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Revisada por: Calisto

Última Atualização: 08/09/2024

As pequenas gotículas de chuva cobriram o corpo de , enquanto misturavam-se às lágrimas da jovem francesa. A temperatura baixava gradativamente, ao passo que uma sensação de calafrio espalhou-se por sua espinha. A dor descomunal que sentia naquele momento não era apenas sentimental, mas também física e psicológica. Ninguém tão jovem deveria passar por uma situação cruel como aquela.
Havia inquietação em seus dedos, que passeavam pelos próprios braços, tentando esquentá-los do vento gelado. Estava sentada no parapeito, observando a noite cair gradativamente, enquanto a lua era coberta pelas nuvens e gotas de chuva. Ao longe, podia ouvir os gritos insanos de seu pai, Julius, enquanto a mãe tentava acalmá-lo. Até mesmo sua irmã gêmea, Ariana, defendeu-a da fúria do progenitor. Carinho não era comum do mais velho, mas aquela raiva beirava ao descomunal. Mesmo que houvesse sido criada em um lar conservador, a violência não era usual. Não até aquele momento.
Nada justificava a reação de seu pai. Não com aquelas palavras duras e violentas, que a difamaram enquanto filha e mulher. Ele teve a coragem de bater em seu rosto, amaldiçoando-a e praguejando barbaridades; teve coragem de usar um feitiço proibido contra a vida da própria filha, mesmo sabendo dos riscos. Anos sendo uma bruxa exemplar, uma exímia aluna, para ser condenada por um erro. Sentiu-se exposta, com medo, e nem mesmo a mãe lhe amparou. Mais uma vez, ela só pôde contar única e exclusivamente com Ariana, que estava tão encrencada quanto ela por ter acobertado a irmã.
Perdida em pensamentos, ouviu a porta do quarto abrir-se de supetão, mas sequer virou-se para ver quem era. Não importava, afinal de contas. Tudo havia sido descoberto e exposto, nada do que viesse após poderia ser minimamente positivo. No entanto, pelo barulho dos saltos, ela presumiu que fosse a matriarca. Era algo característico da mãe, os véus em tule, os saltos altos e o humor ácido. A respiração dela estava controlada, assim como possuía o andar calmo, como sempre. Ciara sempre fora uma mulher extremamente controlada emocionalmente, além de muito bela. Era uma bruxa de qualidades invejáveis, mas uma mãe de condutas questionáveis.
— Filha, arrume suas malas — Ciara proferiu, atraindo a atenção da loira em sua direção. — E, por favor, seja rápida.
franziu o cenho. Por mais correta que fosse, por mais esforçada, sempre os pais favoreciam Ariana. Não que fosse uma competição, ela amava a irmã. Segundo eles, contudo, era a gêmea rebelde. Aquilo já seria algo de se esperar dela, segundo Julius
— O quê? Por quê?! Para onde?
— Vou mandá-la para um lugar seguro. Longe dessa situação e do seu pai, se me permite dizer — Ciara disse, repleta em uma calmaria invejável.
— Eu não vou a lugar algum!
A matriarca riu em escárnio. Não era como se estivesse em posição de se impor em qualquer aspecto. Nunca esteve, de qualquer forma. Não seria daquela vez que sua mãe lhe daria o benefício da fala.
— Não ouse me responder, ! — Ciara deu um passo para frente, olhando a filha de cima a baixo. — Posso ser mais flexível que seu pai, mas você envergonhou nossa honra e tradição. Tem sorte de eu estar prezando pelo seu futuro e não ter te deserdado.
cerrou os dentes, enquanto os olhos claros da mãe a olhavam profundamente. Sentiu os olhos marejarem, sentindo-se ainda pior do que estava. Queria desabar ali mesmo, desejando que todo aquele tormento acabasse.
— Esse sobrenome é a porra de uma maldição.
A paciência de Ciara finalmente acabou. Com fúria nos olhos, a mais velha retirou a varinha do bolso e apontou para o queixo da filha. engoliu em seco, pela primeira vez sentindo medo da mãe. Não sabia do que ela seria capaz para proteger a nobreza do sobrenome . No entanto, se ela agisse como o pai, a garota poderia considerar-se em perigo.
— E você não merece carregá-lo. Tem muita sorte de eu não deserdá-la, ou lhe dar o que realmente merece — Ciara praticamente rosnou, tomada pela raiva. — Você tem cinco minutos. Sua indisciplina acabou aqui.
O bater de saltos deixou o quarto tão rápido quanto veio. deixou o corpo escorregar pela parede, caindo ao chão do próprio quarto. Os móveis em madeira escura pareciam ainda mais tristes sobre aquela perspectiva. Ela estava com medo, pois não sabia de seu destino. Pela primeira vez em muito tempo, ela viu-se sozinha.



Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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