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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 07/04/2025

Ser uma adolescente e viver em Outer Banks, o paraíso na terra, e não tirar proveito disso festejando era praticamente um crime na minha visão. Naquele dia haveria uma festa na praia, praticamente um dos únicos eventos em que pogues e kooks se reuniam, e é claro que sempre acabavam em briga.
Estava me arrumando para a ocasião e optei pela opção simples, mas bonita: um vestido florido curto. Fiquei alguns minutos me olhando no espelho, até minha mãe simplesmente invadir meu quarto.
— Onde pensa que vai, mocinha? Tem uma tempestade chegando — ela disse, enquanto me olhava de cima a baixo.
— Essa é a graça da coisa, mãe — falei, oferecendo um simples sorriso.
— O Top vai estar lá? — perguntou ela. Para minha mãe, era como se nós fôssemos próximos.
— Mãe, que diferença faz? — perguntei um pouco cansada da insistência dela com Topper durante grande parte da minha vida.
— Ele é seu primo, faz toda diferença — ela argumentou, cruzando os braços.
— Ele ser meu primo kook não significa nada, nós não temos nem onde nos enterrar.
— Mas eu não quero que pensem isso da gente. — Ela se aproximou e acariciou meus cabelos.
— Mãe, por favor, nós sequer moramos na parte dos kooks, pra que querer ser algo que não somos? — perguntei a ela com sinceridade.
Parecia que a vida de pogue para minha mãe não era e nunca seria suficiente. Ela deixou tudo para trás quando se casou com meu pai, mas parecia ter um arrependimento genuíno ao tocar no assunto de sua família.
, filha, você pode não aceitar, mas é parte kook — ela insistiu, apertando meus ombros, mas logo me desvencilhei e peguei minha bolsa.
— Fodam-se os kooks — eu disse, mostrando o dedo do meio e batendo a porta do quarto, a deixando lá. Respirei fundo, acho que consegui passar a mensagem que eu queria.

— Ei, , vai ficar de qual lado da praia hoje? — Topper veio me intimidar assim que cheguei.
— Deixa ela em paz, Top — Sarah disse.
— Escuta sua namorada, Topper — falei, tentando andar, mas sendo bruscamente impedida por seu braço.
— Qual é o seu problema, priminha? — ele perguntou.
— Qual é o SEU problema, Topper? — rebati sua pergunta usando a mesma, irritada.
— Ei, Top, deixa ela quieta, vamos tomar algo — Rafe, irmão da Sarah, interrompeu com sucesso o que estava prestes a acontecer. Ele me ofereceu uma piscadela, enquanto tirava meu primo de cena, mas eu apenas revirei brevemente os olhos, sem notar que deixei um sorrisinho escapar dos meus lábios.
Mesmo a praia estando lotada de gente, era nítida a divisão entre as pessoas e o jeito em que se olhavam, como se estivessem esperando por uma agulha cair para terem uma desculpa para se baterem.
Parecia que tudo que eu precisava era uma boa cerveja e então fui em direção de uma. Um grupo de pogues estava servindo, aparentemente o líder deles, John B em especial, fazia essa função.
— Oi, gente. — Cheguei, oferecendo um sorriso.
— E-eh opa, quer dizer oi, pensei que não viria — falou o loiro, se atropelando um pouco nas palavras, me fazendo rir, enquanto Kiara revirava os olhos.
— Acho que seria meio impossível não vir a uma festa aqui em Outer Banks — disse, sorrindo.
— Concordo com você! — disse John B gentilmente.
— Eu… bom — coloquei minha mão na testa, um pouco sem graça. — Nós não nos falamos muito, mas acho que sinto que deveria ter dito isso antes, sinto muito pelo seu pai. — Ofereci um sorriso que esperava tê-lo confortado.
— Valeu, de verdade — ele agradeceu, sem jeito.
— Eu… posso? — falei, mudando de assunto devido ao silêncio e tentando pegar um pouco de cerveja no balde.
— Deixa comigo — rompeu JJ na frente de seu amigo.
— Obrigada, JJ. — Sorri e dei alguns passos, ouvindo a conversa do grupo de forma abafada.
— Você ficou como um bobo quando ela chegou — caçoou John B.
— Qual é, cara? Ela é uma espécie de rainha pogue — Kiara falou brava.
— Ela é muito areia pro seu caminhão, J — disse Pope.
Estava atenta na conversa, até sentir uma mão em meu ombro, me fazendo dar um sobressalto com o tamanho do susto. Rafe estava me olhando, o que me fez dar uma risadinha do momento.
— Desculpa… Eu não sei onde tava com a cabeça — disse, colocando meu cabelo para trás da orelha. — O que houve?
— Nada demais… só queria saber se você queria se juntar à gente. — Ele apontou para um grupo com Sarah, Topper e mais alguns kooks babacas dos quais eu não fiz questão de decorar os nomes. Ele estava andando um pouco e eu o acompanhei.
— Acho melhor não… — respondi insegura.
— Ei, você é uma de nós também — ele disse, ocupando totalmente o meu campo de visão. Olhei para o mar a fim de desviar de seus olhos. Qual é a dificuldade dos kooks em pensar que nem todos querem ser riquinhos esnobes?
— Eu acho que tô bem longe de ser uma de vocês — disse gentilmente, enquanto pensava atrocidades mentalmente sobre o que ele tinha me dito.
— Realmente, você tá bem longe. — Topper chegou à conversa.
— Top, deixa que eu cuido disso. — Rafe soou protetor.
— Do que acha que tá cuidando? Essa pogue não vale nada. Assim como os outros.
— Cara, ela é da sua família. — Ele pareceu um pouco indignado com o comentário do amigo.
— Você só acha isso porque não consegue admitir que você é o único que não vale nada — disse apontando, o dedo para sua cara. Rafe agora estava tentando nos separar, mas Top praticamente o arremessou na areia.
Ele estava com uma pose de machão, com o seu corpo inclinado para baixo, onde eu estava, sem me curvar para o seu jeito idiota. As pessoas começaram a chegar perto de nós para ver o que estava acontecendo, mas ele parou bruscamente quando olhou na direção onde o grupo de pogues estava antes.
— Que porra é essa? — ele gritou e me deixou pra trás, confusa. Confusa até ver o motivo dele deixar nossa discussão.
Sarah estava conversando com John B, e Top não estava nem um pouco satisfeito com aquilo. Ele continuou com a mesma pose a qual deixou a nossa quase briga, mas agora para enfrentar outra pessoa.
Eles gritaram um com o outro, enquanto analisava a cena. Não consegui ouvir direito o que se passava, até ver Topper golpeando o moreno. Corri em direção à briga.
— Por que não continuamos nossa discussão de primos e você deixa o John B em paz, hein? — perguntei, pegando em seu peito e tentando o afastar.
— Você não vai ficar com ela, seu porco! — Ele apontava para o menino, com raiva.
— Cala boca, Top — falei, o empurrando para trás. Não sabia porque me importava ainda com aquilo. Talvez seja porque John era legal demais para tomar uma surra.
— Vai se foder! — ele gritou para mim como um cachorro raivoso e golpeou minhas mãos para que eu não o impedisse novamente. Top estava disposto a dar uma surra no moreno.
— Você ficou maluco? — interrompeu JJ, o empurrando. — Qual é o seu problema? Batendo em mulher, Topper?
— Top, para! — Sarah gritou.
O namorado de Sarah golpeou o loiro e foi novamente para cima do alvo anterior.
— Você tá bem? — perguntou JJ, chegando perto de mim.
— Eu tô, mas e quanto a você? — Coloquei o cabelo atrás da orelha e mordi o lábio, preocupada ao ver um pouco de sangue nos lábios do loiro.
— Tô ótimo.
Enquanto tínhamos essa pequena interação, os meninos estavam praticamente se matando.
— Preciso dar um jeito nisso — falou JJ, enquanto Topper tentava afogar John.
— Ai, meu Deus! — Me preocupei e logo senti a necessidade de fazer algo enquanto observava o clima entre os meninos piorar.
Corri até o mar e golpeei meu primo com um soco certeiro, tentei socorrer o moreno, que parecia bem sequelado da briga, e, antes que Top reagisse, Rafe o pegou pelos braços.
— A festa acabou! — JJ falou, enquanto disparava tiros para cima e as pessoas corriam.
A tempestade se aproximava, mas eu não tinha pressa. Tentei pegar John para que ele conseguisse se recuperar, mas o vi desmaiar em meus braços. Praticamente não aguentava com o peso do menino nos braços e evidentemente não deveria estar ali. O certo era correr, correr incansavelmente e o mais rápido possível para longe daquele grupo. Minha mãe me mataria se sequer sonhasse com o que fiz hoje com meu primo, mas até que estou bem orgulhosa de mim nesse quesito. Enfim, precisava voltar ao foco, o garoto Routledge.
— Uma ajudinha aqui? — falei, praticamente o deixando cair. Meus cabelos voavam e eu sentia o cheiro da chuva que se aproximava.
— Claro… — Pope disse baixinho, como se fosse óbvio. Ele estava apavorado.
— Precisamos ir! — JJ falou apressado.
Senti os olhares pairando sobre mim, enquanto um braço de John estava apoiado em mim e o outro em Pope.
— Ela não vai com a gente — disse Kiara em um tom conclusivo.
— Você ficou maluca? — o loiro e o moreno falaram em um uníssono.
A água começou a cair do céu, nos encharcando em questão de segundos. Tentei proteger a cabeça do Routledge nesse tempo em que o grupo aparentemente teve um impasse em relação a mim.
— Que se foda, você vai com a gente — falou o loiro, enquanto o moreno concordava.
— Vamos para Kombi — ele falou movimentando a equipe, como um líder.



JJ estava no volante como um doido. Kiara bufou, de braços cruzados grande parte do trajeto, parte a qual fiz questão de ignorar, já que o foco estava em ajudar John B. O loiro a deixou na parte dos kooks da ilha, enquanto Pope me auxiliava muito atenciosamente até a hora em que foi deixado em casa.
Maybank me olhava pelo retrovisor com uma expressão indecifrável, ele parecia inquieto com a situação.
— Vamos para o Castelo, tá legal? — ele me disse como se eu sequer soubesse onde era isso. Apenas acenei com a cabeça e encarei o menino adormecido com preocupação.
Aparentemente, chegamos ao nosso destino e o loiro me ajudou a levar o garoto Routledge para a cama.
— Então… Esse é o Castelo — falei, sorrindo ao ver uma foto de Big John com seu filho pequeno, o qual estava inconsciente no quarto do lado. As coisas estariam um completo breu se o loiro não tivesse uma vela para iluminar o ambiente. Um furacão recentemente fez o maior estrago na nossa área.
— Pois é… — JJ soou um pouco constrangido.
— Você não acha melhor o acordarmos? — perguntei, um pouco inquieta.
— Deixa ele descansar. Acho que ele precisa disso — o loiro respondeu, preocupado com o amigo, o que me fez sorrir um pouco ao pensar na amizade dos dois.
— Vocês são muito amigos, né? — falei, olhando para o quarto, tentando não pensar no estrago que meu primo fez.
— Desde sempre — ele disse, sorrindo. — John é meu melhor amigo.
Nunca tive essa experiência de fato em ter um melhor amigo, acho que não tive uma conexão profunda com ninguém ao longo da minha vida, sempre tive que lidar comigo mesma para encarar todas as situações. Nem pogue, nem kook. Sem amigos pogues ou kooks.
— Então… Você já se recuperou? — perguntei, sem pensar se minha pergunta faria sentido, estava um pouco tensa por estar sozinha com o loiro. Coloquei uma mecha atrás do cabelo e brinquei com minhas mãos.
— Como assim? — Ele coçou a cabeça, tentando pensar no que eu estava dizendo.
— Sabe, da sua loucura! Como pôde atirar na praia?!
— Ahh, isso… Eu agi sem pensar — ele falou, com um sorriso estampado na cara.
— Agiu mesmo. — Tentei bancar a séria e cruzei os braços.
Oficialmente estávamos sem assunto.
— Por falar em agir sem pensar… O que tava na sua cabeça pra entrar na briga? — JJ quebrou o silêncio.
— Topper é um idiota. — Dei o melhor motivo de todos.
— E… — Ele esperava por mais.
— Ele não pode tratar as pessoas da maneira que bem entender — concluí.
— Mas por que se meteu numa briga de pogues? — Ele estava realmente confuso.
— Eu sou pogue, Jay — falei, dando ombros.
— Não! Você é uma rainha pogue! É isso que é! — Sua classificação me fez rir.
— Sendo rainha ou não, continuo sem dinheiro para ter um funeral, acho que isso resume bem minha classe.
— Qual é? Aquele idiota do Topper é sua família, ainda bem que sem semelhança alguma com você…, mas ainda são, primos, né? — ele disse atrapalhado.
— Você nunca viu o jeito que ele me trata? — falei com ironia.
— Vocês parecem cão e gato.
— Aham, mas eu sou o mais legal, o cão — falei, fazendo o loiro gargalhar.
— Sabe, acho melhor eu ir embora… — falei, pegando a vela que estava apoiada em um prato.
— Por quê? Quer me deixar no escuro? — ele perguntou, me fazendo rir um pouco.
— Acho que será um mal… necessário?
— Não. Tem uma tempestade rolando lá fora e, sabe, é perigoso. — Ele soou preocupado.
— Eu não posso ficar aqui…
— Lógico que pode.
— Jay, eu… você viu a forma que a Kiara me olhou hoje? — falei, lembrando de quando ela queria me deixar na praia durante uma tempestade.
— E daí? , você salvou o John! Não esquenta com isso. — Suas palavras me fizeram relaxar praticamente imediatamente. Respirei fundo e me sentei no sofá.
— Quando será que vai passar? — falei, olhando para janela e ouvindo fortes rajadas de trovões e o barulho intenso da chuva.
— Acho que só pela manhã. Você vai precisar passar a noite aqui. — Eu acho que a cara que eu fiz não foi muito boa. — Sabe, você não precisa dormir sozinha — ele disse, corando.
— Haha, você é bem engraçadinho né? — falei, rindo um pouco.
— Bom, que você sabe — disse o loiro convencido.

Achamos mais velas e iluminamos o restante da casa, agora estava bem melhor. O loiro arrumou o sofá, acredito que já tinha prática em fazer isso, pois parecia à vontade, como se fosse algo rotineiro. Nós nos sentamos e começamos a conversar.
— Será que alguém vai vir atrás de você? — perguntei um pouco preocupada com o que poderia acontecer com ele.
— Espero que não… Se aqueles kooks não abrirem a boca, nada vai acontecer.
— Vocês estavam certos. Por que eles falariam algo sobre? Topper que começou a briga. — Me arrependi no instante em que pronunciei essas palavras. — Ah…
— Eu sei no que pensou, ótimo detalhe, inclusive — ele falou, sorrindo fraco.
— Kooks sempre saem impunes de tudo — disse com pesar.
— Achei que você fosse amiga deles. De todo mundo na verdade.
— É complicado. Ser amiga de todo mundo às vezes significa não ser amiga de ninguém. — Suspirei. Por que estava falando disso?
— Nós podemos ser amigos. — Ele colocou a mão sobre a minha e acariciou.
— Não acho que seus amigos irão concordar.
— Não me importo com isso.
Conversamos muito depois disso. Jay era muito mais que apenas um rostinho bonito, ele me contou um pouco sobre sua vida, rimos bastante e depois acabamos adormecendo juntos no sofá.



Acordei entrelaçada ao loiro, sem entender muita coisa, ainda tentando associar o que foi ontem à noite. Me remexi, um pouco sem noção de espaço, o que me resultou em um tombo silencioso do sofá em que dormi. Praguejei baixinho e me levantei. O tempo estava claro e fazia sol. Não fazia ideia de que horas eram, mas parecia tarde.
Fui até a entrada do castelo e encontrei o dono consciente e bebendo cerveja.
— Ahh, oi — falei, um pouco sem jeito. — Você tá legal? Ontem as coisas acabaram saindo um pouco do controle. Topper é um idiota…
— Eu sei… Obrigado por ontem, tô legal — ele disse, sorrindo um pouco. — Quer cerveja quente? — Ele levantou a sua garrafa, me oferecendo, e acenei positivamente com a cabeça.
— Até que não é ruim… — disse, depois de dar um gole.
— É horrível, pode falar. — Ele riu, me fazendo gargalhar.
— Desculpa por ter passado a noite aqui, eu não consegui ir embora por causa da tempestade.
— Relaxa. — Ele me tranquilizou.
— Bom… acho que essa é minha deixa. Tchau… a gente se vê por aí — falei para o moreno, envergonhada.
— Você não vai esperar o Jay acordar? — Ele pareceu genuinamente confuso por eu já estar de saída.
— Esperar por quem acordar? — JJ apareceu na porta e foi em minha direção, bocejando. Ele colocou seu braço em volta do meu pescoço. — Bom dia, rainha — ele disse, em meu ouvido, baixinho, o que me fez enrubescer levemente. Parecia que tínhamos uma grande intimidade.
— Eu… preciso ir.
— Por que a pressa? — o loiro perguntou.
— Tenho certeza de que vocês têm planos pra hoje. Não quero atrapalhar.
— Claro que você não atrapalha — Jay falou, olhando para John, cobrando uma resposta do amigo.
— Qual é? Eu te devo minha vida, . O castelo agora também é seu. — Ele soou gentil em suas palavras.
— Valeu, mas acho que preciso mesmo ir. Perdi meu celular durante a briga na praia e minha mãe deve estar entrando em um colapso agora — respondi agradecida por suas palavras.
— Eu te levo. — O loiro se manifestou.
— Sério? — perguntei surpresa.
— Claro — ele disse, sorrindo, e o Routledge parecia chocado.
— Bom dia pra vocês também, pombinhos — John falou, levantando a cerveja como se estivesse fazendo um brinde enquanto estávamos saindo. Me virei e fiz uma careta engraçada para ele como se tivéssemos intimidade, ele agiu com naturalidade e fez o mesmo.
Talvez minha vida fosse mais feliz se eu continuasse andando com essa galera.

Íamos nos aproximando de casa rindo e de mãos dadas, o que parecia ser novidade tanto para ele quanto para mim. Percebi que algo estava errado no momento exato em que vi Top, Rafe e Sarah plantados logo em frente à minha casa.
— Acho que é melhor eu assumir o controle daqui em diante — falei, com um pouco de medo do que estava prestes a acontecer para JJ.
— Ei, você. — Rafe veio andando com passos largos e apressados na direção do loiro. — O que fez com ela? — Seu tom era ameaçador e ele apontava para o Maybank.
— Relaxa, Cameron, eu não fiz nada que ela não quisesse. — Ele fez parecer que o que aconteceu foi algo muito mais além, deixando Rafe ainda mais bravo, prestes a começar outra briga. Repreendi JJ com o olhar. Por que ele estava fazendo isso?
— Rafe… vamos lá pra dentro — falei, pegando em seu braço cuidadosamente antes que ele pudesse fazer algo com o loiro. — Obrigada, JJ, você já fez o suficiente. — Me virei de costas para o Maybank enquanto caminhávamos para casa e não pude deixar de revirar os olhos sobre o que tinha acabado de acontecer.



— O que você pensa que está fazendo da sua vida?! Andando por aí com pogues? — disse minha mãe aos berros.
Todos estavam juntos na sala, meu pai, meu primo, Rafe e sua irmã. Papai sabia qual discurso minha mãe estaria prestes a fazer e massageou as têmporas para se acalmar do futuro estresse, sabendo que não poderia opinar em nada adiante.
— Ela é amiguinha desses vândalos agora. — Top se meteu no assunto, me irritando. Levantei com raiva e apontei para sua cara.
— Qual é o seu problema? Por que não conta a verdade? — falei revoltada.
— A verdade é que sua filha, minha própria prima — disse ele, se vitimizando —, me agrediu ontem à noite.
— E parece que você tá querendo mais — falei, indo em direção a ele, mas sendo contida por mãos fortes.
— Se acalma, não tá se ajudando — Rafe falou baixinho no meu ouvido, assim como JJ fez hoje de manhã.
Ele me soltou quando concordei com a cabeça e respirei fundo. Ele ficou ao meu lado em pé, enquanto Sarah e papai olhavam a cena.
— Por que fez isso com ele? — minha mãe perguntou com raiva.
— Olha, não foi bem assim… — a loira argumentou, tentando me defender, mas se conteve quando viu o olhar de reprovação de Topper.
— Eu não quero saber de você andando com esses… pogues.
— E o que eu sou então? Porque é disso que seu amado Top me chama. — Cruzei os braços e a questionei. Estava cansada de ser classificada.
— Você é uma de nós — falou o meu primo gentilmente. A cobra estava engolindo o próprio veneno.
— Se eu ver você andando de novo com aqueles… — a mulher começou a dizer.
— Não vai. Nós estamos com ela. — Cameron foi sincera. Ela parecia ser uma pessoa legal, mas provavelmente era igual ao meu primo. Não era possível que alguém diferente dele o aguentasse por muito tempo manter um relacionamento, a não ser que ela fosse uma santa.
— Fico mais tranquila. — A mais velha colocou a mão no peito como agradecimento. — Vá se trocar. Você está péssima — disse ela, me olhando.
Não a respondi e evitei o contato com os demais presentes na sala, a não ser pelo meu pai. Nós nos olhamos e imediatamente nos entendemos pela nossa rápida troca. “Onde nos metemos?” era o que nossos olhares diziam. Ele parecia decepcionado e cansado. Queria poder dizer algumas coisas para ele, mas acreditei que nossa conversa seria adiada para mais tarde.
Cheguei ao meu quarto e colei minha testa na porta a qual acabei de fechar. Respirei fundo e decidi começar a fazer outras coisas. Não podia ficar me lamentando.
Tomei um banho e coloquei um cropped e um shorts. Quando saí do quarto, os meninos tinham ido embora e Sarah ainda me esperava.



— Oi? — falei confusa quando a vi.
— Oi — ela respondeu simpática.
— Minha mãe te obrigou a fazer isso, né? — falei um pouco envergonhada.
— Não, juro… Só queria conversar um pouco com você — ela disse gentilmente.
— Tudo bem… Vamos fazer isso em outro lugar. As paredes têm ouvidos aqui nessa casa.
— O que acha de ir até a minha casa? Nós conversamos até chegar.
— Claro.

— Então, ontem… Eu não acho justo o que aconteceu com vocês. Top não teve um dos melhores comportamentos — ela disse, quando estávamos mais longe de casa, após uns minutos constrangedores de um silêncio ensurdecedor.
— Ele é um idiota — respondi um pouco ríspida, não que fosse minha intenção, mas não reagia muito bem quando o assunto era ele.
— Ele se preocupa com você. — A loira deu de ombros.
— Até parece… — Pensei um pouco. — Você nem é tão ruim assim, por que foi se envolver logo com ele? — A cutuquei com o ombro e nós duas rimos.
— Ele também não é tão ruim. E foi o único que conseguiu aguentar as exigências do meu pai.
— Então ele não é um homem muito exigente — falei sorrindo e minha expressão a contagiou.
— É mais do que você pensa.
— Seu pai é tipo minha mãe na versão masculina, então. — Olhei para o chão ao falar da minha mãe, me lembrando do ocorrido. Parece que Sarah notou o meu desconforto e mudou de assunto.
— Então… sobre hoje… — Talvez ela não tenha mudado tanto assim de assunto. — E você e o JJ?
— Não existe eu e o JJ — falei, colocando o cabelo atrás da orelha.
— Chegamos — ela disse, apontando para sua mansão.
— Ainda não acredito que vocês moram aqui… Você não se perde? — brinquei, lembrando dos velhos tempos. Avistei Rafe e Topper juntos na varanda.
— Antes de entrarmos, queria te falar uma coisa… — Sarah parou em minha frente e me olhou. — Desculpa por ter me afastado de você, eu não tinha noção e…
Interrompi as palavras da loira e a abracei.
— Isso é passado, éramos crianças — falei como se não tivesse importância, mas a pequena sorriu ao ouvir esse pedido de uma velha amiga.
Quando éramos crianças, nós quatro brincávamos juntos, e Sarah foi a única amiga que tive da qual eu achava que nunca me afastaria. Rafe sempre foi bem protetor em relação a mim e nós sempre nos demos bem. E Top, ao contrário do que somos hoje, sempre foi bem atencioso e carinhoso comigo como se fôssemos irmãos.
Mas o fato da minha mãe ter se casado com um pogue sempre foi um problema para a sua família. Até que quando meu pai parou de trabalhar um pouco e passou a acompanhar mamãe a eventos kooks chiques e reuniões de família, eles pararam de ser convidados, o que acabou separando as famílias, e os lados diferentes da ilha eram um lembrete diário do que minha mãe tratava como um de seus maiores arrependimentos. Ela não aceitou bem essa configuração e desde então falava que era necessário que eu andasse com os kooks e até que eu me casasse com um deles. Ela sempre dizia para eu não cometer a mesma burrada. Parecia que me casar com alguém que amava, independente da classe social, era um crime para mamãe.



Nós íamos nos aproximando cada vez mais da casa, quando Ward apareceu e chamou o filho de canto. Rafe parecia preocupado em relação ao que estava acontecendo, ele sempre parecia quando o assunto era o pai. Ninguém nunca pareceu enxergar isso de fato, porém desde criança percebia que o menino fazia de tudo para agradar o velho homem, mas Sarah sempre foi a mais querida, e isso o corroía. Sentia que o loiro era muito mais do que as pessoas eram capazes de ver.
Eu enxergava verdadeiramente Rafe Cameron.
! — Ward abriu os braços e forçou um sorriso quando me avistou, deixando seu filho de canto, o que o deixou desconfortável. — Há quanto tempo que não te vejo… Você… cresceu! — ele disse, parecendo maravilhado.
Ward parecia ser um cara legal, mas ninguém era tão legal assim o tempo todo. O carisma excessivo dele me despertava certa desconfiança de maneira geral.
— E o senhor continua o mesmo! — Entrei em sua dança e repeti suas expressões ao falar.
— Sinta-se em casa, querida. Vou resolver algumas obrigações de adultos.
— Obrigada, senhor Cameron.
Rafe agora estava de costas para todos.
— Vamos? — Sarah apontou para as escadas.
— Um segundo… — disse, com a expectativa de demorar mais um pouco. — Volto em um segundo. — Não esperei por sua resposta e me afastei em direção ao loiro. Ela fez o mesmo, só que o loiro dessa vez era meu primo.
— Oi… Faz um bom tempo que não vem aqui, né? — ele disse, olhando em meus olhos para maquiar o assunto o qual estava o preocupando.
— Pois é. — Sorri fraco ao lembrar do tempo que passamos aqui. — Você tá bem? — perguntei preocupada.
— O mesmo de sempre… — Ele sorriu fraco.
— Sabe que se quiser me dizer algo, eu tô aqui, né? — falei, praticamente desistindo do assunto e indo me juntar a Sarah, até que ele segurou meu braço.
— Eu… só… não anda com eles, tá? — Por que do nada o assunto foi parar em mim? Acenei com a cabeça e entrei na casa, a loira me acompanhou.
— Nossa, nada mudou — falei, admirando tudo.
— Pois é… — Ela suspirou. — Vem. — Ela mudou a expressão e agora parecia animada. Ela subiu as escadas praticamente na velocidade da luz, e eu a acompanhei.
O quarto da Cameron era como os dos filmes de princesa. Olhei tudo em volta e me aproximei da janela. Pude ver Rafe logo abaixo de mim, aparentemente ainda cabisbaixo.
— Acho que preciso mudar a pergunta que te fiz. E você e Rafe? — ela falou, se aproximando de mim e vendo o que eu estava observando.
— Como assim? — respondi com outra pergunta, confusa.
— Sabe, ele sempre foi afim de você… — Ela começou a dizer, sorrindo.
— Éramos crianças, deveria ter sido coisa da sua imaginação. — A olhei, franzindo o cenho.
— Sim, sim, claro. Mas o que tá rolando agora? É coisa da minha cabeça? — ela falou com uma preocupação fingida.
— Acho que você precisa passar em um especialista. Pode estar precisando tomar uns remédios — brinquei.
— O que ele tá fazendo aqui? — Ela se aproximou da janela e tentou aprimorar a visão, fiz o mesmo e reconheci quase que imediatamente a pessoa.
— Por que John B estaria na sua casa? — falei ainda mais confusa.
— Ele trabalha aqui durante a semana, mas hoje não é um dos seus dias — ela falava, enquanto andava rapidamente para a saída do quarto. — Vamos!

— Eii, o que faz aqui? — Sarah disse em um tom despreocupado, enquanto via John ficar totalmente desajustado. Estávamos dentro do barco, e o Routledge mal pareceu notar quando chegamos. O equipamento de mergulho dos Cameron caiu no chão, tamanho o choque do menino. — Vai nadar?
— Ehh, eu tô aqui a trabalho.
— Hoje não é seu dia. Desembucha.
Não pude identificar se ele estava envergonhado por estar roubando o equipamento ou por estar tendo uma conversa com a loira, que parecia gostar do que estava acontecendo. A química entre eles era real, e estava existindo naquele exato momento.
— Eu só gostaria de pegar emprestado…
— Para quê? — ela perguntou curiosa.
— Estamos vendo umas coisas. Vou precisar do equipamento por um tempo, mas logo devolvo.
Sarah me olhou, esperando que eu falasse algo.
— Deixa ele, tenho certeza de que os Cameron não vão sentir falta — falei, e John me olhou com um olhar agradecido.
— Eu deixo você levar, mas com uma condição.
— Qualquer uma — o garoto respondeu.
— Lá vem… — Acrescentei baixinho.
— Se descobrirem algo interessante, você me conta.
— A vida kook te entedia tanto assim? — Soltei sem pensar, o que fez o Routledge gargalhar.
— Talvez… Mas eu quero saber — ela disse, cruzando os braços.
— Ok, capitã — ele respondeu em um tom brincalhão.
Olhei para trás e vi os meninos se aproximarem. John não poderia ser visto aqui, talvez dessa vez Topper finalizaria de vez o afogamento.
— Você precisa sair daqui, Routledge, agora! — falei desesperada. — Entra aí. — Apontei para dentro do barco. — Sarah, cuida dele aí. Eu vou tentar distrair eles. — Ela concordou apressadamente com a cabeça, e lá fui eu tentar desviar a atenção dos meninos.
— O que faz aqui sozinha? Roubando? — Topper falou de maneira maldosa. Rafe e eu o repreendemos com o olhar.
— Qual é o seu problema, cara? — o loiro disse. Eu desviei o olhar para o outro lado, não o lado do barco, não podia ser uma má atriz nesse momento.
— Cadê a Sarah? — meu primo perguntou com um tom mais gentil, graças ao comentário do amigo.
— Ela foi buscar uma coisa que queria me mostrar no barco. Satisfeito? — Cruzei os braços.
— Então voltaram a ser amigas? — ele perguntou.
— Sim. Por quê? — Ele parecia não achar outro motivo para implicar comigo. — Tem algum problema nisso? — Insisti.
— Nenhum — ele respondeu.
— E o que vocês fazem aqui? — Mudei o assunto e o tom.
— Só viemos olhar se estavam bem.
— Estava preocupado comigo? — Coloquei a mão no peito e fingi estar emocionada. — Por que não teve essa mesma preocupação hoje lá em casa?
— Vamos, Rafe, já vi que não compensa ficar aqui — ele disse, se virando.
— Quero falar com você depois — ele disse meio autoritário. — Tudo bem? — ele questionou gentilmente, como se a observação que fiz e a expressão que tive mudassem sua cabeça.
— Tudo bem… — Minhas bochechas arderam e coloquei o cabelo atrás da orelha.
O Cameron deu uma breve corrida até meu primo, enquanto eu pensava sobre o que acabara de acontecer.
O que será que Rafe queria?
Quando os perdi de vista, olhei para trás e vi Sarah voltando. John já tinha ido embora.
— Você é mesmo ótima em distrair pessoas, principalmente meu irmão — ela disse, me cutucando com o braço e sorrindo. Eu neguei com a cabeça, mas não me contive em acompanhar a expressão da loira.



— Posso entrar? — Escutei as batidas que faziam uma melodia vindas da porta. Era papai.
— Sim — falei, sentada na cama.
— Como vai a pogue mais linda dessa ilha? — ele me perguntou, como se eu fosse uma criança.
— Pogue? Eu também sou metade kook! — Imitei baixinho a voz de minha mãe, e nós dois rimos. Ele se sentou ao meu lado, e eu o abracei.
— Aquele seu primo é um idiota. — Ele expressou sua opinião sobre Topper. — Você deveria ter batido nele de novo hoje quando teve a chance.
— Não é?! Ele merecia bem mais! — disse minha opinião em tom de brincadeira.
— Mas ainda bem que não fez aquilo… Graças ao seu amigo, Rafe. — Ele parecia não estar mais brincando.
— O que tem ele? — Olhei para o chão. Já era a segunda pessoa a falar do assunto que eu estava esperando que viria.
— Ele é um bom garoto — concluiu. — E sempre pareceu gostar de você, desde crianças. — Papai me cutucou com o braço e seu tom sério sumiu por uns segundos.
— Isso é mentira. — Me defendi.
— Você estava com o garoto Maybank hoje, não é? — Ele esperava por uma resposta mesmo já sabendo. Eu concordei com a cabeça.
— Ele é um bom garoto… — Sorri fraco, repetindo as palavras do meu pai, só que agora elas assumiram um novo sentido.
— Mas não é bom pra você… — Ele parecia sentir repulsa das próprias palavras. — Você não escuta todos os dias o discurso de sua mãe?
— Esse não é o problema. Eu os escuto. Só não dou a mínima para eles — falei séria.
— Mas você deveria, . Ela não é feliz comigo, um pogue. Talvez você não seja feliz também se fizer a mesma escolha…
— Pai, eu…
— Me deixe terminar — ele disse, já sabendo o que eu falaria se o continuasse minha interrupção. — Com um kook, você não passará por nada disso. Terá uma boa casa, boa família… tudo o que quiser.
— Nós temos tudo isso.
— A quem quer enganar, ?
— Mas…
— Calma, eu ainda não terminei… — Ele respirou fundo. — Mas a vida em que você terá tudo ou a que não terá nada é escolha sua, do seu coração e apenas dele. O escute.
— Mas… mamãe fez o mesmo, não foi?
— O coração e a mente podem entrar em conflito o tempo inteiro. Talvez eu não tenha sido o pogue certo. — Ele sorriu com pesar e se levantou.
— Pai? — falei, vendo ele ir até a porta. — Eu sou diferente dela. Sei o que quero. — Ele sorriu e acenou com a cabeça, fechando a porta.



— Você me faz perguntas sobre meninos, mas… e você e Routledge? Eu vi como se olharam ontem. — Parecia que eles funcionariam juntos, mas seriam completamente disfuncionais caso isso acontecesse enquanto ela ainda estava em um relacionamento.
— Ei… — Ela me repreendeu. — Você o viu hoje?
— Não, não vi sua paixonite — falei entre risos e recebi uma travesseirada.
Nós estávamos na minha casa, obviamente não tão chique quanto a da Cameron, muito pelo contrário. Mas ela não pareceu se importar.
— Ele não é — respondeu, com as bochechas rosadas.
— Sabe, eu não sou a maior fã do Topper, mas termina com ele se você quer outro. — Dei minha opinião.
— Eu não quero outro…
— Sarah, eu ouvi as histórias dos seus outros namorados. Ninguém merece passar por isso. — Não acredito que estava defendendo meu primo nessa.
— Eu sei, mas…
— Imagina se ele descobre que você o traiu com o Routledge? Ele surta só de pensar nisso.
— Mas não vai rolar nada. John e eu não vamos ter isso…
— Não é o que parecia — falei, assumindo um tom mais amigável. — Enfim, de qualquer forma, o que é certo é certo.
— E o que é errado é errado. — Ela completou. — Mas, falando de coisa certa… E você e Rafe?
— E você e John? — Ela torceu o nariz. — Assunto encerrado — falei, como se tivesse vencido uma batalha, me gabando.
De repente, senti meu celular vibrar e o tirei do bolso do shorts. Era uma mensagem de um número desconhecido.

Número desconhecido: Ei, estou aqui fora te esperando.

Franzi o cenho, sem entender o que isso deveria significar. Sarah pareceu achar graça da minha confusão.

Eu: Quem é???
Número desconhecido: Rafe.
Sarah me passou seu número ontem.


Mostrei o celular para ela, que estava dando gargalhadas e pulinhos de felicidade.
— Por que não me disse nada!? — falei, um pouco agitada por ter recebido uma mensagem de Rafe e mais ainda por saber que ele estava à minha espera.
— Você não me deixou falar. Era surpresa. Tá surpresa?! — ela disse rindo, enquanto eu ficava boquiaberta. — Vamos, ele tá te esperando!


Continua...


Nota da autora: Espero muito que gostem fã fic que criei com muito carinho 💗.

🪐



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