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Revisada por: Saturno 🪐

Última Atualização: 11/03/2025.

A arquibancada estava cheia, todos estavam esperando por aquele momento, aquela luta. A grande final. Aquela que decidiria o futuro de todos envolvidos no drama. As duas garotas estavam frente a frente, somente esperando o começo do round. Um kimono branco e um preto. Um bonsai e uma cobra. A serpente pronta para atacar e o bonsai para se defender. O que será que estava para acontecer naquele momento? Para quem torceria? Essas eram as dúvidas do público.
estava parada ao lado de seu sensei, usando um kimono vermelho, sem ter dúvidas de saber para quem estava torcendo, queria que aquela situação acabasse de uma vez por todas. Que pudessem resolver e viver em harmonia novamente.
Ela olhou para o seu lado, sua equipe estava ali, aguardando ansiosos para o final. Mas ela só conseguia prestar atenção em uma pessoa, que se encontrava bem próxima a ela. Encontrou aqueles olhos que tanto amava, mas eles não estavam a olhando, eles olhavam para a garota de kimono branco, estavam vidrados nela, somente ela. Aquilo fez com que sentisse seu coração despedaçar novamente. Ela pensava que havia esperança depois de tudo o que aconteceu. Como sou burra, quem estava querendo enganar? Não tenho chance alguma, sempre vai ser ela.
Mas o que a garota não sabia era que, enquanto lutava, a cada golpe acertado, aquele mesmo garoto a olhava com orgulho e com um grande sorriso, e a cada golpe sofrido, ele precisava segurar o impulso de correr da direção dela e a proteger. Nem ele mesmo sabia o que significava aqueles sentimentos, apenas os sentia e não os deixava transparecer, até cair na real.



A grande Los Angeles passava como se fosse um vulto pelo caminho dela. Ela gostaria de apreciar cada prédio ou árvore que surgia naquela pequena janela de um carro amarelo. Porém, sua vista estava embaçada demais para distinguir qualquer coisa. Por quê? Era a única coisa que queria saber. Por que fizeram aquilo comigo? O que havia de errado? Aquela era a única saída? A vida realmente é passageira, aproveitá-la deveria ser o correto, mas como seguir em frente depois do que aconteceu? Muitas perguntas se passavam pela sua cabeça naquele momento e tudo que poderia fazer em resposta era chorar, colocar tudo que estava sentindo para fora: dor, perda. O motorista do táxi olhou para ela pelo retrovisor com uma cara confusa e preocupada, mas se compadeceu. Não fez nenhuma pergunta, apenas aumentou mais a música que estava tocando na rádio, em um gesto empático, para que não se sentisse constrangida.
O desespero cada vez consumia mais o coração da garota, o que faria agora? Ela estava começando a hiper ventilar novamente, a respiração cada vez mais descompassada, tudo o que ela queria era se enrolar na cama e ficar ali para sempre. Mas então de repente começou a ouvir a música que estava tocando no rádio, Life Goes On, BTS:
Like an echo in the forest (Como um eco na floresta)
하루가 돌아오겠지(Outro dia virá)
아무 일도 없단 듯이(Como se nada tivesse acontecido)
Yeah, life goes on (Sim, a vida continua)

Ouvir aquela música a fez soltar uma risada anasalada. Como seria possível aquela música estar tocando, descrevendo algo tão parecido com o que estava passando? E no meio do desespero, pela primeira vez em uma semana inteira, ela riu, mas riu muito, com vontade. Agradeceu mentalmente ao BTS por proporcionar um breve momento de felicidade que significava esperança. Talvez ela fosse conseguir superar, ser feliz novamente, poder se divertir. Era o que mais desejava.
Se permitiu olhar melhor ao redor, para a paisagem. Finalmente havia chegado ao pequeno bairro de Reseda. Mesmo que por toda a viagem estivesse chorando, poderia dizer que se sentia aliviada por chegar ao seu novo lar. Poderia parar de se esconder e evitar o olhar das pessoas, aquele olhar que tanto odiava, o olhar de pena. O motorista parou em frente ao prédio com poucos apartamentos, desceu e a ajudou a retirar sua bagagem do carro. Ela pagou sua viagem, agradeceu, se desculpou e desejou um bom retorno para o mesmo.
Caminhou lentamente, empurrando suas malas para dentro do conjunto de apartamentos que estava logo à frente. Ao entrar no saguão, percebeu que havia no meio de todas “pequenas casas”, um pátio aberto com plantas que deixavam o ambiente mais reconfortante. Seguiu reto e, mesmo de longe, encontrou seu apartamento que havia fechado contrato de aluguel pela internet. Sua cara estava inchada, então preferiu andar de cabeça baixa, para que sua primeira impressão no local não fosse ruim. Quando estava passando no meio do pátio, ouviu uma voz feminina gritar.
– Vamos, mamãe, aconteceu algo com o Miguel. – A voz tremia, estava fraca, como se algo de muito ruim tivesse acabado de acontecer. Uma mulher jovem e uma senhora saíram às pressas de um apartamento, ou melhor, do apartamento ao lado do seu.
A garota não entendeu o que estava acontecendo, nem mesmo sabia de quem se tratava, mas preferiu não perguntar, pois as duas mulheres não pareciam querer ser interrompidas e nem atrapalhadas. Apenas seguiu em frente, encontrando a chave embaixo do tapete, como o dono havia mencionado. Girou-a e logo encontrou uma pequena sala, com tons de bege que deixavam o lugar um pouco antigo, mas nada que uma decoração não resolvesse. O apartamento estava todo mobiliado, apenas faltando uma televisão e as compras básicas para cozinha e higiene.
encontrou o quarto, olhou bem ao redor e tudo voltou à tona novamente. Seus pais haviam a deixado e nunca mais voltariam. Haviam feito a escolha, aquela maldita escolha, e agora lá estava ela, sozinha, abandonada e desolada, sem ninguém com quem ela poderia contar. Estava tudo acabado para ela. A garota de cabelo deitou na cama e se encolheu, desejando que tudo aquilo não fosse verdade, que estivessem com ela. Chorou novamente, por horas, naquela mesma posição, e, sem que percebesse, caiu no sono.


Um toque de celular muito conhecido a fez acordar. Assim que levantou a cabeça do travesseiro, percebeu que estava latejando de dor. Pegou o aparelho que estava no chão e viu o nome no visor, estava escrito Mia. O que ela queria agora? Sentou-se na cama, revirou os olhos e atendeu.
! Estou te ligando desde ontem. Você está bem amiga? – perguntou a voz no outro lado da linha.
– Eu não te disse que não queria mais falar com você? Por que ainda está me ligando? – respondeu Manu, em um tom de tédio.
– Amiga, já conversamos sobre isso. Eu sinto muito.
– Sente muito? Deveria ter pensado nisso antes de transar com o meu namorado, ou melhor, ex-namorado. Agora, se me der licença, tenho coisas melhores para fazer do que ficar ouvindo desculpinhas – respondeu secamente. Aquela menina estava começando a encher o saco de .
– Mas... – tentou argumentar.
– Mas nada. Para mim, já deu! – gritou enfurecida e desligou o telefone.
Que vadia, como ela tem essa cara de pau?
estava com tanta raiva que abriu o contato de sua ex-melhor amiga e a bloqueou para que nunca mais pudesse entrar em contato de novo com ela. Depois da onda de adrenalina, a garota começou sentir novamente a sua cabeça doer, correu para a sala atrás de sua bolsa de remédios, porém, ao abri-la, não encontrou algo para fazer sua cabeça melhorar. Foi então que se lembrou que precisava fazer compras. Pegou seu celular novamente e procurou uma farmácia e um mercado próximo. Encontrou os dois não muito longe do prédio. Trocou de roupa e saiu apressada para resolver de vez sua vida, pois agora seria somente ela contra o mundo.
O caminho do mercado foi tranquilo. reparava tudo em sua volta, apreciando cada lugar daquele bairro. Sua nova casa. Parecia estranho, mas era reconfortante, um lugar novo, poder criar uma nova história, uma nova etapa de sua vida. Ela estava tão distraída que não notou quando esbarrou em alguém sem querer. Ele parecia um morador de rua, estava todo sujo e tinha um cheiro forte de álcool. No mesmo instante, abaixou para ajudá-lo.
– O senhor está bem? – perguntou preocupada. A batida não tinha sido forte, mas ao constatar pela cara dele, ela poderia jurar que não bastava muito para que ele caísse e despencasse no chão. – Eu sinto muito mesmo, não vi para onde estava indo.
– Que bom que você sabe, garotinha – a voz embriagada do homem ecoou junto ao bafo de cerveja. – Você estava andando de olhos fechados?
– Eu sinto muito mesmo, senhor – ela se desculpou mais uma vez. Colocou o peso do loiro caído em seu ombro e o ajudou a levantar, mas logo depois ele a empurrou, não com uma grande força, mas o suficiente para afastá-la.
– Isso é tudo culpa sua, garota. Tudo culpa sua. – Ela não estava entendendo. Já havia pedido desculpas para ele duas vezes, mas ele ainda estava a culpando, ou será que ele pensava em outra coisa? – Você fez tudo errado. Você é a culpa.
– Senhor, eu não estou entendendo do que você está falando, mas posso te ajudar em alguma coisa? O senhor não parece muito bem – disse, em tom solidário.
– Você sabe lutar karatê? – Ele riu sarcástico. – Estou brincando, garota desconhecida. Você tem dinheiro para comprar cerveja?



O mercado do bairro estava praticamente vazio naquele momento, as pessoas possivelmente estavam trabalhando. Ela acompanhava cautelosamente aquele homem louro e alto, prestando atenção em cada movimento seu, assim poderia tentar o segurar caso caísse novamente. Ele estava um caco, e não imaginava o que poderia ter acontecido para estar assim. O loiro cambaleava de um lado para o outro entre os corredores atrás da cerveja que ele queria. ficou tentada a perguntar para se precisava de alguma ajuda, mas sempre que chegava um pouco mais perto, ele começava a resmungar com ela coisas totalmente sem sentindo. Será que estava ajudando um louco? Mas por que será que tenho a vaga sensação de que já o vi em algum lugar? E essa necessidade absurda de retribuir algo?
Estavam quase chegando ao corredor de bebidas, só precisavam passar por uma estante que estava bem no meio de dois corredores, cheia de pastas de dente empilhadas. começou a torcer mentalmente para que o homem não esbarrasse naqueles produtos. A cada passo mais perto, ele ia mais rápido, o que era totalmente perigoso, pois perdia cada vez mais o equilíbrio. Ela apertou o andar para chegar perto e falar para ele desviar, mas era tarde demais. O loiro trombou com a pilha, fazendo um grande barulho e derrubando tudo no chão.
correu para ajudá-lo a se levantar, mas ele não queria, parecia que estava com muita raiva.
— Mas que merda! Quem colocou essa bosta aqui! — gritou.
— O senhor precisa se acalmar — pediu ela gentilmente. Mesmo tendo poucas pessoas, fazer escândalo por um erro dele era vergonhoso.
— O que está acontecendo aqui? — Um funcionário bem arrumado se aproximou dos dois. Só pode ser o gerente, merda.
— Vocês são todos uns incompe... — o loiro começou a falar, mas olhou para ele com um olhar sério, e mesmo bêbado entendeu que era para se calar.
— Pai, por que não vai pegar sua cerveja? — mentiu a garota. Não sabia por qual motivo tinha escolhido aquela palavra, mas pensou em uma forma de rapidamente sair daquela situação embaraçosa. O loiro então saiu novamente, cambaleando em direção às bebidas. — Eu sinto muito mesmo, senhor. Meu pai está passando por um momento difícil. Eu sei que não justifica a bagunça que ele fez. O que posso fazer? Quer que eu ajeite isso novamente? — ela ofereceu ajuda.
— Não há necessidade — respondeu o gerente do estabelecimento. — Nós já íamos retirar esses produtos daqui. Entretanto, peço que peguem logo o que desejam e se retirem daqui. — Ele não demostrava, mas sua voz tinha um tom muito irritado.
agradeceu imensamente o gerente e saiu correndo atrás daquele loiro maluco. Ela mal havia chegado àquele bairro e já estava se metendo em confusão, e tudo que ela mais queria era passar despercebida. Ela começou a ficar um pouco irritada. Aquele homem estava passando um pouco dos limites. Ela havia trombado nele sem querer, ele que estava bêbado demais e não conseguia ficar em pé, aquilo era culpa dele. Por que ele estava a culpando? Não deveria estar culpando a si mesmo?
— Escute aqui — começou a falar com ele assim que o alcançou. — Não sei o que está acontecendo com o senhor, mas eu não fiz nada demais para você. O senhor quase caiu sozinho, não venha me culpar — ela falou para ele, ligeiramente irritada, mas continuou mantendo a educação, afinal, ele era mais velho que ela. — Tudo que eu queria era chegar a esse bairro e ser invisível...
— Escuta aqui você, garotinha! Você não tem o direito de falar assim comigo. — O loiro estava bem mais irritado que ela, parecia que a todo momento ele queria brigar ou bater em algo, ou, talvez, até alguém. — Foi você que me derrubou. Estava tão distraída que não prestou atenção que suas ações poderiam machucar alguém.
E, mais uma vez, percebeu que ele não estava, necessariamente, falando sobre ter se esbarrado com ele. Ele tentava a culpar por algo que ela nem sabia do que se tratava. Parecia tão perturbado que precisava culpar alguém que não fosse ele mesmo. Ela respirou fundo e se acalmou, não adiantaria conversar com ele daquela forma, não chegaria a lugar nenhum. Eu e minha maldita mania de querer sempre ajudar os outros.
— Eu estou tentando ajudar o senhor — falou com uma voz compreensiva, mas, ainda assim, firme. — Por que não pega uma cerveja light?
— Cerveja light é para frouxos — ele disse, pagando quatro latas de cerveja normal e saindo em disparada na frente dela.
E lá estava novamente, correndo atrás de um estranho maluco. Ela simplesmente não entendia o porquê tinha essa obrigação de ajudá-lo daquela forma. Acreditava que, talvez, ao ajudar uma pessoa que parecia destruída, entendesse como ela deveria se ajudar a seguir em frente. Ser abandonada daquela forma a fez a perder a confiança em si mesma, se sentia rejeitada, ninguém sequer se lembrou dela. Desejava com todas as forças que tudo aquilo desaparecesse de sua memória, mas ficava cada dia mais difícil. Mencionar a palavra pai a fez rever sentimentos que estava tentando oprimir durante aquele dia inteiro.
Fui abandonada por quem eu mais amava.
Ninguém havia pensado nela, como ela se sentiria. Foi deixada para trás sem mais nem menos, e agora estava prestes a pagar uma cerveja normal para um desconhecido que achava que cerveja light era para frouxos, apenas para ser m...
Espera, cerveja light é para frouxos? Que sensação de deja vu. arregalou os olhos. Lembrou de onde conhecia aquele loiro. Ela apertou mais a corrida para chegar mais rápido perto dele, se sentindo feliz por encontrá-lo novamente.
Quando alcançou o homem, ele já estava esperando no caixa. A atendente olhava para ele com impaciência e ignorância, provavelmente estava esperando que ele pagasse as bebidas que havia pego.
— Ela vai pagar — disse, assim que a garota se aproximou dele. Ela não tinha outra escolha a não ser pagar, já que a atendente a fitava com um olhar sério.
— A senhora por acaso tem papel e uma caneta? — Ela escreveu rapidamente um número de telefone e um recado, porém, quando olhou para o lado para entregar, ele já havia saído do local e levado junto consigo a cerveja.
saiu em disparada para fora do mercado a fim entregar o bilhete. Olhou para todos os lados e o encontrou. Ele estava abrindo uma das cervejas do outro lado da rua. Ela atravessou rapidamente, na esperança que ele não saísse correndo como tinha feito poucos segundos atrás.
— Ei — ela chamou —, o senhor não disse seu nome.
— Para que quer saber meu nome? — perguntou ele, desconfiado.
— O senhor está me devendo 10 dólares — ela disse, mentindo descaradamente.
— Devendo? — Ele riu sarcástico. — Quando eu pedi para você dinheiro para comprar cerveja, não disse que era um empréstimo.
— Mas não é assim que funciona? — Ela fingiu uma cara de deboche para ele. — O senhor pediu dinheiro para uma pessoa estranha, que te ajudou de bom grado — respondeu, e ela viu o loiro revirar os olhos de tédio. Está funcionado. — O mínimo que você pode fazer é devolver o dinheiro.
— Você que quis ajudar, garota. Não fale coisas sem sentido — respondeu ele sério.
Droga, ele tinha um ponto.
— Em todo caso, aqui está meu número. — Entregou o papel para ele. — Quando estiver pronto para me devolver o dinheiro, é só me ligar, sr. Jhonny Lawrence — finalizou e se virou de costas para ele, caminhando na direção oposta daquela que ele iria.
— Garota maluca — ele disse para si mesmo, quando ela já estava longe o suficiente para não ouvir.
Jhonny começou a caminhar, cambaleando na calçada. Ele se perguntou mentalmente quando tinha falado para ela o seu nome, não conseguia se lembrar, já que estava muito bêbado. O homem olhou para o papel em sua mão, não conseguiu nem sequer ler uma palavra, mas sabia que tinha alguns números. Ele o amassou e colocou em seu casaco, nunca ligaria para aquele telefone.
Entretanto, o que o loiro não sabia era que, além do número, havia uma mensagem, uma pequena frase que faria eles se encontrarem novamente.
Me ligue se precisar de algo. Ass: (ou pestinha).


Continua...


Nota da autora: Sem nota.

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