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Revisada por: Aurora Boreal 💫

Última Atualização: 09/09/2024

Era oficial.
estava ficando louca.
Enquanto seguia a recepcionista pelo imenso salão do Craig’s em direção à mesa reservada, tentava racionalizar as razões que a trouxeram até ali. Ela não sabia por que havia concordado com aquilo.
Os olhares na sua direção eram justificados, não estava vestida para um encontro, muito menos em um restaurante como aquele. Craig’s era o restaurante favorito das celebridades. E ela tinha quase certeza que viu Kim Kardashian quando estava entrando. O ambiente era simples, mas muito elegante com decoração rústica amadeirada, com bancos de couro redondos e mesas de toalhas brancas.
Não pretendia ir naquele encontro às cegas, estava decidida a ligar para sua amiga Denise e dizer que surgiu um imprevisto, mas quando a mesma enviou o endereço do restaurante, sentiu-se culpada em cancelar uma reserva que muitos passam dias tentando conseguir.
Denise era uma alma generosa, uma socialite rica e bem nascida, mas com um coração enorme. Ela foi uma das primeiras clientes de quando começou a trabalhar em Los Angeles e a mulher mais velha tornou-se uma figura presente na sua vida. Seu único defeito era não aceitar que fosse solteira e estava sempre com planos mirabolantes de cupido.
Você é uma mulher linda e inteligente, tenho certeza que é perfeitamente capaz de encontrar alguém sozinha, mas prefere a solidão.
― Denise, obrigada de verdade por se preocupar comigo, mas nós já discutimos sobre isso antes. Kai é minha prioridade no momento. Eu não tenho tempo para sair com ninguém.
― Então deixe-me cuidar disso para você. Não se preocupe com nada, você só precisa aparecer no dia e hora marcada.

desejava do fundo do coração que as pessoas ao seu redor parassem de achar que ela estava deprimida ou que não era feliz de alguma forma. Ela tinha um filho lindo e saudável, e era dona do seu próprio negócio que prosperava sem parar. Nada lhe faltava. Seu trabalho duro estava valendo a pena. Sua vida social, no entanto, não existia.
É verdade que ela estava sozinha há muito tempo, mas ela não estava procurando por um relacionamento, não tinha tempo para isso. Ela duvidava que qualquer homem que Denise conhecesse poderia fazê-la perder o foco. Mesmo assim, não teve coragem de desmarcar e talvez estivesse um pouco curiosa de saber quem era o misterioso homem que a amiga disse ser um par perfeito para ela, mas não iria admitir em voz alta.
― Aproveite o seu jantar, senhora.
A viagem até a mesa foi mais rápida do que esperava. O lugar escolhido era provavelmente o melhor de todo o restaurante, uma bela vista de toda a área. Haviam flores e plantas decorando as mesas. O cheiro das rosas acalmou por alguns segundos.
― Oi? Você deve ser o ? ― perguntou, tirando as mãos dos bolsos da jaqueta.
O homem sentado na mesa à sua frente a olhou e pôde ver a surpresa se formar nas suas feições, tinha certeza que seu próprio rosto mostrava a mesma reação.
Ele se levantou, e ela foi completamente sugada por aqueles orbes azuis que a fizeram prender a respiração. Ele era uns bons quinze centímetros mais alto que ela, os ombros largos a fizeram se sentir um pouco menor.
― Sim, e você deve ser . ― Ele estendeu a mão para ela, suas pupilas claramente dilatadas.
tentava manter a calma, mas seu subconsciente já tentava memorizar cada detalhe do rosto daquele homem tão lindo à sua frente. Ele usava uma camisa branca de botões, que parecia simples enfiada no jeans, mas o blazer preto que completava o visual lhe dava um ar sofisticado.
O homem segurou sua mão um pouco mais longamente, seu olhar de cílios loiros estudando sua figura.
― Por favor, sente-se. É ótimo conhecer você, finalmente.
a olhava intrigado com um pequeno sorriso no rosto, ele não parecia chocado ou constrangido com a sua aparência despojada.
― Me desculpe, eu acabei de sair do trabalho e vim direto para cá.
respirou fundo e antes que o homem pudesse respondê-la, ela continuou com seu discurso ensaiado.
― Serei completamente sincera com você agora, . Eu não queria vir. Isso tudo foi ideia de Denise, ela insistiu muito para eu tentar. Não preciso de um encontro às cegas para arranjar um relacionamento. Realmente não tenho tempo para isso. Tenho um filho de 6 anos que preciso trabalhar muito para criar, então não posso entreter a ideia de um relacionamento agora, ou em um futuro próximo.
Se fosse um babaca, provavelmente a xingaria agora e iria embora encerrando essa noite mais cedo. teve sua cota de homens desagradáveis nos últimos anos. Homens que não aceitavam serem rejeitados, então estava acostumada com o tipo.
― Uau! ― ele disse e riu um pouco. ― Se importa de me dizer por que você veio, então? ― perguntou, a voz embebida em simpatia e curiosidade. Os olhos azuis ainda a encarando intensamente.
ajeitou-se na cadeira e levantou o queixo.
― Me senti culpada, é muito difícil conseguir uma reserva nesse restaurante. E também acredito que você merece a verdade sobre como me sinto sobre tudo isso.
― Obrigado pela consideração! ― disse sorrindo e gesticulou para que o garçom se aproximasse da mesa.
― Deseja realizar o pedido, senhor?
― Eu não posso demorar ― se apressou em deixar claro que não ficaria muito.
― Ok. Qual o prato mais rápido que você me recomenda?
O garçom pareceu surpreso por um momento, mas respondeu rápido.
― Pizza, senhor? O hambúrguer da casa é excelente.
― Quanto tempo?
― 30 minutos, no máximo.
virou-se para , levantando as sobrancelhas.
― Pizza para mim está ótimo. Pepperoni Margherita.
― Buffalo Wing para mim. Obrigado.
O garçom, claramente confuso com o diálogo, olhou para os dois uma última vez e saiu em direção à cozinha.
― Aceita uma taça de vinho? — ele perguntou.
Seus lábios se curvaram em um sorriso que lhe tirou o fôlego, fazendo-a desistir do plano de se levantar e ir embora.
― Sinto muito, mas estou dirigindo ― murmurou apressadamente.
― Tudo bem, eu moro aqui perto, vim andando.
piscou algumas vezes, um pouco surpresa com a tentativa do outro de iniciar uma conversa. Por que aquele homem ainda estava ali sendo tão simpático, como se não tivesse acabado de levar um fora de uma desconhecida?
― Temos 30 minutos até que a pizza chegue. Prefere ficar em silêncio?
cruzou os braços na frente do peito, tentando parecer sério, mas o brilho em seus olhos o denunciava. suspirou, se ajeitando novamente na cadeira para ficar confortável, já que ficaria ali por mais um tempo.
― Desculpe por essa situação, mas eu realmente não estava preparada para vir.
― Não precisa se desculpar. E o que você faz para viver, ?
mordeu os lábios. Não sabia como lidar com essa situação. Estava preparada para dar meia volta e ir para casa após seu desabafo sincero, mas estava agindo como se nada tivesse acontecido.
― O que Denise contou sobre mim?
― Apenas seu nome e sua idade. , 30 anos.
― O mesmo comigo. , 35 anos. ― Ele sorriu e notou que ele tinha um sorriso muito bonito. Sem dúvidas, era um homem atraente.
― Sou advogada e investigadora particular. Divido um pequeno escritório com um sócio, não muito longe daqui.
― E é isso que você sempre quis fazer?
Normalmente, teria considerado todas aquelas perguntas como invasão de privacidade. Não costumava contar tanto sobre si para pessoas que acabara de conhecer.
― Sim, desde pequena, eu sabia que acabaria fazendo algo assim. E você? O que faz da vida?
― Nada tão interessante quanto o que você faz. Sou fotógrafo profissional, tenho uma galeria e um estúdio, e trabalho com algumas revistas.
― Por que está aqui, ?
― O que quer dizer?
― O que um homem como você faz em um encontro às cegas?
― Um homem como eu? ― ele sorriu de lado, olhando-a vagamente divertido antes de tomar um gole da sua taça de vinho. ― O que isso quer dizer, exatamente?
tentou não sorrir.
― Sim, um homem como você. Você é provavelmente bonito, educado e provavelmente rico. Aposto que não faltam opções, caso você queira se envolver com alguém.
Estudou-o um pouco mais por cima da mesa. exalava uma calma que ela nunca havia experimentado na presença de outra pessoa. Ele parecia ser tão leve. E, claro, não dava para ignorar aquele sotaque sensual ou o cabelo loiro cuidadosamente desarrumado, como se ele tivesse acabado de transar com alguém.
― Eu não diria isso.
― Fala sério! Tenho sido sincera com você desde que cheguei. Aposto que modelos e atrizes famosas se jogam aos seus pés.
tentava ler aquelas íris azuis que a fitavam tão profundamente, mas ele mantinha uma calma invejável.
― Não acho que me gabar de ter mulheres se jogando aos meus pés é algo legal para se dizer em um primeiro encontro.
― Isso não é um encontro.
― Claro que não, como pude esquecer disso? ― Ele soltou um risinho irônico. ― Tem razão. Antes de você chegar, pelo menos duas mulheres tentaram flertar comigo.
sorriu vitoriosa.
― Eu sabia. E então? Por que está aqui?
― Não tive nenhum relacionamento duradouro desde que me divorciei há três anos. Meus amigos dizem que preciso conhecer mulheres de verdade e ficar longe das modelos. Não tenho paciência para aplicativos de namoro, não acho que encontros online são para mim. Decidi deixar uma amiga procurar alguém que ela considerasse apropriada.
sentiu-se mal por ser a pessoa que ele conheceu na sua tentativa de algo novo. Ela não estava disponível para um relacionamento sério. Não podia negar que aquele homem a deixava intrigada, mas os dois não tinham nada em comum. Não tinha tempo para se envolver com ninguém, muito menos com ele.
— Vamos encarar a realidade, . Nós dois fomos atraídos para cá porque temos uma amiga em comum que acredita que sabe o que é melhor para nós, quando é óbvio que somos pessoas muito diferentes.
conseguiu observar no rosto dele que suas palavras foram duras o suficiente para machucar um pouco, mas ele não perdeu a postura.
― Talvez, mas você deveria saber que, às vezes, duas coisas diferentes podem funcionar muito bem juntas.
Os olhos dele brilharam, depois se desviaram dos dela, parecendo constrangido por um momento. colocou alguns cachos do seu cabelo atrás da orelha. Não sabia mais o que dizer para provar-lhe que não estava interessada em namorar, esperava ter sido clara o suficiente. Sabia que todo o discurso de não ter tempo ou vida social para fazer mais nada soava patético, mas não se importava. Provavelmente não o veria outra vez depois daquela noite, mas, apesar disso, precisava admitir que era uma figura interessante.
Certamente, ele não estava tentando seduzi-la para uma noite de sexo sem compromisso. Com aquela aparência, ela duvidava que ele algum dia teve que seduzir uma mulher. não queria ser seduzida. Seu corpo estivera congelado por anos, não se sentia atraída por ninguém de verdade há bastante tempo, não era como se não tivesse feito sexo desde que deu à luz, mas a última vez fora há mais de um ano e não foi agradável.
Nesse momento, um garçom se aproximou.
― Posso lhe servir mais uma taça de vinho?
Ele assentiu. Era difícil ler no seu rosto o que ele estava pensando e eles ainda tinham que ficar ali naquela situação por mais alguns minutos até que a comida chegasse e eles pudessem usá-la como desculpa para não falar.
― Hum! Eu já volto.
Sem olhar para ele, levantou-se e caminhou em direção ao que acreditava ser os banheiros do restaurante.
encarou o espelho por alguns instantes. Estava bonita, parecia cansada, mas sua aparência ainda estava boa depois de um dia inteiro de trabalho. Alguém que não a conhecia apenas enxergava a pele negra saudável, os olhos expressivos e os lábios carnudos. Mas, por dentro, não era tão bonita assim. Tinha muitas mágoas, feridas abertas e uma dificuldade enorme em abrir o coração.
Saiu do banheiro controlando a vontade de passar direto para a saída, olhando para frente, sem fazer contato visual com o cara, até estar fora do restaurante. Não podia fazer isso, não era covarde, decidiu ficar e encarar aquela situação como uma adulta até o fim. Sentou-se à frente dele na mesa novamente e teve que conter o riso quando o homem a olhou surpreso, ele provavelmente não acreditava que ela fosse voltar.
A verdade é que ela estava curiosa, era uma brisa de ar fresco na sua vida monótona e parecia um cara genuíno, mas infelizmente, ela não poderia saber mais sobre ele, porque isso a colocaria em uma situação em que ela não queria estar.
não podia se dar ao luxo de ficar interessada em um homem como ele. No entanto, quanto mais ela tentava se convencer disso, mais ela sabia que era mentira.




— Você nasceu aqui? — A voz de soou calma enquanto seus lábios tocavam a taça de vinho.
o olhou curiosa, não pensou que seria ele novamente a quebrar o silêncio constrangedor.
— São Francisco, mudei para cá depois que…
Parou antes de revelar ser viúva, não achava necessário dar esse detalhe de sua vida para alguém que provavelmente não veria novamente. Por outro lado, isso com certeza o assustaria de verdade. Sua história era triste demais para compartilhar, não gostava do olhar de pena que recebia sempre que precisava contar essa parte. queria acreditar que seu passado trágico não a estava perseguindo e influenciando todas as suas decisões, mas não podia ignorar esse pensamento que voltava ocasionalmente.
visitava o pai que conheceria o neto pela primeira vez quando recebeu a notícia. Seu marido morreu em um acidente de carro. Um motorista bêbado ultrapassou um sinal vermelho. Foi horrível. ficou sozinha para criar seu filho recém-nascido e teve que se virar. Podia sentir seus olhos arderem, não conseguia evitar ficar emotiva com as lembranças. Eventualmente, teve que se mudar para Los Angeles para perto do seu pai, que já morava na cidade há alguns anos. A ajuda dele era essencial, ele amava o neto e faria tudo por ele, mas assim como Denise, ele insistia para ela tirar algum tempo para si mesma. não se sentia pronta para isso.
— Depois que meu filho nasceu, acreditei que seria melhor criá-lo perto da minha família. E você?
— Londres — respondeu sucinto, desviando seus olhos azuis para a grande janela de vidro que tinha vista para o jardim. — Mudei para Los Angeles há mais de 10 anos.
― E o que o trouxe para a América?
agora estava realmente curiosa, não tinha vergonha de admitir. Estava explicado a origem do sotaque britânico sedutor, mas não o porquê ele estava tão longe de casa.
― No começo, eu só queria ser famoso, modelo ou ator, e acabei como fotógrafo. A vida de celebridade não é para mim. ― Ele a encarou de repente com aquelas íris azuis tão intensas.
Ela tinha que admitir que o cara era legal o suficiente para que ela continuasse a conversar com ele, então, por que a ideia de continuar a perguntar sobre sua vida a deixava nervosa? Ela repetia para si mesma que o interesse não era romântico e, sim, puramente profissional. Ele poderia ser um exercício para o seu trabalho de investigadora.
O restaurante estava cheio, mas o barulho das conversas nas mesas não era o suficiente para distraí-la naquela hora. ainda a observava. Balançou a cabeça para ver se colocava alguma razão em seus pensamentos e respirou fundo.
― Se não acha que consegue ser famoso, por que não voltou para casa?
― Eu me apaixonei pela cidade.
― Deve ser bom para seus negócios. Ficar perto da agitação. Tipo baladas, modelos, atrizes, gente rica.
― Me aposentei da animação. Tive minha cota de aventuras, acredite. Os negócios vão muito bem sem eu precisar estar fora de controle todas as noites.
— Fora de controle, hum? Como assim?
— Não quero te dar uma má impressão de mim no nosso primeiro não encontro.
abriu um sorriso bonito, tomando outro gole do seu vinho. E não pôde evitar sorrir também. Sentindo a garganta seca, ela fez o mesmo com a taça de água na sua frente.
— Certo. Então me conte sobre você e o seu trabalho. Quero saber um pouco mais, parece muito interessante.
— O que quer saber?
― O que você faz exatamente? É como o trabalho da polícia?
— Não, meu trabalho é mais contido, a polícia não quer civis se metendo onde não devem. Geralmente sou contratada para realizar o trabalho que a polícia não quer fazer.
— Você passa seus dias seguindo maridos infiéis?
— Por incrível que pareça, não recebo muitos casos de mulheres traídas.
Finalmente o garçom se aproximou e serviu a mesa com o prato escolhido e seus acompanhamentos. esperou que aquilo fosse tirar o foco da conversa de si mesma, mas quando os dois ficam sozinhos novamente, retomou o assunto.
― Dá para notar que seu trabalho é muito importante para você.
— E você? Por que fotografia?
— Sempre foi a minha coisa. Desde criança. Por isso achei que seria modelo — disse, antes de começar a comer.
― Você parece um modelo.
deu uma risada. E novamente riu com ele.
― Você tem um sorriso lindo — ele disse, olhando nos olhos dela.
desviou o olhar para seu prato, sem saber como reagir ao elogio repentino. Ele estava tentando flertar com ela?
Depois disso, os dois comeram em um silêncio confortável. Nos minutos seguintes, ele falou brevemente sobre a comida, mas a deixou comer sem puxar assunto novamente. Ele abriu um sorriso quando o garçom chegou para limpar a mesa, e continuou em silêncio até que terminasse.
Quando a conta chegou, ela deixou que ele pagasse por tudo, não parecia justo, já que ela não lhe ofereceu nenhum tipo de entretenimento durante aquela última hora, mas mesmo sem o conhecer o suficiente, ela tinha certeza que ele não permitiria que ela pagasse metade do valor total.
Na frente do restaurante, lado a lado, os dois esperavam o manobrista trazer o carro de . O que ela deveria dizer para se despedir? Certamente aquela situação era estranha, mas o jantar não havia sido ruim, ela conseguia imaginar como aquela noite poderia ter sido bem pior.
― Bom, isso não foi tão ruim como eu pensei que seria quando resolvi ficar.
Ele riu.
― Sério? O que estava esperando?
― Após ter lhe dado um fora tão diretamente no exato momento que te vi, eu imaginei que você me xingaria por fazer você perder seu tempo sem nem ao menos se dar bem no fim da noite.
Ele ergueu as sobrancelhas.
― Você foi estranhamente compreensivo com toda a situação, e não é isso que costuma acontecer. Os homens conseguem ser muito babacas. Sem ofensas.
Seus lábios se curvaram de novo.
― Não fiquei ofendido. ― Os olhos dele escanearam seu rosto. ― Posso ser sincero com você, ?
Ela ficou surpresa com o apelido que pareceu tão natural para ele, como se os dois se conhecessem há anos.
― Claro.
― Entendo e respeito que você não esteja à procura de um relacionamento, mas você é uma mulher linda e qualquer homem que disser que não se sente atraído por você após alguns minutos na sua presença, estará mentindo.
sentiu-se envergonhada pela segunda vez naquela noite. Sua mente estava uma bagunça. De repente, a proximidade deles a deixou ansiosa por algo que ela nem mesmo sabia o que era. Ele enfiou as mãos no casaco e olhou para frente em direção à rua, não parecia esperar alguma resposta. Assim de perfil, seu rosto era perfeito. Distraída, não percebeu que ele agora olhava para ela.
Antes que pudesse dizer algo, seu carro já estava pronto para ir. Recebeu as chaves da mão do manobrista e agradeceu antes de virar-se novamente para , que ainda a encarava.
― Me desculpe novamente por tudo isso.
― Não tem nada para se desculpar. Eu tive uma noite muito agradável. Boa noite, . Se cuida.
Sem esperar que ela respondesse, caminhou em direção à rua.
― Boa noite! — respondeu baixinho. Observou ele caminhar pela rua por alguns segundos antes de entrar no seu Jeep e dirigir para casa.

***

Passava das 22 horas quando entrou em casa e encontrou seu pai na sala de estar, distraído com um livro no seu colo.
― Oi, pai! ― disse, trancando a porta atrás de si.
O homem parecia não ter notado que ela entrara, mas abriu um sorriso assim que a viu.
― Oi, ! Você demorou. Muito trabalho?
― Não. Na verdade, eu estava em um encontro. Um encontro às cegas, para ser mais específica.
Ela riu e sentou ao seu lado no sofá. Seu pai não disfarçou a surpresa, fechou o livro e virou-se para ela, ansioso por mais detalhes.
― E como foi?
tirou a jaqueta, deixando-a de lado. Ignorou como a resposta para aquela pergunta era tão fácil.
― Surpreendentemente, não foi ruim.
― Isso significa que-
― Não significa nada, pai. Não existe espaço para outro amor na minha vida, por enquanto. Por falar nele, Kai está dormindo?
― Deveria estar. Coloquei ele na cama uma hora atrás.
Sob o olhar preocupado do seu pai, andou em direção à escada.
― Obrigada. Vou dar uma olhada nele e depois vou para cama. Boa noite, pai!
Ela subiu as escadas segurando os longos cabelos cacheados no alto da cabeça, enrolando-o em um coque bagunçado. No quarto ao lado do seu, Kai dormia profundamente, ainda segurando seu tablet. Sorriu para si mesma, ajeitou o cobertor sobre ele e debruçou-se beijando sua testa.
Seu coração se apertou, tinha tanto amor pelo filho e pela pequena família que eles tinham. Ela realmente acreditava ser suficiente. Tinha que ser. No seu quarto, ela abriu a janela de vidro para que um pouco de ar entrasse. A noite de março estava fria. Ela respirou fundo, a lua cheia alta brilhando ao longe. A solidão bateu. Ela estava tão cansada.
Pensou em mais uma vez, no fundo da sua mente, desejava que ele não a esquecesse. Desejava que aquela noite estranha ficasse na sua memória por alguns dias. Nem que fosse como a lembrança do pior encontro que ele já teve.




Presa no trânsito de Los Angeles, mal podia acreditar que estava mesmo indo atrás de 6 meses depois daquele encontro às cegas.
O cliente que a procurou naquela manhã era de uma família rica e pediu urgência e confidencialidade no seu caso. Quando começou a estudar as pistas no seu intervalo na hora do almoço, descobriu que elas levavam até uma galeria de arte e fotografia em São Francisco, e com uma rápida pesquisa no Google, descobriu que ela pertencia ao famoso e prestigiado fotógrafo . Isso era com certeza uma coincidência muito estranha.
Agora que sabia quem ele é, estava surpresa por ele não ter se mostrado, ele tinha motivos de sobra para contar vantagem, mas aparentemente ele não era assim. Apesar de rico, atraente e o ar de confiança e a calma que ele emanava, ele não era arrogante. Ele não parecia ser do tipo que queria apenas dar uma rapidinha com uma mulher bonita. Ele também não disse nada para Denise sobre o encontro, não pediu seu telefone ou foi atrás dela depois daquela noite, ele respeitou sua vontade de estar sozinha.
Seria uma grande mentira dizer que não pensou em nos dias que se seguiram ao encontro. Pensou nele, no dia seguinte, quando Denise apareceu no escritório perguntando detalhes da noite passada. Pensou nele novamente quando, alguns dias depois, passou em frente ao restaurante. E alguns dias depois, na solidão escura do seu quarto, se pegou pensando: por que não? Porque não terminou a noite na cama com aquele homem.
Nos minutos finais daquele encontro, ele deixou claro que se sentia atraído por ela, mas durante toda a noite havia sido um perfeito cavalheiro. E se não fosse o caso? E se ele tivesse sido ousado e a convidado para ir a sua casa? Ela teria aceitado? Provavelmente não. Não estava pensando em sexo naquele momento. Naquela noite, não havia se dado conta do quão havia ficado atraída por ele. Estava muito concentrada em deixar claro que não queria se envolver com ninguém.
Os dias passaram, e a memória dele foi ficando mais fraca e agora meses depois, ela estava dirigindo até ele. Apertou a direção do carro entre os dedos, precisava manter tudo isso no campo profissional. Era um cliente importante e estava pagando muito bem, não podia deixar seus pensamentos confusos por aquele britânico estragarem tudo.
Sem problemas. Ela saberia lidar com ele.

***

Depois de mais alguns minutos no trânsito, estacionou finalmente a alguns metros do prédio da galeria. Não havia ninguém no balcão de entrada além do segurança mal-encarado. Decidiu andar pelo lugar e não demorou muito para que uma mulher de cabelos cor de fogo e olhos muito verdes viesse na sua direção com um sorriso simpático.
― Boa tarde! Posso ajudá-la?
― Estou procurando o dono da galeria? ?
― Oh! ? Ele está em algum lugar por aqui ― a ruiva olhou em volta por um momento ― ele gosta de falar com as pessoas. Por que não tenta o andar de cima? Siga este corredor até o final e você verá a escada.
― Vou fazer isso. Obrigada!
A galeria era maior do que parecia pelo lado de fora. Pessoas admiravam as obras em algumas salas e era possível ver pequenos grupos divididos e concentrados.
Distraída, quando virou uma esquina, bateu com força em um peitoral masculino musculoso.
― Ai, meu Deus! Desculpe! ― Exclamou e ergueu os olhos.
― Não, eu que peço desculpas… ― o homem começou a falar.
Seus olhares se encontraram e ficaram em silêncio por um momento até que se deram conta.
!
estava ali muito próximo dela, lindo como da primeira vez que o viu.
― Eu mesma.
olhou para baixo, para observar o resto do corpo dele. Como não havia reparado na primeira vez que o viu? O homem era todo musculoso, provavelmente tinha um peito definido e quase dava para ver através da camisa branca que ele usava com as mangas enroladas no antebraço.
Quando seu olhar voltou a encontrar o dele, seu sorriso ficou mais largo. deu um passo para trás tentando colocar alguma distância entre eles.
― Que bom ver você outra vez. Como você está? O que faz aqui?
Ele parecia genuinamente feliz em revê-la. Ela não sabia como interpretar aquilo.
― Oi! .
― Por favor, me chame de .
. Me desculpe aparecer assim, mas estou aqui a trabalho. Será que podemos conversar em particular?
Sua postura mudou e sentiu uma ponta de arrependimento em ter que desmanchar aquele sorriso.
Ele a guiou até seu escritório, uma grande sala com janelas de vidro e sofás de couro. Conseguiu olhar ao redor rapidamente prestando atenção na decoração moderna. Não havia uma mesa para reuniões, ou cadeiras como nos escritórios que ela estava acostumada a frequentar, tudo era bem minimalista. observou o homem se sentar em uma elegante poltrona de cor vermelho vinho e sentou-se à sua frente ainda um pouco intimidada.
― Seu olhar está me deixando nervoso.
Ele cruzou as pernas, apoiando o tornozelo no joelho.
― Que olhar?
torceu os lábios.
― Você está muito séria. Disse que era algo relacionado a trabalho? Posso te ajudar em algo?
― Não é nada tão sério assim. Recebi um caso hoje e acredito que você possa me ajudar.
tentou fazer um bom trabalho resumindo o seu novo caso.
Um casal de uma família bem tradicional da cidade estava à procura da filha mais nova de 22 anos que fugiu da faculdade com o namorado há dois meses e se recusava a voltar para casa. A polícia não podia fazer nada já que ela é adulta e não foi sequestrada. precisava rastrear a herdeira para que seus pais pudessem ter uma chance de persuadi-la a voltar para sua vida.
a ouviu com atenção, esperando para entender em que ele poderia ser útil em todo aquele drama familiar. A jovem fugitiva havia sido vista por alguns conhecidos naquela galeria duas semanas atrás, mas não havia nada nos gastos do cartão de crédito que indicasse que ela havia estado na cidade. precisava ter certeza.
― Claro que posso ajudar. Não vou questionar se isso é ilegal ou não. ― Ele sorriu ― Você é uma amiga pedindo um favor e eu fico feliz em ajudar.
Ela tentou ignorar o estranho incômodo que sentiu ao ser chamada de amiga por ele. ― Muito obrigada!
― Se você tiver uma foto dela e uma data exata, posso pedir a alguém que verifique as câmeras de segurança.
agiu rápido, chamou alguns funcionários e passou instruções.
― Já que isso vai demorar um pouco, aceita tomar um café enquanto esperamos?
― Café?
― Sim, você toma café? ― Ele riu.
Ela ficou calada. Ele a estava convidando para sair? Não poderia ser isso.
― É só café, , a cafeteria fica ali do outro lado da rua. Não há nada além de duas pessoas conversando. Minha companhia é tão desagradável assim?
― É claro que não. Nós podemos ir.
― Ótimo, por aqui, por favor.
Os dois caminharam em silêncio por alguns metros, o lugar estava movimentado naquele fim de tarde, a decoração grunge era bonita e mesmo que ela soubesse que a intenção era fazer o lugar parecer acessível, tudo ali era possivelmente bem caro para seu bolso. Estava feliz por decidir colocar seu melhor jeans e botas novas.
Sentaram-se em uma mesinha nos fundos um pouco distantes da aglomeração.
A garçonete se aproximou rindo para , como se estivesse vendo uma estrela de cinema.
― O que vão querer?
― Capuchino, obrigada.
― Um americano para mim, por favor.
não sabia bem onde aquela conversa iria, mas decidiu que por educação, que deveria ser a primeira a falar.
― Sua galeria é muito bonita. As fotos são incríveis.
a encarou em silêncio por um momento, então lentamente abriu um sorriso sexy.
― Muito obrigado. Fico feliz que tenha gostado.
Por um segundo, ela ficou olhando para ele como uma boba sem saber como continuar aquela conversa.
Sentar frente a frente com dessa vez não era nada como a primeira. Agora ela não podia negar o efeito que ele causou nela da primeira vez. era um homem atraente, e sentia-se atraída por ele.
― Realmente não acreditei que a veria outra vez, , então me desculpe se estou agindo um pouco estranho. Mas vamos lá, me diga, você está bem?
De certa forma era bom saber que ele também não esperava por aquele reencontro. Os dois partiram naquela noite como estranhos ou duas pessoas que se conheciam de vista e não tinham nada em comum.
― Sim, estou bem. Trabalhando bastante. Não tenho muito tempo para outras coisas esses dias. Nada mudou na minha vida. E você, como está?
― Meu apartamento ficou pronto finalmente. Agora tenho um estúdio completo onde posso trabalhar nos dias em que eu não queira vir para a galeria.
― Isso acontece muito?
― Bastante ultimamente, às vezes preciso ficar sozinho para trabalhar.
Um sorriso preguiçoso se formou em seu rosto bonito enquanto ele passava a mão por seu cabelo de fios desalinhados que faziam sua mão coçar com vontade de tocá-los. Era difícil não encarar cada movimento dele.
Ela se ajeitou na cadeira.
― Fico feliz que não tenha ficado nenhum ressentimento entre nós depois daquela noite ― ele continuou ― Foi um bom jantar, apesar das circunstâncias. Conversei com Denise e pedi que parasse com a operação cupido, por enquanto.
Isso significava que ele ainda estava solteiro?
― Não fiquei brava com ela, e muito menos com você, que também não sabia de nada. Tenho certeza que você pode encontrar alguém legal sem precisar de ajuda.
A garçonete se aproximou e serviu as bebidas rapidamente.
― Tem razão. Não preciso. Mas se quer saber, eu fiquei feliz que você tenha aparecido, foi bom conhecer você. No meu primeiro e único encontro às cegas, eu conheci alguém como você. Chamo isso de sorte.
Por que o coração dela estava batendo com tanta força? Ele estava flertando com ela? Uau, fazia tempo que ela não se sentia tão atraída por alguém a ponto de querer flertar de volta. perdeu a capacidade de falar, e ele continuou tomando seu café, parecia que ele sabia exatamente o que causou. Enquanto isso, seu Capuccino estava intacto.
― Também tive uma noite muito agradável.
Decidiu dizer por fim. Não sabia se aquilo era flertar de volta, mas tentou ser sincera.
Durante a meia hora seguinte, a conversa continuou e um café acabou virando um delicioso pedaço de torta de maçã. Conversar com era mais fácil do que gostaria de admitir. Ele era um ouvinte fantástico e estava sempre interessado no que ela tinha para contar e respondia ou fazia comentários no momento certo.
― Alguém já lhe disse que você tem um sorriso lindo? ― perguntou.
foi pega de surpresa pelo elogio.
― Obrigada. Posso te perguntar uma coisa? ― ela disse.
― Tenho a sensação de que você vai perguntar de qualquer jeito.
― Você está flertando comigo?
levantou uma sobrancelha e seus ombros ficaram tensos. Um momento de constrangimento se estabeleceu entre eles.
― Depende.
― Depende do quê?
― Você ficou desconfortável?
pensou por um momento. Ela estava ciente do efeito que ele vinha causando em seu corpo desde que se chocou contra ele na galeria. Não fazia sentido mentir agora.
― Não.
O telefone dele tocou, tirando os dois daquela tensão sexual que pairava pesada sobre eles. limpou os lábios com um guardanapo antes de enfiar a mão no bolso da calça e tirar o aparelho.
― Parece que encontraram o que você precisa. Podemos ir?


Continua...


Nota da autora: Se você já leu minhas histórias em outro site provavelmente já leu essa aqui antes, porém ela foi reescrita com algumas mudanças e cenas extras. Espero que gostem!! xoxo

💫


Nota da Beth Aurora Boreal: Nossa, é tão gostosinho essas interações deles, dá vontade de pôr a Cas em um potinho! <3

Se você encontrou algum erro de codificação, entre em contato por aqui.