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Codificada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 24/11/2024.

hamkke haneun gonggan (gonggan)
(Um espaço em que estamos juntos…)
bts — in the soop



— Você pode efetuar o cancelamento, por favor?
No meio de toda a minuciosa bagunça que se encontrava na espaçosa sala de estar do flat de , sua voz parecia ser o único som a ecoar por ali. Com uma das mãos na cintura, tentava manter sua postura mesmo com as indagações e a dificuldade de conseguir falar com a locadora da casa que havia ficado como sua herança. A questão era que, desde que soube da existência do lugar que agora a pertencia, não havia se interessado em passar algum tempo lá, já que tinha uma vida atarefada e estava longe de ter algum tempo livre, mesmo suas amigas batendo o suficiente na tecla de que, se continuasse daquela maneira, iria envelhecer antes mesmo de perceber ou aproveitar boa parte de sua vida.
Desde então, a grande e arejada casa continuava lá, na província de Gangwon, sendo alugada por uma imobiliária conhecida e de confiança para quem quer que quisesse passar um fim de semana agradável ou até um período de férias.
— Sim, eu entendo. Sei que deixei de forma livre e espontânea para que alugassem, mas queria esse fim de semana em específico. Posso arcar com alguma taxa a parte, se for o caso.
— Podemos tentar fazer como solicitado, mas ainda permanece burocrático, senhorita Cafrey. O contrato feito com os locadores atuais é bem característico e teríamos que reembolsar uma quantia um tanto… bem… Alta. Sem contar as taxas de rescisão do aluguel... — o rapaz, com um tom de voz jovial, tentava explicar do outro lado da linha com todas as palavras possíveis e, do jeito que falava, conseguia perceber que por mais calmo que tentasse permanecer, o nervosismo estava ali, bem evidente. — Eu entendo que queira vir tão repentinamente e não é da minha alçada opinar sobre, mas… Não seria possível um outro fim de semana em questão?
Algum canto de sua consciência ponderou com o questionamento. Ela entendia e compreendia toda a indagação do rapaz, mas não podia cancelar tudo o que havia planejado com suas amigas. Não depois de tanto tempo sem ver parte delas.
viria diretamente do Brasil para que pudesse passar um tempo considerável com ela e, com isso, teria a companhia de , que também embarcaria no mesmo voo para aproveitar a viagem até que chegassem em Seul. Não era algo simples de se resolver, nem mesmo poderia virar para elas e dizer que tudo estava anulado, assim como também planejou com as demais amigas que já residiam no país e eventualmente se encontrariam com elas para seguirem viagem à casa de veraneio.
não podia fazer aquilo, não daquela vez.
— Não posso, infelizmente. Peço desculpas pelo inconveniente, mas não posso fazer dessa forma. Preciso da casa neste fim de semana, pago a quantia necessária, como informei. — respirou fundo, mordiscando os lábios. Com uma das mãos posicionadas abaixo de seu queixo, ela pensava seriamente que não poderia adiar as férias que lutou tanto para conseguir junto das melhores companhias que imaginou ter. Seria um momento de reflexão e descanso, exatamente como ela imaginou desde que seu chefe aprovou os benditos dias.
O atendente do outro lado lhe passou mais algumas informações, a fazendo concordar com o distrato e logo podia-se ouvir o fim da linha inundando o celular da mulher, deixando-a inteiramente aliviada com aquilo.
Ela suspirou, não inibindo um sorriso animado em seu rosto no instante seguinte. Acreditou que finalmente poderia fazer o que tanto havia desejado dali a alguns dias, terminar de arrumar suas malas enquanto fazia sua costumeira chamada de vídeo com as amigas que estavam tão entusiasmadas quanto ela, no outro lado do mundo.
Agora sim, parecia que tudo estava pronto para dar certo.
Mas, por fim, acabou se enrolando e só conseguiu mandar seu carro para a revisão dois dias antes da viagem, além de a mala ter ficado como último item. O que não mudou foi apenas a conversa empolgada com as amigas por video chamada.
— Certo. Acho que coloquei tudo o que preciso.
Disse para si mesma, olhando cada pequeno cantinho da mala que, mesmo parecendo exageradamente grande para um fim de semana, não lhe deixaria na mão. Ali continha tudo o que seria necessário, principalmente em algum caso de emergência.
Não está esquecendo o protetor solar, não é? — a voz de , do outro lado do aparelho celular, que agora estava encostado à sua escrivaninha em um apoio para que ficasse de pé, ecoou, fazendo a mulher erguer seu olhar. A amiga havia chegado com ao aeroporto internacional de Seul havia pouco mais de uma hora e em meio a espera do traslado que as levaria para o endereço de (apenas para uma breve troca de veículos, visto que iriam partir dali a pouco para Gangwon), a preparação da nova localização pelo aplicativo e a animação evidente, palpitavam na arrumação dela. piscou algumas vezes, levantando um pouco a cabeça como se aquilo a fizesse enxergar em uma visão mais ampla do outro lado e pudesse ouvir melhor a amiga.
O que com certeza não aconteceu.
Seria horrível esquecer logo isso. Por que não foi fazendo um pouco por dia?
— Claro que não me esqueci. Coloquei o protetor, os óculos escuros e até aquele creme hidratante que você tanto adora usar, mesmo tendo o seu. — disse, em tom de voz brincalhão, vendo a amiga rolar os olhos, mas abrindo um sorriso enorme depois.
Ainda bem que você me conhece. Ah! — exclamou, retomando a atenção da amiga para a tela do aparelho, enquanto olhava para o lado rapidamente. — Eu vou ter que procurar a agora, saiu dizendo que estava morta de fome e que não comeu direito durante o voo. Você sabe como ela é.... — soltou uma risadinha, enquanto o barulho do aeroporto ressoava do outro lado. Ela fez uma careta.
— Eu tô me sentindo péssima de não poder pegar vocês agora. Deixei o carro na oficina para que dessem uma olhada antes de viajarmos.
Aish, não tem problema! Nós já falamos sobre isso! Estamos super empolgadas em ir de motorista particular. E não vamos demorar a chegar aí!
Quem é? É a ? Pergunta se ela já comprou aqueles bolinhos que eu adoro?
surgiu ao longe, mas em uma distância considerável que a outra conseguisse enxergar, mesmo que minimamente pela tela do seu celular. pôde observar que a amiga havia cortado o cabelo e parecia mais bronzeada que a última vez que haviam se visto.
Claro, já fazia um bom tempo.
— Sou eu mesma, garota. E você não acabou de comer? O que é isso na sua mão?
Eu ia perguntar a mesma coisa. concordou com a amiga, olhando o alimento que a outra segurava, sem ao menos notar a expressão de surpresa e incredulidade estampada no rosto das demais.
Ah, , você sabe que a Pain de Echo é uma das melhores padarias daqui! E também fica pertinho da sua casa… O que é que custa?!
— Tudo bem, tudo bem… Podemos passar lá na ida para Chuncheon, já que é nosso caminho.
balançou sua cabeça, se sentindo mais animada que o normal de estar ali. Ela amava Seul e mesmo não visitando a cidade com frequência, todas as vezes em que estava no local, se sentia confortável como se estivesse em casa. Deixou que seus olhos passassem de para , se sentindo verdadeiramente agradecida por estar com as amigas naquele momento. Depois de tanto tempo, estariam juntas como nos tempos antigos, em que não existiam preocupações e nem a distância para separá-las.
Agora, só faltava o restante de seu grupo para que tudo estivesse completo.
Ok, nós temos que ir! Nos vemos daqui a, hm… ergueu o pulso, olhando para seu relógio e inclinou a cabeça veemente, trocando o celular de mãos. — Quarenta minutos, creio eu. Só vai depender do trânsito.
— Ótimo. Já deixei a entrada liberada na portaria, até daqui a pouco.
Acenou rapidamente podendo observar soltando um beijo desengonçado junto de que dava um pequeno tchauzinho antes de abaixar o celular e desligar a chamada, fazendo com que soltasse uma risadinha fraca ao se lembrar das duas.
As duas juntas nunca deram muito certo.
Depois de desligar o display do aparelho, o colocando de volta na bancada, respirou fundo.
Há muito tempo não tinha um período de descanso, não apenas físico, mas também mental. Desde que havia sido transferida no trabalho, de São Paulo para Seul, as coisas pareciam acontecer em velocidade máxima na sua vida. Sequer se lembrava quando foi a última vez que tinha aproveitado um tempo sem pensar em trabalho. Sem ser sobre trabalho.
Não demorou muito e as duas amigas chegaram. Muitas comemorações e abraços depois, mais uma ligação foi feita: desta vez para saber que horas receberia seu carro. Isso foi rápido, sem nenhum estresse ou percalço.
Enfim, pegaram estrada. Saíram razoavelmente tarde por conta dessa espera, parada para um jantar e muita conversa, e, embora não estivessem com tanta pressa, chegaram com o cair da noite.
— Uau, esse lugar é enorme… — Lais, abrindo a janela, observou. Ela estava no banco de trás. — Qual a sensação de ter herdado isso aqui? Aliás! Qual a sensação de descobrir que seu pai foi rico?
— Na verdade, qual a sensação de descobrir um pai, não seria essa a pergunta? — parando o carro, riu com a pergunta.
Ainda que fosse um assunto meio delicado, já não lhe doía mais ou incomodava. Aos poucos ia sentindo-se acostumada com a ideia de ter descoberto seu pai um pouco mais velha.
— E é grande mesmo. — comentou, abrindo a porta.
Haviam três casas, uma enorme e outra menor em sequência, com outra na lateral, as outras duas sendo grandes, porém. O deck da piscina ficava no meio e o terreno contava com um campo enorme.
Descendo do carro, observou, achando estranho algumas coisas, como, por exemplo, alguns veículos a mais.
— Será que as meninas vieram em carros separados? — comentou, enquanto as três faziam o caminho para a casa maior. — Já tem alguns cômodos acesos também.
— Mas elas têm a chave?
Parando no degrau que fazia o caminho para as residências, encarou como se ela tivesse lhe dito uma grande verdade não pensada.
levou as mãos à cintura, estalando a língua no céu da boca.
— Uau. Suas amigas coreanas têm a chave da sua casa de veraneio e eu tive que implorar por uma escova de dentes no seu apartamento minúsculo em São Paulo! — disparou.
— Agora não é hora pra isso. E ninguém tem a chave de nada.
empurrou as duas, antes que alguma discussão sem sentido se iniciasse.
— Olha, vocês vão pra lá e eu vou pra cozinha. — direcionou.
— Vou ver naquela terceira casa.
— E eu vou voltar para o carro.
e encararam .
— O que foi? Alguém tem que estar pronta para dar fuga. — ela deu de ombros.
Revirando os olhos, seguiu adiante. Cruzou o deck em uma caminhada rápida, ainda que fosse parcialmente longa, visto que tudo ali era enorme.
Durante esse caminho, buscou em sua memória as imagens que havia recebido do advogado de seu pai, quando foi encontrada por ele para falar do testamento e tudo o que havia herdado. Naquela época ainda estava se acostumando com a ideia recente de um pai, que, infelizmente, havia falecido dias antes de contatá-la. Além da transferência no trabalho.
Tudo coincidência.
E odiava coincidências. Em seu ponto de vista, elas só aconteciam para desestabilizar qualquer um, e isso é nada além de frustrante.
Quando chegou na casa “menor”, lateral às outras duas, notou a porta aberta. Talvez fosse porque haviam ido abrir para ela. Os carros ela poderia entender depois, mas, de qualquer forma, quis se prevenir e pegou seu chinelo em mãos. Era o único item que veio à sua mente.
Entrando lentamente, percebeu um silêncio absoluto. O que chamou sua atenção foi ter alguns itens por ali espalhados.
No primeiro quarto que entrou ainda no térreo, acendeu a luz, surpreendendo-se com um corpo totalmente coberto na cama. Se aproximou lentamente, ouvindo a voz grossa reclamar e cobrir a própria cabeça. Isso disparou seu coração e sua primeira ideia foi acertá-lo com o chinelo diversas vezes.
— Seu intruso! — disse histérica.
— Aí! — ele reclamou, enfim se descobrindo e tentando segurar o chinelo dela.
— Me solta! — tentou se afastar. — chama a polícia! — gritou, dividida entre driblar as mãos dele e acertá-lo com o chinelo. — Tem mendigo aqui!
Pelo idioma e a gritaria, o homem, agora em pé e totalmente descabelado, desistiu e ficou encarando-a. Por reflexo, também parou e o encarou por inteiro.
— Você não parece um mendigo. — continuou em português.
— Não entendo o que você fala, sua maluca.
— Maluca? Maluca é a sua avó! — ameaçou de acertar ele, o que o assustou. Agora falava no mesmo idioma. — Quem está invadindo aqui é você, não eu!
— Não é o que parece. — ele olhou em volta e ela acompanhou, vendo suas coisas. — Tem exatamente três dias que durmo nessa mesma cama. A louca aqui é você. Deixa minha avó de fora.
Em uma breve observação, somou um mais um ao se lembrar de um mero detalhe: o contrato não havia sido cancelado.


Continua...


Nota das autoras: Olá, esperamos que tenha gostado. Até a próxima!


🪐

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