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Codificada por: Cleópatra

Finalizada em: 25/08/2024

A brisa do mar noturno estava quente, salgada, corria pelas praias de maneira solta intercalada como as próprias ondas que quebravam sobre a areia clara. No véu escuro de noite a lua crescente se escondia atrás de algumas nuvens, fazendo sua luz prateada brilhar dentre as camadas iluminando o chão.

O som das ondas soava na distância, chegavam abafados até a casa na encosta como se fizessem parte do cenário num sonho distante.

Não são muitas pessoas que conseguem transformar um enterro numa festa, o antigo presidente de uma das companhias marítimas mais bem-sucedidas do país, parece ter essa habilidade. Uma pena que ele mesmo não estava apto a participar de tal evento, visto que já estava a alguns palmos abaixo do chão.

As pessoas reunidas ali valiam milhões, não falando sobre índole, mas sim materialmente, tanto as vestes e acessórios quanto suas empresas. Durante o dia, as vozes baixas lamentavam secando lágrimas falsas em seus lenços de cem fios, agora depois de uma taça ou outra de álcool já começavam a disputar os direitos do falecido.

Alheia às pequenas discussões de contratos sendo feitas do lado de dentro, na espaçosa varanda com vista para o mar. Havia uma mulher, de aparentemente vinte e tantos anos. Postura elegante, curvas históricas, mas com os pensamentos perdidos no fundo de uma taça de champanhe.

Sou um empresário cujo negócio é o crime.

— E agora está morto — respondeu para o vento comentando a frase que ouviu tantas vezes ser ditas pelo antigo presidente. — Sem poder ver os chefes de máfia se lançando na garganta um do outro para tentar ganhar vantagem

A mão de dedos alongados, vestidos por unhas escuras, girou o líquido transparente vendo as bolhas se soltarem e estourar, antes de levar até a boca e sentir o gosto da bebida na língua. Infelizmente, ainda havia algumas solenidades a serem cumpridas, então não podia se livrar da situação com uma dose estupidamente alta de álcool no sangue.

Crime organizado existe desde que foi feita a separação do certo e do errado, dos piratas, corsários, bandoleiros até a conhecida “Cosa Nostra”. Um sistema que evoluiu para camadas muito além de apenas roubo.

Proteção, extorsão, votos e então dinheiro.

Um grupo que tinha tudo isso em suas mãos, tinha controle sobre as maiores cidades do país, e quem sabe até mais. Se engana quem pensa que o crime organizado é como uma grande libertinagem, longe disso. Se existe algo que permanece desde as raízes, é a disciplina.

Uma pessoa comum, sem qualquer tipo de vivência no meio, ficaria surpresa com a quantidade de regras para se matar uma pessoa, e mais ainda com a maneira de agir. Os de verdade não saem cantando glórias sobre seus feitos, os melhores permanecem com esse lado da vida escondidos até o fim, sem deixar pontas soltas para investigações.

Um juramento, na máfia, não é um juramento para matar, enganar, roubar, é um voto de silêncio.

— Não é uma boa noite para ficar sozinha.

A mulher não se virou, pois reconheceu a voz, girou a taça pela haste e bebeu o restante da bebida até que não tivesse mais nada.

— Se as pessoas que se aproximam para falar comigo não estivessem mais interessadas em se colocar no meio das minhas pernas, teria muita companhia — respondeu à medida que o homem se colocou ao seu lado.

Por conta da temperatura, as mangas da sua camisa social estavam enroladas até o meio do antebraço, havia pequenas gotas suor em sua testa fazendo alguns poucos fios de cabelo se grudarem a ela. Em adição, os primeiros botões de sua camisa também estavam abertos, mostrando um pouco mais de pele do que o comum.

A mulher não tentou disfarçar, tão pouco teve vergonha quando o homem se inclinou para buscar seus olhos e os trazer de volta para o rosto.

— O que o traz até aqui, Sr. Moreno?

O sobrenome rolou da língua aveludada da mulher com um tom divertido. A família Moreno apesar de ter esse título, tinha todas as cores, e todos os tipos. Nas próprias palavras dela, cada um deles parecia um sonho. Alguns bons, outros exóticos, porém os melhores desses sonhos eram excitantes.

— Parece com alguém que precisa de companhia — o homem apoiou as mãos na grade de metal escuro olhando também para o mar que ondulava na distância fazendo cintilar a água com a luz da lua.

— Companhia… — repetiu a resposta batendo ritmadamente a unha no vidro da taça agora vazia. — Diria que preciso de uma distração mais do que companhia.

Moreno manteve os olhos nos lábios cheios, se movendo enquanto a mulher falava, descendo os olhos para a pele lisa que desaparecia atrás de um decote no vestido preto.

— Posso te dar algo para pensar, se quiser. — respondeu dando mais voz aos seus desejos do que a razão.

Um riso gracioso, e sincero, ecoou apenas que os dois pudessem ouvir. Ela se virou para que pudesse a observar de frente, se mostrando ao passar a borda da taça vazia pelo pescoço, parando na altura dos seios.

— Então você é mais um que quer entrar no meio das minhas pernas?

Com força de vontade o homem tirou o olhar do colo dela, dos dedos que giravam o vidro lentamente percorrendo a extensão da haste.

— Ao menos estou perguntando — continuou após engolir seco —, é uma oferta.

A taça foi posta em cima da grade, e a mão esquerda estendida em sua direção, tal como uma princesa que espera o cumprimento de um príncipe. Moreno segurou a mão e a levantou até os lábios, deixando um beijo casto nas costas dela, em seguida a puxando em direção da distração.

Naquela mansão, e em todas as outras, não havia quartos onde ele não podia entrar. Os corredores escuros, inacessíveis aos convidados, o levaram para uma sala nos fundos boa o suficiente para dar a ambos uma dose de amnésia.

— Sala do antigo chefe… Escolha peculiar.

Moreno girou a trava puxando em seguida a mulher pela cintura inclinando a cabeça em direção ao seu pescoço, deixando pequenos beijos trilhando de seu ombro até o lóbulo da orelha.

— Tem a melhor mesa, os quartos estão muito longe.

A explicação simplista tirou novamente um riso, e dessa vez ele sumiu para dar lugar a um beijo intenso. Moreno sabia exatamente o que fazer e como fazer, podia ser lento, faminto, profundo, sua boca se curvava a da companhia como as próprias ondas que quebravam sobre a areia. Iam e vinham, eram interrompidos por mordidas no lábio e suspiros de desejo.

As mãos que seguravam as laterais dela correram pelas linhas do vestido encontrando apoio em suas coxas, sem precisar de muito esforço ele a levantou apenas para colocar sentada na grande mesa executiva. Assegurando a posição entre as pernas da mulher.

Seus dedos dedilhavam pela pele, pegando a barra do vestido e levantando o tecido até a cintura, levando junto quando desceu o tecido da calcinha. Moreno se abaixou dando um passo para trás para tirar por completo a peça íntima do caminho.

Saliva se acumulou dentro da sua boca quando se colocou de joelhos, era como espiar o paraíso pela fresta de uma porta.

A mulher segurou seu queixo o fazendo olhar para cima, segurando sua bochecha entre os dedos — Tire a camisa.

Ela soprou em seu rosto, fazendo o suor gelar, abaixando um pouco a sua excitação e o fazendo voltar para seu objetivo principal. Com determinação, ele se levantou, puxou a camisa social e a tirou por cima da cabeça como se fosse uma camiseta. Soltou a fivela do cinto puxando dela também o coldre com a arma a colocando apoiada na mesa, junto da carteira e o que mais tinha nos bolsos.

Ainda estavam numa reunião de mafiosos, ainda que não importasse no momento.

Moreno colocou o polegar na boca, o envolvendo em saliva antes de pressionar no centro quente da companhia. Ela deixou o corpo se inclinar pendendo a cabeça para trás enquanto aproveitava o estímulo inicial. O dedo dele percorria a entrada ao clitóris pressionando a carne e se movimentando em círculos, acariciando o interior dos lábios até que estivessem completamente molhados.

As paredes dela se contraíram envolta dos seus dedos, ganhando da boca fechada o primeiro gemido.

— Me deixe ouvir sua voz. — murmurou ao se inclinar para frente, aproveitando para correr a boca pela extensão de seu pescoço.

Quando a boca dela se abriu, capturou seus lábios novamente. Não era a primeira nem a segunda, quiça a trigésima vez que tinha sua língua enroscada com a dela. Contudo, nunca iria se cansar, cada instante parecia mais prazeroso do que todas as outras vezes que trocaram beijos, juntas.

As mãos da mulher que até então se mantiveram longe começaram a traçar as linhas dos seus ombros arranhando a frente de seu peito enquanto traçava as linhas da sua clavícula. Descendo de maneira provocante contornando os músculos em sua barriga até chegar ao botão de sua calça. Seu corpo já estava apertado, mas se queria dar a ela algo para pensar, teria que ser paciente.

Ela não era doçura e calor, era desejo e pólvora. Explosiva, e arrebatadora. Tanto a calça quanto sua roupa íntima caíram ao chão quando os dedos dela envolveram seu pau com mão cheia. Acariciando da cabeça até a base, fazendo com que Moreno projetasse o quadril para frente para sentir ainda mais seu toque.

Os lábios se separaram apenas para deixar solto no ar uma frase.

— Pode fazer melhor do que isso, não é?

A provocação soou aos ouvidos do homem como uma permissão, para a tomar como quisesse sem se importar com o dia, ou as pessoas reunidas no hall. Moreno empurrou os ombros dela até que estivesse deitada a sua mercê em cima da mesa, um sorriso satisfeito na boca. O estímulo que deixou nele, não era para satisfazer e sim o deixar pronto para atender suas vontades.

Moreno parecia estar queimando de dentro para fora, sua ereção pulsava, e o desejo tornou turno até mesmo o canto de sua visão. Depois de alcançar a camisinha, guardada na carteira, tomou o quadril da mulher com ambas as mãos puxando em sua direção deslizando por dentro dela.

Automaticamente a mulher cruzou os pés ainda vestidos com saltos agulhas em suas costas o prendendo no lugar impedindo o movimento. Sua cabeça arqueou para trás por um momento se deliciando com a sensação erótica de ter seu interior preenchido.

Perfeição é um conceito relativo, não podiam dizer que entre eles era o que existia. Mas podiam ter certeza de que não importa onde e como o sexo seria bom. O homem não precisava se sustentar, nem ela, logo toda sua força e dedicação estava em conseguir tirar gritos e gemidos de prazer da mulher em sua frente.

As alças do vestido caíram e ela mesma puxou o decote prendendo os mamilos rijos entre os dedos, quando seu interior apertou envolta do pau de Moreno um som rouco de satisfação deixou sua garganta entre a respiração acelerada.

— Olhe para você, o bom garoto do papai todo bagunçado — uma das pernas dela se levantou para conseguir apoio em seu ombro. — Vai confessar seu pecado de hoje no próximo domingo?

— Não tem nenhum anjo por perto — rebateu explorando um ponto mais fundo que a fez soltar um pequeno grito, arrancando o riso cínico da boca. Moreno se inclinou deixando um beijo estalado entre seus seios.

— De tudo que fazemos, isso é o menor dos motivos para irmos para o inferno.

Chupou, mordeu, contornou o bico do peito, tirando da mulher embaixo de si tremores e agitação. O desejo em seus olhos era caótico, e cada pequeno movimento pedia por mais, mais força, mais fundo.

Moreno a virou a fazendo ficar de bruços sobre a mesa, ainda com o pênis rijo acariciou a entrada com a cabeça do pau se curvando sobre ela para dizer ao pé do ouvido.

— Vou te foder tão forte que vai até esquecer seu nome.

Se ela queria assim, então que fosse.

Era uma boa coisa que a mesa fosse parafusada no lugar, caso contrário eles estariam a arrastando para todos os lugares na sala do antigo chefe. A madeira do tampo chegava a ranger e as gavetas mais soltas batiam tamanha intensidade do movimento.

As unhas estavam cravadas na beirada tentando se manter presa ao lugar, com a bochecha colada na madeira e a boca mordendo os lábios para não gritar em êxtase a mulher tinha certeza de que esquecera que aquilo era real e não um fruto dos seus sonhos mais sujos. Não eram apenas as estocadas profundas que faziam suas pernas tremerem, havia um estímulo a mais vindo do movimento que a fazia roçar o clítoris na madeira envernizada.

Em certo momento não sabia dizer se estava rebolando para Moreno ou fazendo dry-humping na mesa.

Os cabelos grudaram em seu rosto quando tentou levantar a cabeça, sem determinação o suficiente para continuar tentando apoiou a testa na madeira, arfando audivelmente com o olhar voltado para os próprios seios, pressionados abaixo dela.

Moreno parou de se mover correndo as mãos por sua bunda, chegando aos ombros e então puxando seus braços para trás, tendo então mais um apoio para chegar num ponto mais fundo. Seu coração batia rapidamente e o corpo parecia estar em chamas, uma última puxada de quadril e então suas pernas perderam sustentação.

Um tremor tomou seu corpo em ondas a fazendo se curvar, Moreno soltou seus braços mantendo as mãos apoiadas em cada lado de seu corpo. Sentindo o interior do corpo dela o apertar, e ele mesmo pulsar ao gozar dentro dela.

— Sorte que estamos longe, ou seus gritos estariam ecoando até o hall da mansão. — uma de suas mãos serpenteou pela lateral, encontrando espaço entre a barriga dela e a mesa, servindo de apoio para a afastar levemente do móvel. — Ao menos isso você não se esqueceu como se faz.

O homem afastou o quadril, a camisinha completamente cheia. Ela ainda não parecia estar apta a falar, apenas a virou de barriga para cima, a fim de que pudesse respirar sem complicações e andou até o banheiro do presidente que ficava atrás de uma porta escondida logo atrás da mesa. Deu um nó na ponta do látex antes de o dispensar, se limpou e também admirou as marcas vermelhas deixadas em seu peito.

Pegou uma toalha limpa e voltou para o escritório, sua companhia já tinha recuperado o fôlego e agora estava sentada na mesa ajeitando os cabelos tentando os deixar menos… Selvagens.

— Fez uma bagunça — ela disse puxando o pano branco e felpudo estendido de sua mão.

Moreno ajoelhou em sua frente com um sorriso lascivo — Ainda não terminei.

Ele devia estar se segurando aos pensamentos de fazer um oral a algum tempo, pois se enfiou no meio de suas pernas tal qual um viajante que encontra um oásis no deserto, sedento.

— Céus — resmungou ela projetando o quadril para frente. Ainda estava sensível do sexo, ter Moreno navegando a língua nas suas dobras a fez ver estrelas.

Uma mão mantinha a toalha no pescoço enquanto a outra segurava um punhado dos cabelos do homem entre os dedos. A sala estava abafada, e o único som ecoando era abafado por suas coxas.

Duas batidas soaram na porta, fazendo com que ambos parassem por um momento.

— Chefe, está na hora da cerimônia.

Moreno olhou para cima e a mulher respirou fundo.

— Já vou Conti — a voz dela soou firme o suficiente para que o homem atrás da porta a ouvisse. Moreno, que não fazia parte da conversa, fez menção de voltar para seu pequeno paraíso quando sentiu um puxão em seus cabelos.

— Estou tendo uma conversa com o papai — ela continuou dessa vez o desejo em seus olhos foi mascarado pela severidade de uma ordem. — Já esperaram o dia inteiro, 15 minutos a mais não vai fazer diferença.

— 30 seria melhor — o homem resmungou mordendo de leve a parte de dentro de sua coxa.

Entendido.

Não havia nenhuma parte dela culpada em estar atracada com um dos seus seguranças no escritório de seu pai, no dia do seu enterro. O velho nunca fora do tipo carinhoso mesmo, a única pessoa que tinha seu carinho era a mãe, que pereceu quando ela mesma era uma criança. Uma vítima colateral de uma emboscada. Depois disso o velho afundou em vingança a treinando para ser uma extensão dele mesmo. Se não conseguisse cumprir seu objetivo em vida, a filha o faria. Apesar de ser o último e único desejo direcionado à filha, a herdeira da família e do império Dellariva não se sentia muito apta a cumprir.

As pernas apoiadas nos ombros de Moreno se contraíram quando o homem a puxou para perto pelo quadril deixando uma chupada seguida de uma pequena mordida. Novamente ela estava uma bagunça para ele, com o rosto corado, respiração entrecortada e tremendo em seu rosto cada vez que ia mais fundo com a língua.

Ainda que pudesse permanecer ali por horas, ainda tinham um compromisso a cumprir.

— Pare de sorrir desse jeito — a toalha foi posta em seu rosto —, te deixa mais canalha do que geralmente já é.

Sua risada grave e curta ecoou através do pano — É exatamente por isso que gosta de mim.

Sua cabeça tombou para o lado levemente antes de o empurrar e saltar da mesa — Não sei do que está falando.

Os saltos bateram no chão, ela mesma pegou a calcinha e rumou para o banheiro com passos incertos.

— Quer ajuda para andar? — questionou, recebendo o dedo do meio como resposta.

A porta se fechou o deixando no escuro, no fim era exatamente o que ele era. O cara que fica nas sombras, o braço direito que está por perto apenas para cumprir as vontades do chefe. Não havia esperança para que sua relação se desenvolvesse além disso, e não deveria.

Moreno chegou à família Dellariva entre doze ou treze anos, escolhido entre seus irmãos especialmente para servir de segurança para a herdeira. Recebeu a melhor educação, treinava tiro, arco e flecha, até caçava. Foram muitos invernos e verões que passaram nos lugares mais inóspitos da terra, treinando sobrevivência apenas para ela. Se tivesse que dizer, sua família era como os cães de caça da Máfia Dellariva, treinados para matar e morrer.

A primeira vez que a encontrou já tinha seus quinze anos, nunca havia a visto antes disso. Pelo que soube na época, ela passou a maioria dos anos depois da morte da mãe num colégio interno bem longe da casa principal. E quando voltava, ele mesmo estava longe.

Apesar de terem a mesma idade, havia algo nos olhos dela que a fazia parecer anos mais velha do que realmente aparentava. Desde que se conheceram, Moreno não cessava de se impressionar. A filha do chefe não era alguém para se subestimar, mesmo com pouca idade envolvia lentamente os funcionários entre os dedos com sorrisos e falas doces. Subestimaram a sua posição, mas, no fundo, ela era tudo que o pai foi um dia, e muito mais, pois não tinha os olhos cegos por vingança.

A luz surgiu no canto de seu olho, a figura já não tinha o ar sensual e quente à sua volta. Era como uma estátua de pedra esculpida à perfeição, sem um único traço de sentimento desnecessário atravessando seu rosto, parou na mesa lateral onde ficava o bar. Deixando cair algumas doses de bebida quente num copo sextavado.

— Se faça se apresentável antes de descer para a reunião — o tom de ordem foi dito friamente sem se virar.

O líquido cor âmbar foi levantado até os lábios, bebido por um único gole, o vidro bateu na mesa e então ela se foi, o deixando na escuridão novamente, seminu com as próprias vontades enterradas no lugar mais profundo de sua alma. Se é que ainda existia alguma.

Sem perder tempo também pegou a camisa caída indo para o banheiro, no fim de tudo ele devia estar preparado para atender ao assovio de sua dona. Sem importar o motivo.

Do outro lado, deixando todo e qualquer pensamento de prazer preso no velho escritório de seu pai, Dellariva andava pelos corredores da mansão costeira com firmeza. Encontrando no fim do principal, Conti, o antigo braço direito de seu pai, agora assumindo a posição de chefe de segurança. Ele era mais alto que Moreno, e também mais velho, corpulento e de ombros largos, mais parecia um armário com pernas do que qualquer coisa.

Na sala de reuniões, a maioria dos capitães e outros chefes associados também já estavam bem posicionados nas poltronas de couro. Todos eles deram a seus sentimentos pela manhã, mas depois disso já viraram os olhos por não concordarem com a posição. Para o bando de velhos mentecaptos, um primo idiota de segundo grau devia assumir no lugar de seu pai.

— Agora que chegou, podemos começar — Donovan, o advogado e confidente da família, tirou o testamento do meu pai de uma pasta de couro depois que me sentei no único lugar vago da sala.

— Todos vocês já tiveram tempo de verificar a veracidade e conteúdo do documento. Colter Dellariva deixou todas as suas ações da empresa para sucessora natural, herdeira de sangue, Dellariva. Assim como o controle das operações realizadas pela Casa, a qual todos vocês possuem um juramento. Alguma objeção?

Claro que alguém deixou ecoar um riso sarcástico — Muitas, mas o que podemos fazer?

— Pois fale — cruzou as pernas apoiando o braço na lateral da poltrona. — Já não o fez o dia inteiro? Como foi que disse… Uma mulher não serve para nada neste mundo, senão esquentar a cama do seu homem a noite.

Bennet era uma das pessoas mais asquerosas que encontrou na vida, seu pai apenas o mantinha por perto porque seria problemático demais o deixar longe, e pior, deixar que se juntasse a outra família.

Chefe — mais um pouco ele teria engasgado com a secura da palavra que rasgou sua garganta. — Não sei de onde tirou isso. Mas essas palavras não saíram da minha boca, sim, estou um pouco descontente, afinal o velho Colter a criou com tanto esmero, seria uma pena a ver perdida nesse mundo.

— Esmero? — agora ela que gargalhou. — Devia estar observando uma família diferente. Mas para o bem ou para o mal, meu pai me ensinou algumas coisas.

— Não se mata inocentes, não se mata mulheres e crianças nem abusa deles — se levantou. — Serve a família acima de qualquer deus e por último…

Conti tirou de dentro do casaco um punhado de fotos entregando na mão dela.

— Não se envolve com traficantes — de maneira teatral as fotos foram jogadas ao ar mostrando aquele mesmo homem a questionando envolvido com um “revendedor”.

Ela sabia que Bennet atacaria, e estava esperando por isso, afinal foi o cenário que criou. Confiança não se cria da noite para o dia, para liderar La Famiglia do jeito certo teria que criar uma chance para si. Foi uma sorte que o idiota soltou a língua sem ela precisar fazer uma grande provocação, a fazendo parecer mais uma justiceira do que uma carrasca.

— Está na minha mansão, acha que não sei o que estão falando dentro dela? — o salto pisou em cima das fotos. — Meu pai, bem, todos sabemos como ele estava no fim da vida, com o senso de julgamento já enevoado pela falta de respostas.

colocou o indicador na testa — Fez algumas bobagens nos últimos anos, mas sabemos a verdadeira identidade Dellariva. Eu sei o que significa estar aqui, e se ainda estão duvidando de mim…

Seus passos ecoaram andando até onde a poltrona de Bennet estava, parando em sua frente, levantando o queixo para proferir seu julgamento. A decisão inflexível de uma deusa adorada pelo caos.

— O levem para o Porão.

Gritos de fúria ecoaram depois disso, o velho se lançou na direção da mulher buscando no próprio cinto a arma. Impedido por um escudo humano que torceu seu braço até que a posição de seus ossos fossem não-naturais. Trocando o tom da voz de cólera para desespero.

— Por favor, , eu imploro — o velho tentava se manter de pé. — Foi só uma compra pessoal, não tem nada de mais nisso.

Suas falas soaram entrecortadas por gemidos de dor à medida que Moreno restringia seus movimentos. Conti também tinha a pistola em sua direção como uma segunda camada de proteção.

— Uma pequena compra agora, uma carga maior da próxima vez, todos nós sabemos a história Bennet — respondeu com sarcasmo. se aproximou tomando um punhado de seus cabelos, curvando sua cabeça para trás, não havia culpa em seus olhos, era apenas uma maneira de tentar entrar em seu lado bom e conseguir escapar.

— Essa é a verdadeira face do dannato — sorriu empurrando a cabeça para trás. — Para um condenado, só resta gritar.

— Me solte! — todas as máscaras caíram por terra. — Vagabunda! Você acha que é quem para fazer isso? Pensa que não sabemos que você sempre foge para foder com esse seu vira-lata?

olhou as unhas despreocupadamente antes de andar até Conti e pedir sua arma.

— Não estou exatamente tentando esconder. — a mulher fechou um olho alinhando a pistola com o braço e continuou. — Quebrou uma das nossas regras e agora vai sofrer as consequências, devia ter pensado um pouco melhor antes de enfiar o nariz num punhado de pó. Se acha que estou tão errada assim, veja se tem alguém tentando te salvar.

Todos os outros capitães olhavam para Bennet como se fosse algo inferior a um verme, eles ainda tinham uma função, o velho era apenas uma sujeira. Um como tantos outros, se ele sumisse outro viria para assumir seu lugar.

Um riso histérico torceu seu rosto, revirando as rugas e levando o último fio de sanidade — Quer saber, eu disse mesmo, espero que a família Dellariva vá para o inferno. Muitos outros estão prontos para colocar as mãos nesse seu trono de ouro vagabunda, e não vão poupar meios para fazer isso! É só mais uma vagabunda com alguns parafusos a menos igual o pai!

— Está enganado — levantou a arma mirando em sua direção. — Sou pior que meu pai.

O tiro foi disparado, o choque viajou pelo braço da mulher e o som do silêncio tomou o salão logo depois do estampido. Moreno agora segurava um corpo mole, e tinha a lateral do rosto e as vestes repletas de respingos vermelhos.

Ele não demonstrou, mas no momento em que a arma foi apontada para Bennet, temeu por sua própria vida. não era a melhor atiradora que existia, mas talvez a vontade de se provar tenha feito a sorte sorrir para ambos naquela noite soturna. Talvez poucos teriam percebido sua própria surpresa em conseguir silenciar o velho com precisão, disfarçada rapidamente pela arma jogada para Conti em seguida. Esse também parecia feliz de não ser Moreno a ter um tiro no meio da cabeça.

— Donovan — um dos conselheiros mais antigos chamou —, faça o que veio fazer. Já tivemos provas o suficiente de que não é a criança de Colter. E sim a nova chefe da família Dellariva.

O advogado se aproximou e estendeu para a mulher uma caixa de veludo vermelha como o mesmo rio que vestia do buraco no meio da cabeça de Bennet e manchava o chão à medida que outros seguranças levaram o corpo para fora.

Dentro havia um par de anéis, um como o que sempre viu seu pai usar. Um símbolo que significava e validava sua posição como cabeça da família, um filete largo de prata que sustentava no meio uma pedra azul. Em par com ele um outro anel que vi apenas em fotos, na mão de minha mãe, delicado, mas com a mesma pedra sustenta por um pequeno diamante de cada lado.

— Se me permite — Donovan tomou sua mão e então alinhou ambas peças em seu dedo anelar. Simbolizando que o laço com a casa é mais forte do que qualquer um abençoado por Deus.

— Della honra, chama Riva. Com honra a costa permanece em chamas.

Após o advogado, vários dos outros capitães também se aproximaram deixando a mesma fala em sinal de respeito, lealdade e devoção.

Quando a mansão se tornou silenciosa, e se livrou dos convidados. Moreno finalmente sentiu que podia baixar um pouco a sua guarda e soltar um pouco os ombros, estava claramente entediada e imediatamente pediu para Conti um lenço para esfregar a mão. Ele a encarou com cuidado, ali naquele momento quem estava em sua frente era uma pessoa completamente diferente. Ou melhor, aquela era a original, o delírio era a mulher que suspirava das sombras de quatro paredes.

— Deseja falar algo? — questionou vendo os olhos fixados em sua figura.

Moreno limpou a garganta dando um passo para trás, tamanha intensidade da presença da mulher, olhando os respingos de sangue em sua camisa por um momento antes de responder.

— Não, apenas estou feliz de ainda estar vivo.

— Um tiro de sorte — respondeu com desinteresse —, para nós dois.

O homem sentiu uma fisgada em seu interior, tentando calar as vozes venenosas, porém verdadeiros, que constantemente se dedicava a esconder.

— Ao menos ficaria triste se fosse o meu corpo a ser arrastado pelo salão? — os pensamentos intrusivos ganharam a batalha de questionamentos.

O olhar de endureceu, em seguida os saltos a trouxeram para perto. Sua mão que tinha o lenço se ergueu colocando o tecido contra seu rosto.

— Não tenha pensamentos desnecessários, Sr.Moreno — ainda que tivesse um sorriso doce em sua boca. A verdade estava estampada atrás da janela para a alma. — Prepare o carro, vou voltar para meu apartamento na cidade.

Suas mãos se tocaram por um segundo, e então o homem foi deixado para trás, olhando suas costas seguirem para longe pela segunda vez, inalcançável. Podiam estar fisicamente próximos, mas nunca estariam sequer próximos. Ele era uma planta pequena e insignificante como tantas outras, presa ao chão, observando o sol dominando o céu.

— Não deixe seu coração falar mais alto que a cabeça criança — Conti, que foi seu mentor durante todos os anos que passou em treinamento, disse em voz baixa. — Caso contrário, vai acabar morto antes do seu tempo.

— Suponho que deva deixar meu caixão encomendado então — respondeu com um meio sorriso conformado.

Moreno apertou o lenço entre os dedos e respirou fundo, recuando os passos para onde os carros estavam estacionados, ele sabia que não importava. Se contentaria em ser o que precisasse, um protetor, uma distração, um sacrifício. Sua vida era dela, e nesse ponto da sua história, independente do que acontece depois…

Já tinha ido longe demais para tentar voltar.


Fim.


Nota da autora: Obrigada por ler até aqui!!
Se puder e quiser, deixe um comentário :)
Até mais, Xx!!

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