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Revisada por: Polaris 👩🏻‍🚀

Última Atualização: Fanfic Finalizada

deixou a van ao lado de Sam, seu melhor amigo e um dos melhores agentes dos Estados Unidos, ajustando o boné na cabeça assim que o sol escaldante daquela manhã atingiu seus olhos. Para finalizar a série com chave de ouro e, finalmente, destrinchar e concluir o plot principal de Affidavit*, seriado de drama policial em que interpreta Robin, uma advogada de moral aparentemente indestrutível, a produção do programa escolheu, como os personagens e a audiência tinham descoberto na temporada anterior, que grande parte das ações dos vilões se desenrolaram na bela e praiana Honolulu, capital do Havaí
se espreguiçou ao deixar o veículo que comportava seu agente, outra parte do elenco e alguns membros da produção, admirando a fachada do hotel Halekulani escolhido tanto para as filmagens, quanto para comportar a grande equipe que estava viajando de Los Angeles até aqui. O hotel era enorme, possuía acesso direto à praia de Waikiki e uma visão da silhueta do Diamond Head, cratera e antigo cone vulcânico que completava a paisagem de céu azul brilhante, misturando a natureza belíssima do local com os prédios mais modernos.

— Vai ser difícil ver isso aqui como trabalho — Linda, uma das atrizes regulares da série, disse, suspirando e retirando os enormes óculos de sol do rosto.
— Bem que a diretora falou que seria mais uma excursão de férias do que trabalho mesmo — brincou, caminhando ao lado do elenco ao serem chamados por outros membros da produção para dentro do hotel.
— E o , hein? — Denzel Washington, grande ator que interpretava seu chefe em Affidavit e também produtor executivo* do seriado, perguntou, erguendo as sobrancelhas de forma indicativa para a mais jovem, arrancando risadinhas da equipe.
— Pois é… — se fez de desentendida, puxando a malinha de mão até formar uma pequena fila à frente da recepção com os outros atores. — E o , hein, Sam?
— Ai, não vem jogar essa pra mim não, amor. — O melhor amigo respondeu, fazendo um sinal de “vaza” com os dedos da mão que não seguravam o seu celular profissional. — Esse papo é todo seu.
— Gente? — disse, colocando a mão aberta no peito, fingindo ofensa. — Eu não sei por que ele ainda não tá aqui.
— Sabe sim, sua sonsa — Linda disse com seu costumeiro tom debochado.
— Quem deveria saber é o produtor, né? — Ela apontou discretamente para Denzel, o ator deu risada e andou um pouquinho mais junto com a fila. — Diz aí, vocês finalmente demitiram o ?
— A equipe não tá muito a fim de ser apedrejada na rua — Denzel respondeu, arrancando risadas do grupo. Todo mundo sabia que eles eram os queridinhos do país por grande parte do público que os assistiram crescer em Valley Boulevard, sitcom que fizeram por dez anos. — finalizou o filme meio em cima da hora, pedimos pra ele vir depois e descansar um pouquinho.

assentiu, tentando parecer interessada na resposta dele como se já não soubesse qual era. Depois daquela noite que passaram juntos no apartamento dela após o Globo de Ouro, e correram para as preparações dos novos filmes que iriam estrelar e mal se viram desde então.
Porém, trocavam mensagens com frequência e ela, sinceramente, não sabia exatamente como agir perto de depois de transar com ele. Claro que não deveria ser estranho, afinal, eles se conheciam desde criança e o ator tinha sido fundamental para ela em um dos piores momentos da sua vida.
Ambos se conheciam há tempo demais para as coisas ficarem complicadas de verdade, principalmente pela comunicação constante e descontraída que fez questão de manter naqueles meses que ficaram afastados. O problema estava nela.
Como você passa quase um mês gravando com alguém que já te viu pelada, sem parecer que você quer muito que ele veja de novo?

? — Linda a cutucou nas costas, apontando para o recepcionista sorridente que esperava ela se aproximar para o check-in. — Vai logo que eu quero dar um mergulho naquela piscina maravilhosa antes de provar o figurino.


Alguns anos antes.

acordou com a sensação de ter dormido apenas quarenta minutos, tinha passado a tarde com um preparador de elenco aprendendo mais um método de atuação e mais algumas horas treinando cenas com o estilo aprendido antes de finalmente deitar. Qual era o problema com a escolha feita na noite passada?
Ele tinha um último dia de filmagem hoje e a OD* dizia que o motorista estaria na porta da sua casa às 6h30. se arrumou lentamente, mantendo os olhos fechados quando podia, como se isso o fizesse ficar menos sonolento. O jovem ator ajustou a mochila nas costas, parando no quarto de Clara, sua irmãzinha, e ao notar a cama vazia ‒ totalmente tematizada com a princesa favorita dela ‒, soube que ela provavelmente dividia espaço com sua mãe.
Ele andou calmamente até que estivesse parado na porta entreaberta do quarto de Lucy, observou a mãe abraçada com a irmãzinha, a respiração das duas praticamente sincronizada enquanto dormiam pacificamente, sem uma única preocupação, exatamente como o filhote de labrador que encontraram na rua na semana passada em sua caminha recém-comprada ao lado da cama king size de Lucy.
sorriu antes de descer, pensando que nunca mais queria que aquelas duas ‒ ou mesmo o próprio cachorrinho ‒ sentissem o que era viver com tão pouco, sem saber se teriam o que jantar ou se dois cobertores seriam suficientes para manter três longe do frio.
Ao chegar ao set, ainda meio grogue da soneca que havia tirado no caminho de sua casa até o estúdio, ouviu um gritinho de felicidade ao se aproximar da salinha reservada para o café da manhã da equipe.

— Ah, gente, eu vou chorar! — Ele ouviu , com a voz levemente emocionada, dizer antes de colocar as duas mãos cruzadas no peito, algo que a atriz fazia sempre que tentava segurar o choro.

precisou ver o bolo e várias pessoas da equipe abraçando a garota para, finalmente, acordar: 31 de outubro.
Não era apenas o último dia de filmagem da série que tinha lhe dado tudo que possuía hoje, mas também era o dia que, desde que tinha 7 anos, era muito mais que doces ou travessuras: era o aniversário de uma de suas pessoas favoritas no mundo.

— Meu Deus — ele disse, aproximando-se da figura sorridente ‒ e com lágrimas no rosto ‒ da aniversariante.
— Não acredito que você esqueceu, — ela zombou, recebendo o abraço dele com carinho. — Onze anos juntos e é assim que você me trata?
— Desculpa, de verdade — ele disse, a voz pouco confiante. — Não dormi nada noite passada.
— De novo com aqueles cursos? — sussurrou, segurando-o pela nuca quando o ator tentou se afastar, as mãos dele se mantiveram firmes nas costelas dela. — Você sabe que eu acho que metade daquelas pessoas que você chama uns charlatões, né? Você não precisa disso.
— Quero me garantir, … — ele sussurrou de volta, sentindo a cabeça dela apoiando-se em seu ombro, a respiração suave da atriz no seu pescoço distraindo os pensamentos. — Você sabe quantos atores mirins realmente continuam atuando depois do seu primeiro trabalho?
— Acho que você já tá acostumado a mandar estatísticas pro inferno, — ela disse, rindo baixinho antes de encará-lo. — Você não precisa disso.
Antes que ele pudesse responder, chegou ao set com um enorme buquê das flores que mais gostava em mãos.
— Feliz aniversário! — ele quase gritou, sua chegada fez o abraço deles terminar e, mesmo que sempre quisesse prolongar os momentos de contato físico com a atriz, não se chateou com a interrupção porque, assim como ela, também era uma de suas pessoas favoritas no mundo.

E agora era o namorado dela.
Enquanto os dois se abraçavam e trocavam beijos discretos, desviou o olhar, pensando na sua vida antes de estrear como um dos personagens principais de Valley Boulevard, uma sitcom que caiu nas graças do público graças ao carisma das crianças.
, e eram as peças-chaves da série mesmo com a presença de grandes nomes no elenco e, por isso, a equipe havia decidido encerrar a série quando os três personagens fossem para a faculdade, uma forma de dar um fim bonito e também de deixar as estrelas seguirem para outros projetos que já batiam à porta.
tinha diversos roteiros para ler e propostas para considerar depois que finalizasse a última temporada, porém, não conseguia deixar de temer voltar aos dias sombrios que Lucy, Clara e ele experienciaram antes do primeiro salário dele cair na conta.
Com um pai que tinha decidido gastar tudo o que tinham em cassinos clandestinos e sumido quando as contas bateram à porta, eles ficaram sem casa, tamanho valor das dívidas. Por isso, precisou dividir seu dia entre estudar na escola comunitária, para a qual tinha se mudado pelos projetos sociais oferecidos que poderiam beneficiar a si e a mãe grávida de sua irmãzinha, e fazer apresentações em pontos turísticos da cidade para conseguir algum dinheiro, contra a vontade de sua mãe.
Foi só por isso que ele foi descoberto.

— Cara. — se aproximou, puxando para o abraço à três deles com um enorme sorriso no rosto. — Último dia, vocês têm noção disso?
— A gente cresceu nesse estúdio — murmurou, observando o caos da produção indo de um lado para o outro, preparando o cenário e o figurino que usariam na primeira cena do dia.
— E agora… — começou, interrompendo-se ao sentir um aperto na garganta.
— Amanhã começa o primeiro dia do resto das nossas vidas. — , no meio do abraço, disse, dando tapinhas amigáveis no ombro dele com uma das mãos e acariciando o ombro de com a outra. — Nosso futuro é brilhante.


observava a praia de Waikiki pela plataforma de acesso do hotel através dos óculos escuros, a areia fervendo pelo sol do meio dia, a praia cheia de famílias, casais e turistas bebendo drinks com guarda-chuva, deitados em cangas no chão para se bronzearem ou nadando naquele mar de água clarinha que o chamava desde que tinha chegado a Honolulu.
O ator sorriu ao observar três crianças correndo de um lado para o outro, lembrando-se de quando , e ele faziam o mesmo pelo estúdio quando o intervalo entre uma cena e outra era dedicado a brincadeiras.

— Deu vontade de ser pai, ? — ele ouviu a voz suave de murmurar ao seu lado conforme ela se aproximava dele pelo lado que levava ao hotel, oposto ao que os deixaria com os pés na areia, deu uma risadinha, observando o quanto ela estava linda com um vestido de verão leve que ia até os joelhos e um boné protegendo seus olhos do sol, pegou uma das mãos da atriz e deu um beijo singelo nas costas da mão, fazendo-a sorrir instantaneamente.
— É, sei lá. — O ator suspirou, usando o costume tom zombeteiro com o qual ela tinha se acostumado nos últimos anos. — Olhar esse lugar maravilhoso me dá uma vontade de trocar fralda, sabe?
se apoiou na plataforma ao lado dele, jogando a cabeça para trás ao rir com o que o colega de cena tinha dito.
— É o sonho de qualquer pessoa. — Ela concordou, sentindo o sol queimando a pele. — Quando foi que você chegou?
— Faz uns 20 minutos — respondeu, virando o corpo lateralmente para que ficasse de frente para ela, apoiando o quadril no corrimão da plataforma. — Fui te procurar, mas disseram que estava provando alguns figurinos, não quis atrapalhar.
— Você sabe que os figurinistas te amam. — exclamou, sorrindo para ele — Não atrapalha em nada.
— Não posso evitar ser o favorito do elenco. — Ele brincou, dando de ombros — Acho que também quis vir aqui dar uma olhada na praia e separar quem era ontem de quem vou ter que ser agora.
— Gravar um personagem e estudar o próximo ao mesmo tempo é loucura — a atriz murmurou, tinha passado pelo mesmo no último mês.
— Mesmo que a gente já conheça esses, né? — ele concordou, passando uma das mãos pelos cabelos. — São emoções e vidas totalmente diferentes, eu saí de um príncipe em um drama histórico realista, pra um advogado metido e meio canalha no meio do Havaí, como pode?
— Você se imagina fazendo outra coisa da vida? — perguntou depois de rirem da descrição dele dos personagens. — Porque eu não consigo.
— Passei anos pensando em que profissão seguir se eu não fosse a estrela promissora que todos os críticos de Valley Boulevard diziam que eu seria — respondeu, suspirando levemente. — Agora, gosto de pensar que vou morrer fazendo o que a vida escolheu pra mim e que eu aprendi a amar.
sorriu para o ator, aproximando uma das mãos para acariciar a dele, apoiada no corrimão.
— Eu também acho — ela concordou, sentindo os dedos dele envolverem sua mão, tornando o carinho duplo e o contato visual dos dois mais significativo.
percebeu que era realmente péssima em fingir que não queria puxá-lo para o seu quarto e refazer tudo que tinham feito no seu apartamento há alguns meses.
— Ei, queridos! — A dupla virou a cabeça na direção da voz, vendo um dos assistentes de produção acenando. — Hora da leitura do roteiro, lá no deque da piscina privada, vamos?



Affidavit: termo jurídico do inglês, é uma declaração juramentada em que uma pessoa "jura" que os fatos constantes no documento são verdadeiros a alguma autoridade.
Produtor executivo: pessoa que viabiliza um projeto audiovisual, pode tanto cuidar do dinheiro, procurar a melhor forma de usá-lo e realizar orçamentos ou apenas ceder parte de seu próprio dinheiro. É comum nos EUA que alguns atores sejam os produtores executivos de projetos em que se envolvem mais do que apenas na atuação, como Denzel Washington aqui na história.
O.D: sigla para “ordem do dia”, é o documento mais importante em um dia de filmagem, indica o horário que cada equipe e elenco deve chegar no set, quais planos e cenas serão gravadas no dia e quanto tempo devem levar para filmá-las.




deixou os chinelos e a saída de praia na areia vazia, já passava das seis quando a reunião de leitura de roteiro terminou e, antes do jantar, a atriz tinha decidido dar um mergulho, mesmo que já tivesse passado do horário habitual.
A praia estava praticamente sem ninguém apesar das luzes artificiais, fornecidas pelos hotéis e prédios na orla, que iluminavam o local, a maioria das pessoas estava jantando frutos do mar ou passeando pelo centro da cidade com roupas leves, aproveitando que, mesmo àquela hora, o local permanecia com uma alta temperatura e pouco vento.
percorreu lentamente a faixa de areia até a sentir molhada na sola do pé, observando o reflexo da lua no mar, gradualmente deixando a água cobrir os joelhos, a cintura, coberta pelo maiô azul que ganhou de presente da mãe, até que ficasse imersa na altura no busto e ainda conseguisse deixar os pés no chão arenoso.
A atriz jogou a cabeça para trás e tomou impulso para flutuar de barriga para cima nas águas calmas do mar, as ondas chegavam suaves e passavam por baixo dela mais tranquilas ainda, inspirou e expirou, ouvindo apenas o barulho do mar e a mistura de sons distante das ruas e restaurantes movimentados. Aproveitou aquele momento para focar no próprio corpo e nos próprios pensamentos, separando um pouco as emoções dela e as das personagens que tinha vivido nos últimos meses.
Há algum tempo, sua mãe havia dito que era muito extremista e, mesmo que tivesse escutado os conselhos dela com muita atenção, não tinha entendido até viver o que aconteceu depois do fim do noivado.
Ela sabia que, nem sempre, era saudável ler os comentários na internet quando uma polêmica acontecia na sua vida, porém, , o ex-noivo que a abandonou no altar para fugir com a melhor amiga, tinha sido muito incisivo em suas declarações públicas, afirmando que se sentia preso, sufocado e infeliz ao lado dela, reforçando o quanto era o motivo de sua sensibilidade artística se reprimir. Quase ninguém acreditava muito nele, principalmente sua comunidade fiel desde Valley Boulevard. Mas, como sempre, aquela pontinha de dúvida bateu nela.
A atriz riu sozinha, balançando as pontinhas dos pés na água, sentindo o mar refrescá-la de fora para dentro, como poderia sequer considerar os comentários de alguém que lhe fez mais mal do que bem?
Foi por isso que não pensou duas vezes antes de aceitar o papel da protagonista na dramédia* que tinha rodado nos meses anteriores, era um costume fazer papéis mais dramáticos e que exigiam choro e, algumas vezes, gritos da parte dela. Ao lembrar-se de uma declaração de dizendo que sua veia artística tinha sido minada porque não possuía nenhuma, ela se lembrou que a última vez que tinha feito um papel baseado no humor tinha sido em Valley Boulevard.
Alguns anos tinham se passado… E ela sabia que ainda conseguia fazer comédia tão bem quanto fez aos dezessete ou muito antes disso.
Mas, aquela voz incômoda que parecia muito com a do ex-noivo sempre gritava “E se eles não souberem?”.
nem sabia quem “eles” eram, porém, sentia que precisava se provar.

— É perigoso nadar sozinha essa hora da noite, . — Ouviu a voz abafada pelas orelhas submersas dizer, antes de mãos aquecidas tocarem carinhosamente suas pernas.
— Aqui é até que bem iluminado — ela respondeu, erguendo-se novamente para observar , usando, infelizmente, para o seu completo desespero, apenas shorts de banho.
— Se uma onda grandona batesse aqui, você nem ia ver — o ator disse, ajustando o cabelo dela que, por conta do tempo na água, tinha grudado na lateral do rosto.
— O mar está calmíssimo, . — Ela apontou para a água ao redor dos dois, agachando-se e puxando ele pelas mãos para fazer o mesmo.
— Nunca se sabe… — ele disse, agachando também. — Seria meio chato ter que terminar a série sem Robin, né?
— E eu aqui achando que você estava preocupado comigo — ela disse, rindo, sentindo-se feliz por estar, de novo, de bem com ele, mas sem perder aquele jeitinho que tinham acostumado a usar um com o outro, deixava a relação mais divertida.
— Eu ia falar que me preocupo mais com os números, mas, pensando aqui, isso daria uma puta audiência — continuou, olhando para trás dela como se visse a situação ocorrendo.
— Nesse caso… — começou a dizer, aproximando-se do ator para colocar os braços e pernas ao redor do tronco dele, estava meio irresistível à luz da lua de Honolulu. — Acho que você daria um ótimo viúvo.
deu uma risadinha canalha, colocou uma das mãos ao redor dos quadris da atriz e deslizou a outra pelo braço dela de cima para baixo.
— Por que você acha isso?
— Ah, você nunca namorou, — ela respondeu, aproveitando o momento casual para esclarecer uma dúvida que ela ainda não tinha conseguido reunir coragem para tirar, falando do jeito mais manso possível esperando que o timbre o derretesse. — Deve ser extremamente fiel à mulher que roubou seu coração, seria igualmente fiel como viúvo do seu par romântico.
, — ele suspirou, brincando com uma das alças do maiô, o olhar distraído entre os olhos e a boca dela. — Que pergunta boba a que você não quis me fazer.
— Boba? — deu uma risadinha ao entender que percebeu muito rápido o questionamento escondido nas palavras dela.
— Sim, — ele respondeu, deslizando a mão pescoço acima e passando os lábios de leve pela mandíbula dela. — Ainda não deu pra entender que eu sou louco por você há anos?
A atriz não conseguiu responder, a mão de que segurava seu quadril aproximou mais seus corpos quando ele deu um beijo rápido nos lábios dela antes de continuar:
— E minha mãe me educou para ser um cavalheiro — ele beijou seus lábios de novo, provocando-a. — Não posso namorar com outra mulher se estou sempre pensando em você, .

Depois de ouvir aquilo, ela não teve muita escolha a não ser completar a distância entre as bocas deles, saboreando os lábios de devagar e profundamente, suspirou quando as mãos dele passaram nas costas nuas pelo decote do maiô e apertou o pescoço dele em resposta.
suprimiu um grunhido ao sentir a mão da atriz envolver seu pescoço, algo que não sabia que gostava tanto antes dela fazer naquela primeira noite dos dois juntos, desde então, vinha sonhando com o dia que sentiria a palma delicada dela ao redor dele mais uma vez, apertou a coxa de por debaixo da água, sentindo o contato entre as línguas deles ficarem mais e mais intenso, ouvir os sons que ela fazia o deixavam cada vez mais excitado, aumentando a vontade de tirá-la do mar e levá-la para o seu quarto.
Se falassem para o de dezoito anos que ele estaria vivendo aquilo, ele jamais acreditaria.



Duas semanas depois, finalizadas todas as etapas da pré-produção, a equipe de Affidavit começaria a filmar naquele dia. Por isso, logo que o sol surgiu na praiana Honolulu, o elenco já estava rindo e tomando um café reforçado para começar a gravar as cenas do dia.
Denzel contava uma piada para animar o time de atores quando, com expressões descomunalmente fechadas, Sam e Chloe, agente de , chamaram seus respectivos agenciados para uma conversa no lobby.
— Tá tudo certo, gente? — a atriz perguntou, seguindo-os com o parceiro de cena. — A cara de vocês não tá muito legal.
— O que aconteceu? — perguntou também, sem fazer ideia do que poderia deixá-los preocupados.
— Isso aconteceu — Chloe disse, apontando para o Ipad que Sam esticou na direção dos dois.
Ambos se aproximaram da tela para ler melhor, observando o site de uma das mídias de cultura pop mais famosas dos EUA, conhecido pela falta de apuração ao publicar.
— Puta que pariu — os dois disseram juntos ao ver a enorme foto que estampava o início da matéria: e se beijando sob a luz da lua no mar belíssimo da praia de Waikiki.
Porém, é claro que não foi aquilo que os deixou alarmados, mas sim a foto em moldura circular adicionada ao lado dela, junto com a manchete:

PARAÍSO PARA DOIS:
Atores de Valley Boulevard curtem o luxo da fama, enquanto o terceiro fica na lama.



Ali, bem ao lado da foto deles, havia uma de , o terceiro integrante do trio de ouro que havia nascido com a sitcom.
— Quanto mais vocês lerem, pior fica. — Sam acrescentou, passou as mãos pelos cabelos com força, suspirou, tentando controlar a raiva.
— Ainda é cedo para entender a reação do público a isso — Chloe disse, olhando para Sam. — A foto de vocês é o de menos, todos adoram os dois e a produção não se importa porque é publicidade positiva, a questão é como estão falando do aqui.
— Estão agindo como se vocês fossem os vilões da história dele. — Sam prosseguiu, suspirando e desligando o tablete. — sumiu da indústria há alguns bons anos, queridos, isso aqui é com base em porra nenhuma.
— Por isso, precisamos saber — Chloe disse, encarando os atores com a firmeza que eles precisavam em um momento tão dramático — Onde está o ?



Dramédia: é a junção dos gêneros drama e comédia, normalmente são filmes que apresentam um tema ou assunto sério, porém, com uma abordagem engraçada.



sentiu uma súbita vergonha atingir suas bochechas ao ouvir a pergunta de Chloe.
Ela não sabia, essa era verdade.
A partir do dia que bateu na porta de chorando e conversou com ele sobre o que tinha acontecido na festa da Vanity Fair, eles nunca mais tiveram contato. preferiu respeitar a distância que ele pediu, porém, esteve tão ocupada com a própria carreira e o novo romance que nunca mais se aproximou de novo. Claro que sentia falta dele estrelando filmes, séries e comparecendo a programas de entrevistas como e ela, mas nunca deu o primeiro passo para procurá-lo porque a vergonha de fazê-lo era muito maior.
A única coisa que sabia é que ele tinha casado com alguém e estava extremamente feliz, mas só porque o próprio a tinha dito.

— Eles não podem fazer isso com ele, porra — murmurou, segurando a própria voz para não gritar — Ele escolheu sair desse meio!
— Vocês ainda conversam, não é, ? — perguntou, passando as mãos cruzadas pelo peito.
— Faz um tempo desde a nossa última ligação, mas sim — o ator confirmou, passando os braços ao redor dos ombros dela, percebendo que a atriz começaria a chorar.
— Ele não merece isso — disse, meio chorosa. — Se ele escolheu deixar para trás, essas pessoas não têm o direito de se meter na escolha dele!
— Eu sei que vocês vão dizer que pega mal pra gente — disse, acariciando o ombro dela. — Não sei se a pensa igual, mas eu tô pouco me fodendo pra isso, eu me importo é com ele.
— Eu também — afirmou sem titubear.
— Então ligue para ele, . — Chloe sugeriu, sorrindo em compaixão aos dois. — Pergunte se ele viu, introduza o assunto e veja se ele quer ou não dar uma declaração pública.
— Vamos estudar a reação e soltar notas de acordo com isso — Sam disse, anotando algo no tablete. — Mas, se ele não quiser se retratar, respeitaremos o desejo dele e o de vocês dois em preservá-lo e vamos agir com outras estratégias, tudo bem?
Os dois se olharam, era quase como se voltassem a ser os adolescentes do passado, protegendo o amigo do assédio da mídia quando uma notícia terrível foi divulgada sem autorização da família de , e, em seguida, concordaram com os agentes.
— Agora vão e se concentrem nas cenas de hoje, amores — Chloe exclamou, aproximando-se dos dois com Sam para um abraço coletivo. — Estamos do outro lado por vocês.
— Se preocupem com isso apenas quando disserem corta.


pediu licença no horário do almoço e se dirigiu até o deque da enorme piscina do hotel, estava lotado de pessoas com roupas de banho, crianças pulando na piscina, garçons passando de um lado para o outro carregando porções, almoços e bebidas, o sol batia quente ali e ele colocou os óculos escuros.
e mantiveram o contato durante todos aqueles anos, nunca mais tinham se visto, o amigo jamais sequer mencionou onde ele foi parar depois que desistiu da vida pública e da atuação, porém, nunca deixou de ligar, mandar mensagem e contar quando casou numa pequena cerimônia em uma capelinha com aquela que tinha chamado de “o amor da minha vida”, mantendo a relação viva, porém preservando todos os detalhes particulares.
pegou o celular do bolso, abrindo a lista de contatos e selecionando o nome dele, odiava ter que interromper a paz e tranquilidade que tinha conquistado com o anonimato, porém, precisava avisá-lo que, depois de anos, seu nome tinha virado notícia de novo.
A ligação não durou muito, assim que foi conectado, a voz clássica disse:
Esse número de telefone não existe.


Alguns anos antes.

— Não sei, não, disse, observando a caminhonete vermelha meio velha que o amigo tinha encontrado à venda há algumas semanas. — Isso aqui tem cara que vai explodir assim que der partida.
— Mas não vai, respondeu, os olhos estavam arregalados pela animação, deu uma batidinha no capô do carro. — Eu andei um pouco com essa belezinha e ela tá perfeita!
deu uma olhada meio desconfiada para o ator, cruzando os braços.
— Não entendi a escolha — ele disse, observando a pintura envelhecida da caminhonete. — Você poderia comprar praticamente qualquer carro, mas escolheu esse aqui.
— É o que o meu irmão sonhava em ter — respondeu, baixando os olhos para o chão, aquelas palavras acenderam algo em .
tinha perdido o irmão mais velho há pouco mais de quatro anos e tinha incorporado entre seus objetivos de vida, os do irmão, assombrado pela sensação de que nunca realizaria nada que tinha sonhado.
— Essa coisa funciona mesmo, né? — perguntou, abrindo um sorriso para o amigo ao descruzar os braços, como sua mãe dizia, às vezes nossos amigos não precisavam de um conselho, mas, na verdade, apenas de apoio. — Não quero ter que trocar pneu, abrir capô e tal no meio da estrada pra praia.
abriu um enorme sorriso para o amigo, aproximando-se para abraçá-lo com força, em Valley Boulevard não tinha feito só um amigo, mas sim um irmão para a vida toda.
— Vai ser incrível, disse com um sorriso que chegava até seus olhos. — Estou planejando outra coisa também.
— O que? — o ator perguntou, sorrindo também.
— Acho que vou chamar a para sair — ele respondeu, o sorriso crescendo ainda mais, se é que era possível.

quase não conseguiu manter a expressão alegre no rosto, porém, ele era um ator, afinal, tinha aprendido a controlar as próprias emoções quando queria.
Há alguns meses, ele tinha percebido enxergar com outros olhos, dar mais atenção ao que a garota dizia e também fazer mais coisas que ele gostava, como pedir para ela lhe ensinar um pouco de piano, ler o livro que ela mais gostava…Torceu para ser apenas uma impressão ou a proximidade com o fim definitivo de Valley Boulevard mexendo com as emoções dele, mas, depois disso, claramente não era.

— Sério, cara? — tentou parecer feliz, dando tapinhas amigáveis no ombro dele. — Acho que ela vai gostar.
— Só não tenho certeza de onde levá-la, sabe? — exclamou, torcendo os lábios em dúvida.
— No cinema aberto que serve as comidas dos filmes lá perto de Santa Mônica — ele respondeu de imediato, percebeu como ficou impressionado e tratou de acrescentar algo. — Ela me falou que gostaria de ir lá um dia desses.
— Boa, cara — assentiu, sorrindo. — É para lá que vamos, obrigado!

sorriu antes de se afastar para fechar negócio com o vendedor da caminhonete. É claro que não tinha dito nada, ela era muito desligada com os programas que Los Angeles oferecia que não fossem os cinemas de rua que estava habituada a frequentar.
Ele tinha encontrado esse evento e sabia que ela amaria, mas não teve coragem de chamá-la sem parecer óbvio que gostava dela.
E agora, nunca mais teria.
Apesar de sentir algo por há anos, tinha verbalizado primeiro e, no código da amizade, isso significava que ele estava fora do jogo.
não se sentia exatamente triste, sabia que seria gentil e cuidadoso com , os dois mereciam ser felizes e ele já tinha ganhado na loteria uma vez na vida quando conseguiu mudar a realidade da família atuando, talvez as bênçãos divinas tivessem um limite para pessoas como ele, mesmo que não acreditasse nem um pouco nisso.

Enfim, o ator se recompôs, tinha apenas dezesseis anos, poderia amar alguém de novo, não poderia?



e se aproximaram com sorrisos tensos nos rostos, tinham encontrado alguns fãs na porta do restaurante à beira-mar que tinham escolhido para jantar com Sam e Chloe naquela noite após o fim da primeira diária.
Tiraram fotos, sorriram, deram risadas das piadas sobre a imagem dos dois estampadas nas revistas e redes sociais e deram o seu melhor para fugir das perguntas sobre o terceiro integrante.
— Já fizemos os pedidos — Sam exclamou quando a dupla chegou, os garçons tinham preparado uma mesa para eles na parte externa do restaurante, que ficava em um deque alto com uma visão privilegiada das águas de Waikiki, as outras mesas tinham sido afastadas para dar mais privacidade aos atores. — Muito difícil sair com estrelas, amor.
e riram ao ocuparem os lugares de frente para os assessores, a atriz estralou os dedos tensos das mãos e aguardou que um dos dois iniciasse a conversa:
— Ok, vamos começar — Chloe deu uma risadinha, percebendo como os dois estavam tensos. — Não sei quem foi o desgraçado que teve essa ideia porque o jornalista que escreveu a matéria não quis nos dizer, mas que ideia de gênio usar o para atacar vocês, viu?
— Assim como vocês dois, ele também tem apelo popular, mesmo estando fora dos holofotes — Sam concordou, interrompendo a fala quando um garçom trouxe as entradas para a mesa, os quatro agradeceram e ele continuou. — Então, sim, de certa forma funcionou porque agora eles estão se perguntando onde o tá.
— Porém, não funcionou como o filho da puta do mandante quis — Chloe disse, pegando uma batatinha frita do conjunto de entradas. — Ninguém está associando o sumiço dele a um plano maquiavélico de vocês como foi intencionado.
— Esperamos que se mantenha assim — Sam finalizou, aproximando o bolinho nas suas mãos do molho da casa que acompanhava a entrada. — Estamos monitorando tudo e o Marcus já soltou notas em nome dos dois sobre as fotos etc.
— Ninguém encontrou nada dele, não é? — perguntou, pensando em . — Não tem fotos dele por aí ou paparazzi atrás… Certo?
— Por enquanto, não — Chloe respondeu, direcionando os olhos para o agenciado dela ao final. — Por isso, precisamos falar com ele, conseguiu contato?
— Eu liguei na hora do almoço, no fim da diária, abri o app de mensagens e liguei de novo — explicou, suspirando em descontentamento. — Mas deu que o número não existe.
— Ué? — Sam exclamou, assim como todos na mesa, achou estranho.
— Isso nunca aconteceu antes — continuou, preocupado com o amigo. — nunca me disse onde foi morar, o que está fazendo ou qualquer coisa assim, mas sempre esteve disponível pelo telefone.
— Ele nunca falou onde vive? — questionou, curiosa. — Nada mesmo? Nada que possa nos ajudar a encontrá-lo?
— Eu sei que ele casou numa capelinha na cidade, que tem poucos habitantes e que tem algo a ver com estrela — disse o que sabia. — Porque ele já me mandou algumas fotos e sempre tem estrela no lugar, deve ser um marco da cidade ou algo assim.
— Ele não tem redes sociais, então suas pistas são o melhor caminho até o momento — Sam disse, digitando algo no celular pessoal. — Estou enviando tudo para o Marcus, ele vai se reunir com pessoas de confiança e tentar encontrar o .
— Não podemos falar com a família dele? — perguntou, buscando outras alternativas.
— Parte da família dele que morava aqui foi embora, mas acho que ele se mudou com os pais para a cidade — exclamou, pegando um petisco das cestinhas. — O que significa que temos tão pouco contato com os dois quanto com ele.
— Fiquem tranquilos, vocês precisam focar no trabalho aqui — Chloe pediu. — O Marcus vai puxar uma galera da minha agência e a gente vai resolver isso.
— Vocês só precisam chegar antes de metade da mídia americana — disse, pouco confiante.



largou o celular com força em cima da mesa do deque do hotel, enquanto diversas pessoas aproveitavam as férias e se deliciavam com as águas refrescantes da enorme piscina do Halekulani, a atriz jogou a cabeça para trás, xingando quem quer que estivesse por trás dessa onda de hate midiático sem sentido que ela estava recebendo.
Duas semanas tinham se passado desde a publicação da matéria sobre e, com a falta de engajamento de ódio público nas redes contra o parceiro de cena e ela, ao menos cinco revistas e um jornal ‒ todos, felizmente, de pouca confiança ‒ passaram a intercalar matérias incitando comentários repletos de slut-shaming* com relação a ela.
Eles realmente só não a chamaram de vagabunda porque pegaria muito mal.

Marcus, à distância na busca incansável por seu amigo de infância aparentemente muito difícil de rastrear, e Sam tinham conversado e tentado tranquilizar os pensamentos inadequados que passavam pela mente dela, quem gostava de de verdade jamais incentivaria ou concordaria com os comentários sexistas envolvendo seu nome. Além disso, enviaram uma nota de repúdio aos jornais e revistas de renome e pediram que ela se mantivesse focada no trabalho porque aquela era a melhor resposta, exatamente como tinha dito naquele dia mais cedo.

— Você não vai cair nessa, não! — Linda, uma das pessoas com quem era mais próxima no elenco, exclamou ao vê-la toda torta e capenga na cadeira. — Nem pensar!
— Linda… — começou a dizer, ajustando a postura para encarar a mulher sentada à frente.
— Não vem com esse “Linda” molenga, não! — ela exclamou novamente, deixando chapéu chique com uma aba enorme em cima da mesa. — Garota, eu não quero mais te ver desse jeito, tá me ouvindo?
deixou que a mulher experiente falasse, talvez ouvir aquilo de alguém que convivia com os desafios da indústria cinematográfica a mais tempo que ela faria algo entrar em sua cabeça.
— Você sabe que quando tinha sua idade não podia nem respirar fora de casa que eu já era uma vagabunda — Linda prosseguiu, tirando os óculos de sol do rosto para que a jovem entendesse o que ela queria dizer. — Não podia fazer certo papel porque seria promíscua, não podia ficar muito tempo sem namorado porque significa que eu era frígida, mas também, namorar demais era coisa de mulher que não presta.
concordou, Hollywood nunca deixou de ser complexa, injusta e difícil, porém Linda e tantas outras tinham passado por uma fase que impactava a carreira de um jeito inimaginável.
— E não só eu como outras continuamos firmes, atuando e fazendo o que acreditávamos, porque éramos sortudas demais por um jornalista nojento não ter acabado com a chance de um papel em um filme por uma declaração sem sentido — a atriz prosseguiu, inclinando-se para segurar a mão de na sua. — Não é você, com essa carreira brilhante com tão pouca idade que vai se curvar à mediocridade.
sentiu o peito aquecer com as palavras dela, emocionada por uma atriz que admirou por tanto tempo olhar para sua jornada com tanto orgulho como os olhos dela mostravam.
— Somos mais que os homens que já passaram por nós, . — Linda prosseguiu, acariciando a mão da mais nova. — Você é Valley Boulevard, é nomeação no Oscar com dezenove anos, é todo aquele som lindo que você faz no piano e todas as pessoas que já sorriram e ficaram mais felizes só porque você é você, incluindo a mim.
sentiu a cabeça tombar um pouco para o lado ao não entender o peso que a atriz colocou nas três últimas palavras.
— Pensa que eu não sei que foi você quem sugeriu meu nome quando estavam procurando uma atriz para o papel da Sophia? — Linda disse, abrindo um de seus raros sorrisos. — A indústria é cruel e nos dá prazo de validade, , eu estava há anos sem trabalho, principalmente um que valorizasse minha carreira, e você me deu a chance de mergulhar no meu sonho mais louco e meu amor mais profundo de novo!
Foi só naquele momento que sentiu as lágrimas brotarem do cantinho dos olhos, falhando em contê-las quando as enxergou no rosto maduro de Linda também.
— Você não se contenta em fazer sucesso sozinha, celebra também quem veio antes de você e eu já ouvi isso de todas as mulheres que trabalharam contigo — a atriz murmurou, as palavras transbordando carinho. — E isso vale muito mais do que qualquer porcaria de notícia que um feioso enfurnado na redação de uma revista mequetrefe diga!
deu uma risada nasal em meio ao choro, levantando-se para abraçar Linda na cadeira, a mulher que assistiu repetidas vezes na TV ou no cinema com a sua mãe e agora era sua parceira de cena.
— Só estou aqui por conta de todas vocês — ela respondeu, sorrindo. — É o mínimo que posso fazer.
— Agora de pé — a mulher disse, puxando-a com ela, ajustando o queixo dela para cima. — Temos uma série para terminar.
assentiu, sorrindo.
— Se contar para alguém que chorei, te mato, garota — Linda disse uma última vez, piscando um dos olhos para ela antes de cobri-los com os óculos escuros novamente.


Uma das figurinistas ajustou a roupa de Robin para aquela cena, um shorts jeans, maiô branco e amarelo com uma camisa branca meio aberta por cima. , Denzel e ela teriam uma chegada à praia no iate e eram maquiados no meio do mar enquanto dois iates estavam parados lado a lado enquanto a diretora ajustava a angulação da câmera e a movimentação com a equipe de fotografia e os técnicos especialistas em transporte aquático.

— Quanto tempo? — A assistente de direção* perguntou, anotando algo na prancheta que estava em suas mãos.
— Finalizei com a . — A figurinista disse depois de receber um agradecimento da atriz.
— Dois minutos pro Denzel, o microfone saiu do lugar. — Outro figurinista respondeu de dentro da cabine do piloto.
pronto também. — Mais um respondeu conforme o ator se aproximava e ficava na marcação ao lado dela.
— Beleza, quem já terminou pula para o iate-base ao lado. — A assistente de direção pediu, riscando algo na prancheta antes de virar para a diretora e dizer. — Quatro minutos para vocês, fecha?
— Fecho, obrigada. — A diretora deu um sinal positivo, virando-se para o diretor de fotografia
— Está melhor? — perguntou, olhos atentos por trás do óculos escuros que o personagem dele usava.
— Sim e não — respondeu, rindo baixinho, sentiu a mão dele passar os dedos carinhosamente pelo braço dela. — Mais tranquila com relação aos comentários, mas ainda não consigo deixar de pensar no que realmente me atinge.
— O afirmou, vendo-a assentir e suspirar melancolicamente.
— Falhei demais com ele — ela sentenciou.
Antes que pudesse confortá-la mais e prosseguir a conversa, ouviram a diretora dizer:
— Queridos, apenas Zara, River, Lizzie e eu aqui em cima. — A diretora pediu, todos pularam pro barco ao lado, deixando apenas a assistente de direção, o diretor de fotografia e a diretora de som com ela atrás da câmera presa a outros equipamentos no chão do barco.
— Ao meu sinal, piloto pode começar a ligar o barco — a diretora disse, recebendo um joia do condutor pelo vidro da cabine. — Daí sai Denzel quando eu der o ok, entra no meio dos dois, tira o óculos e dá a fala, rebate e fechamos com a fala do Denzel, beleza.
Os três assentiram, e cruzaram os dedos e os juntaram como sempre faziam antes de iniciar uma cena.
— Barco, vai — a diretora disse. — Câmera?
— Foi.
— O som foi também.
— Quando quiserem, queridos — a diretora disse quando o iate-base da equipe já estava fora de cena e o sol batia perfeitamente em e no centro do barco, combinando sem querer com as águas cristalinas do mar havaiano.


Alguns anos antes.

estava péssima, ela sabia disso.
Era cinco da manhã e ela tocava insistentemente a campainha do apartamento que havia comprado para si, tinha ligado para o celular dele diversas vezes, mas, como não foi atendida, pediu um táxi e foi direto da festa da Vanity Fair para lá, sendo imediatamente liberada pelo porteiro que já a conhecia e tinha se assustado com o estado dela.
Exatamente como quando ele abriu a porta de casa com o cabelo desalinhado, o pijama amassado e a cara sono que despertou imediatamente ao ver com o vestido de gala ensopado e a maquiagem levemente borrada nos olhos inchados de chorar.

, meu amor — ele disse, a voz tomada de preocupação quando a conduziu pelo braço para dentro do apartamento aquecido e bem decorado com diversas sugestões dela, a atriz não poderia acreditar que um lugar tão acolhedor onde os dois tinham vivido tantos momentos felizes seria o cenário da queda deles. — Aconteceu algo na festa? Te fizeram alguma coisa?
olhou para o rosto gentil e chorou de novo, jogando-se nos braços dele com uma força desesperada.
, você tá me assustando — disse, abraçando-a mesmo que precisasse olhar nos olhos dela para se certificar de que nada havia acontecido.
— Desculpa — ela sussurrou fracamente, a palavra quase não saiu.
— Desculpa pelo que? — a perguntou, afastando-a brevemente para colocar sentada no sofá quando o corpo dela começou a tremer.
— Eu… — engoliu em seco, como conseguiria dizer o que fez na frente dele, daqueles olhos tão gentis que eram mais do que somente de seu namorado, mas de um de seus melhores amigos. — Eu beijei outro cara.
congelou, suas mãos aquecidas ainda seguravam as palmas geladas dela, mas perderam um pouco da força de antes.
— Eu não bebi e fiz mesmo assim — ela chorou de novo, fechando os olhos para não ver o rosto decepcionado dele. — Desculpa.
— Quem foi? — ele perguntou baixinho, não sabia se queria realmente saber, sentiu que deveria perguntar de qualquer forma.
— Aquele diretor que conversou comigo no Met Gala e na festa da Heidi Klum — ela respondeu, fechando os olhos com força — .
, infelizmente, lembrava muito bem.



Slut-shaming: prática que consiste em ridicularizar a maneira de uma mulher se comportar, se vestir e de demonstrar os seus desejos sexuais na hora da relação — ou até mesmo quando ela ainda nem praticou nenhum ato.
Assistente de direção: profissional que coordena a logística e a produção de um produto audiovisual, é a pessoa mais importante no dia da filmagem e controla o horário para garantir que tudo seja filmado no menor tempo possível.




balançou os pés de um lado para o outro, observando os pés de próximos aos dela debaixo da água e o padrão de pastilhas da piscina que formava uma flor no centro.

— Depois disso, ele pediu para eu deitar porque estava muito nervosa — ela falou, relembrando o momento. — Deitei no quarto dele e ele foi para sala, acordei algumas horas depois.
segurava a mão dela na sua, nunca tinha ouvido a história desse dia, apenas lhe contou o motivo de terem se separado sem detalhe algum.
disse que me perdoava, mas não queria conversar comigo agora — ela continuou, sentindo a voz levemente embargada. — E que sempre iria me admirar e me amar.
— Ele não estava mentindo, a confortou, acariciando as costas da mão dela.
— Não sei, acho que no fundo eu sempre senti que não merecia ser feliz pelo que fiz com ele — continuou, torcendo os lábios com desgosto da própria escolha. — Dei tanto espaço e conforto para um erro que perdi oito anos de contato com um dos meus melhores amigos de infância!
— Isso também partiu dele, te pediu espaço e você deu — continuou justificando sua visão, afinal, tinha mais detalhes da perspectiva dos sentimentos dele do que ela sabia. — Acho que seria até desconfortável você ser a pessoa a insistir em um contato, principalmente porque começou a namorar o .
— Até você achava que eu não merecia mais ser feliz, vai? — insistiu, relembrando como tinha se fechado para ela e as implicâncias deles começaram.
— Não foi exatamente por isso, não cabia a mim julgar o que você fez — ele explicou, encarando o rosto dela, sempre muito bonito e agora ressaltado pelos reflexos da piscina à noite. — Você não era mais a mesma quando estava com ele, , não era a garota que jogou espuma de barbear em mim no meu aniversário de dezesseis anos, nem a que xingou até a vigésima geração do meu pai, com quatorze, quando ele apareceu no estúdio querendo fazer as pazes, parecia que todo o crescimento que eu vi durante anos tinha sumido junto com você.
concordou, sabia que tinha se perdido no meio do caminho com quando precisou trocar tudo de mais pessoal na sua vida com o fim do noivado.
— Talvez não tenha sido a melhor escolha, só que eu queria tanto que você enxergasse o quão bosta aquele cara era e o quanto ele te apagava que pensei que mudar com você funcionaria — continuou a explicar, sorrindo levemente para a mulher ao seu lado. — E também porque eu tinha que me segurar muito para não socar o rostinho bonito dele.
— Não sabia que você tinha esses instintos violentos, brincou, segurando o braço dele com afeto.
— Ele desperta tudo de ruim que há em alguém — o ator respondeu, dando de ombros. — E falando muito sério, , eu jamais achei que você não pudesse ser feliz por conta de karma ou qualquer coisa sim porque…
— Você não acredita nessas coisas! — ela completou, rindo baixinho.
— E também porque acho que nosso final feliz, é junto — ele falou, aproximando o rosto do dela, juntando as pontas dos narizes dos dois levemente. — E tem como não ser feliz comigo?
gargalhou, jogando a cabeça para trás tamanha risada que deu, o que automaticamente fez rir também.
— Você não era assim com dezessete anos, — a atriz falou, segurando a lateral do rosto dele. — O que aconteceu?
— Perdi uma garota porque fiquei quietinho demais — ele respondeu, aconchegando-se na mão dela, sorrindo. — Comecei a implicar com ela e funcionou, olha só?
— Ai, acho melhor assim, já pensou se eu tivesse te traído também? — brincou, chacoalhando o corpo como se não suportasse nem pensar nisso.
Foi a vez de jogar o corpo para trás ao rir com o humor mórbido dela.
— Porra, como você é romântica, hein! — ele exclamou, puxando-a para perto de novo.
deu de ombros, sorrindo quando ele se aproximou e conectou os lábios dos dois, beijando-a com calma em um contato que transbordava carinho, os toques de eram sempre profundos e sutis, como ele havia prometido antes, repletos de uma paciência que denotavam a persistência do ator durante todos esses anos.
Ele tinha esperado muito por aquilo e aproveitaria cada segundo.


— Gente, que calor dos infernos — Linda reclamou, aproximando-se do ventilador instalado no cômodo dos atores dentro do galpão onde filmavam hoje.
, que apoiava uma garrafa estalando de gelada na testa, concordou. A temperatura em Honolulu tinha só aumentado e a locação do dia parecia muito com um forno ligado em temperatura máxima.
— Como a gente vai gravar isso sem ficar pingando? — se perguntou, pegando uma pedra de gelo do cooler com as bebidas para passar no pescoço.
— A dúvida é, como é que vamos encerrar a série? — Logan Lerman, participação especial na última temporada de Affidavit, falou ao entrar na sala.
— Por quê? — perguntou, seguindo o colega com o olhar quando ele atravessou o ambiente para pegar uma garrafa de água gelada no cooler.
— Acabei de ouvir a produtora dizer que nosso querido vilão está com apendicite e não vai poder filmar mais esse ano — Logan explicou, abrindo a tampinha da garrafa.
— Puta merda, mentira — Linda exclamou, a voz ecoando de forma engraçada por conta de sua proximidade com o ventilador.
— Já tinham adiado as cenas pro final do plano de filmagem porque ele ficou doente — relembrou, pensativa. — Será que dá tempo de achar alguém?
— Vai ter que dar — Denzel entrou na sala também, abanando-se — Queremos concorrer ao último Globo de Ouro e ao Emmy também, chegou nossa hora de ganhar!
Os quatro concordaram, já tinham recebido algumas indicações por atuação, tendo levado prêmios com Denzel, e Linda, e uma indicação por temporada, porém, ainda não tinham conquistado o prêmio máximo com “Melhor série”.
— E o Sam acabou de vir com um papo de que se esperarmos uns dias, Chloe e ele conseguem alguém para nós — o ator continuou, encarando os respectivos agenciados. — Vocês sabem de algo?
e se entreolharam imediatamente antes de dizer ao mesmo tempo:
— Não.
— Ai, vocês já estão até falando juntos — Linda praguejou, arrancando risadas. — Começa logo essa palhaçada, se não vou enlouquecer.



estava realmente assustado, observou aquele monte de crianças como ele, todas pulando, se divertindo, com roupas brilhando de tão novas enquanto a tintura da sua blusa furada embaixo do braço estava apagada de tão puída.
Sua mãe, sentada em uma cadeira em roupas igualmente simples com Clara nos braços, dormindo pacificamente, acostumada com o barulho do Centro de Acolhimento para Mulheres e Crianças, sorria para o filho, os olhos brilhando de orgulho depois de ver o teste de para o tal seriado.
É claro que tinha ficado completamente desconfiada quando o filho voltou para casa com algumas notas, moedas e um cartão de visita de uma produtora, ela odiava a si mesma por ter que permitir que seu menino não voltasse para casa depois da escola porque o dinheiro praticamente tinha sumido da conta bancária junto com o apartamento que moravam. Usou um pouquinho da reserva que tinham construído com ajuda de doações e dos pequenos trabalhos que fez ao longo da gravidez para alugar o quartinho que viviam hoje e foi até uma lan-house, pesquisando cada informação naquele cartão para só depois levar até o teste.
E só porque ele insistiu muito.
, além de assustado, estava nervoso, caminhando de um lado para o outro ao lado da cadeira da mãe quando uma garota, que parecia ter a mesma idade que ele, se aproximou.
— Tá tudo bem? — ela perguntou, a cabeça pendendo para a direita levemente em dúvida quando o garoto congelou os pés no chão e a observou de olhos arregalados.
— Conversa, filho — a mãe incentivou, sorrindo para a garotinha.
— É… tô bem — ele respondeu, meio incerto. — E você?
— Queria muito passar nessa coisa — a garota respondeu, apontando para a sala onde as crianças faziam o teste. — Meu sonho é ser atriz e o seu?
— Sonho? — ele perguntou, estranhando a sensação daquela palavra na boca, fazia tempo que não pensava em sonho.
— É, tipo, algo que você quer muito, muito mesmo — a garota respondeu, fazendo-o rir baixinho por explicar algo que ele já sabia — Tipo ir pra lua, conhecer a Disney, essas coisas.
ficou pensativo, nesse momento, uma das produtoras da série se aproximou silenciosamente, ouvindo cada pedacinho da conversa sem que as crianças notassem.
— Acho que é fazer minha mãe e minha irmãzinha felizes — ele respondeu, dando de ombros, virando-se para olhar para as duas.
— Isso é bem legal — a garotinha respondeu, sorrindo.
— É verdade que eles pagam a gente pra fazer essas coisas? — perguntou, vendo-a balançar a cabeça positivamente — Será que é uns cinquenta dólares?
— Tá maluco? — a garotinha disse, colocando as mãos na cintura — Se pagassem só isso, seria exploração de crianças!
— É muito mais — um garoto apareceu do nada, colocando um dos braços ao redor dos ombros de como se fossem melhores amigos, quase fazendo ele pular de susto — Ainda bem, porque meu sonho é comprar um carro.
— Você nem pode dirigir — a garotinha disse, dando risada da reação do garoto com quem já conversava.
— Pensem assim — o que chegou depois exclamou, aproximando-se dela com , colocando o braço ao redor do ombro dela também — Vejam ali — ele apontou para o teto, como se vislumbrasse alguma coisa — Nós vamos crescer e aí a gente vai poder dormir tarde, comer salgadinho o dia todo e dirigir!
— Eu só tô vendo a parede — disse, meio sem graça.
— Tá precisando de imaginação, hein? — o garoto falou, sorrindo para ele — Mas tá de boa porque, quando a gente passar nessa coisa…
— O que? — ele e a garota falaram ao mesmo tempo.
— Vai ser tudo nosso e nada deles! — o garoto completou, sorrindo satisfeito consigo mesmo.
— Deles quem? — a garota perguntou.
— Tudo o que? — perguntou ao mesmo tempo.
— Não sei também — o garoto deu de ombros — É meu irmão que fala isso, deve ser coisa boa, né?
Os três deram risadas, logo sendo acompanhados pela produtora que os assistia em silêncio e outras três pessoas que tinham se aproximado e parado para ouvir também.
— Vocês são demais! — o diretor disse, tinha assistido ao teste de cada um e todos foram ótimos, mas sempre era difícil escalar crianças que combinassem em cena e bem ali, os três pareciam estar em uma cena de Valley Boulevard sem esforço algum — Quais seus nomes mesmo?
— o garotinho que chegou depois respondeu.
— a garota completou, sorrindo para os adultos.
— ele respondeu meio timidamente.
, e — o diretor disse, agachando-se para ficar da mesma altura que os três, um grande sorriso estampado no seu rosto ao admirar o trio que ainda estava conectado lado a lado pelos braços de — Acho que estamos há um passo de fazer história.


— Ok, vamos relembrar os movimentos — o dublê e coordenador de lutas oficial da série disse, observando , e os dois atores que enfrentariam em cena mais tarde, tinham fechado parte da praia de Waikiki para ensaiar e gravar à noite — Temos três personagens experientes em luta e Robin.
Os quatro atores riram, limpou o suor da testa, mesmo usando um conjuntinho de academia para ensaiar, o sol da tarde ainda estava matando. O coordenador demonstrou de novo junto com sua assistente como deveria ser a dança da luta entre os atores e depois como deveria ser para as atrizes.
Em seguida, os quatro executaram os movimentos ao mesmo tempo, respeitando a marcação da posição da câmera indicada por uma bola de vôlei no chão. e a atriz ensaiaram algumas vezes até que a coreografia estivesse perfeita e parecesse que Robin estava tentando muito não levar uma porrada em cena.
— Arrasou — a atriz disse, fazendo um high-five com ela antes de se sentar no banquinho disponibilizado pela produção para descansar e beber água.
e seu parceiro encerraram logo depois, cumprimentaram-se antes do ator se aproximar dela.
— Sentindo que essa cena vai ficar foda — ele exclamou, sorrindo para a atriz.
— Você odeia a Robin, né? — brincou, colocando uma das mãos na testa para cobrir o sol e vê-lo melhor — Ela vai levar uns dez chutes na costela!
— Você lembra que no último episódio eu quase morro, né? — disse, dando um peteleco carinhoso no quadril dela — E foi ideia sua!
deu uma risadinha, tinha mencionado isso na leitura de roteiro da temporada anterior e, por incrível que pareça, os roteiristas tinham gostado. A atriz ia dizer alguma coisa quando viu que Sam, Chloe e Marcus, que não estava em Honolulu até ontem, se aproximavam.
— O que o Marcus tá fazendo aqui? — a atriz se perguntou em voz alta, atraindo o olhar de para o mesmo lugar.
E os dois viram ao mesmo tempo.
— Ele não veio sozinho — o ator reforçou, sorrindo antes de puxar pela mão para que eles corressem ao encontro daquele que faltava.
.
— Meu Deus — gritou ao sentir a dupla quase derrubá-lo com um abraço forte com um sorriso maior que o próprio rosto — Vocês tão nojentos, cara.
e riram, sentindo os braços dele os envolverem com a mesma força e carinho, mesmo com todo o suor dos dois. Sam, Marcus e Chloe admiravam de longe, aos poucos, algumas pessoas nos prédios da orla e na parte da praia que a produção não havia fechado, paravam para observar, grande parte reconhecendo aqueles três rostos que, mesmo um pouco mais maduros, tinham voltado a ter o mesmo brilho de quando eram crianças.


, e ocupavam uma mesa discreta no restaurante do hotel Halekulani, escondidos do sol e da atenção pública que tinha sido atraída com a presença dos três na praia.
bebericou um pouco da água com gás e limão pedida anteriormente antes de começar a falar:
— Desculpem pela demora em aparecer e falar alguma coisa sobre a matéria que saiu — ele disse, vendo os amigos balançarem as mãos como se isso não importasse — Eu não tenho rede social nenhuma e quem me mostra essas coisas é a minha esposa, mas ela começou a receber umas tentativas de acesso estranhas no perfil depois que umas contas meio suspeitas tentaram seguir o Instagram dela e acabou desativando. E acabei mudando de número com medo de vazar junto com isso…
— Estavam tentando hackear? — questionou, bebericando um pouquinho do copo de suco que tinha pedido como se fosse dela, ele não se importou.
— Provavelmente sim, para tentar ver as fotos, eu acho — ele suspirou, encostando-se na cadeira novamente — Mas ela raramente posta alguma coisa comigo pra evitar esse tipo de situação.
— Desculpa, mas como eles acharam o perfil dela? — exclamou com uma expressão confusa no seu rosto — E não acharam onde você mora!
— Eles acharam, respondeu, passando a mão pelo cabelo — O Marcus só foi muito mais rápido e chegou poucas horas antes dos paparazzis, tiraram a gente de lá antes que conseguissem vender alguma foto relevante.
sorriu, juntando as mãos na frente do queixo, ainda bem que ele tinha conseguido.
— Inclusive, como ele te achou? — riu baixinho, impressionado com a eficiência do agente de .
— Cara, você falou da estrela nas fotos que eu te mandei — disse, interrompendo-se para rir — É uma mini cidade, quase ninguém lá liga de verdade pra televisão ou coisas assim, lá tem estrela em todo canto porque, escutem bem — ele fez uma pausa dramática, vendo os amigos sorrirem em antecipação — Reza a lenda que uma estrela cadente caiu na entrada da cidade, por isso tem um buraco gigante lá.
Os três gargalharam com a explicação, a atriz imaginou Marcus, um grande cético, procurando por cidades relacionadas a estrelas e se deparando com aquela.
— Os moradores mais antigos e quem nasceu por lá levam isso muito a sério, incluindo minha esposa — prosseguiu, secando as lágrimas provenientes da crise de riso coletiva do canto dos olhos — É um lugar maravilhoso, escolhi porque uma amiga da mamãe morava lá, nunca me senti tão livre.
e sorriram para o amigo, a mulher tinha uma pergunta presa na garganta, porém, temia descobrir a resposta.
— Todos fizeram questão de enxotar os paparazzis de lá em alto estilo — sorriu, sentia-se abraçado — Mas não se preocupem, conversei com Marcus no caminho para cá e me dispus a fazer um pronunciamento público com relação a isso.
— Você não precisa fazer — exclamou, observando-o com olhos atentos — Você fez uma escolha e não precisa desrespeitá-la por conta daquela matéria, nós conseguimos lidar com isso.
— Eles estão falando coisas horríveis de você, rebateu, sua esposa tinha mostrado tudo a ele no caminho para o Havaí — Não é justo.
— Talvez seja — a mulher discordou, crispando os lábios, levemente envergonhada pela postura do passado.
— Eu não estava mentindo naquele dia, reforçou, sabia que a mulher lembrava do que tinha falado na manhã após a revelação da traição — Nós éramos jovens, se tem uma época feita pra ser inconsequente e errar, era aquela.
— Tipo a caminhonete de cinquenta mil dólares que quebrou no meio do caminho pra praia — relembrou, arrancando risadas nostálgicas dos amigos.
— Exatamente — concordou, sorrindo afetuosamente para a atriz — A gente cresceu junto, , você fez parte da minha vida nos piores momentos e eu senti seu arrependimento naquela noite, não vou condenar você por um erro.
colocou as duas mãos cruzadas sobre o peito, segurando as lágrimas que estavam querendo escorrer, a mão de foi parar nas costas dela para percorrer os dedos ali em um carinho reconfortante.
— Eu amo vocês dois — disse com a voz embargada de emoção — Não queria mesmo ficar longe.
— Por que ficou? — , também emocionado, decidiu tocar no assunto que rondava a mente dos dois — O que aconteceu naquele meio tempo entre o fim da série e o dia que você me mandou uma mensagem dizendo que não era pra você? Porque era pra você sim!
— Se tem alguém que foi feito pra ser uma estrela do cinema, é você, concordou.
— Fiquei com vergonha e receio de dizer pra vocês naquela época por motivos diferentes — começou a explicar, enxugando as lágrimas novamente — Mas depois que terminamos de filmar, não chegou praticamente nenhuma proposta para mim como chegou para vocês… As poucas que eu recebia eram de papéis estereotipados e com um cachê que não estava de acordo com o que tinha construído até então.
Os dois escutaram atentamente, sentindo o coração apertar.
— Eu sempre senti os efeitos de ser um cara com origem indiana vivendo nos Estados Unidos — ele continuou, suspirando — Mas nunca com tanta força quanto naquele momento… Toda a mania de grandeza que vocês sabem que eu tinha simplesmente foi destruída quando eu vi que a indústria me enxergava como inferior a vocês dois só porque meus pais e eu nascemos em outro país.
balançou a cabeça negativamente, era tão injusto…
— Fiquei com raiva por um tempo, mexeu comigo demais, eu não estava sendo eu, sabe? — continuou, limpando as lágrimas que escorreram pelas bochechas — Então, eu decidi desistir desse universo e meus pais me apoiaram, eles apoiariam qualquer coisa para não perder um filho de novo.
sentiu as forças que mantinham sua calma ao contar tudo sumirem com uma simples menção do irmão mais velho falecido, e vieram imediatamente ao seu socorro, cada um de um lado, os dois se ajoelharam ao lado da cadeira do amigo, segurando uma de suas mãos.
Exatamente como no dia que ele recebeu a notícia de que Karan tinha decidido que viver não valia mais a pena.
— Me senti um lixo — prosseguiu, o apoio dos dois acalmando seu coração — Se eu não tivesse feito aquilo, provavelmente teria caído em algum vício ou coisa parecida, não queria isso de jeito nenhum, então, nós mudamos para essa cidade no interior e eu comprei a livraria do antigo dono.
— Era o sonho do Karan, não era? — perguntou, lembrando-se do dia que o irmão mais velho dele tinha levado os três no parque de diversões e eles conversaram sobre o futuro.
— Era — sorriu novamente, pensando com carinho naquela tarde no parque — Transformamos o local em uma baita livraria, vendia vários títulos usados e raros por marketplace pela internet também, foi por conta do clube do livro organizado por nós que conheci Grace, minha esposa, aquele lugar me salvou.
— Por que você não me disse nada? — perguntou, apertando a mão direita de — A gente esteve em contato nesses anos e você nunca me contou.
, eu te conheço… — começou, observando o amigo com o rosto vermelho pela emoção que a conversa trouxe — Você sempre achou que nunca mereceu estar lá, tinha um medo de perder a chance de seguir como ator não só porque temia não conseguir manter sua família, mas porque tinha virado sua paixão.
passou uma mão desajeitadamente pelo rosto, também secou as lágrimas que surgiram, queria ter estado lá por ele.
— Talvez eu também tenha me achado bom demais, sei lá — deu de ombros — Posso ter me achado superior aqueles papéis que poderiam ter me mantido na profissão.
— Ah, vocês dois calem a boca! — exclamou, pegando a mão de também.
— Eu nem falei nada — disse, com uma risadinha nasalada.
— Mas pensou! — ela exclamou novamente, balançando as mãos dos dois nas suas ao falar — Você pensa isso até hoje! — ela olhou para , depois para — E você era um excelente ator, não deveria nunca ser resumido a um estereótipo.
Os dois sorriram com a determinação dela ao defender o talento que via neles, e sempre se inspiraram muito na mulher, um sonhava em ser famoso e o outro em sustentar a família, porém, sempre sonhou em ser atriz.
Era a ela que procuravam para ensaiar cenas quando atuar deixou de ser uma brincadeira que dava dinheiro, os levava para sessões de filmes antigos em cinemas de rua e ensinava sobre métodos de atuação e diferentes jeitos de interpretar um papel como tinha aprendido com os diversos livros que lia e nunca tinha subjugado algum deles por não sonharem com a profissão desde criança, respeitando o tempo que levaram para verem a atuação como um de seus sonhos também.
— Nunca mais quero vocês pensando nisso, entenderam? — disse com autoridade, encarando-os com seriedade quando os dois balançaram a cabeça positivamente, sorrindo para ela.
puxou os dois para cima e os três se juntaram em um abraço novamente. Nesse meio tempo, Sam, Marcus e Chloe se aproximaram do trio junto com dois produtores de Affidavit, os cinco sorriam com a visão, todos ali, antes de trabalharem com e , tinham os visto crescer na televisão e tinham crescido junto também.
— Com licença, queridos — uma das produtoras falou, chamando a atenção dos três, que levantaram e se recompuseram — Sinto muito em interromper esse momento, mas nós queríamos muito falar com o .
— Comigo? — ele perguntou, estranhando, acreditava que somente os agentes tinham sido responsáveis por trazê-lo até ali.
— Sim — o segundo produtor afirmou, sorrindo para o ator — Queríamos te fazer um convite muito especial.
— Gostaríamos de te oferecer um papel importante nessa última temporada — a produtora prosseguiu, sorrindo ao ver a expressão surpresa no rosto de e a felicidade em e — O ator convidado infelizmente não vai poder participar por questões de saúde e Marcus tomou a liberdade de nos contar que não era seu desejo parar a carreira daquela forma.
— É um papel importante, um vilão que esteve por trás de todos os eventos das últimas temporadas e vai ser revelado agora — o produtor continuou, explicando um pouco onde estaria pisando — Seria uma honra para toda a equipe de Affidavit que ele fosse seu.
Todos aguardaram em silêncio enquanto começava a digerir o convite, encarando os cinco a sua frente com surpresa e emoção, em seguida, olhou para a direita e para esquerda e, no olhar dos dois amigos, viu apenas uma palavra: aceita!
— E então, aceita? — a produtora finalmente perguntou, ansiosa.
— Aceito — respondeu, sorrindo.



E o trio de ouro, hein? — a jornalista disse na televisão, sorrindo para as câmeras. — Há quase seis meses, o último episódio da temporada final de Affidavit foi lançado e com ele, a revelação de que , parte do trio de crianças de Valley Boulevard, voltou ao estrelato em um papel incrível!

Enquanto a apresentadora falava sobre a entrevista de para importantes jornais e revistas contando porque deixou a mídia, um vídeo gravado através de um celular mostrava os três atores se abraçando na praia após ouvirem o “corta” da diretora.

— Como é que você falava mesmo? — disse, dando risada ao abraçar os dois após filmarem a última cena do plano de filmagem, o que encerraria as gravações de Affidavit após três anos.
— Ah, não! — exclamou, tentando fugir do assunto. — Eu era idiota, não falem, não.
— Tudo nosso… — e gritaram ao mesmo tempo, olhando para o terceiro integrante com expectativa.
— Nada deles! — completou, meio contrariado, começou a pular no lugar junto com os dois.

E agora, esse trio lindo acaba de receber indicações ao Globo de Ouro! — a jornalista voltou a dizer quando seu rosto entrou em quadro novamente. — Melhor ator coadjuvante de TV para por Carter em Affidavit. — Uma foto dele caracterizado com uma enorme cicatriz no rosto na série apareceu. — Melhor atriz em comédia ou musical para por sua performance aclamada em Wrinkles. — Dessa vez a foto de caracterizada como a protagonista do filme apareceu. — E por fim, , com sua primeira indicação ao Globo de Ouro, melhor ator coadjuvante de filme por Echoes, filme histórico de grande bilheteria mundial.

Quem assistia a matéria sobre o trio de ouro na TV, torceu as mãos apoiadas nos braços da poltrona cinza na sala de estar.
Nada tinha saído como planejado.



, Grace, , e os agentes dançavam um pop anos 2000 na festa anual de melhores performances da W Magazine, normalmente, não havia música, nem nada, mas o time de marketing havia decidido fazer algo animado para aumentar a participação dos atores que estavam realizando campanhas para premiações com seus filmes ou que tinham feito excelentes atuações ao longo do ano.
Os três estavam extremamente satisfeitos com seus trabalhos, tinha conseguido sua primeira indicação assim que retornou à atuação, além de passar a ser agenciado por Chloe também, com diversas propostas de papéis diversos e interessantes sendo consideradas, a premiação era amanhã e, apesar de concorrer com gigantes e achar muito difícil receber um prêmio logo de cara, estava encantado só com a indicação.
, que já havia sido indicada antes e ganhado na categoria de atriz de drama e televisão, estava extremamente feliz pela oportunidade de concorrer em outro gênero e de ser aclamada no terreno que tinha pisado primeiro como atriz: a comédia.
estava nervoso, era a primeira indicação de toda a sua carreira, sempre tinha batido na trave no Emmy e no Globo de Ouro com Affidavit e nunca tinha sequer sido considerado ao Oscar, por isso, sempre duvidou da qualidade do trabalho que havia entregado e se realmente merecia aquela chance que o deram aos sete anos.

— Vou tomar um ar, volto já — ele disse aos amigos e (já não conseguia incluí-la na primeira categoria), todos assentiram e ele seguiu o caminho até uma parte a céu aberto, um tipo de jardim com sebes altas e uma fonte de pedra bonita.
colocou as mãos nos quadris após afrouxar a gravata, olhando para o céu, o Globo de Ouro era amanhã e suas pernas vacilavam só de pensar.
— É difícil ser o estranho no paraíso, né? — escutou a voz que assombrou seus pensamentos por muito tempo, observando a figura tão alta quanto ele sair por de trás de algumas árvores com mãos no bolso da calça de alfaiataria cinza, um contraste com o conjunto azul marinho que ele usava, sentiu os músculos do rosto travarem de raiva ao vê-lo.
— O que você quis dizer? — o ator perguntou, apertando os olhos ao encará-lo sob a luz amarela do local.
— Você sabe o que eu quis dizer… — exclamou, dando um sorrisinho lateral. — Esse mundo aqui não te pertence.
, focado na presença e nas palavras dele, não notou as câmeras aparecendo atrás dele, cheio de jornalistas escondidos prontos para conseguir um furo.
— Isso tudo é frustração porque seu último filme é uma merda como todos os outros, ? — rebateu, tentando não cair na pilha dele, mesmo que seus pensamentos intrusivos dissessem o mesmo.
estremeceu, olhando para o ator de cima a baixo com repugnância.
— Como se um pobretão como você entendesse alguma coisa de arte — o diretor exclamou, cuspindo as palavras com raiva.
, de verdade, não tô muito a fim de discutir com você, não — falou, estava estressado por outros motivos, porém, não queria explodir por conta de alguém tão insignificante quanto ele.
, por que você tá demorando tan… — se deteve ao parar no segundo degrau, notando a presença de ali. — O que tá acontecendo?
abriu mais o sorriso ao ver a expressão de desgosto no rosto da ex-noiva.
— Parece que nossa festinha tá completa agora.
, vamos sair daqui! — disse, descendo os degraus restantes para pegar a mão do ator.
— Ah, não, a interrompeu, dando uma risadinha amarga — Por que não fica também e escuta o que eu tenho a dizer pra vocês?
— Não estamos interessados — afirmou, suspirando para acalmar a própria raiva, que já começava a subir para a cabeça só de ver a fuça dele.
— Estão mais interessados em ficar beijando no Havaí? — exclamou, gargalhando em desprezo.

Ao mesmo tempo em que conectava a fala dele às fotos tiradas sem permissão para a matéria tentando difamá-los, , que estava levemente inclinada para a esquerda, vislumbrou as câmeras disfarçadas entre as sebes, entendendo que fazia aquele showzinho de propósito

— Foi você, não foi? — gritou, apontando o indicador para o rosto de e encomendar aquelas matérias horríveis sobre a , seu canalha!
— Só pedi pra contarem a verdade — falou, dando de ombros. — O renegado estava vendendo revistinha no meio da roça, pelo amor de Deus!
balançou a cabeça negativamente, aproximando-se dos dois, sempre podia surpreender com o quão desprezível conseguia ser.
— E a definitivamente tem mais relevância com os homens que namora do que na carreira — continuou, precisou segurar no lugar para que ele não partisse para cima do diretor. — Só faltou uma matéria contando o pivete que você é, quem sabe as coisas que você fez quando estava vivendo na rua? Ou chamar seu papai pra contar como você deixou ele continuar sem nada depois da fama.
não pensou duas vezes antes de meter a palma da mão em cheio na cara de , vendo o pescoço e cabeça dele torcerem para o lado tamanha força dedicada em atingi-lo.
— Espero que tenham pegado isso aqui — gritou para os jornalistas escondidos. — E que coloquem a conversa por completo amanhã.
olhou para trás, vendo as câmeras pela primeira vez.
, eu tenho pena de você — disse, virando-se para ele novamente, acariciava a bochecha vermelha e dolorida com os olhos faiscando de ódio. — É um fracassado que só conseguiu fazer algum filme usando a herança e a influência do vovô e, além de ser carregado pelo dinheiro até aqui, não fez nada que preste!
estava prestes a responder quando Sam, Marcus, Chloe, e Grace se aproximaram junto com outras personalidades, mas ela falou primeiro:
— Você tem o senso artístico de uma parede branca, nunca teve uma aclamação na vida que não fosse por alguém que gostava muito de mim e tinha pena, isso mesmo, pena de confessar a verdade na sua cara! — ela cuspiu as palavras, sorrindo por finalmente poder dizer tudo que sentia.
— Nós dois estamos aqui, ou melhor, nós três — continuou, apontando para logo atrás. — Já que você escolheu colocar ele no meio disso, estamos aqui indicados, trabalhando constantemente e você? — Deu uma risadinha. — Se o dinheiro da família acabar, você vai fazer o que?
— Tenho vergonha de ter desperdiçado seis anos da minha vida com você. — voltou a falar, desprezando-o. — Insistia em dizer tudo que estava errado comigo, como todo mundo ao meu redor só queria me usar quando quem estava fazendo isso era você!
segurou as lágrimas, pensando no quanto tinha se perdido naqueles anos.
— É um frustrado — exclamou, seu tom repleto de ironia, o que lembrava muito sua versão jovem porque achou que o diretor merecia.
— Você me dá ânsia — finalizou, puxando pelo braço para caminharem até a saída, voltou-se brevemente aos jornalistas que começavam a aparecer por ali e mostrarem rostos cheios de vergonha. — Espero uma retratação completa em todos os lugares que vocês publicaram anteriormente ou nossos advogados. — Apontou para e — ficarão muito contentes de entrar em contato.



Uma das mesas na fileira de frente para o palco do Globo de Ouro estava repleta de pessoas, muito alegre, diversos outros profissionais e atores se aproximavam de lá para cumprimentar , e , mantendo o status de queridinhos de Hollywood que possuíam desde crianças.
A próxima categoria seria a de Ator Coadjuvante de filme, exatamente a que estava concorrendo, ele sorriu de forma nervosa para a câmera quando Zoe Saldaña mencionou seu nome como um dos indicados.

— E o Globo de Ouro vai para… — Kieran Culkin, vencedor da categoria no último ano, disse antes de abrir o envelope e revelar, com um enorme sorriso. — por Echoes!
O rosto chocado de apareceu na tela de reações, com todos os outros cinco indicados levantando-se para aplaudir o vencedor com enormes sorrisos no rosto.
— Você ganhou! — gritou, animada, quando a mãe e a irmã de presentes ali puxaram-na para o abraço coletivo nele junto com a sua mãe, agradeceu a todos na mesa, fazendo um toque com antes de caminhar até o palco, sendo cumprimentado e aplaudido o caminho todo.

chegou ao palco, cumprimentando o garoto que havia dado o troféu a Kieran e Zoe, fazendo o mesmo com os atores após lhe entregarem o prêmio. O ator se aproximou do microfone destinado para que desse seu discurso, observando os vários rostos com grandes sorrisos, o orgulho estampado no olhar de Lucy, Clara, e , todos abraçados aguardando que ele falasse.

— É, estou realmente muito chocado, peço desculpas pelo discurso que vem agora — disse, arrancando risadas da plateia, ele olhou para o troféu, sentindo as lágrimas chegando aos olhos. — Tenho feito isso por dezoito anos e é meu primeiro prêmio, sou extremamente grato por ter a oportunidade de continuar atuando todos os dias porque é uma arte que eu aprendi a admirar fazendo.
O ator interrompeu o discurso para suspirar, observando o rosto emocionado de de longe com as mãos cruzadas sobre o peito, sentiu o coração acalmar imediatamente.
— E sou muito grato por todas as pessoas que me deram a oportunidade de descobrir essa paixão e conseguir dar o inimaginável para minha família. — continuou, sorrindo — Queria dedicar esse prêmio a todos que estiveram comigo nesses anos e pedir duas coisas a quem está presente ou assistindo a transmissão: olhem para todos os lados porque tem tanta gente boa por aí… Crianças que, como eu, só precisam de uma chance para realizarem seus sonhos! E, por fim, por favor, façam uma doação para o Centro de Acolhimento a Mulheres e Crianças mais próximo de vocês, eles foram os primeiros a me abraçarem quando eu precisei, obrigado!
ergueu o prêmio em sinal de agradecimento, sendo imediatamente aplaudido por todos conforme deixava o palco por trás para tirar as fotos com o prêmio antes de retornar à plateia.


Alguns prêmios tinham sido anunciados, havia perdido para Denzel Washington, que também estava concorrendo por Affidavit, portanto, como já estava extremamente feliz com a indicação e em poder voltar a atuar, além de admirar muito Denzel, não ficou nem um pouco chateado.
Agora, tinha chegado o momento da categoria de , Demi Moore, vencedora no ano anterior, subiu ao palco, fazendo um pequeno discurso celebrando cada uma das indicadas. sorriu quando seu nome foi mencionado, dando um tchauzinho animado para câmera que focou nela ao apresentar seu nome como uma das concorrentes.

— E o Globo de Ouro vai para… — Demi Moore disse, sorrindo ao abrir o envelope com o resultado.— por Wrinkles!

Mais uma vez, a mesa explodiu em gritos e comemorações junto com todos os outros participantes, as outras indicadas já tinham trabalhado com e ficaram extremamente felizes com a vitória, aplaudindo-a de pé. A atriz sentiu diversos braços a abraçando. Ao caminhar até o palco com o vestido azul escolhido a dedo para aquela noite, por onde passava, várias mãos se estendiam para parabenizá-la.
subiu no palco, cumprimentando o jovem que entregava o prêmio aos apresentadores e dando um forte abraço em Demi ao receber o troféu. Ela seguiu o caminho já conhecido até o microfone, abrindo um sorriso contagiante para a plateia.

— Oi. — Ela começou a dizer, olhando para o prêmio e dando uma risadinha, sendo acompanhada pela plateia. — É uma honra ganhar um prêmio tão importante no gênero que foi minha casa dos sete aos dezoito anos e que eu não entrava há tanto tempo, mas, acima de tudo, é uma honra concorrer com mulheres tão brilhantes com quem eu já tive a oportunidade de trabalhar e ver de perto como são a arte em sua forma mais pura!
mandou um beijo para cada uma delas na plateia, recebendo-os de volta com entusiasmo.
— Nós todas convivemos com desafios inimagináveis a vida toda e dentro da profissão não seria diferente. — Ela prosseguiu, recordando-se da conversa com Linda, que a assistia ao lado de , o segundo estava com um sorriso enorme de pura admiração no rosto. — Por isso é preciso celebrar cada uma que já passou por esse palco e quem também não chegou aqui porque todas nós só conseguimos continuar entregando performances cada vez mais diversas, com personagens que apresentam uma evolução dramática focadas nas vidas delas e com características fortes porque tantas outras brigaram e brigaram intensamente para que o cinema se tornasse nosso também, estou muito feliz em viver disso e também de brigar sempre para que seja cada dia mais nosso! Muito obrigada!
ouviu assobios e aplausos da plateia ao erguer o prêmio para o alto, escutou Meryl Streep gritar palavras lindas para ela de longe conforme ela se afastava para tirar as fotos nos fundos do palco.


destrancou a porta do apartamento, a seguia logo atrás, dando risada até agora do que a irmã dele tinha dito quando a deixaram com Lucy e a mãe de , que iria fazer uma viagem da terceira idade com Lucy no dia seguinte, na casa deles.

— Sofá novo! — O ator exclamou ao entrar no apartamento, observando o móvel bonito que adornava a sala perfeitamente, combinando com as paredes, o quadro feito por sua irmã e com a própria dona da casa.
— Bem melhor, né? — Ela exclamou, trancando a porta e deixando seu troféu em cima da bancada, todo o elenco de Affidavit tinha se reunido com seus familiares e convidados para comerem juntos em um restaurante e celebrar o sucesso da série com o prêmio recebido pela última temporada, por fim, o ator havia decidido acompanhá-la até em casa.
— Agora tem bom gosto, senso artístico, sabe? — zombou, usando o tom de voz que usava para entrevistas sobre seus filmes ruins, se aproximou por trás, retirando o paletó dele.
— Não aguentei de rir me arrumando com o Sam e o Marcus, aquele story da Aimee chorando dizendo que o estava muito mal com os comentários que tinha recebido… — disse, levando a peça de com ela para o quarto, ouvindo os passos dele logo atrás misturados com a risada dela.

Mais cedo naquele dia, todos os jornalistas, tremendo processos e retaliações, divulgaram os áudios completos e imagens da discussão entre eles na noite anterior, além de se desculparem por aceitarem receber para publicar certas notícias com o nome do trio de ouro. É claro que recebeu uma enxurrada de xingamentos em todos os lugares possíveis da internet.

— Como pode ser tão cara de pau? — perguntou, encostando-se na cômoda do quarto dela enquanto pendurava seu paletó e a estola que acompanhava o vestido no armário dela. — Não teve nem coragem de aparecer ele mesmo e falar alguma coisa, mandou a Aimee fazer!
é um covarde — afirmou, deitando-se na cama, apoiando os cotovelos no edredom, elevando a parte superior do corpo.
— Mas não vamos falar do agora, não é? — sugeriu, sorrindo ao observá-la na cama, agachou-se para tirar os saltos dos pés dela.
— E vamos falar do que agora? — observou se erguer novamente, segurando uma das pernas dela para o alto, parte do vestido escorregou para baixo e ele deixou uma trilha de beijos que começava na parte interna do calcanhar dela até o canto próximo ao joelho, deitando no meio das suas pernas.
— Estava pensando em pedir você em namoro, o que acha? — ele disse com tom casual, colocando as pernas dela ao redor dos quadris dele, puxando-a suavemente para encontrar seu corpo logo abaixo.
— Namoro? — fingiu desapontamento e afetação ao torcer os lábios, colocou os braços ao redor do pescoço dele. — A gente se conhece quase a vida toda e eu já tive o título de noiva, , eu estava esperando um pedido de casamento!
deu uma risadinha, subiu uma das mãos por dentro do vestido através da fenda em uma das pernas antes de dizer:
— Ah, eu tenho uma condição pra esse casamento. — Ele observou o rosto dela abaixo, os lábios levemente vermelhos do batom que usava mais cedo e os olhos adornados pela maquiagem que realçava o quão brilhantes eram.
— Qual? — ela perguntou, puxando-o para perto dela pela gravata, passou a beijar o maxilar e o pescoço dele enquanto sentia as mãos dele na parte interior das coxas.
— Nós dois vamos usar ternos — ele sussurrou próximo ao ouvido da atriz, fazendo-a rir baixinho, lembrando-se dele resgatando-a da igreja com o paletó de Marcus cobrindo sua lingerie branca. — Uma segunda versão da noiva sexy, só que dessa vez ela não vai ser abandonada.

o puxou para mais perto, sentindo os lábios macios nos seus mais uma vez, com aquele gostinho refrescante do drink que ele tinha bebido no jantar, vagarosamente, eles aprofundaram o beijo enquanto ela tirava sua gravata, jogando-a em algum canto do quarto antes de abrir lentamente cada um dos botões da camisa dele.

— Essas roupas de gala são tão difíceis — ele murmurou entre beijos, colocando uma das mãos por trás dela para desfazer os laços que prendiam o vestido ao corpo dela.

deu uma risadinha, finalmente abrindo todos os botões e tirando a camisa dele, descendo suas mãos pelo peitoral marcado dele, não sabia como tinha ficado tanto tempo sem tocá-lo daquela forma. Pouco a pouco, desfez os laços da roupa dela, desceu uma das alças e beijou a região carinhosamente.
A atriz suspirou ao sentir os lábios dele movendo-se conforme abaixava seu vestido, passou as mãos pelo cabelo dele, puxando os fios levemente e sorrindo com a visão dele entre seus quadris:

— Eu amo você — ela murmurou, pela primeira vez, aquelas três palavras significavam mais do que tiveram ao longo dos anos de amizade, percebeu também, levantou a cabeça e voltou a encará-la, sorriu lascivamente, provocando-o em seguida .— O que foi? Nunca ouviu isso antes?
exibia o mesmo sorriso que ela no rosto ao voltar a se aproximar dos lábios dela e beijá-la mais profundamente de novo.
— Do amor da minha vida, não — ele respondeu, entre beijos, sentindo a mão dela se mover para o meio de suas pernas, um grunhido separou suas palavras, a segunda frase saiu abafada e meio rouca. — Eu amo você também, .

Amor da minha vida.

Dessa vez, quando escutou as palavras saírem da boca levemente vermelha e volumosa por conta dos beijos, acreditou que era verdade.
Porque também era o amor da vida dela.


Fim.


Nota da autora: Olá a todos os leitores de loml que voltaram para ler essa fic!
Fiquei muito feliz com todos os comentários e feedbacks recebidos com a história, não imaginava que tanta gente ia ter carinho pela Cleo e pelo Callum como eu tive escrevendo. Por isso, depois de meses e muitos xingamentos hahaha, voltei com uma continuação com eles que, espero, esteja a altura das expectativas de quem pediu!
Queria agradecer especialmente à Polaris e Zuila, que estiveram nas trincheiras por loml II desde sempre!
Além disso, se você chegou até aqui, sabe que Kalil, melhor amigo do nosso casal, perdeu um irmão de forma trágica. Quero dizer a todos que estão lendo isso que nunca estarão sozinhos e sempre vai existir alguém lutando por vocês!
Se precisarem de ajuda, contatem algum familiar de confiança e busquem tratamento e, em momentos de urgência, não hesitem em contatar o CVV (Centro de Valorização da Vida) no número 188. Vocês importam!

E, por fim, caso algum leitor seja cinéfilo (no bom sentido e não como o Peter hahaha), pode ter reconhecido os títulos dos capítulos da fic, todos foram baseados em filmes que eu acho que a Cleo gostaria e teria levado os meninos para assistirem com ela! <3
1. Quanto Mais Quente Melhor - comédia/musical (1959)
2. À Meia-Noite, Levarei Sua Alma - terror/drama (1964)
3. O Que Terá Acontecido a Baby Jane? - terror/drama (1962)
4. Tropa de Elite - crime/ação (2007)
5. 12 Homens e Uma Sentença - thriller/crime (1957)
6. O Clube dos Cinco - comédia/drama (1985)
7. Um Corpo que Cai - thriller/mistério (1958)
8. Ainda Estou Aqui - drama biográfico (2024)

Muito obrigada e não se esqueça de comentar para uma autora ex-inimiga das continuações saber o que vocês acharam! <3


Nota da Betinha 👩🏼‍🚀: Let, eu, Polaris, como fã número 1 e completamente obcecada por loml, fiquei absolutamente radiante ao saber que, depois de MESES implorando igual uma cachorra, você não só trouxe essa continuação incrível, como ainda me confidenciou no privado que, de certa forma, foi meio que um presente de aniversário para mim! 💖
A história da Cleo e do Callum é simplesmente perfeita! Desde o começo, lá em loml, a química entre eles era tão palpável que parecia vibrar em cada cena. Aqui, mais uma vez, você conseguiu capturar aquela magia e aquele frio na barriga que sentimos ao ver esses dois juntos. Revisar cada capítulo foi uma experiência deliciosa, porque a cada linha eu sentia o amor deles crescendo e se consolidando ainda mais. A forma como você construiu esse relacionamento, desde as bases, é impecável e cheia de verdade.
E aí, no final, veio a cereja do bolo: finalmente entender as siglas que originaram lomlLove of My Life! Porque é exatamente isso que Cleo e Callum representam um para o outro desde o início, desde que se conheceram ainda crianças. Meu coração ficou quentinho, porque você entregou um romance tão genuíno que me fez acreditar no amor literário de novo!
Obrigada, de verdade, por nos dar essa parte II e mais momentos incríveis desse casal que merecíamos ver juntos! Saiba que você deixou a Polaris aqui completamente emocionada e com um sorriso bobo no rosto. 🥰

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