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Codificada por: Sol ☀️

Finalizada em: 17/02/2025.

observou a intensa movimentação da casa ao lado com dois grandes SUVs parados na porta da mesma enquanto pegava suas malas em seu carro. Aquilo era normal, afinal de contas as casas viviam sendo alugadas por turistas, mas aquela movimentação em específico havia chamado sua atenção.

Depois de alguns instantes retirando suas bagagens, ela pegou o molho de chaves de dentro da grande bolsa de praia que ela levava no ombro e abriu o portão de serviço, chamando por .

Assim que a governanta e ex-babá apareceu, as duas sorriram uma para a outra e se abraçaram. e se conheciam literalmente desde que ela havia nascido, já que ela trabalhava para os pais de há algum tempo. Para , era muito mais do que uma funcionária — ela era família. O carinho que sentia por ela ia além da gratidão; era um amor genuíno, construído ao longo dos anos, como se fosse uma segunda mãe.

— Você demorou, querida! Tudo bem? — segurou-a pelos ombros com um olhar preocupado denunciando seu afeto.

sorriu de leve, sem mostrar os dentes, apreciando o cuidado da governanta. Assentiu antes de responder, a voz suave, mas firme:

— Sim ! Eu só vim mais devagar um pouco, parei para almoçar e acabei demorando no posto, só isso! Como estão as coisas por aqui?

— Está tudo nos conformes, meu bem. Vem, vamos terminar de entrar! — segurou a alça retrátil de uma das malas de e a puxou com facilidade, como sempre fazia questão de ajudar.

Segurando a outra mala, a acompanhou para dentro da garagem e fechou o portão atrás de si, segurando o molho de chaves com cuidado. As duas caminharam para dentro da casa e passou os olhos pela sala, sentindo o cheiro familiar de madeira e maresia.

O ambiente era amplo e arejado, com grandes janelas que deixavam a luz dourada do fim de tarde entrar sem esforço. O teto de madeira branca dava um toque rústico e acolhedor, enquanto o sofá de linho claro, repleto de almofadas em tons de azul e areia, convidava ao descanso. Tapetes de fibra natural cobriam parte do piso frio, e uma estante baixa exibia conchas, fotografias antigas e pequenas lembranças de verões passados. A brisa do mar balançava suavemente as cortinas leves, trazendo consigo o som distante das ondas quebrando na areia.

seguiu pelo corredor que levava até os quartos e ao banheiro e então adentrou o quarto que sempre fora reservado para ela na casa, desde pequenina. É claro que o aspecto do quarto e a decoração foram mudando conforme ela crescia.

As paredes agora estavam pintadas em um tom suave de azul, lembrando o céu nos dias mais tranquilos. A cama, de madeira clara, ficava encostada na parede oposta à janela, coberta com uma colcha branca delicadamente bordada e almofadas em tons de bege e azul. No canto, uma poltrona de vime servia de refúgio para as tardes preguiçosas de leitura, ao lado de uma mesinha com um abajur de cúpula rústica.

Prateleiras flutuantes exibiam conchas e pedras que havia coletado ao longo dos anos, além de alguns livros já amarelados pelo tempo. A grande janela, vestida com cortinas leves, deixava a brisa marinha entrar, carregando consigo o cheiro salgado do oceano. Sobre a cômoda, um porta-retratos exibia uma foto antiga dela com os pais e , sorrindo ao lado do mar.

Apesar das mudanças ao longo dos anos, aquele quarto ainda era um refúgio — um pedaço de paz em meio ao caos da cidade e de todo o agito que a vida cotidiana representava.

— Vou deixar você se acomodar bem, qualquer coisa estou na cozinha ok? — a voz de soou suave aos ouvidos de que lhe depositou um beijo rápido na bochecha antes de entrar completamente no quarto.

Assim que ela saiu, se sentou na beirada da cama, espreguiçando com os braços erguidos e fechando os olhos pesadamente. Normalmente ela não dirigia, a família tinha um motorista para isso, portanto estava um pouco cansada da viagem, já que ela mesma havia dirigido durante uma hora e meia ou mais de São Paulo até o litoral.

Encarou a janela mais uma vez sentindo o frescor do vento que entrava por lá e sentiu outra vez o cheiro da maresia. Era Carnaval e ela estava ali para mais uma vez fugir. Fugir do caos ensurdecedor que tomava conta de São Paulo nessa época do ano, das ruas abarrotadas de foliões, da música alta ecoando a cada esquina. Mas, acima de tudo, fugir daquilo que pesava sobre seus ombros — um fardo que não queria encarar.

Naquele refúgio à beira-mar, ela podia fingir que tudo estava bem. Que as ruas apinhadas de gente não a sufocavam. Que o segredo que carregava não ameaçava virar sua vida de cabeça para baixo.

⛱️⛱️⛱️

Quando chegou até a cozinha, encontrou sentada lá separando feijões. Sentou-se ao lado da mais velha e então pôs-se a ajudá-la com a tarefa — mais como uma tentativa de ocupar as mãos e distrair a mente dos pensamentos inquietantes que insistiam em rondá-la do que pela necessidade real de ajudar.

— E como o Diogo tem estado? Há muito tempo que não falo com ele, está tudo bem?

ergueu os olhos da tarefa para encarar e então sorriu para ela, antes de suspirar:

— Ah o Diogo! — ela suspirou pesadamente, parecendo melancólica — Ele não para em casa, né? Vive de galho em galho, de balada em balada…

— Ainda ? — ergueu a sobrancelha — Achei que ele estivesse começando a sossegar. Achei até que ele fosse se mudar para Nova Iorque depois da viagem que ele fez para lá, ele voltou tão empolgado com a possibilidade de uma vida por lá. O que houve?

encarou os feijões dispostos sobre a mesa e soltou outro suspiro.

Diogo sempre fora um espírito livre, o tipo de pessoa que não conseguia ficar muito tempo no mesmo lugar ou preso a uma rotina. Desde adolescente, já demonstrava um gosto por aventuras, festas e tudo que envolvesse novidade e excitação. Era inquieto, impulsivo e um verdadeiro amante da liberdade, características que o tornavam uma presença vibrante, mas também imprevisível.

Apesar de seu carisma inegável, Diogo nunca se apegava a nada por muito tempo — fosse uma cidade, um trabalho ou até mesmo relacionamentos. Ele se jogava de cabeça em suas paixões momentâneas, mas tão rápido quanto se envolvia, perdia o interesse e seguia em frente, sempre em busca da próxima experiência que o fizesse sentir-se vivo.

A viagem para Nova Iorque parecia ter sido uma dessas fases. Ele voltara entusiasmado, cheio de planos, mas, ao que tudo indicava, a empolgação inicial já havia passado, dando lugar à sua natureza volátil de sempre.

— Sabe, filha, eu sempre achei que vocês dois iam se casar um dia! — soltou um suspiro, um tanto quanto melancólico, enquanto seus dedos experientes deslizavam entre os grãos de feijão. — Vocês sempre foram tão próximos, tão grudados… Quando crianças, pareciam inseparáveis. E mesmo depois de adultos, sempre havia essa conexão entre vocês, como se fossem feitos um para o outro.

Ela fez uma pausa, levantando os olhos para com um sorriso terno, mas carregado de nostalgia.

— Mas acho que algumas pessoas nasceram para voar sozinhas, não é? E o Diogo… bom, ele nunca soube pousar em lugar nenhum.

também suspirou pesadamente enquanto deixava sua mente vagar de volta ao passado. Ela também achou um dia, enquanto eram adolescentes, ele havia sido o primeiro homem dela em tudo e claro que tudo isso havia contribuído para alimentar os sonhos de uma adolescente apaixonada, ela acreditou que aquilo significava algo maior, que o sentimento deles era forte o suficiente para durar para sempre.

Mas o tempo, implacável como sempre, mostrou que nem toda história de juventude termina como nos contos de fadas. Os sonhos de adolescente foram se desfazendo à medida que Diogo se mostrava incapaz de permanecer, sempre seguindo em frente, sempre em busca de algo mais. percebeu, talvez tarde demais, que amor, por si só, não era suficiente para segurar alguém que nunca soube onde queria estar. E com o tempo os dois acabaram transformando tudo aquilo numa bela amizade, que mesmo com a distância e com toda a inconstância de Diogo, permanecia no coração de ambos.

— Vou conversar com ele, . Acho que ele precisa de uns conselhos, mesmo que não vá segui-los, ou mesmo que eu não seja a pessoa ideal…

As palavras escaparam antes que pudesse refletir sobre elas, e só então se deu conta do que havia dito. Franziu ligeiramente a testa e desviou o olhar para as mãos, sentindo um aperto no peito. Desde quando ela havia perdido a confiança de que poderia ajudá-lo?

Quando ergueu os olhos novamente, encontrou a feição confusa de , que a observava com atenção, como se tentasse decifrar o verdadeiro significado por trás daquela súbita insegurança.

— Como assim, querida? É claro que você é a pessoa ideal, porque não seria? Não entendi. — soltou uma risada divertida, mas manteve o olhar atento sobre .

forçou um sorriso, tentando desfazer qualquer suspeita antes que começasse a fazer mais perguntas.

— Ah, , você sabe como o Diogo é teimoso… — ela disse, dando de ombros, fingindo leveza. — Mesmo que eu fale alguma coisa, ele só vai rir, dar aquele jeitinho dele de desconversar e continuar fazendo tudo do jeito dele.

estreitou os olhos, como se tentasse enxergar além da resposta, mas rapidamente desviou o olhar, voltando sua atenção para os feijões sobre a mesa.

— Mas não custa tentar, né? — acrescentou, pegando um punhado de grãos e torcendo para que deixasse o assunto de lado.

⛱️⛱️⛱️

Mark se jogou no grande sofá da sala, exausto, tanto pela viagem de horas da Coreia até o Brasil, quanto pelo trajeto de São Paulo ao litoral, com isso, o simples fato de descarregarem as malas fez com que ele sentisse um cansaço absurdo tomar conta do próprio corpo.

Jungwoo se sentou ao lado dele, dando-lhe um leve tapa na coxa, fazendo com que Mark abrisse os olhos, sobressaltando-se no assento com o impacto do tapa deixado pelo amigo.

— Não vai me dizer que você veio para esse paraíso, para dormir Mark? — A mão de Jungwoo ainda pousada sobre a perna dele lhe apertou levemente o lugar.

— Eu vim para relaxar hyung! Você, eu sei que não, porque você nunca consegue fazer isso. Além do mais, estou cansado, não mentirei. Só isso!

Mark devolve o tapa e então Jungwoo gargalha, retirando enfim a mão da coxa do amigo, encarando-o com preocupação.

— Mas nós vamos curtir a praia, não é? Você sabe que estamos no Carnaval aqui no Brasil? — Jungwoo pronunciou a palavra de forma arrastada e carregada de sotaque, quase como Carrr-náu-vau, fazendo uma pausa dramática enquanto erguia as sobrancelhas e abria um sorriso animado.

Mark sorriu achando fofo o sotaque do amigo para pronunciar a palavra e assentiu para ele positivamente enquanto levava as mãos até os cabelos, passando-os para trás, com o semblante ainda cansado.

— Eu sei hyung! E nós vamos à praia, eu prometo! Mas você sabe que tem os garotos também, né?

Jungwoo armou um bico e cruzou os braços abaixo do peito, como uma grande criança mimada e emburrada por não conseguir o que queria, e Mark gargalhou, divertido.

— Você precisa dar um jeito Mark Lee! Nós estamos preocupados com você, sabia?

Jhonny se aproximou lentamente, arrastando os pés nos grandes chinelos e se jogou do outro lado de Mark no sofá.

— O Jungwoo tem razão Mark. Nós sentimos falta daquele Mark apaixonado, daquele Mark entusiasmado com a música, que pegava o violão do nada e começava a compor como se o mundo ao redor nem existisse.

Johnny apoiou a cabeça no encosto do sofá e suspirou, lançando um olhar preocupado para o amigo.

— Parece que você só quer se esconder ultimamente… E isso não é coisa sua.

Jungwoo assentiu de imediato, cruzando os braços outra vez.

— Exato! Você não pode deixar que essa fase ruim te prenda, cara. Você ama a música, lembra? Não dá pra simplesmente fugir dela.

Mark, exasperado, voltou a passar as mãos pelos cabelos, bagunçando-os.

— Eu agradeço a preocupação de vocês, de verdade. Mas não é assim de uma hora para outra, caras! Eu preciso de tempo, preciso colocar minha cabeça no lugar, preciso de novas inspirações, preciso de novos lugares, sei lá. Eu espero de verdade que vocês me entendam.

Yuta entrou na sala com os braços cruzados também, encarando os amigos, especificamente Mark. Ele percebeu a tensão crescente no ar e decidiu intervir antes que aquilo se tornasse uma discussão desgastante.

— Calma aí, pessoal — disse ele, soltando um suspiro e se apoiando no batente da porta. — Ninguém aqui está contra você, Mark. A gente só quer te ver bem.

Ele descruzou os braços e caminhou até o sofá, sentando-se na mesa de centro à frente deles.

— Se você precisa de tempo, então beleza, cara. Estamos aqui para isso. Sem pressão, sem cobranças — Yuta deu um meio sorriso. — Mas sabe… às vezes, novas inspirações surgem quando você menos espera. E, quem sabe, esse lugar não acaba sendo exatamente o que você precisa?

Mark o encarou por alguns segundos, absorvendo suas palavras, enquanto Johnny e Jungwoo também pareciam considerar o que Yuta havia dito. A tensão no ar diminuiu um pouco, mas a preocupação nos olhares dos amigos ainda permanecia.

Mark se levantou abruptamente do sofá e encarou os amigos uma última vez antes de sair da sala, deixando os três lá, se encarando. Ele caminhou pelo corredor até o quarto que dividiria com Jaehyun e Haechan, sentindo o peso da conversa ainda sobre seus ombros. Ao entrar, encontrou o cômodo vazio — por sorte, os dois ainda deviam estar explorando a casa ou resolvendo algo lá fora.

Soltou um suspiro aliviado e fechou a porta atrás de si, finalmente se permitindo relaxar um pouco. O quarto era espaçoso, com uma decoração simples, mas aconchegante, típico de uma casa de praia. As paredes tinham um tom claro, contrastando com a madeira rústica dos móveis. Havia três camas de solteiro, cada uma com roupas de cama em tons pasteis, e uma janela grande, por onde entrava a brisa salgada do mar.

Mark jogou-se na cama mais próxima, fitando o teto enquanto sua mente trabalhava a mil por hora.

Ele sabia que os amigos só queriam o seu bem, mas não era tão simples quanto eles pensavam. Sua cabeça estava uma bagunça, seu coração ainda mais. A viagem ao Brasil deveria ser uma oportunidade de espairecer, se desconectar daquilo que o atormentava. Mas e se tudo o que ele estivesse fazendo fosse apenas fugir?

Passou as mãos pelo rosto, sentindo o cansaço pesar sobre ele. As palavras de Yuta ecoavam em sua mente: Novas inspirações surgem quando você menos espera.

Será que era verdade? Será que aquele lugar poderia, de alguma forma, ajudá-lo a encontrar um rumo?

Ele fechou os olhos por um instante, tentando se convencer de que, pelo menos por agora, ele só precisava respirar fundo e deixar que o tempo fizesse sua parte.

⛱️⛱️⛱️


remexeu delicadamente a mala procurando por uma saída de praia que combinasse o com o biquíni marrom escuro que havia escolhido. Seus dedos deslizaram pelo tecido leve até encontrarem o que procurava: uma saída de praia longa, feita de crochê bege, com padrões vazados que revelavam sutilmente a pele por baixo. A peça possuía mangas largas e fluidas, dando um ar sofisticado e despretensioso ao mesmo tempo. O decote em V deixava o colo levemente à mostra, enquanto a fenda lateral trazia um toque de sensualidade sem exageros.

Saiu do quarto com a bolsa de praia pendurada em seu ombro e com o grande chapéu em mãos e chamou por , que respondeu estar do lado de fora.

— Eu vou dar uma relaxada na praia, afinal de contas foi por isso que eu vim, não é ?

A mais velha soltou uma risada gostosa que fez sorrir de volta para ela.

— Como você cresceu! Meu Deus, olha só para você , já é uma mulher feita. E dá gosto de ver, viu?

sentiu os olhos começarem a marejar com as palavras de e então o coração apertou outra vez. Se soubesse a verdade, toda a verdade sobre quem ela havia de fato se tornado, aquelas belas palavras certamente seriam diferentes.

Ela desviou o olhar por um instante, engolindo em seco, tentando afastar os pensamentos incômodos que insistiam em rondar sua mente. O carinho e a admiração nos olhos de eram como uma lâmina afiada cortando sua consciência. A mulher que enxergava nela era forte, determinada, alguém que havia seguido o caminho certo, que trilhava uma vida honrada. Mas sabia que aquela imagem era uma ilusão.

Se a nobre senhora soubesse o que ela escondia, o que fazia longe dali, provavelmente não a olharia mais com tanto orgulho. Talvez, no lugar daquele brilho afetuoso nos olhos, houvesse decepção, incredulidade… quem sabe até repulsa.

Ela odiava pensar nisso, mas era inevitável. O segredo que carregava pesava sobre seus ombros, tornando cada elogio um lembrete cruel de que ela não era quem acreditava que fosse.

Depositou um beijo na bochecha da funcionária que tanto gostava e então terminou de se despedir, voltando a atravessar a cozinha e a sala da casa em direção ao portão de saída da casa. O coração ainda murcho no peito, batia até mais devagar.

Ao sair da casa, batendo o portão branco atrás de si, ela voltou a olhar os SUVs parados na porta da casa ao lado com curiosidade. Ela não sabia exatamente o porque, mas aqueles carros imponentes haviam despertado sua curiosidade imensamente.

Balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos de lá e como a praia ficava pertinho do condomínio, ela resolveu ir caminhando. olhava a orla com alguns turistas passeando, fazendo suas corridas matinais e até alguns poucos foliões. Isso se devia ao fato de aquela região ser um pouco mais nobre, um refúgio para aqueles que buscavam um Carnaval mais tranquilo, longe do tumulto das grandes festas e blocos que tomavam conta das praias mais populares. Embora ainda houvesse turistas aproveitando a brisa fresca da manhã e alguns poucos foliões vestidos com adereços coloridos, o clima ali era bem diferente do agito frenético que tomava conta do restante do litoral.

gostava daquela atmosfera. O Carnaval sempre transformava São Paulo em um caos vibrante e barulhento, e fugir para um lugar como aquele, onde a folia existia, mas de forma discreta, era exatamente o que ela precisava. Aquele pequeno paraíso era um respiro, um esconderijo onde poderia tentar esquecer, ainda que por algumas horas, tudo o que deixara para trás.

Os dez curtos minutos de caminhada terminaram quando ela avistou a praia ao horizonte, e um suspiro profundo escapou de seus lábios, como se, finalmente, seu corpo se permitisse relaxar.

A areia dourada se estendia à sua frente, macia e quase intocada, com apenas algumas pegadas dispersas denunciando a presença de outros visitantes mais cedo. O mar, de um azul profundo que se misturava ao céu límpido, balançava em ondas preguiçosas, embalando a paisagem com seu som ritmado e reconfortante. O cheiro da maresia se intensificava conforme ela se aproximava, misturando-se ao calor do sol que já começava a aquecer sua pele.

Ela tirou as sandálias e afundou os pés na areia morna, sentindo a textura fina deslizar entre os dedos. A brisa salgada bagunçou seus cabelos, mas apenas fechou os olhos por um instante, deixando-se envolver por aquela sensação de liberdade e paz. Ali, diante do mar infinito, seu coração pareceu pesar um pouco menos. Como se, por alguns momentos, o passado e o segredo que escondia pudessem ser levados pelas ondas.

Abriu a bolsa que trazia consigo e retirou sua canga de lá esticando a mesma pela areia, e depois se sentou sobre o tecido de cor também marrom e voltou a encarar a imensidão do mar. O som das ondas quebrando na areia misturava-se ao canto das gaivotas ao longe, e, sem perceber, ela permitiu que sua mente a levasse de volta para tempos mais simples, quando sua única preocupação era correr pela praia até ficar sem fôlego.

Lembrou-se das manhãs ensolaradas em que acordava cedo, ansiosa para sentir a água fria tocar seus pés. Da risada gostosa de ao chamá-la para não se afastar tanto, dos castelos de areia que construía e que eram destruídos impiedosamente pela maré antes do fim do dia. Dos verões intermináveis em que acreditava que aquele pedaço de paraíso sempre seria seu refúgio seguro.

Por um momento, um sorriso leve brincou em seus lábios, mas logo a realidade voltou a pesar sobre seus ombros. Aquela sensação de segurança que tinha na infância parecia tão distante agora. Ela já não era mais a garotinha que corria despreocupada pela areia. Era uma mulher com segredos pesados demais para confessar, até mesmo para .

Soltou um suspiro longo, passando as mãos pela areia ao seu redor, sentindo os grãos finos escorrerem por entre seus dedos. Como seria bom se pudesse voltar no tempo, voltar a ser aquela menina que não carregava culpa, que não precisava fugir. Mas sabia que isso era impossível. O passado estava feito, e agora ela precisava lidar com as consequências.

Logo seus pensamentos foram interrompidos por um grupo um tanto quanto barulhento se reunindo ao seu lado: eles falavam em um idioma que ela não conhecia, mas pensou ser algo entre japonês ou chinês, já que todos eles tinham os olhos um tanto quanto puxados, mostrando um pouco de suas ancestralidades. Carregavam grandes embalagens térmicas, algumas bolsas de praia coloridas e toalhas enroladas nos braços. As garrafas térmicas tilintavam com o gelo dentro, e os pacotes de salgadinhos amassavam entre as mãos, denunciando um típico piquenique à beira-mar. Eles riam alto, empolgados, trocando frases rápidas e animadas enquanto se acomodavam na areia sem muita cerimônia, a poucos metros de .

Ela observou de canto de olho quando um deles, um rapaz alto e de cabelos escuros, puxou uma grande canga e a estendeu na areia, enquanto outro já começava a abrir um isopor cheio de bebidas. A conversa seguia animada, as vozes se misturando ao barulho das ondas e do vento. O grupo parecia não se importar em chamar a atenção, completamente imersos na energia contagiante que compartilhavam.

Observando-os um pouco mais, logo seus olhos se cruzaram com um deles. Ele era não muito alto, provavelmente da mesma altura que ela, seus cabelos loiros estavam marcados de gel e penteados para trás, deixando sua testa à mostra, ele colocou os óculos escuros dentro do bolso e observou o rosto dele: seus traços eram bem definidos, com maçãs do rosto levemente salientes e um maxilar marcado, que se contraía sutilmente enquanto ele sorria de canto para os amigos. Os olhos, mesmo sem os óculos escuros, ainda eram difíceis de decifrar àquela distância, mas notou que tinham um brilho curioso, como se analisassem tudo ao redor com atenção.

O nariz reto e proporcional dava equilíbrio ao rosto, enquanto os lábios, bem desenhados, tinham um leve tom rosado. A pele era lisa e bronzeada, como se o sol já tivesse beijado sua face algumas vezes desde que chegara ao Brasil.

O que mais chamou sua atenção, no entanto, foi o ar despreocupado que ele transmitia, como se carregasse uma leveza natural. Vestia apenas uma bermuda leve e uma regata branca, que evidenciava os braços definidos, nada exagerados, mas esculpidos o suficiente para mostrar que ele cuidava do corpo.

Quando percebeu que o encarava, Mark ergueu levemente uma sobrancelha, umedecendo os lábios antes de desviar o olhar e rir de algo que um de seus amigos disse. Mas, por um breve momento, ela teve a impressão de que ele também havia notado sua presença.

⛱️⛱️⛱️

Mark ficou em pé, observando o mar enquanto deixava sua mente se desligar dos problemas que ele vinha enfrentando, e logo Doyoung apoiou uma das mãos em seus ombros, o abraçando de lado, também observando o mar.

— Até o mar daqui parece diferente quando comparado com os outros, você não acha? — Doyoung direcionou o olhar para Mark.

— Tem razão… parece que ele é mais cristalino, é como um reflexo do céu.

— Vai entrar? — Doyoung sorriu e Mark encarou ele de volta, sorrindo também.

— Pretendo, mas não vou ser o primeiro. Aposto que será o Yuta…

— Acho que será o Jhonny. Se eu estiver certo, você entra logo em seguida e me deixa gravar!

— Para que você quer um vídeo meu no mar? — Mark gargalhou genuinamente desde que haviam decidido aquela viagem, e Doyoung alargou o sorriso, vitorioso.

— Preciso de conteúdo para o seu aniversário! — ele piscou divertido.

Mark balançou a cabeça, ponderando.

— E se eu estiver certo? O que eu ganho?

— Um vídeo meu entrando no mar, ora essa! Vamos jogar de igual para igual, Mark Lee.

Os dois riram e então Mark estendeu a mão.

— Aceito! — Doyoung e ele apertaram as mãos, selando a aposta.

Mark virou-se de frente para os amigos e gritou:

— Yuta, tá na hora de um banho de mar!

O grupo encarou os dois amigos, surpresos com a frase repentina de Mark e Doyoung cruzou os braços abaixo do peito, ofendido:

— Ei! Temos que jogar limpo, você não pode fazer isso.

Os amigos riram percebendo o que estava acontecendo, e acabou deixando um sorriso escapar mesmo sem entender o que eles falavam.

Os olhos de Mark pousaram sobre por puro acaso, mas, no instante em que a viu, ele não conseguiu desviar tão rápido quanto deveria.

Sentada sobre a canga marrom que contrastava com o tom dourado da areia, ela parecia perfeitamente encaixada na paisagem, como se fizesse parte do cenário. Seus cabelos loiros, soltos e levemente bagunçados pelo vento, dançavam suavemente, algumas mechas insistindo em roçar sua pele. O sol iluminava seu rosto, destacando os contornos delicados e a expressão tranquila, mas seus olhos – mesmo à distância – carregavam algo que Mark não soube decifrar de imediato.

A pele dela tinha um brilho dourado sob a luz natural, e a saída de praia esvoaçante deixava entrever partes do biquíni escuro que moldava seu corpo. Havia algo nela que o fez prender a respiração por um breve instante, talvez fosse a postura relaxada, ou o modo como seu olhar se perdia no mar, como se estivesse tão distante dali quanto ele próprio tentava estar.

Quando percebeu o olhar dele sobre si, seus olhos se encontraram, e Mark, ao invés de desviar como seria o mais lógico, sustentou o contato por um momento a mais do que o necessário.

Então, com um pequeno sorriso ainda brincando nos lábios, ele piscou devagar, num gesto quase imperceptível, antes de se virar de volta para Doyoung e o restante do grupo.

Mark observou Jungwoo chamando-o para se sentar ao lado dele no grande tecido que eles também haviam jogado sobre a areia e assim o fez, empurrando o amigo com o ombro levemente, enquanto sorria, ainda encarando o mar.

Jungwoo ergueu uma latinha de cerveja na direção do amigo que aceitou a mesma e eles brindaram. Logo os olhos dele se voltaram outra vez para , sentada ali bem perto dele.

Ela agora admirava o horizonte enquanto tinha nas mãos a embalagem de um protetor solar. Mark se pôs a pensar no que ela estaria fazendo ali sozinha… Ela parecia completamente imersa na própria bolha, deslizando os dedos sobre a embalagem do protetor solar enquanto encarava o horizonte com uma expressão distante.

Ele se perguntou se ela morava ali ou se era apenas mais uma turista aproveitando o feriado, como eles. Seu jeito tranquilo, sem a pressa ou a animação exagerada de quem estava conhecendo um novo lugar, sugeria que talvez fosse uma local. Ou não... Talvez ela já tivesse vindo tantas vezes que se sentia em casa.

Mark notou que ela não carregava adereços chamativos, nem parecia interessada no agito do Carnaval. Isso o fez pensar se ela gostava daquele clima ou se, assim como ele, só queria um pouco de paz, longe do barulho e da multidão.

Ele desviou o olhar por um momento, mas, sem perceber, voltou a encará-la logo em seguida. Talvez fosse apenas curiosidade, talvez fosse o modo como ela parecia absorver o ambiente sem precisar de mais ninguém ao redor.

Ele apoiou os braços sobre os joelhos e tomou mais um gole da cerveja, sentindo a brisa morna bagunçar seus cabelos. Ainda sem perceber, ele soltou um pequeno sorriso, como se sua mente tivesse acabado de decidir que, mais cedo ou mais tarde, ele descobriria o que estava fazendo ali sozinha.

⛱️⛱️⛱️

suspirou pesadamente antes de se levantar da areia e num movimento rápido, se livrou da saída de praia, deixando que a mesma caísse ao lado de seu corpo sobre o tecido da canga e então com gestos lentos e precisos, despejou uma quantidade generosa do creme branco na palma da mão, esfregando-o entre os dedos antes de começar a espalhá-lo pelos ombros nus. Suas mãos deslizaram pela pele dourada pelo sol, subindo pelo colo e descendo pelos braços em movimentos cuidadosos.

Quando começou a aplicar o protetor nas pernas, inclinando-se para alcançar as coxas, os olhares ao redor pareceram gravitar para ela, como se a naturalidade de seus gestos exercesse um magnetismo próprio. Mark, que até então estava distraído, parou de fingir que prestava atenção na conversa ao lado e desviou os olhos para a cena à sua frente. Ele engoliu em seco, acompanhando o deslizar das mãos dela com um interesse que tentava disfarçar, mas que se tornava evidente pelo brilho sutil em seu olhar.

, alheia ou talvez perfeitamente consciente do efeito que causava, inclinou a cabeça levemente ao levantar uma perna, apoiando o pé na canga para alcançar melhor a parte de trás da coxa. O sol realçava os contornos do seu corpo, e a forma como ela distribuía o creme com paciência e dedicação parecia transformar um gesto banal em algo quase hipnótico.

O calor do dia já era intenso, mas para Mark, a temperatura parecia ter subido alguns graus a mais…

— Porque não se oferece para passar nas costas dela? — Jungwoo cutucou Mark e então gargalhou alto — Você tá babando aí!

Mark sentiu as bochechas esquentarem instantaneamente com os comentários de Jungwoo e então deu outro empurrão nele.

— Sem gracinhas! Eu hein… eu nem estava prestando atenção.

— Aham! — Jungwoon voltou a rir — Ela é muito bonita mesmo.

Os olhos de Mark seguiram automaticamente os passos dela. se levantou devagar, sacudindo levemente a areia que grudara em suas pernas antes de ajustar a alça fina do biquini sobre o ombro.

Ela deu alguns passos pela areia fofa, os pés afundando a cada movimento antes de alcançar a parte mais compacta, onde a maré já havia passado. O som das ondas preenchia o ambiente, misturando-se ao riso de alguns turistas que se divertiam mais adiante.

caminhava sem pressa, como se aquele fosse um ritual já conhecido. Quando chegou à beira da água, hesitou por um segundo, permitindo que a espuma branca lambesse seus pés. Mark percebeu o instante em que ela fechou os olhos, inclinando levemente o rosto para o céu, como se estivesse absorvendo o calor do sol e a brisa salgada ao mesmo tempo.

Ele se pegou prendendo a respiração por um momento. Havia algo quase hipnotizante nela, na forma tranquila como se movia, como se fosse uma extensão do próprio mar que se estendia à sua frente.

— Cara… Você realmente tá babando. — Jungwoo zombou outra vez, quebrando o encanto.

Mark revirou os olhos, soltando um riso discreto antes de desviar o olhar.

— Cala a boca. — Murmurou, mas o sorriso que brincava em seus lábios denunciava que, por mais que tentasse, já havia capturado sua atenção.

⛱️⛱️⛱️


deixou que as ondas tocassem primeiro seus pés e depois foi caminhando mar adentro, aos poucos. A água estava morna, um contraste agradável com o calor do sol escaldante sobre sua pele. sentiu a espuma macia envolvendo seus tornozelos antes de continuar avançando, sentindo a leve resistência das ondas contra seu corpo.

Cada passo era como um reencontro com algo que sempre fez parte dela. O cheiro salgado do mar, o balanço ritmado das marés, a forma como a água envolvia sua pele como um abraço familiar. Ela fechou os olhos por um instante, permitindo-se apenas sentir.

Quando a água já alcançava sua cintura, inclinou o corpo para trás e mergulhou, deixando-se ser envolvida completamente pelo oceano. O mundo ao seu redor ficou silencioso por alguns segundos, abafado pela imensidão azul. Ela abriu os olhos debaixo d’água e observou os raios de sol filtrando-se através da superfície, criando feixes dourados que pareciam dançar no fundo do mar.

Ao emergir, jogou os cabelos para trás, respirando fundo e sentindo a refrescância da água escorrendo por sua pele. Ela passou as mãos pelo rosto, afastando algumas gotículas que insistiam em escorrer sobre seus olhos, e então olhou ao redor.

Foi nesse momento que seus olhos se encontraram com os de Mark outra vez. Ele ainda estava sentado na areia, a latinha de cerveja esquecida na mão, enquanto a observava com um olhar atento.

sentiu um leve arrepio percorrer sua espinha, mas não desviou o olhar. Pelo contrário, sustentou o contato visual por um segundo a mais do que deveria, um pequeno sorriso brincando em seus lábios antes de virar-se para o horizonte e deixar-se levar pelas ondas outra vez.

Ela estava flertando com um estranho? Era isso mesmo que estava acontecendo?

Há quanto tempo não permitia a si mesma esse tipo de coisa? O simples ato de trocar olhares, de sentir o coração dar aquele pequeno salto inesperado, de brincar com a tensão sutil de um momento que poderia ou não significar algo.

Fazia tempo. Tempo demais.

sempre fora do tipo que se jogava de cabeça quando sentia algo, mas a última vez que fez isso... bem, não terminou da melhor forma. O gosto amargo da decepção ainda era uma lembrança viva, e com o tempo, ela simplesmente parou de tentar. Parou de dar abertura para qualquer coisa que parecesse passageira. Relacionamentos sérios? Fora de cogitação. Flertes casuais? Nem lembrava quando havia sido o último…

Talvez tivesse sido uma escolha inconsciente, uma forma de se proteger da imprevisibilidade dos sentimentos. Ou talvez apenas tivesse se convencido de que não precisava disso, que estava bem sozinha, que seu mundo já era suficientemente completo sem os altos e baixos de uma conexão romântica.

Mas agora, ali, diante do mar, sob o sol dourado do fim da manhã, sentia algo diferente. Algo quase infantil. Como se aquele breve olhar trocado com um desconhecido fosse o suficiente para lembrá-la de que ainda existia uma parte dela que gostava disso. Da emoção, da novidade, da possibilidade.

E talvez, só talvez, ela não quisesse mais ignorar essa parte.

⛱️⛱️⛱️

Jhonny logo já estava se livrando da camiseta branca que usava e ajustando a bermuda nos quadris, fazendo Mark trocar um olhar com Doyoung, que claro, sorriu vitorioso.

— Eu disse! Yes! — ele bradou vitorioso, erguendo os braços para cima e os balançando — Já pode ir tirando a roupa aí para entrar com ele. Aproveita que a garota bonita ainda tá no mar, porque todo mundo viu você babando por ela.

Mark revirou os olhos e bufou, mas não conseguiu evitar o riso ao ver Doyoung comemorando como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

— Tá exagerando, cara… — ele resmungou, fingindo desinteresse enquanto dava mais um gole na cerveja.

— Exagerando? — Jungwoo entrou na conversa, rindo. — Se sua cara de idiota olhando pra ela fosse um pouco mais óbvia, você já estaria na areia desenhando corações.

Mark franziu a testa e jogou um punhado de areia na direção dos dois amigos, que se desviaram entre risadas.

— Vocês são muito infantis, sabia? — Ele resmungou, mas a verdade era que seu olhar já estava voltando para o mar, onde ainda se banhava.

A água reluzia ao redor dela, os movimentos do corpo desenhando silhuetas sutis conforme as ondas a envolviam. Mark percebeu que ela passou as mãos molhadas pelo rosto, afastando os fios escuros que grudavam na pele. Havia algo naquilo que ele não conseguia ignorar.

Droga. Talvez Doyoung e Jungwoo estivessem certos.

Mas antes que pudesse se perder mais nesses pensamentos, Doyoung deu um tapa leve nas suas costas.

— Bora, Mark! Você perdeu a aposta, então se joga no mar.

Mark soltou um longo suspiro antes de finalmente se levantar.

— Tá bom, tá bom… Mas eu vou entrar porque eu quero, não por causa da aposta.

— Aham. — Jungwoo piscou para ele, segurando o riso. — E também não é por causa da garota bonita, né?

Mark apenas mostrou o dedo do meio para os amigos antes de puxar a camisa pela cabeça e ir em direção ao mar, ignorando as risadas atrás de si.

Enquanto caminhava pela areia, Mark não conseguia tirar os olhos de . Ela agora se concentrava apenas nas ondas, desviando habilmente das mais fortes, deixando-se levar pelas mais suaves. Seu corpo se movia com naturalidade, como se pertencesse ao mar, e por um instante, ele se perguntou se ela estava acostumada com aquele cenário ou se, assim como ele, era apenas uma visitante encantada pela imensidão azul.

Quando a água gelada tocou seus pés, Mark fez uma careta instintivamente, mas logo ouviu a voz de Doyoung atrás de si:

— Vira para cá! Não quero filmar só as suas costas, sei que você tem mais para mostrar, e as Nctzens também, não esconda o ouro delas Mark.

— Fala baixo, Doyoung! — Mark falou entre os dentes enquanto via se aproximar, já pronta para provavelmente sair do mar.

A risada coletiva que explodiu atrás dele, fez com que Mark se virasse e encarasse todos os amigos o observando com sorrisos divertidos no rosto, e logo as palavras de incentivo começaram:

— Vai lá, Mark! Não perde essa chance! — Jungwoo gritou, balançando os braços animado.

— Se você não for, eu vou! — Haechan provocou, jogando água em Johnny, que já estava no mar rindo da situação.

— Deixa o cara respirar, ele tá todo vermelho já! — Yuta debochou, cruzando os braços e dando um sorriso de canto.

— Mas é agora ou nunca! — Jaehyun acrescentou, lançando um olhar sugestivo para Mark.

— Eu confio em você, Mark Lee! — Doyoung incentivou, ainda segurando o celular e gravando tudo.

Mark revirou os olhos e tentou ignorar a pressão dos amigos, mas quando olhou para frente novamente, viu emergindo do mar, a pele brilhando sob o sol, as gotas d’água escorrendo preguiçosamente por seu corpo. Ela sacudiu os cabelos levemente, afastando algumas mechas do rosto, e então ergueu o olhar, encontrando o dele.

Droga. Não tinha mais saída.

Mark respirou fundo, e sem dar mais ouvidos aos amigos, caminhou mar adentro. A água fria lhe causou um leve arrepio, ela vinha na direção oposta, com passos lentos e despreocupados, os cabelos molhados grudando em sua pele bronzeada.

Quando estavam a poucos passos um do outro, uma onda mais forte se formou atrás dela, avançando rápido. nem teve tempo de reagir. A força da água atingiu suas costas, fazendo-a perder o equilíbrio, um pequeno grito escapando de seus lábios.

Antes que pudesse cair, mãos firmes seguraram sua cintura. Mark a amparou no instante certo, puxando-a levemente contra si para evitar que fosse derrubada pelo mar.

Os olhos dela se arregalaram por um segundo ao perceber quem a segurava. As mãos foram parar no peito dele, sentindo a pele quente em contraste com a água gelada. O toque foi o suficiente para fazer Mark engolir em seco.

— Você está bem? — ele perguntou, a voz um pouco mais rouca do que pretendia.

piscou algumas vezes, sentindo o coração disparado.

— Sim… só fui pega de surpresa.

Nenhum dos dois se afastou imediatamente. O som das ondas parecia ter ficado distante, e por um momento, tudo o que existia era a proximidade entre os dois, o toque inesperado, o olhar intenso que compartilhavam.

Até que uma nova onda veio, dessa vez mais suave, mas o suficiente para despertá-los do transe. riu, um riso leve e espontâneo.

— Acho que o mar não quer que eu vá embora tão cedo.

Mark sorriu de canto, ainda sem soltá-la completamente.

— Parece que não.

— Eu sou , prazer. E obrigada, é claro, se não fosse você eu teria passado a maior vergonha.

— Mark! Prazer, — ele testou o nome dela nos lábios, como se quisesse saborear cada letra — Imagina, mas me deve um drink. Que tal?

riu outra vez, jogando a cabeça levemente para trás, e Mark sentiu algo estranho e viciante naquela risada. Era leve, genuína, quase contagiante. Sem perceber, seus dedos apertaram suavemente a cintura dela, como se quisesse gravar aquele momento na pele.

Ela sentiu o toque sutil e baixou o olhar para ele, um sorriso ainda presente nos lábios.

— Um drink? — repetiu, arqueando uma sobrancelha de forma divertida. — Quer dizer que salvar alguém de um tombo vale uma rodada de bebida?

Mark deu de ombros, mantendo o olhar preso ao dela.

— Não faço nada de graça.

mordeu o lábio, fingindo ponderar, mas o brilho travesso em seus olhos denunciava que ela já tinha uma resposta.

— Tudo bem, Mark. Um drink por salvar minha dignidade.

Ele sorriu satisfeito, sentindo-se estranhamente animado com a promessa.

— Ótimo. Mas nada de tentar fugir, hein?

Ela balançou a cabeça, rindo de novo.

— Acho que já está claro que não sou muito boa em fugas, né?

Mark acompanhou a risada dela, ainda sem soltá-la completamente. O mar os envolvia, mas naquele instante, parecia que nada ao redor realmente importava.

⛱️⛱️⛱️


Mark soltou lentamente, sentindo a água se mover ao redor deles. O toque se desfez, mas a sensação da pele dela sob seus dedos ainda permanecia.

Ela ajeitou os cabelos molhados para trás e sorriu de leve.

— Bom… acho que agora você pode aproveitar seu banho de mar sem precisar salvar ninguém — brincou, dando um passo para trás, deixando que a água cobrisse um pouco mais seu corpo.

Mark riu baixo, balançando a cabeça.

— Vou tentar, mas se precisar de resgate de novo, já sabe a quem chamar.

ergueu as mãos, rendida.

— Prometo não me afogar. Mas estarei ali na areia, te esperando…

O jeito como ela disse aquilo fez algo no peito de Mark se agitar de um jeito diferente. Ela não precisava esperar por ele, mas escolheu dizer aquilo. E ele gostou da ideia.

— Certo — respondeu, tentando soar casual, mas o sorriso que ainda permanecia em seus lábios entregava que ele estava gostando daquele jogo.

lançou um último olhar antes de virar-se e caminhar de volta para a areia. Mark ficou parado por alguns segundos, observando-a sair da água com naturalidade, o sol refletindo no corpo ainda úmido.

Ele respirou fundo antes de mergulhar de uma vez, tentando acalmar a onda de pensamentos que havia despertado nele.

sentiu a areia úmida sob seus pés quando finalmente saiu da água, apertando os braços ao redor do próprio corpo para conter um arrepio causado pela brisa leve.

Ela ergueu o olhar e notou o grupo de amigos de Mark observando-a, alguns com sorrisos calorosos e outros com expressões divertidas. Jhonny, que ainda estava no mar, acenou para ela com uma piscadela brincalhona. Yuta, sentado na areia com uma latinha de cerveja na mão, deu um meio sorriso de canto, enquanto Jungwoo e Haechan trocavam olhares cúmplices entre si.

Jaehyun foi o primeiro a abrir um sorriso mais largo e dizer algo em um tom amigável, embora ela não compreendesse exatamente as palavras. Pelo tom e pela expressão acolhedora, parecia uma brincadeira leve, e ela achou fofo o sotaque dele.

se abaixou o suficiente para pegar uma toalha branca felpuda de dentro da bolsa e quando o fez, começou a se enxugar preguiçosamente, ainda sentindo os olhares dos amigos de Mark sobre ela, sentiu o rosto esquentar, mas não de vergonha — e sim pelo clima agradável que o grupo emanava. Ela retribuiu o sorriso, acenando de leve para eles antes de estender a toalha sobre sua canga.

Sentou-se, sentindo os grãos mornos grudarem um pouco em sua pele úmida, e olhou mais uma vez para o mar. Mark ainda estava dentro d’água, mas agora com o olhar preso nela.

Ela desviou o olhar com um pequeno sorriso, sentindo o coração bater um pouco mais forte.

⛱️⛱️⛱️

Sentada sobre a canga, passou as mãos pelos braços, afastando as gotículas de água que ainda restavam, enquanto seu olhar era naturalmente atraído de volta ao mar.

Ela viu quando Jaehyun e Yuta correram para dentro da água, se juntando a Mark com entusiasmo. Jhonny já estava lá e, sem aviso, jogou um jato d’água em Mark, que protestou rindo antes de revidar, criando uma pequena guerra de respingos.

Jungwoo e Haechan chegaram logo depois, com Haechan pulando nas costas de Mark, que quase perdeu o equilíbrio, mas se segurou, gargalhando. Jungwoo aproveitou a distração para empurrar Jaehyun de leve, fazendo-o cambalear antes de se recuperar e rir.

A energia entre eles era leve, descontraída, cheia de brincadeiras e risadas que ecoavam até onde estava. Ela se pegou sorrindo enquanto observava, sentindo-se parte daquele momento de alguma forma, como se tivesse sido bem-vinda sem nem precisar de um convite formal.

Mark parecia completamente à vontade, molhando o rosto e passando as mãos pelos cabelos antes de lançar um olhar rápido para a areia. Quando seus olhos encontraram os dela, notou a forma como seu sorriso suavizou por um instante, antes dele desviar, voltando à brincadeira com os amigos.

Ela suspirou, deixando o calor do sol secar sua pele, mas sabendo que o arrepio em seus braços não tinha nada a ver com a brisa do mar.

Os meninos continuavam brincando no mar, jogando água uns nos outros e tentando se empurrar contra as ondas. Jhonny foi o primeiro a falar, passando as mãos pelos cabelos molhados e rindo.

— Mark, por que você ainda está aqui com a gente? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Tem uma garota bonita te esperando ali na areia.

Mark revirou os olhos, tentando ignorar o olhar malicioso dos amigos.

— Eu acabei de entrar na água, me deixem em paz.

Haechan, sempre provocador, nadou até ele e apoiou os braços em seus ombros.

— Mas você nem precisava ter entrado, né? Só veio porque perdeu a aposta. Ou será que a aposta foi só uma desculpa pra impressionar a garota?

Mark empurrou Haechan para longe, fazendo o mais novo se afundar na água por um segundo antes de voltar à superfície tossindo.

— Vocês são insuportáveis, sério.

Jaehyun riu, cruzando os braços enquanto encarava Mark.

— Mas ela realmente está esperando você ali. Acho que você passou uma boa primeira impressão.

— Ah, que fofo, nosso Mark Lee virando um galanteador! — Yuta zombou, jogando água na direção dele.

Mark bufou, mas não conseguiu evitar um sorriso ao lembrar da forma como riu ao lado dele.

Doyoung, que apenas observava até então, sorriu de canto.

— Não me diga que está interessado nela…

Mark balançou a cabeça, mas não respondeu de imediato. Os amigos perceberam e começaram a gritar em coro:

— Oooohhhhhh! Ele está sim!

Mark passou as mãos pelo rosto, exasperado, e se afastou nadando.

— Eu não vou dar esse gostinho pra vocês.

Mas, no fundo, ele sabia que talvez já fosse tarde demais.

Mark nadou um pouco mais antes de finalmente decidir sair da água. Ele sentia os olhares dos amigos ainda sobre ele, principalmente de Doyoung e Haechan, que pareciam se divertir com a situação.

Respirando fundo, ele começou a caminhar de volta para a areia, espremendo levemente a barra da bermuda molhada contra o corpo para tirar o excesso de água. Seus olhos, por instinto, procuraram .

Ela ainda estava ali, sentada na areia com as pernas dobradas e os braços apoiados nos joelhos. Mas assim que notou Mark vindo em sua direção, desviou rapidamente o olhar, fingindo estar interessada nas ondas quebrando na beira da praia.

Mark sorriu de lado, achando graça na tentativa dela de parecer desinteressada. No entanto, ele próprio não estava muito melhor.

Ele tentou focar nos grãos de areia grudando em seus pés molhados, no barulho das risadas dos amigos que ainda brincavam no mar, até mesmo no céu, onde algumas poucas nuvens começavam a se formar. Mas a verdade era que seus olhos insistiam em voltar para ela, como se tivessem vontade própria.

, por sua vez, arriscou um olhar rápido quando percebeu que ele estava mais perto. Mas, no instante em que os olhares se encontraram, ela desviou de novo, mordendo o lábio e fingindo mexer no cabelo molhado.

Era quase um jogo silencioso entre os dois. Um tentando não encarar o outro por muito tempo, mas falhando miseravelmente.

Mark já estava quase ao lado dela quando, sem querer, chutou um pouco de areia para frente. olhou para baixo por reflexo e riu baixinho ao ver o movimento desajeitado dele.

— Eu juro que não foi proposital. — Ele disse, parando ao lado dela.

Ela ergueu o olhar, desta vez sem desviar.

— Sei... — respondeu, arqueando uma sobrancelha.

Mark soltou um riso abafado, passando a mão pela nuca.

— Talvez eu tenha ficado um pouco nervoso, esperando pelo drink que você me deve, daí acabei tropeçando. — Mark deu de ombros, arrancando outra risada dela.

— Já provou caipirinha? É uma bebida típica aqui do Brasil.

Mark arqueou uma sobrancelha, interessado.

Caipirinha? Já ouvi falar, mas nunca provei. É boa?

sorriu e bateu levemente a mão na areia ao lado dela, convidando-o a se sentar.

— Depende... — ela disse, observando enquanto ele aceitava o convite e se acomodava ao lado dela. — Se for bem feita, é deliciosa. Mas se errar a mão na cachaça, pode acabar forte demais.

Mark riu, apoiando os braços sobre os joelhos.

— Então quer dizer que vou confiar em você para escolher uma boa?

— Exatamente. — inclinou levemente a cabeça, divertida. — E já que você nunca tomou, acho que mereço um bônus pelo privilégio de te apresentar à melhor bebida brasileira.

— Ah, é? E o que você quer em troca?

Ela fingiu pensar por um instante, encarando o horizonte.

— Ainda não sei... Mas vou guardar esse crédito para mais tarde.

Mark sorriu de lado, achando graça na confiança dela.

— Fechado. Vou ficar te devendo uma.

O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Pelo contrário. Eles apenas observaram a paisagem por alguns segundos, sentindo a brisa salgada e ouvindo as risadas dos amigos ao fundo.

— Você é daqui? — Mark perguntou, finalmente quebrando o silêncio.

negou com a cabeça.

— Não exatamente... Meus pais tem uma casa aqui. E vocês?

— Estamos viajando de férias. Decidimos conhecer o Brasil e aproveitar a praia. — Ele sorriu. — Acho que fizemos uma boa escolha.

o olhou de canto de olho e sorriu também.

— Acho que sim...

E assim, a conversa fluiu. Eles começaram a trocar histórias, falando sobre lugares, experiências e pequenas curiosidades, enquanto o sol ia esfriando lentamente no horizonte.

⛱️⛱️⛱️

passou as mãos pela areia para limpar os grãos que grudaram em sua pele e então se levantou, esticando os braços para espreguiçar-se levemente. Abaixou-se pegando a bolsa e retirou de lá o celular e um cartão.

— Espera aqui — ela disse, ajeitando a alça do biquíni no ombro. — Vou buscar sua caipirinha.

Mark ergueu o olhar para ela, sorrindo.

— Já? Achei que ia me enrolar um pouco mais antes de pagar a dívida.

Ela riu, inclinando-se ligeiramente para ele.

— Se eu enrolar, você pode mudar de ideia. Melhor garantir logo.

Mark riu também, balançando a cabeça.

— Justo. Vou ficar aqui esperando. Não demore, senão vou achar que fugiu com meu crédito.

lançou-lhe um olhar brincalhão antes de se virar e caminhar pela areia em direção ao quiosque mais próximo. Mark a observou ir, percebendo como ela parecia completamente à vontade ali, os cabelos ainda úmidos caindo sobre as costas enquanto a brisa bagunçava algumas mechas.

Ele soltou um suspiro baixo, desviando o olhar rapidamente para o mar, tentando disfarçar o sorriso que insistia em surgir em seus lábios.

caminhou tranquilamente pela areia até alcançar um dos quiosques mais próximos. O aroma cítrico das frutas misturava-se com o cheiro de água salgada e protetor solar, criando uma atmosfera tipicamente praiana.

Ela se aproximou do balcão de madeira, apoiando-se com um dos braços enquanto observava o menu simples pendurado acima da cabeça do atendente.

— Oi! Pode me ver uma caipirinha de limão, por favor? — pediu com um sorriso educado.

O atendente, um homem de meia-idade com pele bronzeada e um avental já manchado de bebidas preparadas ao longo do dia, assentiu e começou a cortar os limões com destreza.

Enquanto esperava, ergueu o celular em direção ao seu próprio rosto, apenas para checar as horas. No entanto, antes que pudesse realmente se concentrar na tela, um calafrio percorreu sua espinha.

Ela franziu ligeiramente as sobrancelhas. Uma estranha sensação de estar sendo observada tomou conta de si, como se um olhar fixo queimasse contra sua pele.

Disfarçadamente, ergueu os olhos e os desviou ao redor. Havia algumas pessoas espalhadas pelo quiosque—turistas conversando animadamente, um casal dividindo um coco gelado, e um pequeno grupo de rapazes encostados mais ao canto, rindo de algo entre si.

Nada parecia fora do comum. Ainda assim, a sensação persistia.

Ela respirou fundo, voltando a atenção para a bebida que o atendente começava a preparar, mas agora sentia seus sentidos em alerta, como se estivesse esperando por algo.

Depois de alguns minutos lá estava ela voltando com a caipirinha em mãos, os ombros ainda estavam tensos, assim como seu caminhar. Era como se ela ainda sentisse que estava sendo vigiada, e aquela sensação fazia com que seu coração saltasse dentro do peito descompassado, tal qual uma escola de samba.

Avistou Mark conversando com alguns amigos que já haviam saído do mar e estavam sentados ao redor dele. Algo dentro dela pareceu se acalmar quando os olhares se cruzaram e ele sorriu para ela, mas não sem notar que ela parecia um pouco mais pálida agora.

— Seja educado e divida com seus amigos. Ah, e de nada! — ela deu de ombros tentando soar engraçada, mas Mark reparou que o semblante dela estava diferente.

Mark pegou a caipirinha das mãos dela com um sorriso largo, sentindo o calor da bebida em suas palmas.

— Muito obrigado, ! — ele disse com um sorriso cúmplice, dando um gole na bebida e soltando um "Ahh" satisfeito. — Isso sim é vida! Vou até dividir com o pessoal, porque, né, sou generoso... mas só um golinho, hein! Não se preocupe, vou manter o resto pra mim.

Ele riu baixo, tentando aliviar a tensão visível nos ombros dela, mas logo reparou que algo parecia diferente nela. estava mais quieta, com um olhar distante que ele não havia notado antes.

— E aí, o que aconteceu? Você parecia super tranquila antes de ir ao quiosque, mas agora... — ele fez uma pausa, observando-a com atenção. — Tem alguma coisa me escapando ou o mar de fato te deixou meio tensa?

Ele ergueu uma sobrancelha, tentando descontrair a situação, mas com o olhar fixo nela, agora mais preocupado. Jhonny foi o primeiro a pegar o copo das mãos do amigo e se ajeitou outra vez ao lado dele, sentando-se.

— Não! — balançou a cabeça — O mar me deixa mais calma na verdade. Acho que minha pressão pode ter baixado, só isso! Preciso almoçar.

tentou sorrir, mas era visível que a tentativa não tinha sido convincente. Ela evitou o olhar de Mark por um momento, focando em ajustar sua canga na areia. Ele a observou atentamente, ainda com a sobrancelha erguida, mas tentou não pressionar mais, decidindo fingir que acreditava no que ela dissera.

— Ah, claro, pressão baixa, quem nunca, né? — Mark respondeu com um sorriso descontraído, dando de ombros, embora ainda estivesse um pouco cético.

Jhonny, que já estava saboreando a caipirinha, fez uma careta de prazer e comentou, quase como se fosse uma revelação para todos ali:

— Cara, essa bebida é boa demais! Eu definitivamente preciso de uma dessas.

Os outros meninos começaram a rir e se juntar à conversa, e um a um eles foram elogiando a bebida e dizendo que queriam tomar também.

Yuta, ainda com a água escorrendo pelo corpo, se aproximou e pegou o copo das mãos de Jhonny, que ia dar outro gole e entregou-o de volta para Mark, dizendo:

— Vamos lá, Mark, seja um cavaleiro, né? Ofereça para a nossa guia turística também, afinal é graças a ela que descobrimos essa delícia!

Mark olhou para os amigos, riu e então virou-se para , oferecendo-lhe o copo.

— O que acha, ? Um golinho de caipirinha, para aliviar essa pressão aí?

Ele sorriu, de forma mais suave, tentando quebrar o clima tenso que ela ainda parecia carregar, enquanto os amigos de Mark brincavam ao fundo.

Ela segurou o copo em uma das mãos e então deu um gole rápido da bebida sentindo o álcool descer queimando a garganta. Deu mais uma olhada na praia e devolveu o copo para Mark. A sensação ainda a atormentava, mesmo que ela não visse nada suspeito.

Era hora de ir embora. Não podia colocar Mark e seus amigos em perigo, caso essa sensação não fosse apenas uma paranoia da sua cabeça.

— Bom, Mark, foi um prazer conhecer você e seus amigos. Eu já vou indo, preciso almoçar antes que eu desmaie ou algo do tipo. A gente se vê por aí, bom Carnaval e boas férias. — Com isso ela se levantou, fazendo Mark levantar-se com ela, surpreso.

Ela recolheu a toalha, e se vestiu com sua saída de praia, recolhendo a toalha e a canga com pressa e jogando as mesmas de qualquer jeito dentro da bolsa, se esquecendo do chapéu.

Sem dar nenhuma chance para Mark ou para os amigos, ela lhes deu às costas, começando a caminhar, um tanto quanto sem rumo.

Mark ficou parado por um instante, observando se afastar. Ele tinha percebido a tensão nela, o jeito apressado e a forma como ela parecia estar tentando esconder algo. A reação dela o deixou confuso, e um impulso de se aproximar e perguntar o que estava acontecendo cresceu dentro dele. Mas antes que ele pudesse agir, ela já estava se afastando, sem dar espaço para mais palavras ou gestos de despedida.

Os amigos de Mark, percebendo a mudança no clima, começaram a rir entre si, descontraindo a situação. No entanto, Mark não podia deixar de se preocupar. O que teria causado aquela reação nela? Ele olhou para a caipirinha, depois para o local onde ela havia ido embora, sentindo um leve aperto no peito, algo que não podia simplesmente ignorar.

— Ei, Mark, vai atrás dela? — Doyoung perguntou, dando uma risadinha, mas vendo a seriedade no rosto de Mark.

Mark balançou a cabeça, ainda indeciso.

— Acho que ela só estava cansada ou algo assim... mas não pareceu bem, né? — Mark murmurou, dando um suspiro e começando a caminhar em direção à toalha que ele deixara espalhada na areia. Não podia negar que o comportamento de o tinha afetado.

Enquanto isso, os outros amigos continuaram com a conversa descontraída, mas Mark estava distante, tentando entender o que realmente estava acontecendo. Ele ainda podia sentir o gostinho da caipirinha em sua boca e a imagem de , apressada e sem olhar para trás, estava gravada em sua mente.

Será que eles se veriam de novo? Ele desejou que sim.

⛱️⛱️⛱️


caminhava rapidamente pela areia, tentando manter um passo firme e decidido, mas seu coração estava acelerado. A cada poucos passos, ela olhava por cima do ombro, quase instintivamente, como se esperando ver alguém atrás dela. Não era que ela acreditasse que algo estava de fato errado, mas a sensação persistente de ser observada a deixava inquieta.

O vento quente da praia batia contra seu rosto, mas ela mal o sentia, concentrada demais no movimento das pessoas ao redor. A cada olhar por trás, seus olhos procuravam por Mark, seus amigos ou qualquer outra pessoa, mas sempre que ela não os via, uma sensação estranha de alívio e culpa se misturava dentro dela. E se eles estivessem mesmo atrás dela?

Ela chegou à pequena estrada que levava para fora da praia, onde as construções começavam a surgir, e uma parte de sua mente dizia para ela parar e relaxar, que não havia motivo para se preocupar. Mas a outra parte, a mais cautelosa e cheia de ansiedade, continuava a empurrá-la para longe de lá, o mais rápido possível.

Mais uma vez, ela olhou para trás.

E lá estava ele, Mark, ainda na areia, mas ela não sabia se ele a estava observando ou se estava apenas distraído com os amigos. Um frio percorreu sua espinha, como se ele tivesse sentido o mesmo que ela: a tensão no ar. Mas ela não queria pensar mais nisso. Não agora. Ela precisava ir embora, se afastar, dar um tempo para que sua mente se acalmasse.

Ela respirou fundo e continuou seu caminho, mas seus olhos ainda buscavam respostas no horizonte, onde a praia parecia cada vez mais distante.

Quando finalmente chegou em casa, os passos largos e apressados diminuíram à medida que ela passava pela porta de entrada. O alívio de estar longe da praia, daquele mar de gente e da sensação constante de estar sendo observada, parecia consumir toda a tensão que ela havia carregado. Ela tirou a bolsa do ombro e a colocou em cima da mesa de entrada, fechando a porta atrás de si com um suspiro profundo.

Ela se sentou no sofá, passando as mãos pelos cabelos, tentando se acalmar. Foi quando seus olhos caíram sobre a bolsa e a canga que ela havia largado de qualquer jeito. Seu peito apertou de repente, e ela se deu conta de algo que tinha esquecido.

O chapéu. Ela tinha deixado o chapéu para trás.

deu um pequeno suspiro frustrado, pensando em como tinha sido desleixada ao não verificar tudo antes de sair. O chapéu havia sido uma de suas únicas defesas contra o calor escaldante, e agora ele estava lá, na praia, em algum lugar entre a areia e as risadas dos amigos de Mark.

Ela estava tão distraída com as próprias inseguranças, com a sensação de estar sendo observada, que nem se deu conta de quando largou o chapéu. Agora, tudo o que ela queria era esquecer aquele dia tenso e seguir em frente.

Mas a sensação de inquietação não a deixava. Algo sobre aquele chapéu, perdido na areia, parecia representar mais do que uma simples distração. Talvez fosse um sinal de que ela realmente precisava parar de fugir dos próprios sentimentos. Ou talvez fosse apenas uma simples lembrança de que o Carnaval, assim como sua vida, havia sido jogado de cabeça para o desconhecido.

Ela fechou os olhos por um momento, tentando afastar o pensamento. "Depois eu tento achar", ela disse para si mesma, mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria voltar para buscar aquilo que de alguma forma representava um pedaço de sua presença naquela praia.

— Eu sabia que você ia voltar para almoçar em casa. E fez bem querida, essas comidas de praia, nunca se sabe, não é?

sorriu genuinamente ao ouvir a voz de se aproximando dela na sala, e então ergueu os olhos para encontrar com ela.

— O que você fez? — estreitou os olhos e tentou sentir o cheiro que vinha da cozinha.

— Adivinha?

arqueou uma sobrancelha, curiosa, e levantou-se do sofá, caminhando até a cozinha enquanto tentava adivinhar o prato. O cheiro delicioso a fazia sentir fome de repente.

— Hmm... Vamos ver... Tem um cheiro de... comida caseira e uma pitada de alho. — Ela fez uma pausa, tentando identificar os ingredientes. — Será que você fez feijão tropeiro? Não me diga que é isso, !

sorriu, com um brilho nos olhos, e com um gesto dramático apontou para a panela.

— Acertou, querida! Feijão tropeiro, como você gosta. Achei que seria uma boa ideia já que você esteve fora a manhã toda, deve estar faminta.

não pôde conter o sorriso ao ouvir que o prato favorito havia sido preparado. Feijão tropeiro era algo que ela sempre associava à sensação de estar em casa, de conforto, algo simples, mas acolhedor. Ela olhou para a panela, com os olhos brilhando, e se sentiu instantaneamente mais leve.

— Você sabe que meu estômago é seu, né? — se aproximou da mesa, puxando uma cadeira. — Amei a ideia de um almoço simples, assim. A praia estava boa, mas esse cheiro é o que realmente me deixa feliz.

riu, colocando um pouco do feijão tropeiro no prato de , antes de se sentar à mesa também.

— Eu sabia que você não ia resistir a esse. Então, me conta, como foi lá na praia? Fez novas amizades?

sentou-se, pegando a colher e levando um pouco do feijão à boca, saboreando o gosto reconfortante. Por um momento, ela ficou em silêncio, absorvendo a tranquilidade do ambiente familiar.

— É, eu fiz... — Ela desviou o olhar rapidamente, antes de tomar outro gole de sua bebida e continuar — Conheci algumas pessoas, nada de mais. O Carnaval está bombando, já sabe como é, né? Só que... algumas coisas me deixaram meio estranha.

, com um olhar atento, parou por um segundo e observou a filha. A preocupação na expressão de não passava despercebida.

— Eu entendo. Às vezes, o carnaval traz muita coisa boa, mas também pode te deixar com a sensação de estar fora de controle. Se precisar conversar, sabe que pode contar comigo, né?

assentiu, tentando disfarçar o que realmente estava sentindo. Mas o conforto daquela comida e a presença de começaram a acalmá-la, e ela se permitiu relaxar por um momento, ainda que o pensamento sobre o chapéu e o que acontecera na praia estivesse ecoando em sua mente.

parecia empolgada enquanto se acomodava na cadeira e dava mais uma garfada do feijão tropeiro, antes de continuar a conversa.

— Ah, você não vai acreditar no que eu descobri hoje, ! — Ela balançou a colher animada. — Tem uma banda internacional muito famosa hospedada na casa ao lado, acredita? Eles estão tirando férias e apareceram logo aqui. Fiquei sabendo porque os seguranças estavam em todos os cantos, checando a entrada e tal... o caos que é quando essas pessoas grandes vêm para a cidade, né?

fez uma pausa, ouvindo as palavras de , mas logo seu olhar se fixou na janela, como se estivesse olhando para a rua lá fora, distante, enquanto as informações se organizavam em sua cabeça. A conversa sobre segurança, os carros e SUVs potentes... Ela se lembrou das grandes caminhonetes que ela havia visto mais cedo, estacionadas em frente a casa, quando ela estava chegando... O detalhe das grandes janelas escurecidas, o fato de eles estarem em grupos e com olhares desconfiados, tudo agora começava a fazer sentido.

Ela baixou a cabeça, tentando disfarçar a crescente sensação de desconforto.

— Ah, é? Uma banda... — Ela se forçou a sorrir, mas a mente estava ocupada demais com a associação dos detalhes. — Eu não sou muito de seguir essas coisas, mas imagino que deve ser uma loucura, né? Muitos fãs e toda essa bagunça de segurança.

continuou a falar animada sobre o que havia descoberto, mas estava distante, tocando o copo de suco com a ponta dos dedos, sem realmente prestar atenção nas palavras de . Ela estava tentando conectar as pontas, mas uma parte de sua mente resistia a formar uma conclusão concreta.

Aquela sensação de estar sendo observada, as perguntas não respondidas, o chapéu esquecido... Agora tudo parecia fazer mais sentido. Ela não queria alimentar teorias na sua cabeça, mas, por outro lado, algo naqueles carros e no jeito como as coisas aconteciam estava se encaixando. Talvez fosse apenas paranoia, mas... talvez não.

Depois do almoço, decidiu tomar um banho para tentar relaxar. A água quente ajudou a aliviar a tensão dos ombros, mas sua mente ainda estava agitada. A sensação de estar sendo observada na praia ainda pairava sobre ela, e mesmo dentro de casa, a inquietação não a abandonava. Ela tentou se distrair lendo um livro e ouvindo música, mas os pensamentos insistiam em voltar para os acontecimentos do dia. No fim, acabou tirando um cochilo no sofá, aproveitando a tranquilidade da tarde.

Enquanto isso, na praia, Mark e os meninos continuaram aproveitando o dia. Depois que foi embora, a energia entre eles voltou a ser descontraída, com brincadeiras na água e piadas sem fim. Jungwoo tentou pegar uma onda e acabou levando um caldo, enquanto Haechan fazia questão de narrar tudo de forma exagerada para garantir boas risadas.

Quando o sol começou a baixar e a fome bateu, o grupo decidiu voltar para a casa onde estavam hospedados. Mark caminhava mais atrás, segurando algo nas mãos: o chapéu de . Ele o havia encontrado esquecido na areia e, sem pensar muito, pegou para si. Talvez fosse só um pretexto para acreditar que a veria novamente, ou talvez fosse apenas um gesto de cuidado, mas o fato era que ele queria ter a chance de devolver pessoalmente.

No caminho de volta, Johnny notou o objeto e ergueu uma sobrancelha.

— Então, Mark... Vai começar a colecionar lembranças das garotas agora?

Mark riu baixo, balançando a cabeça.

— Só achei que ela poderia querer de volta — respondeu, simples, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso ao olhar para o acessório em suas mãos.

enquanto. Ao chegarem em casa, foram direto tomar banho e descansar um pouco antes de decidirem o que fazer à noite.

E Mark? Bem, ele ainda segurava o chapéu de , se perguntando se teria uma nova chance de encontrá-la.

⛱️⛱️⛱️

Acordou assustada com o celular vibrando embaixo do travesseiro e ainda ofegante pelo susto, levou uma das mãos até o objeto reconhecendo de imediato o número que brilhava na tela.

Ela não queria atender de jeito nenhum, mas sabia que era o melhor a se fazer, ainda mais levando em conta as circunstâncias das sensações de mais cedo. umedeceu os lábios e então atendeu:

“Alô?” — A voz dela vacilou um pouco.

“Então você está aproveitando o Carnaval sem falar comigo, belezinha?”

A voz dele soou do outro lado, fria e cortante como sempre e sentiu um arrepio em sua espinha.

“Como você sabe onde eu estou?” deu um pulo da cama e foi em direção à janela, afastando as cortinas e olhando através dela.

“Você acha que nós somos bobos, belezinha? Até parece que não me conhece.” — ele suspirou do outro lado da linha — “Seus amiguinhos devem estar aproveitando as belezas do litoral, não é?”

sabia que aquilo havia sido uma espécie de aviso. Ele realmente estava a vigiando e sabia que ela havia se aproximado de Mark e de seus amigos.

Ela fechou os olhos com força, tentando controlar a respiração que ameaçava sair do controle. Seu coração martelava no peito, e suas mãos tremiam enquanto segurava o celular. Ela não podia demonstrar fraqueza, não para ele.

Engolindo em seco, ela abriu os olhos, fitando a escuridão lá fora, e apertou o celular com mais força contra a orelha.

“Você precisa parar com isso” — sua voz saiu mais firme do que esperava. — “Eu não tenho medo de você.”

Do outro lado da linha, ele riu baixo, um som carregado de desdém.

“Ah, belezinha… Você sempre foi boa em fingir coragem, mas nós dois sabemos a verdade.”

sentiu a raiva borbulhar dentro dela.

“Me deixa em paz. Para de me seguir. Para de me vigiar. Acabou. Vocês não tem mais controle sobre mim.”

O silêncio do outro lado foi breve, mas denso, como se ele estivesse se divertindo com a audácia dela.

“Veremos” — ele respondeu, num tom enigmático.

Sem pensar duas vezes, desligou a chamada e jogou o celular na cama, respirando fundo para tentar conter a adrenalina. Seu corpo inteiro tremia, mas ela não ia deixar o medo vencer.

Não dessa vez.

⛱️⛱️⛱️

Mark ajeitou os cabelos enquanto olhava o próprio reflexo no espelho de um dos banheiros da casa enquanto Jaehyun o observava, esperando para usar o banheiro também.

— Tem certeza que quer ficar sozinho aqui a noite toda? — Mark virou o rosto e o encarou.

— Tenho, eu vou ficar bem, vocês não precisam se preocupar comigo. Vou usar a noite para tentar compor alguma coisa, não sei.

— A tal pode ter inspirado você, né? Um amor de verão, que bonitinho. — Jaehyun adentrou o banheiro e então apertou as bochechas do amigo.

Mark fez uma careta e riu depois de se afastar de Jaehyun, saindo do banheiro.

— Divirtam-se! Mas lembrem-se: ainda somos pessoas públicas longe de casa, ok?

Jaehyun sorriu para ele e assentiu em silêncio antes de fechar a porta do mesmo.

Mark caminhou até o quarto que estava, não sem antes passar por Jhonny e Yuta já prontos e os elogiar. Os dois pareciam empolgados para aproveitar a noite, vestidos de maneira impecável, prontos para se misturar na energia vibrante do Carnaval.

— Vocês estão um luxo, hein? — ele brincou, cruzando os braços.

— Sempre, né? — Jhonny respondeu, piscando para ele.

— E você? Vai ficar por aqui mesmo? — Yuta perguntou, ajeitando o colar no pescoço.

Mark assentiu.

— Sim, vou aproveitar a noite para compor um pouco. Mas vocês, lembrem-se: ainda somos pessoas públicas, longe de casa, ok? Divirtam-se, mas com responsabilidade. — Ele repetiu o discurso feito para Jaehyun.

— Pode deixar, chefe! — Jhonny fez uma saudação brincalhona, enquanto Yuta apenas riu.

Mark balançou a cabeça, ainda sorrindo, e seguiu pelo corredor até o quarto. Assim que entrou, fechou a porta atrás de si e se apoiou contra ela por um instante, soltando um suspiro longo.

Seus olhos pousaram sobre o violão encostado na parede ao lado da cama. Ele caminhou até ele, pegando-o com cuidado e se sentando na beirada do colchão. Seus dedos deslizaram pelas cordas, sentindo a textura familiar, e então, sem perceber, sua mente voltou para os momentos mais cedo na praia.

.

A maneira como ela sorria, a forma como seus olhos carregavam algo que ele ainda não conseguia decifrar.

Inspirado, ele dedilhou as primeiras notas, deixando a melodia surgir no silêncio da noite.

⛱️⛱️⛱️

Mark passou mais um tempo encarando o violão em seu colo, os dedos deslizando sem compromisso pelas cordas, tentando encontrar algo que soasse certo. Mas nada parecia bom o suficiente. Cada melodia que começava a tocar logo se tornava repetitiva ou simplesmente não fazia sentido.

Frustrado, ele suspirou e largou o violão ao lado, passando as mãos pelos cabelos. Não adiantava insistir. Talvez a brisa do mar ajudasse a clarear sua mente.

Sem pensar muito, ele pegou o violão novamente, vestiu um moletom leve sobre a regata e saiu do quarto, caminhando pelo corredor silencioso. A casa estava vazia, os meninos tinham saído há um tempo e só voltariam de madrugada. Era um bom momento para respirar um pouco. Avisou à pequena parte da equipe que estava na cozinha, que sairia rapidamente e teve a aprovação dos mesmos.

Ao abrir a porta e pisar na varanda, no entanto, Mark congelou por um instante.

Na casa ao lado, fechando também o portão, estava .

Ela vestia um short e uma blusa soltinha, com os cabelos presos de qualquer jeito, como se também tivesse decidido sair no impulso. Mas foi a expressão surpresa dela ao vê-lo que mais chamou sua atenção.

— Você? — ela franziu a testa, parando no meio do movimento de fechar o portão.

Mark piscou algumas vezes, também surpreso.

?

Os dois ficaram alguns segundos se encarando até ela olhar ao redor e depois para ele novamente.

— Espera… você tá me dizendo que essa casa aqui… — ela apontou para a casa dele e depois para a dela. — Você e seus amigos estão na casa vizinha da minha?

Mark soltou um riso soprado, balançando a cabeça.

— Pelo visto, sim.

piscou, ainda assimilando a informação.

— Isso explica muita coisa…

— Explica? O quê?

Ela mordeu o lábio inferior e cruzou os braços, desviando o olhar por um instante, como se tivesse falado mais do que deveria.

Mark notou, mas não pressionou. Em vez disso, inclinou levemente a cabeça, analisando-a.

— Você também não consegue dormir?

deu de ombros.

— Digamos que eu só queria espairecer um pouco. Você?

Ele ergueu o violão levemente.

— Tentando buscar inspiração. Mas tá difícil.

Ela sorriu de lado.

— Então a praia é o nosso destino em comum essa noite de novo?

Mark segurou o riso e deu de ombros.

— Parece que sim.

Os dois ficaram mais alguns segundos ali, como se ainda processassem o acaso da situação. Então, sem dizer mais nada, começaram a caminhar juntos em direção à praia, o som das ondas ecoando ao longe.

— Você faz parte da banda famosa que está sendo minha vizinha, então?

Mark suspirou pesadamente e abriu a boca para falar algo, mas hesitou.

— Eu preferia quando eu era um anônimo para você, não vou mentir. — Ele soltou uma risada sem humor.

sorriu, e aproveitou para fazer um coque nos cabelos com a presilha que tinha em mãos.

— Mas você é! Não conheço seu grupo.

Mark parou de andar por um segundo e olhou para ela, piscando algumas vezes.

— O quê?

se virou para ele, arqueando uma sobrancelha.

— O quê, o quê?

— Você… não conhece meu grupo? — Ele apontou para si mesmo, como se precisasse ter certeza de que tinha entendido direito.

Ela riu baixinho e continuou andando.

— Não. Devia?

Mark ficou imóvel por mais alguns segundos, tentando processar aquela informação. Fazia tempo que não encontrava alguém que não soubesse quem ele era. Por um instante, se sentiu exatamente como antes da fama, quando podia andar por aí sem ser reconhecido ou abordado.

Ele acelerou os passos para alcançá-la, balançando a cabeça com um sorriso divertido.

— Isso é… diferente.

— Diferente como?

— Sei lá, é refrescante. Todo mundo que me encontra já tem uma ideia sobre mim e os garotos antes mesmo de abrirmos a boca. Você não.

deu de ombros.

— Bom, então você tem a chance de me impressionar sem depender da sua fama.

Mark arqueou uma sobrancelha, segurando o violão com mais firmeza.

— Isso soa como um desafio.

— Talvez seja. — Ela lançou um olhar brincalhão para ele antes de olhar para a areia fina sob seus pés.

Mark soltou um riso soprado, gostando daquela interação.

— Então vamos ver se consigo te impressionar sem precisar de um palco.

Ela sorriu, mas não disse nada, apenas continuou andando.

Os dois caminharam juntos até um ponto mais afastado da praia, onde havia menos gente. O barulho das ondas preenchia o silêncio entre eles de um jeito confortável. Quando chegaram a um bom lugar, sentou-se na areia sem hesitar, abraçando os joelhos.

Mark hesitou por um momento antes de fazer o mesmo, posicionando o violão no colo.

— Quer ouvir alguma coisa?

— Por que não? Vamos ver se você realmente me impressiona. — Ela provocou, lançando um olhar desafiador.

Mark riu e começou a tocar uma melodia suave, deixando os acordes fluírem naturalmente. Com sorte, talvez aquela noite fosse exatamente o que ele precisava para encontrar inspiração.

— Normalmente não sou muito bom com músicas lentas, meu forte no grupo são os raps e o hip hop em si…mas tenho tentado utilizar o violão para me ajudar com as letras. Não tem funcionado.

Ele soltou um muxoxo e parou de tocar.

— O que tem preenchido sua mente? — olhou diretamente para ele.

Mark desviou o olhar para o mar, respirando fundo antes de responder.

— Acho que é esse bloqueio criativo. Tem sido frustrante. Eu me sento para compor, para criar algo novo, mas nada parece bom o suficiente.

Ele passou uma das mãos pelos cabelos, claramente frustrado.

— Talvez você esteja colocando pressão demais sobre si mesmo. — observou, apoiando os braços sobre os joelhos.

Mark soltou uma risada seca.

— Isso é meio inevitável. Quando você tem um público esperando sempre algo melhor que o último trabalho, a pressão vira uma constante.

ficou em silêncio por um momento, assimilando o que ele disse. Então, inclinou um pouco a cabeça para o lado.

— E antes?

Ele franziu o cenho.

— Antes?

— Antes de se preocupar com o público, com as expectativas… O que te fazia querer fazer música? O que te inspirava?

Mark ficou calado, surpreso com a pergunta. Ele não costumava parar para pensar nisso. A música sempre tinha sido parte dele, mas, nos últimos tempos, ela se tornou mais uma obrigação do que um refúgio.

— Acho que… — Ele hesitou. — Eu fazia música porque era divertido. Porque eu gostava de transformar sentimentos e experiências em algo palpável.

sorriu de lado.

— Então talvez o problema não seja a falta de inspiração… Mas sim o fato de que você esqueceu por que faz isso.

Mark a encarou, processando aquelas palavras. Ele nunca tinha pensado por esse ângulo.

— Você sempre fala coisas assim para pessoas que acabou de conhecer?

Ela riu.

— Só quando elas precisam ouvir.

— Então, já que estou aqui, posso tentar de novo.

Ele ajeitou o violão, deixando os dedos deslizarem pelas cordas, mais relaxado desta vez.

— Porque você fugiu daquele jeito, mais cedo? — os dedos de Mark ainda dedilhavam melodias no violão.

— Eu não fugi. — Ela mentiu.

— Você definitivamente fugiu, . E está fugindo agora de novo…

apertou os lábios, desviando o olhar para o mar, mas sentindo o peso do olhar de Mark sobre ela. Ele parou de tocar e, com um suspiro baixo, colocou o violão de lado na areia.

— Eu só… — Ela começou, mas não soube como terminar a frase.

Mark se inclinou um pouco para frente, os olhos escuros analisando cada detalhe do rosto dela.

— Você está fugindo agora de novo. — Ele repetiu, a voz mais baixa, como se estivesse falando um segredo.

finalmente ergueu os olhos para ele, encontrando aqueles traços sérios e intensos. A proximidade entre os dois nunca pareceu tão evidente.

— E se eu estiver? — Ela desafiou, a respiração um pouco mais pesada.

Mark não recuou.

— Então eu quero saber do que você está fugindo.

O silêncio se instalou entre eles, apenas o som das ondas preenchendo o espaço. sentia o coração bater rápido demais dentro do peito. Algo na forma como ele a olhava a desarmava, como se enxergasse além da superfície.

— Você não quer saber. — Ela sussurrou, como se tentasse convencê-lo a deixar o assunto morrer.

Mark inclinou a cabeça para o lado, um pequeno sorriso puxando o canto dos lábios.

— Talvez eu queira.

Os olhos de passearam pelo rosto dele, estudando cada detalhe. Por um segundo, pareceu que ela ia ceder, mas então desviou o olhar e soltou um suspiro pesado.

— Eu não sou tão interessante quanto você pensa, Mark.

Ele franziu o cenho, mas não insistiu.

— Isso é você quem diz.

E, pela primeira vez naquela noite, sentiu que talvez fosse verdade.

— Você estava fugindo de mim? — Ele voltou a tocar no assunto — Não sei… realmente não sabia que eu sou famoso?

respirou fundo, sentindo a brisa noturna tocar seu rosto. Em um movimento quase inconsciente, se ajeitou melhor na areia, apoiando as mãos atrás do corpo. O gesto fez com que seus ombros roçassem nos de Mark, e ela percebeu a conexão sutil entre eles. Ele não recuou.

Mantendo os olhos no mar, inspirou lentamente antes de responder.

— Não. — Sua voz saiu firme, mas tranquila. — Eu não estava fugindo de você.

Ela virou o rosto para encará-lo, mas encontrou apenas um olhar atento, esperando mais.

voltou a olhar para as ondas, sentindo a respiração controlada.

— Eu não tinha motivos para isso. E não, eu realmente não sabia que você é famoso.

Mark continuou observando-a por alguns segundos, como se tentasse decifrar se ela estava sendo sincera. Então, sem dizer nada, ele desviou o olhar para o horizonte, permitindo que o silêncio entre eles falasse mais do que qualquer resposta.

⛱️⛱️⛱️

Os dois permaneceram em silêncio durante alguns minutos e então como se estivessem sincronizados, os rostos se viraram de encontro um ao outro e eles se encararam mais uma vez.

— É pesado ser famoso? — quebrou o silêncio — Eu tenho a sensação que vocês não vivem de verdade…

Mark soltou uma risada baixa, mas sem humor, desviando o olhar por um instante antes de encará-la de novo.

— Você não está completamente errada. — Ele passou a língua pelos lábios, pensativo. — Às vezes, parece que estamos sempre desempenhando um papel, sempre correspondendo a expectativas… sendo quem esperam que sejamos, e não quem realmente somos.

Ele respirou fundo, pegando um punhado de areia e deixando os grãos escorrerem entre os dedos.

— A gente vive, claro. Mas não do jeito que as pessoas acham. Tudo que fazemos tem consequências maiores. Um deslize pode virar notícia, uma escolha errada pode nos perseguir por anos. E às vezes, tudo o que a gente quer é simplesmente existir sem ter que pensar tanto.

— Mas também não posso reclamar. Tem momentos incríveis. É só… pesado. Como você disse.

Mark esperou a reação de , curioso para saber o que ela pensava sobre isso.

— Não ser famoso também é um fardo ás vezes. — Ela deu de ombros — Especialmente quando você está meio perdido na vida, ou se perdeu em algum momento.

— É o seu caso?

desviou o olhar para o mar, observando as ondas quebrarem na areia sob a luz da lua. Respirou fundo antes de responder, como se estivesse escolhendo as palavras certas.

— Acho que sim. — Ela deu um sorriso pequeno, mas sem alegria. — Em algum momento, eu me perdi… e ainda não descobri como me encontrar de novo.

Mark a observou em silêncio, percebendo a sinceridade naquelas palavras.

— E como foi que você se perdeu? — Ele perguntou, com a voz mais suave.

soltou uma risada baixa, sem humor, e balançou a cabeça.

— Essa é a grande pergunta, não é? Acho que foi aos poucos. Pequenas escolhas erradas, pequenas decepções, pequenas desistências… e quando percebi, já não sabia mais exatamente quem eu era ou para onde estava indo.

— Mas não estou aqui para falar de coisas pesadas. — Ela voltou a encará-lo, forçando um sorriso. — Me fala mais do seu grupo.

Mark sorriu, apoiando os braços sobre os joelhos enquanto olhava para o horizonte.

— Bom… nós somos um grupo de K-pop. — Ele riu de leve. — Fazemos parte da indústria musical sul-coreana, que é bem diferente do que muita gente está acostumada. Os artistas geralmente começam como trainees, treinando por anos antes de debutar.

arqueou as sobrancelhas, interessada.

— Treinar? Tipo, para cantar?

— Para tudo. — Mark gesticulou com as mãos. — Canto, rap, dança, presença de palco, atuação, até línguas estrangeiras… basicamente, passamos anos nos preparando para o momento em que finalmente vamos debutar, ou seja, estrear como um grupo oficial.

Ela piscou algumas vezes, surpresa.

— Uau. Eu nunca imaginei que fosse assim. Parece… intenso.

— E é. — Mark concordou. — Mas ao mesmo tempo, é algo que a gente ama. Claro que tem pressão, tem expectativas, mas também tem muita paixão envolvida.

Quando estamos no palco, quando ouvimos nossos fãs cantando com a gente… faz tudo valer a pena.

percebeu um brilho diferente nos olhos dele enquanto falava, uma verdadeira paixão pelo que fazia.

— E como vocês foram formados? Vocês se conheciam antes?

— Não exatamente. — Ele balançou a cabeça. — Fomos escolhidos pela empresa depois de muito treino e testes. Mas, com o tempo, nos tornamos uma família. Passamos tanto tempo juntos que nos conhecemos melhor do que qualquer um.

— Isso tudo parece um universo completamente diferente do meu. Acho que nunca tinha parado para pensar no trabalho por trás do K-pop.

Mark riu.

— Muita gente não pensa. Mas tudo bem, faz parte. Se quiser, depois posso te mostrar mais.

mordeu o lábio, pensativa.

— Acho que eu aceitaria esse convite. Quem sabe você me convence a virar fã do seu grupo?

— Isso parece mais um desafio... — Ele ergueu uma sobrancelha, brincalhão. — E eu adoro desafios.

⛱️⛱️⛱️

Os dois passaram o restante da noite conversando sobre o K-pop, rindo de pequenas histórias e descobrindo mais um sobre o outro na medida do possível. Mark tocou algumas melodias no violão, arriscando até um rap improvisado que fez rir e aplaudir. O clima entre eles era leve e confortável, como se fossem velhos conhecidos. Quando o vento ficou mais frio, decidiram voltar, caminhando lado a lado pela areia. O silêncio entre eles era tranquilo, e de vez em quando seus ombros se esbarravam de leve.

Quando chegaram ao portão da casa dela, parou e virou-se para ele com um pequeno sorriso. O clima entre os dois ainda carregava a leveza da noite que haviam compartilhado, mas havia também uma tensão sutil no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Mark passou a mão pelos cabelos e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado.

— Ah, quase esqueci… — Ele ergueu as sobrancelhas. — Você deixou seu chapéu na praia mais cedo.

franziu o cenho, surpresa.

— Meu Deus,você pegou o meu chapéu? Que bom, Mark.

Ele assentiu, rindo baixinho.

— Espere aqui, eu vou buscar.

Antes que ela pudesse responder, Mark já havia dado meia-volta e corria até a casa ao lado. ficou ali, balançando levemente os braços para espantar o frio da brisa noturna, enquanto olhava para a direção em que ele havia sumido. Seu coração batia rápido, e ela se odiou um pouco por isso.

Poucos minutos depois, Mark reapareceu, segurando o chapéu entre os dedos. Ele se aproximou com um meio sorriso e parou bem à sua frente.

— Aqui está. — Sua voz saiu um pouco mais baixa dessa vez.

estendeu a mão para pegar o chapéu, mas Mark não soltou de imediato. Em vez disso, ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Os olhos de subiram para os dele, e por um momento, ninguém se moveu.

— Sabe… — Ele começou, quase num sussurro. — Eu gosto desse chapéu. Combina com você.

O coração dela deu um salto no peito. O olhar de Mark desceu brevemente para sua boca antes de voltar para seus olhos. sentiu a respiração falhar e, sem pensar muito, fechou o espaço entre eles.

Foi um beijo hesitante no início, como se ambos estivessem testando os limites, mas em segundos, a tensão acumulada se desfez, e tudo fez sentido. Mark segurou delicadamente o rosto dela com uma das mãos, enquanto a outra ainda segurava o chapéu. se inclinou um pouco mais para ele, sentindo o calor de seu corpo contrastar com o frio da noite.

O toque dos lábios era suave, quase incerto, como se ambos ainda estivessem tentando entender a nova sensação. Mas então, Mark aprofundou o beijo, seus dedos deslizando da bochecha dela para a nuca, segurando-a com um pouco mais de firmeza. suspirou contra a boca dele, os dedos apertando de leve a barra da blusa de moletom que ele vestia.

O beijo ganhou um ritmo mais envolvente, e a forma como Mark inclinou o rosto contra o dela fez um arrepio percorrer sua espinha. Era como se, naquele instante, o mundo tivesse diminuído para o pequeno espaço entre os dois. O gosto dele era uma mistura de menta com algo que ela não conseguiu identificar, e sentiu o coração bater tão forte que parecia ecoar no silêncio da noite.

Mark, por sua vez, não queria se afastar tão cedo. Sentia o cheiro leve dos cabelos dela, o calor que emanava de sua pele, e o jeito que os lábios dela encaixavam nos seus o fez sorrir contra o beijo. Ele deslizou a mão livre para a cintura de , puxando-a um pouco mais para perto, como se quisesse garantir que aquilo era real, que ela estava mesmo ali, entregue a ele naquele momento.

Mas, eventualmente, o ar se fez necessário, e eles se afastaram lentamente, ainda com os rostos próximos, as respirações entrelaçadas. Os olhos de estavam brilhando sob a luz suave do poste da rua, e Mark sentiu um impulso de beijá-la de novo. Mas, em vez disso, ele sorriu, roçando levemente o nariz no dela antes de finalmente soltá-la.

— Agora sim, pode pegar. — Ele estendeu o chapéu mais uma vez, a voz levemente rouca.

riu baixinho, pegando o acessório com as pontas dos dedos, sem conseguir desviar os olhos dele.

— Boa noite, Mark.

— Boa noite, .

Ela virou-se e entrou em casa, ainda sentindo os lábios formigarem, enquanto Mark ficou ali parado por mais alguns segundos, passando a língua pelos próprios lábios, tentando prolongar na memória o gosto daquele beijo.

⛱️⛱️⛱️


— Bom dia! — depositou um beijo demorado na bochecha de .

— Bom dia, ! — A mais velha devolveu o beijo — Onde a senhorita foi ontem à noite? Eu me levantei em determinado momento para beber água e vi que você não estava…

— Fui à praia com um dos nossos vizinhos. Mas olha, shhh… — Ela levou o dedo indicador aos próprios lábios — Segredo, eu não quero atrapalhar as férias deles.

Os lábios de se abriram em um O e ela soltou uma risada em seguida.

— Danadinha! — se virou para pegar a margarina na geladeira — Você conhece a banda dele?

— Nunca tinha ouvido falar, . Ontem a noite antes de dormir eu dei uma pesquisada e eles são bons, viu? Gostei.

Logo as duas emendaram uma conversa sobre voltarem para a cidade juntas, já que pretendia voltar já na manhã seguinte para São Paulo, o que impossibilitou que a acompanhasse, ela precisava ficar mais uns dias.

se lembrou do beijo trocado com Mark na noite anterior, e um calor diferente percorreu seu corpo. Mas, junto com a lembrança, veio também uma pontada de preocupação. Seu estômago revirou ao pensar nas ameaças que vinha recebendo nos últimos meses, na sensação constante de estar sendo vigiada sendo confirmada com a ligação de ontem…

E se alguém tivesse visto?

Se já a estavam observando antes, não seria impossível que tivessem testemunhado aquele momento entre ela e Mark. E se isso o colocasse em risco?

De repente, a comida diante dela perdeu completamente o apelo. Seu apetite sumiu como se nunca tivesse existido.

— Você não vai comer, ? — franziu o cenho, percebendo que a mais nova não tocara no pão que preparara.

forçou um sorriso e balançou a cabeça.

— Acho que não acordei muito bem… Deve ser o calor ou algo que comi ontem. Vou voltar pro meu quarto, descansar.

— Tem certeza? Quer que eu prepare um chá para você?

— Não precisa, . Eu só preciso de um pouco de ar.

Antes que insistisse mais, se levantou, pegou um copo d’água e seguiu para o quarto.

Assim que fechou a porta atrás de si, soltou um suspiro pesado. Passou as mãos pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos. O que faria agora? Tinha sido apenas um beijo, mas…

O peso de estar sob vigilância voltou a pressionar seus ombros, e pela primeira vez desde que chegou ali, sentiu medo de verdade.

⛱️⛱️⛱️

Mark já estava de pé, sentado à mesa da cozinha, tomando seu café da manhã tranquilamente. O aroma do café fresco preenchia o ambiente, e ele mastigava um pedaço de pão distraído, ainda perdido nos acontecimentos da noite anterior.

Aos poucos, seus amigos começaram a aparecer. Jaehyun foi o primeiro, bocejando enquanto abria a geladeira em busca de algo para beber.

— Você acordado antes de mim? Isso é novo. — Ele comentou, pegando um suco e se servindo.

— Quis aproveitar o dia. — Mark respondeu com um meio sorriso, sem dar muitos detalhes.

Jhonny e Yuta chegaram logo depois, ambos ainda meio sonolentos, mas prontos para compartilhar histórias da noite anterior.

— Cara, você perdeu. — Jhonny começou, se jogando em uma das cadeiras. — A festa foi insana. Tinha um DJ muito bom, e, sério, você deveria ter ido.

— E tinham umas garotas que ficariam felizes em te conhecer. — Yuta piscou para Mark, provocando.

Mark riu fraco, balançando a cabeça.

— Parece que vocês aproveitaram bem.

— E você? — Jaehyun ergueu uma sobrancelha, desconfiado. — Passou a noite inteira trancado no quarto tentando compor?

Antes de Mark responder, os outros três garotos chegaram à cozinha, um a um, trazendo com eles o mesmo clima de descontração. Doyoung foi o primeiro a entrar, ainda com os cabelos bagunçados e um sorriso preguiçoso no rosto.

— O que vocês estão falando aí? — Ele perguntou enquanto se sentava na cadeira ao lado de Mark, pegando um pouco de cereal.

— Mark está evitando contar o que fez na noite passada. — Jaehyun respondeu, com um tom provocador.

— Ah, isso é novidade... — Doyoung brincou, com um sorriso travesso.

Logo depois, Jungwoo apareceu, com um copo de leite nas mãos, aparentemente ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo.

— O que eu perdi? — Ele perguntou, se aproximando, jogando um olhar curioso para os outros.

— Mark tem um segredo! — Yuta respondeu com entusiasmo, fingindo mistério.

Haechan entrou logo após, rindo e já pegando uma fatia de pão.

— Que clima é esse? Está todo mundo com uma cara de quem está planejando algo.

Os três se entreolharam e então se viraram para Mark, que agora estava no centro das atenções.

Mark olhou para seus amigos, que o encaravam com expectativas, e percebeu que não havia mais como evitar a história. Com um sorriso sem graça, ele deu um leve suspiro antes de finalmente falar.

— Fui até a praia... e encontrei a . A gente conversou, tocou violão, e… bem, nos beijamos.

Imediatamente, todos se entreolharam, com os olhos arregalados e sorrisos amplos. Haechan foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— O QUE?! O Mark, o cara sério da banda, beijando alguém?! Isso eu não esperava.

Doyoung riu e deu uma leve pancada nas costas de Mark.

— Agora temos algo para contar, hein? Mark, o conquistador.

— Mas como assim, Mark? Como foi o beijo? — Jungwoo questionou, com os olhos brilhando de curiosidade, os outros imediatamente silenciando para ouvir a resposta.

Mark olhou para seus amigos, desconcertado, e soltou uma risada nervosa.

— Ah, sério? Estão perguntando isso agora? — Ele tentou desviar, passando a mão pelos cabelos, mas todos estavam tão atentos que ele não teve como escapar.

— A gente tem que saber, né? — Jaehyun provocou com um sorriso travesso.

Mark suspirou, resignado, e olhou para o chão por um momento, tentando encontrar as palavras certas.

— Foi... tranquilo, na verdade. Tipo... foi meio inesperado, mas... quando aconteceu, pareceu certo. — Ele deu de ombros, como se tentasse disfarçar o impacto da experiência.

— Então foi bom? — Yuta perguntou, com uma risada maliciosa, e todos riram junto.

Mark revirou os olhos, ainda sem conseguir esconder um sorriso tímido.

— Acho que sim... Foi... bom, mas um pouco... estranho, também. Não sei, a situação foi... meio nova para mim.

Os amigos continuaram com a atenção toda voltada para ele, rindo e fazendo comentários divertidos sobre a cena, mas Mark parecia genuinamente surpreso por ter compartilhado aquele detalhe com eles.

⛱️⛱️⛱️

estava se preparando para sair de casa quando o som do celular vibrando a fez parar no meio de seus passos. Ela olhou para a tela e, ao ver o número, seu coração deu um pequeno salto. Ela não queria atender, mas sabia que seria impossível ignorar.

“Alô? Cloak, o que você quer? Me deixa em paz!” — Ela atendeu com um tom elevado, sentindo o nervosismo tomar conta dela.

Do outro lado da linha, a voz fria e autoritária de sempre veio logo em seguida.

“Bom dia, belezinha! Quando você volta para São Paulo? Ou está muito ocupada com os asiáticos?” — Ele disse, sem rodeios, como se tivesse tudo sob controle. — “Você não pode se esconder para sempre, .”

Ela deu um suspiro fundo, fechando os olhos enquanto tentava manter a calma.

“Eu não estou me escondendo de ninguém, Cloak.” — Sua voz saiu mais firme do que ela imaginava, mas a pressão da situação começava a pesar em seus ombros. — “Eu não trabalho mais para você, já disse. Nossos negócios se encerraram, eu quero uma vida limpa daqui para frente. Me esquece e esquece que um dia trabalhamos juntos. Eu já disse que minha boca é um túmulo, e você nunca vai ser pego no que depender de mim, só não me meta mais nas suas sujeiras. Sou uma nova mulher.”

“Não adianta tentar enganar a si mesma. Você é muito importante para se afastar assim, como se não fosse nada. Não vai se livrar de mim tão fácil.”

apertou o celular contra o ouvido com mais força, tentando não mostrar o quanto estava afetada pelas palavras dele. Ela sabia que, ao ignorá-lo, as coisas só ficariam mais difíceis.

“Eu não tenho medo de você.” — Ela falou, tentando se manter firme. — “E eu não vou deixar que você me controle. Estou cansada de ser vigiada, pode mandar os seus homens embora.”

Ele riu do outro lado da linha, o som quase sarcástico.

“Você pode tentar, mas você não vai sair ilesa dessa. Eu sempre estarei por perto”

Antes de desligar, ele acrescentou:

“E, no final, você vai se arrepender de tudo isso.”

O silêncio tomou conta depois que a ligação foi encerrada. se manteve ali, respirando pesadamente, tentando lidar com a sensação de impotência que a invadia. Ela sabia que ele não estava mentindo. Ele sempre sabia o que ela fazia, para onde ia, e agora ela começava a temer que, de algum jeito, ele soubesse até sobre o que tinha acontecido com Mark.

Ela apertou os olhos e se esforçou para se concentrar. Não ia deixar que aquilo a controlasse. Mas, a cada dia, a pressão aumentava, e ela não sabia até quando conseguiria manter a calma.

Ela olhou para o celular mais uma vez, se perguntando se Mark poderia ser mais um motivo para ela se preocupar.

Foi tirada de seus devaneios com batendo na porta e questionando se estava tudo bem:

— Tá tudo bem , só preciso de mais uns minutos deitada. Não se preocupe, eu desço para almoçar.

⛱️⛱️⛱️

Mark se sentou ao lado do manager e o ouviu suspirar:

— Olha Chieng, se for sobre as composições eu tenho dado o meu máximo… — Ele foi interrompido pelo manager que fez um gesto com a mão.

— Ainda temos tempo Mark, eu preciso que você recupere sua essência e sei que isso leva um tempo. A viagem certamente vai te ajudar. Agora, precisamos conversar sobre a garota que você conheceu aqui.

— Ah, já chegou em você. — Mark bufou, levando as mãos até o rosto e esfregando as mesmas por lá.

— Você pretendia esconder da empresa? E se alguma coisa vazasse?

— Chieng, estamos no Brasil, numa cidade litorânea, no meio de uma festividade local, escolhemos essa data e tudo mais, justamente porque calculamos que pouquíssimas pessoas aqui talvez fossem nos reconhecer.

— E aí você sai beijando as garotas que não te conhecem ou não conhecem o 127?

— Você vai me dizer que o Yuta e o Jhonny não beijaram ou flertaram com as brasileiras da festa de ontem?

— Claro que isso aconteceu Mark, mas nós já sabíamos dessa possibilidade e nos preparamos para possíveis vazamentos. Com você não.

— E o que eu tenho que fazer? Foi só um beijo… — Ele ponderou e coçou a cabeça.

Ele não estava mentindo, de fato, havia sido só um beijo.

— Precisamos que ela assine um contrato de confidencialidade, Mark, você sabe.

Mark sentiu um peso crescer em seu peito. Ele sabia que isso podia acontecer, mas ainda assim, a ideia de colocar um contrato entre ele e parecia errada. Tudo entre eles havia acontecido de forma tão natural… espontânea. Agora, transformar um momento genuíno em um assunto burocrático parecia quebrar o encanto daquilo que tinham vivido na noite anterior.

Ele passou as mãos pelos cabelos, inquieto. Como reagiria? Ela não era do meio artístico, não estava acostumada a esse tipo de coisa. Para ela, poderia parecer que ele não confiava nela ou que estava tentando silenciá-la. E, pior: poderia afastá-la.

— E se eu não quiser que ela assine? — Ele perguntou, mais para si mesmo do que para Chieng.

— Não é uma escolha, Mark. É um protocolo. Precisamos evitar qualquer possibilidade de vazamento. Você sabe como um rumor pode crescer e sair do controle.

Mark mordeu o lábio inferior, encarando a mesa à sua frente. Ele se lembrou do jeito que olhou para ele antes de entrarem em casa, do toque suave dos lábios dela nos seus. Como ela reagiria quando ele aparecesse com um contrato em mãos? Será que ela se sentiria traída?

Suspirando, ele percebeu que, não importava como explicasse, aquilo mudaria a dinâmica entre eles. E talvez, mudasse tudo.

⛱️⛱️⛱️

Mark caminhou até a casa vizinha com passos hesitantes, ainda tentando encontrar a melhor forma de abordar o assunto. Quando tocou a campainha, foi recebido por , que abriu a porta com um sorriso curioso.

— Bom dia, menino famoso! — Ela brincou, apoiando-se no batente da porta.

Mark riu sem jeito.

— Bom dia. A está?

arqueou uma sobrancelha, analisando-o por um instante antes de responder.

— Está no quarto. Quer entrar? Ou prefere que eu a chame aqui?

— Se a senhora puder... — Ele sorriu, agradecido.

assentiu e desapareceu para dentro da casa. Minutos depois, surgiu na porta, prendendo o cabelo em um coque rápido. Seu olhar encontrou o dele com um misto de surpresa e curiosidade.

— Bom dia. — Ela disse, cruzando os braços.

— Bom dia. — Mark coçou a nuca, de repente sentindo um nervosismo incomum. — Você já almoçou?

— Ainda não.

— Então... quer almoçar comigo? — Ele perguntou, tentando soar casual, mas sem conseguir disfarçar a expectativa em sua voz.

inclinou a cabeça levemente, como se estudasse sua expressão.

— Tem algum motivo específico para esse convite?

Mark abriu um pequeno sorriso.

— Preciso conversar com você sobre uma coisa.

Ela estreitou os olhos, mas, no fim, assentiu.

— Tudo bem. Vou só pegar minha bolsa.

Enquanto ela se afastava, Mark soltou um suspiro, se preparando para o que viria a seguir.

Quando ela voltou, já com a bolsa a tiracolo, ele viu ela se despedindo carinhosamente da senhora que o recebera e se perguntou se ela seria a mãe de

Assim que o portão foi fechado ele perguntou:

— É a sua mãe? Como ela sabia que eu sou famoso?

gargalhou com o nervosismo evidente na voz de Mark, fazendo ele atropelar as palavras e falar tudo de uma vez.

— Ela é minha segunda mãe, uma mãe de criação digamos. Eu a amo muito, e ela descobriu que vocês todos eram famosos, antes de mim. Eu não sei como. Eu não contei nada a ela sobre nós, se é isso que te preocupa.

Marks respirou fundo tentando acalmar os pensamentos e então ele fez um sinal para que ela o acompanhasse até uma das SUVs.

— Uau! Ok. — voltou a gargalhar e antes de entrar no carro, se certificou se estava sendo seguida ou vigiada, o coração apertou dentro do peito e ela entrou.

Dentro da SUV, o interior era espaçoso e elegante, com bancos de couro confortáveis e um aroma suave de lavanda, provavelmente vindo de algum aromatizador discreto. O vidro escuro impedia que quem estivesse do lado de fora enxergasse seu interior, garantindo a privacidade deles.

se acomodou, observando Mark ao seu lado, que parecia ainda um pouco inquieto. O motorista, um homem de aparência profissional e postura impecável, deu a partida sem dizer uma palavra. Para , aquilo não era novidade — ela também estava acostumada a ser conduzida por motoristas particulares, então não se sentia desconfortável com a situação.

A cidade litorânea passava pelos vidros enquanto seguiam para o destino. O sol brilhava alto, refletindo nas fachadas coloridas e nas ruas movimentadas por turistas e moradores locais. observava tudo com interesse, mas sentia o olhar de Mark sobre ela de tempos em tempos.

— Tá tudo bem? — Ela perguntou, virando o rosto para ele.

— Sim... só tô tentando pensar em como começar essa conversa. — Ele suspirou e apoiou os cotovelos nos joelhos, inclinando-se levemente para frente.

ergueu uma sobrancelha, intrigada.

— Isso tá me deixando ainda mais curiosa. Agora você tem que falar.

Mark soltou uma risada fraca, coçando a nuca.

— Vamos comer primeiro? Prometo que falo depois.

Ela fingiu ponderar por um momento antes de assentir.

— Tudo bem, mas você vai ter que escolher um lugar bom.

Mark relaxou um pouco, assentindo, e voltou a observar a cidade pela janela, ainda tentando organizar as palavras para a conversa que teria com ela.

O celular de vibrou dentro da bolsa e ela logo retirou o mesmo de lá, vendo o número de Cloak brilhar incessantemente na tela.

— O seu motorista também é seu segurança? — Ela resolveu perguntar.

— Sim, porque? — Mark levantou uma sobrancelha.

— Curiosidade. — Ela mentiu.

⛱️⛱️⛱️

Os dois foram levados para uma mesa mais afastada a pedido de Mark e quando se sentaram, o celular de voltou a vibrar. Os olhos dela passearam pelo restaurante em busca de algum rosto conhecido, mas Cloak tinha tantos capangas que até o próprio garçom poderia ser seu informante.

— E então? — , nervosa, coçou a parte de trás da orelha — Quer falar sobre o que aconteceu ontem?

— Sim.

— Foi um erro. Aquilo não deveria ter acontecido, e nós dois sabemos disso.

Mark piscou algumas vezes, surpreso com as palavras de . Ele não esperava que ela fosse tão direta — e muito menos que chamasse o beijo de um erro.

— Um erro? — Ele repetiu, inclinando-se ligeiramente para frente, tentando entender se ela realmente pensava assim ou se estava apenas fugindo da situação.

assentiu, desviando o olhar para o cardápio à sua frente, como se estivesse mais interessada nele do que na conversa.

— Sim. Você é famoso, Mark. E eu… — Ela suspirou, apoiando os cotovelos na mesa e massageando as têmporas. — Eu tenho minha própria vida, minhas próprias complicações. Esse tipo de coisa só traria problemas para nós dois.

Mark franziu o cenho, sentindo um incômodo crescer dentro dele.

— Eu entendo que as coisas possam ser complicadas para você, . Mas você não pode simplesmente apagar o que aconteceu dizendo que foi um erro.

Ela finalmente levantou o olhar para ele, e por um momento, Mark viu um lampejo de hesitação nos olhos dela.

— E se eu quiser apagar? — Ela rebateu, cruzando os braços.

Mark riu sem humor e desviou o olhar, balançando a cabeça.

— Você realmente quer isso? Porque, pra mim, não parece que quer.

abriu a boca para responder, mas a vibração do celular a fez se encolher na cadeira. Mark percebeu o jeito que ela apertou os dedos contra as laterais do aparelho antes de soltá-lo sobre a mesa, a tela virada para baixo.

Ele inclinou a cabeça, percebendo a tensão evidente no rosto dela.

— Quem está te ligando?

— Não importa. — Ela respondeu rápido demais.

Mark arqueou uma sobrancelha.

— Parece que importa sim. Você ficou toda nervosa do nada.

forçou um sorriso.

— Eu só não quero que você se preocupe com coisas que não são problema seu.

Mark soltou um suspiro, passando as mãos pelo rosto.

— Tá, então é isso? Você quer fingir que nada aconteceu, ignorar que algo está claramente te incomodando e seguir em frente como se eu fosse um completo estranho?

mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.

— É o melhor a se fazer.

Mark recostou-se na cadeira, cruzando os braços, sentindo uma mistura de frustração e desapontamento.

Mark ficou em silêncio por alguns instantes, observando com atenção. Ele sabia que ela estava escondendo algo, mas decidiu não pressioná-la naquele momento. Em vez disso, soltou um longo suspiro e apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.

, tem outra coisa que precisamos conversar.

Ela ergueu o olhar para ele, ainda tensa pela chamada ignorada.

— O quê?

— Depois do que aconteceu ontem… — Ele umedeceu os lábios, escolhendo bem as palavras. — Eu preciso que você assine um contrato de confidencialidade.

O rosto de empalideceu.

— O quê?

— Você sabe como as coisas funcionam nesse meio, certo? — Mark tentou manter a voz calma. — Não é algo pessoal, mas a empresa precisa se proteger, e eu também.

— Você quer que eu assine um contrato de confidencialidade… por causa de um beijo?

— Não é só um beijo, . Você sabe disso. — Mark passou a mão pelos cabelos, visivelmente desconfortável. — Qualquer coisa pode vazar, e antes que isso aconteça, a equipe prefere garantir que não haja riscos.

— Isso é ridículo…

— Não é. É necessário. — Ele respirou fundo antes de continuar. — Eu preciso dos seus documentos para que possam confeccionar o contrato.

sentiu o sangue gelar nas veias. Seu corpo ficou rígido, e o pânico começou a tomar conta dela.

— Meus documentos? — Sua voz saiu um pouco mais aguda do que ela gostaria.

— Sim. — Mark confirmou, franzindo o cenho ao perceber o súbito nervosismo dela. — Só para o contrato, nada além disso.

Ela engoliu seco, o coração martelando contra o peito. Se a empresa fizesse qualquer tipo de busca detalhada, poderia descobrir sobre seu passado, sobre os negócios escusos que ela mantivera, e isso era o pior cenário possível.

— Eu… — Ela tentou pensar rápido, mas sua mente estava uma bagunça. — Eu não sei se posso dar isso.

— Como assim? — Mark inclinou-se ligeiramente para frente. — Isso é só um protocolo, não é nada demais.

respirou fundo, tentando manter a compostura.

— Eu preciso pensar.

— Pensar? , isso não é algo opcional…

Ela apertou os olhos por um instante, sentindo-se encurralada. Não podia simplesmente negar, mas também não podia permitir que eles investigassem sua vida.

— Eu dou um jeito. — Ela murmurou, tentando manter a calma.

Mark observou-a por um momento, cada vez mais certo de que havia algo de errado.

— Tem algo que você não está me contando, não tem?

forçou um sorriso, mas o tremor leve de suas mãos a denunciava.

— Claro que não, Mark. Eu só… preciso de um tempo.

Ele não estava convencido, mas resolveu não pressioná-la mais.

— Tudo bem. Mas não demore.

apenas assentiu, mas, por dentro, sabia que seu tempo estava se esgotando.

Ela se levantou e Mark instintivamente fez o mesmo, os dois ficando frente a frente de novo, com os rostos quase colados e sentiu as pernas vacilarem.

— Mark… — Ela chamou, levando as mãos aos ombros dele.

— Fica pro almoço pelo menos… — Ele sussurrou para que só ela pudesse ouvir.

piscou algumas vezes, sentindo um calor estranho subir por seu corpo. O suor começou a se formar na nuca, e sua visão ficou ligeiramente turva. Ela tentou firmar os pés no chão, mas tudo pareceu girar por um instante.

— Eu… — Sua voz saiu fraca, e, antes que pudesse completar a frase, sentiu os joelhos cederem.

Mark percebeu na hora que algo estava errado.

— Ei! — Ele exclamou, segurando-a firme pelos braços antes que ela desabasse.

agarrou a camisa dele, tentando recuperar o equilíbrio, mas sua cabeça parecia leve demais, e seu corpo, pesado.

— Senta aqui. — Mark guiou-a de volta à cadeira, agachando-se ao lado dela. — Você está pálida. O que aconteceu?

Ela fechou os olhos por um instante, tentando controlar a respiração.

— Só uma queda de pressão… — Murmurou.

— Você comeu alguma coisa hoje?

balançou a cabeça negativamente, e Mark soltou um suspiro impaciente.

— Você não pode ficar assim… Peraí.

Ele se levantou rapidamente e chamou um garçom, pedindo um copo de suco e algo doce. Depois, voltou para perto dela, agachando-se novamente.

— Respira fundo. — Ele segurou uma das mãos dela, apertando de leve. — Tá tudo bem.

abriu os olhos devagar e encontrou o olhar preocupado de Mark.

— Fica pro almoço pelo menos… — Ele repetiu, agora com um tom mais suave.

Ela sentiu o estômago revirar, não só pela fraqueza, mas também pelo jeito que ele a olhava.

— Tudo bem. — Concordou, quase sem forças para discutir.

Mark assentiu e, sem soltar sua mão, esperou o garçom voltar, decidido a cuidar dela, independentemente do que estivesse acontecendo entre os dois.

O garçom voltou com algo pequeno, envolto em um pedaço de guardanapo na mão, que ele desconhecia e então pegou o doce — uma paçoca — das mãos dele e levou aos próprios lábios mordendo um pedaço do doce.

Mark observou atentamente enquanto mordia a paçoca, o semblante dela ainda um pouco pálido, mas relaxando conforme mastigava o doce devagar. Ele nunca tinha visto aquele tipo de doce antes, mas parecia algo familiar para ela.

— Melhorou? — Ele perguntou, inclinando-se levemente para frente.

assentiu, engolindo antes de responder:

— Um pouco… Isso aqui tem açúcar e amendoim. Ajuda a estabilizar.

Mark arqueou uma sobrancelha.

— Parece bem simples.

Ela sorriu de leve.

— É viciante. Você quer experimentar?

Antes que ele pudesse responder, ela quebrou um pedacinho e estendeu para ele. Mark hesitou por um segundo, mas aceitou, levando o doce à boca.

O sabor levemente doce e a textura quebradiça fizeram-no franzir o cenho, surpreso.

— Uau… Isso é bom.

riu baixinho, relaxando um pouco mais na cadeira.

— Eu disse.

Mark olhou para ela, aliviado ao ver que sua expressão já não estava tão tensa.

— Acho que você deveria comer algo de verdade agora.

O garçom retornou com os cardápios e Mark pegou o dele, sem pressa, lançando um olhar para de tempos em tempos.

— Eu vou pedir um prato leve, e você também deveria. Nada de pular refeições.

Ela suspirou, balançando a cabeça em rendição.

— Tá bom, tá bom…

Mark sorriu satisfeito.

— Ótimo. Porque depois a gente ainda precisa conversar sobre o contrato.

travou no lugar. O gosto adocicado da paçoca, que antes lhe trazia conforto, agora pareceu amargar em sua boca.

Ela abaixou o cardápio lentamente, sentindo o coração bater forte.

— Mark… — Sua voz saiu mais baixa do que pretendia.

— Eu sei que não é a melhor coisa do mundo, mas é necessário. — Ele continuou, com um tom calmo, sem perceber a tensão crescendo dentro dela. — É um contrato simples, só garantindo que… bem, que o que aconteceu entre nós não vaze. A empresa precisa disso.

sentiu um frio na espinha. Documentos significavam informações, buscas, verificação de antecedentes… E se eles descobrissem quem ela realmente havia sido?

Ela forçou um sorriso, tentando não demonstrar o pânico interno.

— E o que… exatamente você precisa para esse contrato?

— Seus documentos. — Mark disse, tranquilamente.

apertou os dedos ao redor do cardápio, tentando controlar a expressão.

Se entregasse seus documentos, poderia estar assinando sua própria sentença.

— Você não quer que eu redija esse documento para sua empresa? Da minha empresa para a sua… eu sou advogada.

— Se você é advogada, porque tanta tensão com um contrato ?

se encolheu um pouco na cadeira, a pergunta de Mark pegando-a desprevenida. Ela não esperava que ele fosse tão direto, e isso a fez hesitar. Ela forçou um sorriso, tentando esconder o nervosismo, mas a mente estava a mil, pensando nas consequências de um simples contrato.

— Não é uma questão de ser advogada, Mark. — Ela respirou fundo, tentando ganhar tempo. — É só que… contratos podem ter implicações maiores do que imaginamos. E quando se trata de mim, é sempre melhor ser cautelosa.

Mark a observou atentamente, percebendo a defesa em sua postura e nas palavras dela. Ele sabia que havia algo mais ali, algo que ela não estava querendo revelar. Mas ele não podia pressioná-la, não ainda.

— Cautelosa, eu entendo. Mas eu não estou aqui para fazer você assinar algo que não quer, . — Ele respondeu, com mais calma, tentando transmitir confiança. — É só um procedimento padrão. Nada mais.

parecia pesar suas palavras, o olhar dela fixo no próprio reflexo no vidro do restaurante, distante. Ela sabia que não poderia esconder seus segredos por muito tempo, mas também não podia se expor tão facilmente.

— Você está me pedindo para confiar na sua empresa... — Ela disse, finalmente quebrando o silêncio, com a voz mais baixa. — Eu só… não sei se posso confiar em todo o processo.

Mark sentiu uma ponta de preocupação. Algo em seu tom indicava que ela estava lidando com algo muito maior do que ele imaginava.

— E o que é que você acha que vai acontecer com seus documentos, ? — Ele perguntou com mais suavidade. — Eu não tenho intenção de invadir sua vida, eu só preciso de um compromisso de confidencialidade.

Ela fechou os olhos por um momento, a tensão ainda ali, mas visivelmente mais tensa. Então, ela olhou para ele, com um olhar cheio de conflito.

— Eu não quero que eles descubram o que eu faço. Não quero que sua empresa saiba nada sobre meu outro trabalho.

Mark franziu o cenho. Ele não esperava essa reação, e o que ela estava sugerindo o deixou curioso — e preocupado.

— Outro trabalho? O que você quer dizer com isso?

engoliu em seco, e ela sabia que tinha que tomar uma decisão. Ela não podia mais esconder, mas também não sabia o que o futuro lhe reservava caso Mark e sua equipe começassem a investigar sua vida. Ela respirou fundo e deixou escapar um suspiro cansado.

— Você não entende. Tem coisas que... não posso deixar que ninguém descubra. Nem mesmo você, Mark. Eu só… preciso de mais tempo.

Mark se aproximou, sentindo o peso das palavras dela.

— Tudo bem. Se você precisar de tempo, eu entendo. — Ele disse, sua voz suavizando ainda mais. — Eu só preciso que você se lembre de que eu estou do seu lado, .

Ela o olhou por um momento, buscando sinceridade nos olhos dele. Finalmente, ela deu um aceno fraco com a cabeça, ainda tensa, mas aparentemente aceitando a ideia de dar mais um passo em direção à confiança.

— Vamos ver como as coisas vão evoluir, então. — Ela respondeu, mas a incerteza em seu tom não passava despercebida por Mark.

Eles permaneceram em silêncio por um instante, cada um imerso em seus próprios pensamentos, enquanto o garçom se aproximava para fazer o pedido. A tensão no ar estava palpável, mas por um momento, eles estavam juntos, sem pressa de enfrentar as complicações que o futuro reservava.

⛱️⛱️⛱️

— Aqui estão meus principais documentos… — entregou os mesmos, com as mãos levemente trêmulas para o homem sentado à sua frente.

Era a primeira vez que ela entrava na casa vizinha depois da reforma que os donos haviam feito. O escritório agora era moderno e minimalista, com paredes de um tom sóbrio de cinza e móveis de madeira escura, transmitindo uma sensação de seriedade e profissionalismo. Um grande estofado em um canto da sala parecia convidar à reflexão, mas o que mais chamava sua atenção eram os detalhes sofisticados, como a iluminação suave, que dava um toque acolhedor ao ambiente. O computador de mesa era novo, com uma tela grande, e algumas prateleiras organizadas com documentos e livros, sem qualquer excesso. O espaço parecia preparado para reuniões importantes e trabalho árduo.

Mark notou a distração de e o nervosismo crescente dela. Ela estava lá sentada as mãos sobre a mesa, olhando os papeis que acabara de entregar, e suas pernas balançavam levemente, um movimento inquieto que denunciava sua ansiedade.

, você está nervosa demais. — Ele disse calmamente, notando os movimentos agitados dela. Ele ajeitou a cadeira que estava sentado ao lado dela e estendeu uma das mãos, colocando-as sobre os seus joelhos, imobilizando os movimentos dela.

Ela o olhou surpreso, o toque dele gentil, mas firme o suficiente para a fazer parar.

— Eu sei que você não gosta de ser pressionada, mas você precisa se acalmar. Está tudo bem. Isso vai dar certo, você vai ver. — Mark falou com uma voz suave, olhando diretamente nos olhos dela, transmitindo uma confiança silenciosa.

respirou fundo, tentando afastar o nervosismo que tinha tomado conta de seu corpo. Ela sentiu a calma no gesto de Mark e, por um instante, seu coração disparou um pouco menos.

— Eu não sei se estou fazendo a coisa certa, Mark. — Ela confessou, com a voz mais baixa, ainda insegura sobre as escolhas que estava fazendo.

Ele sorriu gentilmente e apertou suas mãos sobre as dela por um momento.

— Você não precisa ter todas as respostas agora. Vamos devagar, passo a passo. E qualquer coisa, eu estou aqui.

sentiu um alívio suave, como se o peso tivesse diminuído um pouco. Ela assentiu lentamente, os olhos fixos nos dele, agora mais tranquila, ainda que com um leve receio em seu peito.

— Obrigada, Mark. — Ela murmurou, com um sorriso tímido.

Ele lhe devolveu um sorriso tranquilo, deixando claro que a confiança que ele estava transmitindo não era apenas uma formalidade, mas algo que ele realmente queria que ela sentisse. O escritório estava quieto, com apenas o som das folhas sendo movidas levemente, enquanto ela tentava lidar com a montanha-russa de emoções que estava sentindo. Mas ao menos, naquele momento, ela não estava sozinha.

O som da mini impressora pode ser ouvido e então Chieng pegou os papeis de lá e entregou uma cópia para e uma para Mark.

— Se você quiser levar para casa para ler com mais calma, já que é advogada. Nós não temos nada haver com a sua vida privada, com o que a senhorita trabalha, nada disso nos interessa. Só nos interessaria se alguma coisa de vocês dois vazasse, ou caso vocês estivessem em um relacionamento sério, o que sabemos não ser o caso aqui, afinal de contas daqui alguns dias o Mark volta para a Coreia do Sul.

ergueu uma sobrancelha ao ouvir o tom do manager de Mark, que parecia querer deixar tudo claro demais, como se estivesse tentando controlar a situação. Ela não gostou da forma como ele se referiu à questão do relacionamento, como se a situação fosse algo que precisasse ser rapidamente descartado, especialmente com a menção ao retorno de Mark à Coreia do Sul.

Mark percebeu a expressão dela e imediatamente sentiu a necessidade de intervir.

— Chieng, não precisa ser tão direto assim… — Ele tentou suavizar a conversa, mas , já cansada do jogo, interrompeu com um tom decidido.

— Me dê a caneta para assinar isso logo, senhor Chieng. — disse, suas palavras rápidas e afiadas, com uma leve tensão na voz. Ela não estava disposta a discutir mais sobre o que não tinha a ver com ela, e se estava ali para assinar o contrato, seria o mais rápido possível.

Com as três vias assinadas, pegou seus documentos de volta e então se levantou.

— Mais alguma instrução, ou algo que eu não possa fazer por ter dado um beijo à noite, sem nenhuma testemunha em um idol?

Chieng soltou um risada cínica e Mark coçou a nuca.

— A senhorita vai saber se ler o contrato doutora.

respirou fundo e encarou Mark, antes de dar as costas e sair da sala.

— Caramba Chieng! — Mark bufou.

— Ela é bonita e independente, deve ser por isso que você está tão na dela… — ele fez um barulho com a boca, soltando um “plop” — As latinas costumam pegar os asiáticos de jeito mesmo. Agora falando sério, Mark? Você sabe que não pode assumir nenhum relacionamento sério agora, não sabe?

Mark soltou um suspiro e fechou os olhos com força:

— Eu sei Chieng, e eu não pretendo nada disso. Só aconteceu…

— Tudo bem. Pode ir atrás dela, sei que você quer fazer isso. E você pode curtir suas férias sem pensar tanto no trabalho ou no seu bloqueio criativo o tempo todo. Estamos indo bem Mark, temos tempo. Você com certeza vai sair daqui revigorado, e com várias ideias.

— Chieng… — Mark chamou — Você também pode relaxar, sabia?

Com isso Mark deixou o manager sozinho, absorto em seus pensamento e passou praticamente voando pelos amigos na sala, deixando-os sem respostas para as perguntas que fizeram.

Mark fechou o grande portão branco atrás de si e deu de cara com um dos seguranças, provavelmente estava em casa. Ela caminhou na direção do portão da casa vizinha, mas o segurança pigarreou:

— Ela foi em direção à praia Mark-ssi.

Mark sorriu em agradecimento ao segurança e então foi atrás de .

⛱️⛱️⛱️

Mark suspirou assim que avistou caminhando pela orla em direção à areia e em passos largos, ele se apressou para alcançá-la. Quando ele a chamou, virou o pescoço, encarando Mark, que agora caminhava em sua direção.

— O que você quer agora? Eu já assinei o contrato e li algumas cláusulas, estou ciente que não posso contar a ninguém do nosso envolvimento, e te garanto que isso não acontecerá.

Mark tentou controlar a respiração levemente ofegante e então se atreveu a erguer uma das mãos e tocar o rosto dela com o polegar.

— Quero provar para você que o que aconteceu ontem, não foi um erro.

abriu a boca para rebater, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Mark tomou a iniciativa. Sua mão deslizou suavemente para a nuca dela, puxando-a para perto com delicadeza, mas com a determinação de quem já havia decidido o que queria. Os olhos dele buscaram os dela por um segundo, como se estivesse pedindo permissão, e quando não recuou, ele diminuiu a distância entre eles.

O primeiro toque dos lábios foi hesitante, como uma interrogação silenciosa. sentiu um arrepio subir por sua espinha, o coração martelando no peito com a proximidade e a intensidade daquele momento. Mark a beijava com uma mistura de desejo e suavidade, como se quisesse provar, sem palavras, que aquilo não era apenas um impulso passageiro.

O gosto dele era quente, levemente misturado com chiclete de menta, e se pegou correspondendo antes mesmo de perceber o que estava fazendo. Sua mão deslizou para o peito dele, sentindo o ritmo acelerado do coração de Mark sob a camiseta fina. A outra mão se agarrou a camiseta dele, como se precisasse de um ponto de apoio para não se perder completamente naquele beijo.

Mark aprofundou o contato, sua língua buscando a dela em um ritmo preguiçoso e envolvente, explorando cada canto, degustando cada segundo. Ele queria que sentisse —que ela entendesse que aquilo era real. Seus dedos se embrenharam nos fios claros do cabelo dela, puxando-a levemente para mais perto, enquanto o calor entre os dois aumentava.

sentia que poderia se perder ali, naquele toque, naquele beijo que desarmava todas as suas defesas. Era um perigo, porque ela sabia que se permitisse sentir demais, seria difícil voltar atrás. Mas Mark tinha um jeito de fazer com que o mundo ao redor desaparecesse, como se só existissem os dois naquele instante.

Quando o ar se tornou uma necessidade urgente, eles se separaram lentamente, mas Mark manteve a testa colada à dela, os olhos fechados por um breve momento, como se ainda estivesse saboreando a sensação do beijo. abriu os olhos primeiro, observando-o de perto. O rosto dele estava sereno, mas havia algo a mais ali—um brilho nos olhos, um sorriso satisfeito no canto dos lábios.

— Ainda acha que foi um erro? — A voz dele saiu rouca, carregada de emoção.

engoliu em seco, tentando ignorar a onda de sentimentos que a atingia. Ela queria responder, queria dizer algo que colocasse uma barreira entre os dois, mas a verdade era que naquele instante, no calor daquele beijo, tudo o que ela conseguia pensar era que talvez Mark estivesse certo.

— Mark eu não posso colocar você em risco, nem você, nem seus amigos. Eu posso te causar problemas. Você tem certeza que quer saber quem eu sou?

Mark ficou em silêncio por alguns segundos, estudando o rosto de . A seriedade em sua expressão, o medo sutil escondido em seus olhos… Ele percebeu que aquela pergunta não era retórica. Ela estava lhe dando a chance de recuar, de se afastar antes que fosse tarde demais.

Ele soltou um suspiro pesado, passando a língua pelos lábios ainda tingidos pelo gosto dela. Seus olhos escuros não desviaram nem por um instante, firmes, determinados.

— Eu já sei quem você é. — Sua voz saiu firme, mas suave. — Você é a mulher que tem me tirado o sono, a mulher que me fez quebrar regras que eu mesmo estabeleci.

engoliu em seco, mas Mark não parou.

— Você é misteriosa, cheia de segredos… Mas eu não sou do tipo que foge quando algo me intriga.

Ele deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância entre eles. Seu olhar deslizava pelas feições dela, como se tentasse decifrar cada detalhe.

— Se você realmente quisesse me afastar, não teria me beijado daquele jeito.

desviou o olhar, apertando os lábios.

— Não é tão simples, Mark.

Ele soltou uma risada fraca, balançando a cabeça.

— Eu nunca disse que era. Mas eu sou capaz de lidar com a verdade, seja ela qual for.

Ela sentiu o coração bater mais forte. Ele realmente não tinha noção do que estava pedindo.

— Você pode se arrepender… — murmurou, hesitante.

Mark ergueu a mão e, com um toque leve, afastou uma mecha de cabelo do rosto dela, seus dedos roçando de leve contra a pele quente.

— Eu duvido.

O olhar dele carregava algo mais profundo, algo que a fazia querer confiar nele, mesmo quando tudo dentro dela gritava para que corresse na direção oposta.

— Eu volto para a minha cidade amanhã, Mark. E você volta para a Coreia daqui uns dias, como seu manager mesmo disse. Eu sei que seremos apenas o “amor de verão” um do outro, e tudo bem. Eu concordo com isso! — ela apertou os ombros dele — Mas quero ser honesta com você sobre meu passado, mesmo assim.

Mark observou por um longo momento, tentando decifrar a mistura de emoções que dançava em seus olhos. Havia algo além da resignação em sua voz, algo que fazia seu peito apertar. Ele não queria que ela o visse apenas como um amor passageiro, mesmo sabendo que de fato era isso que eram no momento, mas sabia que não adiantaria discutir isso agora.

Ele suspirou, levando as mãos até as dela, que ainda repousavam sobre seus ombros. Seus dedos deslizaram suavemente até entrelaçarem-se aos dela.

— Se quer ser honesta comigo, então eu quero ouvir. — Sua voz saiu baixa, mas carregada de sinceridade. — Mas não fale como se já estivesse decidindo nosso fim.

abriu a boca, mas Mark a interrompeu, soltando uma risada fraca.

— Vamos sentar ali? — Ele apontou para um ponto mais afastado na areia, onde a maré vinha e ia tranquilamente. — Parece um bom lugar para uma conversa séria.

Ela hesitou por um instante, mas então assentiu.

Mark soltou sua mão apenas para tirar os tênis, os segurando enquanto os dois caminhavam lado a lado em direção ao local. Quando se sentaram, abraçou os joelhos, encarando o horizonte, enquanto Mark se apoiava nos braços esticados para trás, voltando seu olhar para ela.

O som das ondas preenchia o silêncio entre eles. Mark esperou, dando a ela o tempo necessário para encontrar as palavras certas. Ele não sabia o que tinha para contar, mas uma coisa era certa: ele não iria a lugar nenhum.

⛱️⛱️⛱️

— Meu nome é . — ela começou, como se estivesse se apresentando para ele novamente — Eu sou advogada, e hoje trabalho para o governo do Estado onde eu moro, aqui no Brasil. O meu pai, ele é um grande deputado aqui, e somos uma família considerada influente.

— Você tinha comentado sobre seu pai ser muito querido aqui… — Mark assentiu para ela.

— Bom, durante meu período na faculdade de direito, eu acabei passando por um período um tanto quanto rebelde, digamos assim.

soltou um suspiro profundo e desviou o olhar para o mar, como se buscasse ali a coragem para continuar.

Mark percebeu a hesitação dela e manteve-se em silêncio, dando-lhe o tempo necessário.

Ela mordeu o lábio inferior, um hábito que parecia surgir sempre que estava nervosa, e voltou a encará-lo, seus olhos carregando um brilho indecifrável.

— Eu... — Ela começou, mas parou, franzindo o cenho e esfregando as mãos contra os joelhos. — Eu só estou tentando encontrar a melhor forma de dizer isso sem que pareça algo pior do que realmente foi.

Mark inclinou a cabeça levemente, os olhos atentos a cada expressão dela.

— Apenas diga do seu jeito. Eu estou aqui para ouvir, não para te julgar.

soltou uma risada sem humor.

— Eu gostaria de acreditar nisso, de verdade.

Mark estendeu a mão, pousando-a suavemente sobre a dela.

— Então acredite.

— Durante meu período na faculdade, eu me envolvi com pessoas que não eram exatamente… corretas. Foi um período em que eu quis provar para mim mesma que não precisava viver à sombra do meu pai, que eu poderia fazer minhas próprias escolhas, ainda que erradas.

Ela fez uma pausa, os dedos entrelaçando-se nervosamente sobre o próprio colo.

— E essas escolhas acabaram me levando para um caminho que, até hoje, tento deixar no passado. Eu continuei envolvida nisso, até pouco tempo.

— E “nisso” seria exatamente o que, ? Coisas ilegais?

respirou fundo, sentindo um nó se formar em sua garganta. Seus olhos começaram a marejar, mas ela piscou rapidamente, tentando conter as lágrimas.

Mark observou cada detalhe do rosto dela, notando o conflito interno que a consumia. Ele sentiu o peito apertar quando, depois de alguns segundos de hesitação, ela assentiu lentamente.

— Sim… — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro levada pelo vento.

Mark não desviou o olhar, mas sentiu o estômago revirar. Ele não sabia exatamente o que esperava ouvir, mas a confirmação dela o atingiu como um soco silencioso.

— Eu nunca… nunca imaginei que fosse algo assim. — Ele confessou, a voz sem qualquer traço de julgamento, apenas surpresa e preocupação.

soltou uma risada amarga e passou a mão pelo rosto, afastando as poucas lágrimas que insistiam em cair.

— Eu sei. Ninguém imagina.

Ela olhou para frente, fixando-se no movimento das ondas, como se tentasse encontrar ali alguma resposta para a confusão que dominava sua mente.

Mark esfregou a nuca, buscando as palavras certas. Ele queria entender, queria ajudá-la, mas sabia que aquilo não era algo simples.

— Você… ainda está envolvida nisso? — Sua pergunta veio cuidadosa, mas direta.

hesitou por um instante antes de negar com a cabeça.

— Não como antes… Mas o passado tem um jeito cruel de nunca nos deixar em paz, Mark.

— Você parece arrependida…

soltou um suspiro pesado, abaixando a cabeça por um instante antes de encará-lo novamente.

— E eu estou. — Sua voz saiu firme, mas havia dor nela. — Se eu pudesse voltar no tempo e fazer escolhas diferentes, eu faria. Mas a vida não funciona assim, não é?

Mark observou o rosto dela, absorvendo cada palavra. Ele viu a culpa, a mágoa, e algo mais profundo —um medo silencioso que ela tentava esconder.

— O que exatamente você fez, ? — Ele perguntou, com cautela, sem querer pressioná-la, mas precisando entender.

Ela mordeu o lábio inferior, hesitando.

— Eu me envolvi com pessoas erradas, tomei decisões impulsivas… Fiz favores para gente poderosa dentro do crime, coisas que iam contra tudo que eu deveria defender como advogada.

Mark franziu o cenho, processando aquilo.

— E essas pessoas… Elas ainda te procuram?

desviou o olhar, fitando o horizonte. Seu silêncio foi o suficiente para Mark entender a resposta.

Ele sentiu um aperto no peito, mas, ao invés de se afastar, aproximou-se um pouco mais, sua mão encontrando a dela sobre a areia.

— Você ainda está em perigo, não está?

Ela riu sem humor, entrelaçando os dedos nos dele como se buscasse alguma segurança.

— Mark, perigo é uma palavra relativa. Mas… sim. Sempre estou olhando por cima do ombro.

Mark apertou a mão dela, o coração acelerado.

— Se você está correndo riscos, eu preciso saber.

finalmente o encarou, seus olhos brilhando em meio à pouca luz que restava no fim da tarde.

— E o que você faria se soubesse?

Mark respirou fundo, sem desviar o olhar.

— Qualquer coisa que fosse necessária para te manter segura.

— Não! Eu é que tenho que manter você seguro. Por isso disse que tudo o que aconteceu entre nós foi um erro, precisava afastar você de mim.

Mark apertou a mandíbula, sentindo um incômodo percorrer seu peito com as palavras de .

— E você realmente acha que consegue me afastar? — Sua voz saiu baixa, porém firme. — Acha que depois de tudo que já aconteceu, eu simplesmente vou fingir que não me importo?

desviou o olhar, soltando um suspiro frustrado.

— Mark, não é sobre querer ou não. É sobre precisar. Você tem uma vida inteira te esperando na Coreia. Eu sou um problema que não tem solução.

Ele estendeu a mão, tocando o rosto dela com cuidado, forçando-a a encará-lo.

— Você não é um problema, . Você é alguém que precisa de ajuda, e eu não vou virar as costas para você.

Os olhos dela marejaram, mas ela balançou a cabeça em negação.

— Você não entende. As pessoas com quem me envolvi… Elas não esquecem. Elas não perdoam. Se souberem que estou próxima de você, podem querer te atingir também.

Mark estreitou os olhos, o peito queimando com a possibilidade de perigo rondando não apenas ela, mas agora ele também.

— Então me explica. Me diz exatamente o que está acontecendo.

hesitou, respirando fundo. As palavras estavam na ponta da língua, mas algo dentro dela ainda resistia.

— Eu não posso.

— Você pode. E deve. — Ele insistiu, deslizando o polegar pelo rosto dela, em um gesto involuntário de conforto. — Me deixa entrar, . Me deixa te ajudar.

Ela fechou os olhos por um momento, sentindo o toque dele, o calor, a segurança que Mark parecia transmitir mesmo diante de uma tempestade.

Quando abriu os olhos, um longo suspiro escapou de seus lábios antes de finalmente murmurar:

— Tudo começou no meu terceiro ano de faculdade…

fechou os olhos por um momento, como se buscasse coragem para continuar. Mark permaneceu em silêncio, apenas segurando sua mão entre as dele, transmitindo um apoio silencioso.

— No meu terceiro ano de faculdade, eu conheci pessoas que me ofereceram uma espécie de… atalho — ela começou, sua voz saindo hesitante. — Dinheiro rápido, influência, uma forma de garantir que eu nunca precisaria depender do meu pai ou da imagem da minha família para conseguir algo.

Mark franziu o cenho.

— Que tipo de atalho?

lambeu os lábios nervosamente, sentindo seu coração acelerar.

— Eu comecei a trabalhar para um grupo que lidava com informações sigilosas. Pessoas poderosas que precisavam manter certos… segredos protegidos ou, às vezes, expostos.

— Chantagem? — Mark perguntou, a expressão cautelosa.

— Às vezes. — Ela suspirou. — Outras vezes, era apenas uma troca de informações valiosas entre grupos rivais. O que eu não percebi, no começo, era que eu estava me tornando uma peça dentro de algo muito maior… algo perigoso.

Ela desviou o olhar para o mar, as ondas quebrando suavemente na areia.

— E quando percebeu?

— Quando já era tarde demais. — soltou uma risada sem humor. — Eu tentei sair, mas ninguém simplesmente sai desse tipo de coisa.

Mark apertou os lábios, processando tudo o que ouvia.

— Você ainda está envolvida nisso?

Ela hesitou antes de responder, mas, por fim, assentiu levemente.

— Ainda estou pagando o preço por querer sair. E é por isso que não posso me envolver com você, Mark. Eu não posso colocar você em risco.

Ele a observou por um longo momento antes de falar, sua voz carregada de determinação.

— E se eu não quiser me afastar? Se eu quiser ficar ao seu lado, independente do risco?

arregalou os olhos, surpresa com a firmeza dele.

— Isso não é tão simples assim…

— Eu não sou alguém que desiste fácil.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Eu sei… e é exatamente isso que me assusta.

Mark levantou uma das mãos, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela.

— Você não precisa enfrentar isso sozinha, .

Ela sentiu um nó na garganta, dividida entre a vontade de se permitir confiar nele e o medo do que poderia acontecer se fizesse isso.

— Eu vou precisar pensar…

Mark assentiu, respeitando o espaço dela.

— Então eu espero. Amanhã você já vai mesmo embora?

respirou fundo antes de responder, sentindo o peso daquela conversa sobre seus ombros.

— Sim… Meus pais querem me ver antes do Carnaval acabar.

Mark desviou o olhar por um instante, como se processasse aquela informação. Ele sabia que não tinha o direito de pedir para que ela ficasse, mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar a sensação de que ainda tinham algo a viver.

— Então vamos aproveitar esse último dia juntos.

Ela franziu a testa, surpresa com o pedido.

— Como assim?

— Sem preocupações, sem passado, sem futuro. Só nós dois, hoje.

abriu a boca para protestar, mas Mark segurou sua mão com firmeza e continuou:

— Eu não sei quando vou te ver de novo. Sei que tudo isso é complicado, mas… quero guardar uma lembrança boa de você. Uma que não seja só a despedida.

Ela engoliu seco. Era perigoso. Não para ele, mas para ela mesma. Ela já sentia que, se aceitasse, não conseguiria mais fingir que aquilo era apenas um “amor de verão”.

Mas, no fundo, também queria.

— O que você tem em mente? — perguntou, tentando esconder a própria hesitação.

Mark abriu um pequeno sorriso, um brilho travesso nos olhos.

— Me dá sua mão.

Ela o fez, e, se levantou com a ajuda dele que sem aviso, a puxou para correr pela areia.

— Mark! — ela riu, surpresa. — Para onde estamos indo?

— Não importa! Hoje, nós só vamos viver.

sentiu o coração disparar, mas, dessa vez, não era medo. Era outra coisa. Algo que há muito tempo ela não sentia.

Liberdade.

⛱️⛱️⛱️

Mark e correram pela areia até que seus pés tocaram a espuma das ondas. O contraste entre o calor do sol e a água fria fez se encolher instintivamente, mas Mark não hesitou. Ele jogou a camiseta de lado e entrou mais fundo no mar, estendendo a mão para ela.

— Vem logo! — chamou, com um sorriso provocador.

— Eu estou de roupa, Mark! — ela protestou, rindo, enquanto as ondas molhavam a barra do seu vestido.

— E daí? Eu também estava! — Ele chutou a água na direção dela, encharcando ainda mais o tecido leve.

soltou um grito indignado e avançou contra ele, jogando água de volta. A gargalhada de Mark foi pura e contagiante, e logo os dois estavam completamente entregues à brincadeira. se movimentava com dificuldade conforme o vestido encharcado grudava em seu corpo, mas isso não a impediu de se divertir.

Mark aproveitou um momento de distração dela para segurá-la pela cintura e levantá-la no ar, girando-a enquanto ela ria alto.

— Mark, me coloca no chão!

— No chão não dá, mas na água… dá sim!

Antes que ela pudesse protestar, ele a soltou e caiu de costas no mar raso. O impacto foi suave, e quando ela emergiu, os cabelos colados no rosto e a respiração acelerada, encontrou Mark parado diante dela, rindo, mas com os olhos brilhando de algo mais intenso.

Ele se aproximou devagar, ainda com aquele sorriso encantador nos lábios, e tocou seu rosto, afastando algumas mechas molhadas.

— Você está linda assim — murmurou, os dedos deslizando pela pele úmida dela.

sentiu o coração disparar quando ele inclinou o rosto para mais perto, seus narizes quase se tocando. As ondas se quebravam ao redor deles, o sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de tons dourados, e ela soube que não conseguiria resistir.

Então, quando Mark segurou sua cintura e encostou os lábios nos dela, simplesmente se entregou.

O beijo começou suave, mas rapidamente se aprofundou. Os lábios de Mark eram quentes e urgentes contra os dela, o gosto levemente salgado pelo mar misturado ao sabor inconfundível dele. As mãos dele apertaram sua cintura com firmeza, como se quisesse gravar aquele momento na memória, e se sentiu mais viva do que nunca.

Eles se beijaram ali, com as ondas quebrando ao redor de seus corpos, sem se importar com mais nada além da sensação de estarem juntos naquele instante.

⛱️⛱️⛱️

Foi recebido por ela com um rápido beijo nos lábios e então eles entraram na garagem, de mãos dadas, com na frente o guiando.

Mark entrou pela porta e foi imediatamente envolvido por um aroma delicioso que se espalhava pela casa. estava à frente dele, com um sorriso discreto nos lábios, como se estivesse esperando por sua reação. Ele olhou ao redor, observando os detalhes do ambiente com uma sensação de acolhimento. As paredes eram decoradas com um estilo simples, mas elegante, e a luz suave de lâmpadas pendentes criava uma atmosfera íntima e aconchegante.

Ela o guiou até a mesa, onde um jantar brasileiro estava disposto cuidadosamente, com pratos coloridos e cheios de sabores que Mark não reconhecia de imediato. Ele sentiu uma leve curiosidade misturada com ansiedade. Não era todo dia que ele tinha a chance de experimentar uma culinária tão autêntica e cheia de história.

— Você vai gostar. Fiz com todo carinho, é uma tradição na minha família — disse, com uma expressão satisfeita, mas com um toque de nervosismo, como se quisesse que ele gostasse de tudo.

Mark sorriu e olhou para ela, observando-a com mais atenção. A casa tinha algo peculiar, algo que a tornava especial. As paredes, com quadros simples, e as prateleiras com pequenos enfeites, davam a sensação de um lugar que sempre esteve em construção, sempre em movimento, mas de uma forma calorosa.

Ele sentou-se à mesa, sem perder o olhar atento em .

— Eu já sabia que o Brasil tinha muita comida boa, mas isso… — Ele respirou fundo, tocando um pouco de arroz e feijão no prato — Isso parece incrível.

sorriu, aliviada por ele ter gostado, e logo se sentou à mesa, começando a experimentar os pratos também. Eles comeram juntos, conversando sobre tudo e nada, enquanto a noite avançava. A cada garfada, Mark ficava mais impressionado com o sabor e a riqueza dos pratos, como se ela estivesse compartilhando com ele um pedaço de sua história através da comida.

A conversa entre eles fluiu de forma descontraída, com risadas ocasionais e momentos de silêncio confortável. Cada vez que ela explicava um prato típico ou uma tradição, ele sentia como se a conhecesse um pouco mais, como se estivesse desvendando camadas de sua vida ue ele ainda não imaginava.

À medida que o jantar avançava, a sensação de intimidade crescia. O som suave da música ao fundo, o calor da luz baixa, e o cheiro do jantar no ar preenchiam o ambiente. Mark se sentia à vontade, mas também um pouco tocado pelo gesto dela em prepará-lo. Ele não esperava esse nível de cuidado e atenção.

Quando ele terminou de comer e olhou para , encontrou nela um olhar suave, quase pensativo.

— Eu estou realmente feliz por estar aqui. Obrigado — ele disse, genuíno.

sorriu, mas seus olhos mostravam algo mais profundo. Ela estava tocada pela forma como ele havia apreciado a refeição, pela sinceridade nas palavras dele. Ela sabia que essa noite, esse momento, era um dos poucos em que ela podia se entregar ao que sentia, sem as preocupações que a assombravam.

— Eu também — ela respondeu, com um suspiro suave.

E, assim, no aconchego da casa dela, os dois continuaram conversando e compartilhando o que a vida lhes havia dado, sem pressa, apenas aproveitando o momento em que o mundo lá fora parecia distante, enquanto dentro da casa, tudo era possível.

⛱️⛱️⛱️

A noite estava morna, e o som distante das cigarras preenchia o ar, misturado ao suave borbulhar da água na piscina. A varanda da casa era iluminada apenas por algumas luzes baixas, criando uma atmosfera intimista. saiu primeiro, sentindo o toque fresco da brisa em sua pele, enquanto Mark a seguia logo atrás, observando cada detalhe ao redor.

Ela não havia planejado um mergulho, mas a ideia de terminar a noite na piscina, sob o céu estrelado, parecia irresistível. Sem pensar muito, ela se aproximou da borda e sentou-se na beirada, mergulhando os pés na água. Mark observou o gesto com um sorriso de canto, antes de puxar a camiseta pelo tronco e jogá-la de lado, revelando o corpo definido.

— Você não vem? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

deu de ombros, hesitando por um instante antes de simplesmente se jogar na água, ainda vestida com a roupa leve que usava. O impacto do mergulho fez a água respingar na borda da piscina, e ela emergiu rindo, os cabelos colando ao rosto.

— Você é impulsiva, hein? — Mark brincou antes de entrar na piscina também, deslizando pela água até alcançá-la.

Os dois ficaram ali, cercados pelo reflexo das luzes na piscina, trocando olhares e sorrisos silenciosos. esticou a mão e empurrou levemente o ombro dele, provocando-o.

— Ei! — ele exclamou, rindo, e sem hesitar, deslizou para perto dela, capturando seu olhar de um jeito intenso.

O sorriso de vacilou quando percebeu a proximidade entre eles. Mark ergueu uma mão, afastando delicadamente uma mecha molhada do rosto dela.

— Eu ainda não me acostumei com isso — ele murmurou.

— Com o quê? — perguntou, a voz levemente embargada.

— Com a forma como você me faz querer quebrar todas as minhas regras.

Antes que ela pudesse responder, Mark inclinou-se e capturou seus lábios em um beijo profundo. A sensação da água ao redor dos dois tornava tudo ainda mais intenso, os corpos próximos, os toques suaves que logo se transformaram em algo mais faminto. sentiu os dedos dele deslizarem pela sua cintura, puxando-a para ainda mais perto.

Os lábios se moviam em sincronia perfeita, urgentes e cheios de emoção contida. A água morna contrastava com o frio na barriga que ela sentia toda vez que Mark a tocava assim. Suas mãos escorregaram para os ombros dele, explorando a pele molhada, enquanto os dedos de Mark traçavam um caminho pelas costas dela, mantendo-a firmemente contra ele.

O beijo se aprofundou, os movimentos lentos e cheios de desejo. O mundo ao redor desapareceu, restando apenas os dois, a piscina e a noite estrelada testemunhando aquele momento. Quando finalmente se separaram, ofegantes, manteve a testa colada à dele, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.

— Acho que estou começando a gostar dessas suas regras quebradas — ela sussurrou.

Mark soltou uma risada baixa e a puxou para mais um beijo, porque naquele momento, não havia mais regras. Apenas eles.

⛱️⛱️⛱️

passava as mãos pelos lençois, alisando qualquer vinco, mesmo sem prestar muita atenção ao que fazia. A realidade de que aquela seria a primeira e última noite deles juntos e isso pesava sobre seus ombros, e ela queria que tudo fosse perfeito — ou, pelo menos, o mais próximo disso.

O som da porta do banheiro se abrindo chamou sua atenção, e antes que pudesse se virar, braços fortes envolveram sua cintura por trás. O calor do corpo de Mark ainda úmido do banho contrastava com a brisa fresca do ar-condicionado, fazendo um arrepio percorrer sua espinha.

— Te peguei. — A voz rouca e baixa dele ressoou em seu ouvido.

fechou os olhos por um instante, aproveitando aquela sensação. Os braços de Mark apertavam sua cintura de um jeito confortável, e ela sentiu seu peito subir e descer contra suas costas.

— Você gosta de me pegar desprevenida, não é? — ela perguntou com um pequeno sorriso, deslizando as mãos sobre os braços dele.

Mark encostou o rosto no ombro dela, inspirando o perfume leve que vinha de sua pele.

— Eu gosto de te ter assim, perto de mim.

virou-se devagar, ainda envolvida pelo abraço dele. Os olhos de Mark estavam diferentes — havia algo melancólico neles, um brilho contido que denunciava o que nenhum dos dois queria dizer em voz alta.

— Vai ser estranho acordar amanhã e saber que você não estará por perto — ele confessou, sua voz saindo quase num sussurro.

Ela engoliu em seco, erguendo uma das mãos para tocar o rosto dele, os dedos percorrendo sua mandíbula.

— Eu sei. — Seu tom saiu carregado de emoção.

Mark fechou os olhos por um instante, inclinando o rosto contra a palma da mão dela. Quando voltou a encará-la, um pequeno sorriso brincava em seus lábios.

— Não quero que essa noite acabe.

sorriu, triste e cúmplice ao mesmo tempo.

— Então vamos aproveitar até o último segundo.

Mark não precisou de mais nada para puxá-la para um beijo, profundo e cheio de tudo o que eles não sabiam dizer. Naquela noite, não havia despedida. Apenas eles, o agora, e a lembrança que ficaria para sempre.

Mark puxou para mais perto, seu corpo quente agora pressionando o dela enquanto seus lábios se encontravam novamente. O beijo começou suave, mas logo se tornou mais intenso, como se ambos soubessem que estavam prestes a se despedir e quisessem gravar aquele momento para sempre. As mãos dele se deslizaram para a parte de trás de sua nuca, puxando-a ainda mais para ele, e respondeu de imediato, deslizando os dedos pelos cabelos dele, sentindo a textura macia e úmida do seu cabelo.

Ela suspirou contra os lábios dele, e ele, instintivamente, aprofundou o beijo, sua língua explorando lentamente a dela. O gosto de Mark era inebriante, quente e viciante, e se perdeu naquele toque, naquele calor. Quando ele a guiou até a cama, ela se deixou cair sobre os lençóis, os olhos brilhando com desejo, e ele se deitou ao seu lado, sem jamais quebrar o contato.

Os beijos continuaram, agora mais famintos, mais urgentes. A mão de Mark percorreu a lateral do corpo dela, sentindo a suavidade de sua pele, enquanto guiava os dedos dele até a parte inferior de sua blusa, sugerindo sem palavras que ele a retirasse. Ele obedeceu, com um sorriso discreto, mas carregado de uma tensão elétrica. Seus olhos encontraram os dela, como se pedindo permissão, e ela apenas assentiu, deixando que ele removesse a peça de roupa com delicadeza, mas sem pressa.

Quando ele voltou a beijá-la, a intensidade aumentou ainda mais, e o toque dele se tornou mais ousado. As mãos de se moviam sobre o peito dele, explorando as linhas de seu corpo, e ela sentia a pulsação acelerada entre os dois, como se o tempo tivesse desacelerado e apenas aquele momento importasse.

Os beijos se espalhavam agora por seu pescoço, e deixava escapar pequenos gemidos abafados, seu corpo se arqueando contra o dele a cada toque. O coração de Mark batia forte, e ele não conseguia mais resistir ao magnetismo daquela conexão. A urgência do momento se misturava com a suavidade de seus gestos, como se ambos soubessem que, mesmo em seus últimos momentos juntos, o que estavam compartilhando era especial, único.

Mark levantou o rosto por um momento e olhou para com uma expressão que dizia tudo, mas sem palavras. Ela, respirando pesadamente, puxou-o de volta para um beijo intenso, os corpos agora mais entrelaçados, a distância entre eles praticamente inexistente.

A cama os acolhia, e os toques e beijos se tornaram uma linguagem própria, um diálogo silencioso que só eles podiam entender. Eles se entregaram ao momento, como se nada mais no mundo fosse mais importante, como se o tempo não passasse enquanto estivessem ali, juntos.

⛱️⛱️⛱️

Quando Mark despertou, ainda um tanto quanto sonolento, tentou achar na cama, mas não havia nenhum sinal dela por lá. Ainda sentindo o corpo pesado, ele se sentou na cama e então se lembrou de tudo o que havia acontecido com eles na noite anterior, e era como se o cheiro e o gosto dela ainda estivessem impregnados nele.

Mark esfregou os olhos, tentando espantar o cansaço, mas a sensação de estar perdido em seus próprios pensamentos permaneceu. Ele se levantou lentamente da cama e caminhou até a janela, olhando para o horizonte ainda meio turvo da manhã. O sol começava a nascer, mas não havia sinal de . Ele sentiu um aperto no peito, uma mistura de frustração e saudade que se formou instantaneamente. Ela não estava ali, mas ele sentia sua presença em cada canto da casa, em cada memória vívida daquela noite.

De repente, uma brisa suave entrou pela janela aberta, trazendo consigo o aroma do mar e, por um momento, Mark fechou os olhos, permitindo-se ser envolvido por esse cheiro familiar. Era como se ele ainda pudesse sentir o calor do toque dela, o toque suave da pele de sobre a sua. O que haviam vivido juntos na noite anterior era uma lembrança intensa, quase palpável. A sensação de seus corpos entrelaçados, os beijos que haviam trocado, ainda ecoavam em sua mente como uma melodia suave, mas cheia de significados.

Ele respirou fundo, tentando se concentrar e afastar os pensamentos conflitantes. Sabia que ela iria partir em breve, sabia que tudo isso era efêmero, mas não conseguia afastar o sentimento de que queria mais. Queria mais do toque dela, mais da intimidade, mais das risadas e da leveza que ela trouxe para sua vida durante aquele curto espaço de tempo.

Quando ele se virou para deixar o quarto, sentiu uma leve tensão no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer, ou como se ele tivesse que decidir algo importante. A porta do banheiro estava entreaberta, e ele entrou, encontrando-a vazia. O ambiente ainda estava cheio de resquícios do que aconteceu entre eles: toalhas usadas, a garrafa de água que ele havia deixado ali, a lembrança de cada segundo.

Foi quando ele ouviu um leve som vindo da cozinha, o tilintar de talheres e pratos. Ele sorriu, achando que ela ainda estava ali, talvez preparando algo. Caminhou até a cozinha e a encontrou em pé, com um avental preso na cintura, mexendo algo em uma panela.

— Bom dia… — Mark disse, sua voz ainda carregada de sono, mas com um sorriso no rosto.

virou-se rapidamente, parecendo surpresa por vê-lo ali, mas seu sorriso também se abriu imediatamente ao vê-lo.

— Bom dia — ela respondeu, com um tom suave, mas o olhar dela demonstrava algo mais. Algo que Mark não conseguiu identificar de imediato, mas que certamente o deixou curioso.

Ele se aproximou e ficou ao lado dela, observando-a cozinhar.

— Preparando o quê? — ele perguntou, tentando aliviar a tensão crescente.

olhou para ele com um sorriso travesso, uma expressão que não deixava claro se estava brincando ou se havia um toque de seriedade por trás.

— Algo simples, mas quero que você experimente. Já que você está em minha cidade, é a minha vez de mostrar um pouco da comida brasileira. — Ela disse, enquanto continuava mexendo na panela, seus movimentos tranquilos, mas com uma certa concentração.

Mark, ainda sentindo a ressurreição da sensação quente que ela havia deixado nele na noite anterior, não pôde deixar de se aproximar mais, sentindo o cheiro da comida e, ao mesmo tempo, o cheiro dela que ainda parecia marcar o ambiente.

— Eu adoraria — respondeu, com uma leveza na voz, sem saber exatamente o que se passava pela cabeça de ambos, mas sentindo que aquele momento também precisava ser vivido.

Com um simples movimento, ele tocou seu ombro, passando a mão de leve sobre o tecido do avental, e ela olhou para ele, a expressão mais suave, mas um pouco mais distante. Eles estavam a um passo daquilo que sabiam que seria o último dia juntos, mas o toque deles parecia mais profundo do que qualquer palavra.

A pausa no espaço entre eles durou apenas um segundo, mas foi o suficiente para que o mundo ao redor parecesse parar por um instante, só para permitir que eles absorvessem tudo o que tinham vivido.

Mark se sentou à mesa, ainda com a sensação de que tudo ao seu redor parecia um pouco surreal. colocou uma porção generosa de uma mistura de pratos típicos na mesa. Havia frutas frescas, um pão de queijo quentinho, e uma espécie de mingau doce que ele não conseguiu identificar de imediato, mas que já despertava sua curiosidade.

— Pode não ser um grande banquete, mas é o melhor que eu posso fazer com os ingredientes daqui — ela disse, olhando para ele com um sorriso leve, quase tímido.

Mark sorriu, sentindo um calor no peito. Ele estava longe de sua casa, em um país diferente, mas o simples ato dela cozinhar algo para ele, com tanto cuidado, fez com que ele se sentisse acolhido.

— Deve estar maravilhoso — ele disse, pegando um pedaço do pão de queijo, que estava incrivelmente macio e saboroso. — Já posso sentir o gosto da sua cidade na comida.

sorriu de canto, sentando-se à frente dele. Ela começou a comer também, mas de forma mais contida, com uma leve tensão nos ombros que Mark percebeu, embora tentasse não deixar transparecer. Ele continuou experimentando a comida com gosto, não só porque estava deliciosa, mas também porque estava ali, em um momento simples e íntimo com ela.

Ele pegou a tigela com o mingau e levou à boca. O gosto doce e quente espalhou-se por sua língua, e ele não pôde deixar de fechar os olhos por um segundo, apreciando o sabor que se misturava à lembrança da noite anterior, à memória de seus beijos, ao toque suave dela.

— Isso é… incrível! — Mark exclamou, sinceramente impressionado. — Nunca comi nada assim antes.

olhou para ele, seus olhos brilhando de prazer com o elogio.

— Eu fico feliz que gostou. Eu sei que, para você, é tudo muito diferente… Mas sempre achei que a comida tem o poder de mostrar a alma de um lugar — ela disse, com um tom de leveza na voz, como se estivesse compartilhando uma parte importante de sua identidade.

Mark sorriu e olhou para ela com um olhar cheio de gratidão, como se aquelas palavras tivessem tocado algo mais profundo nele. Não era só sobre a comida. Era sobre ela. Sobre eles.

— Eu vou guardar isso com carinho — ele disse, colocando a mão suavemente sobre a dela, que estava na mesa, sem querer interromper o momento, mas querendo fazer com que ela soubesse o quanto aquele gesto significava para ele.

olhou para suas mãos, sentindo o calor do toque dele. Ela respirou fundo, tentando manter a compostura, mas não pôde deixar de sentir um aperto no peito. O que eles estavam vivendo parecia fugir ao controle de ambos, e a realidade estava começando a se infiltrar. Ela sabia que, em breve, tudo aquilo teria um fim. Mas, naquele momento, ela só queria aproveitar o que restava, sem pensar nas consequências.

Eles continuaram a comer, trocando palavras suaves, risos ocasionais e olhares carregados de uma conexão que não podiam negar, mesmo sabendo o que estava por vir. O café da manhã, simples e tranquilo, era o reflexo do que estavam compartilhando, um último pedaço de intimidade antes da inevitável despedida.

Quando terminaram de lavar as louças usadas no jantar de ontem e no café da manhã, os dois se encararam depois de pendurar o pano de prato.

— Bom… eu preciso arrumar as minhas coisas. Vou almoçar com os meus pais.

Os dedos de Mark pousaram na cintura dela.

— Eu posso pegar o seu contato? Eu não quero me despedir de você para sempre … — Ele falou, sua voz carregada de uma suavidade que ela não podia ignorar.

sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir a sinceridade nos olhos dele. Mas, apesar do desejo de estar com ele, um alerta soou dentro dela. Ela respirou fundo, tentando reunir forças para falar, sem deixar a emoção transbordar.

— Mark, você sabe que isso é perigoso… — ela respondeu, sua voz um pouco tremida, mas tentando manter a firmeza. — Não é só sobre você e eu. Eu te avisei que existem coisas do meu passado que podem interferir no que estamos vivendo agora. E eu… não sei se você deveria se envolver ainda mais nisso. Eu não quero que você se machuque.

Ela tentou se afastar ligeiramente, mas ele a manteve ali, o toque dele na sua cintura firme, mas gentil. Ele a observou com intensidade, como se estivesse tentando entender o que realmente se passava em sua mente. A tensão entre eles crescia, mas ele não queria deixar ela fugir dessa conversa sem lutar pelo que sentia.

— Eu não me importo com o risco, . Eu só me importo com o que estamos vivendo aqui — ele disse, seu olhar sincero, buscando mostrar a ela que ele estava disposto a aceitar qualquer coisa para continuar com ela. — Não é só uma aventura para mim. Eu estou sentindo algo real por você.

fechou os olhos por um instante, tentando manter a calma. Ela sentia o coração apertado e, ao mesmo tempo, um desejo profundo de não se afastar dele. Mas sabia que, em algum lugar, as consequências daquele envolvimento estavam à espreita, e ela não podia ignorá-las por mais tempo.

Ela abriu os olhos novamente, encarando Mark, seu olhar agora mais suave, mas ainda cheio de conflito.

— Eu também sinto isso, Mark… — ela disse, sua voz quase um sussurro. — Mas você sabe que eu não posso te dar o que você quer. Não da forma que você merece.

Aquelas palavras cortaram o ar entre eles, e Mark sabia que ela estava tentando se proteger, mas ele também sabia o quanto aquilo era complicado. Ainda assim, ele não estava disposto a desistir.

— Eu não vou te pressionar a nada, . Mas eu quero, ao menos, saber que existe uma chance de nós ficarmos em contato depois disso. Uma chance de fazer as coisas do jeito certo, sem pressa, sem medo.

Ele sorriu suavemente, como se estivesse pedindo, mais do que qualquer coisa, apenas a oportunidade de tentar.

olhou para Mark, seu coração batendo mais rápido com a proximidade dele. O que havia começado como algo temporário agora se sentia como algo muito mais profundo, algo que ela não queria deixar ir, mas sabia que precisaria. O tempo deles juntos estava chegando ao fim.

Ela sentiu as mãos dele ainda firmes em sua cintura, como se ele estivesse segurando a única coisa que ainda podia ter. O calor dos corpos deles se misturava enquanto eles se encaravam, cada um imerso em seus próprios pensamentos.

— Eu não sei o que o futuro vai nos reservar, Mark. Eu queria poder dizer que tudo será simples, mas não é assim. Eu… — ela fez uma pausa, seu peito apertado, as palavras se tornando difíceis de pronunciar. — Eu queria que as coisas fossem diferentes.

Mark não a deixou terminar. Ele a puxou para mais perto e, com um toque suave, tocou seus lábios nos dela. O beijo foi lento, como se ambos soubessem que não havia pressa. Era um beijo que dizia mais do que palavras poderiam expressar. O gosto da despedida, do desejo, mas também do carinho profundo que eles compartilhavam.

Quando ele se afastou, os olhares deles se cruzaram e, por um momento, o tempo pareceu parar. Mark, com o rosto próximo ao dela, sussurrou:

— Eu vou guardar esse momento, . Eu não sei o que vai acontecer amanhã, ou depois, mas eu não vou esquecer de você.

Ela sorriu, um sorriso triste, mas sincero, e então, com uma leve hesitação, tocou a face dele com a palma da mão, como se quisesse eternizar aquele momento.

— Nem eu vou esquecer, Mark. Mas… talvez seja melhor assim. Porque, no final, o que a gente tem é agora. E eu vou guardar isso com carinho.

Com um último beijo suave, quase como um suspiro, se afastou, seus olhos marejados, mas com um brilho de gratidão por tudo o que viveram. Mark olhou para ela, ainda com o coração apertado, mas com um sorriso no rosto, sabendo que, de alguma forma, o que quer que tivesse sido entre eles, seria algo que marcaria os dois para sempre.

— Cuide-se, . — Ele disse, a voz rouca, cheia de sentimentos não ditos. — Espero que, em algum lugar, a gente se encontre de novo.

Ela assentiu, seu sorriso carregado de emoções.

— Quem sabe… — ela respondeu, dando-lhe um último olhar antes de virar, caminhando lentamente para o interior da casa. Cada passo parecia pesar mais que o anterior, mas ela sabia que, de algum modo, aquele seria o final, mesmo que não fosse o que ela tivesse imaginado.

Mark ficou parado, assistindo-a desaparecer dentro da casa, com o coração apertado, mas ao mesmo tempo, uma sensação de paz. Eles haviam vivido algo único, e talvez fosse melhor que ficasse assim. O futuro era incerto, mas o que eles tinham agora era real, e isso, de alguma forma, lhe dava esperanças.

Ele virou-se para o horizonte, o som das ondas ainda ao fundo, e, com uma última respiração profunda, ele também entrou na casa, deixando o que aconteceu entre eles na memória, mas sem arrependimentos.

A despedida era amarga, mas necessária. O futuro, no entanto, era um mistério.

E assim, com um adeus silencioso, ambos seguiram seus caminhos, carregando um pedaço um do outro, como um segredo guardado, por enquanto, no coração.




Fim.




Nota da autora: A querida Sial me viciou nos NCT's e claro que eu tinha que fazer uma fanfic. E o primeiro escolhido foi o querido Mark! Espero que tenham gostado do nosso casal e se quiser deixar um comentário fique à vontade.


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