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Revisada/Codificada por: Calisto

Última Atualização: 19/07/2024
Às 12 horas do primeiro dia de Outubro de 1989, 43 mulheres deram a luz, o mais extraordinário disso era que nenhuma dessas mulheres estava grávida quando o dia começou.

E às 12 horas do primeiro dia de Outubro de 1999, Melanie estava olhando pela janela empoeirada do sótão enquanto seus irmãos brincavam na neve. Ela tinha feito de tudo, rabiscado a parede inteira, nada a parecia animar.

— Melhore essa feição, número oito.

Olhou para a porta onde seu pai e Pogo estavam a encarando. Sua mãe se aproximou, deixando em cima do fino colchonete uma bandeja e a entregando um copo de vidro com um comprimido azul, e a garota se aproximou para tomar.

— Pai, eu… posso ir brincar com eles?

— Não tem autorização para sair daqui por enquanto, são as regras! Pogo, aumente a luz.

O macaco a olhou triste antes de aumentar a luz do ambiente. As paredes eram brancas e, com aquela claridade toda, não tinha uma sombra ao chão. Ela se sentou no colchonete, vendo todos saírem e a deixarem ali trancada, naquele quarto sem graça que aos poucos começou a girar… toda vez que tomava um comprimido, era assim. As coisas se fechavam ao redor e a escuridão até parecia confortável, menos ao acordar dias depois na mesma claridade de sempre.


Cinco Anos Depois


— Mãe! A Melanie fez de novo.

— Não fiz, não!

Gracie chegou no quarto limpando suas roupas, pelas mãos sujas, estava mexendo com bolo. Vânia vem atrás dela tímida e olhando de canto o que acontecia com um sorriso escondido.

— Meninas! O que houve?

Alisson estava a encarando furiosa, uma parte de um rímel na sua mão dizia que a outra devia estar nas mãos que Melanie escondia atrás de seu corpo. As duas tinham manchas pretas em seu rosto que Grace tratou de limpar na hora, juntando o rímel em sua mão e colocando na gaveta de Alisson.

— Não precisam brigar. Melanie, por que não vai estudar música com a Vânia?

— Ela é irritante.

Vânia a olhou feio e se virou de costas, saindo dali. Alisson revirou os olhos, sem saber como o foco da conversa não estava mais nela.

— Mãe! Ela roubou meu rímel.

— Essa coisa feia? — Melanie revidou, dando uma risadinha.

— Eu ouvi dizer que você pisou no próprio pé — Alisson gritou pra ela e antes mesmo que Melanie pudesse fazer algo, tinha pisado no seu pé esquerdo. Em um pulo depois da dor, atacou Alisson e sentiu seu cabelo sendo puxado enquanto socava a irmã até que Grace conseguisse separar as duas.

Nesse dia, tinha tomado dois comprimidos. Não tinha visto o cinco ir embora. Culpava a Alisson por isso, durante todos esses anos. E enfim, depois, do incidente que a fez usar a pulseira…


Mais Cinco Anos Depois


— Klaus?

— Oi? Ah. Nossa, Melanie? Você tá tão bonita… Olha só esse cabelo.

Ele se aproximou, tentando encostar nela, mas a garota desviou. Nunca foi muito boa em socializar ,e por isso tinha, ficado ali na academia. Luther voltou da lua no mesmo dia que Klaus apareceu, isso a fez pensar que tinha algo de errado… e realmente tinha.

— Espera, o velho morreu?

— Você mora aqui, não é?

Ela deu uma risada que Klaus acompanhou, enquanto debochava de alguma maneira naquela cadeira. "Livre". Sua mente passava imagens daquela infância horrorosa e agora… não precisava mais! Fim de quartos claros e roupas coladas e…

— Gente, vocês precisam ver isso. Espera, por que ela está aqui?

— Não fale assim, ela ainda é nossa irmã.

Duas vozes conhecidas fora do escritório do pai deles fizeram Melanie sair de seus devaneios e ir até lá, dando tempo de Klaus pegar tudo de valor que encontrasse. A garota olhou para baixo, vendo Diego apontar uma faca para Vânia, Alisson a defendia firmemente, e isso deu oportunidade para Melanie dar uma cambalhota do segundo andar perto do lustre e parar na frente dela. Como esperado, Alisson se assustou e deu um passo para trás, quebrando seu salto e caindo ao chão.

— E aí, gente.

— Você nunca vai mudar? Não temos mais nove anos.

Melanie ignorou, sorrindo e indo até Diego. Os dois fizeram um aperto de mão complicado antes da palma final. Sempre fizeram isso, desde crianças. Mas nenhuma das vezes o efeito foi igual estava sendo agora. Um clarão fora da casa e apagão nas luzes internas, o chão começou a tremer. Melanie e Diego se encararam assustados enquanto viam Luther chegar com Klaus do andar de cima e correr para fora.

— O que é isso?

— Parece algum tipo de anomalia temporal.

Os outros os seguem e vêem uma luz azul, algum tipo de campo refletido do outro lado. Klaus volta da cozinha com um extintor e joga lá dentro, levando mais questionamentos.

— Isso vai ajudar em quê?

— Tem uma ideia melhor?

Melanie revirou os olhos e se aproximou daquilo, Diego tentou segurá-la pelo braço, mas mesmo assim, ela se soltou. Que incrível, o que era aquela luz? Não era nada ruim como tudo o que tinha passado, sempre odiou a luz, mas… o clarão depois que tocou nela. Agradável como sempre.

— Mel? Acorda. Mel? Consegue me ouvir?

— Não.

Murmurou, sentindo seus olhos vibrarem com a dor, quão difícil tinha ficado enxergar? Se sentou com calma, as coisas pareciam tão maiores. E pesadas. Seu sutiã pesou no corpo como nunca, tentou se ajeitar no sofá, mas seu short quase cai no processo. Ela levantou em um pulo, ouvindo Alisson dizer algo como "ela não tem jeito mesmo", e Cinco murmurar "incrível". Espera…

— Cinco?

Arregalou os olhos. Talvez tivesse desmaiado por bastante tempo, o irmão a olhava curioso, analisando sua roupa, e ele em si parecia ter uns 15 anos de novo.

— Não me diz quê...?

— Isso.

Ela correu ao espelho mais próximo e olhou para o próprio corpo. Quinze anos, uma espinha na testa. Sua cara confusa fez Alisson dar uma risada e ser acompanhada por Luther.

— Gente, vamos aliviar para eles dois. São nossos irmãozinhos — Klaus comentou, indo a abraçar, o que a fez recuar novamente. Ela pegou duas almofadas e atirou em Luther, mas, antes que pegasse um vaso de flores, Cinco segurou o braço dela com força.

— Você vem comigo.

E eles desapareceram.

Do lado de fora da academia, Melanie se virou para o lado, vomitando tudo o que tinha comido de manhã.

— Pois é, quem não está acostumado com isso, fica desse jeito mesmo.

O sorriso de Cinco na voz era contagiante, Mel limpou a boca na manga do casaco e o jogou ali em uma lixeira qualquer.

— Onde esteve, seu idiota?

— Nem queira saber. Vamos, preciso de café.

— Um velho ranzinza de quinze anos. Sabe dirigir?

Ele se sentou no banco do motorista, o carro parecia ser o de Diego, mas nenhum dos dois se importou. Mel colocou as pernas em cima dele, se apoiando na porta e olhando para o irmão que não via faz anos. Ele sabia que devia uma explicação, mas não daria tão fácil, também mal achava que qualquer um dos irmãos era esperto o suficiente para ajudar em algo mesmo.

— Vamos, Cinco. Fala.

— Sobre o que quer saber?

— Foi pra quando?

— Uns 7 dias do seu futuro.

— Quanto tempo ficou lá?

— 45 anos.

Isso a pegou de surpresa. Ele apoiou a mão por cima da perna dela ao trocar de marcha, e a garota o encarou, confusa. 45 anos… no futuro?

— Então agora você tem 60 anos?

— Minha consciência tem 60 anos. Meu corpo, pelo visto, tem 15 anos de novo.

— E por que eu também tenho?

— Fiz os cálculos errados, mesmo assim, não era pra você tocar no meu portal atemporal. Dolores estava certa, aposto que está rindo de mim agora.

— Tá, tá. Então você errou. Conserta isso.

O carro parou em frente ao Gridy's, uma loja de rosquinha que os dois iam muito quando crianças.

— Não tem o que consertar, irmã. É melhor aceitar isso logo e vir tomar um café.

Ela abriu a porta e saiu na frente dele, sua teimosia também fazia um bom papel. Nunca deixou ninguém ir na sua frente em nada e isso não iria mudar. Pensou em jeitos de reclamar sobre esse corpo, mas nada iria adiantar… Não descartaria as rosquinhas.

Os dois se sentaram ao lado de um senhor que Cinco começou logo a conversar.

— Olá. O que vão querer?

Melanie sorri, olhando atrás dela.

— Quero cinco de chocolate, duas de creme com geleia e quatro daquela ali, a roxa com florzinha em cima.

— E eu quero café. Preto. Bem forte.

A senhora, surpresa, anotou o pedido, olhando para o homem ao lado deles, o esperando pedir também. Ele escolheu uma bomba de chocolate e água. Depois de dar um papel para Cinco, ele entregou o dinheiro pra senhora e disse que era por conta dele. Melanie não planejava pagar nada mesmo, acreditava que nem o Cinco, mas mesmo assim os dois agradeceram, e a senhora foi atrás pegar o troco.

A garota não prestava muito atenção ao seu redor, mas Cinco sim. Ele a chutou por baixo da bancada, e ela o olhou, franzindo a testa e cheia de geleia no rosto.

— Que foi, porra?

— Se afastem.

Ela sentiu algo metálico na sua nuca, pela sua pouca experiênci,a sabia que era uma arma. Sem se mexer e ainda olhando para o irmão, o viu segurar sua mão devagar.

— Venha conosco falar com a gerência, e nada vai acontecer a ela, Cinco.

— Eu não vou. E não tenho nada mais a dizer.

— Você acha que eu volto pra casa com a consciência pesada por ter atirado em duas crianças, Cinco? É melhor colaborar.

O menino suspirou, ele puxa a pulseira da irmã para fora e o olhar assustado dela expressava puro pavor.

— Desculpa por isso.

Apertando forte os dedos dela, ele desapareceu dali, deixando a garota na mira das armas, mas o estrago já tinha sido feito. A dor liberou a energia que fez seus olhos escurecerem, se tornando pretos, o lugar todo ficou um breu completo. O som de tiros ecoava, Cinco estava no carro do lado de fora, mas parecia preocupado. A pulseira em sua mão o fez notar que estava tremendo, decidindo então a voltar para dentro e acabar logo com isso.
Quando chegou lá, percebeu que não era mais necessário. Melanie o olhava furiosa, os homens estavam mortos e o sangue deles pingava desde o teto. Tiros que deviam ter a atingido estavam presos em uma teia de sombras que, aos poucos, se dissipava, e ele calmamente se teletransportou para a frente dela, colocando a pulseira nela de novo.

— Não sou uma arma de brinquedo, seu maníaco. Você vai me responder agora quem são eles.

Cinco a indicou para voltar ao carro e a menina puxou um donuts com sangue ao redor e o levou, comendo no caminho.

— Eles trabalham para a minha antiga empregadora, a Gestora.

— Pelo visto você foi demitido. Justa causa?

— Engraçada. Eu fugi antes de terminar meu último serviço.

— E por qual motivo fez isso?

— O apocalipse chega em sete dias. E você vai me ajudar a impedir.



Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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