Revisada por: Hydra
Última Atualização: 30.05.2025A jovem de 23 anos tinha os olhos arregalados com tudo o que ela havia ouvido nesses quase 10 minutos. Talvez ser mãe aos 15 anos, depois descobrir que seu namorado se transformava em lobo pela “maldição” que envolve a reserva onde moram e, para finalizar, perder esse namorado para sua prima por causa de algo chamado imprinting totalmente mal explicado, não era o suficiente. Talvez ter aceitado a sugestão de sua avó maluca e ir morar longe daqui não era ruim e pensava se ainda tinha essa alternativa para ficar fora dessa insanidade para sempre.
— Leah! Está aqui? — A voz de seu pai soou mais alto e ela piscou os olhos escuros algumas vezes, feliz pela produção de lágrimas para hidratar seus olhos.
— Sim! — Sua voz saiu rápida e falhada, obrigando-a a tossir.
— Então, o que acha? — Seu ex-namorado repetiu.
— Você só pode estar de brincadeira comigo, não é, Sam? — Sua voz saiu com mais força que o esperado, deixando todos os presentes na pequena cozinha assustados, mas era Leah, não é exatamente uma surpresa.
— Leah, por favor...
— Não, não! Você vai me ouvir! — Ela se levantou, fazendo a cadeira arrastar pelo chão e apoiou uma mão na mesa, inclinando seu corpo em direção a Sam. — Depois de tudo o que a gente passou, você quer me tirar a única coisa que me mantém sã?
— Não quero te tirar a , Leah, eu quero protege-la!
— PROTEGÊ-LA DO QUÊ? — A voz de Leah atingiu um tom mais alto, fazendo a mesa tremer abaixo de si e todos se entreolharam.
— Disso! — Sam respondeu, tentando manter a calma. — De ela se tornar alguém como nós.
— Eu não sou como você! — Leah falou rapidamente.
— Ainda não. — A voz de seu pai se sobressaiu.
— Harry! — Sue a repreendeu.
— Não venha com essa, Sue! Você conhece as histórias, assim que os frios voltarem, Leah não está livre da magia... Nem o Seth!
— Maldição! — Leah o corrigiu.
— Eu sei que você odeia a ideia de se tornar lobo, de viver tudo o que eu estou vivendo, odeia o que isso fez conosco, mas você não gostaria de livrar a disso? — Sam perguntou, sendo o único a manter a calma no cômodo.
— Mas para isso eu preciso viver longe dela. — Os olhos de Leah se encheram de lágrimas e ela forçou—as para dentro, como faz há cinco anos, desde sua separação com Sam.
— Você não precisa ficar longe dela. Nós não precisamos ficar longe dela. Nós podemos visita-las sempre e...
— É... Um feriado, um fim de semana, férias... — Leah soltou um longo suspiro. — Perder aniversários, datas importantes, como andar de bicicleta sem rodinhas, as primeiras provas escolares... — Seu corpo caiu na cadeira em que estava.
— Eu sinto sobre isso também. — Sam deu a volta na mesa, se sentando na cadeira mais próxima dela. — Mas é o mínimo que podemos fazer para evitar que isso aconteça com ela. — Leah recuou a mão quando Sam tentou tocá-la.
— E ela nunca saberia de nada disso? — Leah perguntou baixo.
— Quanto menos ela souber, menos curiosidade ela vai ter. — Sam disse.
— Forks é pequena, La Push menor ainda, minha mãe pode cria-la para ser forte, independente... — A voz de Sue saiu calma.
— Eu quero cria-la, mãe... — A voz de Leah saiu em um sussurro.
— E você quer cria-la aqui? Perto dos lobos? Em Forks? Com uma vida simples?
— Eu nunca vi problema nisso, mãe.
— Não, mas você sempre quis ir embora, fingir que nada disso aconteceu... — Sue disse. — Esquecer a magia, as lendas, os Quileutes... — Leah engoliu em seco.
— Ela nunca teria isso? — Ela ignorou as falas da mãe e disse um pouco mais alto, focando principalmente em seu pai. — Se ela viver longe daqui... Ela nunca vai se transformar em lobo? Não vai precisar saber sobre isso e...
— Se ela ficar longe, não. — Sam disse e Leah respirou fundo.
— Onde ela está?
— Lá fora, brincando com meu filho. — Billy disse e a mais nova se levantou de onde estava.
— Leah...
Ela abanou a mão, seguindo em direção à porta e encontrou uma pequena roda de meninos ali no meio, todos de idade semelhantes. O filho dos Black, dos Ateara, dos Call e seu irmão mais novo, Seth, estavam em uma rodinha com , sua filha. Ela mexia no cabelo do menino dos Black que é quase tão grande quanto o seu. Ela tentava copiar as tranças que Leah fez mais cedo em seus cabelos.
Leah fraquejou quando ouviu a gargalhada da menina quando ela olhou o resultado no cabelo do menino e Leah riu junto de outra risada ao seu lado. Ela ergueu o rosto para sua prima, Emily, elas sempre foram coladas até o imprinting de Sam nela, depois disso a relação ficou completamente intragável. Afinal o tal imprinting parecia conversa de quem traiu e queria se livrar dessa.
— O que você acha que eu devo fazer? — A voz de Leah saiu antes de ela pensar sobre, fazendo Emily até se surpreender com a conversa.
— Sobre ? — Ela perguntou e Leah somente deu um aceno com a cabeça. — Não acho que eu deva palpitar sobre isso...
— Tente... — Leah disse em um sopro, vendo a cicatriz no rosto de sua prima se esticar em surpresa.
— Não acredito que vocês consigam mantê-la longe daqui para sempre, ela é curiosa demais já com oito anos... Mas vocês podem evitar a magia se manterem-na longe dos frios quando eles voltarem. Ao menos evitar a faseação. — Emily puxou a respiração forte. — Não é garantia, mas...
— Quanto é longe? — Leah interrompeu sua prima.
— Só fora da reserva, fora de Forks...
— Flórida? — Leah perguntou.
— É longe o suficiente. — Emily disse. — Até demais, na verdade. — A risada de Emily saiu fora de contexto, fazendo—a se calar logo em seguida.
— E se não der certo? E se eu perder esse tempo com ela? — Leah perguntou.
— Então peço que faça essa pergunta para si mesma: você quer sua filha nesse mundo ou prefere tentar? Mesmo que as chances sejam pequenas?
Leah desviou o olhar de sua prima com essas palavras e respirou fundo. A gargalhada de ecoou novamente e ela fazia cócegas em seu tio três anos mais novo. Ela sentiu um aperto em seu ombro e se virou, encontrando Sam ali. Ela optou por não causar problemas agora, tinha coisas piores para pensar.
— Ela vai ficar bem. — Sam disse.
— Como pode ter tanta certeza? — Ela perguntou.
— Eu não tenho. — Ele foi honesto. — Mas é uma chance. A única chance.
— Eca! — Suspirei ao passar as mãos nos cabelos, sentindo—os extremamente secos.
Acho que o estresse das provas finais estava começando a aparecer, mas tinha que ser justo no meu cabelo? Ele costuma estar tão bem, tão hidratado e agora literalmente parecia uma das folhas secas que escapavam da grande árvore nos fundos da casa.
Abanei a cabeça, passando os fios pelos cabelos, tirando o restante dos nós e atravessei minha parte do quarto, abrindo o armário e vi o cabideiro no mesmo, encontrando um chapéu marrom, pouco mais claro que meus cabelos. Talvez seria bom o suficiente para esconder esses cabelos até eu conseguir fazer uma hidratação mais adequada...
Amanhã! Porque as chances de terminar a festa com cerveja no cabelo eram grandes. Muito grandes.
— EI, NOVATA! — Inclinei meu corpo para a janela, abrindo—a para o lado esquerdo e vi Jena lá embaixo. — VEM... — Franzi a testa quando o teste de som começou na mesma hora, fazendo somente seus lábios se moverem em um “ajudar”.
— ESTOU INDO! — Gritei de volta, não acreditando que ela tenha ouvido, mas eu havia entendido que era para descer.
Me sentei novamente na cama, colocando os coturnos pretos de saltos grossos e dei uma rápida entrada no banheiro para passar um batom marrom nos lábios. É, seria um dia interessante!
Saí do quarto enquanto vestia um casaco estilo quimono com uma estampa de folhagens e franzi os olhos com o som alto. Se estava assim às quatro da tarde, imagina como ficaria no final do dia. Meus tímpanos talvez estourassem e eu morava aqui há pouco mais de três meses e tivemos ao menos cinco festas, sem contar as festas das outras fraternidades na rua.
— O que precisam? — Parei atrás de Kathlyn, atual coordenadora da Delta Gamma.
— Ah, uma ajuda, graças a Deus! — Ela disse em um pulo. — As bebidas chegaram, poderia ajudar o pessoal? — Ela indicou a porta.
— Uhum! — Falei, girando os pés no carpete e descendo o último lances de escadas, dando em frente à porta aberta.
A bagunça na casa era a mesma de todos os dias de festa. Organizadores para todos os lados, as moradoras da fraternidade enroladas entre se arrumar ou ficar bonitas para os meninos da Alpha Tau Omega — nossos vizinhos de frente —, entre outras coisas. Parecia um tanto bagunçado, mas havia realmente encontrado uma família, já que o contato com a minha são duas vezes ao ano, férias de verão e Natal.
Apesar do pouco contato, não poderia reclamar sobre minha família. Eles moram no norte do estado de Washington, Forks, uma cidade minúscula com pouco mais de três mil habitantes. Para as pessoas acharem que eu sou legal, falo que sou de Vancouver, que é ao atravessar a fronteira. Papai é guarda florestal, bastante ocupado, e minha mãe trabalha com meu avô na barraca de comidas em La Push, a praia da reserva. Falar que eu moro em Forks talvez seja até elogio, mas eu sou natural de La Push mesmo, uma pequena e antiga aldeia indígena.
Vim morar em Miami com minha bisavó exatamente pelas condições. Mamãe e papai queriam que eu tivesse mais do que só a reserva, mas por algum motivo eles pareciam apegados demais àquele local do país. Bem, das poucas fotos da minha infância naquele lugar, eu realmente era feliz, mas uma cidade com três mil habitantes comparado com Tampa que possui quase 14 mil por cento a mais... Acho que eu gosto da vida um pouco mais agitada do que passar os fins de semanas pescando com meu avô materno e jantar na única lanchonete decente da cidade. Sem contar que eu realmente odeio peixe.
Mas eu ainda sou feliz, mamãe e papai não são exatamente os mais simpáticos quando estão juntos — afinal, quem seria quando meu pai largou minha mãe para ficar com a minha tia favorita? — mas eles faziam tudo para me agradar quando vinham passar o tradicional mês de julho e de dezembro... Quando dava. Nas férias do fim do ano eles não vieram, já que meu avô faleceu por um ataque cardíaco durante uma caçada, mas com minha aprovação na Delta Gamma, consegui outras formas de me distrair.
— Oi, ! — Sorri para os meninos da ΑΤΩ quando eles chamaram meu nome e alguns até assoviaram.
— Precisam de ajuda com isso? — Parei ao lado da camionete, apoiando o braço na porta do motorista.
— Você pode nos ajudar falando onde pode colocar, lindinha! — Matthew disse, soltando um gemido ao colocar o barril no gramado.
— Tem certeza de que só precisa disso? — Franzi os lábios e os dois meninos em cima do caminhão deram risadinhas provocativas.
— Claro, gata! O que você quer fazer? Carregar para dentro? — Ele riu fracamente.
— Bem... — Coloquei a mão na alça do barril, erguendo-o alguns centímetros do chão com uma mão.
— Não vai se machucar, gatinha! Você pode quebrar um osso assim. — Otis disse e contive uma risada para mim.
— É claro! Por que vocês não me seguem? Eu os mostro o lugar. — Falei, fechando minha mão em dois barris e os ergui com facilidade, caminhando para a entrada dos fundos da casa.
Não os vi se eles me seguiram, mas falar que eu era magra só por ser magra era literalmente o fim da picada. E não sei o que tanto Matthew estava morrendo de suar e ficar mais vermelho do que um pimentão, isso era incrivelmente leve! Segui perto do bar improvisado e deixei os dois barris lado a lado, depois peguei um deles e os empilhei.
— Já sabem onde colocar! — Falei, virando para Matthew, Otis e Simon que me olhavam com os olhos arregalados. — O que foi?
— Esses barris pesam pelo menos 25 quilos. — Matthew disse apontando para ele.
— Eu puxo bem mais do que isso na academia, ok?! — Falei rindo.
— Será que esse corpinho forte tem outra utilidade além de erguer barris de chope? — Otis perguntou, se apoiando no barril e fechei os olhos quando o barril tombou, caindo no chão.
— Tem sim, mas nenhuma que você vai descobrir. — Sorri, me aproximando do barril e o ergui com uma mão, deixando lado a lado. — Só não vai se machucar, ok?! — Levei a mão até o rosto de Otis, dando dois tapinhas de leve.
— Nossa, ! Você está quente! — Ele falou, se afastando.
— Hum, obrigada? — Franzi os olhos.
— Não, quente de verdade! — Ele levou as costas da mão para o meu pescoço. — Uau! Você está queimando de febre! — Levei a mão para minha testa, não sentindo nada diferente.
— Não estou, não! — Falei firme e foi a vez de Matthew levar a mão para minha testa.
— Ouch! — Ele reclamou. — Você precisa ir para enfermaria, ! Você deve estar com alguma coisa. — Suspirei.
— Eu estou bem! — Dei de ombros, dando alguns passos para trás, sentindo esbarrar em alguma coisa.
— Se você está com febre, , vá para a enfermaria agora. Não quero ninguém passando mal na festa. — Kathlyn disse firme e suspirei. Não tinha como fugir.
— Ela nunca está aí! Vou ficar lá a tarde toda. — Bufei, sentindo a loira passar as mãos em meu rosto e pescoço.
— Você vai falar com ela agora! Você está fervendo! Como você está bem? Você deveria estar na cama, mulher! — Revirei os olhos.
— Eu vou, ok?! — Ergui as mãos em sinal de rendição.
— E não volte aqui sem um atestado e uma prescrição médica! — Ela disse firme e bufei, revirando os olhos.
Saí da casa da fraternidade, andando pelas calçadas, vendo várias outras fraternidades fazendo algum tipo de programação, seja lavar carros, brechós, distribuição de mudas para plantio, entre outros, e fui até a pequena casa no final da rua sem saída. O pequeno posto de saúde das fraternidades. Deveria ser, mas era mais uma mulher em uma cadeira que normalmente não estava aqui pela falta de utilização. Talvez amanhã ela trabalhasse mais pelo excesso de bêbados precisando de algo a mais para conseguir ao menos caminhar até a prova de quarta—feira.
— Helga! — Bati duas vezes na porta. — HELGA! — Bati novamente, suspirando, fechando as mãos em punhos, me assustando quando minha mão atravessou a madeira da porta.
Minha mão ficou parada por alguns segundos enquanto eu me recompunha. Tirei minhas mãos devagar do meio da madeira, arfando quando uma madeira raspou em meu braço e um corte foi feito. Olhei para o risco em meu pulso e as pequenas gotas de sangue começando a aparecer dali.
— VOCÊ ESTÁ LOUCA? — Vi o rosto rechonchudo de Helga aparecer pelo buraco e ela abriu a porta. — Eu só estava no banheiro.
— Me desculpe! Eu não... Eu—eu... Eu não sei o que houve, acho que a madeira estava podre. — Suspirei.
— Você vai pagar!
— Eu pago, pode deixar! Me mande a conta! — Falei, franzindo os lábios.
— O que você quer? — Notei—a com as mãos nas calças e ela a abotoava, indo para dentro.
— O pessoal acha que eu estou com febre e me obrigaram a vir aqui. — Falei desanimadamente, entrando atrás dela e fechei a porta devagar, contendo qualquer tipo de movimento que eu não gostaria.
— Vem cá e senta. — Ela disse e entrei na pequena salinha, subindo os dois degraus que davam para a maca e me sentei na mesma. — Tire o casaco. — Joguei os ombros para trás, deixando o pano fino escorregar de meus braços e ela pegou o termômetro, se aproximando de mim. — Braço! — Ergui o braço de leve, sentindo a ponta gelada do termômetro e abaixei o braço segurando o mesmo. — Tem algum outro sintoma?
— Eu estou bem! — Falei firme e suas mãos foram para meu pescoço.
— Você não está bem, você está queimando. — Ela disse. — Não sente nada?
— Nope! — Falei debochadamente.
— Dores nos músculos?
— Não!
— Ao engolir?
— Nã—não! — Continuei.
— Calafrio? Suor? Irritação na pele? — Fui negando. — Fadiga? Mal-estar? Perda de apetite? — Parei.
— Ah, isso sim, mas estamos nas provas finais, Helga. O que você espera? — Falei rindo. — É difícil dormir quando precisa estudar!
— Nem tudo é por causa das provas finais. — Ela disse sugestivamente.
— O que está querendo dizer? — Perguntei.
— Mononucleose é comum entre os jovens da sua idade. — Ela disse rindo.
— Mono o que? — Franzi a testa.
— Conhecida como a Doença do Beijo. E a senhorita é bem popular, senhorita Clearwater. — Suspirei, revirando os olhos.
— Só estou me divertindo. — Dei de ombros.
— Braço! — Ela disse e segurei o termômetro antes de erguer o braço, entregando a ela. — 42 graus, ! — Ela disse assustada.
— O QUÊ? — Falei surpresa. — Eu deveria estar morrendo, não?
— SIM! — Ela disse firme e agora foi minha vez de arregalar os olhos. — Você vai para casa agora, vai tomar o banho mais gelado que conseguir e vai descansar. Sem festas para você hoje, mocinha. — Revirei os olhos. — Vou te dar uma receita de medicamento e você vai pedir para alguém comprar com urgência para você. E vai avisar seus pais. Eles vêm quando?
— Primeira semana de junho! — Falei aleatoriamente.
— Eles vão vir antes. Isso é sério! — Ela virou para a mesa e pude ouvir a caneta rabiscando no bloco com força. — Você ligue para seus pais e os chame o mais rápido possível, se essa febre não baixar, eu vou te internar. Só não faço isso agora, porque preciso que um médico venha avaliar. E ele vai fazer isso amanhã! — Suspirei e ela me esticou duas prescrições. — Remédio e descanso! — Ela disse firme.
— Ok, ok! — Abanei a mão.
— Dúvidas? — Ela perguntou.
— Não, não... Na verdade, eu cortei meu braço com aquele pequeno acidente e... — E virei o braço, não encontrando o filete de sangue e virei o outro, tentando procurar e parecia que nada tinha acontecido.
— Perdeu alguma coisa? — Ela perguntou.
— Acho que eu me enganei, deve ter sido só uma farpa. — Suspirei, pulando da maca.
— Me escutou, não escutou, ? — Ela perguntou e suspirei.
— Sim, Helga! Banho, descanso, remédios, pais e nada de festa! — Falei entediada.
— Ótimo! Do contrário eu ligo para sua coordenadora! — Suspirei, abanando a mão e coloquei o casaco novamente.
— E me manda a conta da porta. — Falei.
— Eu me resolvo com eles. — Ela disse e assenti com a cabeça, dando um curto sorriso.
Saí do pequeno posto médico e peguei meu celular no bolso, procurando o número de casa. Mamãe deveria estar na praia, mas minha avó poderia estar em casa. Suspirei, esperando a ligação tocar algumas vezes e sei que estávamos há três fusos de distância, mas era uma e meia para eles já.
— Você ligou para a casa dos Clearwater, deixe seu recado após o bipe. — Ouvi a voz de minha avó.
— Ei, nana, tudo bem? Meus pais estão em casa? Eu estou ruim, com febre e a enfermeira mandou eu ligar para vocês que pode ser algo sério. Ela disse que é algo tipo mono... Mononucleo... Ah, sei lá, não entendi muito bem. Hoje tem festa, mas devo ficar de molho no quarto, me liguem quando puder. Beijos. — Enviei, desligando a ligação logo em seguida.
Enquanto eu mandava a mensagem, eu cheguei de volta na casa, vendo os meninos trabalhando novamente, me fazendo suspirar. Perder a última grande festa do fim do ano antes das férias de verão era a pior coisa possível. Ao menos ainda tinha mais maio inteiro e poderia ter algo para me animar.
— E aí, , tudo bem? — Matthew perguntou.
— Não, não está! Estou de castigo. — Suspirei. — Posso ter Mononucleose.
— Hum, a Doença do Beijo. — Otis me zoou e revirei os olhos.
— Se isso pode ser passado pelo beijo, eu daria uma checada, se fosse você! — Pisquei para ele, ouvindo o grito dos outros amigos e segui para dentro da casa novamente, encontrando Jena.
— Ei, ouvi que não está bem. — Ela disse.
— É, sem festa para mim. — Mostrei os papéis.
— Que chato! Melhoras! — Ela disse e assenti com a cabeça.
— Pode deixar! Boa festa! — Suspirei, subindo os degraus quase me arrastando. Ao menos eu teria tempo o suficiente para pensar em como eu consegui fazer um buraco na porta só por bater nela... Era totalmente irreal!
Observar as táticas de treino do sanguessuga era algo que não me agradava. A ideia de se juntar a eles para proteger Bella não era uma das minhas favoritas, mas adoraria morder alguns sanguessugas só por diversão. E Bella precisava de qualquer ajuda possível para evitar o ataque iminente.
Eles falaram diversas vezes sobre “recém-criados”, essa expressão passou diversas vezes em minha cabeça, mas ainda não conseguia entender com perfeição a diferença de um recém-criado para os vampiros adultos. Eles eram mais fortes por ter sangue humano correndo nas veias ainda, mas os desprezava da mesma forma.
Jasper, namoradinho da louca, tinha ajudado a criar exércitos de recém-criado, tanto que foi criado com esse propósito, mas a experiência militar dele da sua “vida humana” parecia ser bem interessante para o que precisamos.
Ele só nos deu duas dicas: não deixar que nos abraçam de costas e não ir direto para matar.
Não estava com planos de dançar com ninguém, queria ir direto para a cabeça, mas a louquinha disse que os recém-criados não conseguiam nos ver, então talvez nos dê alguma vantagem. Vampiros e lobos trabalhando juntos já era interessante, agora em guerra? Pior ainda.
Hoje só observamos. Nem tínhamos intenção de machucar esses sanguessugas, o que aconteceria caso nos levassem para o treino deles, mas precisávamos conversar na alcateia para analisar o que poderíamos alterar para a nossa realidade. A mente de todos, inclusive de Sam, ficou quieta durante a apresentação, mas veríamos as opiniões quando chegássemos na reserva novamente.
— Alguns de vocês se machucarão... — Bella disse quando me aproximei dele. — Alguns podem morrer por minha causa... — Virei a cabeça em sua direção, deixando a risada contida na garganta do lobo. — Vai ser cem vezes pior do que isso.
Você não precisa se preocupar com isso.
Foram as palavras que vieram em minha cabeça, mas a forma de lobo não me permitiu externalizá-las. Somente inclinei minha cabeça em sua direção e senti um carinho entre as orelhas, me fazendo suspirar em alívio e quase sorrir.
Meu rosto se ergueu para Edward com o nariz e lábios franzidos, como se tivesse cheirado algo que não gostasse, e desviei de ambos, seguindo pelo mesmo caminho em que o restante da alcateia seguiu. Dei uma última olhada para eles antes de seguir o caminho por entre as árvores.
As patas bateram com cada vez mais força no chão, seguindo os outros lobos. Não demorou mais do que segundos para eu avistar a casa de Emily e Sam. Esvaziei minha mente, fechando os olhos e senti o ar parar de sacudir a minha volta. Me vi de pé novamente e segui até as roupas jogadas na entrada e coloquei uma bermuda antes de entrar na casa.
— Então, como foi? — A voz de Emily se fez mais alta enquanto ela colocava vários pratos na mesa redonda.
— Não foi terrível. — Sam foi o primeiro a dizer.
— É... Não foi. — Falei, colocando um pedaço de pizza na boca.
— Não vejo motivo em fazer isso. — Leah disse.
— Já conversamos sobre isso. — Sam falou e Leah revirou os olhos.
— Claro, chefe! — Ela disse com desdém em sua voz, o que fez os mais novos rirem entredentes.
A relação deles não era exatamente fácil, mas também não posso julgar. Sam e Leah namoraram quando mais novos e tiveram algo bem sério, mas pelo imprinting de Sam com Emily, Leah ficou em segundo plano. Mas após a morte de Harry e com mais sanguessugas a nossa volta, a magia apareceu em Leah — seu irmão Seth — e agora precisamos aguentar o drama do triângulo amoroso.
— Precisamos fazer nossos próprios treinos. — Sam disse.
— Deveríamos arranjar isso para mais tarde, isso vai acontecer em dois dias... — Falei.
— Vocês tomarão cuidado, não? — Emily disse. — Todos vocês. Não quero nenhuma perda do nosso lado por causa disso.
— Tomaremos cuidado, querida. — Sam disse carinhoso como sempre e aquilo até me fez sorrir.
Apesar de toda melação que o imprinting causava, talvez ter alguém que me trate assim não seja tão mal.
— Cuidado com os pensamentos, Jake. — Embry disse e fui pego pelos olhos de outros.
— Só estou dizendo... — Dei de ombros.
— Acho que temos outros problemas para lidar antes disso, Jacob. — Sam disse.
— Dá para não ficar lendo meus pensamentos? — Pedi irritado.
— Dá para não pensar com esse tom de pena? — Leah disse e revirei os olhos. — Tem gente com problemas piores...
— É... Bella! — Sam disse firme. — Vamos ajuda-los e nos livrar de vários problemas, pode ser?
— E arranjar umas bocas para o Jake beijar. — Jared me zoou e revirei os olhos.
— Vocês são terríveis. — Falei, enfiando outro pedaço de pizza na boca.
— Leah? Sam? — Me assustei com Sue, mãe de Leah e Seth, entrando na casa de Emily.
— Oi, mãe! O que está fazendo aqui? — Leah se levantou apressada junto de Seth.
— O que aconteceu, Sue? — Sam perguntou.
— Eu acabei de receber uma ligação da ! — Ela disse e a postura de Leah e Sam mudou automaticamente, quase como se estiverem mudando novamente.
— O que aconteceu? Ela está bem? — Leah perguntou apressada.
— Ela está com mononucleose!
— O QUÊ? — Leah falou rápido, virando para Sam. — VOCÊ DISSE QUE ELA NÃO TERIA PROBLEMAS COM ISSO.
— Como assim ela tem mono, Sue? Ela está há milhares de quilômetros daqui! — Sam disse.
— ELA ESTÁ MUDANDO? EU FIQUEI LONGE DELA PARA NADA?
— Gente, por favor! Vamos nos acalmar! — A voz de Sue se fez no meio de todas.
— Não, mãe! Como assim a tem mono? Você sabe o que acontece depois disso. — Leah disse.
— E onde ela está agora? — Emily perguntou firme.
— Na faculdade, não?! — Sam falou rápido.
Eu não tinha a mínima ideia de quem é , mas todos na sala sabiam o que mononucleose significava, especialmente se você tinha alguma relação com a tribo Quileute. Essa tal estava se transformando em lobo e isso irritava Leah de uma forma que eu nunca vi.
— SILÊNCIO TODOS! — A voz de Sam saiu mais alta a ponto de minha cabeça tremer. — O que disse? — Ela virou para Leah.
— Que ela tem mononucleose e está com febre. — Sue disse. — Tinha uma festa hoje, mas vai descansar para ver se melhora.
— A titia está se transformando? — Seth perguntou.
Tia?
— Quais são as chances de ser realmente só mononucleose? — Sam perguntou.
— Com a nossa experiência? Nenhuma. — Paul disse em seu tom debochado.
Cala a boca, Paul! As vozes em minha cabeça ficaram mais altas.
— O que a gente faz, Sam? Isso não estava nos planos de 10 anos atrás, estava? — Leah disse com a voz debochada.
— Muita coisa não estava nos planos de 10 anos atrás, Leah. De 20 anos atrás não estavam. — Sam disse, fazendo a voz rosnar no meio do caminho.
— Onde ela está, mãe? — Leah ignorou Sam, se virando para ele. — Onde está minha filha?
— FILHA?! — Os pensamentos saíram mais altos que o esperado, misturados com outros membros da alcateia.
— Ela está em Tampa ainda. — Sue disse. — Não sei quanto tempo ela tem. — Ela disse.
— Eu preciso falar com ela agora. — Leah disse, saindo correndo apressada da casa.
— Vá com ela. — Emily sussurrou para Sam e ele não pensou duas vezes antes de seguir Leah e Sue foi junto.
O silêncio reinou entre as outras sete pessoas da casa e o olhar foi para Emily automaticamente. O rosto sempre sereno apesar da grande cicatriz do lado esquerdo parecia evitar olhares agora enquanto escondia os lábios atrás de uma xícara.
— A gente vai ter que perguntar mesmo? — Quil foi o primeiro a falar e Emily soltou um suspiro.
— Não é meu dever contar a vocês. — Emily disse. — Sam é o alfa, se ele não contou, é porque não queria que soubessem.
— Do que está falando, Emily? — Seth perguntou. — Estamos falando da tia ?
— Seth, por favor... — Emily suspirou.
— Você está brincando, certo? É por isso que a mora na Flórida? Evitar que ela se transformasse? — O mais novo começou a se exaltar, fazendo o silêncio reinar. — Agora ela está lá? Se transformando sozinha? É isso? Sem ninguém para ajudá-la? — O mais novo socou a mesa, fazendo seu prato quebrar em dois. — NO MEIO DE UMA FRATERNIDADE UNIVERSITÁRIA?
— Não sabíamos que a magia seria forte a esse ponto, Seth. Ela está há mais de cinco mil quilômetros daqui, isso não deveria acontecer! Foi uma decisão da sua irmã e de Sam quando ele se transformou. Eles queriam proteger a a todo custo... — Emily disse. — Eu só respeitei a decisão deles.
— Não acredito nisso. — Seth disse, saindo apressado da casa e em dois passos ele se transformou, sumindo de minha visão rapidamente.
O silêncio prevaleceu por mais alguns segundos e ninguém se atreveu a falar nada, mas eu era o segundo em comando, caso eu precisasse decidir isso alguma vez, então os olhares se viraram para mim o que me obrigou a falar algo.
— Ok... — Suspirei. — Só para ter certeza... — Falei calmamente e Emily se virou para mim.
— Leah e Sam tiveram uma filha quando namoraram e ela está escondida na Flórida para não sofrer a magia da tribo. — Emily disse rapidamente. — O que claramente não deu certo. — Ela largou a xícara, saindo apressada para fora de casa e só consegui passar a mão na cabeça, respirando fundo.
— Ok... — Respirei fundo.
— Mais alguém em choque? — Embry perguntou.
— Isso é fodido! — Paul falou.
— Ninguém sabia disso? — Perguntei.
— Nã—nã—não. — Jared disse.
— Eu não sei o que me assusta mais, o segredo ou essa menina estar se transformando em lobo no meio de uma faculdade... — Falei, vendo os olhos se erguerem para mim com pressa.
— Um lobo?
— No meio da Flórida?
— Em uma faculdade? — As vozes se misturaram.
— MERDA! — O grito de todos ficou mais alto, fazendo com que largássemos tudo e seguíssemos correndo em direção à casa de Sue, ou onde é que eles estavam indo.
A música tocava alta lá fora, as paredes tremiam pelo volume e eu já havia desistido de fazer diversas coisas. Tentei estudar, tentei terminar meu trabalho, tentei até dormir, mas isso não seria possível até, pelo menos, o dia amanhecer, e estava longe disso.
Levantei da cama na pressa novamente e fui até o banheiro, pegando mais uma toalha. A enrolei e me aproximei da janela, colocando—a nas frestas e tentando prender com fita crepe. Tive a impressão de que o som foi abafado, mas durou somente alguns segundos quando a fita não aguentou o peso da toalha e foi para o chão novamente.
— Ótimo! Perfeito!
Apoiei as mãos no batente da janela e observei a festa que acontecia lá embaixo. Toda a rua deveria estar em nosso gramado e a quantidade de copos e bebidas espalhados pelos cantos faziam eu me arrepender de ser uma tremenda beijoqueira. Pelo menos não era herpes e nem DST... Eu espero.
Passei os olhos pelos conhecidos lá na festa e meus lábios se alargaram quando encontrei Otis e uma nojenta da Kappa Sigma se agarrando perto da cerca. As mãos dele se movimentavam pelo corpo dela, quase se fundindo e senti algo subir pela garganta. Poderia ser vômito ou choro.
— FILHO DA PUTA! — Minha voz saiu alta, fazendo a garganta tremer, mas isso não fez ambos se separarem.
Não que eu e Otis tivéssemos um relacionamento, longe disso, mas tínhamos alguma coisa e eu estava incrivelmente esperançosa por essa festa para ver se algo realmente aconteceria conosco. Foi só eu sumir de sua vista que ele pegou uma qualquer. Filho da puta!
Estendi o dedo do meio para a janela, na expectativa que ele pudesse ver e puxei o blecaute para baixo com pressa. Desviei o rosto da janela e me sentei na cama novamente, me encarando na frente do espelho. Otis não valia nada. Nenhum homem vale nada, essa é a realidade.
Respirei fundo, tentando manter a calma, mas a visão do beijo voltou aos meus pensamentos e senti os ombros doerem de tensão. Meus olhos negros me encararam de volta no espelho e a respiração saía forte de meus lábios. O corpo quente da febre fazia com que meu corpo exalasse uma fumaça deles, mas eu não sentia calor por isso.
— Será que esse corpinho forte tem outra utilidade além de erguer barris de chope? — A voz de Otis apareceu em minha cabeça novamente.
— Tem sim, mas nenhuma que você vai descobrir. — Minha risada saiu trêmula e algo pareceu crescer dentro de mim.
Fechei meus olhos e senti algo pulsar em meu peito, uma energia estranha e forte guiada pela raiva. Era como se eu não estivesse mais em meu corpo, como se eu conseguisse expandi-lo e pudesse pegar a cabeça de Otis e esmagar como um inseto.
Meus olhos se abriram novamente com um barulho forte e percebi que eu não encarava mais meus cabelos negros e lisos, agora eu encarava um lobo. Um lobo enorme e avermelhado. Dei alguns passos para trás, ouvindo mais barulhos altos e notei que meu corpo estava quebrando as camas, as escrivaninhas e os móveis. Meu corpo de lobo.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?
Meu corpo caiu para trás como um cachorro e minhas pernas e braços se movimentavam como se eu estivesse pegando fogo.
ISSO É UM SONHO! ISSO É UM SONHO!
Girei meu corpo, encarando a pelagem brilhante e o grande rabo me seguindo e um grito saiu de minha garganta, mas não era um grito humano, era um uivo. Uivo de lobo.
DEUS, O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?
Eu não conseguia falar, minha voz saía em formato de uivo, granido ou similar ao choro de um cão.
ISSO É UM SONHO! ISSO É UM SONHO!
Meus pés — ou patas — deslizaram no chão e percebi que a roupa que eu usava antes estava em pedaços perto da cama e foi como se o rugido saísse com mais força de minha garganta, se assemelhando a um lobo de verdade.
Me assustei quando a música parou e me deitei no chão, tentando me esconder pela sombra que poderia vir do blecaute.
— Alguém ouviu isso?
— O que foi isso?
MERDA!
O silêncio prevaleceu para o que foi alguns minutos. Me sentia uma fugitiva, como se alguém pudesse entrar aqui e ver o que eu era, no que eu havia me transformado. Seria ótimo pedir ajuda, mas eu poderia ser internada em um hospício se falar que me transformo em lobo, ou pior, levar um tiro do primeiro guarda que aparecer.
GUARDA!
PAI!
Será que eles sabem disso? Será que é por isso que eles não largam aquela vidinha em La Push?
Lembre-se das histórias, !
A voz de meu pai soou em minha cabeça quase como se estivesse ao meu lado e precisei olhar em volta para ter certeza de que ele não estava abrindo a porta do quarto.
Pai?
As histórias, !
A voz me respondeu e respirei fundo.
Ok, as histórias!
As histórias. Tribo Quileute, tribo indígena, símbolo de lobo, Taha Aki. Taha Aki se separava do corpo para procurar por ameaças à tribo, um dia seu corpo foi morto e ele pediu a um lobo para compartilhar seu corpo. Taha Aki voltou a ser humano quando suas emoções se tornaram grandes demais para o lobo. Taha Aki gerou muitos filhos e, segundo as lendas, eles também poderiam se transformar em lobos.
EU POSSO ME TRANSFORMAR EM LOBO?
A voz não respondeu.
PAI?!
MERDA!
COMO EU VOLTO AO NORMAL?
Meu corpo foi em direção ao banheiro, olhando o largo corpo do lobo pelos diversos espelhos e a respiração acelerada retornou ao meu corpo.
Não olhe, . Não olhe!
Desviei meu corpo, sentindo a cauda derrubar alguns produtos e quebrar outras coisas.
DROGA! DROGA! DROGA! O PERFUME CARO DA VANESSA!
Observei as coisas quebradas e tentei sair dali devagar. Meu corpo escorregou no tapete e perdi meus sentidos quando minha cabeça bateu com força na banheira.
— ? ? — Entreabri meus olhos devagar, tentando me localizar no espaço e me assustei quando a porta se abriu com força. — Ah, você está aqui! — Identifiquei Kathlyn na porta. — O que aconteceu aqui?
— O quê? — Franzi a testa e percebi que ainda estava no banheiro.
— Hum, alguém fez sua própria festa. — Ela disse rindo. — Você sabe que vai limpar tudo isso, não sabe? — Ela disse e ergui meu corpo, vendo várias coisas quebradas e destruídas no banheiro.
— AH, MEU DEUS! — Olhei rapidamente em volta e percebi meu corpo completamente nu no chão.
— Eu não quero saber. — Kathlyn disse. — Mas as meninas estão bravas que você quebrou as camas e a escrivaninha.
— Mas eu não... Eu... — Olhei em volta. — Eu não sou um lobo...
— Lobo? Que? , já falamos que drogas estão proibidas aqui... — Me levantei rapidamente, puxando a primeira toalha que vi.
— Eu não sei o que aconteceu ontem à noite, mas eu preciso ir para casa! — Falei firme, enrolando a toalha ao redor do corpo.
— Oh, espera aí! — Kathlyn me parou. — Você vai explicar o que houve aqui e... , você fez uma tatuagem?
— O QUÊ? — Virei meu corpo para o espelho quebrado e notei uma tatuagem preta e redonda em meu braço direito. Era um desenho tribal, mas não sabia o que estava acontecendo e nem como tinha aparecido ali.
— Você tem muito o que explicar, Clearwater. — Kathlyn disse.
— Eu não faço a mínima ideia do que aconteceu aqui, Kath, mas eu preciso falar com meu pai. — Falei com a respiração pesada. — Me manda a conta das coisas, mas eu preciso falar com meu pai. — Respirei fundo, seguindo até a porta.
— Você vai sair assim? — Vanessa, que estava na porta, perguntou e olhei para meu corpo em volta da toalha novamente.
— É melhor não...
— Atende, atende… — A voz baixa de Sue saía com força enquanto ela segurava o telefone perto da orelha.
— Eu consigo sentir, Sam. Já aconteceu! — Leah disse. — E se a mataram?
— Leah! — Sam a repreendeu.
— Não fale uma coisa dessa, mana! — Seth falou firme.
— É um lobo gigantesco no meio da Flórida. O que acha que vão fazer? — A voz de Leah saiu mais alta. — O chefe Swam estava atrás de vocês ano passado, o que você acha que vai acontecer em uma cidade como Tampa?
— Não está ajudando, Leah! — Sam disse.
— ALÔ? — A voz de Sue ficou mais alta, fazendo todos focarem na mais velha. — Sim, eu sou avó de Clearwater. — Sue esperou. — COMO ASSIM ELA NÃO ESTÁ AÍ? ELA ESTAVA AÍ ONT... Ela foi embora? Para onde?
— Se algo aconteceu com ela, Sam... — Leah ameaçou o alfa da matilha e sabia que agora tinha muito mais em jogo do que alcateia e alfas, era a filha deles.
— O que aconteceu, Sue? — Emily perguntou quando Sue desligou o telefone.
— Ela foi embora. Disse que foi atrás do pai. — Sue disse.
— Falaram algo sobre lobo ou... — Perguntei.
— Não, mas disseram que ela enlouqueceu durante a noite e quebrou vários móveis e fez uma tatuagem... — Os membros da alcateia se entreolharam.
— Uma tatuagem? — Leah perguntou mais fraco.
— Sim... Uma tatuagem. — Sue falou, suspirando.
— Ela está vindo para cá... — Sam disse.
— E ela vem como? De carro? Ela vai demorar três dias para chegar. — Leah perguntou.
— Pelo menos ela vai chegar depois da luta. — Sam disse, olhando para Leah.
— Ah, merda! A luta. — Ela falou como se lembrasse, passando as mãos nos cabelos pretos.
— E se ela vier de avião? — Emily sugeriu e os olhos viraram para ela.
— A viagem até Olympia dura seis horas, depois mais três de carro. — Seth falou.
— A gente precisa treinar para amanhã. — Jared disse baixo, como se falar sobre isso fosse um crime com base nos recentes problemas familiares descobertos.
— Precisamos. — Sam disse.
— Não tem como rastreá-la? — Leah perguntou.
— Eu não sei nem se ela conseguiu me ouvir ontem à noite. — Sam disse. — Não consigo rastrear se ela não estiver consciente disso. Se ela se transformou, ela deve estar perdida. — Ele suspirou.
Acho que durante esse ano como lobisomem, nunca vi a guarda de Sam estar tão baixa quanto agora. Ninguém fez a pergunta com todas as palavras, acho que o medo de atingir alguma parte de Sam, Leah ou até de Emily nos fez ficar quietos, mas pelo que eu peguei, Leah e Sam tiveram uma filha quando tinham 15 anos, essa menina hoje tem 18, somente um ano mais velha do que eu. Ela viveu em La Push até seus oito anos, quando Sam se transformou pela primeira vez.
Há 10 anos ninguém tinha ideia de que as lendas da tribo eram verdade, eu pelo menos não, então era difícil julgar as ações dos dois. Só sei agora que existe um novo lobisomem de 18 anos em algum lugar nos Estados Unidos enquanto nos preparamos para uma batalha que pode terminar de uma forma bem ruim.
— Por que vocês não vão treinando? Eu fico com Sue tentando falar com ela, ela deve atender o celular. — Emily disse.
— Eu não vou a lugar nenhum até encontrar minha filha. — Leah disse.
— São quase cinco horas, precisamos patrulhar o perímetro. — Embry disse.
— Me ajude, Leah! O que quer que eu faça? Eu estou preocupado com ela também, mas não posso simplesmente ir atrás dela. — Sam disse de forma mais baixa.
— Precisamos encontra-la. — Leah disse com os olhos cheios de lágrimas e foi a primeira vez que a vi assim.
Os olhos de Sam denunciavam que ele estava perdido. Eu também estava, mas eles precisavam resolver os problemas pessoais deles agora, não podíamos ter distrações para a batalha amanhã. Bella precisava da nossa ajuda. Não poderia deixar o amor da minha vida morrer.
— Posso... — Me levantei. — Posso dar uma sugestão? — Os olhos se viraram para mim. — Vocês ficam aqui, não estão com cabeça para batalha mesmo. Eu e os meninos vamos treinar e nos encontramos mais tarde para resolver as últimas coisas. Eu preciso levar a Bella para o acampamento mesmo. — Falei.
— Eu vou ajudar, Jacob. — Sam disse. — Eu sou o alfa, não vou deixar vocês irem sozinhos.
— Pode ser uma solução agora, Sam! — Emily disse. — Vocês não estão com cabeça para isso...
A voz de Emily foi bloqueada por uma freada brusca. O rosto de todos viraram para a entrada da casa de Emily e um carro SUV freou com força, fazendo a areia subir. Todos se levantaram e saíram para a varanda.
Uma menina saiu irritada do carro, ela bateu à porta com força, fazendo os vidros quebrarem e sabia que essa era a tal . Ela parecia uma universitária comum, bem estilo menina da Flórida mesmo. Shorts e blusa curtos, uma jaqueta nos ombros e longos brincos nas orelhas, mas os cabelos negros e lisos e a pele bronzeada denunciavam que essa era a menina de quem estavam falando.
— EU QUERO SABER QUEM VAI ME EXPLICAR O QUE ACONTECEU! — Sua voz saiu alta, quase como o rugido de Sam.
— Ah, você está bem! — Leah foi de encontro com a menina.
— EU PRECISO DE EXPLICAÇÕES! — A voz da menina saiu mais forte, mas ela não negou o abraço apertado de Leah.
— Prometo te explicar tudo. — Leah disse e a menina a abraçou fortemente.
Algumas lágrimas deslizaram pelos olhos da menina, tornando o abraço cada vez mais apertado. Sam passou por mim, acariciando o cabelo da menina e ela deu um sorriso para seu pai. Se eu não soubesse de todo drama entre eles e Emily, poderia dizer que era quase como uma família feliz.
— Eu estou tão assustada... — Ela sussurrou em meio a um gemido.
— Bom te ver inteira, criança. — Sam disse.
— Você me deve muitas explicações. MUITAS! — Ela disse firme, desviando do abraço de Leah para abraçar Sam.
— Você conseguiu me ouvir? — Ele perguntou.
— Foi você mesmo? Eu não estava louca? — Ela perguntou, se afastando dele e passou as mãos nos olhos.
— Foi! — Ele acariciou o rosto dela. — Vamos entrar para conversar. Feliz que tenha chego aqui. Como você veio? Alugou um carro?
— Hum... Você pode dizer que sim. — Ela fez uma careta. — Eu só preciso devolver ele na polícia...
— VOCÊ ROUBOU UM CARRO? — Sam disse.
— EU ESTAVA DESESPERADA, OK?! O QUE QUERIA QUE EU FIZESSE? E SE ACONTECESSE DE NOVO NO AVIÃO? — Nossas risadas ficaram mais altas e seus olhos negros se viraram para mim.
E foi como se algo me atingisse com força e meu peito pegasse fogo.
Foi como...
É como...
Gravidade.
Seu centro muda totalmente.
De repente, não é mais a Terra que prende você aqui.
É ela!
Minha mente seguiu para longe e diversas imagens surgiram em minha mente.
Nossas mãos se entrelaçaram.
Depois veio um abraço.
E um beijo.
Correndo juntos pela floresta como lobos.
Nossas roupas ficaram pelo chão.
Depois terminando em uma transformação pela floresta.
Os corpos humanos rolando pelo gramado.
Um amor maior do que meu próprio corpo.
Você faria qualquer coisa.
Seria qualquer coisa que ela precisasse.
Um casamento...
Filhos...
Dois meninos e uma menina...
Dormir juntos abraçados.
Aninhados como eternos namorados.
O largo sorriso em seu rosto antes de eu roubar outro beijo dela.
Um amigo.
Um irmão.
Um protetor.
Meus olhos focaram nos dela de verdade e ela tinha os olhos arregalados para mim. Sua respiração saiu com força e senti seus braços em volta do meu corpo, me puxando para si. Fiz o mesmo, afagando seus cabelos e sabia que faria qualquer coisa para protegê-la do mundo.
Qualquer coisa.