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Codificada por: Aurora Boreal

Última Atualização: 13/08/2024

Dois dias se passaram desde o início do Blue Lock. O projeto em larga escala para criar o melhor atacante de futebol do mundo conta com algumas, para não dizer várias, restrições. Uma delas é não poder se comunicar com o exterior, o que preocupa um membro em específico. Durante o almoço, Meguru Bachira decide sentar longe de todos. Algo incomum vindo do rapaz mais empolgado do time Z. Seja para tentar fazer amizade, ou simplesmente para conhecer melhor seu colega, Yoichi Isagi se aproxima do garoto que está estranhamente quieto.
— Ei, Bachira. Não vai sentar com os outros hoje? Você esteve conversando com todo mundo desde que chegou aqui, nem consegui me aproximar por causa disso. — Yoichi comenta em um tom amigável.
Sem desviar o olhar de sua comida, o garoto responde.
— Agora não…
Yoichi espera a continuação da frase. Alguns segundos de silêncio desconfortável passam enquanto Meguru continua comendo, e ele decide sentar em outro lugar. Um pouco antes de se virar, o outro garoto por fim fala.
— Eu sinto falta dela…
Percebendo a tristeza no tom de voz, Yoichi decide sentar à frente de Meguru e puxar conversa enquanto comem.
— Quem é ela?
— Minha namorada, .
Yoichi se engasga ao ouvir a resposta. Rapidamente toma uns goles da sopa de missô e pergunta.
— Uma namorada? Queria eu ter essa sorte de conseguir uma namorada com a nossa idade. — A reação e comentário do menino parece alegrar Meguru, que começa a sorrir.
— Né? Eu tenho muita sorte de ter encontrado ! Na verdade, ela é que acabou me encontrando.

3 anos atrás

O sinal do fim da aula toca. Meguru, que estava dormindo, lentamente acorda e se espreguiça enquanto boceja. Aos poucos se ambientando de onde estava, o garoto finalmente percebe a menina sentada em uma cadeira próxima. Por mais que esteja exatamente ao lado dele, ela olha para qualquer lugar menos nos olhos dele. O primeiro pensamento de Meguru foi “uma colega de classe… Normal.”
— Huh… Você é o Bachira-kun, né? — Ela fala finalmente olhando para ele.
— Sim.
— Então… Eu sou uma grande fã das obras da sua mãe, Bachira Yuu…
A garota parecia buscar por palavras, claramente tímida, porém determinada a se comunicar. Percebendo o tamanho da timidez da menina, Meguru decide dar um empurrãozinho.
— É mesmo?! Eu também adoro as artes dela! Apesar que não entendo nadinha de arte. — O comentário dele foi o suficiente para alegrar a menina, fazendo-a sorrir e falar mais tranquilamente.
— Hum, eu poderia conhecê-la um dia? — Ela perguntou empolgada.
— Tudo bem! Ela deve estar no ateliê agora, não é muito longe da escola. — Meguru se levanta e caminha em direção à porta da sala de aula. — Vamos?
— A-agora?! Não vamos atrapalhar ela?
— Que nada, eu sempre passo lá antes de ir pra casa.
Enquanto caminhavam pela calçada tingida pelo pôr-do-sol, ambos começaram a conversar e a se conhecer melhor, sendo assim o início de uma bela amizade… Pelo menos era isso o que a garota de nome esperava. Se aproximar do filho de alguém que ela respeita tanto é quase como uma honra para ela. Já para Meguru, apenas a possibilidade de ter uma amiga aquece o seu coração. Tantos anos sendo tratado como estranho e esquisito talvez fossem recompensados com essa bela amizade? Seja como for, ambos estavam muito felizes e confortáveis um com o outro.
Após uma pequena caminhada repleta de conversas e risadas, eles finalmente chegam no local. Enquanto Meguru pega as chaves para abrir o local, percebe que o céu já estava tingido de roxo, com apenas uma pequena parte alaranjada. De fundo é possível ouvir os grilos cantando nessa noite abafada que está por vir. O cheiro de tinta fresca puxa a garota de volta ao presente. Meguru abriu a porta e entrou sem hesitar.
— Oi mãe! Trouxe uma colega, podemos entrar?
— Olá olá! Pode entrar, só não repara a bagunça.
Imediatamente prestando atenção no local, percebe que há de tudo um pouco no chão do local. Desde tintas, ao chinelo da pintora, a quadros completos apoiados na parede. Sendo cautelosa para não pisar nas tralhas espalhadas pelo chão, caminha para o lado da tão aclamada pintora.
— E-eu sou uma grande fã sua, poderia por favor me ensinar a pintar como você?
Yuu parece um pouco surpresa com o pedido de , mas responde quase imediatamente com um sorriso.
—Oh, gostei da sua atitude! Tudo bem, eu posso te dar algumas dicas.
Sorrindo de um jeito contagiante, ilumina a sala com seu rostinho feliz. Meguru também sorri, contente com a sua boa ação.
— Que ótimo, ! Enquanto vocês conversam sobre arte, eu vou jogar um pouco de futebol na quadra aqui perto.
Não havia um momento em que Meguru não pensasse sobre futebol, mas dessa vez enquanto jogava contra o monstro, o sorriso de surgia repentinamente em sua mente. Isso não é um problema para o garoto, pelo contrário, estava feliz de ter ajudado alguém a se aproximar de seus sonhos. Mas no fundo do coração de Meguru, um desejo começa a se formar:

"Quero ver mais do sorriso dela. Quero ser o motivo do sorriso dela."

Entretanto, o garoto ainda não sabe dizer que sentimento é esse. Para ele isso é apenas o dever de um amigo, alegrar os outros. Meguru ainda é inexperiente com amizades, e mais inexperiente ainda com o sentimento que começa a desabrochar em seu peito.
Enquanto jogava, alguns pensamentos incomuns cruzaram a mente do menino. Coisas como “E se ela só tivesse me usado para se aproximar da minha mãe?” começam a se repetir, se transformando em uma ansiedade potente o suficiente para fazê-lo parar de jogar. Com medo de que ela já tenha ido embora, Meguru decide voltar ao ateliê. Como se fosse sumir se ele não chegasse a tempo, ele correu pelas ruas escuras, iluminadas apenas por umas luzes aqui e ali.
Chegando no local, ele percebe que a porta está entreaberta e consegue ouvir um pouco de conversa enquanto se aproxima.
— Mas fico feliz de você ser amiga do Meguru. Ele nunca teve muitos amigos.
— Huh? Por que? Ele é tão empolgado e gentil, e às vezes chega a ser fofo… Ainda não nos conhecemos muito bem, mas considero ele um amigo. Espero que ele pense o mesmo de mim.
O coração de Meguru deveria ter se acalmado em ter por fim a resposta de sua pergunta, mas ao invés disso está palpitando fortemente. Como se estivesse lendo a mente de seu filho, Yuu responde .
— Eu tenho certeza que ele pensa o mesmo. Por favor, continuem sendo bons amigos.
— Pode deixar! Ah! Já está tão tarde assim?! Eu tenho que ir pra casa!
Meguru abre a porta incapaz de conter seu sorriso e fala.
— Eu te levo pra casa!

Daquele dia em diante, Meguru grudou em como um chicletinho. Quando estavam no intervalo da escola sempre lanchavam juntos. Nas férias passavam trocando mensagens ou fazendo planos para passear.

Presente

Ao relembrar seu primeiro contato com , Meguru se sente nostálgico, porém ainda um pouco pra baixo.
— Eu acho que a melhor coisa a se fazer é colocar pra fora, sabe? Qualquer coisa pode contar comigo pra ouvir o que você tem a dizer.
Ao ouvir as palavras de Yoichi, Meguru se alegra.
— Você tem razão, Isagi. Além de que ela não gostaria de me ver triste. — Meguru come o resto de comida rapidamente e exclama. — É isso! De agora em diante vou contar tudo para você quando me sentir nostálgico!
— Ok! — Yoichi responde, sem saber o tamanho da fria em que está se metendo.




A primeira semana no Blue Lock ainda não havia terminado e Yoichi já não aguentava mais. Ele não aguentava o tanto que Meguru falava da tão aclamada namorada. Desde quando se voluntariou para ouvir as preocupações de seu novo amigo, ele menciona a garota no mínimo cinco vezes por dia. A parte boa é que Meguru parece mais feliz, então Yoichi tenta arcar com as consequências de sua escolha. O fato do mesmo não ter uma namorada deixa as coisas piores. Não chega a ser inveja, apenas o desejo de ter alguém ao lado, assim como Meguru tem .
Nessa mesma semana, se iniciou a primeira seleção. Após serem massacrados no jogo contra o time X, os meninos do time Z estão se dedicando para criar novas estratégias. No final do treino, Yoichi senta no chão encostado na parede, ofegante. Pelo canto do olho, percebe Meguru se aproximando com duas garrafas de água. Em seguida, joga uma delas para o seu amigo e senta-se ao lado dele.
Yoichi aguarda Meguru falar algo, se preparando mentalmente para quando começar o tópico . Já o outro toma um pouco da própria água e logo após começa a tentar fazer “bottle flip” com a garrafa. Yoichi observa, estranhando o silêncio. Normalmente Meguru começaria a falar sobre quando ele e foram na casa assombrada no último halloween, ou da vez em que tentaram cozinhar juntos, quase fazendo a cozinha explodir. Basicamente coisas de namorados. “Mas ele deve estar cansado do treino de hoje.” Yoichi pensa, começando a apreciar o silêncio agradável entre os dois.
— Ah! Esse é aquele desafio de girar a garrafa e fazer ela cair de pé?
Os dois levantam a cabeça para ver quem estava se aproximando. Era Kunigami Rensuke, que senta na frente deles. Yoichi se mexe um pouco para formar um pequeno círculo com os outros dois.
— Sim! Quer tentar? Apesar que duvido que você seja melhor que a .
— Começou… — Yoichi fala baixinho, esperando que ninguém ouça.
— Começou o que…? Falando nisso, vocês têm conversado bastante ultimamente. De onde tiram tanto assunto sem ser futebol? — Rensuke pega a garrafa que Meguru emprestou e começa a atirar ela no meio do círculo.
Sabendo onde a conversa vai inevitavelmente chegar, Yoichi se recusa a falar sequer uma palavra. Óbvio que Meguru vai falar de .
— É que um dia eu estava meio triste por não poder ver a minha namorada enquanto estou no Blue Lock, aí o Isagi disse que eu podia falar com ele sobre isso. Aí eu tenho falado!
— Entendi… Espera, uma namorada?! — Rensuke atira a garrafa com força para cima ao perceber o assunto em questão.
— OUCH!! OLHA ONDE JOGA AS COISAS! — Jingo grita atrás de Rensuke, causando uma comoção e fazendo os jogadores que ainda estavam treinando parar.
— Desculpa, acabei jogando com muita força. É que eu não esperava que o Bachira fosse ter uma namorada. Logo ele dentre todos os membros do time Z. — Disse Rensuke, levantando para pegar a garrafa das mãos de Jingo.
— Mentira que o Bachira tem namorada! — Imamura fala correndo mais para perto do centro da conversa. Ao chegar lá, ele empurra Yoichi para o lado, abrindo um lugar no círculo para si mesmo e pergunta. — Como ela é?! Quem se declarou primeiro?!
Antes que Meguru pudesse responder, Wataru, Asahi e Jingo se aproximam do círculo que se formou.
— Se todos vão parar de jogar eu também vou. Além disso, deve ser uma história interessante. Estamos falando do Bachira afinal! — Disse Asahi ao sentar no círculo.
Jingo fez um som parecido com um grunhido e sentou-se junto de Wataru, que apenas suspira. Feliz com o interesse dos colegas de time, Meguru começa a falar.
— Então, sobre quem se confessou primeiro…

2 anos e meio atrás

Faz seis meses que Meguru e se conheceram. Desde então, a garota começou a esperar seu amigo terminar as atividades do clube de futebol na escola. No verão, eles compravam picolé na saída da escola. Agora que está frio demais para isso, sugeriu comprar chocolate quente durante o período de inverno.
Recentemente, o garoto começou a expressar mais o que sente para , porém são apenas coisas vagas como “gosto de estar com você” ou “você é muito fofa!”. Essas e outras frases se tornaram recorrentes. Obviamente respondia com “eu também gosto de estar contigo!” e “ownt, você é que é fofo!”. Mas Meguru ainda não acha que falou o suficiente e por isso continua repetindo as mesmas coisas.
Agora está sentada em um banco ao lado da quadra de futebol onde o clube está praticando. Em suas mãos está um livro que ela deveria estar lendo, mas volta e meia se perde ao observar Meguru. Repentinamente, uma mão repousa no ombro da garota, que se assusta e olha rapidamente para a pessoa. Para a surpresa dela é Takemori Hiroto, o aluno responsável pelo clube de teatro. Todos na escola o reconhecem pelo cabelo preto com mechas rosa na frente, além da gentileza com que trata os colegas.
— Finalmente te encontrei! Você é né?— Ele fala ainda um pouco esbaforido por ter caminhado rápido no frio.
— S-sim, você precisa de mim para algo?— responde timidamente por estar falando com alguém que não conhece muito bem.
— Isso! É essa reação mesmo que eu estava buscando! Estamos procurando alguém para atuar como Kaguya-hime na nossa peça, por favor aceite.
— Ah, é i-isso? Acho que-
Interrompendo a conversa dos dois, uma bola bate na grade ao lado deles. Meguru corre em direção onde a bola estava e a recolhe do chão. O calor que emana do corpo dele é visível devido a temperatura baixa. Ao falar, pequenas nuvens de fumaça saem de sua boca.
— Assustei vocês? Do que estão falando? — Ele fala com um sorriso para , mas logo desaparece completamente quando olha para Hiroto.
— Meguru-kun! O Takemori-senpai quer que eu atue em uma peça como Kaguya-hime, eu acho que seria uma ótima opção para tirar minha timidez.
Meguru, que já havia aberto a boca para reclamar, foi forçado a fechar após escutar a segunda parte da frase. De fato poderia ajudar, mas ele não queria ficar longe de por muito tempo, ou até mesmo ser substituído por esse tal de Takemori Hiroto. Quase imediatamente, ele responde como se fosse o mais óbvio.
— Então eu também vou participar! Quero ser o imperador! Pode ser, Takemori-senpai? — Meguru pergunta com um sorriso animado, porém para Hiroto pareceu uma declaração de guerra.
— Hmm, as meninas do roteiro já decidiram que eu tenho que ser o imperador. Mas acho que você pode ser um dos príncipes que tentam conquistar o coração da Kaguya-hime. — Hiroto respondeu forçando um sorriso.
Poucas pessoas sabiam, porém Takemori Hiroto odeia perder. Seja jogos, competições ou até mesmo mulheres, ele leva muito a sério conquistar e possuir coisas. Se for para derrotar um oponente, ele vai até humilhar o pobre coitado. Esse é um lado desconhecido para muitos, mas Meguru consegue sentir claramente as intenções do garoto. Egoístas se entendem no final das contas.
— Tudo bem! — Meguru responde novamente com um sorriso após pensar um pouco, surpreendendo Hiroto.
— Bom, espero vocês depois das aulas na sala do clube de teatro para treinar as falas. Até mais. — O garoto de cabelo rosa e preto responde ainda sem baixar a guarda, logo caminhando de volta de onde veio. Meguru põe a língua para fora na direção de onde ele foi. Por sorte não percebeu.
— Que bom, Meguru-kun! Vamos participar juntos da peça! Yay!!! — Ela levanta as mãos e eles fazem um high-five através da grade.
Como ele gostava do entusiasmo dela. Era como se fosse um animal pequeno animado, como um yorkshire terrier feliz. Logo após, os colegas de Meguru chamam ele para se alongar e finalizar o treino.
— Que ótimo para você, Bachira! Ter uma namorada com a sua idade é para poucos. Eu mesmo nunca tive hahahah. — Falou o capitão do time, logo reunindo os outros jogadores e indo para o local do aquecimento.
— Mas nós não…
Ele ia responder, porém um pensamento cruzou sua mente: “Nós realmente não somos namorados…” Sentindo um aperto no peito, Meguru percebeu que o que a sensação de que seus elogios não são o suficiente é devido ao fato de que eles são apenas amigos. Um namorado qualquer pode facilmente se tornar mais importante do que ele aos olhos de .
Mas acima do sentimento de medo, Meguru sente uma forte vontade de fazer Hiroto passar por uma derrota esmagadora. O suficiente para deixar claro que pertencia a ele.




Por fim, chegou o tão esperado dia da peça de teatro. Os atores estão no camarim colocando as fantasias e treinando as falas uma última vez. Como haviam ensaios todos os dias, decorou as falas facilmente. Por mais que o menino não aparecesse em todos os treinos devido ao clube de futebol, Meguru também parecia minimamente interessado na peça, o que fazia a garota feliz por estar sendo acompanhada. Mas estranhamente, ele ainda não chegou no camarim.
— Parece que o Bachira-kun não vai vir hoje. Vamos ter que improvisar. — Hiroto se aproxima de , que estava mandando mensagens para o melhor amigo.
— É estranho… Eu não consigo imaginar o Meguru-kun faltando em um evento tão importante… — Ela responde olhando para o celular, aguardando uma resposta ou pelo menos o símbolo de visualizado aparecer.
— Eu imagino que se fosse um jogo de futebol ele definitivamente não iria se atrasar. — O garoto de cabelo mesclado ajeitou o enfeite no cabelo de antes de continuar. — Hoje teremos uma festa de confraternização na sala do clube após a peça, espero te ver lá. — E com isso, ele se afastou da garota com um sorriso satisfeito.
E logo a peça começou:
— Há muito tempo atrás, havia um velho cortador de bambu. Um dia, enquanto caminhava pela floresta, observou um bambu brilhante. — Iniciou a narradora.
Nesse momento, a luz no ambiente ficou mais fraca, realçando um leve brilho ao redor do bambu recortado em papelão. Se aproximando com cuidado, o ator pegou um pequeno enrolado de toalhas que continha uma boneca de brinquedo pouco maior que um polegar.
— Que menina linda! Mas, o que faz aqui perdida na floresta? Não posso deixá-la aqui sozinha. Como não tenho filhos, há espaço em minha residência para criar essa criança. Espero que a velha não se importe de ter que cozinhar para mais uma boca…
E com isso, o ator saiu de cena e as luzes se apagaram. Em seguida, um holofote foca na narradora, que está no canto esquerdo um pouco à frente do palco.
— O casal nomeou a menina de Kaguya-hime. Em pouco tempo, o velho começou a perceber que pepitas de ouro apareciam dentro dos bambus que cortava. Logo ficando rico.
Pouco antes de terminar a frase, a narradora joga uma pequena pedra de cor dourada para cima, e quando pega novamente o holofote se apaga, criando um efeito dramático. Aos poucos, as luzes vão se acendendo e mostrando tomando chá com os atores do velho e da velha. Logo sons de batida em madeira soam no alto falante.
— Querido, acho que temos visita.
— Hein? Fala mais alto! — O outro ator respondeu quase gritando.
— E-eu atendo a porta!
se levanta e caminha rapidamente até o lado do palco. Ao abrir a cortina que separa o palco dos bastidores, é surpreendida por Meguru com fantasia e tudo, como planejado. Mas antes de poder reagir, ele gira para o lado oposto e se ajoelha em sua frente, agora ambos visíveis no palco. Meguru beija a mão de enquanto os outros atores dos príncipes se posicionam atrás dele, o garoto não estava seguindo o roteiro e a menina não sabia como reagir. Ter seu melhor amigo beijando a sua mão na frente de um público não é algo que acontece todos os dias, e apenas fica vermelha como um tomate. Após se recuperar parcialmente do choque, ela exclama:
— Meguru!… P-Príncipe, o que trás vocês à minha residência.
Após perceber o erro inicial, a garota logo corrige e volta para o roteiro original, causando pequenos risos da plateia. Pelo sorriso de Meguru, está claro que era exatamente isso o que queria. Ainda segurando a mão de , ele se levanta.
— Eu e os outros quatro príncipes da região gostaríamos que você escolhesse um de nós para se casar com você. Nós faremos qualquer coisa para demonstrar nosso amor.
É estranho para ela escutar Meguru falando de um jeito tão formal, mas percebendo que a frase está de acordo com o roteiro, segue com suas próprias falas, agora encorajada por seu amigo.
— Muito bem! Vou designar uma tarefa para vocês! Quem me trouxer a jóia colorida do pescoço de um dragão poderá se casar comigo.
Quando as luzes se apagaram, Meguru se aproximou do de e sussurrou animado em seu ouvido:
— Espere por mim, -hime!
Os lábios do garoto estavam perto o suficiente para ouvir pequenos sopros enquanto ele falava, isso somado ao fato de ter chamado ela pelo nome mais o honorífico hime fez corar novamente. Ultimamente Meguru estava estranho, principalmente no dia de hoje. A garota não conseguia compreender o que mudou nele, mas uma coisa ela tinha certeza: seu coração estava batendo a mil com as novas ações de Meguru. Não era um sentimento ruim, muito pelo contrário, porém era algo imprevisível. Antes que pudesse perceber, a narradora continuou a história.
— No fim, o primeiro príncipe saiu em busca de um dragão em mares desconhecidos, nunca mais sendo visto. O segundo e o terceiro se uniram para buscar a jóia, mas foram queimados vivos pelo dragão que encontraram. O quarto príncipe tentou enganar Kaguya com uma pedra falsa, o que não deu certo. E o quinto príncipe simplesmente desistiu pois não acreditava em dragões. Durante esse período, as notícias sobre Kaguya chegaram ao imperador, que decidiu visitá-la.
— Ó bela Kaguya, você é a mulher mais linda que já vi em minha vida. Me concederia a honra de ser seu marido? — Hiroto falou esticando a mão aberta na direção de , que se virou e respondeu enquanto olhava tristemente para o chão.
— S-sinto muito, mas não sou de seu país. Nós não podemos nos casar!
A última frase saiu um pouco mais aguda do que ela planejava devido à sua mente ainda estar processando as ações recentes de Meguru. Logo a narradora começa a ler novamente, lembrando de ir para a próxima posição.
— Após ser rejeitado por Kaguya, o imperador continuou trocando cartas com a jovem, e frequentemente a pedia em casamento de novo. Entretanto, a garota foi ficando cada vez mais melancólica, até que revelou que era vinda do povo da lua e que logo teria que voltar. Após ler a informação em uma carta, o imperador ordenou que guardas protegessem a casa da garota para que nenhum ser celestial a sequestrasse. E então chegou o dia da partida da jovem.
Na metade direita, do palco, Hiroto conversa com os atores dos guardas, enquanto um pouco mais para a esquerda, finge escrever uma carta para o imperador.
— Não deixem ninguém se aproximar desta casa sem permissão! — Hiroto ordena os subordinados.
— Sim senhor!
Após terminar de escrever a carta, pega o papel junto com um frasco de cima da mesa e se dirige à Hiroto.
—Sinto muito que nosso tempo juntos foi breve, entretanto meu coração não lhe pertence-
— Isso mesmo, ele pertence a mim! — Uma voz familiar soou através da cortina do lado direito. Em seguida, Meguru aparece com uma pequena sacola de tecido.
— Meguru…! Achei que você não fosse aparecer mais! — fala enquanto se levanta surpresa com a aparição do menino fora do roteiro.
— E eu ainda disse para me esperar… — O garoto fala fingindo tristeza, logo se recuperando e continuando as falas inventadas. — Viajei longas distâncias para conseguir, mas encontrei um colar de pedras digno de ficar em seu pescoço.
Meguru tira da sacola um lindo colar de pedras peroladas que refletem a luz, fazendo um efeito colorido. Naquele momento, Hiroto já estava rangendo os dentes de raiva, logo se esquecendo do personagem.
— O que significa isso, Meguru? Está se revoltando contra mim? Tirem ele daqui!”
Os atores dos soldados correm na direção do garoto e tentam segurá-lo pelos braços, mas Meguru desvia habilmente deles, passando por todos como se estivesse driblando. Por fim, sendo o único entre e Meguru, Hiroto saca a espada de madeira que estava na cintura e avança na direção do outro garoto.
— Daqui você não passa!
Ele grita enquanto tenta acertar seu rival. Desviando dos ataques com maestria, Meguru encontra uma oportunidade para girar e chutar a espada para o fundo do palco, e aproveita a distração para se aproximar de . Agora que os lados se inverteram e ele está desarmado, Hiroto não pode fazer nada a não ser ameaçar Meguru.
— Hah, você acha que vai sair impune disso? Eu tenho muitos contatos, o suficiente para acabar com a sua vida!
Meguru calmamente fala como se ainda fosse um personagem da peça:
— É mesmo? Eu consegui a jóia colorida do dragão e de acordo com o trato, Kaguya será minha noiva! O que os camponeses que testemunharam a minha vitória acham disso?
Meguru põe uma mão ao redor do ouvido, querendo escutar o público. Ainda achando que tudo faz parte da peça, a plateia começa a gritar em apoio de Meguru:
— Ele fez a parte do contrato dele!
— Príncipe Meguru merece a mão de Kaguya!
— Isso mesmo!
Indignado com a falta de apoio de seus colegas, Hiroto fecha os punhos e bate o pé no chão de madeira, fazendo todos ficarem em silêncio.
— Vocês acham que isso é uma brincadeira, mas minha honra está em jogo… Faça o que quiser, mas haverá retorno! — Se virando rapidamente para a saída do palco mais próxima, ele sai extremamente irritado. Os outros atores e a narradora rapidamente seguem Hiroto, deixando apenas e Meguru no palco.
— Agora que nos livramos das pedras no caminho: Kaguya, você aceitaria ser a minha noiva? — Ele fala com uma mão no peito. Na mente de , tudo ainda está confuso. O que ela deveria fazer? Ela está na frente de tantas pessoas e ainda por cima sem um roteiro para seguir.
, olhe nos meus olhos. Você consegue, faça o que o seu coração mandar. — Meguru fala baixinho para que apenas ela conseguisse escutar. Em seguida, ele limpa a garganta e fala mais alto. — Se você não quiser se casar ainda, podemos começar sendo namorados, o que acha?
Finalmente conectando os pontos, mas ainda incerta que essas são as intenções de Meguru, fica corada até as orelhas.
— É sério?! Tipo, verdade mesmo? — Em resposta ao desespero da garota, Meguru apenas sorri mais e concorda com a cabeça, o que confirma a teoria de : essa é uma confissão em público.
Por um momento o mundo congelou, pensou em tudo que passou com Meguru até o dia de hoje. Ela sabe que ambos não têm outros amigos sem ser um ao outro. Ela também sabe exatamente o quanto Meguru sofreu antes de se encontrarem. Os momentos felizes que os dois passaram durante esses seis meses foram o suficiente para que não querer se separar do menino nunca mais. Apenas imaginar um mundo onde ele não faz parte do seu dia-a-dia já faz o coração dela doer. Finalmente compreendendo o que sente, sorri e olha nos olhos de Meguru, assim como o garoto havia sugerido.
— Sim, podemos começar sendo namorados. — Ela fala com lágrimas nos olhos, por algum motivo que nem a garota sabe.
Meguru se aproxima da menina extremamente contente e coloca o colar ao redor de seu pescoço. A plateia aplaude, mas só consegue ouvir o próprio coração pulsando nos ouvidos. O cabelo de Meguru faz cócegas na bochecha dela, e a deixa consciente da proximidade dos dois. estava tão paralisada que só conseguiu soltar a respiração quando sentiu seus pés deixarem o chão.
— E vamos indo, Kaguya-hime!
Meguru falou antes de pular do palco com em seus braços. Ele caminha por entre a plateia que aplaude o final da peça. A garota nos braços de Meguru se agarra na fantasia do menino, buscando por estabilidade, mas ao mesmo tempo se aproximando o suficiente para ouvir as batidas do coração dele, que não estão nada calmas. Isso faz rir um pouco, afinal, ele realmente podia ter levado um fora na frente de um monte de gente. Ao saírem do auditório, achava que iria ser posta no chão, mas Meguru continuou a segurando firmemente.
— Hum, Meguru-kun… Você não vai me colocar no chão?
— Ainda não! Não quero que a minha preciosa -hime fique com frio. — Foi então que um floco de neve pousou na testa de . Estava frio a ponto de nevar, mas mesmo assim ela se sentia quente. Talvez fosse pela proximidade física dos dois, ou talvez pelo embalo de Meguru caminhando, mas aos poucos a tensão de foi saindo do seu corpo. Os olhos da menina ficaram pesados. Se sentindo segura e confortável, ela adormeceu nos braços de seu príncipe.



Continua...


Nota da autora: Olá! Muito obrigada por ler até aqui! Vou enviando os capítulos prontos aos poucos. Pelos meus cálculos deve acabar no 10º (tem 8 até agora). Se você gosta de animes e jogos "gacha" como eu, fique atento nas minhas próximas fanfics! Abraços <3

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