Revisada por: Lightyear 💫
Finzalizada em: 12/06/2025Alice Fletcher, Emma Sollary, Catherine Sollary e Miller.
Londres de 1847
Mais uma vez encontrava-me desempregada.
Mais uma vez desamparada e sem saber para onde ir. Trabalhar em uma workhouse seria suicídio, e ser cortesã estava bem longe de meus planos de sobrevivência. Por sorte, a Sra. Moodle, que tinha me conhecido no orfanato onde passei parte de minha infância, me enviara uma carta dizendo que precisava de pessoas para trabalhar em um grande evento.
Talvez, gostando de meus serviços, pudesse ser contratada pela família. Era a realidade de minha vida. Encolhi-me na cama, olhando para as paredes daquele pequeno quarto que conseguia pagar com dificuldade. Era estranho dormir todas as noites no porão da Ma Belle, a casa de luxo mais famosa de Londres. Contudo, a dona, senhorita Genevieve French, havia criado uma simpatia por mim e aceitado que eu limpasse todo o lugar pelas manhãs como forma de pagamento por minha precária moradia.
Espreguicei ao sentir o sol entrar pelas frestas da pequena janela.
Mais um dia de luta iniciava para mim. Após um suspiro cansado, levantei-me da cama e dobrei as cobertas. Subi as escadas e passei rapidamente pela cozinha, já pegando o balde para limpar o lugar. Chegando ao salão principal, vi de relance um homem descendo as escadas que davam para os quartos das meninas. Reconheci o seu rosto, era o senhor James Bale, filho do conde de Bramley. A fama de libertino conquistador o precedia, rolavam boatos de ter se envolvido até mesmo com uma espanhola casada.
Voltei minha atenção para meus afazeres e continuei.
A prática levava à perfeição e já tinha me habituado tanto a limpar aquele lugar que terminava em menos de duas horas. Por isso, sempre levantava antes do sol nascer.
— Impecável como sempre — elogiou Genevieve, com um sorriso satisfatório.
— Agradeço, senhorita, fico feliz por não a decepcionar — disse, mantendo-me de pé ao lado de uma das mesas.
— A cada dia fico ainda mais admirada com vossa pessoa — continuou ela. — És muito forte e corajosa.
— A vida tem-me feito ser assim, caso contrário já teria perecido — confessei.
— Bem, sabes que minha proposta de torná-la a melhor cortesã de Londres ainda está de pé — ofereceu ela, mais uma vez. — Os homens se derretem por donzelas de olhar delicado e ingênuo como o vosso.
— Mais uma vez, recuso a oferta e agradeço por se preocupar comigo. — Sorri de leve para ela. — Mas, mesmo que distante, ainda sonho em casar-me e ter uma família grande e feliz.
— Estes sonhos não são para mulheres como nós, . Órfãs como nós, possui apenas dois caminhos: — retrucou ela, olhando com seriedade — Na cozinha, como uma criada trabalhando até morrer, ou no quarto, desfrutando do prazer de ser uma mulher dominadora.
— Prefiro partir em busca de um terceiro caminho — disse esperançosa — Preciso ir agora, tenho que encontrar a Sra. Moodle.
Despedi-me dela e segui para a cozinha.
Guardei algumas coisas na dispensa e troquei de roupa, colocando o uniforme que havia recebido pela Sra. Moodle no dia anterior. A casa em que trabalharia aquela noite estava um alvoroço quando cheguei. A família à qual pertencia havia se mudado há pouco menos de quinze dias e ofereciam o primeiro baile para apresentar suas filhas à sociedade. As fofocas que rolaram entre os outros serviçais eram, basicamente, sobre o estranho casamento do Sr. Sollary com a esposa.
Afinal, os burgueses gostavam de dormir no mesmo quarto, algo que não acontecia com eles.
A calorosa noite de verão foi surgindo, assim como os convidados do baile. Mantive minha concentração em não derrubar as bandejas de prata e servir alguns dos convidados. Por um breve momento, fiquei admirada ao ver o lindo vestido que a senhorita Emma Sollary usava. Uma ponta de inveja surgiu, assim como pensamentos de como seria se eu tivesse pais. Voltei à realidade assim que um homem passou por mim, estranhei em primeiro momento ao vê-lo usando uma máscara, escondendo metade de seu rosto.
Algo intrigante.
Afastei-me e reconheci o senhor James Bale entre os convidados. Sua constante visitação ao Ma Belle era um dos impulsos que tornavam os comentários ainda mais recorrentes. Continuei servindo até que senti meus pés cansarem. Procurei por um canto para retomar o fôlego e avistei as filhas do Sr. Sollary sentadas com cara de frustradas.
Não me contive em aproximar-me para saber o que acontecia a elas.
Tentei ser o mais invisível possível, para não perceberem minha presença, contudo, um pensamento escapou-me em voz alta, atraindo a atenção para mim. Engoli seco, achando estar encrencada, contudo, ambas as anfitriãs foram gentis e solícitas comigo, mesmo tendo alguns comentários pesados por parte da senhorita Catherine. Poderia sentir-me ofendida por suas palavras, porém, eram a realidade em que vivia e, sim, seria um milagre de Deus conseguir um pretendente para mim ainda naquela temporada.
— Errada, a senhorita não está — confessei. — Pelo menos, ambas as senhoritas são de famílias importante. Por certo, até o final desta recepção, terão os olhares dos cavalheiros para vós.
Soou como um desabafo frustrado de minha parte.
Eu não entendia como, mas nos tornamos próximas até quando pude. Entre risos e comentários divertidos sobre os convidados, até que a Sra. Moodle me encontrou. Mesmo com as intervenções das senhoritas Sollary, recorri-me à minha insignificância e voltei para a cozinha, de onde só pude sair no final do baile. Neste tempo, ajudei com a lavagem da prataria, talheres, taças de vidro, bandejas e grandes panelas.
A cada vasilha, um suspiro diferente.
— — disse a Sra. Moodle, assim que terminei meus afazeres.
— Sim, senhora. — olhei-a, temerosa do que poderia dizer.
— Aqui está o valor combinado — disse, entregando-me um envelope amarelo com o dinheiro.
— Agradeço, senhora — peguei o envelope e o coloquei dentro de minha bolsa.
— Eu a observei durante toda a noite, torci para que o vosso comportamento não fosse desaprovado, para que fosse melhor do que as outras moças que contratei — continuou ela, demonstrando desapontamento. — Porém, vejo que me enganei, quando pediu por uma oportunidade tive esperanças, mas como ousas ficar de conversa com as filhas do Sr. Sollary?
— Perdoe-me, senhora, eu juro que estava servindo-as — olhei-a inocente, sentindo os olhos marejarem.
— Lamento, mas não precisarei mais de vossos serviços. — Foste vossa palavra final.
Assenti, segurando firme as lágrimas no canto dos olhos.
Não queria imaginar que, mais uma vez, estava sem emprego e poderia passar por mais dias de dificuldade. Retornando ao Ma Belle, entrei pela passagem dos fundos. A noite demonstrava ser uma criança para as senhoritas que trabalhavam ali, assim como a dos cavalheiros que, após largarem suas famílias em casa, se dirigiam para o lugar considerado por muitos de princípios, a perdição. Por detrás das grossas cortinas, que separam o espaço dos empregados do grande salão de diversão, observei os garçons em seus ternos impecáveis, servindo os mesmos cavalheiros que ajudara a servir no baile dos Sollary.
— Nada surpreendente — sussurrei para mim, ao identificar o jovem senhor Bale, assentado no espaço premium, acompanhado da própria anfitriã.
A senhora Genevieve apenas dispunha de vossa companhia para os cavalheiros mais distintos e promissores da elite aristocrata. Impressionou-me quando relatou que nunca servira a um burguês, por vosso leve preconceito aos que não fossem nascidos de um berço nobre. Contudo, já a havia visto acompanhando o senhor Kerr, um escocês, dono de uma das maiores companhias ferroviárias do país, que estabeleceu a vossa fortuna com investimentos no minério de ferro. De uma sabedoria invejável para os negócios, que até mesmo a dona do Ma Belle, rendeu-se à influência de tal senhor.
— O que fazes aqui, Miller? — a voz repreensiva de Bridget despertou-me dos pensamentos. — Acaso estás a cogitar a ideia de ser uma de nós? Como se fosse possível.
— Pelo contrário, senhorita, perdoe-me pela minha presença aqui — disse, abaixando o olhar — Acabo de retornar de um trabalho e… Foi apenas uma ligeira distração.
De todas as damas que trabalhavam ali, Bridget era a que mais implicava comigo, sempre cavando uma oportunidade para rebaixar-me por minha origem desconhecida.
— Miller, não precisas explicar nada a ela. — Margo adentrou a conversa em minha defesa. — E vós, Brid, deveria preocupar-se com o vosso visconde, que andais a olhar para o lado. Se não vos apressares para levá-lo ao quarto, a Kim o fará em vosso lugar.
Bridget viu-se sem argumentos e retirou-se, seguindo para o salão.
— Agradeço mais uma vez por… — dei um sorriso gentil.
— Não há o que agradecer. Sempre foste a mais amável e respeitosa conosco, não se importando ou nos julgando mal por nossas escolhas — explicou ela, sorrindo de volta. — Muitas nos consideram o mal do mundo, sem nem saber as dificuldades que passamos na vida.
— Bem… Como eu poderia julgar pessoas que jamais me negaram um prato de comida — respondi a ela. — Cada qual é responsável pelas próprias escolhas, apenas desejo o bem de todas.
Margo abraçou-me com singeleza, e retornou para a mesa na qual estava.
Na manhã seguinte, recebi um bilhete de Alice, convidando-me para um chá em vossa casa. O motivo? A senhora Smith, vossa tia, compartilharia a lista de nomes dos senhores solteiros da cidade, os melhores partidos até o momento. Mas, claro que essa realidade não fazia parte da minha vida, porém, fui assim mesmo.
Apenas pelo prazer de estar na companhia de minhas novas amigas — as únicas que havia conquistado em toda a minha existência até aqui.
Logo de imediato, notei o olhar de repreensão da anfitriã por eu estar ali, o que me deixou ainda mais desconfortável. Porém, a alegria de Alice por eu ter aceito participar do grupo e aderir à promessa em busca do amor, trouxe paz ao meu coração.
— Para ser honesta, atualmente ando mais interessada em como terei dinheiro para comer no dia seguinte do que ter uma corte — confessei minha realidade, ao sentar-me na cadeira ao lado da janela.
Vossos olhares demonstraram sensibilidade à minha condição atual.
Após a senhora Smith apresentar, com entusiasmo, os nobres solteiros e mais cobiçados de Londres, tive a oportunidade de um momento em particular com a mesma. Explicou-me um pouco mais sobre a vaga da qual mencionou anteriormente. Por mais que não gostasse da minha aproximação e amizade com a sobrinha, ela estava disposta a ajudar-me sem pedir nada em troca. Apenas por notar que eu não era alguém tão gananciosa ao aproveitar de uma amizade verdadeira para me beneficiar de alguma forma. Assim como desejado nas recomendações da vaga, a senhora Smith escreveu uma carta de recomendações e entregou-me juntamente com o endereço de Lorde Bellorum.
Com gratidão, voltei para casa, perseverante de que tudo daria certo para mim.
Enquanto nossa esperança se mantinha acesa, com nossos encontros semanais e cartas compartilhadas de motivação, a vida se encarregou de mudar todos os planos para nós quatro, a começar por Alice. Viajou novamente para Limerick, pois vossos pais haviam recebido a proposta de casá-la com o irmão mais velho de vosso falecido noivo, irmão esse que atualmente estava em preparação para tornar-se um padre. Isso deu entrada a vários pensamentos sobre o assunto em minha mente.
Como poderia eu casar-me um dia?
Com a vida que tinha, nem em meus sonhos mais profundos.
Através da carta de recomendação da Sra. Smith, eu havia conseguido o emprego na casa do Sr. Bellorum. Passaria duas semanas sendo treinada pela senhorita Liz, a governanta, pois ficaria encarregada de ser a preceptora da pequena Molly: uma doce criança de saúde frágil, que passava a maior parte de vossos dias em seus aposentos. No dia de minha partida para Derbyshire, despedi-me com gratidão de Genevieve, por toda a ajuda que me dera desde que fugi do orfanato, há sete anos. Mesmo com as divergências de ideais, considerava-a uma grande amiga.
Uma irmã tão sobrevivente quanto eu.
Segui viagem com uma única bagagem. Não tinha muitas roupas e, menos ainda, o que levar de Londres para Bellorie House , a monumental casa de campo da família. As fofocas que rolaram por entre os outros empregados contratados diziam que Lorde Bellorum era um homem muito ocupado pelos negócios — vossa fortuna fora multiplicada ainda jovem, antes do primeiro casamento, através dos muitos investimentos em transportes e comércios marítimos. Agora, os vossos esforços estavam nas estradas de ferro e no progresso das indústrias.
O título de nobreza era considerado apenas uma pequena parte de quem era.
E se não fosse o visconde de Cairnwell, certamente seria um dos mais bem sucedidos burgueses do país.
— Bem-vindos à Bellorie House — disse o Sr. Brown, o mordomo, com vosso tom firme e, em partes, áspero.
Liz se manteve posicionada ao lado dele em silêncio, mantendo o olhar analítico para todos nós. Respirei fundo e atentei-me à revisão de regras que ele pronunciara minuciosamente.
— Como já sabem, há algumas regras para mantermos a ordem e proporcionar conforto à família Bellorum — continuou Sr. Brown. — O silêncio é algo que prezamos, então, falem somente o necessário e quando for lhes concedido. O escritório do Sr. Bellorum é terminantemente proibido a entrada, a Sra. Liz é a única que detém o acesso além de mim. As criadas, atentem-se às organizações dos quartos: sejam rápidas, discretas e impecáveis. Aos cocheiros, sejam organizados e mantenham o bom funcionamento dos estábulos, a carruagem deve estar sempre preparada para ser utilizada por seu senhorio. — A cada palavra, a voz permanecia ainda mais firme. — E a preceptora da senhorita Molly deve permanecer constantemente ao vosso lado, atenta à vossa saúde e necessidades, não deixando de zelar pela educação. Entendido?
— Sim, senhor. — dissemos em coral.
— A seus postos. — ordenou ele.
Liz aproximou-se de mim e guiou-me até o quarto da criança.
O ambiente frio e escuro transmitia tanta tristeza quanto o olhar da pequena ao me ver. Passei meus olhos por todo o lugar discretamente; as grossas cortinas fechadas e escondendo a bela claridade do sol, os móveis distantes um do outro, formando um grande espaço vazio ao centro do quarto. Uma sensação estranha de angústia tomou conta do meu coração.
— Senhorita Molly, esta é vossa nova preceptora — anunciou Liz. — Senhorita Miller.
— Bom dia, senhorita Miller. — A voz da criança era baixa e quase não se conseguia ouvir.
— Bom dia, pequena. — Abri um sorriso singelo para ela, demonstrando gentileza de início.
— Senhorita Miller. — Liz chamou-me atenção. — Não se esqueça de revisar as instruções do Dr. Grimer, estão na gaveta da escrivaninha. Em breve, será servido o almoço da senhorita Molly, fará vossas refeições com ela.
— Sim, senhora — assenti.
Esperei que se retirasse. Voltei meu olhar para a criança, que se mantinha com a atenção voltada para as cortinas que cobriam as janelas.
Fora um longo primeiro dia. A surpresa foi saber que meu quarto seria preparado ao lado do quarto da pequena Molly; assim, minha assistência a ela seria imediata.
Na manhã seguinte, enviei uma carta, contando de minha mudança repentina para as irmãs Sollary, em Londres, e outra para Alice, em Limerick, detalhando minhas primeiras impressões sobre o novo trabalho e os possíveis desafios que poderia ter ao longo dos próximos dias.
Uma semana depois, as respostas chegaram.
Cada uma com vossa novidade e contratempo do destino; com a distância, não conseguiríamos nos ajudar fisicamente, e somente as cartas poderiam nos motivar a não perder as esperanças.
Assim, a sorte estava lançada para as quatro amigas.
As semanas foram passando…
Era notório o crescimento de minha angústia, por permanecer dentro daquele quarto o dia todo sem ver ninguém. Se em pouco tempo já me sentia doente pela situação, entendia os sentimentos da pequena Molly, assim como o motivo da palidez em seu rosto. Ela somente recebia a visita do pai aos sábados pela manhã, naquele mesmo quarto sufocante, e a Sra. Liz não me deixava estar presente. O único momento de descanso que tinha era à noite, quando me recolhia em meus aposentos, ou quando caminhava pelo jardim, sob a luz das estrelas, e podendo finalmente respirar ar puro.
Precisava fazer algo para melhorar a nossa situação.
— O que a senhorita está lendo? — perguntou Molly, interrompendo minha explicação sobre a história da família real.
— Hum? — Voltei meu olhar para ela, confusa. — Não entendi a vossa pergunta.
— Ontem, quando acordei de meu cochilo da tarde, a vi lendo um livro — explicou ela.
— Ah, sim… — suspirei um pouco, lembrando-me da parte em que parei. — Estou lendo Razão e Sensibilidade.
— Sobre o que fala o livro? — ela mexeu-se na cama, erguendo um pouco o corpo, os olhos exalavam curiosidade.
— Sobre a família Dashwood e duas irmãs com características totalmente diferentes, uma vive sob o pensamento racional e fatos lógicos da vida, e a outra sob as influências da emoção que seu coração transmite — expliquei de forma superficial.
Os olhos de Molly brilharam um pouco.
— Poderia contar-me essa história? — pediu de forma ávida.
Até aquele momento, eu permanecia seguindo à risca todas as regras e instruções impostas pela Sra. Liz e o Dr. Grimer. Nada mudava, e a pequena Molly continuava com vossos dias arrastados naquela cama, mal levantando para banhar e executar outras realizações privadas. Se eu não fizesse algo para mudar vossos dias e torná-los mais leves, ninguém mais o faria. Talvez fosse o destino a me colocar naquela casa, para permitir-me levar um pouco de luz à vida daquela criança. Uma direção de Deus!
Abri um largo sorriso para ela e pedi que me esperasse.
Corri até meu quarto e peguei o livro. Assim que retornei, puxei a cadeira para mais perto da cama, a primeira vez que me sentava tão próxima a ela. Abri o livro na página inicial da história e comecei a ler com entusiasmo. A cada página, um sorriso diferente e o brilho no olhar que se mantinha. Parecia que um mundo novo se abria para ela.
Domingo pela manhã, resolvi dar um basta na escuridão que se instalava em seu quarto. Assim que adentrei, fui abrindo as cortinas com toda ousadia, deixando a claridade e o frescor que o início do outono transmitia. Ajudei Molly a levantar-se da cama, conduzi-a até a poltrona, que arrastei para perto da janela, e a coloquei ali. Era o início de muitas mudanças que planejava para sua vida, e sentia-me em paz por proporcionar isso. Apesar de saber que deveria fazê-lo às escondidas dos olhares de repreensão da senhora Liz. Contudo, nada pagava o olhar alegre e motivado de Molly ao sentir o calor do sol tocando-lhe a pele. Seguimos fazendo isso todos os dias — era nosso segredo — e, sempre ao sinal de movimentação da Sra. Liz no corredor dos quartos, eu corria para fechar as cortinas.
Assim como ela, retornava à posição de sempre na cama.
— Senhorita Miller. — disse a Sra. Liz, ao adentrar o quarto de Molly.
— Sim?! — fechei o livro de história greco-romana que lia e voltei meu olhar para ela. — Desejas algo?
— Acompanhe-me, por gentileza. — Vosso tom de ordenança parecia mais amargo aquela tarde.
— Mas e a senhorita Molly?! — voltei meu olhar para a criança. — Não podes ficar sozinha.
— Não é vossa preocupação no momento, Tessa ficará responsável por hora. — A Sra. Liz abriu mais a porta e Tessa entrou.
Assenti com a face e levantei-me da cadeira.
Segui com ela até a cozinha, com meu coração dando sinais de aperto e aflição, intensificado com a repreensão que iniciara de vossa parte. A Sra. Liz lutava contra as oscilações no volume da voz, ponderando sempre para parecer uma dama refinada.
— Como ousas passar por cima das regras da Bellorie House? Quem acha que é para isso? — Vosso tom ainda mais forte. — Quero que recolha vossas coisas e espere em vosso quarto até amanhã pela manhã, estás dispensada de vossos serviços. Quando partires amanhã, receberás pelo tempo prestado.
— Perdoe-me, senhora, mas o que fiz de errado para que me dispensasse com palavras tão duras? — questionei vossa subjetividade.
— O senhor Bellorum, ao retornar hoje pela manhã, viu as cortinas do quarto de Molly abertas — respondeu ela, com um olhar reprovador.
Meu corpo gelou.
Deveria ter sido mais atenta e cautelosa. Não tinha como retrucá-la, contra fatos não há argumentos; apenas abaixei minha face e assenti vossa ordem. Recolhi-me em meu quarto e coloquei minhas coisas na mala. No dia seguinte, nem mesmo pude despedir-me de Molly, assim que me entregaram o pagamento, segui com o senhor Finley de carruagem, até o centro comercial de Derbyshire. Com a quantia que estava em mãos, não poderia retornar a Londres. Aluguei um quarto aos fundos de uma pensão.
— Lamento que a tenham dispensado — comentou Finley, demonstrando solidariedade. — És uma pessoa encantadora e sentirei falta de nossas conversas noturnas.
Em muitas das minhas contemplações às estrelas, a presença de Finley esteve silenciosa a me observar. Aos poucos, começamos a trocar comentários sobre a passagem das estações e o quão bela era a criação de Deus. Quando dei por mim, já havia conquistado a vossa amizade e me sentia à vontade para compartilhar algumas percepções sobre como Molly era tratada pelo senhorio.
— Agradeço vossas palavras… Mesmo tendo por mim que não fiz nada errado, não tenho como desfazer as ordens da senhora Liz — expliquei a ele, ao pararmos em frente ao portão de minha nova moradia. — Apenas queria ajudar a criança a ter uma infância mais leve e menos triste.
— Acredito em vosso desejo, pelo menos tentaste — disse, encorajando-me a não ficar arrependida.
E não me deixaria ficar.
Mais dias passaram.
Fui acordada ao susto, na fria madrugada de outono. Assim que troquei de roupa para receber a visita inesperada do senhor Finley, o relato do estado de saúde de Molly deixou-me por completo perplexa. A pequena encontrava-se febril e em delírios há três dias, de forma curiosa, chamando-me constantemente e recusando-se a alimentar-se. Com a vossa repentina piora, Lorde Bellorum sabendo de minha permanência em Derbyshire, mandou que me buscassem na pensão.
Peguei minha mala, que se mantinha pronta, e segui de volta a Bellorie House.
Estar de volta àquele lugar deixava-me num misto de alegria e tristeza, principalmente pela forma em que saí e pela qual estou retornando. Ao ser recebida na porta pela Sra. Liz, fui conduzida até o quarto da criança. Foi a primeira vez que estive oficialmente em um mesmo ambiente que o dono da casa. MiLorde estava de pé, perto da janela principal, observando a filha com angústia em vossos olhos, notei que parte do rosto estava coberto por uma máscara negra.
De imediato, lembrei-me do homem que quase esbarrei no baile na casa da família Sollary.
— Senhorita Miller — ouvi o sussurro de Molly a chamar-me.
Não me contive e corri para perto da cama, sentando-me ao vosso lado para poder segurar a vossa mão. A pequena estava mesmo muito quente.
— Pequena, eu estou aqui — disse num tom baixo e carinhoso, ao começar a acariciar os delicados cabelos com a outra mão. — Ficará tudo bem.
— Mamãe — sussurrou ela novamente, ao apertar minha mão.
Voltei meu olhar para o Dr. Grimer, que também se encontrava no quarto.
De relance, meu olhar direcionou-se para Lorde Bellorum; vossa feição, assustada e confusa ao mesmo tempo, era notória. Certamente, perguntando-se como uma criada havia criado um laço de amizade e carinho com vossa filha, a ponto de arrancar-lhe tais palavras.
— Querida Molly — ponderei minha voz —, sou eu, a senhorita Miller.
A criança abriu os olhos lentamente; parecia fazer um esforço para abri-los. E logo um sorriso apareceu em seu rosto.
— Estás mesmo aqui? — perguntou.
Certamente, achando que eu fosse uma ilusão.
— Sim, estou. — Sorri novamente para ela com carinho, brincando. — Podes me beliscar, se o quiseres.
Ela assentiu, fazendo o que lhe havia sugerido, fazendo-me rir de imediato.
— Não vá embora novamente, por favor — pediu ela, apertando-me o coração.
— Não irei, prometo — disse confiante, mesmo sabendo que poderiam ser apenas palavras ao vento.
Eu não sabia se realmente poderia fazer aquela promessa.
Entretanto, somente o fato de estar ali já significava alguma coisa. Passamos o resto da madrugada observando-a melhorar, com a febre abaixando. O Dr. Grimer prescreveu alguns cuidados que deveríamos tomar para que ela pudesse se recuperar por completo. Pela manhã, após Molly adormecer devido ao forte remédio que tomara, minha presença fora solicitada no escritório de Lorde Bellorum.
Meu coração acelerou um pouco, seguido por um frio na espinha.
— Milorde — sussurrei ao entrar. Dei um passo tímido para longe da porta e fechei-a.
Ele, que estava de costas, permaneceu um tempo permitindo que o silêncio nos acompanhasse. Parecia estar reflexivo sobre os motivos que me trouxeram de volta à vida da pequena. Então, virou-se para mim. Seu olhar era tão triste quanto o de Molly quando a conheci; vossa face, mesmo com metade sendo escondida, conseguia evidenciar expressões frias, rígidas e fechadas.
— Agradeço por responder ao chamado de minha filha — disse, mantendo o tom baixo, uma voz firme e rouca.
— Não fui eu quem respondeu — tomei coragem e retruquei. — Foste o senhor, ao trazer-me de volta.
— Noto que minha filha apegou-se fortemente a vós, e que possuis muito carinho por ela — suspirou fraco. — Sinto-me arrependido por tê-la dispensado.
— O senhor só estava fazendo o papel de pai. — Tentei consolá-lo.
— Meu papel de pai fez com que minha filha ficasse ainda mais doente. — O tom de frustração e arrependimento soou dele. — Agora que retornaste, peço que permaneça nesta casa, para o bem de Molly.
— Não há com o que se preocupar, milorde, prometi à pequena que não sairia do vosso lado — assegurei a ele. — Pretendo cumprir minha promessa, com a permissão do senhor.
— Agradeço. — Ele se virou para a janela. — Pode retirar-se agora.
Assenti e saí do vosso escritório, retornando ao quarto de Molly.
Com aquele susto causado por minha demissão, gerando consequências na saúde da pequena, tinha convicções dentro de mim de que Lorde Bellorum, certamente, aceitaria as mudanças que eu estava inclinada a continuar realizando. Este foi mais um fato, entre muitos, que relatei nas cartas para minhas amigas. Tinha notícias de Alice, com a vossa busca pelo noivo ideal com a ajuda de vosso padre pessoal. Catherine, devido aos negócios do pai, estava prometida a um casamento por contrato com o homem mais libertino de toda a Inglaterra, impressionando-me ao ler o nome do felizardo. Não foram poucas vezes em que vira o senhor James Bale saindo do quarto de Genevieve após o amanhecer. E Emma, segundo relatos, continuava a sofrer por vosso amigo de infância, e agora estava ajudando a mãe dele no distinto jantar de noivado.
Não estava fácil para nenhuma de nós.
No ensolarado domingo de uma manhã de primavera, consegui me ausentar por alguns dias para comparecer ao casamento de Alice. Uma pequena festa oferecida para os amigos íntimos, no castelo dos pais de Lorde Tenebrae.
Era nossa primeira vez reunidas após a separação.
— Não acredito que puderam vir — disse Alice ao nos abraçar. — Sinto-me feliz por vê-las tão bonitas e coradas.
— A primavera trouxe alegrias, assim como o vosso casamento — disse Emma, sorridente.
Emma continha um brilho no olhar. Algo novo e raro, levando em conta vossa situação amorosa com o melhor amigo. Havia feito inúmeras promessas para Molly, de que retornaria em três dias. Já que o Sr. Bellorum não a autorizou a viajar comigo — uma pena, pois seria muito bom para a pequena ver algo além da janela do quarto.
Um ponto que planejava alterar nos próximos dias.
Nós quatro rimos dos muitos comentários maliciosos de Catherine sobre a futura lua de mel de nossa amiga. Era bonito e motivador ver a felicidade de Alice, a primeira a casar-se. Algo que me enchia de esperança — afinal, pegava-me constantemente pensando na leve linha de amizade que construía com Finley. Um bom amigo que me fazia elogios nada discretos, arrancando-me risos e mais risos.
Assim que retornei a Derbyshire, fui recebida por Molly com um sorriso aconchegante e um brilho no olhar. Vosso pai estava presente, fazendo companhia à pequena no habitual momento de desjejum. Assim que me viu, ele afastou-se da cama da filha para retirar-se.
No impulso, coloquei-me entre ele e a porta, e o olhei com firmeza.
— Perdoe-me, senhor, mas posso pedir que fique? — Tomei essa coragem, forçando minha voz a sair, mesmo que trêmula.
— Como? — Vosso olhar ficou confuso.
— A pequena Molly sempre fica mais alegre quando está por perto — expliquei, baixando mais a voz. — Ela sente falta de passar mais tempo com o senhor, já que viaja sempre.
Ele se mostrou pensativo e voltou a olhar para a filha.
Então, retornou a atenção.
— O que achas que devo fazer? — perguntou.
O momento de abertura que eu tanto esperava obter.
Iniciei meus argumentos dizendo ao Lorde Bellorum o motivo de Molly sempre andar adoentada. Havia muita experiência dentro de mim por anos no orfanato, e mencionei a ele sobre esta fase. A pequena precisava viver como uma criança saudável para, assim, ser uma criança saudável — sem passar a vida presa a uma cama, em um quarto escuro, recebendo a visita do pai uma vez por semana, por poucas horas. Talvez fosse demasiada ousadia de minha parte, mas contei-lhe tudo que estava em meus pensamentos sobre a convivência naquela casa.
Seu olhar surpreso deu espaço à compreensão.
A partir daí, pouco a pouco, nossa rotina começou a ser totalmente transformada.
Mais semanas passaram.
Felizmente, Lorde Bellorum decidiu comparecer ao casamento de Catherine, em Londres. Levamos a pequena Molly conosco para que minhas amigas a conhecessem — era a primeira vez que a pequena viajaria para outro lugar que não fossem os cômodos da casa de campo. No segundo sábado após nosso retorno para a Bellorie House, ao amanhecer, sugeri que fizéssemos um piquenique à beira do lago da propriedade. Manhã ensolarada de verão, com o sol brilhando no céu, combinado ao perfume de lavanda que descia da colina.
— Obrigada, mamãe — disse Molly, assim que entreguei alguns morangos para comer.
Fiquei um pouco estática.
Já havia conversado com ela sobre me chamar de mãe. Após o dia do meu retorno, isso havia ocorrido mais algumas vezes — e sempre na presença do pai. Aquilo gelava-me por dentro, temendo ser mais uma vez repreendida por conseguir tanto afeto da pequena. Ou por acharem que eu estava a influenciá-la a tal ato, na esperança de dar algum tipo de golpe em vosso senhorio.
— Molly… não deve me chamar assim, conversamos a respeito disso — disse, num tom compreensivo. — Não posso…
— Deixe-a — disse milorde, ao interromper-me. — Permita que minha filha chame-a de mãe.
Olhei-o, estática.
Assenti com o olhar, voltando a atenção para Molly, que mantinha um brilho no canto dos olhos. Continuamos o piquenique, com Lorde Bellorum sentando-se na toalha, ao lado da pequena. A todo momento, senti o olhar fixo dele em mim, observando atentamente minha forma carinhosa de tratar Molly — algo que me deixava ainda mais apreensiva e temerosa. Será que ele poderia ficar com ciúmes da relação que uma simples criada criou com vossa filha?
Era um questionamento que me consumia por dentro.
À noite, após Molly adormecer, saí de vosso quarto e segui para a porta de passagem dos criados da Bellorie House. Caminhei um pouco pelo jardim, sentindo a brisa da noite tocar minha pele. Gostava de fazer esses passeios noturnos para relaxar a mente — era meu momento de liberdade momentânea. Aproximei-me do canteiro de lírios. Mesmo no verão, ainda se mantinham lindos e perfumados. Foi quando senti a aproximação de alguém. A princípio, pensei que pudesse ser Finley com vossas conversas motivacionais de fim de noite, contudo…
Era quem eu jamais imaginaria que fosse.
— Milorde. — Respirei fundo, sentindo meu corpo estremecer estranhamente.
— Perdoe-me se a assustei — disse ele, num tom baixo.
— Não, meu senhor, está tudo bem, não me assustastes. — Baixei o olhar em respeito. — Mais uma vez, gostaria de desculpar-me pelas palavras de Molly no piquenique. Asseguro que não a forcei a fazer isso.
— Não se preocupe. Conheço bem minha filha para garantir-lhe que jamais pensaria isso de vós — assegurou ele. — Não vim aqui para falar deste ocorrido.
Uma curiosidade por vossa presença ali foi tomando conta de mim. Ele moveu o corpo, ficando de frente para o canteiro de lírios.
— Esta era a flor favorita de minha falecida esposa — iniciou ele. — Por isso, mandei que fizessem esse jardim apenas com lírios… Mas ela não pôde aproveitar o vosso perfume na primavera… Foi levada de nós em pleno inverno.
— Sinto muito, senhor. — Mantive meu olhar nele, observando as mudanças de expressão em seu rosto. — Como aconteceu?
— Em um incêndio… Até hoje pergunto-me a causa… Esta casa já foi cenário de dias de horror e tristeza. Não consegui salvar minha esposa, apenas Molly. — O tom baixo exalava toda a vossa amargura e ressentimento. — Todos os dias, essa cicatriz em meu rosto faz-me lembrar o ocorrido, persistindo a dor em meu coração.
— Certamente foi um acidente, milorde. Não deveria manter essa dor em vosso coração. — Tentei consolá-lo. — Não pense somente que perdeu vossa esposa, mas agarre-se ao fato de ter salvo vossa filha e de ser um herói para ela.
Ele voltou o olhar para mim e então percebi que estava cheio de lágrimas no canto dos olhos.
O senhor Bellorum tomou impulso, pegando minha mão e puxando-me para perto, o suficiente para abraçar-me forte, como se pedisse que eu lhe transmitisse força. Fiquei sem reação no primeiro momento. Contudo, após sentir a primeira lágrima cair em meu ombro, retribuí o abraço com ternura e afeto.
Era correto o que fazíamos?
Pela visão de nossa sociedade, não. Afinal, eu era apenas uma criada, sem antepassados e com um futuro incerto.
— Agradeço… por entrar em nossas vidas… por cuidar de minha filha melhor do que eu — sussurrou ele, em meio ao choro silencioso.
— Para mim é um prazer, milorde — sussurrei de volta. — Eu é quem deveria agradecer pela oportunidade.
— Permita-me pedir mais uma coisa. — Afastou-se de mim, o olhar notoriamente mais sereno.
— Sim, senhor — assenti.
— Poderias me chamar de . — Vosso olhar ficou esperançoso. — Não precisas mais de formalidades… pelo menos enquanto estivermos sozinhos.
Sozinhos…
O que isso significava?
— Como desejar, milorde… — respirei fundo. — Com vossa licença, preciso recolher-me para o descanso.
Fiz uma breve reverência e afastei-me para retornar ao quarto, porém vossa mão segurou a minha, impedindo-me de seguir.
— Milorde?! — Olhei-o, confusa, esquecendo-me do pedido de informalidade. — Desejais algo mais de mim?
— Sim — assentiu de imediato.
olhou-me com certo desejo oculto e, tomando impulso, em um piscar de olhos, vossos lábios tocaram os meus com sutileza e suavidade. Recolhi-me a princípio, sentindo um frio percorrer o corpo, porém, de forma involuntária, ao toque de vossas mãos em minha cintura, deixei-me levar pela doçura que ele transmitia através do beijo e retribuí, cautelosamente.
— Milorde — sussurrei, puxando o ar com força para meus pulmões, enquanto recuperava o fôlego.
Ele tocou meus lábios com o dedo indicador, olhando-me compreensivo.
— Ainda não sei definir o que acontece comigo, porém, a cada dia sinto que preciso tê-la ao meu lado para sempre — continuou ele, em sussurro, aproximando o rosto do meu. — Não foi somente minha filha que conquistaste, mas meu coração também.
Confesso que não esperava por aquelas palavras.
Apesar de, muitas das vezes, em que permanecia em vossa presença, nos momentos com a filha, pegava-o olhando-me diferente e com uma intrigante profundidade. Meu coração acelerou um pouco e senti bambeza em minhas pernas. Logo, apoiou-me nele e, novamente, me beijou, com mais suavidade e delicadeza. Meu corpo aqueceu internamente, fazendo-me retribuir, mais uma vez, o beijo.
— Verdadeiramente preciso recolher-me — disse, ao afastar-me dele. — Boa noite, milorde.
Segui para meu quarto.
Fora as horas mais longas de minha vida, nas quais passei a noite em claro somente pensando em vossos beijos e declarações. Sentia-me aquecida por dentro e totalmente desnorteada com meus sentimentos. Tinha um grande respeito por ele, compaixão por ter sofrido tanto após a morte de vossa esposa.
Será que haveria espaço para o amor? Estaria eu me apaixonando por Lorde Bellorum?
Bellorum.
No dia seguinte, saiu bem cedo para resolver alguns assuntos no centro comercial da cidade. Retornando pontualmente na hora do almoço, ordenou que servissem o banquete no jardim — um pedido de Molly ao pai. Assim que se sentaram à mesa, olhou para mim, que permanecia de pé ao lado de Sra. Liz, observando-os. Oras, eu era a preceptora de vossa filha, somente mais uma criada, que era paga para lhes servir da forma mais dedicada possível. Porém, ele pediu para que eu me sentasse na cadeira ao vosso lado, de frente para Molly, e os acompanhasse. Meu corpo gelou um pouco, um frio na espinha que, mesmo envergonhada, não me impediu de assentir ao pedido.
À noite, após ajeitar Molly em vossa cama e a mesma adormecer, entrei em meu quarto e vi uma carta em cima do meu travesseiro. Era de Finley, falando sobre seus sentimentos e sobre ter visto-me aos beijos com o visconde. Era desconfortável saber que meu amigo estava triste com os acontecimentos recentes em minha vida, e surreal pensar que havia dois cavalheiros com sentimentos relacionados a mim. Ouvi o barulho de batidas na porta, dobrei a carta e guardei na gaveta da escrivaninha. Ao abrir a porta, era a Sra. Liz, dizendo que desejava a minha presença no escritório.
Assenti de imediato e segui para o local.
— Milorde… — disse no automático, ao entrar.
Ele, que estava sentado na cadeira em frente à mesa de trabalho, voltou-me o olhar repreensivo.
— Perdoe-me, . — Só então notei que não havia chamado-o pelo nome. — Ainda não me acostumei.
— Deves acostumar-se, então. — Levantou-se da cadeira e aproximou-se com serenidade de mim. — Tenho algo a lhe falar.
— Diga. — Observei vossa aproximação.
— Tenho pensado sobre este assunto há um tempo. — Ele segurou em minha mão de leve e olhou-me com singeleza. — Aceitaria ser oficialmente a mãe de Molly e minha esposa?
Ao mesmo tempo que meu coração se aqueceu, ele acelerou e parou.
Sem nem mesmo esperar minha resposta, inclinou o corpo mais e mais, para que lentamente chegasse aos meus lábios, tirando-me o fôlego com um beijo mais ousado e malicioso. Resultado? Todo o meu corpo estremeceu por completo. Em instantes, ele envolveu-me pela cintura com os braços, aninhando meu corpo ao dele, de forma que seria impossível minha recusa. O que despertou dentro de mim, um forte desejo de entregar-me ainda mais aos vossos beijos e anseios.
— — sussurrei, permanecendo aninhada a ele.
— Sim!?
— Conceder-me-ia um desejo? — indaguei, temerosa pela resposta.
— O que serias? — assentiu ele, com a voz suave.
— Desejo te ver — pedi, com segurança.
— Como?! — ele afastou-se um pouco e olhou-me confuso. — Ver-me?
— Sim. — confirmei, referindo-me à máscara.
Eu ergui minha mão com leveza e toquei o objeto que cobria a lateral direita do vosso rosto. tocou minha mão, com um olhar temeroso, parecia querer recuar. Contudo, sorri com ternura e continuei minhas intenções, desencaixando a máscara de vosso rosto. Ele abaixou a face de imediato, certamente envergonhado pela cicatriz que recebera salvando a filha. Tomada por meus sentimentos, dei impulso erguendo meu corpo e beijei-lha a face, bem na região da cicatriz. Não demorou muito, até que vossos lábios percorressem meu rosto para, enfim, encontrar o meu novamente.
Aquela foi minha forma de aceitar o vosso pedido.
Tarde de Inverno que se completa duas semanas após nosso discreto e reservado casamento. Como previsto, e imprevisivelmente de minha parte incrédula, fui a última a casar-se das quatro amigas, e fiquei ainda mais feliz ao tê-las em minha cerimônia com vossos respectivos maridos: Alice Fletcher com o Lorde Vincent Tenebrae, Catherine Sollary e o senhor Cedri Bale, Emma Sollary com sir Thomas Dominos.
Isso provava que as estações foram generosas com cada uma de nós.
— Um beijo por vossos pensamentos — sussurrou , ao abraçar-me por trás, mantendo meu corpo aninhado ao dele.
— Pensando no quanto Deus fostes generoso para comigo, levando meu caminho até o vosso — respondi, mantendo meu olhar em Molly, que se mantinha sentada na poltrona da sala ao lado da lareira, observando as chamas. — Sinto-me afortunada por ter ganhado uma família.
— Eu é que me sinto afortunado por tê-la ao meu lado — disse ele, virando-me para ficarmos de frente um para o outro. — Eu a amo com todo o meu coração.
— Eu também o amo, com todo o meu coração — sorri de leve.
O gélido frio de minha vida fora aquecido pelo amor de e o carinho de Molly. Aquela agora era a minha família, sendo um sonho além do que eu havia esperado e imaginado para meu futuro. Permanecemos nos olhando com desejo e certa malícia, até que moveu-se para beijar-me com toda a intensidade que sempre transbordava em nossos momentos íntimos.
Realmente…
Havia, sim, um terceiro caminho para mim, que me levou aos braços de Lorde Bellorum, o misterioso e apaixonado visconde de Cairnwell.
”A resposta é você
Minha resposta é você
Eu te mostrei tudo de mim
Você é o meu tudo, eu tenho certeza
Eu serei mais cuidadoso e te protegerei
Então o seu coração nunca será machucado
Eu nunca me senti assim antes
Como se minha respiração fosse parar.""
— My Answer / EXO
Minha resposta é você
Eu te mostrei tudo de mim
Você é o meu tudo, eu tenho certeza
Eu serei mais cuidadoso e te protegerei
Então o seu coração nunca será machucado
Eu nunca me senti assim antes
Como se minha respiração fosse parar.""
— My Answer / EXO
"Amor: Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. [1 Coríntios 13:13]"
— Pâms