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Revisada por: Júpiter

Última Atualização: 29/08/2024

É uma verdade universalmente conhecida que, se há uma sociedade onde os decentes e gentis convivem, hordas de puta aos montes também estarão.
Sem brincadeira, na moralzinha mesmo. Falo sério: vi isso em um livro e tudo mais. Tem putas para todos os lados: puta velha, puta pelancuda, puta parideira, puta piriguete, puta adolescente, puta de cabelo azul… enfim, muitas putas mesmo. Putas pra dar e vender. Elas existem, aos montes e balontes, e sempre vão existir, seja em cada esquina, cada casa, cada mulher perdida da graça divina e dos braços da igreja. São como pragas, essaszinhas da vida, como ervas daninhas que você não consegue se livrar. Elas são um saco, irritantes pra chuchu, mas nenhuma delas é tão ruim, tão desprezível, tão incorrigível e tão diabolicamente puta quanto .
Credeus!
Essa sim é o mal encarnado, o diabo em forma de menina.
A puta chefe nesse grande jogo que chamamos de vida. Mesmo que não acredite em mim, mesmo que pense que estou inventando ou aumentando o conto tal como um pescador de boteco, ela é sim horrível — um metro e meio de pura maldade embrulhados em peitinhos GG, carinha de boneca e cabelos cor de neve, como a aberração que ela é.
A ariranha nem faz questão de esconder, ugh.
Ela sente é orgulho, a quenga; adora se exibir por aí toda-toda e, depois de todo aquele tempo descobrindo podre atrás de podre sobre ela, a verdade só se tornou mais clara e absoluta na minha mente: é o demônio, e eu, como uma devota fiel, a sua maior inimiga.
Eu simplesmente odeio essa ordinária.
Odeio como nunca odiei a nada e nem a ninguém. Chega a ser assustadora a profundidade da minha aversão, como eu não suporto sequer pensar na existência dela desde que chegou aqui a três meses atrás, mas, toda vez que olho para aquela cara de sonsa que ela tem, quando ela rebola aquela bunda gorda no shortinho que sempre está dois dedos acima da decência e bons costumes, ou quando escuto aquela voz entojada, eu sinto vontade de gastar o meu réu primário e estragar a cara de piranha dela. Esse é o quão longe meu ódio vai. Isso é o que ela causa em mim diariamente.
E isso é o que eu sinto agora enquanto assisto a piranha se atirar de um lado para o outro, os peitos sacudindo com cada movimento, jogando vôlei na quadra da escola durante a Educação Física.
Argh, que mocréia!
— Não acredito que ela teve coragem de aparecer aqui. — É o que diz Poliana depois de enroscar seu braço gorducho no meu. Eu suspiro, parte concordando, parte enojada quando ela retira um chocolate do bolso e começa a comer; será que ela não percebe que as calças jeans que compramos no mês passado já não servem mais nela e que, a cada dia que passa, mais como um botijão de gás ela se parece? Ela mordisca a pontinha, como se fosse adiantar de alguma coisa, e me aperta mais perto. — Depois de o que ela fez, eu não mostraria mais a minha cara — deu uma pausa e mordeu a barra outra vez. — Especialmente depois do que ela fez. Ela não tem vergonha na cara?
Com uma careta, sacudo a cabeça de um lado para o outro e observo sacar a bola no ar; quando ela pula, o peito dela sobe e quando ele sobe, a coisa coladinha que ela acredita que pode chamar de blusa sobe junto, revelando ao mundo que ela não está usando sutiã. Tudo ao natural, é claro.
Como toda piriguete gosta.
— Acho que ela nem sabe o que vergonha significa, Poli — eu finalmente respondi com um resmungo, meus olhos quase virando do avesso quando ela puxou a barra do pedaço de pano pecaminoso e sorriu toda inocente, como se não houvesse feito tudo aquilo de caso pensado. Falsa dos infernos. Me virei para Poli. — Ou decência, pra ser sincera. De onde ela vem, não me parece o lugar onde se ensina esse tipo de valor.
Poli riu que nem um porquinho e abocanhou o chocolate de uma só vez. Por muito pouco o meu nojo não ficou evidente pra todo mundo ver. Credo. Ela mastigou tudo e engoliu muito rápido:
— Ouvi dizer que a mãe dela mexeu uns pauzinhos, pondo tudo de baixo dos panos — ela confidenciou, mesmo que aquilo não fosse segredo para ninguém e muito menos para mim. É claro que a sra. estaria agindo por trás das câmeras, era parte do trato que ela havia feito com os seres do outro mundo: ela teria dinheiro e poder, e, em troca, a capirotinha e os minions dela teriam proteção absoluta aqui. — E que o poderoso chefão tá furioso e quer fazer todo mundo esquecer a qualquer custo. — Ela estremeceu. — Minha mãe disse que eles vão colocar alguma coisa na água.
Sorrio debochadamente.
— Seria muito conveniente, não seria? — soltei uma risada latida. — A putinha deles apronta e, catapimbas, dominação. Bem conveniente mesmo, como se tivesse sido planejado.
E a mandante está aqui na minha escola jogando bola. Como a justiça é falha.
E loirinhas peitudas são o cão.
— Cuidado aí, Panqueca! — A voz dela veio antes de a bola me acertar e, que nem um porco da índia, eu soltei um gemidinho agudo (au!) e me encolhi, me separando de Poli, sentindo dor pra dedéu no meu coquinho sensível; a arma do crime quicou atrás de mim algumas vezes, antes de parar debaixo de um dos bancos perto dos meus pés. Eu arfei de ódio e comecei a tremer no meu lugar que nem vara mole. Aquela piriguete. — Ih, tempo, gente! Tempo!
No segundo seguinte, ela, o demônio, apareceu na minha frente como um vulto, parando perto o suficiente pra que eu sentisse o cheiro de baunilha do perfume nojento que vinha dela, e deu risadinhas (hihi!) que nem uma pateta. Do meu lado, Poli se encolheu.
— Desculpa mesmo, Panqueca — murmurou a coisa como se pudesse, se fosse mesmo capaz de sentir remorso. Vagabunda. — Eu juro que tentei parar.
E apontou para o pulso direito, onde a pulseira que a impedia de ser um monstro completo residia, piscando em vermelho escarlate um alerta de “uso da mente excedido”. Senti meus dentes batendo um contra o outro e minha veia queimar. Tentou, sei. Claro que tentou. Como se ela não tivesse jogado a bola em primeiro lugar.
— Falo sério, Panqueca — disse ela, tentando bancar comigo a boa samaritana, e eu percebi que ela não estava tão fora da minha mente quanto deveria estar. Isso me irritou mais ainda — como ela ousa? — e ameacei arrancar os dentes dela, se não parasse de me bisbilhotar. Ela riu e sacodiu a cabeça. — Até parece, Panqueca. E eu já disse que foi mal.
Empinei o meu queixo bonitinho e mostrei quem é que manda:
— Eu não acredito em você.
E virei a cara, como uma mulher poderosa. O que — acha mesmo que me engana? Claro que eu não caía nesse papinho: eu era mais esperta do que isso, mais esperta do que a cidade inteira que achava que essazinha tinha alguma coisa boa debaixo das tetas gigantes e a bunda gorda. Ela era uma mentirosa, uma vagabundinha dissimulada e eu… não… era… idiota. Seus joguinhos não funcionavam em mim. Ela riu outra vez, a nojenta; riu de mim, de todas as coisas. Foi ofensivo e… irritante. Como tudo nela era.
— Um grande dane-se, então — debochou e estendeu a mão na minha direção, quase enfiando na minha cara. Sem educação! — Pode me passar a bola, faz favor?
Fiz não.
— Você tem mão pra quê? — eu rebati, o que arrancou dela uma revirada de olhos. Cachorra. — Eu não sou sua empregada, queridinha. Se quer, que pegue sozinha.
Ela se virou para Poli.
— Jubinha?
Poli abriu a boca, mas eu sabia que a voz dela estava perdida em algum lugar no meio da bosta — para uma menina tão roliça e com braços tão grandes, ela certamente se cagava de medo da rainha das piriguetes aqui. Porque eu era uma ótima amiga, respondi no lugar dela.
— Poliana também não é a sua empregada, fofa.
Ela deu de ombros, a insolente, revirou os olhos outra vezeu vou arrancar da sua cara, piriguete — e estendeu a mão no ar; no segundo seguinte, a bola passou perto de mim como um jato, quase acertando a minha orelha, e parando na mão dela como se ela tivesse se abaixado e pegado, o que não era verdade — ela sequer se mexeu. Telecinese era o que eles haviam dito quando anunciaram o que ela era capaz de fazer. Telecinese e qualquer outra coisa demoníaca da mente. Vade retro, Satanás.
Ela deu um suspiro alto.
Anyway, mais uma vez, foi mal — disse ela, se afastando, indo de encontro à turminha de esquisitões dela; eles sempre andavam em bando, como uma gangue ou animais selvagens. Não me admiraria se eles praticassem orgias em uma floresta escura também. Era bem a cara dela. Eca e credo, Deus me livre. — Vou tentar ser mais cuidadosa na próxima.
Arreganhou os dentes.
— Tenta não ter uma próxima, melhor ainda — retruquei em um tom mais alto, e ela riu como se achasse graça, como se eu fosse a maior comediante do mundo ou pior ainda: a piada. — Falo sério, garota. Eu não tenho medo de você.
Ela deu uma piscadinha:
— Mas seria melhor se tivesse.
Bufei, revirando meus olhos; até parece, quenga. Até parece.



Continua...


Nota da autora: Algumas características são fixas, assim, usa a imaginaçãozinha e troca na cabecinha. Até loguinho :)

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