— Boa tarde, gente! Tudo certo? — ele perguntou. — Hoje teremos uma palestra importante aqui. — Vi a maioria dos alunos começarem a revirar os olhos. — Hoje estamos aqui com , candidato a prefeito de Nova York desse ano. Ele vai falar um pouco com vocês sobre a votação, suas intenções e contar um pouco sua história. — Ele virou para mim. — Aplausos, por favor! — ele falou e eu adentrei a sala, cumprimentando o diretor e me posicionei no meio da sala, encarando cerca de 200 alunos de 15 a 18 anos.
— E aí, galera, tudo bem? — falei para o pessoal, vendo algumas testas serem franzidas e algumas pessoas se sentarem direito na cadeira. — Eu sou , atual secretário da educação e candidato a prefeito de Nova York. — Abri um pequeno sorriso, revirando os olhos. — Mas sabem o que mais? Eu não sou só isso. — Balancei a cabeça negativamente. — Eu sou um cara de 45 anos, solteiro, sem vontade nenhuma de casar e ter uma família... — Os alunos riram. — Que deu a sorte de nascer em uma família com condições para me sustentar e prover tudo o que eu tive a oportunidade de ter, para vocês, pelo sistema público. — Apoiei as mãos na mesa na minha frente, confirmando com a cabeça. — Pois é! — Afirmei com a cabeça. — Eu sei que muitos de vocês já devem ter ouvido falar da minha vida pessoal, que eu tenho ‘tendência’... — Fiz aspas com as mãos. — De me meter em problemas. — Eles soltaram risadas engraçadinhas. — Mas bem, eu não vim falar do que vocês já sabem. Eu quero contar o que vocês não sabem e o que vocês querem. — Bati as mãos uma na outra. — Vocês devem pensar... — Mudei o tom de voz. — Nossa, mais um cara que vai perguntar o que a gente quer, vamos acreditar nele, votar nele e ele vai ficar quatro anos só pegando dinheiro do governo, construindo monumentos que não servem nem para turismo... Certo? — Virei para eles, que riram. — Pois bem, vocês acreditam em mim se quiser, mas eu só estou me dispondo a sair da minha formação de advogado, a chance de trabalhar em um escritório cuidando de causas de trabalhadores, porque eu gosto de ajudar, eu gosto de tornar o mundo um lugar melhor. — Assenti com a cabeça. — E eu estou aqui para isso, permitindo que as pessoas vasculhem minha lata de lixo! — Franzi a testa, ouvindo as gargalhadas do pessoal. — Então vamos começar? — Me sentei na beirada da mesa. — O que eu posso fazer por vocês, caso eu vire prefeito de Nova York? — falei e ninguém se pronunciou. — Vocês podem fazer perguntas, se preferirem — falei e várias mãos se ergueram imediatamente, me fazendo abrir um sorriso. — Vamos começar por aqui! — Apontei para um garoto na frente.
— É verdade que você já dormiu com milhares de garotas? — ele perguntou e eu ri fraco, balançando a cabeça.
— Defina ‘milhares’ — falei e a turma riu.
A conversa se alongou bastante, o sinal tocou e a maioria dos alunos ficaram, querendo saber sobre coisas que realmente importavam, como política, futuro dos jovens, planos para a minha administração e, claro, quantas pessoas eu dormi, minhas fotos cheirando cocaína, enrolando cigarros de maconha e outras coisas.
Fui sair da escola quando o sol começava a se pôr, quase oito horas da noite. Pedi para Bruce passar em um drive thru para eu pegar um lanche com uma porção dupla de batata frita e um milkshake do tamanho da minha cabeça, eu estava com fome, aquele almoço mais cedo foi como comer igual um passarinho, entrada, prato principal e sobremesa pareciam uma bolacha de água e sal.
— Coletiva de imprensa amanhã, não esquece! — Bruce falou quando eu pulei para fora do carro, segurando minha mochila com uma mão, e o saco da lanchonete na outra.
— Você não me deixa esquecer! — falei, o porteiro abriu a porta para mim e eu cumprimentei com a cabeça. — Boa noite — falei para ele e ele assentiu com a cabeça.
Apertei o botão dos elevadores e encostei meu corpo na parede, realmente cansado, eu ficava bem ao longo do dia, mas quando eu parava, a carga inteira caía sobre meus ombros. O elevador se abriu a minha frente e eu entrei no mesmo, apertando o botão. Antes das portas se fecharem, ouvi um barulho rápido de saltos batendo contra o mármore e coloquei minha mão em frente a porta, sentindo-a bater em minha mão e voltar.
— Obriga... — Minha vizinha apareceu na minha frente, fechando a cara no momento que me viu. — Obrigada! — ela falou mais contida e entrou no elevador.
Ela apertou o botão do último andar e eu suspirei, me encostando na parede do elevador enquanto ele subia. Ela voltou a digitar alguma coisa em seu celular, mas logo parou, como se esperasse pelo sinal para enviar a mensagem.
Eu me surpreendia como essa mulher ficava tão gostosa na roupa de executiva e ainda me ignorava completamente, deixando somente na imaginação tudo que eu gostaria de fazer com ela. Aquelas coxas grossas dentro da saia... Eu teria uma ereção só com meus pensamentos.
A porta do elevador se abriu novamente e ela saiu com a mesma pose e passos firmes e espaçados de antes e seguiu para seu lado do corredor, se apoiando na parede em busca da sua chave.
— Já pensou se vai votar em mim? — perguntei, antes de andar para o meu lado. Ela ergueu o rosto e dei um sorriso de lado.
— Não! — ela falou e eu confirmei com a cabeça.
— Tudo bem, tem tempo ainda para pensar... — Ela virou o rosto para mim, deixando seus cabelos claros caírem em seu rosto.
— O não foi para não votarei em você mesmo. — Ela deu de ombros. — Se sua administração for igual sua vida, vai ser uma zona para essa cidade — ela falou, achando a chave e abrindo a porta. — Só me diga uma coisa, terá festa hoje? — ela perguntou e eu dei um sorriso de lado, dando de ombros. — Ó Deus, o que eu fiz para merecer isso? — ela falou mais para si mesma e suspirou.
— Boa noite! — falei, sorrindo, seguindo para o meu lado do corredor e vi sua filha aparecer na porta já de pijama.
— Oi, mãe! — ela falou e ambas se abraçaram fortemente, e logo a porta foi fechada.
Entrei no meu lado do andar e abri a porta, passando pela mesma rapidamente, encostando minhas costas na porta, respirando fundo, cansado.
— Você demorou! — Olhei para frente, vendo três moças seminuas no meu sofá de couro branco, uma delas montando carreirinhas de cocaína.
— Sabe como é, muito trabalho! — Dei de ombros e elas sorriram.
— Vem brincar um pouco — a morena falou e eu larguei minhas coisas no chão, me aproximando delas.
— Mãe, eu levo um casaco? — A mais nova apareceu correndo na porta, com o uniforme da escola.
— Claro, filha! Creio que vocês ficarão no museu o dia inteiro. E se esfriar? — Ela pensou um pouco e saiu correndo para dentro do quarto novamente.
Senti o celular vibrar na minha mão e olhei para ele, vendo o despertador para a reunião das 08h30min, e eu não estava no escritório ainda.
— Ellie... — chamei novamente, conferindo o relógio e ouvi passos rápidos dela aparecendo na sala novamente, com sua mochila nas costas.
— Estou aqui! — ela falou, animada, passando as mãos nos cabelos iguais os meus.
— Não esquece o lanche! — Apontei para a mesa e ela pegou sua lancheira, guardando dentro da bolsa novamente. — Sobrou dinheiro de ontem?
— Sobrou sim! — Ela sorriu. — A professora disse que vamos comer um cachorro-quente e um refrigerante na frente do museu...
— Não exagera no refrigerante, Ellie — falei, me levantando e seguindo até a porta.
— Só uma vez, mãe! — ela falou e eu suspirei, destravando a porta.
— Você disse isso ontem já! — falei, abrindo a porta, distraída com ela que arrumava as alças da mochila.
— Bom dia, vizinhas! — Me assustei ao ver parado na porta de casa, nu, somente com uma toalha de rosto cobrindo... Lá! E uma escova de dente na boca.
— Ah, ! — Imediatamente coloquei as mãos nos olhos de Ellie. — Você não tem decência, não?!
— Oi, Ellie! — falou para minha filha.
— Oi, ! — Ellie falou, acenando para o nada e eu revirei os olhos.
— Você poderia colocar uma roupa antes de aparecer no corredor assim? — falei, ajustando as mãos no rosto de Ellie, descendo o olhar um pouco pelo corpo do meu vizinho.
— Só vim pegar o jornal! — ele falou, se abaixando no chão, fazendo a pseudo-toalha subir sobre suas coxas e pegou o papel dobrado, que também estava ao lado do meu capacho.
— Perfeito, agora tenha um bom dia! — Abanei a mão para ele entrar.
— Tenha um bom dia, vizinha! — Ele piscou para mim e se virou de costas, onde sua bunda estava toda exposta, ele entrou em seu apartamento, fechou a porta, e só aí eu tirei as mãos dos olhos de Ellie.
— O que houve, mamãe? — ela perguntou e eu revirei os olhos.
— Você sabe que eu te conto tudo, não sabe? — perguntei para ela, que confirmou com a cabeça. — Mas dessa vez eu nem sei por onde começar, querida! — falei e ela riu.
— Ele podia se vestir mais vezes, isso é verdade! — ela falou e eu preferi não fazer mais perguntas sobre o que ela quis dizer com ‘mais vezes’.
— Vamos embora, querida! Chama o elevador! — falei, puxando a porta de casa e ela correu apertar o botão.
Quando chegamos no subsolo, ela se ajeitou no banco de trás com o cinto de segurança e eu coloquei minha bolsa, com a bolsa do notebook e as pastas no porta-malas. A viagem até o Museu de História Natural foi calma, normal para os padrões de trânsito de Nova York. Ellie cantava animada a trilha sonora de Descendentes 2, seu novo filme favorito, enquanto elaborava alguns desenhos de jaquetas estilosas em seu bloco de anotações e espalhava lápis de cor pelo banco de trás. Confesso que depois de muita repetição, acabava cantando junto.
Quando cheguei perto do Museu de História Natural, boa parte da turma do quarto ano da escola de Ellie já estava nas escadarias, fazendo zona como crianças de dez anos. Estacionei atrás de um táxi amarelo e Ellie começou apressadamente a juntar as coisas no banco de trás.
— Olá, senhora Weddburgh! — A professora de Ellie se apoiou na janela do passageiro.
— Olá, Louise, tudo bem? — Tirei os óculos de sol para falar com ela.
— Tudo certo! — Ela sorriu, separando um envelope da sua mão. — É o convite para a reunião de pais. — Confirmei com a cabeça.
— Ah sim, muito obrigada! — Abri rapidamente o envelope, memorizando a data e o horário.
— Vai ter uma apresentação das crianças para o fim do ano letivo. — Confirmei com a cabeça.
— Muito obrigada, Louise, pode contar comigo! — Ela sorriu, confirmando com a cabeça.
— Vamos, Ellie? — Louise perguntou, abrindo a porta.
— Tchau, mãe! — Minha pequena estalou um beijo gostoso em minha bochecha e desceu do carro, com sua mochila gigante que mais parecia uma nave espacial.
— Divirta-se, querida! — Acenei para ela, que seguiu correndo para suas amigas e acenei para a professora, ouvindo-a bater à porta do carro.
Dei a volta pelo Central Park, ficando presa por cerca de 40 minutos no trânsito matinal de Nova York. Aproveitei o tempo para responder alguns e-mails e fazer algumas confirmações com Lily, fim de semana estava chegando e eu tinha cinco casamentos para encarar.
Encontrei Lily me esperando na porta do prédio, com um pacote de informações para me passar. Sua feição era de desespero, como sempre quando havia muitos casamentos na mesma semana.
— Bom dia, Lily, vejo que está contente hoje! — falei para ela, tirando os óculos de sol do rosto e ela até aliviou os ombros, abrindo um pequeno sorriso.
— Pelo menos alguém está feliz hoje. — Soltei uma risada, balançando a cabeça.
— Vamos lá, Lily. O que temos para hoje?
— As duas noivas que se casarão amanhã já estão no SPA da Gisele, vão passar a noite lá, duas de sábado estão finalizando as provas de cabelo e maquiagem e a noiva de domingo está te esperando na sua sala. — Franzi a testa, entrando no elevador.
— Bomba? — perguntei e ela fez uma careta.
— Das grandes. — Suspirei e apertei o botão, esperando a porta se fechar conosco duas somente e se abrir novamente em frente a meu logo.
— Bom dia, senhora Weddburgh. — Acenei para a secretária e ela sorriu, voltando a dar atenção ao telefone.
— Quem é a noiva? — perguntei, enquanto ela me entregava uma prancheta rosa clara, com vários papéis presos a ela.
— Andreza, aquela canadense de cabelo escuro e pele clara? — Assenti com a cabeça.
— Sei, sim, a menina que eu disse que precisaria de bastante blush? — Lily riu ao meu lado.
— Essa mesma — confirmei com a cabeça, entregando minha bolsa a ela.
Caminhei pelas várias mesas espalhadas pelo andar, acenando para alguns funcionários, vendo outros correndo para resolver seus deveres e outros conversando com novos casais sobre seu dia especial.
— Ela está lá dentro — Lily comentou, se ajeitando em sua mesa e eu concordei com a cabeça, empurrando a porta da minha sala, vendo a moça de costas para mim.
Ela era uma pessoa pequena, mas encolhida na cadeira, ficava menor ainda. Pela sua pose e rosto incrivelmente avermelhado, eu já sabia o que esperava. Respirei fundo e tentei dar meu melhor sorriso.
— Olá, Andreza! — Ela se levantou rapidamente.
— Olá, senhora Weddburgh! — ela disse com a voz rouca e eu respirei fundo. — Precisamos conversar. — Confirmei com a cabeça, me aproximando dela e passando meus braços pelo seu corpo, sentindo-a se desmontar em meus braços. Seu choro ecoou pela sala, e ela não conseguiu falar nada por uns dez minutos.
Eu confesso que odiava esse momento, noivas ou noivas apareciam aqui de vez em quando, com esse olhar perdido e choroso, as mãos sobre o colo, e a feição de que poderia me magoar por esse cancelamento. Eu tinha um contrato sobre isso, queria fazer o dia delas felizes, mas nos dias de hoje, onde tudo é rápido e sem compromissos, eu tinha que me prevenir desses possíveis efeitos. Minha taxa de separação durante o preparativo do casamento era de 15%, baixa, mas ainda tinha.
Com Andreza não foi diferente.
— Você pode falar com a nossa psicóloga, se quiser, Andreza. Sempre estamos preparados para isso. — Ela confirmou com a cabeça.
— O que preciso fazer? — ela perguntou, se ajeitando na cadeira.
— Bem, você vindo oficializar o cancelamento da sua cerimônia, primeiro de tudo falaremos com a segunda parte, para confirmar esse cancelamento, precisamos da assinatura de ambos para começar com os preparativos. Vou pedir para o comitê responsável entrar em contato com a outra parte. — Tomava sempre muito cuidado para não falar noivo, namorado ou o nome da pessoa para não causar mais lágrimas. — Obteremos essa assinatura, e aí entraremos em contato com nossos fornecedores, pedindo o cancelamento.
— E sobre o ressarcimento? — ela perguntou e eu dei uma folheada em seu contrato, procurando a parte que dizia sobre isso.
— Como especificado no seu contrato, pelo pacote que você fechou e com os fornecedores que você chegou, conseguimos te ressarcir com 45% do valor total. — Ela assentiu com a cabeça. — Mas, como vocês cancelaram tão em cima da hora, provavelmente boa parte do casamento de vocês já está pronta, principalmente a parte da alimentação, então vocês receberão tudo que está pronto, além da sua estada no nosso SPA, caso você quisesse aproveitar de outra forma. — Ela afirmou com a cabeça.
— Podemos falar sobre isso depois?
— Claro! — Abri um sorriso de lado. — Entendo que não deve estar com cabeça para resolver isso agora.
— Você não tem nem ideia. — Ela suspirou fundo, passando a mão no rosto e eu entreguei uma caixa de lenços para ela. — Ele acabou comigo hoje de manhã, por mensagem, segundo seu irmão, ele já está no Texas essa hora. — Ela balançou a cabeça e eu respirei fundo, essa era uma parte que eu não tinha tanta paciência.
— Vamos esquecer isso, certo? — Sorri, me levantando. — Vamos ver o que podemos fazer por você. — Abri a porta da sala novamente. — Lily, por favor. — Minha assistente deixou a pessoa do telefone esperando e se aproximou de mim. — Acompanhe Andreza até a doutora Joana, vê se ela pode recebê-la agora. — Lily concordou com a cabeça e Andreza se levantou. — Voltamos a nos falar, ok?! — falei e ela confirmou com a cabeça.
— Obrigada, Olívia. — Dei um rápido beijo em sua bochecha e ela se afastou com Lily.
— Odeio isso. — Ouvi uma voz ao meu lado e vi Joel ao meu lado com alguns papéis em sua mão.
— Nem fala! — Suspirei fundo, cruzando os braços por cima do peito.
— Deve ser por isso que nunca se casou — Joel falou e eu ri fraco.
— Eu tenho meus motivos. — Entrei na minha sala novamente. — Precisa de alguma coisa?
— Algumas assinaturas suas para os contratos de locação dessa semana. — Concordei, pegando os papéis da mão dele.
— Sente-se! — falei, vendo o bolo em sua mão. — Algum lugar diferente do que estamos acostumados?
— Só um, na verdade, uma fazenda de tulipas, o casal é mais rural, digamos assim. — Ele se sentou na cadeira à minha frente.
— Duvido que seja mais do que Andreza e Michael. — Joel deu um longo suspiro, apoiando os cotovelos na mesa.
— Ainda lembro quando fomos visitar aquele lindo chateau na saída da cidade. — Ele suspirou novamente.
— Modos e postura, Joel — falei e ele voltou a sua postura normal e abaixou as mãos.
— Precisava ser feito alguma coisa para reduzir essa dor no coração das pessoas — ele falou, baixo.
— Isso já não é da nossa conta, Joel, e temos uma psicóloga para dar um primeiro apoio para eles. Não sei se é a melhor opção, mas é o que podemos fazer. — Peguei minha caneta e comecei a assinar os papéis, lendo rapidamente as cláusulas de cancelamento.
— Pronto, senhora Weddburgh, creio que Andreza está em boas mãos agora. — Lily voltou para minha sala e eu confirmei com a cabeça.
— Quero falar com Michael agora, quero entender o que aconteceu, e como não posso falar com Joana por confidencialidade de paciente, terei que descobrir do meu jeito — falei e ela confirmou com a cabeça. — Ah, Lily. — Ela voltou rapidamente. — Quero um copo de café, o maior que tiver, o dia só está começando. — Ela confirmou com a cabeça e saiu novamente, me deixando com Joel. — Sabe me dizer quem do comitê de cancelamento está aqui?
— A Summer, por quê? — ele perguntou.
— Pode chamá-la, enquanto eu assino aqui? — Ele se levantou, saindo rapidamente e eu continuei o trabalho.
O único contrato diferente era da fazenda que Joel disse. Por ser uma plantação de tulipas, eles tinham todo cuidado com as flores em si, então os limites do casamento teriam que acontecer dentro do local apropriado, deixando que as tulipas fossem o fundo do casamento, e não poderiam ser invadidas, a não ser os noivos para uma sessão de fotos. Achei plausível, mas coloquei um aviso específico para Joel conferir os extremos desse limite, afinal, sempre tinha alguma criança travessa no casamento.
Lily apareceu com meu copo de café logo em seguida, acabei tomando um longo gole de uma vez, sentindo-o queimar minha língua. Joel se retirou e Summer se sentou em minha frente, Lily pegou todo o contrato do casamento de Andreza e Michael e Summer começou a difícil tarefa de entrar em contato com todos os fornecedores do casamento.
Falei com Michael, o noivo, logo em seguida, eu acabava perdendo meu controle quando falava com o suposto responsável pelo término de um noivado, trazendo até certo susto para as pessoas, mas ele pareceu entender o recado.
— Eu não posso fazer nada por isso — ele disse, ao telefone.
— Eu só preciso de uma assinatura — falei, já em pé, andando de um lado para o outro.
— Eu não consigo fazer isso agora, se você não entendeu, eu estou sem computador, sem scanner, não dá — ele falava, bravo.
— Você tem um celular, certo? — falei, alto. — A porra do seu celular tem câmera, certo? Então você trate de gravar um vídeo agora, falando que está de acordo com o cancelamento do seu casamento, ou não terá reembolso nenhum. — Passei a mão no rosto. — Até onde eu me lembre, são seus pais que estão bancando boa parte, certo? — falei, abrindo um pequeno sorriso.
— Mas eu não...
— Você tem vinte minutos. E não se esqueça, seu contrato está na minha mão. — Desliguei o telefone, jogando o mesmo para Lily.
— Posso fazer algo para ti? — Lily perguntou.
— Eu preciso de alguém feliz, Lílian! — falei, respirando fundo, colocando as mãos na cintura.
— As noivas estão...
— Não, não, sem mais drama por hoje, amanhã o dia vai ser cheio. — Suspirei.
— Eu posso...
— Que horas são? — perguntei.
— São quase meio-dia, senhora. — Confirmei com a cabeça.
— Droga, perdi metade do dia. — Suspirei. — Pegue minha bolsa, Lily, eu vou almoçar mais cedo.
— Sim, senhora. — Ela saiu da sala e eu corri para a porta.
— E você vai comigo, vamos aproveitar e pegar algumas coisas na rua. — Ela acenou com a cabeça.
— Mas eu posso fazer isso depois.
— Eu sei, mas eu preciso sair daqui. — Suspirei e ela não falou mais nada.
— Você pode me ligar, sabe? — A moça cujo nome eu não lembrava falava enquanto pegava suas roupas pela minha sala. — Poderíamos tomar um café ou almoçar.
— Sim, claro! Eu ligo para você. — Senti repulsa da minha própria voz por dizer aquelas palavras. Era mentira, eu sabia que era mentira, ela sabia que era mentira.
Ela deixou um papel com a marca de batom em cima do meu piano e seguiu para a porta. Passei a mão pela minha cabeça e olhei o relógio, era mais de três horas já, eu não deveria ter dormido tão tarde.
Quando a mulher abriu a porta, Bruce estava no corredor, conversando com a minha pequena vizinha. Ele ria de algo que ela contava. Me aproximei de ambos, vendo o meu rolo da noite passada observar a cena um pouco e ela olhou para trás, abrindo um sorriso para mim.
— Até mais! — ela disse, estalando um beijo na minha bochecha e notei Ellie encarando-a de cima abaixo, provavelmente pelo tamanho da saia que ela usava. — Me liga — ela disse e eu acenei com a mão, antes das portas se fecharem.
— Você é muito malvado! — Abaixei o rosto e vi que foi Ellie quem falou isso, Bruce gargalhou em seguida.
— Oi, Ellie — falei e ela sorriu, acenando com a mão.
— Por que você faz isso com as pessoas? — Ela olhou para mim e Bruce interveio.
— Ah, Ellie, quando você crescer, você vai entender porque eles fazem isso. — Ellie deu de ombros e olhou para mim.
— Acredite, eu já entendo, mas ainda não faz sentido para mim. — Ela ajeitou sua mochila nas costas. — Se você não quer continuar com ela, não iluda a moça. — Ela apontou para a porta do elevador com a caneta em sua mão.
— Qual sua idade? — Bruce perguntou, assustado.
— Onze anos, em alguns meses. — Ela sorriu e Bruce balançou a cabeça, se sentindo confuso e seguiu para dentro do meu apartamento.
— Você não tem uma roupa, não? — Olhei para baixo e vi que só estava de shorts.
— Está ficando parecida com a sua mãe, hein! — falei e ela deu de ombros.
— Eu não vejo isso como algo ruim! — Ela abriu um sorriso e eu fechei o rosto, ela tinha me pegado, balancei a cabeça, mudando de assunto.
— O que está fazendo perdida aqui? — Apoiei a mão no queixo.
— Bee fugiu, estava procurando por ela, aí o Bruce apareceu.
— E, também, está fugindo de mim. — Brigite, que trabalhava na casa da minha vizinha, apareceu com uma vassoura na mão e Ellie arregalou os olhos, surpresa.
— Oi, Brigi — Ellie falou, sorrindo, colocando as mãos para trás. — Só tô conversando com os vizinhos.
— Secretário ... — Assenti para ela. — Bruce. — Ela foi mais grossa e eu olhei a reação do meu assessor... O que estava acontecendo?
— Olá, Brigite, como está? — Fiz o simpático, abrindo um largo sorriso.
— Bem, muito bem! — Ela sorriu. — Venha para dentro, Ellie, você tem lição de casa para fazer. — Ellie abaixou os ombros, tentando fazer manha.
— Deixa eu achar Bee antes.
— Quem é Bee? — perguntei.
— Minha gata!
— A gata dela — Bruce falou junto e eu franzi a testa, como ele sabia?
— Você tem uma gata que chama abelha? — Ela deu de ombros como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Ok... — Balancei a cabeça. — Bruce, você trouxe o briefing de hoje? — Virei para Bruce, que encarava Brigite do outro lado do corredor.
— Isso é amor. — Ellie havia se aproximado da minha porta e cochichara baixinho, me fazendo sorrir e fazer um carinho em seus cabelos.
— Você acha? — perguntei e ela cruzou os braços.
— Acredite, disso eu entendo — ela falou e eu ergui as mãos.
— Está bom, especialista em amor. — Ela sorriu, quando a porta do elevador se abriu e um gato saiu do mesmo.
— Bee! — ela falou, animada.
— Boa tarde, senhores — O porteiro falou e todos acenamos com a cabeça.
— Você achou a Bee, John! — Ellie falou, simpática.
— Ela estava lá embaixo, deve ter descido pela saída de emergência — ele falou, sorrindo.
— Obrigada! — Ellie abriu um largo sorriso e eu suspirei, ela era uma fofa, pena que sua mãe era um monstro.
— Ellie... — Brigite chamou novamente e a pequena olhou para ela. — Lição de casa, depois você pode voltar a conversar com o senhor .
— Precisamos ir também, você tem um evento à noite — Bruce falou para mim.
— Bem, até mais, ! — Ellie sorriu. — Tchau, tchau, Bruce! — ela falou, andando até sua casa novamente e eu e Bruce ficamos acenando para ela.
— Ela é igualzinha a mãe dela — Bruce falou, abismado. — Parece que tem até a mesma idade.
— A diferença é que a mãe dela é uma chata. — Dei de ombros e até eu me assustei com o adjetivo que havia usado.
— Ela não é ‘chata’. — Bruce fez aspas, entrando atrás de mim e fechando a porta. — Você que zoneia. — Ele deu de ombros, pegando sua pasta e tirando uma folha de papel. — Briefing. — Peguei o mesmo, vendo que só tinha uma frase no mesmo.
— Tá fácil — falei, me jogando no sofá.
— Não muito, tem uma reunião com a Fiorella mais tarde — ele falou. — Precisamos mudar sua imagem, está saindo muitas notícias suas com mulheres.
— Eu sou solteiro, qual é o problema? — perguntei, abrindo os braços.
— O problema é que sua imagem fica suja, como uma pessoa irresponsável, sem compromissos, sem foco, o que poderia destruir sua carreira polícia.
— Você está parecendo a vizinha daqui da frente — falei e ele sorriu.
— Essas foram as palavras da sua irmã. Só estou repassando a informação. — Franzi a testa.
— Ela tem alguma ideia? — Virei o rosto para ele.
— Algumas, mas não sei quais. — Ele deu de ombros, se sentando ao meu lado. — Mas não acho que você vá gostar de alguma. — O olhei pelo canto dos olhos e suspirei, encarando a garrafa de uísque na minha frente.
Estiquei a mão para pegar a garrafa, mas Bruce foi mais rápido, batendo a mão na mesma, fazendo-a cair sobre a mesa e estilhaçar em vários pedaços, me fazendo erguer o rosto para ele.
— Você sabe quanto custa essa garrafa? — perguntei e ele deu de ombros.
— Você pode pagar outras. — Ele sorriu. — Mas sem bebidas agora, você precisa se arrumar para o evento de hoje à noite.
— Estamos no meio da tarde. — Ele concordou com a cabeça, se levantando do sofá.
— Sim, mas precisamos treinar algumas respostas, pois estará cheio de jornalistas hoje. — Afirmei com a cabeça.
— Ok. — Passei a mão na cabeça, respirando fundo. — Eu preciso de uma aspirina, um banho e um sanduíche — falei, levantando, sentindo as costas doerem.
— Eu espero você aqui.
— Pode fazer um sanduíche para mim? — perguntei.
— Eu sou seu assessor, não seu cozinheiro. — Ele sorriu.
— Pedir um McDonald’s, então? — Bruce revirou os olhos e se afastou, colocando o telefone na orelha.
Puxei o freio de mão e respirei fundo, sentindo o choro preso na garganta, mas respirei, balançando a cabeça. Dei uma rápida olhada em meu rosto, passei a mão embaixo dos olhos, tomando cuidado para não tirar o resto de maquiagem que ficara no rosto no fim do dia.
Conferi o horário e vi que já passava das onze horas da noite, nem consegui ficar a noite com a minha filha. Suspirei e abri a porta do carro, pegando minha bolsa e a bolsa do computador junto.
Soltei um suspiro alto quando vi a placa de tinta fresca e uma fita envolta da porta do elevador e tentei abrir um sorriso, o dia estava no fim, não poderia ficar pior. Saí da garagem pela entrada dos carros e balancei a cabeça ao ver os paparazzis do lado de fora do portão, tirando fotos do nada. Ou de uma pessoa que trabalhou o dia inteiro, com a apresentação pessoal já fraca.
— Boa noite, senhora Weddburgh! — Acenei para o porteiro, seguindo para dentro do prédio, agradecendo pelo elevador do térreo estar funcionando.
Chamei o mesmo e aguardei, vendo o contador passar de andar para andar, ele estava no meu andar, o último, meu vizinho irritante e político devia ter chego há pouco tempo. Olhei para o lado e notei um panfleto colado à parede com o nome do meu vizinho e o número da sua candidatura e puxei o panfleto com tudo para baixo, amassando-o e jogando dentro da bolsa.
Entrei no elevador e apertei o mesmo, me apoiando na parede às minhas costas enquanto ele subia. O dia não havia sido fácil e, para ajudar, eu estava me sentindo culpada por ter deixado Ellie com Brigite o dia inteiro.
Ok, eu sempre chegava tarde, mas eu sempre a pegava acordada e passava um tempo com ela. Quando a porta do elevador se abriu, eu estava com um pouco de delay, e acabei ouvindo a conversa do lado de fora.
— Não, Fiorella, eu não vou fazer isso. — Ouvi a voz do meu vizinho e revirei os olhos, outra mulher.
— Se você quiser manter sua candidatura, vai sim. — Franzi a testa e segurei a porta do elevador em um baque, antes que ela fechasse novamente. — Caso você não faça isso, é isso que vai acontecer, o partido vai te largar como candidato ou você terá uma derrota dolorida. — Saí do elevador devagar.
— Com licença, desculpa incomodar! — falei, saindo para o meu lado do corredor de cabeça baixa.
Um silêncio se instalou no corredor e eu sabia que havia quebrado o clima. Não entendi muito bem, mas se estava falando do cancelamento da candidatura do senhor , a situação estava tensa.
Para ajudar, eu havia jogado a chave do carro na bolsa novamente e não achava de jeito nenhum. Balancei a cabeça e respirei fundo, parecia que o choro estava preso na garganta, eu queria um longo banho e me jogar na cama.
— Você mora aqui? — Demorei um pouco para perceber que a pergunta havia sido para mim.
— Está falando comigo? — perguntei, virando o corpo, notando que ela e o senhor estavam finamente vestidos.
— Sim! — a mulher confirmou, assentindo com a cabeça.
— Moro, sim! — Ela parou, entortando o pescoço um pouco e pude notar que ela estava me analisando. Olhei para , que tinha a feição cansada e nervosa, e as bochechas estavam avermelhadas, mas não sabia dizer se era raiva ou vergonha.
— O que acha dela? — a moça perguntou para e eu franzi a testa, não entendendo. — Olha que beleza, ela é bonita, bem-vestida, provavelmente acabou de voltar ao trabalho, então deve ser responsável e tem cara de ser discreta. Além de vocês aparentarem ter idades parecidas. — A mulher colocou a mão na cintura, dando dois passos em minha direção.
— Meu Deus! — não sabia onde se esconder.
— E você, o que acha dele? — ela perguntou para mim.
— Eu acho que não estou entendendo. — Balancei a cabeça, tirando o cabelo do rosto. — Licença, eu preciso cuidar da minha filha. — Voltei a procurar pelas minhas chaves.
— Ah, você tem uma filha, mas não é casada, aparentemente — a mulher continuava a falar como se estivesse em um monólogo. — E então?
— O que você está dizendo? — falei, tentando conter meu tom de voz.
— O que acha de se casar com esse espécime aqui do sexo masculino? — Ela puxou a mão de como se fosse fazer o casamento ali mesmo. — Podemos pagar bem. — Eu não aguentei e ri, sarcasticamente.
— Eu não sei sobre o que isso se trata, mas eu sou dona de uma empresa muito bem-sucedida nos Estados Unidos e no mundo, moro em um dos endereços mais caros do mundo em frente ao Central Park. — Ergui os olhos para . — Se você acha que eu preciso me casar com alguém ou de dinheiro para ficar agradável a vocês, você realmente não me conhece. — Balancei a cabeça, colocando a chave na porta e abri a mesma bruscamente.
— Eu disse algo de errado? — ouvi a mulher dizendo.
— Me poupe, Fiorella. — Ouvi, antes de fechar a porta com tudo.
Encostei na porta e balancei a cabeça, acho que ainda estava um pouco confusa sobre o que tinha acontecido do lado de fora. Então estavam procurando uma noiva para limpar o nome do meu vizinho? Balancei a cabeça e fiz um rápido nó no meu cabelo, eu estava acabada.
— Está tudo bem? — A babá de Ellie perguntou e eu balancei a cabeça.
— Oi, Anna, tudo bem? — Balancei a cabeça. — Mil desculpas pelo atraso. — Ela balançou a cabeça, negando.
— Não se preocupe, sua assistente ligou. — Ela sorriu e eu apoiei a bolsa na mesa de jantar.
— Como Ellie se comportou hoje? — Anna riu da minha pergunta.
— Como sempre, deu uma volta pelo condomínio, fez sua lição de casa, ficou desenhando e costurando o dia inteiro. — Confirmei com a cabeça e peguei algumas notas.
— Obrigada! — Entreguei as notas para ela.
— Eu que agradeço, senhora Weddburgh. — Ela sorriu, juntando o dinheiro e guardando no bolso de trás da sua calça. — Até amanhã?
— Mesma hora, mesmo lugar! — falei e ela sorriu, saindo pela porta da frente.
Observei a TV ligada e respirei fundo, tirei minhas joias e acessórios na sala mesmo e segui para o quarto de Ellie, abrindo a porta que estava entreaberta. Ela dormia calmamente, o corpo encolhido na cama e um lençol fino por cima. Ouvi um miado baixo e vi Bee em sua almofada.
Me sentei na beirada da cama e tirei os cabelos de Ellie do rosto, dando um beijo em sua bochecha, que não a fez se mexer. Olhei para o canto do quarto e vi, no pequeno manequim, um novo tule com três tons de amarelo, abri um sorriso, imaginando o quão orgulhosa ela deveria estar do seu trabalho.
Fiquei alguns minutos só observando minha pequena dormir, mas quando Bee começou a se enroscar em minha perna e miar, eu saí, puxando a porta do mesmo e deixando Bee do lado de dentro. Eu não gostava dessa gata e ela fazia questão de ficar se enroscando em mim.
Passei pelo corredor, tocando os quadros da gravidez de Ellie e sorri, lembrando do quanto eu quis aquela menina e ela estava aqui, me fazendo uma pessoa melhor e mais feliz a cada dia que passava.
Peguei minhas bolsas na sala e levei para meu escritório, empilhando alguns contratos e senti meu corpo se enrijecer quando vi a quebra de contrato de Andreza e Michael.
Larguei tudo em cima da mesa e fechei a porta, seguindo para meu banheiro. Abri a torneira, deixando a água começar a encher a banheira e esfumaçar o banheiro. Deixei minha roupa na cadeira mais próxima e me encarei no espelho, molhando a mão na água e passando pelo rosto, notando uma olheira forte aparecer embaixo da maquiagem.
Entrei na banheira, sentindo meu corpo relaxar no mesmo e encostei a cabeça, soltando um suspiro alto. Quanto tudo estava quieto, o choro que estava preso na garganta o dia inteiro saiu.
Eu estava me sentindo sufocada, cuidar de cancelamento de casamentos trazia à tona vários sentimentos em mim, sentimentos que eu não gostava de lembrar, sentimentos que haviam sido deixados para trás há mais de vinte anos.
Afundei o corpo na água e me acalmei algum tempo depois, conseguindo finalizar meu banho. Saí do banheiro e voltei para o escritório, respirando fundo antes de abrir o notebook, espalhar os documentos e minha agenda que Lily preparara para mim.
Antes de começar, bati o olho rapidamente no horário e o ponteiro acabara de cravar meia noite.
— Mãe, pai? O que estão fazendo aqui? — falei, logo que Fiorella abriu a porta de sua casa. — Não acredito que estão envolvidos nisso também.
— Então, querido... — minha mãe foi interrompida pelo meu pai.
— A escolha é sua, , se você quer virar prefeito dessa cidade ou não. — A delicadeza do meu pai era de assustar.
— Mas como isso vai me fazer virar prefeito? — Todos se viraram para Bruce.
— É simples, meu caro secretário. — Ele se levantou de sua cadeira, dando espaço para eu me sentar. — Apesar de todas as lutas sobre direitos iguais, homens e mulheres, transgêneros, LGBT e todas as minorias que estão merecendo maior destaque nos dias de hoje, ainda existe aquele grupo de pessoas, na maioria deles eleitores, que são bastantes conservadores. — Ele ligou a televisão e eu me sentei na poltrona em frente à TV. — E é esse pessoal que devemos atingir... Por pior que seja a situação. — Ele deu de ombros. — Não se esqueça que o voto nos Estados Unidos é facultativo, então você tem que dar motivos para as pessoas saírem de suas casas, aguentarem filas para eleger alguém que trará um melhor desempenho... — Ele virou para meu pai. — Com toda educação, senhor . — Meu pai balançou a cabeça.
— Não se preocupe, Bruce, eu entendo. — Meu pai balançou a cabeça. — Quero que seja um prefeito melhor do que eu fui.
— Sem pressão, pai, obrigado! — Minha mãe e irmã riram.
— Esse dito casamento, querido, não te dará uma sentença pelo resto da vida, o que pedimos é um ano para seu sonho se realizar — minha mãe falou.
— E por que um ano? Por que não menos? As eleições são em sete meses. — Parei, balançando a cabeça. — Afinal, por que não um relacionamento falso? Por que preciso me colocar em frente a um juiz e fingir amor eterno a uma pessoa?
— Aparências, irmãozinho! — Fiorella sorriu. — Mostrar você de mãos dadas com uma pessoa escolhendo alianças, enfeites, flores, salões de festas, tudo isso vai dar popularidade e maior foco a você.
— Toda vez que falarem sobre esse casamento, falarão sobre sua candidatura a prefeito — Bruce falou. — Confia no que a gente fala. — Ele piscou para mim e eu passei a mão na cabeça.
— Por que estão fazendo isso comigo? — Senti que minha voz saiu quase como um choro.
— Apesar de você ser uma pessoa excelente, querido, ter ideias magníficas para esse pessoal, sua imagem não está muito boa — Fiorella falou. — Você está em baixa, apesar de ser sucessor do papai. — Ela deu um sorriso de lado. — E como eu sei que esse é o seu sonho e que você tem muito a oferecer para essa cidade e para esse país, peço que nos dê uma chance. — Respirei fundo, encostando as costas na poltrona novamente, respirando fundo.
— E quem será a escolhida? — perguntei, balançando a cabeça.
— Você fará essa escolha. — Bruce ligou a TV e Fiorella me entregou uma pasta com várias folhas. — Fizemos uma pré-seleção — Bruce falou. — A maioria são atrizes que poderão interpretar muito bem esse papel, mas escolhemos atrizes que tenham uma vida real por trás disso, uma formação, um emprego convencional, para mostrarmos também que essa pessoa é boa.
— Algumas dessas atrizes são conhecidas na mídia? — perguntei.
— Não! — Fiorella falou. — Fizemos um acordo com uma agência que nos apresentou atrizes novas no casting, sem trabalhos televisivos ou cinematográficos, além deles prometerem por contrato que retirarão a escolhida do casting e de todas as redes sociais que ela possa ter sido divulgada pelo resto da vida.
— Para ajudar, vocês estão acabando com a carreira de uma pessoa — falei, sorrindo, e Bruce deu de ombros.
— Com o dinheiro que pagaremos a ela, quem disse que ela precisará de uma carreira? — Meu pai sorriu para mim e eu revirei os olhos.
— Vocês estão indo contra tudo que eu luto. — Balancei a cabeça.
— Não tem como fugir mais, irmãozinho — Fiorella falou e a TV ligou, mostrando a primeira candidata.
— Rachel Walis, 36 anos, atriz e jornalista, trabalha há 15 anos no jornal The New York...
— Não! — falei na lata e todos se entreolharam. — Ela trabalha há 15 anos no maior jornal da cidade e ninguém nunca nos viu juntos? — Eles afirmaram com a cabeça. — Tem que pensar nisso também. — Suspirei, me ajeitando na poltrona. — Próxima! — falei para Bruce, que confirmou com a cabeça.
Continua...
Nota da autora: Oi, gente!
Aproveitei esse especial para trazer Power para o Ficsverse!
Eu tenho um amor especial por essa história e espero que tenham também!
Boa leitura e não esqueça aquele comentário!
Aproveitei esse especial para trazer Power para o Ficsverse!
Eu tenho um amor especial por essa história e espero que tenham também!
Boa leitura e não esqueça aquele comentário!
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