Codificada por: Cleópatra
Finalizada em: 09/08/2024O sol se punha no horizonte, pintando o céu com tons quentes de laranja e rosa e conseguia ouvir as risadas, a música que tocava e o som das gaivotas sobrevoando o lugar.
Respirou fundo, encarando a cerveja gelada nas mãos.
Sua mente estava em outro lugar.
Sentiu o frio da garrafa contra sua pele, mas era como se estivesse segurando algo pesado que o mantinha preso ao passado. Sabia que deveria tomar um gole, participar da diversão ao redor da fogueira com seus melhores amigos, mas algo dentro de si o impedia de se juntar ao restante do grupo.
Era como se houvesse uma barreira invisível entre ele e o mundo exterior, uma barreira formada por suas próprias emoções tumultuadas.
E já havia estado assim há um bom tempo.
A mesma sensação de sempre o invadiu; nostalgia, tristeza e dor.
Aquela vista magnífica era um lembrete vívido de um dos momentos felizes que havia compartilhado com Tiffany, sua ex namorada.
Costumavam assistir juntos ao pôr do sol, envoltos nos braços um do outro, compartilhando sonhos e planos para um futuro não tão distante. Mas agora, tudo o que restava era o vazio deixado por sua ausência.
Uma brisa suave soprava do mar, trazendo consigo o cheiro salgado característico e umidade que preenchia o ar. Era como se o oceano estivesse sussurrando segredos antigos, tentando acalmar a tormenta dentro do peito de .
Fechou os olhos.
Como é que podia doer tanto depois de tanto tempo?
Ouviu as conversas e risadas ainda persistirem próximo a si. Queria entender, claramente, porque não conseguia esquecer, como ela mesma já havia feito e aproveitar momentos como aquele com as pessoas que realmente importavam? Se perguntava como poderia ser possível que, mesmo após meses desde o término com Tiffany, sua ferida emocional ainda estivesse tão fresca, tão viva.
Porque não conseguia esquecer?
Sua mente só conseguia focar nela.
precisava seguir em frente, mesmo que não quisesse.
Por mais um pouco se afogaria em seus próprios pensamentos e sentimentos.
Não notou quando alguém se aproximou, mas percebeu que era pelo perfume que a garota usava.
Ele conhecia há quilômetros de distância.
— — ouviu a voz da melhor amiga. Não a olhou. — Vai ficar aí por quanto tempo mais?
ergueu levemente seu olhar, observando de relance os olhos brilhantes de sobre si, preocupados, mesmo que seu sorriso não quisesse transparecer tal fato.
— Não sei. Só preciso de um tempo. Respirar e… Não sei.
assentiu compreensivamente, sem pressioná-lo.
Sabia que não podia forçá-lo a abrir-se, mas também não podia deixá-lo afundar ainda mais na escuridão de seus próprios pensamentos.
Com um suspiro, se sentou ao lado dele na areia macia, oferecendo-lhe sua presença silenciosa.
— Eu entendo, … — disse, suavemente. — Mas você não precisa enfrentar isso sozinho. Já faz um tempo e… Parece que você não pensa em mais nada, até mesmo quando tá com a gente.
sentiu um aperto no peito ao ouvir as palavras sinceras da amiga. Claro que sabia que estava se afastando de seus amigos, perdido em sua própria dor, mas não conseguia evitar.
Era como se, continuar daquele jeito, fosse a única forma de conseguir superar o relacionamento anterior.
— Sei disso… — murmurou à contra gosto. — Pode ter certeza que a última coisa que quero é me afastar de vocês.
Respirou fundo e deu uma olhada rápida para trás.
Drew e Wesley conversavam animadamente sobre algo.
ainda tinha seus olhos sobre o rapaz. Queria, de alguma forma, conseguir tirar toda a dor que seu melhor amigo sentia.
O mesmo havia se relacionado com Tiffany por mais de cinco anos então, com toda certeza, sua dor era compreensível.
Mas, vê-lo tão distante, tão na sua… Doía muito mais nela.
O silêncio entre eles se estendeu por alguns momentos, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
— Ei, — disse, ainda mais delicada que antes. — Não esquece que estou do seu lado, tá? Não precisa superar isso sozinho, não.
sentiu um nó se formar em sua garganta, a familiar sensação de frustração borbulhando dentro de si. Queria acreditar nas palavras reconfortantes de , queria aceitar sua oferta de apoio, mas estava saturado de ouvir as mesmas coisas repetidas vezes.
O tempo inteiro, até mesmo de si.
— , eu sei. Mas você não pode consertar isso. Ninguém pode.
— Eu sei que não, mas se você—
— , para! Por favor. Para de tentar consertar isso como se fosse problema seu — virou para encará-la, o rosto já vermelho. — Dá um tempo. Só isso que eu te peço.
As palavras saíram antes que pudesse detê-las e instantaneamente se arrependeu. Conseguiu notar a expressão de dor que passou pelo rosto de e desejou poder voltar atrás, desfazer suas palavras cruéis.
Ela não merecia.
era a última pessoa que merecia aquilo.
— Desculpa, eu… — engoliu em seco. quase se aproximou da mesma, mas a garota se afastou minimamente. — Se precisar de alguma coisa, pode falar comigo. Ou com os meninos.
Engoliu em seco, sentindo-se completamente impotente diante da situação. havia ido longe demais.
Queria se desculpar, queria consertar o que tinha quebrado, mas não sabia por onde começar.
— …
Suas palavras se perderam na brisa do mar.
A garota se virou, deixando um último sorriso magoado ao olhá-lo.
A observou se afastar, seus passos rápidos e decididos ecoando na areia.
se sentiu como se estivesse afundando em um abismo de arrependimento, incapaz de alcançar sua amiga antes que fosse tarde demais.
E ele teve certeza que talvez realmente fosse quando sequer olhou para trás.
havia perdido as contas.
Desde o incidente na praia, não sabia dizer certamente qual foi a última vez que falou com seus amigos, se isolando na própria escuridão.
As risadas animadas e os abraços reconfortantes deram lugar ao silêncio pesado e à solidão sufocante.
tinha mais do que certeza que tinha magoado profundamente seus amigos, especialmente . Se arrependia todos os dias por suas palavras cruéis e sua incapacidade de lidar com as próprias emoções.
Mas, apesar do desejo enorme de se redimir, não conseguia encontrar a coragem para enfrentar o estrago que tinha feito.
Em vez disso, se deixou levar pela própria melancolia, perdido em um labirinto infinito. Seus dias pareciam sem rumo, o deixando perdido em pensamentos sombrios e lembranças dolorosas.
Cada vez que se via perto de seus amigos, a sensação de culpa o dominava, fazendo-o recuar ainda mais ao tentar correr atrás do que havia perdido com eles.
As noites eram as piores.
Enquanto o mundo parecia mergulhar em um silêncio absoluto, lutava contra seus pensamentos insistentes e infindáveis.
A ausência de ao seu lado era um lembrete constante de sua própria falha, uma ferida aberta em seu coração que se recusava a cicatrizar e, por incrível que pareça, era o que mais doía ultimamente.
E não mais a falta de Tiffany consigo.
Se encontrava constantemente pensando na amiga, se lembrando de seu jeito, sua risada e como ela havia se importado consigo na última vez que tinham conversado.
Se via refletindo sobre aquilo por um bom tempo, o que só o fez perceber algo gradativamente; significava muito mais para ele do que Tiffany já significara.
se pegava pensando em com uma frequência surpreendente, imaginando como seria sua vida sem ela ao seu lado. Sem a pessoa que cresceu junto, sem a amiga que o ouviu nos piores e melhores momentos.
Era impossível negar o fato de havia sido sua âncora por todo esse tempo.
Sentiu o rosto esquentar, uma onda de emoção invadindo seu peito.
Seu coração doía tanto que, assim como seu rosto, os olhos começavam a arder.
sabia que, no fundo, precisava fazer algo para consertar tudo aquilo.
Não podia ficar parado vendo sua amizade com a garota se desfazendo diante de seus olhos, ainda mais que a culpa havia sido totalmente dele.
Deixou um suspiro escapar, pegando o celular próximo de si.
A ponta de seus dedos tremiam levemente, mesmo que estivesse determinado a tomar uma atitude. Não demorou muito para abrir o aplicativo de conversas e clicou no ícone de microfone.
Pelo menos, àquela hora, seria a única opção para o rapaz.
— “, eu… Sei que feri você. E eu sinto muito, muito mesmo. Fui um idiota, babaca e estúpido por deixar afastar as pessoas que mais importavam pra mim. A única coisa boa foi que, durante esse tempo, percebi que você é mais do que eu achei que era. Você é tudo pra mim, … Não posso te perder. Não posso deixar nossa amizade acabar assim. Por favor, me dê outra chance. Me dê outra chance de mostrar o quanto me arrependo. Eu vou consertar as coisas, . Te prometo. Eu…” — o áudio foi cortado por algumas batidas na porta da casa de .
Mas não antes da mensagem ser enviada.
fungou, engolindo em seco.
Seu coração estava acelerado, sua mente girando com possibilidades sobre quem poderia estar do lado de fora.
Quase não se levantou. Mas, outras batidas foram escutadas.
Não conseguia entender quem mais poderia estar batendo à sua porta naquela hora da noite.
Com um suspiro pesado, se levantou. Se aproximou da porta e girou a maçaneta sem nenhuma pressa.
Parado, diante de , estava .
Os mesmos olhos brilhantes que ele se lembrava e a expressão preocupada, apreensiva.
Ele sentiu o coração descompassar com a cena diante de si.
Seus olhos encontraram os dela, e por um momento, quase correu em sua direção. As palavras pareciam difíceis de sair por sua boca.
— …
— Oi, . — a garota respondeu, sentindo os olhos marejarem. Ver daquele jeito, tão frágil e tão aliviado por se dar conta de que era mesmo ela em sua casa, a fez querer abraçá-lo e nunca mais soltar.
Com um suspiro trêmulo, deu um passo hesitante em direção a .
Sentiu o calor de sua presença envolvê-lo, trazendo uma sensação de conforto e segurança que não sentia há muito tempo.
Ela sorriu.
— Você é mesmo um idiota, babaca e estúpido, . Eu quis tanto te xingar, te bater, te mandar para o cacete que fosse, mas… Mas eu só conseguia pensar em você, — a garota suspirou. Os olhos presos no dele. — Só conseguia pensar que você continuaria sozinho, que continuaria a perder as coisas boas em sua vida e eu não podia deixar isso acontecer.
sentiu o peito apertar com suas palavras. Ainda assim, apesar do que ele havia feito, continuava preocupada com ele.
A única coisa que pairava em sua mente era que sabia que tinha que dizer algo, expressar seus sentimentos de uma forma que fosse tão sincera quanto as palavras de .
E soltou tão leve e sincero.
Como se nada mais importasse ali.
— Eu amo você, .
Houve um momento de silêncio enquanto as palavras de flutuavam no ar entre eles. ficou atônita por um momento, seus olhos arregalados de surpresa. Não esperava ouvir as exatas palavras que saíram da boca de seu melhor amigo, não daquela maneira, naquela hora.
Mas, ao olhar nos olhos sinceros de , soube que estava falando a verdade, que seus sentimentos não podiam ser mais genuínos e profundos.
Deu um passo à frente. E então, com um sorriso tremendo nos lábios, respondeu com a mesma sinceridade.
— Eu também amo você, .
