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Codificada por: Lightyear 💫

Finalizada em: 12/06/2025

O sol da tarde tingia o convés do Polar Tang com tons quente de âmbar enquanto conversava animadamente com Roronoa Zoro. O navio balançava devagar, ancorado na costa ao lado do Sunny. Desde que haviam formado uma aliança pirata com os Chapéus de Palha, passava mais tempo com Zoro do que com os tripulantes dos Piratas do Coração, seus companheiros — mais até do que com Trafalgar Law, seu capitão. Ela sabia que ele não gostava disso, podia ver em seus olhos cada vez que a flagrava ao lado de Zoro. No entanto, ele nunca verbalizara nada, o que a incomodava mais do que poderia colocar em palavras.
Mas não conseguia nem cogitar a ideia de se afastar do garoto com cabelos verdes e um olho a menos; admirava-o demais para se manter longe. E quando ele dizia que um dia seria o melhor espadachim do mundo, acreditava, pois sabia que Roronoa Zoro era capaz. Era realmente bom com suas três espadas, muito mais do que ela com uma. Ele era impressionante, não havia dúvidas, um exemplo a seguir se quisesse melhorar na arte das espadas; e ela queria. No entanto, era só isso: amizade e uma admiração desenfreada. Em outra vida, talvez pudesse vir a ser algo a mais; mas nessa, da qual ela recordava apenas os últimos anos, só havia uma pessoa que fazia seu peito apertar apenas por observá-la.
Desviou o olhar de Zoro, que falava sobre técnicas de corte e as demonstrava em gestos firmes e seguros. As palavras dele dissolveram-se no ar como espuma levada pelo vento e restou apenas o cheiro salgado do mar, ao qual estava tão familiarizada, e o olhar perscrutador do homem no pequeno convés superior: Trafalgar Law, o capitão da tripulação da qual fazia parte desde o início de sua nova vida, aquele a quem devia sua sobrevivência.
Encostado à amurada, os habituais braços cruzados, a postura sempre relaxada e impassível, mas os olhos… os olhos a queimavam à distância, frios e agudos como bisturis. Sua expressão era estoica; , porém, conhecia cada mínimo traço daquela máscara: a tensão no maxilar, o franzir sutil entre as sobrancelhas escuras, o modo como segurava o polegar, pressionando-o com força disfarçada. Ela gostava de pensar que havia uma conexão diferente entre ela e seu capitão. Nunca descobriu se era realmente verdade; no entanto, real ou não, sabia com certeza que Law estava incomodado com algo naquele exato instante.
De repente, o burburinho da voz de Zoro parou e o som do mar quebrou sobre ela como uma onda gigante. Ela piscou, meio atordoada.

? — Zoro limpou a garganta e arqueou uma sobrancelha. — Está me ouvindo ou cortando inimigos imaginários?
— Me desculpa. — Ela abriu um sorriso rápido, sem graça. — O que você disse mesmo?

Zoro inclinou a cabeça de leve e abriu um sorrisinho irônico.

— Só falei que sua técnica com a espada é impressionante, mas… devia se concentrar em manter seus olhos no inimigo — provocou, dando uma leve cutucada na ponta de seu nariz.

sorriu, torcendo para que suas bochechas não corassem, para que Law não visse. Mas ele obviamente viu, e o ciúmes dentro de si crescia mais e mais. A ideia do que poderia surgir de toda aquela interação o deixava agitado. Ainda assim, manteve-se imóvel.

— Você não é meu inimigo, Roronoa — disse ela. — Então por que está insinuando que devo manter meus olhos em você?
— E, por acaso, o Law é? — rebateu e ela fechou a cara.
— Tudo bem, já entendi que deveria me concentrar em manter meus olhos em você durante a nossa conversa. — Fez beicinho. — Me desculpa, sério, eu me deixei levar. Sabe bem como sou avoadinha em alguns momentos.

Ela riu, ainda um pouco envergonhada e lançou um olhar furtivo para Law. se acostumara a zombar de si mesma mais do que deveria. Agora, que ela não queria dizer a um dos Chapéus de Palha que estava pensando em seu capitão, zombar de si era a sua maneira de se esgueirar para longe do foco. Mas nem sempre funcionava.

— É, deveria se concentrar mais em mim. — Ele inclinou-se para mais perto, quase invadindo seu espaço pessoal, enquanto ela ainda olhava para Law. — Não está prestando atenção aqui de novo.
— Ah, qual é, Roronoa! Me deixa. — Revirou os olhos, divertindo-se um pouco. — Pelo menos eu não fico me perdendo por aí o tempo todo.
— Ei, eu não me perco o tempo todo! Eu só… pego desvios — enrolou. — Mas por falar em se perder, você parece bem perdidinha em pensamentos… pensamentos sobre uma certa pessoa, a propósito.

não precisou acompanhar o olhar de Zoro para saber a quem o garoto se referia. Era mais do que óbvio que ele havia percebido.

— Não vou falar com você sobre o Law. — Ela cruzou os braços. — Mas acho que tem alguma coisa incomodando ele. Tenho certeza, na verdade. Talvez eu devesse…
— Como pode ter certeza? Ele está sempre com a mesma cara — comentou, curioso. — E o que te faz pensar que você em específico é quem deveria ir falar com ele?
— É claro que sou eu quem deveria ir falar com ele. Law é meu capitão, salvou minha vida anos atrás. Estou conectada a ele- — parou de súbito, dando-se conta do que acabara de dizer em voz alta.
— Faz sentido. Você tem um forte sentimento de lealdade e gratidão por ele, eu entendo — assentiu. — Isso te faz ver além da fachada de sempre? Ou o quê? Ele te falou que está incomodado?
— Não, eu não sei, é só que… está nos olhos dele, eu… não sei como explicar — tropeçou nas próprias palavras, pensando que Zoro a acharia estúpida. — Mas eu te disse que não falaria sobre ele com você.
— Certo. Não farei mais perguntas. — Ele esticou os braços acima da cabeça para alongar-se. — Bem, eu deveria ir treinar. Vou voltar para o Sunny. Você fica aqui, se quiser.
— Bom treino — desejou-lhe. — Não se perca no caminho, como sempre.
— Já disse que não me perco! — resmungou. — Eu sempre encontro o meu caminho… eventualmente.

Zoro afastou-se dela, dirigindo-se para fora do Polar Tang. Suas palavras não eram mentira, de certa forma. Ele costumava encontrar o caminho, sim, mas geralmente demorava muito. riu baixinho e sacudiu a cabeça. Foi apenas quando Zoro estava longe de sua vista que virou-se na direção de seu capitão e deslocou-se para o convés superior. O olhar de Trafalgar Law acompanhou cada movimento dela, mas sua expressão estoica era a mesma de sempre. achava aquilo familiar, algo que a trazia uma certa paz. Ela parou perto dele e colocou ambas as mãos na cintura.

— O que foi? — perguntou ele.
— O que quer dizer com “o que foi”? — Ela franziu o cenho. — Me diga o que há de errado, ora essa.
Law soltou um suspiro. Era fácil de ver que já viera preparada. Ele não conseguiria evitar aquela conversa. Ainda assim, podia tentar.
— Não é nada. — Desviou o olhar. — Só uma dor de cabeça.
— Claro que sim — ela assentiu. — E essa dorzinha de cabeça te incomodando… o que é? O que aconteceu?
— Sempre insistente… — Law revirou os olhos. — É que… ver você tão perto daquele idiota está me dando nos nervos.
— Ah, então o que eu vi nos seus olhos, por trás da sua máscara e dos seus braços cruzados, realmente existiu — refletiu ela. — A cada dia estou melhor em te ler.

O orgulho em sua voz o incomodava. Law detestava a perspicácia de justamente porque sabia que, a cada dia que se passava, ele de fato parecia mais e mais como um livro aberto para ela.

— Não importa o quão boa você acha que é em me ler — disse ele. — Não preciso de ninguém bisbilhotando nos meus assuntos.
— Calma aí, capitão — disse, sem deixar que o humor se dissipasse completamente de sua voz. — Quem é que está se metendo nos seus assuntos? E quais assuntos exatamente seriam esses?
— Assuntos que não são da sua conta. — Sua expressão endureceu-se e seus braços cruzaram-se ainda mais forte sobre o peito.
— Ah, eu acho que são da minha conta, sim — disse com firmeza. — Já que foi a minha proximidade com Roronoa que te deu nos nervos.
— Exatamente. — Law estreitou os olhos. — Tem passado tempo demais com aquele espadachim. É irritante.
— Certo. Então me responda, Law, direto e reto — pediu. — Você disse que não precisa de ninguém bisbilhotando nos seus assuntos. Quero saber sobre quem estava falando. Era sobre eu ficar tentando saber como se sente? Ou era outra pessoa? E de quais assuntos estava falando, afinal?
— Que saco! Eu estava falando de você, tá feliz? — admitiu. — É sobre a frequência com que você tem passado tempo com aqueles Chapéus de Palha e o quão próxima você se tornou deles, especialmente do Zoro.
— E como isso seria “bisbilhotar nos seus assuntos”? — questionou. — Ou eu sou os seus assuntos nessa frase?

Law fechou os olhos e sacudiu a cabeça. Estava preso em suas próprias palavras, encurralado.

— Tudo bem, sim. Você é o “assunto” da frase — soltou em um tom áspero, quase como se arranhasse a sua garganta ter de admitir algo assim. — Eu não gosto da sua proximidade exagerada com o Zoro e o resto do bando.
— Então você não gosta do espadachim de cabelos verdes se intrometendo nos seus assuntos… assuntos que representam a mim — comentou devagar, quase saboreando as palavras. — Seus assuntos.
— Sim, você faz parte dos meus assuntos — resmungou, frustrado. — Gosta de me ouvir dizer isso?
— Não sei, é só… diferente. — Soltou um longo suspiro. — Eu sempre pensei em você como alguém que faz parte dos meus “assuntos”, que é da minha conta, desde que você… me encontrou e cuidou de mim. Eu só… nunca pensei que pudesse pensar em mim desse jeito também. Quer dizer, além do que já pensa por eu ser membro da tripulação, é claro… capitão — foi educada demais no final.

A expressão dele se suavizou. Nunca imaginara que pensasse nele daquela forma. Sempre acreditara que a garota o via apenas como o seu capitão e como alguém com quem tinha uma dívida por ter tomado conta dela quando não se lembrava de nada de sua vida prévia. Mas agora, com a admissão dela… Isso mudava as coisas, e mexia com ele mais do que pensou que poderia.

— Olha… Eu só… — Law não sabia o que dizer. Ficou ali parado, apenas observando-a por um longo momento. — Não gosto do jeito como está se aproximando de outros homens.

Ele sabia que estava sendo possessivo, talvez até um pouco infantil, mas não conseguia evitar. Não gostava do jeito como parecia gravitar em direção aos garotos. Sabia que não tinha direito de dizer a ela o que fazer, e ele nem queria isso, mas era impossível evitar o modo como o ciúme explodia dentro dele, consumindo cada pedacinho como um fogo gélido e sufocante.

— Por quê? Sou uma mulher que gosta de homens. É natural me aproximar deles — disse devagar, apenas para observar a reação dele, ver o que diria.
— Eu sei disso — disse entredentes. — Mas por que tem que ser ele? Há outros homens por aí.
— Há, sim, e muitos. Mas Zoro é mesmo o problema, Law? — indagou. — E se eu aceitasse as tentativas do Sanji? Todos sabemos que ele não consegue ver uma mulher bonita na frente dele. Aí estaria tudo bem para você?
— Nem pense em aceitar as tentativas do Sanji — retrucou.
— Não se preocupe, loiros não fazem o meu tipo — respondeu de imediato. — Quer saber por que eu gosto de conversar com o Zoro? Porque ele é um espadachim, assim como você e eu.
— Pode conversar com ele, se quiser, não me importo — mentiu. — Mas é só isso que deveria ser: apenas conversa.
— Ah, é? Era isso o que eu estava fazendo, sabia? — argumentou ela. — E foi exatamente o que te incomodou.
— Tudo bem, tem razão — admitiu a contragosto, um pouco irritado. — É o fato de passar muito tempo com ele. E eu não gosto disso, porque é como se você se sentisse atraída por ele ou algo assim.
— Quase tanto quanto me sinto atraída por você. E daí? — Ela encolheu os ombros, frustrada.
— Você…? — Seus olhos se arregalaram com a confissão inesperada. — Você se sente atraída por mim?
— O que você acha? — Ela cruzou os braços, apoiando-se contra a parede do navio. — Estamos ligados, conectados desde que me salvou. Você é a pessoa com quem mais conversei em toda a minha vida; ao menos na parte dela em que me lembro. Passo infinitamente mais tempo com você do que com qualquer outro membro da tripulação — listou seus motivos. — Então, sim, atraída por você e para você. Não conheço palavra melhor para descrever isso.
— E o que exatamente isso… ser “atraída por mim” significa para você? — perguntou baixinho ao dar um passo na direção dela.
— Não tenho certeza. Ainda estou tentando descobrir — foi sincera. — O que acha que é?
— Acho que é… apego. — Aproximou-se ainda mais. — Você está apegada a mim porque fui eu quem te salvou, quem tomou conta de você.
— Bem, está mais do que claro que sim. — Ela descruzou os braços. — Mas não é só isso, é?
— Não, não é só isso. — Law balançou a cabeça. — Há mais do que apenas apego e conexão, gratidão e lealdade. É… algo a mais.

Deu um último passo na direção dela, quase eliminando por completo a distância entre os dois.

— Quanto mais perto você chega, mais certeza eu tenho de que é algo a mais. — Ela sorriu ao sentir a respiração dele contra sua pele. — Algo poderoso.
— Sim, é algo poderoso. — Pousou a mão na cintura dela e a puxou para perto, pressionando seu corpo contra o dele. — É uma necessidade intensa, possessiva e consumidora de ter você. De estar perto de você. De ter você só para mim.
— Deveria ter falado comigo sobre isso antes, sabia? — Deslizou a mão para tirar o chapéu dele, libertando seus lindos cabelos escuros. — Não consigo ler sua mente, por mais que tenha tentado. E, como eu disse, estava tentando descobrir o que sinto. Mas é difícil quando tenho que fazer todo o trabalho sozinha.
— Eu sei que deveria ter falado com você antes. — Law fechou os olhos enquanto ela afagava seus cabelos. — Eu só… eu não sabia como dizer. Não queria parecer possessivo e autoritário, do mesmo jeito que estava parecendo agora há pouco. Queria que você resolvesse isso no seu tempo, mas descobri que não consigo ficar longe. Não mais.
— Eu… Law, eu me aproximei tanto de você nesses anos que pude ver em seus olhos que alguma coisa te incomodava hoje, algo sobre mim — disse ela. — Foi por isso mesmo que decidi falar com você.
— Se tornou perspicaz demais. — Ele soltou um suspiro áspero. — Mas fico feliz que tenha falado comigo. Já estava enlouquecendo por tentar manter distância.
— Eu nunca quis que mantivesse distância — confidenciou. — Não conheço uma vida sem você, Law, então não consigo nem cogitar a ideia de manter distância e te ver se afastando cada vez mais de mim. Dói só de imaginar.
— Eu sei, eu sei. — Ele ergueu a mão para tocar seu rosto. — Eu também não quero isso. Quero estar perto de você. Desejo ser aquele em quem você pensa, aquele com quem passa mais tempo, aquele por quem se sente atraída de verdade. — Respirou fundo e olhou para baixo por um instante antes de voltar a fitá-la. — Eu quero você, . Quero tanto que chega a doer.
— Eu também quero você, Law. — Colocou o chapéu dele em sua própria cabeça; um gesto simples e um tanto íntimo para enfatizar o que dizia. — Isso é uma coisa da qual tenho certeza há muito, muito tempo.
— Você fica linda com o meu chapéu. — Envolveu os braços ao redor dela em um movimento terno mas possessivo.
— E você fica lindo sem ele. — Passou os dedos por entre seus cabelos de novo. — Eu amo.
— E eu amo quando me toca assim. — Ele fechou os olhos outra vez, deixando-se levar pelo carinho. — É uma sensação boa. Parece… certo.
— E íntimo — completou ela. — Eu gosto de intimidade. Desde que acordei para uma nova vida naquela ilha, você foi o único com quem já tive alguma intimidade.

O coração de Law doeu com suas palavras e ele a apertou com mais força contra si. Sabia o quão difícil devia ter sido se sentir sozinha por tanto tempo até os dois terem criado um laço de confiança. Ele mesmo havia passado por isso em sua vida.

— Fico contente por ter sido eu quem te proporcionou essa intimidade, essa confiança — sussurrou em seu ouvido. — E espero poder continuar fazendo isso. Enquanto você me permitir, é claro.
— E eu espero que continue, porque eu permitirei, sempre — prometeu. — Espero que fortaleçamos o nosso vínculo o máximo possível.

Law sorriu de um jeito leve como raramente fazia. Ele sabia que deveria dizer mais alguma coisa, algo apropriado para o momento, mas tudo o que conseguia pensar era em como desejava beijá-la. Então foi o que ele fez. Chocou os lábios contra os dela de repente, com uma fome notória. Empurrou-a contra a parede enquanto as mãos navegavam por seu corpo em um rastro quente e carinhoso. se rendeu ao beijo com uma vontade de anos. E tudo pareceu incrível… certo… incrivelmente certo.
Suas mentes, nubladas de desejo e sentimentos consumidores, confundiam-se com as sensações do atrito de seus corpos e do gosto com o qual se deliciavam. Ele enroscou os dedos nos cabelos de em um carinho gostoso que a fez arfar contra sua boca, enquanto a outra mão deslizava sobre ela com destreza e ternura. Era perfeito.
Quando Law interrompeu o beijo e encostou suas testas, sorria, o que o fez sorrir também. Ele estava perdido nela, inebriado por seu toque, seu cheiro, seu gosto… tudo. Ele queria mais dela. Muito mais.

— Eu queria isso há tanto tempo — deixou sair. — Queria você há tanto tempo.
— É bom saber que é recíproco. — Buscou a boca dele para morder seu lábio em uma suave provocação. — Temos todo o tempo do mundo para encontrar um lugar para ficarmos juntos, dentro ou fora do navio.
— Temos, não é? — Beijou seu rosto e foi descendo devagar para o seu pescoço.
— Sim, nós temos. — Deslizou os braços ao redor dele e permitiu-se apenas sentir a proximidade e a sensação de estar em seu abraço. — Eu poderia ficar assim para sempre, sabia? Esquecendo o que deveríamos estar fazendo e o modo como não tenho a mínima ideia de quem eu era antes daquela ilha.
— Então vamos esquecer todo o resto. — Olhou bem para ela. — Apenas fique comigo, , aqui e agora.
— Esquecer é uma palavra que mexe com algo dentro de mim. — Ela apoiou a cabeça no ombro dele. — Mas estar aqui é tudo o que quero.

Aquelas palavras bagunçaram a cabeça e os sentimentos de Law. A ideia de ela ter se esquecido de seu passado, sua identidade… Ele sabia que deveria se preocupar, tentar ajudá-la a se lembrar. Ao mesmo tempo, de maneira egoísta, sentia-se aliviado por tê-la exatamente como era. Só dele. No entanto, precisava perguntar, oferecer a ela a chance de irem atrás de sua história e de quem era antes da tripulação dos Piratas do Coração a encontrar. Desejava vê-la bem, ainda que isso significasse que talvez ela se lembraria de alguém especial da época antes de perder a memória — algo que causava uma dor quase inexplicável em seu peito.

— Há algo que eu deveria lhe perguntar — falou baixinho, hesitante.
— Pode me perguntar qualquer coisa. — Ela inclinou a cabeça para trás para poder olhar em seus olhos mais uma vez. — Sério.
— Eu sei que não tem lembranças de antes do dia em que te encontrei, mas preciso te perguntar uma coisa. — Ele respirou devagar, sem saber como formular a pergunta. — Se fôssemos tentar descobrir quem era antes de perder a memória, você gostaria de saber?
— Bem, eu… Eu pensei tanto nisso durante todos esses anos, e cheguei à conclusão de que talvez estivesse tentando fugir da minha vida passada e perder a memória fosse exatamente o que eu buscava — explicou devagar, com medo de que Law a achasse estúpida por pensar algo do tipo. — Pense comigo: eu estava machucada, de fato, mas ainda tinha a minha katana comigo, sem nenhum sangue na lâmina; o que significa que não lutei contra o que ou quem fez isso comigo. Há algo esquisito nessa história, certo? Ou será que estou doida, sendo idiota ou algo assim?

A mente afiada de Law montava as peças do quebra-cabeça que apresentava. O raciocínio fazia sentido. Não podia negar que havia algo mais do que estranho nas circunstâncias de sua descoberta.

— Não, você não está louca. Levantou um ponto muito válido — notou. — Parece improvável que teria ficado parada ali e deixado alguém te atacar sem lutar, especialmente quando tinha sua arma favorita em mãos.
— Sem contar que reaprendi a manejar a katana tão rápido que seria impossível dizer que eu não era boa na arte das espadas antes daquele dia — acrescentou ela.
— Sim, é verdade — assentiu. — Você passou a usar a katana como se tivesse feito isso a vida toda. Quase como se seu corpo se lembrasse, ainda que sua mente não.
— Exato! Mas então… está se oferecendo para voltarmos até lá depois de todos esses anos para descobrir quem eu era antes daquela ilha, né? Eu agradeço por isso, de verdade, especialmente vindo de você. — Sorriu-lhe um sorriso carinhoso. — Porém o que quer mesmo saber é se eu desejo voltar para descobrir, certo?
— Sim, quero saber o que deseja — disse ele. — Suas memórias são suas, e eu jamais forçaria você a fazer algo que não quer. É uma grande escolha, e não quero que se sinta pressionada a nada. Só desejo que saiba que vou te apoiar, não importa qual seja a sua decisão.
— Seu apoio significa tudo para mim, Law. — Seu sorriso se alargou. — Eu não desejo recuperar a minha memória.
— Não? — Seus olhos se arregalaram.
— Como eu disse, pensei muito sobre o assunto, e acho que a eu do passado queria se esquecer de quem era. Posso estar errada sobre isso, eu sei, mas não quero descobrir. — Respirou fundo. — Isso não importa para mim, sabe? Eu sou a , o nome que escolhi naquele dia quando falei com você pela primeira vez. Apenas , e nada mais. Minha vida de verdade é aqui, com os Piratas do Coração, com você. É quem eu sou, e jamais desejaria mudar isso.
— Contanto que esteja feliz, é tudo o que preciso. — Colocou uma mecha de cabelo para trás da orelha dela e acariciou seu rosto no processo. — Você está feliz?
— Estou. Os Piratas do Coração são a minha família. São tudo o que eu conheço e tudo o que preciso. — Abarcou o rosto dele com a mão. — Além disso, a primeira coisa que vi ao abrir os olhos naquele dia foi o seu rosto. Você é minha primeira lembrança, Law. Eu nunca iria querer mudar isso.
— Você não tem ideia do quanto essas palavras significam para mim, . — Law muito raramente era sentimental, mas todo esse tempo passado com a garota ao seu lado o fez sentir coisas que nunca havia sentido antes, sentimentos novos e aterrorizantes. Estava se apaixonando por ela, e agora tinha medo de perdê-la como havia perdido todos os outros: a mãe, o pai, a irmã, Corazón… Apertou o abraço. — Você significa tudo para mim.
— E você, para mim, Law — confessou.
, eu… Tem uma coisa que preciso te contar.
— Pois me conte.
— Quando te encontrei pela primeira vez, desacordada e ferida naquela ilha, quando salvei sua vida… Fiz porque era a coisa certa a fazer, porque não podia simplesmente deixar você morrer.
— É claro, você é um médico, afinal de contas — disse ela. — A propósito, só para deixar registrado, ainda que eu ache Chopper mais fofo que você… e do que todo mundo, na verdade… você ainda é o meu médico favorito.
— Sim, é claro. — Law quase deixou um risinho escapar, e então respirou fundo. A hora havia chegado. Precisava revelar suas emoções e sentimentos. — Com o passar do tempo, conforme fui te conhecendo, meus sentimentos a seu respeito mudaram… cresceram, escalaram muito rápido. Demorei um pouco, mas percebi que não queria apenas te ajudar a se lembrar do seu passado, como era no início. Eu queria te proteger, te manter por perto. Até que entendi… que queria você para mim, que não conseguia sequer pensar na ideia de te ver longe, de te perder.
— Eu sei. — Um sorriso bonito brotou em seus doces lábios.
— Você…? — Seus olhos se abriram um pouco mais. Ele não esperava uma resposta daquelas. Tentou esconder o que sentia até de si mesmo, manter os sentimentos trancafiados no fundo do coração. Como podia ter enxergado tão bem através de sua fachada estoica? — Você sabe?
— Bem, não exatamente. Eu pensei que sabia, mas também acreditei que poderia estar te interpretando mal. — Deu de ombros. — Como eu disse, você é a minha primeira lembrança. A preocupação em seu rosto naquela época quando não me conhecia ou ainda me conhecia pouco não é igual àquela que surge em seu rosto cada vez que retorno ao navio machucada e você tem que cuidar dos meus ferimentos. É diferente dos primeiros anos, e é diferente da preocupação que costuma ter por um membro do bando de forma geral. É mais do que isso.

Uma tempestade em alto-mar rodopiava dentro de sua mente. Jamais percebera o quanto sua preocupação e interesse no bem-estar de haviam o denunciado. Seus sentimentos eram tão óbvios assim para qualquer um que prestasse atenção? Imaginava que não. Sempre fora cauteloso. Com , porém, era diferente… especial. E ela de fato o lia e o entendia melhor do que ninguém.

— Tem razão — reconheceu, por fim. — É muito mais do que preocupação por você ser parte do bando. É por proteção e algo bem além disso. É posse, carinho, ciúme, desejo. Talvez até mais do que isso.
— E é recíproco. — Ela capturou seus lábios em um beijo carinhoso.

Law se deixou navegar por aqueles novos mares dos quais não queria mais escapar. Uma onda de emoções o inundou por inteiro ao pressionar o corpo contra o dela. O desejo descomedido chocou-se com a afeição sem fim e inflamou seu ser. Era tão bom saber que ela também compreendia a existência de uma conexão maior entre eles. E era incrível ser correspondido dessa forma, na mesma intensidade.

— Você é minha agora — murmurou contra os lábios dela.
— Eu sou, e não somente agora — sussurrou ela. — Sou sua desde o momento em que acordei para uma nova vida e vi seus olhos preocupados me fitando naquele dia. Nós apenas não sabíamos ainda.
— Sim, minha guerreira feroz. — Ele beijou seu rosto e lábios várias e várias vezes, como que para enfatizar o que dizia. — Eu sempre te protegerei, . Não importa o que aconteça, sempre te manterei segura.
— Não se isso for custar a sua vida — rebateu ela. — Isso eu não permitirei.
— Você não pode decidir uma coisa dessas. — Fez cara feia. Ele sempre soube como era forte e persistente, mas não esperava vê-la recusar-se a permitir que ele se sacrificasse por ela caso achasse necessário. — Se chegar a um ponto em que protegê-la signifique abrir mão da minha vida, farei isso sem hesitar.
— Ah, meu doce herói… Não, você não fará — reforçou, obstinada como sempre. — Não fará porque não vou deixar. Eu te protegerei também.
— Sua mulher teimosa — resmungou baixinho. — Por que você sempre tem que ser tão difícil?
— Nesse caso em específico? Bem… — Ela esboçou um sorriso. — Porque minha primeira lembrança foi você, e eu espero que a última também seja. Sempre você e seu belo rostinho.

Law respirou fundo. Era bom ouvir aquilo, mas ainda assim o conflito havia se instalado novamente em sua cabeça. Sempre se considerara uma pessoa pragmática, alguém que prezava a lógica e não permitia que as emoções influenciassem na hora de tomar a maior parte das decisões. Com , entretanto, tudo parecia virar de cabeça para baixo. Não só parecia; virava. Era tão diferente quanto estranho… e era bom.
Ela tinha um jeito de despertar nele coisas que o próprio nem sabia que existiam… um jeitinho de fazê-lo querer jogar a cautela ao vento e agarrar-se a ela e apenas a ela como se fosse um mastro no meio de uma tempestade. Queria abraçá-la, como fazia agora, e nunca mais soltar. Queria a manter a salvo do resto do mundo e da vida perigosa à qual ambos haviam se entregado ao se lançarem ao mar como piratas.

— Às vezes você me enlouquece, sabia? — Sua voz era grave e quase ameaçadora, mas apenas achou tudo aquilo muito fofo. — Eu deveria ser racional, tomar decisões lógicas, como sempre. Mas com você, … com você, eu não consigo pensar direito. Tudo o que quero é te proteger e te manter por perto.
— É por isso que é o nosso capitão — lembrou-o. — Acredito que você fará a coisa certa para manter a todos nós, os Piratas do Coração, seguros quando chegar a hora. Eu confio no meu capitão, e confio no homem a quem estou conectada até o fim da minha vida.

Law franziu o cenho. Era raro receber tanta confiança e fé depositadas nele por parte de alguém. E com certeza fazia tempo demais desde a última vez. Mas agora era diferente. Não era simplesmente fraternal, não era por ela ser uma companheira da tripulação; era mais do que isso. Era… romântico. Por isso mesmo, tê-la confiando nele de um jeito tão passional, tanto como capitão quanto como homem e parceiro, era ao mesmo tempo humilhante e terrivelmente assustador.

— Tem fé demais em mim, — murmurou. Jamais havia se sentido desse jeito. — Sou apenas um homem, não um herói perfeito. Cometerei erros, farei coisas que você não gostará.
— Eu sei. Aprecio muito isso em você, para falar a verdade. E mesmo sabendo, eu ainda escolho você como meu capitão… e mais do que isso, caso não tenha sido clara o suficiente — acrescentou. — Cometendo erros ou não, vamos criar novas memórias para mim, pode ser? Boas ou ruins, tanto faz.
— Você não sabe o que está pedindo — disparou, algo se incendiando dentro dele; uma necessidade, um fogo difícil de nomear. Ele queria o que propusera, queria criar essa nova vida com ela, repleta de memórias boas e ruins em meio àquele sentimento que começava a se desenvolver em seu coração. — Depois que eu tiver você, jamais te soltarei.
— Você já me tem, Law. — Soltou uma risada fofa e bateu o dedo indicador na ponta de seu nariz. — Não consegue ver?

Ele não pôde evitar um sorrisinho em resposta às suas palavras.

— Eu vejo bem. — Assentiu devagar enquanto observava sua língua umedecer o lábio inferior. — Eu vejo que te tenho e que não vou te deixar ir. Nunca.

Encerrou a distância entre seus rostos e capturou seus lábios em um beijo faminto, carinhoso, amoroso; tudo ao mesmo tempo. Queria tê-la para sempre. Sua mente estava consumida por ela e somente por ela. E retribuiu o beijo com a mesma fome, feliz por descobrir que tudo era recíproco do jeito que deveria ser. Estava sedenta por ele, carente de seu toque, de seu amor.

— Nunca — ecoou como uma promessa, sorrindo contra a boca dele. — Nunca me deixará ir.


Fim


Qual o seu personagem favorito?


Nota da autora: Sem nota.

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