Tamanho da fonte: |

Revisada por Selene 🧚‍♂️

Última Atualização: Jul/2024.

"Eu nunca imaginei que me mudar para Jeju fosse mudar coisas em mim que nem eu mesmo sabia que eram possíveis ser mudadas."


UMA NOITE ANTES DA MUDANÇA.

Nb2, Hongdae

— Eu só digo uma coisa, Jungkook, se você ousaar se esquecer da gente, a gente vai te buscar em Jeju — Hoseok falou, tomando mais um copo de martíni enquanto chorava.

— Céus, Hoseok! Mal chegamos e você já está ficando bêbado? Você é muito fraco para bebida! Me dá isso aqui. — Minnie pegou o martíni de suas mãos e o tomou de uma só vez. Porra, essa garota não fica bêbada nunca, quase sempre ela quem carrega eu e Hoseok para casa.

— Eu não esquecerei de vocês dois, e vocês sabem disso.. e sabem também que eu preciso conhecer lugares novos, preciso ficar um pouco longe de Seul. Sabem que desde a morte de minha mãe, eu nunca mas fui o mesmo, então eu acho que me mudar para um lugar diferente vai ser uma boa ideia. — falei relembrando cenas do dia em que a vi caída na cozinha.

— Sabe que onde ela estiver, ela vai estar cuidando de você, não sabe? — Hoseok falou, me abraçando junto à Minnie. Eram meus melhores amigos, sempre estiveram ali comigo, não importava o que acontecesse.

— Chega de tristeza, sim? Vamos aproveitar nossa festa de despedida! — A garota falou dando pulinhos, e nos puxou para a pista de dança, onde passamos bastante tempo dançando.

SEGUNDA-FEIRA.
UM DIA APÓS A FESTA.

Acordei e me sentei na cama, ainda de olhos fechados, esfregando as mãos no rosto. Abri os olhos lentamente, acostumando-me à claridade. Droga, esqueci de fechar a janela do quarto quando cheguei em casa... Não me lembro de nada depois do quinto copo, e não faço ideia do motivo de meu corpo doer tanto. Estou um pouco receoso em me mudar para Jeju. Vou de barco, então imagino que demorará umas seis ou sete horas até chegar na ilha.

Finalmente tomei coragem para levantar e fui para o banheiro, onde tomei um banho e escovei os dentes. Ao sair, senti uma leve dor de cabeça, provavelmente por ter bebido demais e dormido mal. Fui até o guarda-roupa e peguei a única roupa que ainda estava lá; o resto das minhas coisas já estava arrumado, pois não levaria nenhum móvel desta casa. A única coisa que levarei são minhas roupas, meu dinheiro e o colar relicário com a foto da minha amada mãe. Não conheci meu pai; ele a abandonou quando eu ainda estava no ventre dela. Sinto a dor que minha mãe sentia por vê-lo partir antes mesmo de eu nascer.

Depois de me arrumar, peguei minhas malas e chamei um táxi. Quando ele chegou, o motorista colocou minhas malas no porta-malas e entrei, logo colocando o cinto. Ao olhar para a casa, me despedi: — Adeus, mãe... Adeus a tudo que vivi aqui.

Em seguida, olhei para o motorista e acenei com a cabeça, indicando que poderíamos partir. Da minha casa até o local onde pegaria o barco eram trinta e cinco minutos, mas acabou demorando um pouco mais por causa do trânsito na cidade.

🌿

— Chegamos, senhor. Espero que possa aproveitar a viagem. A corrida deu 19.231 wons. — falou o motorista, acordando-me assim que chegamos. Aos poucos fui despertando e levantando a cabeça. Respirei fundo ao notar que realmente havíamos chegado. Agradeci por ele ter me acordado, tirei a carteira do bolso, peguei o dinheiro e o entreguei. Ao sair do carro, me alonguei e sorri ao sentir o vento frio bater contra meu rosto.

Obrigado, tenha uma boa manhã. — agradeci, sorrindo, pegando minhas malas. Ergui a alça e comecei a puxá-las até onde o barco estava. Não foi difícil encontrar, bastou seguir a fila maior de pessoas. Como eu sabia? Simples, quando fui comprar a passagem, estava quase lotado. Parece até coisa do destino ter sobrado apenas uma passagem justo quando fui comprar. Mas não acredito nessas coisas de destino, acho que é papo para criança dormir.

Respirei fundo e, quando chegou minha vez, entreguei a passagem ao homem que estava ali para receber os passageiros e entrei no barco. Era estranho, todos ali pareciam abatidos, como se estivessem fugindo de suas realidades, buscando um propósito fora da cidade grande... E quem eu quero enganar? Eu sou um deles. Sem a parte de estar triste, claro. Eu só busco algo novo, um propósito, uma vida nova. Estou indo para Jeju justamente porque quero esquecer meu passado e lembrar apenas dos meus amigos e da minha mãe que não está mais aqui.

— Oi, moço. — uma garotinha de olhos marrons e cabelos ruivos apareceu na minha frente, estendendo um doce para mim.

— Oh, não, obrigado, mas eu não como balas. — sorri minimamente.

— O senhor parece abatido, nosso deus não iria ficar feliz de vê-lo assim. — ela disse, inclinando a cabeça para o lado.

— Eu não acredito em deus. — falei, respirando fundo, sem saber a qual deus ela se referia. Havia tantos... Mas como nenhum nunca fez questão de aparecer e me ajudar quando chamei, não acreditava em nenhum. Minha fé era uma merda mesmo.

— Meu deus faz a floresta ficar saudável para termos uma boa colheita todo mês. — ela sorriu e comeu o doce que me ofereceu, mesmo eu tendo recusado.

— Todos aqui estão indo vê-lo? — perguntei, curioso.

— Todos estão indo para o vilarejo de Seongeup. A maioria já era de lá, mas quiseram mudar de destino e parece que não deu certo. Você e aquele homem são os únicos que não vi antes. — ela sorriu novamente. — Espero que goste de lá e que viva bem.

— Obrigado. — falei, vendo-a sair correndo e rindo. Olhei para o homem que ela mencionou antes de sair e ele era o único ali que parecia diferente. Não sei explicar, mas é como se não estivesse indo para algo bom. Dei de ombros e tirei um livro de minha mala menor. Seriam longas horas até lá, então precisava de algo para me distrair. Escolhi o bom e velho Hamlet, de William Shakespeare.

SETE HORAS DEPOIS.

Acordei com alguém cutucando meu ombro e me chamando. Ao abrir meus olhos, avistei um homem que parecia ser o chefe da navegação.

— Já chegamos. Se dormir aí vai acabar voltando para Seul. — ele falou, rindo. Então, me levantei e o encarei.

— Oh, obrigado por ter me acordado. E desculpe-me também, espero não ter roncado e atrapalhado os outros aqui. — falei, envergonhado.

— Não precisa se desculpar. De agora em diante, todos nós somos irmãos, e que "Ele" nos abençoe a cada dia mais. — sorriu, apertando minha mão e me guiando para fora do barco, onde me despedi com minhas malas e comecei a seguir as pessoas até a vila. Ao chegar lá, notei que estavam examinando as pessoas que entravam, talvez para verificar se estavam levando alguma doença para suas terras ou não. E na minha vez não foi diferente.

— Abra bem os olhos. — então fiz. — hm, seja bem-vindo, irmão. De agora em diante, esta será sua bíblia, estas são as palavras do nosso deus. — falou, entregando-me uma bíblia com um desenho de uma árvore no meio.

— Ah, obrigado. — não a abri imediatamente, apenas fui até o lugar que aluguei pela Internet antes de vir para cá. O quarto não era lá grande coisa, assim como esta ilha e este lugar, simples por si só. Descobri apenas após chegar que não havia Wi-Fi aqui, estava completamente sem sinal. Porra, voltei à era medieval e não sabia? Este lugar não é o que me disseram... Céus! Será que vão roubar meus órgãos e vendê-los no mercado negro junto com os dos outros? — Merda... — falei, ouvindo alguém bater na porta. Então a abri e vi um homem muito bem vestido. Ele segurava uma bengala preta com o detalhe de um leão na parte onde a segurava, e também usava uma cartola um tanto... diferente, com detalhes de vinhas e espinhos.

— Você é novo por aqui, não é? Conheço a maioria que estava naquele barco, mas você não. — ele falou, estendendo a mão para cumprimentar-me, e eu fiz o mesmo.

— Sim, sou novo aqui. O prazer é todo meu. Me chamo Jeon Jungkook. — falei, sorrindo levemente.

— Seja bem-vindo, Jungkook. É bom saber que outros querem morar em nossa ilha. Ela é grande e sempre cabe mais um. — riu, dando-me um abraço antes de se virar para sair. — Ah, temos toque de recolher à meia-noite, é uma das principais regras aqui. E às seis da tarde temos nosso culto. Espero vê-lo lá.

Ele saiu e fechou a porta. Não sei explicar, mas sentia que algo estava acontecendo naquele lugar. Havia uma energia estranha, e o pior é que não podia ligar para Hoseok para falar sobre isso. Restava-me tentar enviar cartas, algo que dava preguiça. Nunca gostei de escrever, apenas de ler. Meu "combustível" de vida era música, livros e pinturas. E tempo para isso, teria de sobra aqui, mas talvez começasse a acreditar na divindade desta terra. Não tinha medo do inferno e não acreditava que ele existisse.

Decidi que não passaria o resto do dia trancado no quarto. Não ficaria até as seis da tarde aqui dentro. Se ia morar aqui, precisava conhecer o lugar. Peguei meus fones, conectei-os ao celular e coloquei uma das músicas da minha playlist offline. Realmente amava ouvir "told you i'd be with the guys". Ao sair do quarto, tranquei a porta e saí da pousada. Algumas pessoas conversavam, enquanto crianças corriam e riam, brincando como se não houvesse amanhã. Por um momento, senti inveja de não ter vivido isso... Desde cedo, desisti das coisas que queria para ajudar minha mãe. Para mim, a melhor coisa era vê-la sorrir. Aos 8 anos, montei uma barraca de limonada para juntar dinheiro e comprar um presente bonito de aniversário para ela. Consegui, ela ficou tão feliz, mas não fui longe com minhas limonadas. Queria que eu fizesse coisas de criança, aproveitasse a infância, porque quando fosse maior, seria tarde demais. Mas não a ouvi, preferi ficar ao seu lado... E agora não tenho nenhum dos dois, nem infância, nem mãe.

Respirei fundo e desviei o olhar das crianças. Então, comecei a andar pelas redondezas. Havia bastante casas, não tão chiques como em Seul, mas tinham sua beleza simples. Continuei andando e vi algo correr dentro da floresta. Uma expressão de confusão tomou conta de meu rosto. Tirei os fones e comecei a adentrar a floresta.

— Quem está aí? — perguntei, enquanto desconectava o fone do celular e o guardava no bolso. Então, por um momento, parei de andar quando senti um enjoo e uma tontura forte tomar conta de meu corpo.

— O que... — foi a última coisa que consegui dizer antes de apagar.

🌿

Quando acordei, estava em um lugar completamente diferente de onde desmaiei. Havia uma cachoeira imensa, grandes rochas e árvores ao redor; o som da água caindo era o único som presente. Levantei-me e aproximei-me do rio; a água era clara, com pequenos peixes nadando. Agachei-me para tocá-la, mas antes que conseguisse, ouvi alguém me chamar.

— Finalmente nos encontramos.

Levantei-me rapidamente e olhei para trás. Arregalei os olhos ao ver um garoto um pouco mais baixo que eu, quase nu, cabelos esverdeados e um véu cinza cobrindo parcialmente seu rosto.

— Quem é você? — perguntei, confuso com suas palavras. Como assim "finalmente nos encontramos"?

— Terá a oportunidade de saber, mas não agora. O que posso dizer é que este lugar depende de você agora.

— Depende de mim? Do que está falando!? — aumentei o tom de voz e avancei em sua direção. Ele não recuou, mas quando estava prestes a erguer o véu, um corvo voou em meu rosto, emitindo um barulho alto e irritante. Tentei afastá-lo com as mãos e acabei recuando, caindo no rio. Sabia nadar, mas naquele momento o ar parecia ter sumido dos meus pulmões, meu corpo parecia mais pesado que o normal, afundando-me e começando a me afogar. Apaguei e comecei a ouvir vozes.

— Sr. Lee, será que ele está morto? — ouvi, despertando assustado. Percebi então que tudo não passava de um sonho confuso.

— Ele parece bem vivo para mim. — o homem mais cedo me encarava curioso. — Está bem? Minha filha o encontrou desacordado na floresta, o que estava fazendo lá?

— Eu... Eu precisava de ar, então saí para caminhar, vi alguém correndo na floresta, talvez alguém more lá, sei lá. — minha voz estava falha e meu coração ainda acelerado.

— Não há nada lá. Agora vá para seu quarto e descanse. Preciso resolver algo. — ele e sua filha se entreolharam e saíram.

— Tudo bem. — desta vez ele parecia mais sério.

🌿

— Pai, o senhor acha... — a garota ficou nervosa ao ver seu pai começar a ficar pálido.

— Fique de olho nele. Ele não pode saber de nada que envolva aquele lado da nossa ilha. — ele falou enquanto coçava a mão direita, gesto que fazia quando estava nervoso.

— A colheita deste mês não está boa. Os milhos e frutas estão estragados, e os animais estão parindo filhotes mortos... Dessa forma, vamos ficar sem comida em breve. — a garota tremia de medo só de imaginar o que poderia acontecer. — Isso é um castigo?

— Isso será resolvido em breve. "Ele" não nos deixará passar fome. EU CONSTRUÍ ESTE LUGAR! FUI EU QUEM LEVANTOU ESTE CULTO A ELE! — ele gritou, jogando com força sua bengala no chão. — E você terá apenas uma tarefa. Manter aquele garoto longe daquela parte da floresta e longe de problemas.




Continua...


Nota da autora: Sem nota.


Se você encontrou algum erro de codificação, entre em contato por aqui.